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| Vitor Manuel de Aguiar e Silva Teoria da literatura 8.° Edicaéo Livraria Almedina. Coimbra Todos os exemplares sdo numerados e rubricados pelo autor TETULO: AUTOR: EDITOR: DISTRIBUIDORES: EXECUGAO GRAFICA DEPOSITO LEGAL: ‘TEORIA DA LITERATURA VETOR MANUEL DE AGUIAR E SILVA LIVRARIA ALMEDINA ~ COIMBRA LIVRARIA ALMEDINA. ARCO DE ALMEDINA, 15 ‘TELE. (039) 851900 FAX. (039) 851901 3004-509 COIMBRA ~ PORTUGAL, Livrarialmedina@mail.telepac.pt LIVRARIA ALMEDINA ~ PORTO R. DE CEUTA, 79 ‘TELEF. (02) 2059773/2059783 FAX. (02) 2026510 4050 PORTO - PORTUGAL EDICOES GLOBO, LDA. RS. FILIPE NERY, 37-A (AO RATO) ‘TELEF. (01) 3857619 FAX. (01) 3862056 1250 LISBOA ~ PORTUGAL G.C. - GRAFICA DE COIMBRA, LDA. ‘SETEMBRO, 1999 18685/87 Toda a reprodugto desta obra, por fotocdpia ou outro qualguet Processo, sem prévia autorizasdo excita do Editor, € ifcita ¢ passtvel de procedimento judicial contra oinfractor. 9 ROMANCE 10.3. A personagem A nagem constitul um elemento estrutural indis- jye] da narrativa romanesca. Sem personagem, ou pelo os sem agente, como observa Roland Barthes, nio criste yerdadeiramente natrativa, pois a fun¢io ¢ o significado das egies ocorrentes numa sintagmitica narrativa dependem primor- dilmente da atribui¢io ou da referéncia dessas acgées a uma penipager ou a um agente (*), A designagio ¢ ao conceito de personagem subjaz um con- teido psicolégico-moral que explica a atitude suspcitosa ou hostil que alguns criticos contemporaneos tém adoptado a seu respeito, quer desvalorizando a relevincia da personagem como demento da narrativa, quer considerando as personagens, dra- matis personae, apenas numa perspectiva funcional (*4). No imbito desta éptica funcionalista, Greimas, propés substitutir 0 conccito ¢ 0 termo de personagem pelo conccito ¢ pelo termo de actante (°8). Este termo ¢ este conceito, como © proprio Greimas informa na sua Sémantique structurale, tm otigem linguistica, derivando da sintaxe estrutural de Lucien ()=CE Roland Barthes, dntroduction 3 Vanalyse structurale ‘des récits in RL Barthes et alii, Poétique du récit, Paris, Editions du Seuil, 1977, p.33 (este celebre estudo de Barthes foi primeiramente publicado no n.° 8 (68) da revises Communications). Cf também R. Barthes, S12, Pars Editions du Seuil, 1970, p. 197. . . (Boris Tomaievskij, um dos mais importantet formalistas russos, ssreveu. «O herbi aso é um elemento necesirio da fébla, a qual, como Sixema de motivos, pode dispensar inteiramente o heréi ca sua corscietecet (Cf. Teoria della leteratura, Milano, Felerinelli, 1978, P- 203). A anilise funcional Petsonagem foi teorizada ¢ preticada sobretudo por Vladimir Propp na 22 obra Morfologije i. ; Oe a oa, Sémantique structurale, Paris Larousse, 1966, W122 oc aT agi Te ns, Paris, Editions du Seuil, 1970. pp, 7&5 + 33.256, id, aLes actancs, les acteurs et les figures, in Clade br) narrative et textuelle, Paris, Larousse, PP- 161-176; 12. ¢ I ? Strstie. Disionnaire viveomeé de la théorie dt langage, Paris, Hachette, 1979. ¥. 3-4. Ao longs dos anos, desde 2 publicagao de Sémantique nee si (1966), Greimas tem introduzido algumas alteragbes € alguns ajostamens ose Cenceita de actante e noutros conceitos com ee correlacionade por ee Sr indispnsivel a leitura da obra cade Coe se erminoogis pies Ss i net Selarmente elucidativa, em virtude das relia sereeniet 0 PEPOSTOS $2, no corpo e no final de cada artigo, 687 ao? TAD DD terry, Tesniére (4). O ntcleo verbal, afirma Tesniére, exprimne on pequeno dramay que comporta sempre um procesto, oe: lite cunstdncias, Transpondo estes conceitos para o pl Sinsaxe estrutural, teremos respectivamente © verbo, os actantes ¢ og circunstantes, devendo entender-se por actantes les étres oy a choses qui, 4 ur. titre quelconque et de quelque fagon ge o soit, méme au titre de simples figurants et de la fagon plus passive, participent au proces (7). Os actantes s40 sempre sibs tantivos ou equivalentes de substantivos, sio subordinados ime. diatos do verbo e podem classificarse em “primeiro actante” “segundo actante” ¢ “terceiro actante”. Semanticamente, ° | Primeiro actante & aquele que realiza a acco (syjeito), 0 segunds actante é aquele que suporta a accio (complemento directo) © o terceiro actante ¢ aquele «em beneficio ou em detrimento do qual se realiza a accio» (complemento indireco), Ao transferir este conceito sintdctico (¢ também semintico) Para a andlise da estrutura narrativa, Greimas confere-lhe uma relevancia fundamental, concebendo os actantes como a instincia superior que sintacticamente subordina os predicados (dinamicos ou estaticos) (°4) e como as «unidades semanticas da armadura Soin iimPlicagies de cada conceito © verificar a sua coeténcia teoréics). Sobre 0 conceito greimasiano de actante, vide: Philippe Hamon. «Mise oe pot tur les problémes de l'analyse du réciv, in Le franais moderne, 370, Pp. 208-209; id,, Analyse du récit: Cléments pour un lexiquer, in Le Sranzis modeme, 2974), pp. 134-135; id,, «Pour vm sane sémiologique 45 Personnages, in R. Barthes et alii, Pottique du récit, pp. 135 ss. (estudo gee do artigo publicado, com o mesmo titulo, m3 revista Litterature, 6(1972); J. Courtés, Introduction 4 la semiotique mareative discursive, Patis, Hachette, 1976, pp. 60 36, ¢ 93 ill. ceometiormente 4 formulagio da teorig dos casos de Charl J Fillmore, Greimas e outros ane ae re, Elements de syntaxe structurale, Pais, Klis : } Greimis, Sémantique structurale, p. 129: J Coursta te clasdo a Prop, Greimas valoriza inequivocamente © Participantes na accio narrativa Propp, consi een i cm). Quer dizer, x0b © posto de vista e Peconense 4¢ stantc pertence a um nivel mpeior de Sie. sncrere-te BO Padme peradgmdnce ov émico, exob um ponto pea que. «BS Geemat, owls ambiguamente entre a epistemo- za ontologts feptemta uma catdade do nivel imancnte, am rived poitulado como comportando ctruturas virtuais ¢ governs (") Ok actantos, no teu pero nerenvo— uma x4 hputhesie ou um encadeamento ligico de programas never —. podem agtegat a0 teu ertetuts ectancial (9 que 3 define num dado momento) um nGmero determinado de funins actemcter, efinivers tanto sntacticamente, cm relagio | pouclo do actante no percurie narrative, como morfologica- penmagets coms tlememtes waruiven do corpes texteal narrstrvo que analita ta rea Mariringne chesbs, sfirens quar apemas ¢ trlierante + gue farem a1 pervo- agen ¢ nko quem far alpema comes — pels ramon, ta ¢ uma questo semiea — embers rrecmbings qat et motrengtin ¢ on scrsbunce das peronagens condones & fidvala, eregeetsvscnemee. wen collotadio ¢ em chcéew parnculares tans trcadede, 2 tan beless ¢ 0 wee fanctance (cf V. Ja. Propp, Morfologie fle fabs, Terma, Eannads, 174, p73) OCHA} Grrman, De arnt, p 283 Nowa definigto, que nto for mromada em Shmsciger, o conceita de “smadeta” deriva de Chude Lévi- Pion, 14. 