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Copyiight © 1997 da u Fundagso Editors da UNESP (FEU Praga da Sé,108 Fax: (OU) 232-7172 Home page: war tava unesp be Croiby,Alied W. ‘A hensuragio da relidade: a quaniicagio ea sociedade ccidental 1250°1600/Alled W, Crosby, tadugio Ver Ribera, ~Sso Paulo: Evora UNESE, 199, — (UNES®/Cambrbdge) Tilo original The measure of eat. ISBNS. 7139-2447 dla ~ 47614922. Europa ~ Hisxia~ | 1. Europa — jn Metodologia 5, Cv capo agao: Historia coisas peecero, 7 ‘blo Band envoltoem eenebrasaignorca, ex Wo soubereomear no poder Sat sido de See (600) E ees continusm avi, ecém-chegndos das nagies par as quiz eestudo daquilo que rode se pesado e medi € urea paix obsedante WH, dies (1989) dasde algo que &caracte: trada, de campina, de lago ~ mas, uma centena de hot: tristes, € uma centena de horas de... tempo. ‘A insubstancialidade do tempo desafiava a compreenséo de Santo Agostinho e desafia a nossa, mas pertnite as sexes huznanos imprimnirem sobre ele suas proprias concepgdes das partes que 0 ‘comnpcem, Nao é de esteanhar que os eusopeus ocidentais da Idade Mécla tenliam dado na rensuragdo do tempo seu primeira egigan- tesco passo na metrologia prética. Tampouco ¢ de estranhar que 0 tenham feivo medindo as horas, endo numa reforrna do calendétio. legres ou 82 ALFRED W. CROSBY Asboras naoeram limitadas pornenhum evento nats tes, duragbes a iveis de definicéo arbite em contrast mnteiras na escuridao € na luz, €, disso, os calendérioseramartefatos de izacéo, reple- tos de incrustagbes dos costumes e da Ilustrando: quando Jer6nimo de Aguilar encontrou alguns cris: tos, em 1519, depois de passar anos abandonado entre os maias de pergunta foi qual era o dia da semana, Quan- Ihe que, como ele supu- havia conseguido acom- nha, era quarta-fei, confirmando que e panhar o curso dos dias da semana apesar de seu isolamento, ele fe seu irompeu em pranto. O que tanto 0 comoveu nio foi f calendério estar certo de acordo com as estzeizs, mas o de el conseguido mant tre os infiis Esse guardifo do calendati seu povo, nio estava interessada na exaticléo em si, mas enquanto relacionada com a tradigéo e com a possibilidade de salvacéo. Para os catnpones alvorecer € 0 pér-do-s tna onda da quantificacéo pela compra e venda. Seu tempo jé era aquilo de queria chamé-lo Benjarnin Franklin, um homem quecles prenunciaram: dinheiro, Ei 1314, a cidade de Caen instalou um relégio numa ponte e 0: “Dou voz as horas/Para que 0 todo Uma peti- pioclama- povose ‘a mundo, exceto os membros da ‘do quatrocentista para: vai “Fosse tal reldgio con: oscidadios ficariam muito reconfortados, alegresefelizes,elevariam uma vida mais ea cidade aprimor decoragio" $ ‘Apalavra inglesaclock alemé Glacke, todas elas signi nascimento, a vida das cidades era regida pelos sinos - “uma cidade © rancico Lips de a Co effi Conger Hi Say Teh Lesley Byed Simpeon, of Cal ri, 1966, p 4 DavidS. Landes. es Making the Medern World Cambri, 1983, p81 5 Carlo M.Cipall 1800-1700. London: Cal A MENSURAGKO DA REALIDADE 83 sem sinos", disse até mesmo Rabelais, inimigo da poncualidade, "€ ‘como um cego sem bengala® § Mas as horas que eles maxcavam, no inicio do segundo milénio, eram canénicas e imprecisas, e havia pouquissimas deles por dia, paradar um citmo rezodvel 20s horéios urbanos Os habitantes dos burgosentendiam o valor pratien dos relégios, sentiam-ze vontade coma quantificacéo ¢eram entendidos em ma- quinatia, masisso néo significa, necessariamente, que inventassem 0 rel6gio mectnico, Se hisi6ciafosse logic, um astrdlogoou um mon- B¢ teria realizado essa facanhs, pois eles eram membros dos dois ru posda sociedade da Furopa medieval que sededicavam a respeitar ho- 1érios noite, fosse ela nublada ou limpa, numa época em que avaliar co tempo era dificil. Os astrélogos, por exemplo, tinham que deter- ininar as posig6es dos planetas méveis em relag20 uns 20s outros nos ‘momentos em que 08 res, 05 papas € os mecenas abastados nasciam, mortiam, deflagravam batalhas, e assim por diante, Os monges t= ham que se levantar no escuto para recitar as oragbes adequadas nas horas certas, Comecar odiacom as matinas era complicado: a Regra de Sfo Bento decretava que "quem chegar 3s matinas depois do GI doSalmo4, o qual, poressa raz40, desejamos que sejadizo com vagar ecomcalma, ndo ocuparé seu lugar no coro, mas seré a ou iré para algum local afastado que 0 10s 1eldgios mecAnicos eram tao grandes edispendio- sosqueduvido que algum ast ‘opnineiro deles, ainda que tal sébio pudesse fazé-Lo, se patrocinado or um duque ow um bispo. Meu palpite € que win monge, membro de ima organizacao grande e provavelmente rica, ealizou a faga- tha, Sea histria Fosse l6gica, el teria sido um monge da ordem cis- terciense, que era tecnologicamente avancada © cujos priores ti- nhatn certeza de que a graca estava correlacionada de algura modo com eficiéncia ¢, portanto, com os moinhos d’sgua e os moinhos ce vento, as engrenagens eas rodss.8 6 Frangais Rabelais. The Hisar of Garg and Ponta Ted, j. M. Coe, Haninondeworth Peoguin Books, 1958, p78 7 Rate of 8. Benet. Trad. Charles Casquet, Landon: Chatto & Winders, 1925, 36,78; Landes, eto in Tine, 8 Jean Gimoel. The ‘Ages, Harmondsworch: Ferguin Banks, 1975, p67, 84 ALERED w. CROSPY ‘Alégica sugeritia ainda que essa invengae Fosse feita no Norte. Li, avariagéo sazonal da durasio dodiaea disparidade dashorasde- siguais era maiorco que na Europa mediterranea, ea Agua dos el giosde dgua tinha mais tendéncia a se congelar, A Franga setentrio pal, pétris da arquitetura gética e da polifonia, onde @ inovacte avangavaaos saltos no século XII, parece ser uma escolha sensata, ‘Mas, chega de légica, que a histétia frequentemente ignora, Nao sabemos quem construiu 0 protétipo europeu de nossos reldgios mec&nicos, nem onde, ¢ provavelmente nunca o sabere- ‘mos, Cluanto a data, foi nas diltimas décadas do século XIIl, pouco antes ou pouco depois da invencéo dos éculos {0 que fot mais do {que uma coincidéncia: 0 Ozidente estava dando infcio & sua febre permanente de iaventsr dispositivos tecnol6gicos para auxiliar 03 Eentidos humangs)? Nao temos como determinar 0 ano, mas € provavel que a décads tenha sido a de 1270, No in(cio dela, Rober- tus Anglicus teceu comentarios sobre as tentativas de construix ‘uma roda que fizesse um giro completoa cada 24 horas, Na mesma década, alguém da corte de Alfonso, El Sabio, ne Espanta, dese- rnhou um relégio movido a pesos, regulado pelo fluxo do mesctirio aque ia de wim compartimento de uma roda oca para outto."° Mais fu menos nessa ocasifo, ou pouce depois, o poeta Jean de Meun, covautor de O romance da resa, incluiu nesse texto, que foi © "cam. pedo de vendas" da época, um Pigmalifo queera um 6timo mecdat co, Inventava diversos tiposde instrumentos musicals por exem- plo, um degio mindsculo, cujos foles ele acionava € 0 quel is tocando enquanto “cantava 0 motete ou o triplum ou a vor de te nore eldgios que soavara “por meio de todas de arquitetura comm plea, que gizavam em parar’ Seo poeta néo tinha visto um rel6- gio, ouvira falar dele Depois de 1300, no ha divide de que o seldgio mecdnico ha- via-se tornado uma tealidade, pois houve um grande aumento no ‘9 Edwaad Rosen. The invention of Eyeglasses Jura ef the History of edicne and ed Scions, 1, 9.2893, an. 1956. 430 Pare Meanage, The Buldingof Clock. In: Maurice Danas, (Org). Misery of Tecucegy and iveton tog he Ages. 106, ile. B, Hennessy. Neve Yor: Crown 1969-2, p84; H, Alan Lloyd, Sow Oastanding lacs over Seven Hr od Years, 4250-1930. 51: Leonasd Hil 1958.94, 11 Guillaume de Lori, Jean de Meus, Te Ronauceof tle Rese. Trad. Charles Dab ‘beg, Hanover, N. Hi: University Pes of New England, 1996, 243, AMENSUKAGAO DA REALIDADE 85 niimero de referencias as méquinas de medir o tempo." Dante, no vigésimo quatto canto do Paradiso, escrito por volta de 1320, atl zou as engrenagens de transmissio como metéfora das almas bbem-aventuradas, girando em éxtase ‘Tal qual as rodas em sineronia de umm mecantsto de religio Fazer a mais interna, e olhada de pesto, Parecer imével,enquanto a mais externa voa,!® Em 1995, Galvano della Fiamma descreveu umn “reldgio macavi- 1hoso" em Miléo, na Capela da Virgem Santissima (atual Sao Gorar- do}, com um martelo que soava as 24 horas do dia e de noite primeira hoca da noite ele emite uma batida, & segunda, duas badaladas, 2 terceica,trés, eassim sucessivamente, &quarta, quatro; € com isso distingue uma hora de outra, o que 6 necessério no mais alto _grau para todas as situagées do homem.* (s relégios tinham apenas sinos ~ ainda ndo dispunham de mostradores ou ponteiros-~, masa Buropa Ocidental jéhavia entra: donaerado tempo quantificado, talvez tioa fundo que ja ndo podia volter atvés ‘A maiotia das invengdes compée-se de aperfeigoamnentos ou adaptagées de dispositivos anteriores, mas o rel6gio mecSinico, em seu mecanismo-chave, foirealmente o:iginal. Para muitas pessoas, 0 tempo se afigurava um luxo néo fracionado. Assim, os experionen- tadores einventores passarem séculos tentando medio, imitando ‘sua passagem continua, istoé, o fluxo de égua, de ateia, de merctirio, de porcelana mot, e assim pordiante—owa combustéo lentae re- gular de uma vela Jonge do vento, Mas ninguém jamais concebera tum modo pratico de medir perfodes longos por esses meios. A subs- 12 J.D. Howth. Monasticism andthe Fiat Mechanical Clocks. In: JT. Freer, N TLavence, (Org) Tho Study of Tne: Precedings of the Sevonel Congress of the Intemational Society for the Study of Time, New Yerk: Springer, 1975. v2, pees. 18 Dante Alighieri. The Divine Conedy, Tead John Giacdt. New Yost Nowton, 1961 pl, Exnest Edwaides Weg Driven Cheer Clctefthe idle Agesaed Re haksavee Alsinchatm ob Shetratt, 1965. 919-21 Verocanto 10 do Pareto de ‘Dante, para ora imagem yelacionada cen os zlégios. 14 Edwardes, Weight-Diiven Chamber Clocks, p67, 86 ALPRED W. cKOSBY tancia em movimento tornava-se gelatinoss, congelava, evaporava ‘ouse coagulava, ou entéoa vela queimava num ritmo perversamen- te répido.cu perversamente lento, ou entéo se dertetia ~alguma coi- se safa errada A solucio do problem: ¢ possivel quando se parou de pensar no tempo como umn gular ¢ se comecou a pensat hele como uma sucesséo de quantidades. Santo Agostinho, por exemplo, sugeriu que se poderia medir uma slaba longa como 0 do ‘bro de uma sflaba cust: *Mas, quando duas sflabas soam uma apss ‘outra~ a primeira curta, a segunda longa ~ como hei de di silaba curta?". A resposta, em termos tecnolbgicos (ena 08), faio escapo. Comele,asflaba custa tornou-se a duragao entre o tique © 0 taque ‘A Europa Ocidental era cheia de moinhos, alavancas, polias ¢ engrenagens, quanco Robertus Anglicus descreveu um medidor do tempo movido por um peso que pendlia de uma corda enroscada indo, ea idéia de usar parte dessa tecnologia para mediro tem- po. ido a diversos protomecénicos. © problema era corn impedir que opeso da méquina proposta por Robertuscaisse com uma presca desabalada, ou se asee despraciosamenteernperts- do. Adescida do 3s, 0que se poderia fazer para garant peimeica hora a oquechamamos escapo. Esse “sitnple a compe regalarmente, a descide do peso do relogio, ga energia seja uniformemente gasta.1® O escapo néo fez nenhumna contribuigio para resolver os mistérios do tempo, mas conseguiu domest Os ocidentais nao foram os primeirosa dispor de velégios mecdni- venciodos psimeiros rel6gios do Ocidente."” Seja qual fora verdade, IB Chases Sherover (Org) TheHemax Bp Pailocopbicel Meaning, New York: New York U A MENSURACAO DA REAIDADE 87 é incontestével que o Ocidente singularizow-se por seu entusiasme pelos teldgios (voltaremos.a isso dentro em pouco} e por sua trans slo attojada das hotes desiguais para as horas identicas. Ao que: bamos, desde 0 inicio, os relogic tempoem term uals, fosse inverno ou verdo, Nao é que oproblemade. 