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‘Bipsamncceisale linet BIODIVERSIDADE, DIREITOS E PRODUCAO CAMPONESA DE ALIMENTOS BIODIVERSITY, RIGHTS AND PEASANT FOOD PRODUCTION Carlos Frederico Marés de Souza Filho” Thais Giselle Diniz Santos” Flavia Donini Rossito’ Resumo: A conservacio da biodiversidade consiste em uma das mais importantes questes ambientais do século XXT. O artigo analisa a conttadigao existente e expressa pelo Direito entre protegio e conservacaio da biodiversidade e desenvolvimento da biotecnologia. Em tese, o desenvolvimento da biotecnologia deveria favorecer a conservacao da biodiversidade, mas da maneira em que esti sendo utilizado, nao conserva. O Direito, protetor da propriedade individual, se vé na contingéncia de proteger a biodiversidade como diteito da coletividade que se confionta com os direitos individuais. A andlise desta antinomia se faz a partir dos conceitos sociojuridicos de biodiversidade e sua conservagiio ex situ ou mr situ, extraidos da Lein, 13.123/15 © da Convengaio de Diversidade Biologica (CDB). A opgao por uma ou outra forma prevalente de conser- vacdo leva a situagSes opostas e de grandes riscos para a produgo de alimentos e para a biodiversidade. Fica demonstrada a importincia da conservagaio in sine para a protegtio da biodiversidade, assim como que tal estratégia é possivel a partir da conservacao, multiplicagao e diversificagao da producao camponesa e de povos tradicionais. A producao camponesa baseada em consciéncia e organizacao protege a biodiversidade, como fica claro em mtitas iniciativas do MST e nas Jornadas de Agroecologia, Com isso passa a ser possivel ino s6 a protegdo da biodiversidade, mas a produgao de alimentos saudaveis em quantidade para a promocao da soberania alimentar da populagao, que devem ser apoiadas pela biotecnologia, Palavras-chaye: Direito Socioambiental; Biodiversidade; Conflitos Socioambientais; Sementes Crioulas: Agricultor Tradicional. Abstract: Biodiversity conservation is one of the most important environmental issues of the 21st century. In view of this, this article analyzes the contradiction existing and expressed by the Law between protection and conservation of biodiversity and biotechnology development. In theory, the development of biotechnology * Possuti graduagaio em Direito pela Universidade Federal do Parani (1969), mestrado em Dirsito pela Universidade Federal do Parana (1988 - Protego Juridica dos Bens Culturais) e doutorado em Diteito pela Universidade Federal do Parana (1998 - Direito dos Povos Indigenas) Integra o Programa de Mestrado Doutorado da Pontificia Universidade Catolica do Parana, onde € professor titular de Direito Agrario © Socicambiental, Professor do Mestrado, Doutorado e Graduac&o em Direito, E-mail: carlosmares@terra. com. br * Doutoranda em Direitos Humanos e Democracia pela Universidade Federal do Parand (2019). Mestra em Meio Ambiente e Desenvolvimento pelo Programa de Pés-Graduagao em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR (PPGMADE-UFPR). Pesqnisadora do grupo “Ekoa: direito, movimentos sociais e natureza”. Bacharela em Direito pela UFPR, habilitagio em Teoria do Diteito Direitos Humanos, Participou de programa de Mobilidade Académica na Université Paris-Sorbonne no ano de 2013, Realizow iniciagao cien- tifica pelo Grupo de Pesquisa “Instituigdes Politicas e Processo Legislative (CNPQ)” , na linha “Ensino Juridico de Direito Agririo”, E-mail: thaisgisellediniz@gmail.com " Doutoranda em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Parand (Bolsista CNPg). Mestre em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso. Especialista em Direito do Trabalho e Processtal do Trabalho pela Escola Paulista de Direito, Graduada em Direito pelo Centro Universitario Euripides de Marilia, E-mail: flaviarossito@gmail.co R. Fac. Dir UFG, v.43, p. 01-17, 2019 ISSN 101-7187 Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F MI. de, S SANTOS, TG. D. should favor the conservation of biodiversity. but by the way it has being used, it does not conserve. The Law, protector of individual property, is seen in the contingency of protecting biodiversity as a collectivity right that is confronted with individual rights. The analysis of this antinomy is based on socio-juridical concepts of biodiversity and its ex situ or ir situ conservation, extracted from the Law n, 13.123/15 and the Convention on Biologic Diversity (CBD). The choice for one or other prevailing form of conservation leads to opposite situations and great risks for food production and for biodiversity. It is demonstrated the importance of the in situ conservation for the biodiversity protection, as well that this strategy is possible from the conservation, multiplication and diversification of peasant production and traditional peoples. Peasant production based on awareness and organization protects the biodiversity, as is clear from many MST initiatives and the Agroecology Joumeys. This will enable not only the protection of biodiversity, but the production of healthy food in quantity to promote the population food sovereignty, which must be supported by biotechnology. Keywords: Socio-environmental Law: Biodiversity; Socio-environmental Conflicts; Creole Seeds; Tradi- tional Farmer INTRODUCAO A conservagdo da biodiversidade consiste em uma das mais importantes questées ambientais do século XXI. Ha um potente conflito entre o desenvolvimento da biotecnologia, a reprodugao do capital ambiental e a preservagao da vida planetaria, Diante da tendéncia do capital biotecnol6- ico de se desenvolver imoderadamente surge 0 conflito: o capital biotecnolégico, composto por cientistas e empresas, empenha-se em desenvolver novas cultivares com melhores rendimentos, em substituigao as variabilidades genéticas erioulas, consideradas de baixo rendimento, Os novos produtos, ao contriio dos crioulos devem ser geneticamente uniformes. Por razdes de reprodugio e crescimento do capital, a engenharia genética deve criar sempre novas cultivares, a fim de manter suas sementes como mercadorias viiveis. Isto, paradoxalmente dependente da disponibilidade de material com diversidade genética, mas a pritica tende a destruir esta variabilidade, devido ao seu desenvolvimento mercadolégico baseado em sementes geneticamente modificadas e na monocul- tura. Quer dizer, a biotecnologia promove a erosio da diversidade genética que precisa para dar