25) ‘Sel das ceromoran de superficie ¢ de manifertagio, como equ Sou Ceure Serre (ef Le wrsenre ¢ il temps, Torino, Einaudi, 1974, Me ahaa) _ “Ents problemincs nfo € expecficamente greimasians, mas é, anit, {eta o cureeorahans pe henta entte am COO EPHREMOIERICD OPE” Bes & “omnes ¢ cra ortclopazacto date mane, Sobre 3 en do "ntalincunenee” na andi narratolbpica de Greimas ¢ de outtin ok Erase Ura Goone, oPrench serocrualist views on native BOT SNES Wolfgang U. Dressler (ed), Current trends oe textlingaistcs, Berlin ~ . ga, pp. 158-159. Nalguns autores, Senne por Greimas (0 que 15 consribai P58 ear Rot estudus literirios). Assim, Pe eck, 197. v.37: A tata com anscanet TCORIA DA UTRATURA mente, em relacio ao seu contetido modal (e. ¢.. modalidades db gucrerfazer, do sibersfazer ¢ do podersfazer). Em Sémantique structurale (pp. 180-181), Greimas conitryiy um modelo actancial com seis instancias assim diagramaticamente representiveis: destinador — objecto - destinatdrio (*') t adjuvante —» sujeito < opositor Neste esquema biplanar, o destinador ¢ aquele que «manda fazer, que comunica ao sujeito io sé os elementos da competéncia modal, mas também 0 conjunto dos valores em Jogor © sujcito ¢ aquele que quer, que pretende o objecto (relagio de desejo, manifestada por ‘uma relagdo juntiva, pois que 0 sujeito ¢ 0 objecto existem um para o outro); no seu Percurso narrativo, 0 sujeito, com o auxilio de um adjuvante ¢ Perante a hostilidade de um opositor, ganha (ou perde) o objecto ¢ entrega-o, se o ganha, ao destinatirio, isto é, a0 beneficiério (que pode coincidir com o sujeito). Em cstudos posteriotes, este modelo actancial originirio foi softendo transformagdes: considerando a estrutura polémica da narrativa, concebida como forma de confrontagio, Greimas correlacionou uma série positiva ¢ uma série negativa de actan- tes (sujeito Positive vs. sujeito negativo, objecto positivo vs. objecto Regativo, etc.) (#) © desenvolveu o cixo das instincias actanciais contrdrias do destinador e do anti-destinador em duas novas instincias actanciais contraditérias, a do niio-destinador ¢ a do nio-anti~destinador (*), Em Sémiotique, © conceito de modelo actancial desaparece, sendo estabelecida uma distingio tipolégica, no Ambito do discurso enunciado, entre os actantes da comunicagdo (narrador, ais d 3 lestinador © 0 destinatirio como actantes da ome ce Greimas sscreve os primeiros termos com uma maidscula. vt ted’ J: Greimas, Les actants, les acteurs et Ine figures», in c cose + OP. cit. Pp. 162-164, Sh A. J. Greimas, Meupassant. La séimiotique du texte: exercices Eigue, Paris, Editions du Seu, 1976, pp, 63,89 ge teat: exec Slmistique, 795 tt Seuil, 1976, pp. 63, 89,95 e 111; id. e J. Cour 690 jg ROMANCE parratirio, interlocutor © interlo (aujeito J objecto, destinador podendo estes iltimos, POF sua vez, sep subdi / opositor), sintdxicas (Sujeitos de senunciados de de estador) © actantes funcionais cognitive), Considerando as vizagdo dos actantes, propde-se duais, duais © colectivos, okecon ia conceptologia © na terminologia de Greima: representa uma entidade do plano éico, sendo definic, sie a unidade lexical do discurso» cujo contetido semintico minimo édefinido pelos scmas seguintes: a) entidade figurativa, b) enimado ¢) susceptivel de individuagao (*). A esteutura actancial, perten- cente ao plano narrativo (na Acepgio greimasiana, acentue-se subordina a estrutura actoral, pertencente ao plano discursivo, podendo instituir-se entre ambas, poréni, relagdes diversas: ums rela¢o de isomorfismo (1 actante—1 actor), uma telagio de sin- cretismo (n actantes — 1 actor) ¢ uma relacio de desmultiplicagio (1 actante — n actores). O actor, em suma, é constituido pela conjungo de fungées actanciais ¢ de funsées teméticas, quet dizer. pela conjungio da componente da sintaxe narrativa, ae a discursivizagio, ¢ da componente semintica do discurso: «Po os are dit acteur, un lexéme doit étre porteur d 29 moms un role actantiel et d'au moins un réle thématiques( a mao A chamada “anilise actancial” proposts eetrtrico ¢ algo 5 Outros autores apresenta inquestionave! ne a semidtica do eficicia operatéria para a couse debilidades, lirmtagoes texto narrativo, mas apresenta tam pa cacontramos Ccontradigdes de varia ordem. No 3 ifcamente aventufou. ° Pressuposto — que é uma pre mal um idealism & na qual o rigor dedutivista cnco Sar de una amp Platénico ou cartesiano — da ¢X! ag nartativas (08 ero Narrativa, da existéncia de em porai que posh ‘vas) profundas», universais © int —— sp. 255-256 (“CE A. J. Greimas, pe wae aes, oP Oe (45) jimas . oO te patel representa gectan TO formas vazi cos operadores ©" pa; Miche vaziasy ou «pur 1969, Damron, The Hague, Mouroms ' récity, in Poétique, 19(1974). P CUutirio) © ; © 05 acta | destinatitio, adja! da nonaga 0S pragmiticon, Possibilidades de N¢io entre actant Varias a distin cs indivin 0 ot ‘TEORIA DA LITERATURA © aparecimento e a elaboragio de toda a significagZ0 ¢ que subor- dinariam as diversas manifestagées da “competéncia discursiya” Toda a instrumentagao conceptual ¢ terminoldgica da anilise da narrativa proposta por Greimas repousa sobre tal Pressuposto, cuja ambiguidade epistemold, ico-ontolégica se projecta depois nos varios niveis de desenvolvimento da teoria. Este tipo de fondamentacio contrasta abertamente com a fundamentacgo empirica das teorias e dos métodos de anilise de Propp ede Tesniére, Por exemplo, Greimas no demonstra cientificamente a licitude da transferéncia para o nivel do texto do modelo actancial elaborado por Tesniére para a anilise sintictica da frase, opinando elucidativamente E. U. Grosse que os fundamen- tos de tal transferéncia se poderiam encontrar no neoplatonismo do Renascimento ¢ da Antiguidade... (*). Por outro lado, Greimas nao se interroga sequer sobre a validade de uma gramatica narrativa universal, explicitamente orientada para superar quaisquer restrigdes etocéntricas — em particular, euro- céntricas—, mas cuja base é obtida por extrapolagio da gramitica das linguas indo-europeias. Semelhante observacio se poderia formular a respeito da aplicabilidade generalizada aos textos nartativos literérios do método de andlise elaborado por Propp para a descrigao ¢ a explicagio de um corpus textual bem delimt- tado ¢ caracteriaado —apliabilidade que 0 préprio Propp, na sua famosa resposta a algumas criticas de Lévi-Strauss, rejei- tou inequivocamente (47). A anilise actancial conduz a um reducionismo muito forte da complexidade psicoldgica, sociolégica, ética € religiosa das personagens dos textos narrativos literdrios, em particular do romance, ¢ elimina, em virtude do seu acronismo intrinseco, © que Paul Ricoeur designa como «a temporalidade irredutivel ()—CE. Ernst Ulrich Grosse, loc. cit, p. 160, n 8, . (CE V. Ja. Propp, op. cit., p. 227. No estudo posfacial escrito Propositadamente para a tradugio italiana da sua Morfologija skazki —¢ devem ser bem meditadas as observagdes de Propp sobre sue tals ¢ as, suss teadugdes — ‘ublinha 0, grande folclorista russ que o seu método de anilise Poderd ser aplicado proficuamente a textos caracterisados por «uma Fepetibilidade em ampla escalas. Efectivamente, a sus aplicagio tem-se ‘Xtos natrativos de estrutura estereotipada + fomances da Trivialliteratur, etc. 9 ROMANCE, narrativay (44). Ea isso a sua pritica tem-se transformado em geral numa rivializante © heuristicamente infecunda operacio de esvaziamento cece € sintéctico dos textos