9s para horas sazovalimente varidveis Fosse insolivel: os japor Iveram, ap6s a chegada dos relégios :mecdnicos vindos da Europa, Masisso foi séculos depois, e€ prové- vel que @ tecnologia medieval néo estivesse & ‘Mesmo assim, ia qualquer tentativa de fazt-o. Talvez of prime 6 quisessem horas iguais, pare poder arrancar dos thadores horas inteiras de trabalho, nos dias mais soma doinverno, Talvez os ociden: tnotempo como homogeneo, ‘em 1930, na Alemanha, ¢ por volta de 1370, na Inglaterra, Neste dltimo ano, Cetlos V, da Franga, decretou que 8 08 reldgios de Paris contassem as horas de acordo com 0 rel6gio ue ele havia instalado em seu palicio, aa Cité (O Quai de ‘Horloge, com seu relégio, ainda existe até hoje) Jean Froissart, © historiador da Guerra dos Cem Anos, passou das horas canénicas paza as novas horas do reldgio a meio camino da redacéo de suas Crtnicas ~a década de 1380 parece um bom palpite.! "Foi nas cidades européias’, disse A.J. Gurevich, “que, pela pri- meira vez na histétia, o tempo comecou a ser ‘igolado! fo como uma forma pura, externa a vida" ®O tempo, apesar de invisfvel edespro- vido de substancia, estava agrlhoado, Os efeitos do relégio foram milltiplos e tmensos, © rel6gio era ‘uma méquina complicada, que exigia em sua consteucéo, ¢ estimu- lava em sua manutencéo, 2 pericia de um bom mestnico e de matemético préi suiy um campendtio com umn reldgio para sua abadia e escre- ‘yeu umn ttatado sobre a Fabricacao de rel6gios. Mais parecendo um 18 bdwatdes, Dayin 2 AJ. Gurevich Timeasa Problem Gu 88 ALFRED W. CROSBY ecainico do que umn monge, ele deve ter cortado,limado, a apertadoe testado dezenas de pedacos de metal, tavel, falou em nimeros: A-engrenagem do peso parao movimento dodia divide-se em 72 uarenagem do pe 7 dentes. O centro da engrenagem é sepatado da base por umn cia de 18 dentes dessa mesma engrenagem, e fica a uma cord dentes da links central do dispositive inteto, sendo o compeimento de seu cixo comrespondente a una corda de 15 dentes para além da mecha? icador era uma sombra do passado helenista te, do Fucuro, nou aos ocidentais um novo meio de ima- snaginar. Lucrécio, 0 posta romano, havia "a maquina do mundo", ano sé- sa haviam usado numa ou noutsa © abade quan ou, mais provavel O relégio propoi ginar — ow de met criado a imagem da ma: culo Id. C,, desde entfo, ou oportunidade, mas 0 “univers com a regularidade de um relégio", com sua clara especificidade, que muitos diriam ter sido a metéfora dominente da civilizacéo ocidental, s6 apareceu no século XIV, Ni- cole Oresme, em suasteoriase téenicas, antecipou-se aos grandes as noms dos séculos XVLe XVII, especialmente em sua referéncia de Deus havercriado o fiemamento de modo aque ele func jo temperado e harmot 1¢80 € mul seme- thante a de um homem que co: logio € 0 deixasse fun- ionar e continuar sozinho seu movimento" 2 Quando Johannes Kepler, trés séculos depois de Oxesme, ten- tou explicar a idéia que norteava suas assombrosas especulacées, ele Meu objetivo é mostra que a méquina celeste nfo uma espécie de ser vivo e divino, mas um tipo de mecanism de reldgio (¢ quetn acredita que os regis tém alima esté atibuindo a obra os atibutos ‘A MENSURAGAG DA REALIDADE 89 do crindor), na medida er que quase todos ‘io causadas por uma forga magnética assim como todos os movimnentos do eeldgio sio causados por urn simples peso 2 A metafora de Oresme guiou 0 pensamento dos homens que nos legazam a fisica cléssicae, poderiamos dizer, foi igualmente im- Portante para os criadores da economia clissica e do marxismo, Mas, bastade ginios; que dizer das demais pess03, ltma sobre o tempo qui seria decisiva? Néo sabemos praticamente nada sobre vvarn do rl6gio os camponeses, que eram a grande maioria, mas po- demos ter certeza de que os habitantes urbanos tinhamn a méquina do tempo em alea estima, Toda grande cidade e muitasdas menozes impuseramse impostos severos, a fim de dispar de pelo menos um telégio, e estes, mais ou menos em seus primeitos cet anos, eram ‘costumavamn ser instalados em torrese eram catfesimos. £ possfvel que nenbume maquina complexa, em toda a histéria da tecnologia antesdo século XVI, renha-se disseminado com tanta re- idea quantoo Jean Frois shomem medi 70 para o historiador social da Euopa medieval do que qualquer outto genio, icov apaixonado pela nova ‘méquina, Seu poema L’Horloge amoureuse apresenta o rel6gio como ‘uma imagem do coragio de urn enamorado. A beleza da musa ama. de, no poerna, motiva seu enaznorado tall omo o peso impulsiona reldgio. O desejo do amante seria incontrolavel, nso Fosse ele con queda do peso. Froissart nova maquina do tempo, imagens dos os habitantes alegéricos do reino do arora Lealdade, a Paciéncia,a Honta, a Cartesie, a Coragem, a Humildade ea Juventu- de2'O poema em siéumaespécie de odeamarosa.o reldgio, porque a maquina diz as horas, mesmo na austncia do sol f Man's Changing Vision of the Penguin Books, 1964, 345, Cantey tmondsworth: Penguin Peet Landon: Rosse 90 ALFRED W. CROSBY Dal considerarmos corajoso e sabio ‘Quem primeico inventou esse aparelho, E com seu saber concebeu ¢ construis ‘Algo nobilisimo ede imenso valor. ‘Alguns dos relogios mais espetaculares de todos os tempos fo- ram construidos logo nas primeiras geracbes subseqtientes & inven- fo do escapo. O famoso rl6gio de Estrasburgo, iniciado em 1352 ¢ concluido dois anos depois, dizia as horas umastrolétioa- lendétio perpétuo, um. estétuas da Virgem com 6 menino Jesus adoragio, um galo mecinico que cocoricave ebatia asasas, ume ta- bbuleta que mostrava a correlagde entre o zodtaco e as partes do cor po, indicando as ocasiées apropriadas para as sangrias.% Afirmar ‘que rel6gio municipal dizia ashoras,¢ nada mais, seria como dizer ‘que os vitrais das janclas de sua catedral permitiam aentrada daluz, e mais nada. Ze, 0 rel6gio da cidade foi o Ginico mecanismo complexo que centenas de milhares de pessoas viam todos os dias, € ‘ouviam repetidamente a cada dia e noite. Ele Ihes ensinou que © ‘modemode tempo industrial disciplinadoapareceu jé Por exemplo, em 24 de il de 1335, ito e aos vereadores de “Anniens 0 poder de estipular ¢ controlar com ura sino 0 horétio em que os tiabalhadores da cidade deveriam ir para o trabalho pela ma- thé, aqueleem que deveriam almogare voltar para trabalhodepois igfio,€ 0 harérioem que deveriam sair de trabalho?” Quando ‘oPantagcuel de Rabelais proclamou, duzentos anos depois, “que ne- nnhum relégio marca melhor horado queo estomago" ?®sue vor foi uma das que clamavam num deserco urbane quantificado. "O calendério", escreveu Eviatar Zerubavel numa frase pai larmente feliz, é a urcidura do tecido da sociedade, correndo longi- Ages, Tra, Attu Gal 989. p56 28 Rabelals, Gargantua ail Pastageud, p58, AMENSURAGAO DA REALIDADE 91 ‘almente através do tempo, e carregando e preservando a tra ma, que é a estrurura os homens e as coisas que chamamos de in: 2 Se assim é, o fato de os euro isoci- conatruice obedecer aos eldgios nao éde surpreender. A rigo de haverem chegado a teforma-lo é mais surpreendente que ode ha- verem procrastinado a reforma. Mclanchthon,o reformadorluterano, faladeumn “douto” ) que dizia nfo haver necessi- dade de preciséo nasdivisGesdo ano, porque “seus lavradores sabiam perfeitamente bem quando era dia, quando era noite, quandoerain- verno equande era verdo", Multas pessoas teriam concordado, mas 0 douto ¢ devoto Melanchthon proclamou que alguém deveria “de- fecar um monte de excremento" no chapéu do teferido douto "ere- po-loem sua cabega’. 0 te rou (@comiss0 te- a concordado 0 catdlico Jer6nimo de Aguilar) que “€ uma das grandes didivas de Deus... que tados possam ter na parede as letcas do dia da semana’ ® Aentrada de Deus no tempo, com aencamagiode sacralizado,algumas datas, especialmente a Péscoa, © \Nicéia havia declarado que a data da Pascoa seria o primeito domi. godepois da primeita Lua cheia apés oequinéciode primavera 3!Era umcélculo complicado, lefazer—desdeque se ad avaliado mal a extenséc do ano solar, erro este que havia produzido tum nimero meio exagerado de anos bissextos, alm de uma data de calendlirio pare o equinécio de primavera que vinha se afastando do eventoastrondmico efetivoe resvalande para o verio,Iseo significa vva.que a Péscoa poderia ser celebrada no domingo errado, o que era ravel para os fiéis meticulosos, Os astidnomose ~ Roger Bacon, Nicolau de Cusa, Regiomon- 1d Passover: OnCalendarsand Group identity. Aue! Revi, 4, p29, abr 1982 {0 Anthony Gratton, Defender te Tes! The Traditions of Scholarship in an Age (ofScience, 14901800, Cambridge, Mass: Harvard University ress, 1991. pi04, estaba Miche de Montaigne. The Compl Bray, Trad. M.A. Screech Har . p10. and Fassoves, p2349, 8 Zerubevel ast 92° AUrRED Ww. CROSBY tanus, Johannes Schiner, Paulode Middelburg ¢ Nicolau Copérnico~ apontavam para a situacéo periclitante do calendirio, toda vez q) ‘eram consultados, fm 1582, a discrepancia entre o ‘no e a realidade solar correspondia 11 dias. ‘esse ano, o papa Gregério XIlI convocou uma confertncia de especiafistas —especialistas cat6licos romanos ~ para reformar oca~ lendério, Eles debateram, meditaram eofereceram ao papa uma ver- juliano, desde entéo conhecida como ca- 0. Seguindo ‘a tecomendagio la quinta-feira, 4 de outubro de 15dde outubro de 1582, Quanto proclamou que a diatamente seguida pela sexta- 3 diferenga entre 0 ano abstrato do calendéro, feitode dias eoano solarteal, composta de 865 diase uma fragéo, a teforma gre gotiana presevouo sistema juliano de um dia adicional a cada qua- tro anos, com uma correcdo pequena mas inte: 0s anos cen. turiais sé setiam bissextos se fossem divissveis por 400 (come 1600 ¢ 2000).32 ‘Multa gente ce aborzeceu com a refosma. O carélico Michel de Montaigne reclamou: "Ranjo os dentes, mas minha cabega e3t8 sempre dez dias frente ou dez dias atrés' els continua a resmungar ‘em meus ouvidos: ‘Esse ajuste diz respeito aos que ainda nao nasce- ram! !59 Os cristéios ortodoxose protestantes agarraram-se aocalen- :no como se ele fosse um pedaco da Verdadeita Cruz e, em ‘muitos casos, continuaram a fazé-lo por séculos, "A plebe inglesa", escreveu Vi preferiu que seu calendério discordasse do Sol a vvé-lo concordar com o Papa.’