continuidade a seus métodos. Neste dilema, o direito legitima, por um lado, a apropriago privada da biodiversidade por meio do regime de patentes, da propriedade intelectual de cultivares e sementes de repartigaio de beneficios, e por outro, protege a biodiversidade pelo principio do meio ambiente ecologicamen- te equilibrado para as presentes e futuras geragdes (Constituigao Federal de 1988) e mediante a conservagao da diversidade biologica por estratégias de conservagao in situ € ex situ, expressas no ordenamento infraconstitucional pela Lei n. 13.123 e pela Convengao de Diversidade Biolégica Trata-se de um conflito entre o direito coletivo, 0 meio ambiente, os direitos individuais e a pro- priedade privada Esse fenémeno revela contradigao do Direito do séeulo XXT, que tem que manter a regula- mentagao da propriedade e da mercadoria ao mesmo tempo em que introduz as Iutas sociais pela conservagao da diversidade da vida. Isto €, 0 direito nao se desenvolve em apenas umn sentido, mas eu wn fendmeno complexo, que se expressa na realidade enquanto sintese de uuiltiplas detenmina- gbes, 0 que deconte de sua existéncia enquanto fendmeno social e concreto. Diante destes pressupostos, o artigo esti dividido em quatro partes. Na primeira, analisa os aspectos sécio-juridicos da biodiversidade; na segunda, aborda as formas de conservagao da biodi- R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. versidade in sins e ex situ, tratando como esta iltima relaciona-se com a industrializagao do campo; na terceira parte estuda como estas escolhas juridicas e politicas vém legitimando a transformagao da natureza em mereadoria; e, por fim, busca demonstrar a importancia dos camponeses do MST para a conservagao da biodiversidade em sen habitat natural. 1 BIODIVERSIDADE E ASPECTOS SOCIOJURIDICOS Desde sempre o ser humano atua em seu meio ambiente natural mediado por leis naturais € nomnas institucionalizadoras, em condigdo natural de interagiio metabélica essencial 4 vida (FOSTER, 2014, p. 274 e MARX, 2011, p. 120). Neste proceso, a percepgao e curiosidade sobre a diversidade de vidas na natureza foi primordial para a integragao do ser humano em seu territorio. ‘Na modemidade, porém, houve um afastamento das leis naturais na crenga da possibilidade da substituigdo e “melhoramento” da natureza. Este processo historico fez com que a diversidade da vida fosse estudada pelas lentes das cigncias naturais, enquanto unidades da vida biologica ‘Nos primérdios dos estudos na modemidade sobre cigncias naturais a diversidade da vida era vista como algo constante. Apenas a partir dos anos 1960, como decorréncia da industrializagao e dos consequentes impactos da ago humana sobre o mundo natural, a diversidade passon a ser vista como uma riqueza inestimvel, a qual deve ser couservada, visto que sua perda e erosio atrelam-se a uma crise global de extingao da vida Diante disso, mais tarde nos anos 1980 0 conceito de “diversidade biolégiea”, que assumiu centralidade, permitiu reconhecer o crescente impacto das agdes humanas sobre os sistemas bio- légicos planetirios, bem como que a perda da diversidade bioldgica constitui uma das questoes contemporaneas mais fundamentais (FRANCO, 2013, p. 03). Em 1982, o conservacionista Ernst Mayr publicou o livro O desenvolvimento do pensamento bioldgico: diversidade, evolucao e heranca no qual sustentou que todo processo bioldgico implica a biodiversidade, que constitui um dos aspectos mais fundamentais da vida (MAYR, 1998, p. 161) 0 conceito de “biodiversidade” surgiu em 1988 como contragiio de “diversidade biologica”, na obra do bidlogo Edward O. Wilson, que tratou essencialmente da perda da diversidade bio- logica e possiveis remediagdes. Os estudos da natureza abandonaram gradativamente a ideia de preservagao natural, mediante uma visto romantica de paisagens sublimes ¢ intocadas, em dirego conservagio da biodiversidade, com base na ideia do papel fundamental do processo evolutivo no surgimento de espécies e da vida terrestre, com base na teoria sintetizada por Charles Darwin (FRANCO, 2013, p. 04-05) Com base neste desenvolvimento ocorrido nos estudos da natureza, a biodiversidade passou a ser um fermo recorrente, porém, conforme elucida Anténio Carlos Diegues, em um primeiro mo- mento foi restrito a ideia de processo natural, ignorando a interveugio humana (DIEGUES, 2016, p.03). Por muito tempo foi exaltada a estratégia de conservagio por meio da criagio de areas pro- tegidas com restrigao ao avango humano, tais como reservas e parques, enquanto principal método de preservagio da diversidade. Tais modelos foram objeto de criticas, visto que nos diversos paises em que foram aplicados entraram em erise, porque nao conseguiram conter a erosio das espécies, nem mesmo as que mantinham dentro dos parques, especialmente animais e plantas de maior por- R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F. M. de, S SANTOS, T. . D. te. Face a esta situacdo, vislumbrou-se que a biodiversidade também consiste em produto da agao de sociedades humanas, especialmente, sociedades tradicionais nao-industriais, que com modo de vida e cultura atrelados natureza, favorecem a vida de diversas espécies animais ¢ vegetais com base em valores socialmente reproduzidos (DIEGUES, 2016, p. 04). Por meio dos assentamentos humanos, principalmente, deu-se um encadeamento complexo ocorrido em centenas de anos de mudangas materiais, sociais e culturais, em diversos povoamen- 10s locais do mundo, pelas quais a variabilidade de seres-vivos restou impactada (MAZOYER e ROUDART, 2010, p.90-101). Esta percepsao sobre a interapao dialétiea entre ser humano e meio ambiente acentua a re- levancia dos agroecossistemas para a biodiversidade, pois a natureza é fortemente impactada pela agricultura e pela criagdo de animais ligados aos assentamentos. Nesse sentido, Juliana Santilli explicou que aproximadamente a partir 1995 o conceito de agrobiodiversidade comega a ser elabo- zado, pelo esforgo entre diversas ‘reas do conhecimento. Nas palavras da autora, a agrobiodiversi- dade (SANTILLI, 2009, p. 91): Reflete as dinamicas ¢ complexas relagées entre as sociedades humanas, as plantas cultivadas e os ambientes em que convivem, repercutindo sobre as politicas de conservagao dos ecossistemas cultivados, de promogao da seguranca alimentar ¢ mutricional das ppopulagdes htumanas, de inclusao social e de desenvolvimento local sustentavel. Segundo a