analisados. Greimas deu-se conta deste reducionismo (*), mas 0 seu esfor¢o 1 o superar, como esti bem emcee em Séiiotique, rece-nos epistemolégica ¢ metodologicamente equivocado: multiplicou, muitas vezes por postulamento, as entidades semié- ticas, numa proliferagio conceptual ¢ terminolégica que lembra gntomaticamente a escolistica tardia; acentuou as referéncias a factores socioldgicos e ideoldgicos (cf, e. g., os artigos “Idéo- logic”, "Sociolecte” ¢ Faery mas torna-se édbvio ue a Idgica profunda da anilise sémica bloqueia o estudo dos smenos semidticos integrados no processo histérico e no metassistema social; embora procurando diminuir a “distancia” entre as estruturas narrativas profundas e as estruturas discursivas —é revelador deste intento o esbatimento da oposi¢ao entre actante ¢ actor ¢ a aproximagio, que algumas vezes redunda em equivocos, do plano paradigmitico ¢ do plano sintagmatico —, continua a considerar os “textos-ocorréncias”, em particular a textnalidade literdria, como um epifenémeno ou como um resf- duo do “universo imanente”, menosprezando ou desconhecendo isso mesmo a dinamica histérica e sociocultural da “meméria” o sistema literdrio, os condicionalismos ¢ as implicagGes da inter- textualidade, os parimetros cronotdpicos da producio ¢ da Tecepeio dos textos literdrios. | Por nosso lado, reconhecemos que 0 vocdbulo e 0 conceito le“actante”, tal como utilizados por Tesniére, podem ser trans- Postos sem extrapolagdes € com als amas vantagens a E dan © adjectivo “actancial” ¢ ditil, nfo existindo possi Mace ef derivar um adjectivo equivalente de “personage ak 4 gente” para a andlise do texto literdrio, em particular CO ‘exto narrative, Considerando, todavia, as diividas ¢ as rest Wes de varia ordem que suscita 0 conceito greimasiano de ()~CE Paul Ricoeur, «Le eécit de fiction in Dorian Tiffeneau (ed), Sst, Pacis, CNRS, 1980, p- 38. Sobre 0 reducionismo ds anne sca any Roger Fowler, op. cts, pP- 30-325 Seymour Chan, Sty and di sity, Native structure in fiction and film, Ithaca — London, my 2978, pp. 112 ss. ere: L ue Vejacse’ © preficio (pp. 5-6) de Greimas + ci 693 TEORIA DA Uttar, rN ¢ Greimas ¢ 0 principal responsivel pela gi “actante” — ¢ Greimas P pi Pp Pp ; io lo term ominio da narratologia —, entendemos de no no domini : : sac ‘eu uso deverd ser cautcloso, com consciéncia das suas implica st due 0 gdes e consequéncias teoréticas 6 matodologicas. Poca Para designarem os agentes da ee f TIZadores ¢ critics literdrios de lingua inglesa utilizam pre ‘crentemente 4 termo “caracteres” (characters). Trata-se de ae ter escassa tradigio na terminologia literdria das inguas ¢ com um conteiido psicolégico ¢ moral muito Julgamos que o termo “personagem’ com uma longa tradicio na literatura, no teatro, nas artes plisticas ¢ no cinema, pode e deve continuar a ser utilizado em narratologia, Na sua prépria origem ctimolégica — persona —, manifesta-se a ideia de “ficcio”, n3o nos parecendo pertinente o argumento de que ¢ inadequada a sua aplicagio a posstveis agentes narrativos como os animais, os objectos ou os conceitos, Cedendo A tentacio de um trufsmo — perante cettas posigdes cientificistas da teoria literdria contemporanea, tal tentagio nio deixa de ser salutar. . diremos que os textos literdrios narrativos sio produzidos por homens para serem lidos por homens ¢ que, Por isso, os animais, 08 objectos ¢ os conceitos qui © neles desempenhem fungies de agente se encontram inevitavelmente antropomorfizados, mesmo que sé implicitamente, Porque o homemi projecta neles os scus valores ou exprime através deles os seus valorel (que podem ser os valores de um anti-humanismo). E certo que“personagem” implica um certo ny Tmo com Tominicas acentuado, crto nimero de propriedades psicolégicas, morais © socioculturais, preexistentes 4 ac¢io narrativa, mas no vemos 5c, Her razZo contra o seu uso na teorid Cha critica literdrias: na vida cmpfrica — nas “narratives cae s \ na — como na ficgio literéria, a _ Bera ex Hou0 os agentes, embora os possa modificar profur~ i mente, iio rarecendo de fundamento afirmar-se que 2 a? as aaa, cm parte, como uma fungio daquelas pro} aoe 3 aBentes. Nos textos litertios nartativos, quer nos tS que daf se possa ext da literatura hit « ten duer nos textos da chamada “ge 10s Cratura, as personage i as? ou OPE ma MAgCHS Nunca sto “formas vazias” Ol ‘ MO n; F< r it ic pia I aqueles textos em que o conceito dé P ¢ MBEM se manife ; a corrotdy, mani “sta em crise, em que cle ¢ Coa de na eTsOnage| ne Personagens Petsonagens — oy simulacros, ou sucedan = Tey palque " *—Temetem Sempre, antes de qualqu' 694 9 ROMANCE a que isso 88 se maniteste durante © evento ou de para um determinado horizonte de valores opois do a ideologia, ‘aloes, para una sind: event. gererminad 10.3.1. 0 narrador) Dentre as personagens possiveis de um romance, hi uma que articulariza pelo seu estatuto © pelas suas fingées Ho x Pp proceso narrativo ¢ na estruturagio do. texto —o narrader, a problemitica do © narrador, como esclarecemos ao analisar anigsor na comunicagio literdria, nio se identifica necessaria~ mente com o autor textual © muito menos cont o autor empfrico © identificagio esta tipica de um biografisimo ingdnuo ot pre= coneebido —, pois cle representa, enquanto instincia autonom'- zada que produz intratextualmente o discurso narrative, wma construgio, uma criatura ficticia do autor textual, constituindo cte tiltimo, por sua vez, uma construgio do autor emplrico. O texto narrative, como ¢ sabido desde a andlise de Platao sobre a diegese € a mimese potticas, pressupde scmpre wna ins- tincia doadora do discurso, diferentemente do que acontece com © texto Hfricao ¢ com o texto dramitico (pelo mene derando como itrelevantes, no plano arquitextual, a8 pos ocorréncias andmalas): a mediagio it) da apresentagio, nas palavras de Franz K. Stanzel, é acto de transmissio da ficgio narrativa (5°). Alguns investigadores, togav tém levant ado objeccics aoe em qualquer ao principio da existéncia neces de um nactador em quale texto narrativo. Assim, ite Hamburger entené «mai licito falar de narrador, quando @o pocta narrative the oa Poet) “cria” um narrador, cm particular 0 narrac —_—_— I, 11(1978). Pe 248. ele roman’, 1m 197 the SITSE. Franz K Stanzel, Second thou he novel; Towards a vgrammnat of fiction a Mca mes soto, vie, Wallen ac FT + ejginal 01 TINE! on Narrative situations i love a alow, Roland 7 tlt Barthes ef alii, Poétique d# HO BP. 70 ss, [este estudo de Kayser, traduzido haha foi publicado antes no n.