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awa tome rivilégios garantidos por lei indistintamente a todos os std tos INGLESES. Mas, fosse esse poder alguma vez utilizado para a facciosidade ou a tirania ministerial, a facto oposta, na ver- dade todos os que amam seu pais, se alarmaria imediatamente © apoiaria o partido prejudicado; a liberdade dos INGLESES seria ‘eafirmada; tribunais seriam implacaveis; e os agentes da tira fla, que agem contra a lei e a eqiiidade, conheceriam uma vin- ganga severa, Por outro lado, se o Parlamento garantisse uma autoridade como essa, provavelmente enfrentaria uma das se- guintes inconveniéncias: ou as restrig6es seriam tamanhas que anulariam seu efeito, impedindo a ago da Coroa; ou seriam to abrangentes que dariam ocasiao para imensos abusos con- ‘a 08 quiais ndo teriamos um antidoto. A irregularidade mesma da pritica, tal como hoje a encontramos, impede abusos constitui um antidoto brando. Esse arrazoado nao tem o intuito de excluir inteiramente a possibilidade de um alistamento foscado para os marinhei- 0s, que podem servir @ marinha sem ameacar a liberdade. Uni camente observo que no se propds nenhum plano satisfato- fio a esse respeito. Em lugar de adotar qualquer um dos pro- jetos propostos, insistimos numa pritica aparentemente absur- da ¢ inexplicivel. Em tempos de paz e concérdia interna, 2 autoridade volta-se contra a lei, Permite-se uma violencia per- manente da parte da Coroa, sob grandes suspeitas e desconfian- 6a da parte do povo, 0 que procede destes principios, Num ais muito livre, a liberdade deve defender a si mesma, sem ne- ‘hum apoio ou protecio; 0 estado natural de selvageria retor- aria numa das sociedades mais civilizadas da humanidade, violencia © desorcem se disseminariam impunemente, enquan- to um partido exige obediéncia a um magistrado superior, ¢ 0 outro a sangio de leis fundamentais, ENSAIO VINTE E TRES Do contrato original Como nenhum partido consegue, na presente época, sus- tentar-se sem um sistema de principios especulativo ou filos6 fico anexado ao seu principio politico ou pritico, constatamos aque cada uma das Facgbes em que esta nacao se divide erguew uum ediicio do primeiro género para proteger € revestir 0 €5- auema de agdes que patea, Como as pessoas geralmente sto construtores muito rudes, especialmente na via especulativa, ainda mais quando agem pelo zelo patidisio, 6 natural imagi- rar que sua consirugao seja um tanto desproporcionada € mos- tre evidentes marcas da violencia ¢ da pressa com que foi er- guida. Um dos partidos, 20 remontar © governo & DEIDADE, tenta torné-lo to sagrado ¢ inviolivel, que seria quase sacrile- io, por mais tirinico que seja, océ-1o ou violar 0 menor arti 0. 0 outto partido, ao fundar 0 govemno inteiramente no con- sentimento do rovo, supe que exile wm génro de contra original pelo qual os siditos reservaram o poder de resistr 20, teu eran tuando quer que se considerem auredios Por ess auordade, que onfaram a ee voluraimente © para ‘ertos propéailos. Esses S20 0s principios especulativos dos Gots pido, exa ato ay conseqencsprtieas dees de- mi gicome a alma que ambos ese stems de prin ios especutativos sao justos, mas ndio no sentido em que pre- tendem os partidos, e que ambos os esquemas de conseqitén- — David sume clas praticas sao prudenies, mas ngio mos extremos em que cada um dos partidos, um em oposicdo ao outro, geralmente renta levd-ts, Que a peIpADE € autora suprema de todo governo seri negado por alguém que admite uma providéncia geral € reconhece que todos 0s eventos no universe sio conduzidos por um plano uniforme € dirigidos 2 prop6sitos sibios. Como € impossivel que a raca humana subsista em qualquer estado de conforto ou seguranga sem a protegio do govemo, essa instituigao certamente deve contar entre as intengdes dese Ser beneficente