autora, a agrobiodiversidade engloba espagos cultivados, espécies direta ou indi- retamente manejadas e a diversidade genética a eles associadas, tratando-se, portanto, de um con- ceito amplo, atrelado a variabilidade de ecossistemas, da fauna, de insetos, bem como a diversidade subterrinea e microbiana (SANTILLI, 2009, p. 93). Pelo conceito de agrobiodiversidade, nota-se que o aspecto social faz parte da biodiversida- de, visto que o ser humano depende de espécies animais e vegetais para sua reprodugao social, 0 que se revela pela domesticagdo. Isso demonstra que a diversidade é inerente a historia humana (DIEGUES, 2016, p. 09) A intervengao social sobre a diversidade biolégica foi valiosa ao menos desde o surgimento da agricultura ha mais de 10 mil anos devido a diversos aspectos, como sacralidade, espiritualida- de, ancestralidade, alimentagao e as mais diversas dimensdes da vida, todas dimensdes altamente influenciadas pela natureza em que a sociedade vivia. Assim, do mesmo modo que as sociedades humanas sofreram diretamente a influéncia da natureza em que viviam, tendo a diversidade biol6- ica, portanto, muita importaneia para as sociedades, num proceso de interagao, a biodiversidade também sofieu mudangas. A sociedade modema, porém, restringiu 0 valor da biodiversidade que passou a ser vista apenas: “enquanto objeto de pesquisa, fonte de impulsos tecnolégicos nas bio- cigneias e nas bioindustrias, transformados em vetores de concentragao econdmica através de pa- tentes.” (MATHIAS eral. 2006, p. 13). Apesar de curto, este momento historico tem sido altamente devastador e com potencial de destmuigao total da biodiversidade Entretanto, como o conceito de biodiversidade surge no contexto da ciéneia eurocéntrica mo- derna, também a sua protegdo juridica atrela-se ao paradigm de natuzeza afastada do ser humano Nesse context, as discussdes internacionais ao redor da biodiversidade demonstram a existéncia de duas principais vertentes presentes na preocupagdo com a conservagio do meio ambiente no final do século XX, cada uma delas abarcando diversas comrentes. R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. ‘Uma dessas vertentes & chamada “conservacionista/preservacionista” que mantém 0 para- digma modemo da separagio entre natureza e ser humano e defende que a protego da natureza s6 pode ocorrer pelo afastamento de qualquer interferéneia humana, pautado em uma visio romantica, estética e unidiseiplinar de natureza, decorrente do naturalismo do século XIX. Esta vertente tende a excluir o ser humano, qualquer ser humano e qualquer sociedade humana, da convivéncia com a natureza pura, intocada, E claro que em perspectiva radical esta vertente separa o mundo humano do mundo natural, entendendo que o mundo humano é a superagao da natureza, Em outras pala- ‘vias, que a humanidade prescinde da natureza, podendo substitui-la por sua técnica e engenho. Para © bem da natureza, esta corrente propde a eriagao de espagos naturais protegidos longe do mundo humano, estabelecendo uma dicotomia entre os espagos protegidos e os espagos humanos nos quais a natureza poderia deixar de existir A ontra vertente sobre a natureza considera a indispensabilidade da relagao sociedade/na- tureza, abareando duas comentes: o “ambientalisto moderado ou “sustentabilidade débil”, que a partir do olhar antropocentrista preceitua que a natureza é simples repositério de recursos, os quais devem servir principalmente a existéncia humana, com base na economia ambiental (FOLADORI ¢ PIERRI, 2005, p. 68-73); bem como a comente “humanista critica” (FOLADORI e PIERRI, 2005, p. 73-80), também chamada de “ecologia social” que se panta pela relagdo entre sociedade e natureza, ressaltando que a paisagem ¢ uma estrutura espacial resultado de processos naturais € atividades humanas ¢ que a natureza ¢ 0 ser humano estao constantemente se transformando, que rompe com a ideia de natureza intocada e de “bom selvagem” (DIEGUES, p. 06-08). Sobre esta iiltima corrente, esclarece Diegues (p. 09) ‘os que se baseiam nia ecologia social tém proposto que a biodiversidade nao é um conceito simplesmente bioldgico, relative a diversidade genética de individuos de espécies,e de ecossistemas, mas é também resultado de prticas, muitas vezes milenares, ‘das comunidades tradicionais que domesticam espécies, mantendo e, em alguns casos, aumentado a diversidade local. A vertente conservacionista/preservacionista de natureza enfatiza as areas protegidas cha- mada de uso indireto, tais como parques nacionais e reservas biologicas, nas quais nao é admitida a moradia humana, com base ua ideia de que a biodiversidade seria um produto apenas natural e que sua protecao pressuporia a auséncia de pessoas em seu interior. Esta visdo consistiu no padrao inicial de preocupagao com a natureza, expressa, por exemplo, pela teoria da ecologia profunda (FOLADORI e PIERRI, 2005, p. 94-96) e pelo diteito desde as primeizas regulagdes do meio am- biente, que partem do conceito de “propriedade”, da separagdo entre ser humano e natureza ¢ da protegao da natureza contra o ser humano, em latente manejo da tendéncia destrutiva do capital. Neste contexto, tendo em vista que a natureza significa em esséneia um pressuposto pri- mordial para produgdo de riquezas, foi tensionada a compatibilizagdo entre sua conservagaio e sua exploragio econémica, considerando a légica de produgao de mercadoria que predomina no siste- ma de produgao globalizado. Por isso, desde os primeiros documentos intemacionais de protegao ambiental é expresso este latente antagonismo entre economia capitalista e protegdo da natureza, expressa em especial na Conferéncia de Estocolomo de 1972 Tais discussdes atrelam-se segunda vertente acima referida, a social, que defende a im- portincia da atuag4o humana na protegao da natureza, porém, mediante duas estratégias diame- R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F MI. de, S SANTOS, TG. D. tralmente opostas: estratégias de economia verde que “cortigem” problemas ambientais mediante estratégias de mercado e, por outro lado, estratégias humanistas, que concentram esforgos em es- tratégias nao capitalistas de protegao da natureza, caracterizados muma perspectiva socioambiental Diante disso, desenvolveu-se no Ambito juridico internacional a discuss sobre o conceito de “desenvolvimento sustentivel”, materializada no Relatorio de Brundtland em 1987 (FOLADORI, 2005, p. 28-43) ¢ expressa em diversos sistemas nacionais de direito ambiental, No Brasil esta pre- sente em alguns artigos da Constitnigio Federal de 1988, como o art, 225 enja esséncia é a protegaio da biodiversidade e que dispde sobre o principio da protegdo do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras geragdes. Outro exemplo importante ¢ a protepao da fimgao socioambiental da terra, tanto rural quanto urbana, expressa nos atts. 5°, XXUIL art. 170, Il, 182, 184, 185 e 186. ‘No mencionado artigo 225, consta expressamente a preocupagao com a perda da variabili- dade genética e necessidade de fiscalizagdo de entidades dedicadas a pesquisa e manipulagao ge- nética, 0 que decorreu do intenso avango, naquele periodo, de empresas de biotecnologia agricola sobre a agricultura brasileira. Anda no contexto de discusses sobre humanismo e natureza, em 1992 ocorreu a Conferéucia das Nagdes Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ou Rio-92). A partir do aparente dilema entre protegao do meio ambiente e desenvolvimento econémico (especialmente em paises petiféricos) a discussao se centrou no conceito de desenvolvimento sustentavel, mediante a eriagao de compromissos juridicamente vinculantes aos governos pela aprovacdio de cinco documentos, entte eles a Convengiio sobre Diversidade Biolégica (CDB). O aspecto mais discutido no ambito desta convengao foi a propriedade intelectual dos recursos genéticos e o da distribuigao de benefi- cios (INOUE, 2003, p. 50-55) A CDB é um marco na normativa internacional e inclui ts objetivos: a conservacao da diversidade bioldgica: a utilizagao sustentivel de seus componentes e a repartigao justa e equi- tativa dos beneficios derivados da utilizago dos recursos genéticos. Portanto, engloba o tema da soberania dos paises e o papel dos povos indigenas e tradicionais para a diversidade biolégica, tra- zendo, assim, a diseussio da importaneia da relagao entre sociedade e natureza, No Brasil, vigora desde 1993 como Convengiio-Quadro, tendo sido aprovada em 1994 e promulgada em 1998, pelo Decreto n. 2.519/1998. Nas discussdes a0 redor da CDB, 0s paises centrais defendiam a ideia de diversidade bio- logica como wm “patriménio comum da humanidade”, enquanto os outros, historicamente preju- dicados pela extragdo de recursos naturais, defendiam seus direitos soberanos mediante patentes (INOUE, 2003, p. 37). No documento aprovado foi vencedora a das soberanias nacionais sobre a diodiversidade. Representagdes principalmente da Africa, registraram a inadequagao da protecao dos direitos das populagdes tradicionais, da nao aplicagao retroativa aos recursos ja extraidos ¢ da vulnerabili- dade quanto 4 OMC (INOUE, 2003, p. 142-143), ‘A finalidade da Convengao, segundo seu artigo 1°, € regular tanto o uso sustentavel da biodi- versidade, quanto da retribuigao econémica aos paises de origem, a fim de investir na conservagao. Entretanto, o documento foi vago quanto a repartigao dos beneficios a estes paises R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. ACDB tata da repartigdio de beneficios, mas 0 faz junto com o reconhecimento de patentes, de forma a restringir a biodiversidade ao interesse econdmico e mercadolégico. Portanto, ainda que a CDB tenha possibilitado o debate sobre a importancia da biodiversidade para a vida planetaria e tenlia tangenciado a necessidade de protego dos conhecimentos tradicionais de commidades tra- dicionais e povos indigenas associados a biodiversidade, criou a abstragao juridica da “propriedade da narureza”, especialmente sobre os chamados recursos genéticos, os conhecimentas tradicionais @-as espécies de interesse comercial Durante as discussdes da CDB alguns paises em desenvolvimento, principalmente os lati- no-americanos eo grupo dos paises megadiversos, defenderam pautas com base em uma logica mouetiria ao redor da biodiversidade, voltada apenas & maior participagio uo valor gerado pelos produtos decorrentes da apropriagao privada da biodiversidade (MATHIAS er al. 2006, p. 14). Por tudo isso, ao mesmo tempo que a CDB representou relevante avango na protegao de conhecimentos e da biodiversidade, também protegeu interesses comerciais dos paises ticos, ga- rantidos pelo uso de solugdes de mercado e pela auséucia de retroatividade. A universalizagao dos recursos genéticos possibilitou transagdes mediante direitos de propriedade intelectual pelo sistema de patentes, compativel com 0 acordo juridico do TRIPs (Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights), que criou padres minimos para protegdo destes direitos e que foi um Acordos que embasaram a criagao da Organizagao Mundial do Comércio. Isto significou, na realidade, uma garantia aos negécios sobre a biodiversidade muita acima de sua protegao efetiva, porque TRIPS & fimdamentalmente um tratado de interesses econémicos. Por outro lado, a auséncia de reconheci- mento pela responsabilidade retroativa deixou os paises que j4 foram devastados em sua biodiver- sidade sem qualquer recompensa ou possibilidade de restanro, ACDB tomou bens juridicos as mais diversas abstragdes, como os chamados “componentes da diversidade biol6gica” e regulamentou priticas de conservagao (in situ e ex sini) da biodiversi- dade, abrindo as portas de acesso is empresas de tecnologia aos recursos da biodiversidade, possi- dilitando mecanismos de repartigao de beneficios que peumitizam a uniformizagao das legislagdes nacionais e a consequente segnranga juridica das entidades de biotecnologia em seu avango sobre a natureza, Esse movimento é expresso, no Brasil, pelas Leis de biosseguranga (Lei 8.974/1995, Lei 11.105/2005) e pela Lei que dispoe sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas (Lei x. 10.711/2003). Devido a reconhecida fragilidade das disposigdes sobre a repartigao de beneficios na CDB, as Conferéneias das Partes (COPs) posteriores, especialmente a partir da COP-7, retiraram a dis- cussiio da temética, especialmente em relagdo ao uso dos conhecimentos tradicionais associados, mas também em relagao ao uso da biodiversidade dos paises originérios, tendo em vista a aprova- go, em 1992, da soberania nacional sobre estes recursos. Finalmente, em 2014 foi estabelecido o Protocolo de Nagoya que trata das obrigagdes dos paises usuarios de bens do patriménio genético para com os paises de origem, sempre levando em conta a nao retroatividade, isto é, as obrigagdes sobre 0 uso destes bens somente se referem as novas utilizagdes de recursos genéticos. O temor da retroatividade era a responsabilizagao e pagamento de beneficios pelo uso da batata ou do milho americano e da soja chinesa As reunides das Conferéneias da Partes posteriores a CDB, e especialmente 0 Protocolo de ‘Nagoya em 2014, influenciaram a produgao legislativa de Estados uaciouais. No Brasil, a Lei x. R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F MI. de, S SANTOS, TG. D. 13.123/2015 e o Decreto n. 8.722/2016, que regulamentam 0 uso da biodiversidade e dos conheci- ‘mentos tradicionais a ela associados, foram promulgados. 