° + (1970) da revista eye Chil a SP. cit, pp, 146-147. A propésito 02 naa eck, 1268. pp. 2. . Metz, Eesais sur la signification at cinéiid, urn ale arle, i os C ‘omo observa Metz, eparce que 64 P* TEORIA DA LTERATURA pessoa da narrativa da primeira pessoa (mamely the first-person narrator of the first-person narratives), le modo que um texto narrativo carecente de promome da primeira Pessoa ou de quaisquer marcas linguisticas do falante nio teria narrador (), Na esteira de Kate Hamburger, mas formulando conclusées mais radicais, Ann Banfield tem sustentado, em diversos estudos, que nem todo o enunciado independente contém um locutor, mesmo na estrutura profunda,e que os enunciados narrativos que no apresentam sinais sintdcticos da primeira pessoa sdo destitufdos de locutor e portanto de narrador, identificando este tipo de narragio com a modalidade da enuncia¢do que Benveniste denomina histéria— uma enunciagio em que minguém fala» € em que a narrativa «se conta por si prépria» (5). A assergao de que existem enunciados carecentes de locutor —assercao mais geral de que deriva a asserg4o de que existem textos narrativos sem narrador — é refutdvel sob o ponto de vista lingufstico e semidtico, sé sendo possfvel a sua formu- lagio como hipétese tedrica a partir de uma anilise estrita ¢ uni- lateralmente sintictica do enunciado. Ainda que se rejeite a hipétese de John Ross, a que jé nos referimos no capitulo sobre a comunica¢ao literdria, segundo a qual todos os enunciados derivam de uma estrutura profunda em que figuram um verbo performativo e o Pronome da primeira pessoa, falta explicar, sob o Ponto de vista pragmdtico ¢ semdntico, a possibilidade de um enunciado desprovido de locutor, visto que & auséncia num ()—CE. Kate Hamburger, 1) it i i " . ind ( VCE Ann Banfield —«Natrative style and the grammar of direct and heen eegehe. in Foundations of language, 10(1973), pp. 1-39; «The formal Sraence, Of represented speech and thought, in PTL 3,2(1978), pp. 289- -314; «Where epistemolo, it oat Fe ats isemolory, style, and grammar meet literary history: is esented speech and th ew literary hi A peech and thought, in New in the an ot978), PP. 415-454; «Reflective and non elective conscousnes uma hipotene coor stor in Poetics today, 2,2(1981), pp. 61-76. Encontra-s¢ pp hase tegrica Semelhante i de Ann Banfield em 8. Y. Kuroda of views in Ten, Omdations of narrative theory from a linguistic point Amsterdam — Oxford i Diik (ed.), Pragmatics of language and literate pp. 107-140. Sobre a di ‘ew York, North Holland /American Elsevier, 1976, ef. Emile Benvenee aes benvenistiana entre “histéria” e “discurse 1966. pp. 238-245 7° Mes de linguistique générale I, Paris, Gallimat 696 penne amines vim aX Ad Ketor APCHAR POT extrapolagio. spate Se ANKE COREE yey (werweeacia de un sujeito da arenenghe. SS RTARTA few poste zee que Sa narrativa we AVATA aN JPA OW QE eANEHTO Tarra Ou descreve FRO ans, ONY we SS SAMATE & HeCORRATANIOE UNE eMRISOF gre PIE SH TATU, heat on aitttiplo) quemy conta, narra Ba deserve, Maio fant plano MatdetCa, Fornaase impossivel MROOATTRT HH NH, ey eat pu, & erACagIO denominada shane” Por Raawenntes came Cétard Cenette ado teve diti- daldade ar Fanwonniag, wo toto de Haleae que Benveniste apre= SATA COMO paradignration dda caunelagio histdrica, ecorrem diversas Sitagnas Que demunetany (equivecamente a presenga do envaciador ), “Ora Ate Rantiold iio sd ignora, na sua andliso Gas rrareas Sintdeticas do locator, a diterenga de nivel Hagnistion © semniition entre eauelade ¢ Avie, come tundamenta grande parte da sya tooria muna ilentitiongto dle locuter ¢ nat Tador obtida por nana pasager abuaiya co plano do ennuciado para o plano do textos «the Speaker ts the unique referent of man expresion fel the narrator is the unchanging speaker of connectad B's [B= expresion] io, of PEND (") O problema nao pode consistie ert estabelecer uma dicoto- imia entre textos narranives Cond Jocutornarrador ¢ textos narra= Rivas sem Tocutarenarrador, unas sim cry distingiic entre textos com um nartador autonomizado conte instlncia doadora da narrativa, nio coincidente cond O autor textual, @ textos narra tivas com umn nartador de “gran zeta" le impossivel dife- Tenciagio relativamente ao autor textual, isto & feNtos ene que © autor textual nio delega nowtra instincls enunciadora a pro Gugdo do discursy narrativo, S6 wos f6Xtes do tipo pamela mente referide & que © narrador se presenta come pertonagont lendo © seu estatuto, COMO vere configuearse no Ambite um largo espectro de powibilidades, ides as fn, stHaEAON ante eM 08 © rags a mola des do narradar come Hs ¢ COME AE do texto narrative. —_-— Scr G , rigures Ut, Batis (I—Ch Gerard Genette, Fig" iveanal cobets (CE Ann Bantield, «The and though, in PTE, ae78). Ps a6, capiincindle & titions dy Seuth 1969, p66. Mee oF aeprenentast specs TEOBIA DA Utpepriy 10.3.2. O narratdrio 5 : ivos, existe um destinatério jn Em muitos eS ative &, pO reanto, da historia panied texnaal “a = By < ual o narrador conta a histéria, oy Parte a a ia. que daremos o nome de narratdrio (55), O narra thio, como weft da dilucidacio conceptual ¢ ‘erminolgica que estabelecemos no capitulo 3, 20 ¢xaminarmos a pro| lematica So destinatério, do leitor do receptor, no deve ser identificado, ou confundido, com o leitor implicito, com o leitor visado ¢ com o ttor ideale muito menos com o leitor cmpirico —, embora 2 sua fungi no texto narrativo tenha sempre correlagdes impor- fantes com o leitor implicito ¢ com o leitor empirico — © narratirio representa uma das articulagdes mediadoras da trans. missio da narrativa—e possa apresentar também correlagies sx com o leitor visado e com o leitor ideal. Como se conclui da definigao Proposta, entendemos que o nartatério no existe necessariamente em todos os textos narra- Bvos, 20 contrério do que afirma Prince (54). Por outras palavras, Bio existe simetria ontoldgica e funcional entre o narrador — ma voz narradora, seja qual for todo 0 texto narrativo exige ui rratério (em tigor, também nao 3 Sua caracterizacio —e o nai ware 5° Senet neratério, uma espécie de “ovo de Colombo” ds Fada eye # Gerald Prince, gee formulou (nio sem ratios estudos: «Not ‘tary es towards a Pp. PP. 117-122; Introduction a l'étude du * PP. 178-196. Como se deduz da data de d Genette na sua ohr vio @ breve anilise do narrativio daborads oMterior § Formal Sues HIE (Paris, Editions du Seul, 1972, Git paniation: A reconsideration of Princes } William Ray, «Recognizing recogni ane et, ' xta-textual cr Diacrities, 7AU9T» “oot! -* Eas Pp. 253-262. 4 973), p. y ‘luttoduction a ['¢ stairer, °F ety wp. 54g 78 Em senegtstion & Tétude du nat conttétio, cf. Seymour Chatnat 698 0 ROMANCE existe simetria ontoldgica entre q . ‘Missor ¢ narrativos em que existe um narr. ‘ador de a Seeptor), manifestar-se topicamente um sor de uma micro-narrativa epi tamente, um narratdrio, Nos um narrador autonomizado, Personalizado, pode exi um narratario, pois nenhuma Tegra : que narra a enderegar 0 seu discurso a um “ construido ¢ particularizado como entida _O narratario apresenta-se como uma Personagem, com carac- terizagio psicoldgica, social, ctc., varidvel em minudéncia ¢ em profundidade, que pode desempenhar apenas a funcio specifica de narratério ou acumular esta fung3o com a de interveniente mais ou menos importante na intriga do romance. Em Manon Lescaut, M. de Renoncourt é 0 narratdrio a quem o narrador Des Grieux conta a histéria dos seus amorcs com Manon, mas nao interfere como personagem nessa historia; pelo contri- tio, em Le noeud de vipéres de Francois Mauriac, Isa, além de Scr 0 narratirio ao ud se dirige o narrador Louis, ¢ também uma personagem peo na_histéria ae ee bo Como acontece com o narrador, a on eraaarenc harratério articulam-se com os diversos nivcis 68). : Podem ocorrer num texto (veja-se, infra, 10.8.)