que deseja o bem de todas as suas criaturas. E como ela de fato teve lugar universalmente, em todos 0s pai- ses € épocas, podemos coneluir com certeza ainda maior que contava entre as intengoes desse Ser onisciente que jamais se ‘equivoca em relagio a qualquer ocorréncia ou operacio. Mas, como deu origem a ela por meio de sua eficiéncia secreta € universal, © nao por qualquer interferéncia particular ou mila- gross, no podemos propriamente dizer que um soberano seja seu vice-regente; a nao ser no semtidlo de que todo poder ou forga dele derivado age por sua indicagdo, O que quer que eventualmente aconteca esd inchiida no plano ou intengio geral da providéncia; mas nem por isso 0 maior e mais legalis- ta dos principes tem mais motivos para reclamar uma sacral dade particular ou uma autoridade inviolavel do que teriam um magistrado inferior, um usurpador ow mesmo um lado ou um pirata, © mesmo superintendlente divino que, com pro- Positos sbios, investi de autoridacle um Tiro ou um TRA|ANO dew poder a um Boxots ou Axonia, sem divida com propési- tos igualmente sibios. As mesmas causas que deram origem ao Poder soberano em cada Estado instiuiram também cacla uma de suas jurisdigdes e todas as autoridades menores, Portanto, um delegado age por indicagao divina © possui um dleeito ir revogavel tanto quanto um rei Quando consiceramos que, antes do cutive da educacio, 108 homens so quase iguais em relacao a forca — sas pottcos mo As capacidades mentais e faculdades, & preciso reconhecer que nada além de seu consentimento poderia, num primei momento, leva-los a associar-se e submeter-se a uma autorida- de qualquer. Se remontarmos & primeira origem do governo nas florestas € desertos, veremos que o povo éa fonte de todo poder ¢ jurisdig20; ¢ que abandonou sua liberdade nativa vo luntariamente em prol da paz e da ordem, aceitando leis de seus iguais ¢ companheiros, As condig6es em que aceitaram a submissio eram expressas, ou entio to claras e Gbvias, que & bem proviivel que se considerasse supérfluo exprimi-las, Se @ isso que se entende por um contrato original, € impossivel negar que todo governo se funda primeitamente num contra- to, € que as combinagdes mais antigas e rudimentares entre homens se formaram inteiramente « partir desse principio, B induil indagar pelos registros dessa carta de nossus liberdades, ela nao foi escrita em pergaminhos ou em folhas e cascas de Arvores, mas precede o uso da escrita e de (odas as outras ar- tes civilizadas da vida: podemos percebé-la claramente em to- dos os trigos da natureza clo homem, ¢ na igualdade, ou em algo que dela se aproxima, que verificamos em todos os mem bros dessa espécie. A forca que hoje prevalece funda-se em armadas ¢€ exércitos e ¢ claramente politica ¢ deriva da autori- dade, que € efeito de um governo instituido. A forca natural de um homem consiste unicamente no vigor de seus mem- bros e na firmeza de sua coragem; 0 que jamais poderia sub- ‘meter multidées a um comando tinico. Nada alm de seu con sentimento ¢ da percepeao das vantagens advindas da paz € da ordem poderia ter essa influéncia, Mas filésofos que adlotaram um partido (se € que isso nao € uma contradigAo em termos) n2o se contentam com essas concessées. Nao somente afirmam que o govemno inicialmen- te surgit do consentimento ou da reuniio voluntiria das pes soas, mas também que até hoje, quando atingiu maturidade plena, essa continua a ser sua nica fundagio. Eles afirmam que os homens sempre nascem iguais, e que sua lealdade a um net eNom David stum principe ou governa se deve unica aos lagos de obriga- G20 € sancdo de uma promessa, E, como nenhum homem aban- donaria as-vantagens de sua liberca sativa para se submei 20 dominio de outrem sem algo equivalent, entende-se que essa promessa € sempre condicional ¢ impde uma obrigaga0 somente