#4 Os especialistas, tanto os verdadei ros quanto os autoproclamados, acumularam uma pilha de tratados arespeito docalendétio gregoriano. Joseph Justus Scaliges, um calvi- pista, considerot 0 novo calenciério umm simulacro precério de um bom calendario, e chamou seu principal defensor, 0 jesufta Chris- A MENSURAGAO DA REALIDADE 93, toph Clavius, de "barrigudo alemao", Clavius silenciou essa e outzas caiticascom seu livrode 800 paginas, Roman calendariia Gregnio XU PM. res aa baixado a suas sepulturas, e a reforma gregoriana salu vitoriosa, E ssiu vitoriosa nfo por ser pecfeita, mas em virtudede seu cunbo pr tico: ela ndo perderia umn dia inteiro do ano solar em bem mais de ois mil anos, Johannes Kepler, matemitico, astrnomo e protes- deta a0 ms lunar, fundamental para oestabeleci rio da Igteja: "A Péscoa é uma festa e no um pl Como j6 afirmei, 6 eendente quea na tenha chegado a se realizar do queo fato de haverdemoradoa ser feita ede ter sido freqiientemente mal recebida, Se ocalendé no nunca tivesse sido ajustado e corrigido, hoje estarfamos apenas uumnas duas semanas des ooque nao chega a fazer grande diferenca na vida dos laviadorese pescadares esimila- tes, Os mugulmanos, entéo como agora, azapjavam-se muito bem haveria de figurar-se um completo descaso. O Ramadan, o més sa- grado do jejum, corre de um extremo a outro do calendério solar & cada 32 anos e meio. O caos do calendsrio nao parece desconcertar os adoradores préticos de Ald. Existem calendérios leigos para aque les que, por uma tazdo ou por outra, precisam de datas solares.2° Entretanto, quatrocentos anos ates, uma ligera falta de rigor nadatagéo da Péscoa desencadeou uma grande reforma no Ocident conde a entrada de Deus 00 temnpo havia desanimado permanent mente os cronologistas cistéos, ¢ onde os descendentes dos herdeitos bérbaros de Roma ainda ficavam pouco & vontade na presenca das ‘marcas caractertsticas de sua religiao, proveniente do Oriente Médio, ragetn gregoriana foi um enorme aperfeicoamento em fazer os quantifica- os quais a Europa tiatia mais of Time and History (with en Appradixky Abdel. ical Apperceptionof Tieamong theFeoplesof the and Tine, p20 94 ALFRED W. CROSBY fandticos e devatos dia aplicagso da materética& cronologia real do hentista de feigio, embora Fosse espantosamente invidvel para o uso comum, Joseph Justus Sealiger, jf mencionade como crftico do novo ca foi um etudito monumental numa era de grandes iditos: seus contemporineos o chamnavam de "oceano de ciéncia” e“pocosem fundo de erudicgo".* Sus industriosidade e seu poderde concentraggo beiravam o sobre-humano, Ele se achava em Paris no dia de Sao Bartolomeu, em 1572, mas, segundo seu proprio depoi- 0, estava tho absorto no estudo do hebraico que quase deixou de perceber o massacre de seus correligionérios, levando algum tem- po para perceber ‘0 choque das armas... 8 gemidos das criangas ...0 choro das mulheres, {ou} os gritos dos homens’ %° ‘Quando jovem, Scaliger aprencera seu offciocom o pai estudiosos mais eminentes de meados do século XVI, est guas-queacabaram sendo umas doze e aperfeigoars seustalentos editando as obras de Catulo, Tibulo ¢ Procépio, Depois de se trans- xrnaquele que pode ser tide como 0 mai im dos atengio agugadissima para a cironologia (assicn como America, usm terme cunhado para atender’as novas demandas) ®” Desdenhou dos cronologistasanterio res econtemporfneos, “todos s quais parecem ter jurado nunca di- ‘zee a verdade', ¢ ofereceu um antidoto pata os erros deles num ‘volume macigo, seu De en 1583}, que fez a cro- nologia passar de pseudociéneia a citncia verdadeira sas edicdes dos cléssicos sndérios dispontveis—raais de S0-, Fosse sua origem cristé, islamica ou sabe-se ld o qué. Apesar de ser um cristéo devoto, nao dew nenbum crédito especial & BYblis, decla- rando que a verdade cra sagrada, mesmo quando ouvida de lsbios BF Moyer, Gregorian Cale 38 The Autobiography of Jess ‘Trad, George W. Robinson Cambaidge, Fallofa AMENSURAGAO DA REALIDADE 95 profanos. Nao procurou descobrir uma ordem ¢ivina na hist6ria, ‘mas alcancar uma precisio de calendétio e estabelecer a correlagi0 entre todos os sistemas de datagio proeminentes. 4! Hle criou aquilo que denominau de perfoco juliano (assim cha- mado enn homenagem a como base para u deduzi: esse periodo através da m nos para fins tributdtios. O produto dessa multiplicagao comespon- eu a 7.960 anos, 0 perfodo jullano. Todos os ties ciclas teria comegado ao mesmo tempo, no inicio dessa invengio purarnente abstrata, ¢96 votatiam a ter essa mesma sincronia no fim do pestodo, Sesia possivel encontrar no perfodo juliano uma data correspondent 4 qualquer acontecimento datado em qualquer dos tr8sciclos,e tra duziressa data nos outros dois ciclos. Tarnbém seria possivel corela- romana, gega, &rabec outras.®? Depois de pesquisar e fazer novos célculos, Sealiger concluiu guagem, Restar-Ihe-iata ainda uns 1.700 anos. Esse vva-se antes mesmo das mais antigas datas judaico-crists referen- tes Criagdo, o que causou repugndncia aos getestava a procura da conveniéncia matem: que © Deus do Génesis movera a supectice das éguas. He queria um pesiodo suficientemente longo pare incluir todas os eventos hi ‘cos nuin sistema em que os tréscictos pudessem ser conelacior ;, mas nunca teve um ptilico Eradificil para osleitores, eo sistema do perfodo esttanho demats para os néo mateméticos. Depois, quando surgi- ram datasegipcias que supostamente ca‘am antesde4718a.C., Sca ligerteve que acrescentar um perfodo anterior a seu pesfodo juliano, ‘oqueretizou do sistema au simplicidade abrangente, queera uma das coisas que mais o recomendavam. Sé depois que o jesufta seis- centista Domenicus Petaviusdeu o toque final em nosso at 41 adem, p 159.61, 167. 42 Ibidern, ple 48 Tider, 262.3 96 ALFRED w. CROSBY nad, C/a. C,, cortando 0 né gérdio da escolha de uma data inicial mediante a op¢é0 por nfo ter nenbimna, & que se popularizow uma forma satisfatdria de datacao dos anos ‘Mas o sistema de Scaliger no foi para ‘mos, queerara Jevadas a loucura pelas complicagées dos calendlios comuns, com suas semanas de sete dias inteiramentedescoordena- das de tudo 0 mais, eseus doze meses de comprimentos varidveis, passaram aadoté-lo. Imagine asdificuldades de tentar determinar ‘onémero exato de dias decorridos entre a passagem do cometa de Halley pelo Sol, no dia 16 de novembro de 1835, e a repel queéodia solar mé tamente 27.183 dias Halley ao Sol’ © prego que a obsessio com a exatido temporal cobrou por seus servicos foi a angd féncia, um dos personagens da peca trecenti sas da Terra, Deus sabe que nade € mais odiaco pelos que esto no céudo que perda de tempo"*® Leon Batista Alberti, um homem do lo Renascimento (que voltaremos a encontrar no Capftu- 109}, declamou: “Fujo do sono edo écio, estou sempre ocupado cam alguma coisa’, Ao se levantar pela manb, ele fazia uma lista do que hravia por fazer naquele dia eatribula um tempo a cada tarefa"? sina se antecipando a Benjamin Franklin em trezentos anos). Petrarca prestava uma atengio rigorosa ao tempo, de maneira muito pouco tradicional. Assim, sabernos que ele nasceu no alvoze- cerda segundia-feira dia 20 de julbo de 1304, Sabemos que se apaino- nou por Laura em 6 de abril de 1827, que ela morreu em 6 de abril de aullanc), podem afitnae que houve exae lianos entre essas duas visitas do cometa de FF hide, p.171-3; Gordon Moyer. The [p31 2, abe 1921; Donald. Wilcox. The ees of : Chronologiesand the Rbecoric of Relative Time, Chicago: Uni AMENSURAGAO DA REALIDADE 97 1348, e que ele faleceu em 19 de julho de 1874. E sabemos que o tempo nunca escoou por entre seus dedos: ‘era, antes, arrancada de rim, Mestno quando eu estava ocupadocom algum negéciocu em deleites do pra Petrarca advertiu o leitor a se desfazer do conceito tradicional de que sua vida era “um barco.a se mover para cée para 4, conforme 0s Varios ventos e ondas”. Nao, insistiu ee, a verdade & que uma velocidade inalterdvel 60 curso da vida. Néohé cama vol ou fazer uma pausa. Vamos adi dee qualquer ventana, Seja 0 cuss ficou todo ele hs uma 56 velocidade constanee. ‘Tits séculos depois, esse tipo de tempo, despojado até do deses- te, fo8822h38 min, ho: a. iode Greenwich, do 2.449.828" diaj 5 ESPAGO ‘A mudenga ocotride entre osocidentaisna percepedodo espago ho foi téo dramatica quanto a mudanca de sua percepcio do tempo. Nao houve ncada de lebre come a invencfo do rel6gio me- screvendo por volta de 1450 sobre todas a3 novidades que vinham transformando seu mundo ~o el6gio, bas- sola, 0 6rgso de tubos, oagticare vela de sebo-, mencionou apenas tuma que dizia respeito & medida da extensio— ura novo tipo de cat- ‘a masitima, chamada portolano—e admitiu nao estar t4o impressio- nado comela quanto os outtos, porque “ela €obra de longos esforgos ede umadiligencia criteriosa, ¢ nfo de um desafio divino’ 2A trans- formagio da percepedo ocidental do espago, que cul: dangas tao zadicais quanto asque abalarama lisica no inicio do sécu Je XX, comegou como em passo de tartaruga, Abbissola, dquitida na Asia logo no infciodo segundo miléaia, 05 navegadores a se arriscarem no longo fere & Inglaterta, ou na travessia do Medit ante 0 inverno, quando as nuvens cobriam a estrela polar. Natu- 1 Dorothes Waley Singer. ioulaw Bron, ii ifeand Thought, New York: Greene ‘ond Press, 1968, 9249 2 Alex Kelle. A Renaissance "Heroigivis” in Glovanns vt, p82, jal 1972. 