- ii herdi 10.3.3. A personagem como protagonista ou cendem uma perso- compr a As personagens de um romance ¢ are personages secun. na ae 61 ou protagonists — © Pe agonists 28¢m principal — o herdi terto variivel. O prow participam i anci ional mi 4 “tas, de importancia funcional ages ge Fava sou Tepresenta, na estrutura dos actantes so cardeal pot "4 acco narrativa, o nticleo ov o P ent 38 °8 Vectores que configuram funcions. valores 4) Bens (”), pois é em relagio 4 aon ou que cle sup inci ele provors nd 2 s que secul! defi aap uta a personage Meni o deuteragontista, a P i aa diegesi ! ©)—CE. Giovanni Sinicropis ~ 34(1977), p. 499. Siti, OMA DA Iman ista, a personagem que s¢ ContrapGe 3 personagem os, Gel elaee) em muitos textos, coincide com o Boe ista—, mparsas, 25 personagens acessSrias OU cpis§ onal eee o herdi é facilmente identifcével pelo titulo da obra: Werther, Lucier, Leuwen, Anz Peuls. Com fe. eee o narrador apresenta ae heréi nas primeiras piginay lo romance, designando-o explicitamente, por vezes, como 9 heréi da su2 obra. Assim, nas Aventuras de Basilio Femandes Enxertado, Camilo apresenta e remrat2 © protagonist logo m abertura da narrative, dando 20 capinalo I o seguinte titulo: Nasce 0 herbi. A cabeca e as espertezas do mesmo. Outras vezes, porém, toma-se menos facil distinguir 0 hecéi, porque a sua identificagz0 pode variar segundo as letturas plurais que 0 texto iarrativo permite. O conceito de herdi estd estrei- tamente ligado aos 0s culturais, éticos ¢ ideolégicos, domi- nantes numa det época histérice e numa determinade sociedade. Em dados contextos socioculturais, 0 escritor cria os seus heréis na accitacio perfeita daqueles cédigox o beréi espela 0s ideais de uma comunidade ou de uma classe social, encar- nando os padrées morais e ideolégicos que essa comunidade on essa classe valorizam. No neoclasicsmo, o hedi inscrevose sempre num espaco éico-ideold vilegiado, seado impen- sivel 2 existincia de um heréi g) » pela sua condi¢io socal, pela sua psicologia, pelo sex comportamento moral, etc., vies por em causa os valores socioculturais institudonalizados ¢ ae pelos grupos socia® hegeménicos. Outros contextos hiscéricos ¢ sociolégicos, contririo, pode set valorizada por um movimento weap grupo €scritores ou até por um escritor isolado, a transgressio dos codigos Prevalecentes numa dada sociedade: o herdi, em We © S€ conformar com os di exaltados maioria da comunidade, aparece Coos woes Ee 9 ROMANCE dora de um grave diss{dio Que se estabelece entre o escritor a sociedade em que este se situa, aa A escolha ¢ a caracterizacio do heréi constituem assim um roblema do emissor, mas também um problema do receptor, pois éna interacgao do texto com o leitor empfrico, condicionada por miltiplos factores textuais ¢ extratextuais, que se conforma a imagem do heréi. Se hé textos narrativos, como observamos, em que O narrador elege ¢ constréi inequivocamente o seu heréi, apontando-o aos seus possiveis leitores como exemplum, como encarnagio modelar de valores, predicados ¢ actos considerados como positivos, outros textos existem nos quais a caracterizacZo do heréi ¢ fluida e ambfgua, quer em virtude de uma cstra- tégia do narrador — estratégia que envolve o autor empfrico, conftontado, por exemplo, com um poder censério, com um meio social hostil, etc. —, quer devido 4 pouca confianga que merece o narrador, quer pela indeterminacio, angustiada, céptica ou litdica, do narrador perante mundividéncias, sistemas de cren- gas e convicgdes, comportamentos diversos ¢ até opostos. Em qualquer caso, porém, diferentes leituras do mesmo texto — diferentes tanto no plano sincrénico, como no plano diacrénico —originarZo a escolha de herdis diferentes ou, pelo menos, ee vario interpretagdes diferentes do mesmo heréi. Os leitores d mf uma determinada época ou de um determinado grupo soci podem identificar-se admirativa, simpatética ou catarticamente com um heréi que suscite, 20s leitores de outra época ou de outro Stupo sociocultural, um distanciamento irénico ou mesmo uma acentuada animadversao (**)- a Em certa classe de romances, cortamente @ mais 4 personagem fulcral é uma pessoa, Um —— erosa, homem ou uma mulher (5)—Sobre a problemética do boon ent Re*pGio, veja-se Hans Robert Jauss, Siienee, in New lena histor), Vo 20979) PP or igue chyctt 4 citado ensaio intitulado sSeatut sémio® 1 "Va.a propésito da correlagio do her6i — TM © leitor reconhece ¢ accita: *D'oit — rats de textes anciens, accentuéss 4 époave “térogéneité du public, donc par la pluralit 5 POW tel lecteur, & telle époaue, PANB™ ( panurge, OF fit (el autre lecteur, a telle autre €P9! » B. 153), wo TEORIA DA Litepatupa de quem o romancista natra as aventuras, a formacio, aS expe. rigncias amorosas, os conflitos e as desilusdes, a vida e a motte, ‘Assim acontece com Tom Jones de Fielding, O vermelho e 9 negro de Stendhal, M.me Bovary de Flaubert, Anna Karenina de Tolstoj, etc. Destes romances do individuo diferem outros roman- ces, cujas personagens centrais s4o de natureza diversa, Em obras como Os Buddenbrook de Thomas Mann, Forsyte saga de Galsworthy, Os Artomonov de Gorki, a verdadeira perso- nagem nuclear é uma familia, considerada na sua ascensio, transformacio e declinio através das geragdes. N’As vinhas da ira de ‘John Steinbeck, a Personagem fundamental é a legiao de homens das regides secas e pobres do sul dos Estados Unidos que emigram em busca da terra fértil e da abundancia, embora essa legiio de deserdados, de perseguidos ¢ de famintos esteja representada, de modo especial, por uma famflia— a familia dos Joad, Os capitulos em que Steinbeck apresenta de modo sincrético ¢ caético a torrente de emigrantes que inunda as estradas, capitulos em que se acumulam e entrechocam breves, miltiplas ¢ objectivas notagées do que acontece com fragmentos de didlogo, frases soltas, pragas, lamentos e gritos dos que fogem rumo 4 Califérnia, revelam poderosamente como a grande per- sonagem d’ As vinhas da ira possui gigantescas e anénimas dimen- Bes colectivas (®). Noutros romances, a personagem bisica nem & um indi- viduo, nem um grupo social, mas uma cidade. Assim acontece com os romances que Albert Thibaudet designou, nao sem ae ()—Veja-se este passo do capitulo XI: na 66; as vezes, um catro solitério, outras ‘Vezes, uma pequena caravan. And2- vam © dia inteito vagarosament Fr fe pela estrada e, A noite, paravam houvesse Sigua. De dia, iad . a 2 » velhos radiadoy i ‘vapor ¢ frouxas vatetas de ligans, liadores expeliam colunas de +Os homens em éxodo rompiam Hi ome eeemsivos. Quanto falta para chegarmos & cidade mais préxima? quebra... Bem ttt Pelas distancias entre as cidades. Se alguma coisa Jim vai a pé até 4284 C80 temos de acampar por aqui mesmo, enquant© ° Que comida feat cidade, para Comprar a pega que falta ¢ torna a voltar.-- to quente?! Nao tan? pls] E por que taio esti hoje o motor assim A Califérnia on dee et a fazer nenhuma subida, [.. ] Oh, se a gente chess Se a gente conseguise chegnr sit AMS que esta geringonca se desfizese! Broil, x dy pp. 12ictany et (AF vinhas da ira, 3.