quando recebe justiga € protegio de seu soberano. O soberano prometethe, em retorno, essas vantagens; e, se fa Ihar em sua execugio, teri rompido, de sua parte, os termos do compromisso e assim libera seu sidito de toda obrigagao & leakdade. Essa €, de acordo com esses filésofos, a fundacio da autoridade em todo governo; e esse € 0 direito a resistencia que possui todo stidito Se esses racioeinadores olhassem © mundo A sua volt, no encontrariam nada que correspondesse minimamente as suas idéias ou que pudesse legitimar um sistema tho filos6fico © refinado, Ao contririo, por toda parte vemos principes que reclamam a propriedade de seus stiitos ¢ reafirmam seu di- reito independente & soberania por meio de conquistas ou de sucessao. Também encontramos por toda pare stiditos que re- conhecem esse direito do principe € pressupoem que nase ram sob a obrigagao de obediéncia a um ceterminado sobera no, assim como sob lagos de respeito © dever em relagto a las. como indle- na CHINA, na Esraiia; @ mesmo na HOLANDA @ na INGLATERR, ‘seus pais, Essas conexdes sio sempre cone pendlentes de nosso consentimento, na PERSIA € Franca € quando quer que as referidas doutrinas nio estejam cuicaclo- samente inculeadas. A obediencia ou a sujeig2o torna-se to fa- nilliar que a maioria dos homens jamais se indaga sobre sua origem ou causa; a exemplo do que ocorre em relagio aos principios de gravidade, resisténcia e das leis mais universais dda natureza. Ou, quando sio incitados pela curiosidade, dio- se por satisfeitos e reconhecem a obrigacao a lealdade tao logo aprendem que eles mesmos e seus ancestrais tém se sujeltado por sucessivas épocas, € mesmo desde tempos imemoriais, a um dado governo ou familia, Na maior parte do mundo, se a » polities guém pregasse que as conexdes politicas se fundam inteira mtu, mente no consentimento voluntério ou numa promes: por sedicao ¢ tentativa de afrot magistrado logo o prenden xar os lacos de obedigncia; isso se 05 amigos dessa pessoa nao a tivessem calado diante do delirio de pregar absurdos yranho que tm ato da mente supostamente For- tuo que ff dispde do uso da razio (pois thuma autoridade) possa ser des- sobre a face da mado por um indiv de outta maneira nao teria n conhecido de todos os demais, e que niio terra nenhum trago ou memoria dele Mas diz-se que © contrato em que um contrato origins ¢ que &, portanto, supostamente antigo emais para que seja do conhecimento da atual geragao. Se por isso se entende 0 acordo por meio do qual os homens sel vagens se associaram ou reuniram suas forgas pela primeira vez, deve-se reconhecer que ele € real; mas, como é muito an tigo € foi recoberto por intimeras mudangas de governo e prin- cipes, nao se pode supor que retenha nenhum autoridade Se algo poxle ser dito a esse respeito, & que cada governo par- ticular legal que impée ao sidito uma obrigacio a lealdlade se funda, num primeiro momento, no consentimento © um pac- to voluntério, Mas, além de tal coisa supor que 0 consentime: to dos pais se estende aos filhos até as geracdes mais remotas nos jamais reconhecerdo), ela nao € funda © governo Co que autores Republic: ificada pela historia ow pela experiencia em nenhuma 6po- iu ca ou pais do mundo, se todos os govemnos que existem atualmente ou de Fundaram originalmente na que resta registro na historia s usurpacio, na conquista ou em ambos, sem nenhum pretenso consentimento justo ou sujeig2o voluntiria do povo. Quando tum homem habilidoso e robusto se encontra a frente de qual- quer exército ou faccio, pode facilmente recorrer a violencia ow a falsas promessas para instituir seu dominio sobre um povo cem vezes mais numeroso que seus partickiios. Esconde des- orca; nao di espaco para que tes seu ntimero exato ous ft i ' , t - bavi stume conspirem em oposig. a cle; € até mesmo possivel que todos de que