400 ALrnep w. CROSBY ar-sedio rumocorretoe, paraiso, p35, isto 6, de desenhos adequados das massas de Agua e dos litorais que confinavam com elas em rela {#0 uns 208 outros, com indicagdes das rotas mals curtas entre os pontos geogrificos de maior destaque visual ¢ comercial nessa lc rbas costeiras® ‘Na Europa Ocidental, os primeiros mapas dteis para o tragado de rotas de navegagio chamaram-se porilani, O mais antigo ‘exemplar datado que chegou até nds foi tragado em 1296, nas mes- ‘mas maravilhoses poucas décadas em que foi construido o primeito relbgio” Os portolani, que poucas rferéncias faziam, sob a foorta de comentérios ou esbocos, 2 Deus, deuses ou moastros,eram desenhos ul de linhas costeiras, mostrando, sobre as 4guas que Ihes exam adjacentes eas que ficavamentre elas, utna grade delinhas onde fog rumos (rotas de navegagi) eram tragados a régua. O navegador {que consulzesse um portlai jf encontrava tragadas, muitas vezes, 28 yotas de umm grande porto para outro, amitide achando a de Caso contrétio, era comum ele encont aquela de que necessitava, podendo entéo orientat-se a parti destas. Osportolant foram concebidos para dguas cercadas ou quase cer cadas porterra, comoo Mediterraneo, a Baia de Biscaia eosmaresdo Norte e Béltico. Nesses casos, eles curnpriam bem sua finalidade, porque eram razoavelmente precsos e porque as distancias entre Os portos erana curtas. As distorobes—inevitévels, jé que ninguém tinha conhecimento do desvio da bi porque 0s por eram imagens planas ¢ geomet curva da Tetra ~ exam insignificantes. Mas essas.c gosamente lus6rias no que conceinia as grandes distncias. Os na~ ‘vegadores ocednicos precisavam de mapas que hes permitissem calcular rotas por toda a superficie do planeta, tal como as retrata~ das nos mapas geametricamente rigorosos * © passo seguinte na ralmente, eles precisavam ce seria conveniente dispoz de “F FredeficG Lane, The Economie Meaning tthe Compass. America i 47, POTS, ab, 1968. A MENSURAGAO DA REALIDADE cartogeafia seria tirara medida da éres eda forma, além da diregioe a distancia. Oconceitode tragar mapas de conformidads com uma grade de linhas jf existia na Europa Ocidental e noutras tegies na primeira metade do século XIV. Alguns dos portolani que chegaram até nés foram tragados dessa maneira, mas é provavel que seus cartSgrafos tenham reconidods linhas gradeadas apenas como umn av reproduzir os esbogos dos navegad e precisava da matematica e de iga. Foi quando entrou (ou reentiou) em cena Claudio Ftofomeu, o antigo heleno sem o qual os europeus ocidentais teriam demorado muito mais para vira ser eles mesmos. Porvoltade 1400, chegou a Florenca, proveniente de Constanti nopla, um exemplar da Geogrephia de Prolomeu. Se houve uma sa, na mudanga da percepsdo espacial, que tenha equivalida 20 sur ‘gimento do escapo na percepsdo temporal, foi esse texto. Com 0 cométcio eo capitalitalianos, a noticia da Geographia tomoue rumo ‘este até a Ibéria, cujos navegadores, serpenteando pelo litoral da Attica esondando as grandesdist8ncias do Atl ecisavam de cartas para viagens que iam muito além dos marcos terrestres co- rhecidos, ou até de qualquer sinal de terra?” A contribuigéo de Ptolomeu para a cartografia, enunciada em termos simples, consistiu em tratar a superficie da Terra como um espago neutro, chapando sobre ela uma grade, um quadriculade de coordenadas calculadas de acordo com as posig6es dos corpos ce- lestes, Ele fomecet & Europa quatrocentista trés métodos diferen- tes e matematicamente coerentes pelos quais era po Books, 1975, p97. 102 ALFRED W. CROSBY em conta No século seguinte, as téenicas de Potomeu jé faziain parte da moeda corrente dos cart6grafos da Europa Ocidental. A ‘Terra que cles desenbavam havia passado a ser uma esfera presa rues, com sua super lade bihar? Quando as Amér ceepgio ocidental, 08 meios pars tetra: a quesaltavad frenteda teoria,enquantoa teora tenta- Ia. A hist6ria paralela da astronomia (na €poca, feqden- temente ast ade uma teoria — no caso, mais verbal do que matemética ~ Por que teria Deus colocadoa Terra no centrodo univer sigSo que a maior dos res teservava pata si? E, se aestabi ‘mais nobre do.queo movimento (uma verdade ébvia, voce ha de re- conhecer), por queestariam os céusem movimento eaTerracomoo ‘énico corpo em repouso? Seria possivel quea Terra girasse equea es fera dasestrelas fixas fosse estvel? Afinal, no marera dificil decidir, .ndo de um barco para outro, qual deles estava em movirnento, nto, como poderia essa decisio ser mais fécil quando seolhava dda Terma para o firmamento? Nicole Orestne (c, 1925-1382), amigo de Pe fez.essa discussio dar um passo em direg4o a0 coperni ‘canisrno, 20 assinalar, como jé haviam feito alguns outros, que a ra Zio nao proposcionava meios para se saber 20 certo se era 0 C6 OW 8 Testa que estava giranclo.!@ B Samual ¥. genta sof Gint's Geary Art and Science on the JON. Ye Cornel Universi Bess, 191 met of the Mle Ages. Philadel AD? S0jErnest A. Moody. But iy of Sealife Bisgraphy. New York: Scebner’s 1970-3980. 2,603,607 AUMENSURACAO DA REALIDADE. 108 lia dizia que, na bat ento a Terra, Oresme digsimulow sua bs epeuasio como urna “diversioou exerciciointelectuc ada do aristotelismo para. plato- smo. (Eu deveria dizer neoplatonismo, pore mn sham silo acrescentacas desde aépoca do ateniense, 2 patrocinou uma Academia Ficino traduzius Platdoe Plo- agdo de Sécrates como segunda Pensadores como Fici- range cl close para uma especie de adoragéo cist do Sole para uuma confianga mais pagé do q. gemde Deus dece simbélica e misteriosa, mas Ele bem pode- sa expressé-la ern dimensdes quantificév Johannes Regiomontanus (1436-1476), um alemfo que passou seus bons anos produtivosna Italia, traduziu e publicou livros dean- tigos matematicos ¢ publicou também obzas de m tempordineos, inclusive as dele. Fez observagées ndmenos astzonBmicos e produzit tabelase livres sobre o compos mento celeste. Suas Ephemerides (1490) os celestes em todos os dias, desde 1475 até 1506. Colombo levou consigo um exemplar dela em sua quarta viagem e pide prever um. eclipse lunat em 29 de Fevereiro de 1504, desconcertando e desar- ica em Florenga, na qual Mai tino para latim e instigou 8 melhor coisa depois da imicaga mando os indios hostis da Jamaica, 8 £ ber possivel que Nicolau de Cusa (c. 1401-1464), nascido na Renfinia e fiho de um despachante comercial, tenha cxescido no *elinwa dos célculos*. Depois, como cardeal, reformador do calends- HY Source Bock in Medieval Scenes, p10. 12 James Hankins i Reeasance. Leiden 18 Edward Rosen. Regiomantanus, Jobannes, is Disivnary 548-51 104 ALeRED w. cx0seY ‘Meister Eckhart, os tratados cristalinamente claros de Peolomeu ¢ Euclides ea confianga em que Deus era gedmetra eran de rigueu.4 Nicolau dectarou que Deus estava além de qualquer possibilidade de compteensio humana, sendoo centro e acizcunferéncia de todas as coisas € 0 campo em que os opostos se reconciliavam, do mesmo modo que um segmento da cixcunferéncia de urn cfrculo seria uma Jinha reta, se 0 circulo Fosse infinicamente prande, Também ge atui- buia Nicolau (e ndohé nenhum paradoxo nisso, nfo no séculoXV)a autotia de dois dos primeiros mapes em escale de teas tenrestres, com longitudes, latitudes e tudo 0 mais, produzidos na Europa.'S Nicolau considerava que © universo continha tudo, exceto ‘Deus, que o continha. Esse universo ago tinha nenhum limite, ne- numa borda. A Terra néo padia ser seu centro, porque 0 universo nfo tinha centso. Néo havia borda, centro, regido superior ou regido inferior, ou qualquer outra dimensio absolut, © espaco era horno- géneo, A Terra nio era necessariamente diferente de outros corpos celestes, que também poderiam ter vida.'S ‘Numa sociedade em que a andlise qualitative rigorosa, fera rmenta intelectual eletiva de Arist6teles ¢ dos escolésticos, parecia estat perdendo a primazia, Nicolau de Cusa saiu a procura de novos instrumentos. Encontrou-os ne quantificacéo, “Pensaina preciso", eocreveu ele, ‘pois Devsé a propria precisio absoluta’,}7e"a mente é tuma medida viva, que atinge sua prOptia capacidacle medindo ou- tras coisas"."4 Em Ldiora, um dos didlogos mais famososde Nicolau, oguru nio é um antigo flésofo ou um eacoléstico, ou qualquer tipo de incelec- tual, mas um leigo, (No latim desse perfodo, idiota néo significava iciota, maas um bomem comum que nao sabia ler olatim,) O Ieiota Hips 1S Adon ee te ies re Tosti Bes 157 p ig Pe hay oo Peres eaten Suv anion Rae ase, p Ping) inaegnaCaopapyntaerltops in ef Sorat ep 16 fo oe Ni Dina Sn Bayar 3, p26 fine Unie, B New York: Abats Books, 1979. p43 AIENSURAGAO DA REALIDADE 105 proclama que a sabedoria Divina “grita nas ruas". Eo que diz ela, ¢ Como = pega sev ovine, cue do local onde et sentad, ‘numa barbeatia de frente para o mercado, v8 apenas a troca de di nheizo, a pesagem das mercacorias e a medigSo do azeite. £ exata mente aisso, zesponde o Idiota, que me refiro, “Os brutos nao sabem contat, pesar e medin? ‘ODee statics experimentis, de Nicolay, escrito em 1450, €um tra- tado sobre como podemos aprender sobre a natuteza por meio da~ quilo que foi o instrumento de medida mais exato de seu século, instrumento fécil de encontrar no mercado: a balanga. Por exemplo, ese 4gua que corre numa ampulheta e,a partir daf, meca a exten so mutavel éo dia durante o ano inteito, ou a duracio de ur eclip- sc. Para medira diferenga entre aintensidade solar nos iferentes mas, mege a diference entre 0s pesos das plantas produzidas pela semeaduta dle mil sementes similares nos diferentes climas.2° Nicola simpliticou problemas muito complexose relutou ten. to quanto qualquer escoléstico em fazer seus préprios experimen- tos, stave mais interessado na dvindade por tréedo filtro da maté- sia do que no filtro em si, Patecia-se mais com Santo Agostino do que com Galileu, mas suas dias sfo uma prova de que o Ocidente havia comezado’a deixar de cefletir sobre © mundo em cetmos de qualidaces € passado a pensar nele em termnos de quantidades.”* Ironicamente, quanto tnais esses pensadores de gabinete se proximavain de descattar o concelto de um universa finito e hie- rarquizado, menor era sua influPncia imediata, Oresme influenciou outros escolésticos, €é6, e pode ou néo ter side ido com cuidado, ou nem sequerlido, por pessoas coro Copémico e Galilew, dois sécvlos ‘depois, O papa tinha uma opinigo suficientemente boa de Regiomon- ‘anus para convocé-loa darseu parecer sobre a reforma do calendério, sas, como sabernos, sem que iso deage em nada.” Esse astxSnomoé imponante sobretudo por ter deixado observacées exatas, a serem posteriormente usadas por astrOnomos mais ousados, Nicolau de Cusa foi basicamente ignorado por seus contempordineos, exceto na ‘medida em que foi um disigente da Igreja, No inicio do século XVI, a versio do espago do Modelo Veneravel parecia intacta. 19 Nicolau de Cusa, Lay 20 John P. Dotan. (Org 232, ‘Selected Wetings of Nicholas de Cus ersty of Notre Dame Press, 1950. p.239-60 passa. mon Wiedon, 2, 2 Rosen, Regiomoaranus, p 351. 106 ALFRED w. CRosBy Nicolau Copémico (1478-1548), um polonés que, por volta de 1500, passou varios anos estudando e tecionando na Ika, era neo- platonisca, na medide em que buscava.o refinamento ne natureza ficava intrigado com a majestade do Sol, Ressuscitou uma idéia to antiga, perdida durante mil anos & sombre de es e Ptolo- idevé-la praticamente original em seu esses pense 0 Sol wagante com atgumentos parecidos com os de Oresmne e Nicolau de Cusa, Sim, 0 Sol parecia viajar pelo céu de leste para oeste todos os dias, mas essa apacéncia seria idéntica se a “Terra girasse do oeste para leste ¢o Sol se mantivesse imével. Como poderia algo tio imenso quanto octu citcundara Terza no espago de bodia? Néo seria mais simplesimaginarque a Terra, que, por com esse €554 1otacdo? Ble chegou até que cheirava a urn culto paglo do Sol: smplo (o universo}, quem colocata essa lier pada numa posigio difecente ov melhor do que aquela de onde ela ppedesse iluminar 0 todo ao mestno tempo?” 