* ed, Lisboa, Livros 702 a HANNE ae ayabigiitae, Ban ramances urbanas (®), isto 6, romances can que eutade Mo & apenas o quadro eny que decor 4 wake igieds wan eanstlttth Con a seu pltoresco, OS seus Roatan ww wie vst eW. 8 PEAPLiO. assuMtO Fomanesco, Victor Hagar panes FE sislo © iuteiador desta forma de romance, ao qadoved Noow Neuhora de Baris, obra em quea grande persona, gem Gaoahnente o pidateseo Paris do tempo de Enis XL Saliminbs de Haubert & gualente @ tomance de-uma cidade, de uma eaplenntorena avbara cidade morta — artago, As capitais angaaar @ Lbintatioas @ a8 sortilegas cidades de arte tém seduzido de modo especial ox romaneistas, Como maliciosamente observa Thidandlen quem ao comprar o seu bilhte de viagem, nio terd avg ou porsados Barto para Veneza excrever un romance ?e (6), Awe OX FoManees que fem de wma cidade de arte a sua peoonagent dominante, podemos citar Brugessla-morte de Geor- ges Rodenbach, _ Outeas vezes, a personage principal de um romance iden- titlease Com unr elemento Fico ou com uma realidade socio~ Kigloa, aow quais se encontrar intimamente vinculadas on subju- galas as porsonagens individuais, Germinal de Zola 0 romance Gamina, O certive de Aloisi de Ageveda & 0 romance do bairro wibterivel, proméeno ¢ turbulento, que albergas nas dreas mar- gia do Rie de Janeiro, os proletirios desprotegidos, etc. ANd. © rvetrate da personagem No romance do sdcuto xvur_e de quase todo o século xix “© MH dicemos qual a linha de clivagem que, na_histéria MW vomance moderne, explica este Squase” =. a pe Sonagem Sen geval apresentada atravds de un rerrato, elemento televante, Ls (S80 Meso, Ha ExtPATUea de tal romance, Nt retrato, mais ou menos v omg ee dle dados semanticos, ; de vigh 4 vertudtio, ao temperame nt0 Soares Stes da_personagent en casas Bobs “8gens seeumdavias possarn suscitar FEEAE mais ou menos pode dizer respeito ) fisio~ ao cardcter, ao modo Embora algumas pet Jativamente pot minucioso, ( p. 206 88, (CR Atbert Thibaudet, Réflevions sr Fe roman, pps 206 Mm Bids 20, 708 TEOWA DA UTpaaT, . Jio as personagens principais, os Protagonistas, menorizados, sf0 oa um retrato mais éxtenso € mais rico, See geral meres tagonista situa-se quase sempre nas Paginas O retrato do pro er Gicando-se, nao raro, a sua pr iniciais do er Por vezes, o retrato fisico € psicol4_ logo no Timine da nan em € completado com a sua histéria gico-moral da personagem © por ‘exemplo, com OMe i: fora Camilo Castelo Branco — ou posto em intima conexig tom certo meio sociolégico ¢ teliirico (6). ie.) O nome é um elemento importante oT cara i iza¢io personagem, tal como acontece na vida civi i rel = a cada individuo (). O romancista declara em geral o nome 2 perso- nagem logo que inicia o seu Tetrato, mas, por vezes, pode pintar €sse retrato sem mencionar imediatamente o seu nome. Carlos de Oliveira abre o seu romance Uma abelha na chuva com um (?)—A conexio do retrato da sociolégico e telitico € sobretudo cara Balzac deixou em muitos dos seus interpenetracio do retrato com o Personagem com um determinado meio icteristica do romance realista ¢ naturalists. Fomances exemplos paradigmiticos desta meio social (cf. Roland Le Huenen ¢ Paul Perron, Balzac. Sémiotique du Personnage romancsque: L’exemple d’ Eugenie Grandet, Montréal — Paris, Les Presses de l'Université de Montréal — Didier Erudition, 1980, cap. Ill: «Le systéme du Portraits), ()—No inicio do seu me de guerra, Almada Negreiros PSe justamente em relevo a impottincia do nome: «Das duas uma: ou as pe ‘isi los caracteres; no en cans ProPrO de uma pessoa, ficamos lon tame ato bem. Jules Renard titow une tamanho natural: «On Tappelle vache et 2 vaen porto Yedes, este corpo intelne cis € vaca por todos os lados Por sox i : cares exist. eg, eke? "HO tem apelidos de familia Para Ihe complicarem 4 tenha ow que nda teahe mimal doméstico, vem a Hee the conan gv algun set fons? MHA apelidos. [Tee verdade € que 0 facto & Cin fom Ot daa me : ou mul " ego 2 & a Batre me Rf 2PEAE 2 natees,chamarse Jo € Sousa © a ais a vida inteira: é © problema. E s¢ ° ‘reira, entio, 4 mplicou-se tanto, uma vez con! convencidos de que este lhe pléndido retrato da vaca em C'est le nom qui lui va kt Xtraordinariamente ito ec, tem sempre mult ‘ou Editorial Estampa, 31971, pp. 15-16) 9 ROMANCE retrato inominado: «Pelas cinco horas duma tarde invernowa de Outubro, certo viajante entrou em Corgos, a p& depois da frdua jormada que © trouxera da aldeia de Montourc por aus caminhos, ao pavimento calcetado ¢ seguro da vila: um homens gordo, baixo, de passo molengiio; samarra com gola de raposa: chapéu escuro, de aba larga, ao velho uso; a camisa apertada, sem gravata, no desfazia no esmero geral visivel em tudo, das mios limpas 3 barba bem escanhoada», ete. (4), O nome da personagem sO sera desvendado no capitulo seguinte. Obtémese asim um efcito de expectativa, que prende e aguca a curiosi= dade do leitor. ° Onome da personagem funciona frequentemente como unr indicio, como se a relagdo entre o significante (nome) ¢ © signi= ficado (contetido psicolégico, ideoldgico, etc.) da personage fosse motivada intrinsecamente. O nome do herdi de A qued dum anjo de Camilo — Calisto El6i de Silos ¢ Benevides de Bar buda — revela logo que a personagem pertence a unt determi- nado estrato social — a aristocracia —, mas oferece também uma conotagio que & fundamental para o conhecimento da perso- nagem: sugere arcaismo, provincianismo anacrénico, laives de ridiculo... Bo herdi de A reliquia, Teodorico Raposo, © Rapes, nio ostenta no apelido a manha ¢ a velhacaria que o caracterizam? E Alvaro Silvestre, protagonista de Uma abelha na chun, nko tem um apelido que denota ¢ conota rusticidade, uma dtvore genealégica de lavradores ¢ labregos contraposta 4 linhagem dos Pessoas, Alvas e Sanchos, donde procede a mulher com quent casou? ($8) E Marcel Proust nao criou todo um sistema onomés- tico constituido a partir da oposi¢io entre grupos so cpeaigto ocriticos ¢ plebeus ¢, correlativamente, @ parte i oposin entre nomes com sflabas longas ¢ silabas finais ruc a no ne com silabas breves ¢ abruptas: «dum lado, © paradigma cos — ina chuvay Lisboa, Publicagtes Dom pituto HL, quando a «Mas Qui (Carlos de Oliveira, Uma abelh Mic. 51971, p, 7. (5) Esta’ contraposi posi¢: 7 oes de Alvaro Silvestre faz a S18 apres Ot atido era uma concha de silencio © iS Me Esancho.