se vale pa 11a usurpacao desejem sua queda: mas aig orineis em relagdo as intengdes uns dos outros mantém seu temor, a tinica causa de sua seguranca, Por manobras como es sas muitos governos foram instituidos; a isso se reduz contrato original de que podem se gab: A face do globo altera-se continuamente pelo aumento de Pequenos reinos que se tornam grandes impétios, pela dissolu- 20 de grandes impérios que se tommam pequenos reinos, pela instituigao de colénias e pela migragao de thos, Percebe-se em tais eventos outra coisa além de forga e violencia? Onde estio © acordo motuo € a associago voluntasia de que tanto se fala? Por maior que seja a tranqitilidade com que ums nacio iceita um senhor estrangeiro, por meio de casamento ou vo- Juntariamente, nilo se trata propriamente de algo hons0so para lum povo, pois pressupde que ele abxlica de sua vontade em proveito do prazer ¢ interesse ce seus governantes, Mas, quando nenhuma forca interfere ¢ uma eleigdo tem lugar, do que se trata essa eleigio tio elogiaca? Trata-se da com: binacdo entre uns poucos grandes homens que decidem pelo todo sem permitir oposicdo: ou entio da firia de uma multidio que segue um lider sedicioso desconhecico da imensa maio- fia € que deve sua indicagao a propria imprudéncia ov ao ca- pricho de seus companheiros, Deve-se atribuir a essas eleigoes raras e desordeiras uma ‘autoridade to grande, a ponto de se omarem o tinico funda- mento legal de todo governa e lealdade? Nao ha na verdade ocorréncia mais terrivel do que a dis- solugio completa do governo, que di liberdade a multidio € faz com que a determinagao ou escolha de uma nova ordem dependa de um ntimero de pessoas que se aproxima do nti mero total delas (pois nunca & possivel que seja igual a seu néimeso total). Todo homem sibio gostaria de ver & frente de lum exéreito poderoso © obedliente um general que obcenha vitoria rapidamente e dé as pessoas um senhor que elas nto so capazes de escolher por si mesmas, A esse ponto chega © sas politicos. eee descompasso entre 0 fato & a realidade e as nogdes filos6ficas a que nos referimos, Nao deixemos que a ordem instituicla pela revopae nos engane, ou desperte em m6 0 ape tima 0 Gr cows que for akerada tecentes pessoas, para der milhoes de pessoas, Nao dud de Gea maior pate desses dz milioes concorde de bom sed fava justamente deoidiga & paris daqdele momento, e que eco que a Repibica de Ares Fo a democtici mais ampla que fi houve na historia. Enretanto, se exeliemos a8 tuigno assim como qualquer outs fet al vada, n20 contou om a pariipagio de nem mesino & décima parte dos que deveviam Ine prestar obediencia, Sem menciona ainda as shes e dominios esrangelros que os sTeMEntsrelamavam por d- ret de conguisa,Sabe- ambein que as assembles popl Tres dessa clade eram marcaces pea inciciplina e pela orden apesa das insttuiges les que a regula ASSID, tnde asembleias como esa nao fazem pated constitute, thas reonen se tumultuosamente pos dsl do Aso govemo para insu um novo, 4 desotdem deve ses ainda troior Fale em estolha numa circnstingia como esse nA passa de uma quitters (Op agus destin da demoeraci mais vee e pele cada Anigudade; eno entanto, como most Pou, recoeiaeh 2 orca para obrigaroutas cidades a paicipar de sua gn ‘gem filosofica do governo, levando-nos a considerar ponder a essas idéias sutis. A uni- sucessio de uma parte de la maioria entre se. Lista, capt 38 238 David Hume Hevrigue IV © Hexeigue VII da INGLATERRA deviam © trono Uunicamente a elei¢io parlamentar, coisa que nunca reconhe- ceram, pois temiam que enfraquecesse sua autoridade. Isso nto deixa de ser estranho, se 0 Unico fundamento real da autor dade so mesmo 0 consentimento e a promessa! E inatil dizer que todos os governos sio ou deveriam ser inicialmente fundados no consentimento popula, na medida ‘em que permita a preméncia