2 CONSERVACAO DE RECURSOS GENETICOS IN SITU E EX SITU No final da década de 1960 iniciavam-se os debates acerca dos efeitos do desenvolvimento industrial sobre a natureza, ja estava presente na sociedade civil a necessidade de mudanga na ago humana sobre a natureza, Pairava no ambito internacional uma grande preocupagao com a fonma de conservagdo dos recursos e com 0 apoio da Organizagio das Nagdes Unidas para a Alimentagio ea Agricultura (FAO) e, no Brasil, com a constituigdio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuiria (Embrapa), a decisao tomada foi no sentido de dar preferéneia pela conservagao ex situ, fora do ha= bitar natural e em ambientes controlados, como a medida cientifica mais segura para a conservagao da diversidade biolégica (SANTONIERI; BUSTAMANTE, 2016, p. 678). Respondendo, portanto, a discussao da perversa agao humana sobre a natureza ¢ a biodiversidade, a solugao proposta ¢ le- vada a pritica foi a preservagdo de genes ex situ. Permitindo, entdo, a continuidade da devastagao fora dos ambientes tecnicamente protegidos, Foi neste contexto que em 1972 foi realizada a Conferéneia das Nagdes Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, na qual prevaleceu uma visio couservacionista, que optava por proteger a natureza em espacos sacralizados e separados da humanidade. Esta concepgao de espagos protegidos se bem analisada significava a extensdo da conservagao ev sini para espagos mais amplos e naturalmente protegidos. E claro que a conservagao ex sity nao pemnite a protegao € conservagao de toda biodiversidade, mas apenas daqueles seres, animais ¢ plantas aos quais se projeta utilidade futura, A protegio ev situ é necessariamente cara e limitada, pois para proteger toda a biodiversidade longe da agdo humana se fazia necessério criar espagos maiores, onde a natureza pudesse viver Jonge das maos predatérias. Claro que esta visdo esquecia ou omitia que muitas mdos humanas nao sao predatorias, mas ausiliares na protesao da biodiversidade. A ideia do capitalismo do século XX, portanto, foi de que a protegao da natureza s6 pode se fazer separada da humanidade, porque acreditava numa dicotomia absoluta entre a produgao agricola e a manutengao da biodiversidade, entendendo que para produzir é necessirio eliminar tudo 0 que nao seja a propria produgao Os seres vivos que mio fizessem parte daquela produgio teriam que estar fora do territério, no compreendendo que ha povos e gentes que sdo capazes de compartilhar sua produgao com todos os demais seres vivos da natureza. E nesse sentido que as reservas e parqnes nao poderiam ter em seu interior nem mesmo povos indigenas e outros tradicionais que se mantém em interagao com 0 territério em que vivem, e, que ao contrario, auxiliam 0 aumento e desenvolvimento da diodiversidade nao humana, Esta ideia escoude um evolucionismo social que imagina que todos os povos ‘evoluirio” para una sociedade predatéria do ambiente ‘A partir da visio de natureza intocada prevalente na ideia conservacionista/preservacionista do meio ambiente, a protegao de recursos genéticos foi, portanto, inicialmente pensada em estra- tégias artificiais afastadas da interagdo humana, Por isso, a proposta de isolamento dos recursos genéticos e a guarda e protegiio em locais tecnicamente neutros, mantendo sua conservagaio ex situ Assim guardados ¢ conservados, os recursos genéticos poderiam sofier alteragdes da natureza R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. até mesmo a sua extingaio porque estavam fora de seu habitat, apenas como uma reserva de futuro, Demorou muito para que parte da cigncia entendesse que os recursos genéticos fazem parte do ecossistema natural ¢ cultural, na maior parte das vezes associados aos povos e as comunidades humanas. As discusses sobre a crescente perda de recursos genéticos eresceu na sociedade civil e cientifica intemacional e nos anos que se seguiram & Conferéncia de Estocolmo assumiram centra- lidade nos debates ambientalistas e socioambientalistas. Diante disso, um dos prineipais enfoques dados pela Conferéneia das Nagdes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, consistiu na protegao e gnarda da diversidade biolégica, do que decorreu a aprovagio do texto da DB ACDB, entio, estabeleceu duas estratégias de protegio da biodiversidade, mediante duas formas de conservacao, uma mantida como “ex situ”, manntengao de genes ou conjunto de genes em condigdes artificiais, e outra, * com as espécies vivendo em sen habitat natural, muito nais efetiva e abrangente, porque pode proteger todas as espécies ao mesmo tempo. Entre os meios de protegio in situ esti o incentivo a que os povos tradicionais mantenham ¢ desenvolvam sua cul- tura de uso compartido da natureza estabelecido no artigo 8, j, da Convengaio. Sobre as estratégias ex situ de conservagio, Jodo Rodrigues de Paiva, agronomo da EMBRAPA, doutor em melhoramento genético vegetal e pesquisador, explica que as diversas insti- tuigdes concluiram que ha limitagdes da conservagao da variabilidade genética de espécies através de colegdes e bancos de germoplasma (ex situ: 1 situ ‘Afora os problemas de natureza nao técnica que, muitas vezes, provacam solugio de continuidade no sistema de conservasao, os problemas de ordem técnica séo limitantes para certas culturas e de solugilo onerosa para muitas, devido ao desequilibrio biol6gico rovocado pelo monecultivo. (PAIVA, 1994, p. 66) Estudos apresentados por Santonieri e Bustamante (2016, p. 682) demonstraram, igualmen- te, que a conservagao ev situ mostrou-se insuficiente, uma vez que as espécies vegetais que foram mantidas fora de seu habitat natural apresentaram maiores dificuldades de se adaptarem novamente a0 ambiente no momento de reintrodugio natural, Diante dessas dificuldades priticas, e reconhe- cendo a importancia dos povos e agricultores