2° Se Copérnico houvesse ficada nesses argumentos agradavel- mente persuasivos, provavelmente néo teria tido grande influéncia, ‘20 Sol teria continuado por mais uma ou dias geraches na Grbita da ‘Tecra. Mesmo do modo como se deran as coisas, ele néo conseguiu persuadic Michel de Montaigne, o humanista, que deu de ombros iante da divergéncia entre os tradicionalistas o polonés: *No que nos diz respeito, dentro de mil anos uma outze opinigo derrubard as duas" "Mag Copémico, diversamente de Montaigne ou mesmo de ieoatéa medula. Seu grande livro, De arecorrer a uma just! Ele fio primeiro terico da astronomia, no espagode um. se expressar principalmente através da matemtica, lingua natal da igncia e mais convincente de que as palavras paraa minoria que vi ria a reformular a astronomia e a ffsica no século XVIL® Planetary Astionomy in theDevelop- ie, bss: Hatvard University Pers, 1957. A MENSURAGAO DA REALIDADE 107 ‘A influéncia da revohigio copernicana foi imensa, nfo apenas por seu rebaixamento da Terra (sobre o qual muito se tem ex thas também por suas implicagées para a quantidade ea qualidade Gio proprio espago. No sistema aristoréico-ptolomaico, paza que houvesse espaco para 0s outros corpos celeste e suas esfera, as s- trelas fixas tinham que ficar a uma enoime distancia da Terra, mas nndo a uma distancia inconcebivel. No sistema copernicano, essadis- ravarn em relagdo aos corpos inais imos, quando o observador passava de um extremo para tada Terra em tornodo Sal, (sso €uma questiode paralaxe.) (volume do universo copericano tinha qui vim, 400,000 vezes maior que o do universo tradic Os ewropeus medievais quase todos os renascentistas, com poucas exceses, pensavam no espago como hierarquizado, visdo essa que era teforcada pela teotia de Prolomeu. Sea Terra era cen- ‘sobre 0 qual cafa tudo o que tinha peso, era Gbvio que ela era in- ente do resto da ctiagéo. Mas, se o Sol fosse 0 0, € a Tetra gicasse em torno dele Coma os outros planetas, ‘onde ficaria sua singuleridade? primero individto, ou, pelo menos, o primeiro ce renome, a proclamarirestritamente as implicacéesda teoria copernicana para a natureza do espaco foi Giordano Binuno (154 secomecou como dominicano mas acabau na fogueira emn Roma, Ele propés um espagosem nenhum centro ou limite, acima ou abaixo, que ofenceu os aristotélicos, os catdlicos, os calvinistas e todas as outras pessoas, que no conseguiam ficar & vontade com uma grande lade inizo, Sua versio do espago mostrou que este era homog?- reo, infinito e povoado por mundas infinitos — um esc&ndelo: Existe um Gnico espago geral, urna podemos ivsemente dar o nome de Vazio: nela exist bos somelhantes a este em que vivernos € esseespago€infinito, una vez cepsdo dos sentidos ou a nature 26 Tbidea, p60. 27 Kaye, Frome Closed Worl, pA0-L Max Jacuner. Cowepsef Space: The Hl ‘of Theories of Space in Pasi Cambuidge, Nass: Hava 5 Fe 195, p 884, Ver também PH Michal He Canmelogy of Cerda Bano. Tea E,W, Maddison, Faia Hermann, 1973 108 ALFRED w. CROSBY Bruno foi executado por heresia em 1600 —e de nad adiantou. A lebre, que jé fora levantada, estava tendo fillotes Seo espago sta homogéneoe mensurdvele, portanto, suscetivel & andlise matemiética, o intelecto humnano podia abar teiro ¢ estender-se para o vazio interestelar. Vow Na década de 1490, Espana e Por saber quem deteria os diteitos sobre todo 0 mundo néo-cristéo, Como poderiam eles tracar fronteirasem terrasestranhes, onde ne- ‘hum espanhol ou portuguas jamais havia pisado, efronteiras que, ‘emsua maioria, passatiam por alto-mar? Eles tragaram essa frontel- ta primeiro com a ajuda do papa, em 1498, e depois, feitas algumas ‘modificagSes, no Tratado de Tordestfhas, em 1494, do norte até 0 tizar 0 fato evidente de que a das sobre a dgua sé podem, na pi assada mais uma geracio, os ibricos preci teira equivalente no oeste do Pacifico, No Tratado de Saragoca 329), eles estenderam a linha do Tratado de Tordesilhas por sobre ospélos e pelorestante da volta ao mundo, criando uma fronteita si- tuada 297,5 leguas ou #9 graus@ leste das Molucas.?? ‘Avbern da verdade, linha trageda nos tratados de Tordesilhase Satagoca mostrou ter poucs importancia. Os portugueses a violar ‘os espanhéis, nas Indias Orientais, e, de qualquer ude com tro ser humano, ao que eles soubessem, indo apenas como suficientemente pocletosos pata dottar o mundo ‘como uma magi, mas também como capazes de fazé-Jo de um ‘modo que era exato na teoria e que, dentro em breve, poderia set fexato na prética Em novembro de 1572, pessoas do mundo inteiro virarn uma a, uma nove, coma virfamos a chamécla, «60 brilhante que era vistvel & luz do dia, Théodore de Béze, sucessor de Calvino rian Mistery New York: Ape ton Century Coots, 1988. p24, 29 F Solevia, istered Espa, 20d. Baycelona; Ail, 1962.8, p 347-8 [A MENSURAGAO DA REALIDADE 109 como Ider da Genebra ardorosamente protestante, viu-a e supés que se tratava da segunda estrela de Belém e de um pressgio do Se gundo Advento de Cristo. Tycho Brahe, o primeito astrénomo do Ocidente ase dedicar verdadeiramente & observacio desde a remota Antiggidade, etalvezo melhor que existiu antes do telescépio, tam- xediu a distdncia angular entre essa riova estrela e 25, conhecidas de Cassiopéia, e fez anotagdes sobre sua magnitude e sua cor. Econtinwou a fa 17 mesesem ‘0, de acordo com as medigbes meticulosas de Tycho, ela nunca roudava de posig&o em relagdo as estrelas Fixes, os objetos mais distantes de todos no firmamento, como decerto aconteceria sse dentio da esfera da Lua, As observagdes de Brahe indica- ram que a nova estrela, a despeito de sua mutabilidade, devia estar na esfera das estrelas% “im 177, um grande cometa varreu os céus, 0 primeiro de uma série de 10s de fogo" no meio século seguinte. Se havia algu- lade no modelo tradicional t hierarquizado do universo, 08 os mais espetaculartnente inst4veis dentre todos os objetos s do ar supesior. s medigdes m porém mul distante do que num eirculo per que forgosamente , mas numa oval - uma érbita insubstancial ins. As esferas de 110. ALERED W. CROSBY ‘No fim do século XVI, a verso do espago do Modelo Venetdvel estava abalada. Os conservadoresainca acamparam etn seus destro- 90s por varias geragées, mas exa inevit4vel passar para a alternativa, ‘Aaltemnativa era o que Isaac Newton defini como “0 espaco abso- ‘ue, "por sua pr6 ria natureza, sem relaco com qualquer coi- ils of Nasal 34 Isaac Newton, Matkemat World. Tead. Andeew Mote ¢ Floan Cajor. Beskley: Un ny of California 984. ps 85 Blase Rascal Ponses New Youle Dutton, 198 pl. 6 MATEMATICA Porque, em toda ande obra, stor Alguns europeus ocidentais do fim da Idade Média e do Renas- cimento comegaram, em catéter experimental, a considerax as pos- sibilidades do tempo € do espago absolutos. As vantagens estavam, «em queas propriedades absolutes erams, pordefinigio, pecmanentes euniversais,o que sighificava que valiaa pena oesforco de me dea essas medidas de vétias maneiras, A me: ago dos ntimeros€ a matemé- tica, Thomas Bradwardine, escoldstico e arcebispo de Cantuéria no lo XIV, afirmou; “Quem tivera temeridade de estudarfisica ne- iando a matemstica deve saber, desde logo, que jamais aden- traré os portais da sabedoria,”? Roger Bacon, Jobin Butidan, Teodoricode Freiberg, Nicole Ores- me e outros de imilates prefiguraram Kepler ¢ Galileu com ‘| 112. ALERED W. CROSBY sua glosificagéo da geometriae, patticularmente no casode Oresme, com uma convicgia de que era possivel impor niimeros onde antes ‘se 08 havia considerado impr6prios. Oresme (que passou boa parte as vezes oreldgio aut tulado A Geometria das que se imaginem ponto: ‘Conquanto os pontosou linhas indi 0 ter imaginé-los" 9 Por qué? Porque, nesse caso, & possivel conté-Los (ver Figura 8), Estava pi ‘ou quase pronto. cenério para o progresso acele- rado na matemética e em sua aplicagéo & realidade material, No st- culo XIN, Leonardo Fibonacci de Pisa, o maior matemstico do Ori dente até entZo, havia entrado nesse paleo, servindo-se livrern de algarismos indo-arébicos ede outros empréstimos das terras micas, f2zendo experiéncias coma teotia dos ntimmeroseconcebendo fo que até hoje ainda é chamnado de série Fibonacci, Por si6, ele foi jum novo avango na matemAtica — mas deixou poucos ou nenbum discfpulos Amat tiea nfo estava preparada para um avango acelerado. ‘Seus simbolos e técnica eran inadequados. Bra chegado o momen- to para um solo de trompets, 0 nico instrumento disponivel era juma trombeta de caga. Além disso, a matemitica ndoera, porassim dizer, homogeneamente igual ao tempo ¢ espaco bomogeneos, Os ingimeros econceitos ainda res dos nio-matemé- ticos. Sim, Bera { mais | mai de 9, eassim por diante, mas era também, em momentosimpre' cia diveta a Trindade. ‘Mas, abordemos primeiro a passager da t co trompete. Examinemos a contager, 2 artim ples. Como jé foi discutido no Capftulo 2, quando 08 ni avam grandes, era muito dificil smos romans. Sa 3s dimenstes mente maior 2 A MENSURACAO DA REALIDADE 113 {veis, se nfo impossiveis, ea mistura e a confusio de ni- eros letras eram dificeis de evitar porque, naturalmente, os alga- ras romanas. rouxe urna enorme ajuda nessas dificulda- des, mas essa verséo ocident Is as suas desvanta~ gens, Nao consegui Brandes e muito pequenos, e era um pata registrar. Seus usuérios tinham qu apagar 45608 4 medida que iam calculando, o que tornava impossivel 1 osertos ccorridos no processo, @ n20 ser voltando aa come- pe repetindo a seqiéncia inteira. Quanto a0 registro permanente das respostas, este era feito em algarismos romans, o que nos leva diretamente de volta ao problema de escrever niimeros grandes, Se0s europeus medievais houvessem possuido o tipo de abaco que era comum no Extremo Criente e que hoje ainda oem outros Jugates, aquele tipo cam ascontasmontadasem arames, que os peni- tos fazem correr de utn lado para outro quase com a velocidede do pensamento, € possivel que os ocidentais nunca houvessem aceita- do os algarismos indo-arabicos, Mas as fichas tinkam que ser apa nhadas e movidas ou empurcadas de um luga: para outro ne tébua decalcular, e uma topada com 0 joelho ov uma encostadela descu- cada com uma das mangas podia derrubé-las no chéo, eliminando todos osresultados de um calculodemorado, Felizmente, oseuropeus nunca viram o Abaco oriental. (Esta nao €a iltima vez em que assi- nalareias vantagens doflistinismo,) Em 1930, John Palegrave decla- rou que era capaz de calcularseis vezes mais depressa com os algatis- ‘com fichas" Fouco se sabe com clareza sabre a origem do que costumamos chamar de algarismosardbicos, exceto que os Arabes ndo osinventa~ tana, Receberam-nos dos indianos, que talvez tenham sido seus in- ventores, masé jgualmente possfvel que osindianosostenbam rece ios indo-ardbicos do que “pode's somar alg 5 Sanco Agostinb. The Cy ef Gof. Trad, Marcus