dos assuntos humanos. Isso favo- ec¢ inteiramente meus objetivos; pois sustento que os assun- tos humanos nunca permitem esse consentimento, mas apenas lum consentimento aparente; e que a conquista e a usurpacao, ou, em termos claros, a Forca que dissolve todos os governos, std na origem de quase todos os que alguma vez foram insti- tuidos no mundo, Nos poucos casos em que parece ter havi do consentimento, ele foi to precirio, restrito ou mesclaclo a fraude © 4 violencia, que sua autoridade 56 péde ser muito restrita, Nao € minha intengao excluir 0 consentimento popular do fundamento de um eventual governo; trata-se por certo de seu melhor © mais sagrado fundamento. Apenas afirmo que Poucas vezes participou de alguma maneita, e nunca inteira- ‘mente; € que assim € preciso ainda admitir um outro funda- ‘mento do governo, Se todos os homens rivessem uma consideragio inflexivel pela justica a ponto de, por vontade propria, abster-se inteir mente clas propriedades dos outros, teriam permanecido para sempre num estado de liberdade absoluta, sem submeter-se a nenhuma magistratura ou sociedade politica, Mas a natureza humana nao € suscetivel a um estado de perfeigdo como esse. Se todos os homens fossem dlotaclos de um entendimento per- feito e considerassem sempre 0 seu proprio imeresse, nao ha- veria outra forma de governo além da baseada em consent mento ¢ inteiramente votada por cada membro da sociedade. Mas esse estado de perfeicao também excecle em muito a na- tureza humana, Razio, historia e experi@neia mostram-nos que Ensaios politicos — todas as sociedades polticas tiveram um inicio muito menos, apurado e regular; ¢, se fivéssemos que escolhter um periodo de tempo em que © consentimento do povo foi minimamente considerado nos negécios ptblicos, seria precisamente a insti- tuicio de um novo governo. Numa constituigdo jf instivuida muitas Vezes suas inclinagdes s4o consideradas; mas, em meio a fliria de revolucées, conquistas e convulsdes pablicas, a con- twovérsia geralmente € decidida pela forga militar ou pela ha- bilidade politica ‘Quando um novo governo ¢ insttuido por qualquer meio que seja, geralmente ha insatisfagao de parte do povo, que a cle obedece mais por temor € necessidade do que por uma idéia qualquer de leakdade ou obrigacio moral. O principe runtér-se vigilante e descoafiaco, resguardando-se cuidado- samente em selagio ao inicio ou insinuagao de ume ressur reigio; yradualmente, o tempo afasta essas dificuldades, € a nagio acostuma-se a considerar como principes legais ou na. tivos a familia que antes considerava como usurpadora ¢ con- quistadores estrangeiros. Para chegar a essa opinio, m0 po- dem recorrer a nenhuma nogio de consentimento ou de pro- messa voluntiria; pois sabem que nunca se esperou ou pedi uuma tal coisa, A instituicdo inicial veio da violencia, & a sub- mmissio, da necessidade; a administragio subseqiente também € sustentada pelo poder € aceita pelo poyo como uma ques- to de obrigagio, aao de escolha, nao se iludem de que seu consentimento dl titulo ao principe, mas consentem volunta- ramente porque consideram que adquiri esse titulo de longa data, independeatemente de sua escolha ou preferéncia. ‘caso se afirmasse que todo individuo, por viver sob os dominios de um principe que tem a apeiio de abandonar, con sente facitamente a sua autoridacle e promete-he obediéncia, caberia responder que um consentimento implicito como esse 36 poderia ter lugar se um homem penst que a questio de pende de sua escolha, Mas, quando pensa que deve lealdace 4 um certo principe ou governo desde o nascimento (como & Dave me deria renunciar ou desconsiderar expressamente Seria possivel afirmar com seriedade que um camponés ou lum arteso pobre é livre para decidir deixar seu pais sem co: nhecer lingua ¢ maneiras estrangeiras e vivendo de um