tradicionais para a conservagao da biodiversidade, a CDB em seu artigo 8° definiu as obrigagdes dos paises signatirios para a conservagao in situ, Em sett artigo 9° estipulou que a conservagao ey situ sera feita na medida do possivel e com a finalidade de complementar a conservagao in situ, o que significa um reconhecimento da importancia da na- tureza e de seu trabalho e criagao na preservagao dos ambientes e, principalmente, da alimentagao humana Na conservagao ev sit é dispensado o trabalho da natureza, Na conservagao in situ ou on farm & mantido 0 conhecimento tradicional dos povos e agricultores, a troca e o contato direto com o trabalho da natureza. Sobre o assunto, Santonieri e Bustamante elucidam que: “nas duas iltimas décadas, [hi] um processo de reconhecimento cada vez maior do papel dos agricultores, nao sé no interior do programa de conservagao dos recursos genéticos, mas também como atores findamen- tais na produgao de conhecimentos sobre a agrobiodiversidade.” (2016, p. 684), ‘Nao poderia ser muito diferente a posigao de uma Convengio Intemnacional para a preset vagiio da Diversidade Biologica ao privilegiar a conservagio in situ, que ndo apenas tecnicamente R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F MI. de, S SANTOS, TG. D. protege toda a biodiversidade. Deve ficar claro que a ideia de preservar a biodiversidade em locais imunes a ago humana, mesmo de povos tradicionais, se equipara 4 preservagdo ex situ porque attificializa a relagao da natureza com a cultura, Por isso, 0 documento intemacional sedimenta 0 entendimento de que a conservagao de materiais oriumdos de recursos da biodiversidade é insufi- ciente, sendo necessario, para além disso, reconhecer o papel do conhecimento dos povos e dos agricultores tradicionais para a conservagao e expansao da biodiversidade ‘Muitas formulagdes presentes na CDB que representam tm avango na protesao da biodiver- sidade, porém, contém grandes limitagdes porque reduzem a natureza a seu valor mercadolégico, na medida em que nao apresentam mecanismos concretizadores de outras estratégias sobre a natu- 1eza, tampouco da protegdo dos conhecimentos tradiciouais associados a biodiversidade 3 ALEGITIMACAO POLITICA E JURIDICA DA MERCANTILIZACAO DA NA- TUREZA E APROPRIACGAO DOS CONHECIMENTOS TRADICIONAIS Na década de 1960, ao lado da preponderincia das estratégias de conservagio ex situ para conservagao da biodiversidade ganhou forga um modelo especifico de produgao, comércio e ex pansio agricola conhecido como “Revolugiio Verde”. Tal paradigma foi responsivel pela expansio das fionteizas agricolas que caminhou ao lado da proposta de industrializagao do campo mediante 0s pacotes financiados e subsidiados de insumos agricolas e maquinétios voltados produgao de monoculturas, Desta forma era possivel desmatar, envenenar, desconsiderar 0 conhiecimento tradicional dos camponeses ao classificé-lo como método arcaico e ineficaz de produgdo e conservagio da biodi- versidade. Isto parecia positivo porque a conservagao da biodiversidade era feita ex sin, dispensan- do os habitats naturais, com a formagao de bancos de germoplasma ¢ laboratérios, tudo controlado pela cigneia, Significava passe livre para destruir a natureza e expandir as fronteiras agricolas, j4 que a natureza e stas sementes ¢ cultivares estavam “enjauladas” nos bancos de germoplasma Assim, com um complexo proceso viabilizado pelo conjunto de mudangas tecnolégicas ocorridas no campo mediante a Revolugio Verde, foi possivel acentuar a concentragio da pro- priedade da terra ao mesmo tempo em que se criavam novas formas de transformagao da natnreza em mereadoria, 0 que ocorren ao se incorporar as sementes e cultivares por meio da propriedade intelectual ao projeto de expansao do capital Desta forma, expresso do método de conservagio ex sit da biodiversidade foi forjada pelo setor empresarial rural como saida para contengio da exosio genética, Sobre o assunto elucida Juliana Sautilli (2009, p. 226) que: (Os bancos de germaplasma atendiam as necessidadles dos setores formais, ¢ os centros internacionais de pesquisa agricola se voltavam especialmente para o desenvolvimento de variedades de alto rendimento, dependentes de insumos externos caros, aos quais os agricultores pobres nao tinham acesso, ¢ as variedades localmente adaptadas nao recebiam ‘a mesma atengo, Assim, a conservagio ex siti passou a ser cada vez mais associada a revolugao verde. Além disso, os agricultores sempre tiveram pouco acesso a0s recursos fitogenéticos conservados em bancos de germoplasina R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. E possivel afirmar que as estratégias ex situ de conservagiio da biodiversidade nao propicia- ram acessibilidade aos agricultores. Somadas ao arcabougo legislativo constituido nesse contexto voltaram-se primordialmente a garantir que, cada vez mais, as sementes ¢ a biodiversidade destina- das & alimentagdo humana fossem propriedades das grandes empresas multinacionais sementeiras Nesse contexto, o agricultor que tradicionalmente produzia, multiplicava e trocava com ou- ‘0s agricultores suas sementes, passou a ter que pagar por um pacote de sementes, fertilizantes ¢ agrotéxicos para as indistrias do agronegdcio e bancos de germoplasma, porque stias sementes passaram a ser proibidas de uso e comercializagao. Percebe-se que os direitos de propriedade sobre sementes e cultivares atrelaram-se a movi- mentos econdmicos proprios do capital rural biotecnolégico, expresso pela busca de novas formas de aumentar e valorizar as possibilidades de acunulagao. Neste sentido, se confirmaram as afirma- ges feitas por Karl Marx, no século XIX, ao explicar a acumulagao priméria enquanto um pressu- posto da expansio do capital e o papel das leis em garantir tal acummulagao: (© progresso do século XVIII consiste em ter tomado a propria lei o veiculo do roubo das terras permanentes ao povo, embora os grandes arrendatarios empregassem simulténea € independentemente seus pequenos mietodos particulares. O roubo assume a forma parlamentar que lhe dao as leis elativas ao cercamento das terras comuus, ou tnelhor, os decretos com que os senhores das terras se presenteiam com os bens que pertencem ao ‘povo, tornanco-os sua propriedade particular, deeretos de expropriagao do povo. (MARX, 2017, p. 846) Assim como os processos de acumulacao do sécnlo XVIII foram legitimados e impulsionados pela lei, também no final do