- Silveste Maria dos Prazeres Peston toe lo marion (ih ts * o NO Cat icita-se log to explicitase fontea personagent’ Destacou com ironia © 50) a TEORIA DA UTeRaTipy Guermantes, Laumes, Agrigente, doutro, 0 paradigma dos Verdurin, Morel, Jupien, Legrandin, Sazerat, Cottard, Brichot, ete? (os) Nos romances em que aparecem retratos minudentes, o significado das personagens fica desde logo relativamente csta- belecido, embora esse significado 86 venha a definir-se, em toda a sua amplitude, medida que a intriga vai progredindo. Quando 0s retratos so inexistentes ou escassos, a personagem apresenta-se inicialmente como um assemantema que adquire significacio, mais ou menos rapidamente e com maior ou menor clareza, através das suas palavras, dos seus actos e das suas oposi¢des, diferencas e afinidades relativamente a outras’ personagens, O estatuto da personagem solidamente travejada, bem defi- nida pelos seus predicados e pelas suas circunstancias — elementos caracterolégicos, tragos fisionémicos, meio social, ocupagio pro- fissional, etc. —, entrou em crise ainda na segunda metade do século x1x, com os romances de Dostoiewskij. Apés a sua lei- tura, impSem-se obsidiantemente as teorias, as disputas ideolé- gicas, as diividas, as raivas, os desesperos das suas personagens, mas dificilmente se rememoram os seus rostos, a cor dos seus olhos, a decoracio das suas casas, etc, Segundo as palavras de Bachtin, «o herdi interessa a Dostoiewskij, nao enquanto fenémeno na realidade, possuindo tracos caracterolégicos ¢ socioldgicos nitidamente definidos, nem enquanto imagem deter- minada, composta de elementos objectivos corn significagio } 4 propésito dos significados intert, admiraveis narrativa: 's, Comenta: «SJ tador ou exten AO nomes verdad lciros, sempre, Nunca invet . adeiros, eriheagN mes, COmUNS € existentes, ere que se use " e i a ; oN realidad pode ser lida como o agin tases. Da mesma m Ue Se apro! tando sem Pre com a comunien a i ee. cond encia roiled ag io [ator-eitor. Quanto’ mais rico em vivéncia € © Ieitor. As vezes muito mais que 0 autor» (p. 110). 706 mais ¢ mais, vy; —— THOMA DA Ute tny Guermantes, Laumes, Agrigente, doutro, 0 Paradigins dos Verdurin, Morel, Jupien, Legrandin, Saxerat, Cottard, Brichot, ete? (oy Nos romances em que aparecem retraton minudente, 0 significado das personagens fica desde logo rela ivamente esta. belecido, embora es nific: do 86 venha a definir-se, em toda asua amplitude, 1 medida que a intriga vai progredindo, Quando 08 retratos so inexistentes Ou escassos, personage Apresentanse inicialmente como um assemantema que adquire significagao, mais ou menos rapidamente ¢ com maior ou menor clatez, através das suas palavras, dos seus actos ¢ das suas oposigées, diferengas e afinidades relativamente a outras’ personagens, O estatuto da personagem solidamente travejada, bem defi- nida pelos seus predicados ¢ pelas suas circunstincias — elementos caracterolégicos, tragos fisionémicos, meio social, ocupagio pro- fissional, etc. —, entrou em crise ainda na segunda metade do século x1x, com os romances de Dostoiewskij. Apés a sua lei- tura, imp3em-se obsidiantemente as teorias, as disputas ideold- gicas, as diividas, as raivas, os desesperos das suas personagens, mas dificilmente se rememoram os seus rostos, a cor dos seus olhos, a decoragio das suas casas, etc, Segundo as palavras de Bachtin, «o herdi interessa a Dostoiewskij, no enguanto fenémeno na tealidade, possuindo tragos caracterolégicos € sociolégicos nitidamente definidos, nem enquanto imagem detet- minada, composta de elementos objectivos com. significagto vider Roland Barthes, sProust et es noms, Le deg xbro de Plait Suivi de nouveaus esas critiques, Pati, Editions dy Seuil, 1972, p. 132, Em vit oe nteresedespertado na corse ertiealiterdsis conten portnem pesca Cenvsies cratilianas da linguagem vee ido publi mos 3008 Gobretato nares Hnguagem verbal, tm sido publicadon nos il i Pottique e Linérature) numerosos estudos sobre 2 tia dos nomes prprios em texton Pes Sos no seu iv Bi Sma do romance: Matéria de catpintaria (Sio Paulo — Rio de Janet» Tacos, ete, gern Posto dos significados intertextuais, metafbricot, sate admirdveis area eoP® Pata Os nomes de algumas personagens —. tador ou extrase tt COMenta: «Sto nomes verdadeitos, sempre. Nunca i viciosnivein de antes, Nomes comuns e existentes, em que oct ue a realidade Ris cago ¢ nesse sentido so usados, Da mesma er lida como o si liane dos obs co simples real existente ion maeEMoUEAE alguina cole mole ee Al simbole Pre coma comune lam mais © mais, vagarosamente, contande tensibilidade, mais 10 autor-leitor, Quanto mais rico em r4 0 Ieitor, Ax veres multo mais que 0 autor? 706 9 HOMANCE snicas respondendo, no seu conjunto & pergunta «quem é?>; herdi interessa 2 foal como ponto de vista particular sobre 0 mundo e sobre ele proprio, como a posi¢io do homem que husca a sua raza de ser ¢ © valor da realidade circundante ¢ da gua propria pessoa» (*?). (© romance dos uiltimos anos do século x1x ¢ das primciras dkcadas do século xx herdou e desenvolveu esta licdo dostoiews- kiana (6). De Bourget a Musil e de Virginia Woolf a Hermann Broch, esse romance nao apresenta apenas personagens compli- cadas, contraditérias, diffceis de apreender numa férmula ou de explicar linearmente por um esquema de teor causalista, no se limita to-s6 a devassar as profundezas ¢ os recessos da inte- riotidade humana (0 que, com técnicas diversas, jé tinham rea- liado muitos romancistas anteriores): cria personagens como que descentradas, destitufdas de coeréncia ética e psicolégica, instiveis ¢ indeterminadas. O nouveau roman conduz ao seu grau extremo este processo de deterioracao da personagem. Jean Ricardou nio hesita mesmo em afirmar que esta deterioragio funciona como elemento diferenciador do “novo romance” em relagio ao “antigo Tomance” (59), A personagem vai perdendo tudo o que a identificava, lhe conferia solidez ¢ relevo: a genealogia, a crénica mmiliat, a’ fisionomia, a idiossincrasia bem definida... (’*). 9 ptdprio nome, elemento fundamental, sob o ponto de vista Sociolbgico ¢ juridico, para a identificagio ¢ particularizagio 4o individuo, & destruido ou desfigurado: 0 her6i de O castelo dt Franz Kafka & apenas designado por K.; James Joyce designe Penas pelas iniciais H.C.E. 0 protagonista de Finnegans Wake ; —— dy ICE Mikhail Bakhtine, La poétique de Dostoievski, Paris, Editions iil, 1970, p, 82. / econ t)~Sobte 0 romance deste perfodo, vei Mianetlementares: Michel Raimond, La crise du roms rows La revolution romanesqe, Pats, Union Gentle 7 ct Jean Ri «Le nouveau fo! i ; tte romans te are 1, Broblemes genta, Pai, Union Gingele ions, 1972, p.' 13. Veja-se também Jean Ricardow DOW TE oT ie rot oman, Pats, Editions da Seu, 1971, po. 299 sce Univesity Peat foman and the poetics of fiction, Cambridaes o— cP Nea is, Gallimard, 1956. vp, LO~CE Nathalie Sarraute, L'ere di soupson Par Gallim “5655.6 70 5s, ’ as obras fundamentais Paris, J. Corti, 1966; d'Editions, 1972. in AA. VV. jam-se dus 707 TRORIA DA Ltmat Uy em La bataille de Pharsale, coe Simon denon ° (zero? letra do alfabeto?) ora uma cree ora um homem} Robert Pinget, em Le Libera, faz _proliferar oa ome que, Pelas suas semelhancas fonéticas, tendem a confun it-se, motivando, por Sonseguinte, a confusio das. personagens () Subjacente a esta crise da personagem romanesca, encon, tra-se a crise da propria nogio filosdfica de pessoa, Sob 4 influéncia da psicologa de Ribot, do intuicionismo de Ber, ¢ das teorias de Freud, o romancista descobre que a verdade do homem nio pode ser apreendida ¢ comunicada pelo retrato de tipo balzaquiano, inteirico, sélido nos seus contornos e fundamen- tos. Nao é poss{vel definir o individuo como urna globalidade ético-psicolégica cocrente, expressa por um “eu” racionalmente configurado: o “eu” social é uma méscara e uma ficcio, sob as quais se agitam forcas inominadas e se revelam miiltiplos “eus” profandos, varios ¢ conflituantes, Esta crise da