dia para © outro com os pequenos pagamentos que recebe? Poderiamos do mesmo modo afirmar que um homem que permanece num barco consente livremente em relagio ao dominio do capitao, ainda que tenha sido wazido a bordo enquanto dormia; ¢, caso deixe a embarcagio, afundari no oceano ¢ momrer E se o principe proibe que seuss stiditos abandonem seus dominios, como no tempo de Tew, em que ers considerado Crime que um cavaleiro woMANo deixasse o império para esca. par 3 tirinia desse imperador Ou como os antigos Moscovt "45, que puniam com a morte qualquer viagem? E, caso um Principe notasse que muitos de seus stiditos fossem tomados pelo frenesi de deixar o pais, sem elivida os impeditia, com mui razdo e justiga, para prevenir que seu reino se tornasse pou- co populoso. Uma lei tio sabia ¢ razo.ivel ndo alienatia a leal dace de todos os seus stiditos, ainda que Ihes retire a liberdade de escolha, Uma companhia de homens que deixa seu pais para hab (ar uma regido deserta pode sonhar em recuperar sua liberda- de nativa; mas logo constatariam que seu principe continuaria 4 reclam-los para si, considerando-os stiditos mesmo em seu novo assentamento; no que agir ideas ‘comuns 20s homens. © consentimento (dcito mais verdadeito que pode ser ob- servado tem lugar quando um estrangeiro se estabelece num Pais conhecendo de antemao o principe, o governo e as leis a que deve se submeter; mas sua lealdade € muito menos espe- ada © necessiria do que a de um stidito nativo. Seu principe "Tact, Anais, hora VI, capitulo 1, 236 David Hume Ensates polices privada. Dessa natureza sto 0 amor por criangas, a gratidio a benfeitores, a pena pelos inforunados. Quando refletimos so. bre a vantagem que resulta desses instintos humanos pata a sociedade, rendemo-thes a justa homenagem da aprovagao mo- ral e da estima, Mas a pessoa tocada por eles experimenta sey poder ¢ influéncia antes de qualquer reflexiio desse tipo. (© segundo género de dever moral nio é assegurado por rnenhum instinto natural original; mas € realizado inteiramente a partir de um senso de obrigagio advindo da consideragao das necessidades da sociedacle dos homens e da impossibilida: de de asseguri-las diante da negligéncia desses deveres. E as. sim que a justica, ov 0 respeito pela propriedade alheia, © a Jfidelidade, ou 0 cumprimento de promessas, tornam-se obri- gitGrias € adquirem autoridade sobre os homens. Pois, como € evidente que um homem gosta mais de si mesmo do que de qualquer outra pessoa, ele & naturalmeate impelido a aumen- tar suas aquisi¢des tanto quanto possivel. Nada pode restringi Jo nessa propensio além da reflexao € dt experiéneia, que 0 instruem quanto aos perniciosos efeitos de sua desenvoltura da completa dissolugio da sociedade que ela acarretaria. Sua inclinagio original ou instinto @ controlado e restringido por um juizo ou observacdo posterior. O caso € precisamente o mesmo com o dever politico ov civil de alianga como com os deveres naturais cle justiga € fi- delidade, Nossos instintos primrios levam-nos a permitir uma liberdacle ilimitada, ou entio a dominar os outros; ¢ apenas a reflexdo pode nos levar a sacrificar paixoes to intensas em nome do interesse pela paz e pela ordem publica. Nao é pre- ciso muita experiencia € observacio para nos ensinar que ndo € possivel preservar a sociedade sem a autoridade de magis trados, € que ela € desrespeitada sempre que mio € esiriamen. te obedecida, A observagio desses interesses gerais ¢ eviden. tes & a fonte de toda lealdade e da obrigagio moral que atti buimos a ela, Qual entio a necessidade de fundar o dever a lealdade ou obediéncia aos magistrados na fidelidade ou no respeito por ovr Heme ——— dae’ Dirse que devemos dbedecer nosso soberano pom impossvel que os homens vivesser em soiedie, ou 0 me gue Impedissem o abuso do fraco pelo fone, do sto pa