Dads. New Yorks Modecn Ti be 134 ALFRED W. CROSBY bido dos chineses.” Varnas chamé-los de algarisinos indo-ardbicos, Seja qual fora verdade sobre sua origem, 0s irabes, que sabiam reco- nhecer uma coisa boa quando a viam, adotaram-nos eos adaptaramn para scus pr6prios fins. © muculmano cujo nome se associa mais ¢s- treitamente 20 hammad ibn Mi que viveu no sécul sobre os novos mémeros rumou pata o Osidente echegou.a Espana, eo novo sistema logo se infiltsow na Europa. No século XII, um in- gles, Robert de Chester, traduziu o livro de al-Khwariemi para o la- 2 influéncia dos novos algarismos no Ocidente fot ‘As linguas européias transformatam al-Kiwarizatt em vétios ancestrais das palavras algoritmo e algarismo, que usatnos no século XX. Elas tm hoje sentidos especiais, mas, durantea Idade Médiae o Renascimento, ¢ muito depois disso, referiam-se simplesmente 40s algarismosindo-ardbicoseao tipo de célculo que osacompanhava® A superioridade dos algarismos indo-ardbicos em relagdo a0s 10- manos eas tabuas de calcula jeevidente, e nossa im pressio estacd certa, e esses sistemas rivais forem considerados por alguém que néo tenha tido experiéncia prévia com nenhum deles. Havia apenas dez simbolos, “tais como aqui escritos, por exemplo, 0987654321". Com eles era possivel escrever qualquer numero, pot maior que fosse. O processode “calcularcom a pena", como as vezes cram designados os céleulos feitos com os algarismos indo-aré bicos,!" néo se apagava medida que ia ocorrendo e, por isso, eva fé- ar; € 05 célculos e anotagées podiatn ser feitos com os _mesmos simbolos. Mas os algatismos indo-ardbicos ndo pareceram necessatia~ mente vantajosos para os velhos europeus, O sistema existente era yente conhecido, ¢ jé exa o ano de 1514 quando foi publi no de aritmética em algarismios romance, matemético atento a essa tltima moda podetia escrever qualquer rnimezo que quiseste e todoso entenderiam, mass0 se ele eos outros compreendessem a valor posicional e o mnisterioso e bizarro zero. 5 bidem, p289 410 Lambere L Jackson, Te El Comavy Archaic New York: Columbia Unive p27 A MENSURAGAG DA REALIDADE 115, Ovalordas casasera difcl de apreender, Na tabus de cle lars vera fichas acompanhar posgioa posghoo ques com elas, Com o sistema de alganizmos ardbitos, entaen aay h na lousa (ov no pergaminho, ou no papel, se voc® pudesse arcar com o pregadeles) apenas abiscos, parecidoscom pezadasde galinhe Bo terrivel2e10, sinal daquito que nae exstia, era t8o incomodo etm ter, ‘mos conceituais quanto a idéia do vieuo, O zevo represeteava art veidadeizo probletna, como podemes agbes con- tempordneas, No século Sacroboseo escreveu ein The Crafteof Nombrynge (O ofcia denunerar),o mais Ta Crate Nobo fenurnerar],omais popular guia eu- Abici A sft sna nee, aa fa prs qu vem depois dla simbolizar mais do que deveria se ela no s aaah 10-Aaulolgaomo un epesena dor un, pois nese caso estaria no pram Tradugao: 1 €apenas f, rnas, colocando-se um zero A sua diteita, tletpromovide sd ez mais Iguiee “dont Toke seja Pa coda prdtica arabe de escrever da: o zeo erm ame rel Um Fans do deo nv saree ‘Assi como a bones de tap queria st sta Spt ose ea '40, ¢0 macaco, uma rainha, acifia dava-se ares de grande senhorae serumalgaromo" Onsttogs no entane sdotazarcoe relativa rapidez os algarismos arébicos, inclusive o zero, possivel met porque isso elevava oO aes ita vermeé- tice Aids epronivequea“e"Soadicr bogie rena ‘monte, pelo menos ema parte, 3 antes mi 116 ALFRED W. CROSBY que sistema ardbico triunfasse no Oci- tecnologia florescentes, mas a mudanga fe 2, 9s CUrOPEUS cvidentais adiaram o momento de se renderemn 20 sistema arabico, tmisturande desordenadamente os vatios sistemas. ara evitar op bblema de anotar umn numero g vvezesoescreviamn soba forma de pont padido das fichas que o expressariam numa tébua de calcula, Num prefaeioa um calendétiode 1430, ofabricante do calendétio defini fo ano camo sendo compostode ‘ccc e sessenta diase Se seis aproximadas®, Duas geragbes depois, outz0 autor expressou 0 ano gntaoem.curso como sendo MCCCCM, ou seja, doisanos depoisda descoberta da América por Colombo, De vez em quando, 03 ¢uro- peus adotavam o valor posicional eo zero dos algatismos indo-erd- bicos, mas os expressavam com letras romanas maidsculas, © era um atranjo particularmente confuso. IVOM € (e como & que ‘yoo haveria de saber, se no lhe dissessem?) 15 do milhar, V na casa das centenas, 01na das dezenase des, O pintor Dirk Boutscolocou em seu altar, emLow MOCCCAXV, quedesignaoqué? Meu palpite seria 447. Bo seu? wwros de contabilidade da Livre Cidade Impesial cde Augsburgo, todos os ndimeros eram esczitos em palavres latinas ‘Depois, os contadores usaram algarismos indo-arsbicos para desig- nar o ano (com 0 que nfo havia grande possibi jemos romanos, eles 3s ‘Quando finalmente 0s contadores comegaram a usar 08 novos al- gatismos paca expresser outos valores, eles fegistear Os nimeras em algarisoos somanos. Traisde meio século se passou antes que os algarismosindo-ardbicos estronassem completamente 05 romanas nos livros contsbeis de Augsburgo. “A vit6ria do sisterna indo-arébico sobre o romano foi tio graca- tiva, que nfo se pode cité-la como ocorvida numa década qualquer tu mesmno na mais longa das vidas. Cettamente ndo bavia ocorrido ‘em 1500, embora talve2 jé fosse ine os contadores baneérios dos Médic a estavar usando o na em cardter exclusivo, e até os analfabetos comecavar a ado ‘os novos algarismos, Certamentejé havia ocorrido em 1600, embora be conservadores continuassem apegados aos antigos algarismos Os algarismos tomanos 86 desapasecerarn por completo dos livres AMENSURAGAO DA REALIDADE 137 do Tesouro britdnico em meados do século XVI; € ainda os utiliza- mos para coisas pomposas, como escrever datas em pedras funda- mentais e designar os jogos anualmente realizados entie os cam- pedes das ligas protissionais de futebol americano.* De qualquer taque tena sido, a mudanga teve conseqaencias medic que se foram afastando da lingua supranacional aup-seponal atinem favor de suas vera lingua clas, os europeu gua verdad uma mudanga das notagées operacionais, mudanga esta que foi es- stil para main dos avangos na matemstie, na lace xa reenologia desde entlo. Os mais simples dentre os sinals das oper 6es, + @-, demoraram a entrar na aritmética européia, muito mais vos arises com rae esnvltra oso Xmas queexpressar as elazdese opetagirs entre eles em linguagem rev 2, wtlizando palaras As quas Oe em*2e2 sto 4*, parece bastat ‘As vezes serusado simmplesmente para indica divereoa mma intengiode soma, Na segunda m 3s: para o maise th para o menos, Também estes podiam causar confusdo, especialmente quando se queria usé-los nutna novecéoal- gébrica, como, por exemplo, a Bb Wc = x, Os conhecidos sinais de aise menos, + e~, suigiram sob forma impressa na Alemanha, em, TW. Sun engen io sere tte tena indo dx es simples que os donos de armazéns rabiscavam a giz nos fardos e nas, ixas para indicar que eles etavam acima ou abaixo do peso ou co tamanho esperados. As marcas alemis lutaram pot ser aceita, em oposicioao peo mitalianos, durante todoo século XVI, esbsaftam, vencedoras quando os algebristas francesesas adotaram. Robert Re- corde tomou a decisio pelo que “essa figura, +, que simboliza om 1 Howence Veldham. The Sin of Resto 926, p 6, Nuray, Ren ‘Abooas. New Yorks Praege, 1968, p48, 45:7; Mensingy, Nu for 3, 45.7; Menninge, Nun 118 ALFRED w. chosay naesem outraqueactuze, que simbolize o pouco". Estava fazendo referéncia a0 uso de ambas na slgebra,¢, na Inglaterra e nouteos lu- _gaves, os sinais foram usados pelos algebristas muito antes de serem aceitos pelos praticantes comuns da aritmética,1® ‘© sinal de igual, =, parece ter sido uma invengio inglese, Em meados do século XVI, para evitar a repetigio enfadonha de "igual joh4 2 coisas que possam ser mai anglo-americanos de multiplicagao e di cada, mais longa, € nem sempre tao afo vam suas origens, Nos 0 ‘ros impressos, 0 "X" surgiu como um sinal matemético que tinha onze ou mais fungGes diferentes. Se usado nas expressbesalgébricas, juntamente com os simbolos sob a forma de letras, gerarconfusto, Os alge items sas de tn urilizam um ponto, €0s aritméticos levaratn séculos para aceitaro x como significado de multiplicagéo. O sinal anglo-americano da di- visio, +, tem uma semelhanca perigosamente estteita com o sinal desubtragdo. O processo de universalizagio dos stmibolos das opera- ts, iniciado na Idede Média, ainda estd incompleto.!7 Luca acioli, o mais famoso contador do Renascimento, afit- mou que ‘muitos comesciantes desconsideram as fragées a0 fazer cclculos, eentzegem & casa qualquer dinheiro que sobre", masos fre- jeses ndo estavam dispostos a agent participantes variéveis ao longo do temp - plese compostos, ¢inclufam duas, tits ou mais moedas que subiam edesciam com um marencapelado. No séculoXV, era freqiente eles uusarem frag6es como 197/260 ¢, 3s vezts, descobriamrse afundanda nas arvias movedicas de fracées como 3345312/4320864, Foram sal vvos pelo sistema decimal, que talvez j4 existisse em forma embrio- ndria desde o infcio do século XL, mas que passou mais trezentos anos sem dispor de um sistema de notagio th ide (O Dima), de Simon Stevin, publicado em rancés, em 1585, foi livto mais ,Stevin indicou olugardedeterminado 6 Thiders, 107, 128, 290-, 285; DE Sih, Hisory of Mathemas, New York: 958. v2, 9398.8, 402 cal Notations, we, 288, 250.68, 272; Smith, Mister of 17 Cajor Mathai, v2, PAD 6 ‘AMENSURAGAO DA REALIDADE 119 algarismo a esquerda e & cireita do ponto decimal (como disfamos 16s), egcrevendo er pequends circulos acima dos algarismos wro 0 para indicar 0 inteiro e 1, 2, 3,4 etc,, para indicar as fragées: por exetnplo, ele escteveria pi ou x como ® OOO @ REE etre uigio no residiu nessa notagéo espectfica em si, mas em fornecer uma explicacdo crteriosa e, pelo menos, um tipo de notagio clara parao sistema das fragdes decimais. Nossa maneira de expressar fragées decimais s6 apareceu no século segui hoje nao existe um ivos das operagbes, equiparam os europeus para a mani- te dos ntimeros, abrindo as portas para outeos avan- 08, “Esse alvio da luta com ascetalhes aritméticos", de acordo.com Alfred North Whitehead, “deu maigem a um desen jf fora tenuerente an cena, ea dlgebra & genezalizacéo da 10s Srabes nao usavam simbolos simples ( ouy, ou seja io que for), porém palavras, ov, na melhor das hi- péteses, abreviaturas de palavras. No inicio do século XI, Leonardo Fibonacci, num dado momento, usou uma letra em vez de um nd- mero em sua dlgebra, mas deixots a inovagdo parar por af. Um con- tempordneo dele, Jordanus Nemorarius, usou com mais freqiigncia asletzas como simbotos de valores conhecidos inc6gnitas, mis néo cispunha de nenbum sinal de operagso para mais, o mence, a mule fica." Osalgebrista 19 Aled North Whitebead. Scene nd te