século XX e inicio do século XXI, sio as leis que legitimam o mesmo proceso de usuzpagdio da natureza Primeiro o direito transformou a terra em propriedade, depois, aplicando a mesma abstragao da propriedade privada, passou a considerar tudo como mereadoria Assim ocorrett, por exemplo, com as sementes, com a dgua e recentemente isso ocorre com os conhecimentos tradiciouais associados a biodiversidade, transformados em propriedade imaterial. Exemplo disso poss direito expressa a crescente tendéncia de usurpagao privada da natureza, Tal lei regulamentow a CDB no Brasil e trata do acesso ao patriménio genético, da protegiio e do acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a reparti¢ao de beneficios para conservagiio e uso sustentavel da bio- diversidade, revogando a Medida Provisoria n. 2.186/2001 (MOREIRA er al. 2017). ALein, 13.123 de 2015 também definiu 0 conceito de condigdes in situ de conservagao da biodiversidade como aquelas “condigdes em que o patriménio genético existe em ecossistemas e habitats naturais ¢, no caso de espécies domesticadas ou cultivadas, nos meios onde naturalmente tenham desenvolvido suas caracteristicas distintivas proprias, incluindo as que formem populagdes espontineas” (art. 2°, XXV). Como condigdes ex situ conceituon as “condigdes em que o patrimd- nio genético é mantido fora de seu habitat natural” (art. 2°, XVID) ‘Mais precisamente, é no artigo 2°, inciso TIT, que a Lei n. 13.123 de 2015 viola 0s direitos co- letivos. Assim dispde a lei no artigo 2°, inciso III - “conhecimento tradicional associado de origem nao identificavel - conhecimento tradicional associado em que niio hd a possibilidade de vincular a sua origem a, pelo menos, una populagdo indigeua, comunidade tradicional ou agricultor tradicio- nal”, Embora a motivagao da edigao da referida lei tenha sido justificada pela necessidade de prote- vel ser observado na Lei n. 13.123 de 2015 que demonstra como 0 R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos © produsao campor FILHO, C.F. M. de, S SANTOS, T. . D. ger e reconhecer o conhecimento dos povos tradicionais e dos agricultores tradicionais, a sociedade civil e a doutrina especializada vém apresentando diversas criticas (MOREIRA er al. 2017) ALei n. 13.123 de 2015 desrespeita o conhecimento coletivo dos povos tradicionais ¢ dos agricultores tradicionais, entre os quais a propria lei inelui o agricultor familiar, conforme o inciso XXXI, do artigo 2°, ao tratar do conhecimento nio identificavel como forma de individualizar di- reitos coletivos, justamente por existirem direitos que pertencem a muitos povos, tomando-se difi- cil identificar de qual povo surgitt o conhecimento, uma vez que este conhecimento é coletivo, isto é, de muitos e nao de um s6. Em contrassenso, a lei permite a apropriagao desses conhecimentos sem a repartigao de beneficios com os povos e agricultores tradicionais quando no artigo 9°, § 2°, dispde que “o acesso a couhecimento tradicional associado de origem nao identificavel independe de consentimento prévio informado.” Neste sentido Alain. 13.123/15, embora anuncie que protege os conhecimentos tradicionais associadas aa patrimdnio genético de populagées indigenas, de comunidade tradicional ou de agricultor tradicional, o que. na realidade, faz, é permitir ¢ organizar a exploragao econémica do ppatriménio genético nacional e dos couhecimentos tradicionais a eles associados. Neste sentido, contorna as natursis dificuldades existentes para essa exploragio que, de um lado, encontra o interesse econémico, e, de outro, o interesse de todos os direitos das populag6es tradicionais. Exatamente porque € enorme a contradigao entre estes polos © maior ainda a dificuldade de contorné-Ias, a Lei nao hesita em violar as demais Leis do Estado e as Normas Intemacionais que o Brasil reconheceu e intemalizou, alem de evitar avangar ¢ aprofundar questées como a origem, 0 teritorio e a consulta previa. A Lei ‘viola a Coustituigdo, viola as Convengdes ¢ fere os Tratados sobre os direitos dos povos. (SOUZA FILHO, 2017. p. 122) Aiinda no sentido da usurpagio da natureza e do conhecimento tradicional associado A biodi- versidade, outras legislagdes devem ser objeto de criticas, como, por exemplo, a Lei n. 10.711 de 2003, que dispde sobre o Sistema Nacional de Sementes e Mudas, uma vez que impoe um sistema formal que s6 as empresas sementeiras conseguem cumprir. Segundo Juliana Santilli (2009, p. 154); © impacto sobre a agrobiodiversidade ¢ perverso: deixam de ser produzidas (¢, ‘consequentemente,utilizadas)sementes de ariedadesadapradas a condigdessocioambientas especificas e passam a ser produzidas apenas as variedades comerciais, vendidas em larga scala, cujos custos para a manutengao da estrutura técnica exigida pela le s4o compensados ‘com as vendas em grandes quantidades. Para a autor: . Lei de Sementes e Mudas impde excessivas restrigdes/limitagées para que os agricultores possam produzir suas proprias sementes, desconsiderando o fato de que essas semen- tes so, em geral, as mais adaptadas as condigdes locais. (SANTILLI, 2009, p. 147-148) Demonstrando a continuidade deste movimento expresso pelo direito, tramitam no Brasil di- vversos Projetos de Leis, que se coadunam com a tendéncia de crescente apropriagao privada da na- tureza, especialmente da sua biodiversidade e dos conhecimentos tradicionais associados. Um dos exemplos é 0 Projeto de Lei (PL) 827 de 2015 de autoria do ex-deputado ruralista Dilceu Sperafico (PP-PR) e que tem come proposta a alteragdo da Lei de Protegdo de Cultivares Lei n. 9.456 de 1997, que ja é bastante restritiva aos dizeitos socioambientais dos agricultores. Esta lei regulameuta a propriedade intelectual referente as eultivares que sio plantas que tiveram alguma modificagaio pela ago humana. A proposta deste PL é de condicionar a comercializagdo do produto que for ob- R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. tido na colheita a una autorizagdo do detentor (que geralmente so as indtistrias sementeiras) das cultivares e, também, tem o objetivo de aumentar o nimero de cultivares protegidas, para restringir © acesso € a utilizagao livremente pelos agricultores, tomando propriedade privada o que antes era de acesso commum dos agricultores e povos tradicionais. Assim, um modelo excludente da natureza, dos povos indigenas e tradicionais e dos agricul- tores foi construido a partir da modernidade capitalista. Por