fco pelo violeto, Como a obrigag 8 lealdade tem a mesa forg que &fidelidade, nada ganhamos com a dssolugao de Se se perguntasse qual i240 a obedienca que deve resposa clare inteligiel para todos 08 omens, Poderas di obigagio de lealdade Nas laldadea quem? Quem sdo nssssoberanos legs? sa €gerlene a questo mas df provcainfnas ds cussdes, Quando as pescas esto sates, podem responder Ensaio politicos — antiguidade mais remota de uma familia real, requentemen constatem que sua autoridade inicial deriva da ususpagio & Ja, ov 0 fespeito pel lamental; € no entanto Violencia, £ sabido que a justica priv proptiedade alheia, € uma vinmude f trazio ensina que, quando se examina a transferéncia de pro: priedades duriveis, como terras e imoveis, de uma mao para uta, constata-se que em algum momento ela se dé pela frau dee pela injutica. As preméncias da sociedade dos homens, na vida privada como na pablica, nao permitem wma investiga- {Go tho acurada:e toda virtde ou obrigagio moral pode mus qo bem se perder quando cultivamos uma filosofa false que a eaquadrinhe ¢ disseque por meio de regras capciosas da Og ca sob toda perspectiva ou posigao que poss set colocada Questdes relativas 4 propriedade privada recheiaon infin tos volumes de direito efllosofia em que, a0s textos origina, centam comeatirios. Mas podemos alitmar com segt- ranca que muitas das regras ali instituidas sao incertas, amt ‘guas e arbitririas. O mesmo pode ser dito em relagao a suces sao ¢ aos direitos dos principes ¢ formas de goveno. Nao © ta diivida de que em muitos casos ndo € possivel determinar a partir das leis de justica e eqdidade, especialmente na infancia de uma constinuicao, Nosso historiador Raptw diz que a contro- vérsia entre EDUARDO IIT e FIP DE Valows foi desse tipo, € 56 poderia ser decidida com um recurso aos céus; ov seja, pela guerra ¢ pela violencia ‘Quem poderia dizer qual deveria ser o sucessor de Tie io, caso este tivesse morrido sem antes escolher entre GeRNth- nico © Datso? Seria possivel considerar 0 direito por adocdo equivalente ao consangiineo, visto que nessa nagio ele tinha ‘© mesmo efeito na esfera privada e jd tinha sido reconhecido publicamente em duas ocasies? Genwanico deveria ser const- derado o mais velho ou 0 mais novo, dado que nascera antes de Dxuso mas fora adotado apés 0 nascimento deste? O dire: to do filho mais velho poderia prevalecer numa nagao em que nao valia na sucessao familiar? © império noNaNo deveria ser Dewi stume _ considlerado hereditario com hase em dois exemplos preceden- tes, ou entio considerado como posse clo mais podetoso ou de -atual possuidor, com base na ususpacdo recente? Comopo assumiu © trono apés uma longa sucesso de ex- celentes imperadores que adquitiram seu titulo por meio do ritual ficticio de adocio, e nao hereditariamente ou por eleicio Piblica. Apds 0 assassinato desse libertino sanguinario por uma conspitacdo entre sua merettiz & seu amante, que nessa época era Praetorian Praefect, os pretorianos imediatamente apontit- am Pexmixax como senhor dos homens, como se dizi entio. Antes mesmo da divulgagio da morte do tirano, o Pragfect en- controu o senador na surdina; este, diante da aparicao dos soldaclos, pensou que seria executado por ordem de Couon0, Foi saudado imediatamente como imperador pelo oficial ¢ seus assistentes; aclamado calorosamente pela populacio; contra sua vontade, recebeu a submisso dos guardas; foi reconheci- do formalmente pelo senado ¢ acatado passivamente pelas pro. vineias e pelas divisées do império, Os descontentes das guardas pretorianas iromperam ‘numa sedicao que resultou na morte desse excelente principe, © 0 império, sem mestre ou governo, foi posto a venda pelos auardas. JULIAN, 0 comprador, foi proclamado pelos soldados, Feconhecido pelo senado ¢ obteve a submissio do pova; e 0 mesmo {eria ocorrido