Wado Wel, New York: Mactan, 1905. pa, : 120 ALFRED W. CROSBY aco, e assim por diante, Ele inveatou seu proprio sistema, po- tamanha liberdade, disse tm historiador tornaram um empecilho téo grande pata 0 progresso r4pido pernas de uma centopé Anotagio algébrica continuoua ser uma misturada de palaveas, ituras delas e ndmeros, até que os algcbristas franceses, cialmente Francis Vis déncia de usar sistematicamente certas ‘quantidades, Vieta usou vogais para in incOgnitas ¢ conso: antes para os valores conhecidos, (No século seguinte, Descartes aperfeigoouc sistema de Vieta, usando as primeiras letras do alfabe- to para os velores conhecidos eas iltimas para asincégnitas. A eB e seus vizinhos so valozes conhecidos, enquanio X,Y e seus vizinhos sto mistérios por solucionar. ‘Amedida que a dlgebra tornou-se mais abstrata e mais gene! zada, ea foi fcando cada ver maisclara, Como oalgebtista podiacon- centrar-se nos simbolos, e deixar de lado momentaneamente 0 que cles representavam, ele era capaz de realizar facanhas intelectuais sem precedentes. Os nfo matemAticos &s vezes consideram a nota- io algébrica confusa ¢ repulsiva, € se “Thomas Hobbes, que condenou um como *téo recoberto pela sarna dos simbolos, que nao tive paciéncia de examinat se estava bera ou: mal demonstrado" 7? Mas o que ele condenou como samas sio, na verdade, pequenas lentes de aumen- to que servein para concentrar esplencidamente a atencéo. Como disse Alfred Hoo} ‘simbolismo algébrico se fornese ‘uma espécie de ‘padrac’ ou ‘méquina ope: - igeamente para um objetivode maneiza tao veloze cer ‘uma matriz guia uma ferrementa de corte numa méquina."® leu, Fermnat, Pascal, Neston e Leibaitz herdaram de Viera uma re 2, p58. T Bel The 7,115.6 125, 15ed. Chicago: pl [New Yorke Random Hous, 1948. p66 A-MENSURAGAO DA REALIDADE 121 ica, €2 usacam para conquistar pao século XVIL o titulo de século da genialidade.™ Paralelamente aos avangos da simbologia matemat: uma mudanga pelo menos igualmente importante na percepyo do significado da mate primeira vista, s8o simbo- uma questaoce demos aperfeig mas esse processo s6 faz en sacendote, gen acrescentando outras casas de ; izarquenéoque é Nenhur al, santo, genio, astro de cinema ou maniaco pode telus loo bo aumento pars ou tensa mun noe rointeiro, né nerqualquer lugar e para sempre, noinfernoe nocey, hoje e até o dia do Juizo Final, tretanto, que & pelo menos tio metafbrica € analégica quanto l6gica, €intolerante para com os caminhoscurtos adaptamos a matemética é que a maioria de nostos préc tem um 18°andar, porque 1810 mais:dd azar. Amatemética oci- dental era repleta de mensagens desse tipo, na Idade Média eno Re- nascimento, Mesmo nas méos dos especialistas — ou nas mios dos especialistas~els era uma fonte de informagoes ‘quantitativas, Roger Bacon, por exemplo, fez um grande esforgo para predizer mente a queda do islamismo, Vasculhou os textos de Abu dos astrdlogos a escrever em drabe, everificou que ele havia descoberto n Esse ciclodera corigem 20 islamismo co levaria até 698 anosdepois, oque devia fi 1uro préximo, pensou Bacon, Tal ciclo era ca ‘Biblia, no Apocalipse de Sto Joo, 19:16, que Bacon j “o ntimero® da Besta ou do Anticristo era 668, um niimero que com certeza estaria ligado a outias mudancas radicais. Aanélise de Bacon tinba duas falhas, Frimeito, o németo da Besta do Apocalipse € 656, ¢ nao 658: € provavel que Bacon tivesse 24 Raymond L. Wilder athena as Co 1981, p13. System. Osford: Pergamon Press, 122. ALERED W. CROSBY umn exemplar defeitucso do Apocalipse. Aoutrafalhaé maisinteres- ante. 0.693 de Abu Ma’shar € 0 668 da Biblia (cu 666, se preferir- ‘mos) no sfo 0 mesmo néimero. Se voct acredita que a atitmética € feita ce ndmeros e nunca ce mensagens, este €0 momento jear os eros ov aban a quea mensagem era ‘os ntimeros. Assim, falseou os néimer rmagiio de que "as Bscsituras, em muitos pontos, tomam wma coisa por uin ndimero completo, pois esse € 0 costume das Escrituras", € indo, "Talvez Deus tenka querido que esse assunto nao fosse intei- ramente explicado, mas permanecesse um tanto velado, como ou tras questées registradas no Apocalipse’.” a porque, emsva especi cevidentes as manipulagées semelhantes &de Bacon. E também mag- nifica porque, em sua generalidade, é to poderosa que nos tenta a usar sua ajuda para enfentar os mais vastos mistézios ~ por exera- plo, a natureza do universo, fisico e metaffsico. Que pode haver de ais getal do que 0 2, que é capsz de reptesentar duas galéxias ou dois pepinos em conserva, ou uma galaxia e uma conserva (a mente realmente se atrapatha), ou apenas um 2 saltitando levemente ~ onde? Como Deus, ea & um Eu soa, ¢ muita gente achou que devia idade, toma lo XV, Nicolau de Cusa, fazendo eco ao que dissera Pla- 108 antes, escreveu: “O ntimeco em nossa mente € a imager do ndmero nz mente de Deus". Quinhentos anos depois, Eugene ? Wigner, ganhadardo premio Nobel, contemplou o misté- rio da relagio dos nimezos com a realidade fisica de um patamar ‘muito mais elevado de conhecimentosespecializagio do que Cusa ou qualquer neoplatonista jé falecido, mas sua conclusto asseme- Ihou-se’ deles 1 aimpressodeestarmos, aqui, diante cde um milagre” 26 Nossas obsess6es cor os timeros 15 e666 si0 to- sem si, Omis AMENSURACAO DA REAEIDADE 123 A isica,aquitnica, a astronomia ~ascineias exatas—témajusti- ficaco empiticamente nossa contianga ¢ matemitica (ou, talvez, em que 96 queé matemético, é seguimos compreender o ‘outra preocupacio). Essa confianga ne verdade, da maior parte do smos~, mas n&o leva necessariamen: num virtuoso da computagéo, completamente desarraigado da ma- sialidade, como Plato contemplando o ‘niimero perfeito’, que avelmente seria 0 perenemente numinoso 60 elevado & quatta nce, 12,960.000, ou como os monges budistas, que afizmam que o jovemn Gautama era to incompreensivelmente grandioso, que era capaz de dividir um yoyana (uma milha) em pedagos até 0 ndmero 884.000, elevaco & décima poténcia?” Osattifices cristdos de nsimeros enveredaram pelo camino da como sendo uma expresso de reveréncia, No sécul is, um dos Padres da Igreja, escreveut que chegacia o dia cresceriamn, cada qual com 10,000 galbos, e cada sms, ecada tamo com 10.000 brotos, ecada bro- cada cacho teria 10.000 uvas, ecada uva pro- 3; "E quando um dos santos segurar um ‘Sou umn cacho melhor, tomai a mim" 2® Roger Bacon ¢ Pierodella Francesca, mil anos depois, quise- ram batizara geometsia, néocomo propésitode estabelecer as bases da Optica mocema, ou de estimular a invencéo dos éculos ou do te- lesc6pio em si Suas intengdes tinham menos em comum cam as de Calileu do que com as de um mago e matematico da rainba Bliza- beth, John Dee, quealcou véo numa corrente térmicade misticismo matemético até desaparecer de vista ‘vos em espitito (com asis para fitar,no Espelhoda Criaglo, a Forma das Formas, 0 28 Edward 1 Hall pian, 124 ALERED W. CROSBY Nios ‘mortas e imortals, Corpora eEspi smplar de todas as cosas Numerdveis: visteis ¢ invisiveis, ‘Afndia, pétria do Buda, produziu e continua a produzirum ni- meto desproporcionalmente grande de brilhantes matematicos pu- ros. © Ocidente, apesar de John Dee, tem produzido a maioria dos es. (Isso pode ov nao sde nos diltimos tempos, mas estou ‘Um dos problemas mais interessantes da historia € saber por que. ‘Uma resposta simples, mas falsa, seria que, no Oxi ticismna dos niimeros retrocedeu a medida quee mateindtica prdtica avangou, A verdade € que o Renascimento e a Reforma mais pare cem ter estitnulado do quedesestimulado os magos a lerern 0 pasar do,o presente eo futura de acordo.com némeros ecélculos. Aastro- logia foi mais popular durante o Renascimento do que na Idade Média, empregando centenas de atifices de ntimeros e astrOnomos na producao de horscopos dotados de uma sofisticagéo matems cacada vez maior. Na Reforma, quando Bungus calculou queo nome do rebelde mais se soletrado num sistema latino que era LVTHERNVC ~ e somado de acordo com o valor numerolégico de letras, resultaria —bem, éclaro—em 666. Os luteranos derazn © 10co de um salto, descobrindo que as palavras que adornavam a mi- ta papal - VICARIUS FILILDE] (Vigario do Filho de Deus) ~também somavam 666, depois de se abandonatem ca, 7,5, fe oe, que néo ti- ham nenhum valor numerolégi Keplerceixou-selevar por uma espécie de mania a respeito dos: s6lidos platdnicos, que si0 o tetraedro, 0 cubo, coctaedro, ododece- edto eo icoseedro, Eles sio *pexfeitos", porque as faces de cada um seja, as seis faces do cubos ngulos equilsterosda icosaedco sf0idénticos), porque es- los podem ser insesidos numa esfera com todos os seus ie,01 poder ser colocadosetn 8 Chetopher Butler system, New York: Barnes & Noble, 1970. pA. 230 Geocge Ifeab, Fro Ove to Zero: A Vivesal History of Numbers. Traé, Lowell Blas, Haemondeworth: Penguin Beaks, 1987. 307 AMENSURAGAO DA REALIDADE 125 tomo de uma esfera, com todosos centros de suas faces tocando the a superficie, Em 1595, Kepler decidiu que eles explicavam o unive so, Esses cinco, ele tinha cerieza, podiam ser encaixados nas (esferas) dos seis planetas conhecidos, com os vértices mantendo as esferas externas do lade de fora eas faces contendo as esferas inter- nas do lado de dentro~ umn exemple divino da predilecdo de Deus Tragicamente, as observagées expressas em ndmeros & (em geral, as de Tycho Brahe) provaram que ele estava ertads. Ke- plerexperimentou em seguida um modelo do sistema solar baseado nas harmonias da escala pitagérica, Elas também falharam, mas ele petsistiu, Verificou cada uma das tearas, em todas as variagbes, por Ineio dos nimeros, ano apbs ano, ¢, depois de célculos herctleos, is do movimento planetério, que serviram de ico de Newton. © que mais pode a mente humana abrigar além de niimeros € magnitudes? Somente a esses apreendemas corretamente, ¢ s€ a de vvogio nos| diza-Jo, nossa compreensio, nesse caso, ée tipo se: ‘melhante & de Deus, pelo menos na medida em que somos capazes de centendé-la nesta vide mn “Tratava-se de uma fé para a qualas provas haviamn-se acumulado com maisrapidez no século XVIdoque emqualquerséculoanterior ers; A istony of Man's Changing Vision of the ‘Harmonésvorth: Penguin Books, 196A, p2515, 270, 275. 