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4 PISS Andrade, Méslo de, 1809-1045 ABBa da literatura. brasileira, 5,€d, ‘i, eas %, 266 p. tea 1. Brasil. ae conyent--e coo, w.08 EDU: 869.0(61)~05 ndices para catilogo slstemético (CDD): 1, Literatura braslera : Giftica e histérla 869.900. 2. Literatura brasileira 1 Hitéria e crlien 869.909 MARIOdeANDRADE aspectos da literatura brasieira BP edigho NL LIVRARIA MARTINS EDITORA S.A. © MOVIMENTO MODERNISTA o Manifestado especialmente pela arte, mas manchando também com violéneia os costumes sociais ¢ politicos, 0 movi- mento modernista foi o premtnciador, 0 preparador e por ‘tas partes 0 criador de 10 de espirito nacional. ‘miumdo com o enfraquecimento gradativo, , com a prética européia de novos ideais po- quanto fez o movimento moderniste, far-se-ia da mesma forma sem o movimento. No conheco lapalissada mais graciosa. Porque tudo isso que se farig, mesmo sem 0 movimento moder- nista, seria pura e simplesmente... 0 movimento: modernista, Fazem vinte anos que realizou-se, no Teatro Municipal de Sio Paulo, a Semana de Arte Moderna. # todo um passado agradével, que néo ficou nada feic, mas que me assombra um pouco também, Como tive coragem para participar daquels atalhe! B certo que com minhas experiéneias artistieas muito que venko escandalizando a intelectualidade do meu pats, po- rrém, expostas em livros e artigos, como que essas experiéncies ndo ee realizam in anima nobile. "Nao estou de corpo presente, e isto abranda o choque da estupidez. Mas como tive coregem 292, wipro DE ANDRADE pra dizer versos diante duma vaia téo bulhenta que ex nfo escutava no paleo o que Panlo Prado me gritava da primeira fila das poltronast... Como pude fazer uma conferéncia sobre artes plastics, na escadaria do Teatro, cercado de ané- nimos que me eagoavam e ofendiem a vale... © men mérito de participante mérito alheio: fui encore- Jado, fai enceguecido pelo entusiasmo dos outros. -Apesar da, confianga absolutemente firme que eu tinha na estética reno- vadora, mais que confianga, £6 verdadeira, eu nfo teria forgas nem fisieas nem morais para arrostar aquela tempestade de achincalhes. B si aguentei o tranco, foi porque estave deli- rando. 0 entusiasmo dos outros me embebedava, nifo 0 mieu: Por mim, teria codido. .Digo que teria cedide, mas epenas nessa apresentagio espetacular que foi a Semana de Arte Mo- dema, Com ou sem ela, minha vida intelectual seria o que tem sido. ‘A Semana marea uma data, isso 6 inegivel. Mas o certo & que a pre-concifneia primeiro, ¢ em seguida a conviesio de ‘ume arte nova, de um espfrito novo, desde pelo menos seis anos ‘Viera se definindo no... sentimento de um grupinho de inte- leetuais paulistas. De primeiro foi um fenomeno estritamente sentimental, uma intuigéo divinatéria, um... estado de poesia. Com efeito: educados na pléstica “hist6rica”, sabendo quando ‘muito da existéncia dos impressionistas principais, ignorando Cézanne, 0 que nos levou a aderir incondicionalmente 2 expo- sigfo de Anita Melfatti, que.em plena guerra vinha nos mos- fast Parece absurdo, mas aqueles quedros foram a revelagio. E ilhados na enchente de escdndalo que tomara a cidade, nés, trés ou quatro, delirévamos de éxtase diante de quadros que se chamavam o “Homem Am ‘Estudanta Russa”, a “Mulber de Cabelos B a esse mesmo “Homem Amerelo” de formas ento, eu dedicava um soneto de forma parn Pouco depois Menotti del Picchia e Osvaldo de Andrade deccobriam o escultor Vitor Brecheret, que modorrava em Séo Paulo numa espécie de exilio, um quarto que Jhe tinham dado gratis, no Palécio das Indistrias, pra guerdar os seus calmn- gas. Brecheret nfo provinha da Alemanhs, como Anita Mal- Zatti, vinha de Roma, Mas também importava escurezes me- nos latinas, pois fora aluno do eélebre Maestrovic. TB fazia- ‘mos verdadeiras réveries a galope em frente da simbélica exas- 1 ASPECTOS DA LITERATURA BRASILBIRA 233 perada e estilizagées decorativas do “genio”. Porque Vitor Brecheret, para nés, era no mfnimo um génio, Este o mini- ‘mo com que podiamos nos contentar, tais os entusiasmos @ que cle nos sacudia. E Brecheret ia ser em breve o gatilho que faria “Paulicéia Desvaireda” estourar... En passara esse ano de 1920 sem fazer poesia mais, Tinha eadernos e cadernos. de coises parnasianes ¢ algumas timida- ‘mente simbolistes, mas tudo acabara por me desegradar, Na minha leiture desarvorade, 34 conhecia até alguns futuristas de ‘iltime hora, mes 6-entdo descobrira Verhgeren. 1 fora o destumbramento, Levado em principal peles “Villes ‘Tenta- mneebi imediatemente fazer um Iivro de poesias em verso-livre, sobre a minka cidade, ‘Tentei, nfo velo nada que me interessesse. Tentei mais, ¢ nada. Os meses passavam numa angistia, numa insufieténcia Zeros. Se- ré que a poesia tinha se acabado em mim?... HB eu me acor- dave inscfrido, ‘A isco ee ajuntavam dificuldades morais vitais de véria espéele, foi ano de sofrimento muito. J& ganhava pra viver folgado, mas na fiiria de saber as coisas que me tomara, 0 ganho fugia em livros ¢ eu me estrepava em cambalaxos finan- ceiros terriveis, Hm familia, o

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