em relagao as provincias, nao fosse a oposicio e resisténcia suscitadas pelas legibes. Na Sinia, Pes MO, © Neko, proclamou-se imperador com © consentimento de scu exército e a béncio tacita do senado e do povo de Roma, ha GeA-BRETANHA, ALBINO julgou-se no mesmo direito; mas Sr VERO, que governava a PaxOwta, acabou por prevalecer sobre ambos. Inicialmente, como percebeu que sta heredltariedade € dignidade eram muito inferiores para a Coroa imperial, esse habil politico e guerreiro declarou que sua intengio era ape- nas vingar a morte de Pexnivax; na condicao de general, mar- chou sobre a ITa11A e derrotou JULANO, impés sua prockama- ‘s#0 como imperador pelo senado e pelo povo, dado que nao Brsaios pica Idados; foi possve insttuir aenhum consentimento entre 0s soldad por fim, subjugou NzoRo € ALBINO e estabeleccu sua violenta autoridades Inter baec Gordianus Caesar (diz Capitouno a tespeito de outro perioda) sublatus a militibus, Imperator est appelatus, quia non erat alius in praesenti. £ preciso lembrar que Gor. tfos pases. Nio pode haver nada mats indesjvel do que wm tina eles No gor ve a € enn mas € ue dhliberdade que levam um povoa ales 2 sucessto da Coroa tes tna, a estaba € manta com 0 recurso a remos rmonarquists ou democrats, ainda gue 0 mero dos pam {os poss, de tempos em tempos, ser allerad para preserva 4 ‘Num governo absoluto com um principe egal que nto tem direto 20 ono, determinase que este perence ter prmeiro © ocupa, casos como esses tito Freqemes er Fronarquias ont, Quando ms linhagem de principe Se Crungue, a vontade ou determina do timo soberno & con- Sileada como tuo, © eto de Ls XIV, que conelamava os Dries baad sts no cazo mio ater et Tetum, ena alguna atoridade no caso da ocoéncia dese Snag tesamento de Caos I inci & poste da momar “HexoaNo, lv I “ Enotivel que no protesta do duque de Bourpox e dos pincipes lei timos contra a designact de Ls XIV se insta na doutrna do comirato og ra msn 9 an dee gover alt, Como x a0 faces echo luca Carero para governs a e& sa posteridade, eles dizem que, no caso de SS quia EsPaNHOLA, A cessdo de um antigo proprietizio, especial: mente quando aliada & conquista,-também & considerada um bom titulo. © vinculo ou obrigagiio geral que nos liga a um go- verno sio o interesse € as necessidades da sociedade, uma Obrigagio muito poderosa, Sua determinacdo em relagao a um Principe ou forma particular de governo muitas vezes € mais, incerta © duvidosa. A posse atual tem autoridade consideravel em casos como esse; € ainda maior no que se refere a proprie- dade privada, devido as desordens que acompanham todas as sevolucoes e mudangas de governo, Antes de concluir, observaremos apenas que, por mais que 8 considerigao da opiniio geral seja com razio considerada injusta e inconclusiva quando se trata de ciéncias especulati- vas como @ metafisica, a filosofia natural ou a astronomia, no que se refere a moral e a critica realmente nao h4 outro pa dro por que se possa decidir uma controvérsia. Nao pode ha. Yer prova mais clara de que uma teoria € equivocada do que a constatagio de que leva a paradoxos que repugnam os sen timentos comuns da humanidade e a pritica e opiniao de to- das as oagdes em todas as épocas, A doutrina que funda todo governo legal num conrato original ou no consentimento do Povo € claramente desse género; e um de seus mais notorios rupnora esse linhagem, exste 0 dicts tit 8 escolha de wma nova familia real, € que esse direto sera vilado pela conclamagio dos principes basta os a0 trono sem o consentimento da nagio, Mas o conde de Bovtssv ius ue escreveu em defesa do principe bastado,rdiculariza essa nomi de ontesto original, especialmente quando aplicada 30 caso de Hon Car ‘ae, segundo ele, chegou 20 trond pelos mesmos aifiies empuegadoe por

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