nogio de pessoa, imediatamente explicivel influéncia exercida em largos sectores intelectuais e artisticos pela psicanilise ¢ pela psicologia das profundidades, tem uma matriz mais profunda e deve situar-se num contexto mais amplo: trata-se de uma conse : a quéncia ¢ de um reflexo da crise ideoldgica, ética e politica que vem minando a sociedade ocidental contem Poranea —crise que alcancou o paroxismo com a soci neocapitalista dos nossos dias, dominada por uma tecnologia pela apt? estudos citados na nota (6 i lomes (CF, respecti 19 ep. 243): S01 ivamente, p. ik warts noridade ar », Monnard, Maillard, Chotearh 1 2 ocorréncia eed: Cossard, Paillad, tls Mt spath Mottin, Moine, Mailfcen* 4 mesmo fonema inicial (Monnea® om Ménard. Monette, My lard, Matic, Magnin, Mottard, Moineats Mics) 708 Miquette, Mireille, Machette, Marin, MA 9,30MANCE ydimente alastrando, © romance no poderia retratar persona segundo os moldes e os valores da sociedade burguesa ¢ Feral dos séculos xvii ¢ xix (72), 0.3.5. Personagens “planas” e “redondas” 1 Bi P Como constréi o romancista as suas personagens? Como se configuram clas? E. M. Forster distingue as personagens romanescas em duas cspécies fundamentais: as personagens desenhadas ou planas ¢ as personagens modeladas ou redondas (73). As personagens dsenhadas sio definidas lincarmente apenas por um traco, por um elemento caracterfstico basico que as acompanha durante todo 0 texto. Esta espécie de personagem tende frequentemente para a caricatura ¢ apresenta muitas vezes uma natureza cémica ou humorfstica. O conselheiro Acdcio, por exemplo, é uma per- sonagem plana, pois que sc define, desde as primeiras até as tiltimas paginas d’O primo Basilio, sempre pelo mesmo trago ~averborreia solene ¢ oca. Ega de Queirés, alids, como certei- Tmente observou o Prof, Costa Pimpio, caracteriza habitual- Mente as suas personagens através da recorréncia do mesmo tlemento © nao através da acumulagio de elementos diversifi- dos ("), A personagem plana no altera o seu comportamento ae do romance ¢, por isso, nenhum acto ou nenhuma eas 4 la sua parte podem surpreender ° leitor. oO tip nio le iona, niio conhece as transformagées intimas que fariam sa a Personalidade individualizada © que, por conseguinte, criam as suas dimensdes tfpicas. Ora, a personagem dese- had, : Qn d nen, é quase sempre uma personagem-tipo. Nio_ provoca Huma surpresa, por exemplo, o facto de, n'Os Maia 0 194,02)~CE. Lucien Goldmann, Pour une socologie di roman, Pars, Gallisnard, it . d., Roman Maat AR? 883 Michel Zéralfa, La révolution romanesque, pas (nats, put IITA, passin , Mc we ie M, Porster, Aspects of the (Spy VOtH, 1927, pp. 6 ert seymmoue Chat ealtourse, yp 191-32), a distingdo estabelecida 4 sees a sua utilidade operatdria. halo | Alvaro J. da Costa Pimplo, Gente gradi, 0 Intitulado «A. arte nos romances de Feu. e novel, New York, Harcourt, man poe em relevo por Forster mantém Coimbra, Atlintida, 709 TEORIA DA matey, Damaso assinar uma carta que Jot oe Fst ibe oa £ ta quil aquele se declara um ébrio habitual, Pou rs © Coadunage erfeitamente com o que o leitor conhece do bochechuds Palofo Dimaso Salcede. . As personagens planas sig extremamente cémodas 5 romancista, visto que basta caracterizé-las_ apenas uma. aquando da sua introdugio no romance, nio sendo necesstig cuidar atentamente do seu desenvolvimento ulterior. Sem Thantes personagens esto particularmente indicadas para o Papel de comparsas, As personagens modeladas, pelo contritio, oferecem uma complexidade muito acentuada ¢ o romancista tem de Thes con. sagrar_uma atengio vigilante, esforgando-se por caracterizédhas sob diversos aspectos. Ao trago recorrente proprio das persona gens planas, corresponde a multiplicidade de tragos peculiar das personagens redondas, As personagens de Dickens, de contomas simples, embora extremamente vigorosos, opdem-se as gens de Dostoiewskij, densas, enigmiticas, contraditérias, tebe des as definicdes cSmodas que podemos encontrar na envtalizs- G20 das férmulas. Os herdis de Stendhal, de Tolstoj, de Jame Joyce, etc., sio igualmente Personagens modeladas, Da complexidade destas personagens resulta o facto de muitas vezes, o leitor ficar Surpreendido com as suas reacgis ce nrrec ] contecimentos. Diante de Stavroguine, a enigmitica D ©? Petsonagem d’Os possessos, o leitor nunca sabe quais as inflexdes que a intriga poder’ softer, A densidade ¢ a riqueza destas personagens nio as transfor mam, porém, em casos de absoluta unicidade: através das 8 feicées peculiares, das suas paixdes, qualidades ¢ defeitos, des seus ae tormentos © conflitos, © escritor ilumina o hum ¢ si mn Vida. O interesse ¢ a universalidade das an fe aidts advém. precisamente desta fusio perfeita que se verifica da sua ‘uniet igifcagio genera ohne sua ae © da sua significagio que nO, quer sob o ponto de vista do i I vista do intemporal Sob o ponto de vista da hi i © pon : - nagem modelada, say dink x @ sua unicidade complexa, dindmica, contraditéria, root elementos Upicos que se afirmam claramet® plo, nas palavras que nar A mort j c desencorajar Para sen e vid roferiu no tribunal que Lae e: Os jurados «quererio castigat orci MPre certa espécie de jovens quer a sonsanct own chasse inferior & por asim dizer, oprimitos pela pobrega, en 4 felicidade de se proporcionar wis hoa educagin, © @ yudicia dle se iniramerer CoM a que o orgulliD skis persia teas uma a sociedades, A pesonageny madehidd, ome suid, posterta gxcamar COM Baudelaire, no sen pacman keine oHYpo cite Iectewt, — MEN semblable, — won tere. 10.4. Diegese e discursa narrative Oramance, como Fado festa narrative, HARSEAE e EQ nica sempre informagda sobre waa dada, sabre ai pie on una sequdrcia de eventos que sto prow tetas e@ snportadas por pesonagens. Tal sequencia dle eventos porte ser sonatrniela © transmitida ac leitar segunda tenieay dliseursivas Hy vartiveis. (Os formalistas russos distinguirany na sequdnels dle asantecd mentos comunicada pelo texto narrate slots planos que, enbora interligados por uma telagin ale solidaridade, slovenly ser conceptual ¢ fumeianalmente contrapusters: pt win lady a fibula (fabula), isto & as acantectmentos Feprosen tacts nay sins Fey nes inernas, nas suas relagdes crapaldgioas & CaNsahy PAF stra pareey a buriga (gjudee), que & a apresentagay slay mesmay acanlert mentos, segundo esquemas «le constrnigin estdtion, Wy te tarrative (75), Nesta perspectivay 4 tabula conaritnt, eon FB! um elemento prédliteriti © por B80 Sklovskij a vonsilepa came, material destinada a elaboragao cla intrigay 8h) por sia vex, FANS Stul_ um elemento especiticament? iterdrio, ye feHOMENY ri uma estratura compositiva ("), 2 apres a ta dicotomia conceptual das formalistas FAO a Sta afinidades cam a distingio elaborada por 7 : y Mee Diteneaemene dos frais, eS Th Reshomale Sn liraniris conten ne aslitorenehayay —ondlogss, Assim, Tavetan Todaray Par vevetanTostorny (ak) 1 hee ) hae) Get. fanhény neh shijy Twit dolly Heihiniltih, oby, nature, Paris, Es mete he se tS tiaggl IEE Donate Feeearie BON in ' iN Stent criiciy AMINA), PP ‘ory easien ella postles lave 99-100), wy

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