932 Tbidem, p55, 6. Parte II RISCANDO O FOSFORO: A VISUALIZACAO eda mensusagio«, simbolizacio lh VISUALIZACAO: UMA INTRODUCAO Noséculo XVI, uma nova cultura prosperou na Europa Ociden- tal, especialmente em suas cidades, como celebrow Bruegel em seu quadro Temperanca, discutido no Capttulo I. As horas exam iguais, os desenhistas de mapas concebiam a superficie da Terra em graus de curvatura, ¢ homens ambiciosos, como 0 Céssio € 0 Shylock de ‘embora ainda pudessem remexer os dedos no compu lava e registravam porescri- tosuasgrandes transagbes, ereciocinavam cada vez mais em alg sos indo-ardbicos, Tudo isso nos parece muito normal, mas apenas por sermos herdeiros ditetos de Cassio ede Shylock. Nosso ‘senso comum" nos cega para a magnitude da revolugio da men fe produziu nos- sas abotdagens quantitativas da realidade. Meio mi Bruegel, a caracterftica qua 1 Samuel ¥. Edgerton to Christian Emp re: The Heritage of Ptolemaic Cartography in the Renaissance. In: David Wood ward, (Org) Ara and Cartography: Six Plstorial Essays. Chicago: Univesity of Chicago Pres, 1987 p15, 180. ALFRED w. CROSAY dental (se 6 que podemos falar dessa entidade) era recessiva e, 9¢- gundoa viséo mode:na, bizarra. Dezenas de fatares eramn capazes deignoraros requisitosdeclareza. exatidgo numérices na mensura~ do. Um pensador e matemético brilhante como Roger Bacon em- penhava-se tio apaixonadamente na busca do numinoso, que era Capaz de aceitar que 693 era um némero prdximo o bastante do da Besta do Apocalipse para ser exatamente cle. As unidades de quanti- ficacdo difesiam em magnitude no apenas de urna regido para ou- tu, como se podesla esperar numa sociedade descentralizada, mas até de uma transagéo para outra numa mesma localidade, Ura al Gqueirede aveia nao era nem mais nem menos doquea capacidade de tim cestode um alqueize, embora 0 cesto entiegue a um senhor Feu dal pudesse muito bem conter umalq i, enquanto out ‘cebido por um camponss, talvez nfo passassedo nivel de sua borda* Essa variagdo (tao grande que pr tum economista moderne) nic: verbial deco dos nossos acougueiros na balanga, mas era correta € aptopriada, como o alongamento das horas dos dias de verioe oen- curtamento das que formavam os dias de inverno. “Asvantagens que provieramdo avenco da apreciacio quantita~ tiva da realidade parecem-nos Sbvias, mas nao foram necessaria- mente evidences em seus primérdios. Os relégios das cidades cram. absurdamente dispendiosos, além de notoriamente inexatos, atta- sando ou adiantando varios minutos por hora e, muitas vezes, pa ratido por completo.*As prim cosa méo livre de linhas cost Oude consulta de um marinheire pratico, nao passavam, na época € ‘inda por muito tempo, de suplementos@s tradicionais orientagdes tas da navegacéo (0s livros dos pilotos, ou “rutters" que inclufam informagoes nfo apenas sobte as ‘ncias, mas também sobre ancoradouros, pro- :ndos lamacentos ou atenosos ou cascalhosos,, ise momentos em que seria possivel deparar com pitatas,€ as pordiante+A mudanga para a mensuracéo eo método quanti- rein seus est4gios inilais, nfo foi to imaculadamente racio- Trad R Sailer Princeton, N- Princeton Unk locksond the Making of tbe Modoun Werle Press, 198, 789,23, Odysseus 4 EGR Taylor. The Haver Finding to Capuain Cook New Yotk; Abelac-Schurnaa, 3957. p 1049, 13], A MENSURAGAO DA REALIDADE 131 nal quanto n6s, que a consideramos por intermédio de séculos sucessivos de costumeira quantificagdo, podemos super. Esa mu: dana fo! parte de algo subiminac ~ uma madangegigantsca da mental Johan Huizinga, que possivelmente teve mais famiiaridade comaarte, amisica,aliteratura eos costumes da Europa Ocident do fitn da Idade Média do que qualquer outro estudioso da p: metade de nosso século, e que sem dtivida foi um dos historiadores amas argutos de qualquer geragfo, percebeu essa mudanca em sua dimensio mais ampla __Um dos tragos fundersentais da mentalidade do final da Idade ‘opredonn(oio do senso da visko, predominio esse que se echa ‘estreitamente igado a atrofia do pensamento, O pensamento vai as- sumindoa forma de imagens visuais. Paya de fato impressionara men- te, um conceito precisa, primeir, assumir uma forma Huizinga, um estudioso da chamada cultura super 4 transmutacio da civilizacio que havia produzide Ds Toms de Aquino e que, depois disso, durante geragées, néo conse- guita produzir poetas ipso facto em: declinia, Na literatura dos séculos XIV e XV, Huizinga ‘encontrou uma obsessio crescente com detalhes sobre a aparéncia superficial ¢ uma prefertacia cada vez maior pela prosa, em ve2 de pela poesia, porela ser um meio maiselicaz de descrigéo fisica exata, Ele descartou Froissart, octonista impar da Guerra dos Cem Anos, como alguém que tinha a "alma de uma chapa fotografica’ © Partindo de Froissart,saltemos um séculoe meio & minemos de novo a Temperanga de Bruegel (Figura 1). que tudo 0 que os seres humano: sual, Até oscantores estdo lend pata 0 deleite do ouvido. msigio para o visual foi o “riscar do fsforo” que nfo situa- € 28 “causas necessérias mas insulicientes" do suo de uantificagao do fim da Idade Média e do Renascimento, citado no lendo para saber que sous produzir Tse. wang hed ge Ne Yor: Doty, 6 Ibidern, p.292, 296-7, i ore 132. ALFRED W. CROSBY ulo 3, Hé provas dele nos picos mais elevados da cultura supe- exemplo, Marsilio Ficino, oestetaquatrocentista, escreveu que "nada revela mais plenamentea natureza de Deusdo que a luz", e chamou-a, numa das metéforas mais marcantes do Renascimen- to, de "a combra de Deus ‘Amudanga no pensamento religioso ¢ estético que inspicou as observagies de Ficino foi apenas sinal de um movimento no mag- sma das atitudes comuns que serve de estelo para 03 picos da cultura superior e faz que eles se clever. Nestes, a mudanga manifestou-se nfo tanto como um novo medo de pensar sobre o infinitoe oine as come umn modode vere manipularasquestoes da realidade. cotidiana, Ela ocorreu em muitos campos do esforga humano, como vere mos nos tits capitulos que se seguem. Comecemos pela capacidade de lere escreves, nio por cater sido a causa ~ muitos povos haviam progredido nesse conhecimento sem alteratemn sua apreciagio bési- ca darealidade fisica, eno me parece que os primeirosavancos daal- fabetizagio na Europa medieval tenham surgido mais cedo que os corridos em outros campos ~, mas porque essa capacidade de ler€ quanto exsalmente reconhecida como imporeante, sendo por isso mesmo ilustrativa. Ela nfo apontou ne- 10 para acristandade ocidental, mas € posst vel que © aponte para nds, ‘A prética de comunicar e preseivar as informagées através do estilo, da pena eda tinta prosperou no século XIIL O papa InocEncio (1198-1216) despachava, no méxiino, es de cartas Ca cere por semana para selar seus documentos, no fim da década de 1220, 31,9 libras no fim da década de 1260.2 Uma sociedade em que ‘o principal canal da autoridade era o ouvido, inclinado para a recita- opment of Wester Thought. Cambridge, Ma 90, The ater avai Bein, radu dos Membrozco Teoamicas London: Shaphenrd Waly, Red: England, 10661307. Cambridge, [A MENSURAGAO DA REALIDADE 133, ¢dodas Eserituras. para os Padres da lgceja, bem comoparaa soport- fera repetigio dos mitos e poemas épicos, comegou a se tansformar numa sociedade em que preponderava o receptor da juz: 0 olho. A Palavra audit fauditar] (da mesma raiz de audvel ea quesig- nificava examinar através ca escuta de depoimentos, enverecou pot sev estranho camino de passara significar, quase sem excesfo, exa minar por meio da leitura, no mais absoluto silencio? Durante séculos, os herdeimos do alfabeto romano tém tomado fim da Antigiidade e no inicio da Idade Média, eram tarefas di ceis. A prética da cOmoda escrita cursiva teve vérios comecos, po- 16m, erm sua maioria, os escribas desenhavam as letras em sepatado #, como quase pode:famos dizer, penosamente. Um escriba que tra- balbasse com um estilo ¢ um tablete de cera podia tomar ditados com rapidez, mas a transcrigéo desses ditados num material mais permanente era extremamente trabalhosa sm era trabalhosa: havia pouca ov nenhuma diviséo entre at palavras e, quando os escribas deixavam espagos, do 0 faziam necessariamente depois de cada palavza, mas onde quer que lhes fosse cOmodo, quer isso fasse ou no conveniente es Obtigatdrias entre as frases ou pa- nesn tampouco grande coisa & guisa de pontuagao, se é que alguna.‘ Escrever nfo era nada mais do que fala posta numa pégina,e, sendo assim, no surpreende que os letrados da Antigtiidade ¢ dos primeizos séculos da Idade Média fizessem quase toda asua escritae Jeitura em voz alta, Foi porisso que Santo Agostinho considerou ne- cessirio explicar-nos por que, quando seu mentor, Santo Ambt6si explorava.o sent {ogua pesmanecta ce algumas explicagdes, deatze as quais a mais provével, segundo ele presume, setiaa de que. idoso santo es- 9 Teidew, 218. 184 ALFRED W. CROSBY taria poupando sua voz, que era propensa a rouguidao, Fosse qual fosse a razdo do esczanho comportamento de Ambrésio, Agostinbo tinha “certeza de que ela era boa! Havia, €claro, um pouco de capaz de praticar esse truque ao ler ci tnho, ao ler as Epistolas de So Paulo mas, na maioria das vezes, os redatores murmuravam ¢osleitotes declamavam, ¢ - bbliotecas eram agitados eaté barulhentos. Escrevereler em voz ‘eram um processo lento, mas convém notarmos que talvez ajudas- semos leitores, porque 0 ouvido podia ser utn guia melhor do que o lho para indicar o ponte em que uma frase ou uma palavsa comeca vain etexmninavam. Entretanto, persisteo fato de queler, por maior ido com andat sobre per- lenciosa —Jilio Césax era rnas de paudo quecom! neve? (Os letrados da Europa Ocidental foram impelides, por set pro- vincianismoe sua falta generalizada de sofisticacao, a feigoara esctita do fim da era romana eas métodos ge Aescritae leitura. £ possivel que os romanas conhecessem tao bem o latirn que nfo sentissem necessidade da separacéo entie as pala- vas, certamente nao para que ela 2u no acontecia com os padres sax6es enevoados da cristandade. Os caligrafos e 08 inicio da Idade Média talvez ndo tivessem que {do grande de trabalho que os convencesse a apoiar a escrita cursiva, assim como a improvisar uma maneira de fer mais depressa, poxém ‘os letrados da Alta Idade Média, no Ocidente, intimnidados einspira- dos pelo simples volume dos cléssicosdo mundo antigo—a Bi direito canénico, as obras dos Pacires da Igteja, as intermindveisglo~ sas que deles fizeram os escolésticos, ¢ os documentos que provi- inharn aos borbot6es das burocracias eclesiésticas e essa carga de trabalho. No inicio do século XIV, eles haviam concebido es «e cutsivas, providas de separagao entre as palavras e pontuacdo, 11 Santo Agostino, Confssins, Trad. RS, Pine-Coffin Harmondswonths Penguin A MENSUKAGAO DA REALIDADE 195. que permntiam que os escribes redigissem mais depressa eque os lei- tores lessem com mais rapidez, O pobre Carlos Magno nunca aprendewa eserever, embora mantivesse tdbuas de redigirembaixo desenharletrasem suashocas 1 0 rel6gio ea hora certa para sua 10 puinho os rascunhos de suas car- gotica ou escolstica (ou, em sua for ) disseminow-se por toda Europa Oc: indo os estilo deescrita das provin- 3s, A eacrita romana acabou por superéla (taidiamente, nas Areas de lingua alema), mnas~com justarezio, poder-se ia dizer foia esc ta gtca quedew a Gutenbergo modelo para as facesde seustipos. > Surgiu se disseminau um novo de leitura, por meio do smal nas abadias e nas escolas das cat

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