outro lado, os camponeses, indigenas e nao indigenas, continuaram em resisténcia as formas de acumulagao primitiva e capitalista. Os camponeses sempre se puseram em resisténcia a acumulagao primitiva que trouxe a grande revolu- go agraria no campo, ao fazer a transigao do fendalismo para o capitalismo, a partir dos cereamen- tos e aumento da produtividade, que levou & coustituigdo da propriedade privada, Neste sentido, ver: WOOD, 2000 e SCOTT, 2011 4 RESISTENCIA CAMPONESA A MERCANTILIZACAO DA NATUREZA: OS BANCOS DE SEMENTES E AS JORNADAS DE AGROECOLOGIA DO MST NO ESTADO DO PARANA. Com uma trajetria de resisténcia marcante no Brasil o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Tera (MST) ¢ uma organizagao iniciada na década de 1980, em decorréncia da marginaliza- gio € exclusio dos trabathadores rurais das terras. Durante esses 35 anos de caminhada ¢ Inta pela sobrevivéncia e pelo acesso a terra, o MST foi percebendo que o que estava em disputa era muito mais do que o acesso 4 terra. Para a ma- autengao da cultura camponesa e manutengao da propria terra nas mos das familias era preciso pensar em outra forma de produgao sem a dependéncia das induastrias agroalimentares ¢ buscando alternativas para alcangar a soberania alimentar dos coletivos, das familias, dos acampamentos & assentamentos, nascendo, assim, experigncias de agroecologia. Era preciso produzir alimentos e proteger a natureza para produzi-los. A agricultura con- veneional ou industrial, baseada no uso intensivo de agrotéxicos e de monocultura extensiva, s6 8 vidvel em grandes extensdes de terza, por isso, se © pequeno agricultor produz desta forma acaba por se destruir como projeto e faz voltar a concentragao fundidria com o empobrecimento ou a ex- pulsio da maioria dos agricultores da terra. Para a pequena agricultura familiar a altemnativa acaba sendo um modelo que interage e protege a natureza e mantém a biodiversidade como fundamento da produgao. A altemativa agroecologica exige a existéucia, permanéneia e couservagdo das sementes crioulas e do conhecimento tradicional nas mnaos dos camponeses e dos povos tradicionais, porque as sementes e a biodiversidade deve permanecer em harmonia ¢ interagao, Desta forma, a partir de praticas que expressam resisténcia contra a crescente mercantilizagao da natureza, agricultores perpetuam bancos de sementes crioulas com tecnologias simples de conservagiio, uso de garrafas pets e potes de vidro, trocas de receitas de caldas para substituir os fertilizantes quimicos, trocas de conhecimentos para determinarem qual espécie vegetal serve para a recuperagao do solo entre uma safra e outra, entre outras muitas priticas trocadas e repassadas entre os agricultores sem objetivo econdmico, priticas realizadas tanto em pequenas feiras de sementes locais pelo interior do pais quanto em grandes feiras como é o caso das Tomadas de Agroecologia pelo Brasil R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F MI. de, S SANTOS, TG. D. As sementes, mantidas in situ, devem permanentemente ser trocadas, por isso quanto maior 6 intercambio, maior a possibilidade de manutengdo. As Jomadas de Agroecologia propiciam este intereémbio e fortalecem a figura do “guardido de sementes” que é a pessoa que guarda, reproduz, troca e conserva viva a cultivar, plantando e cultivando in situ As Jomadas de Agroecologia sio encontros realizados em alguns Estados brasileiros, como Bahia ¢ Parana, entre os Movimentos Sociais do Campo, Organizagdes Nao-Governamentais, Universidades, professores, pesquisadores e artistas do Brasil, da América Latina e Caribe. No Estado do Parana as Jornadas de Agroecologia acontecem anualmente e de forma itinerante desde 2001 (MOREIRA er. a/., 2018), ano em que nasceu sob o tema “Jomada de Agroecologia — Terra Livre de Transgénicos e Sem Agrotoxicos” (TARDIN, 2009). No caminhar da Refouma Agritia Popular Agroecolégica novos temas foram se agregando ao debate nas Jomadas de Agroecologia, temas como a educagiio do campo, a saiide popular, género, LGBT, economia solidaria nas cidades, cooperativismo, politicas publicas para o campo, mas sempre partindo da matiiz agroecologica e das sementes crioulas. Em 2018 a Jomada de Agroecologia completou sua 17* edigao no Estado do Parani e, pela primeira vez, foi realizada na cidade de Curitiba, com o objetivo de promover wm encontro entre campo e cidade', Apesar de muitas adversidades enfientadas, no iiltimo dia da feira foi presenciada a importancia dos guardides de sementes para a conservagao da biodiversidade e do conhecimen- to tradicional associado a ela quando um morador da cidade, a partir das sementes multiplicadas por ele em sua horta urbana, chegou para trocar uma espécie rara de semente com um guardido de sementes do MST. Eram quatro ou cinco grdozinhos de sementes do popularmente conhecido como “feijao magico” que estava perdido, E 0 encontro entre guardides de sementes do campo e da cidade aconteceu justamente na recuperagao de uma semente tdo querida e to procurada pelos agricultores tradicionais. Uma vez recuperada a semente os guardides tém a obrigagao de reprodu- Zi-las e distribui-las, mantendo sua conservagao e guarda in sity, Talvez por travessura do universo, sob o nome de “feijo miigico” se deu esta recuperagio de perdida semente no improvavel mundo lmano/urbano, onde prolifera tudo, menos a biodiversidade. Magia que segue associada ao co- ahecimento tradicional para a couservagaio e multiplicagao de semente e de vidas. Jonas de Souza, camponés, produtor do Acampamento Agroecolégico José Lutzenberger do MST, localizado na Mata Atlantica do Litoral Norte do Parana, disse: “quem protege a natureza so as pessoas que nela vivem”. E ¢ assim que os camponeses nao indigenas se somam aos indigenas ¢ demais populagdes tradicionais para provarem que os povos e os agricultores podem ter a magia do conhecimento tradicional que protege e multiplica a biodiversidade, com tecnologias simples, com muita interagao com a natureza, com respeito as formas diversas de vida, produzindo prinei- palmente para viver e dar de viver aos outros humanos e nao hnmanos, sem preocupagao com a riqueza acumulada em cofies e enaltecendo a riqueza da biodiversidade CONCLUSAO A vida do ser humano enquanto realidade fisico-quimica e social demanda a satisfagiio de ne- cessidades, para satisfazé-las é preciso agir sobre a natureza, Apenas a partir desta singela percep- go da existéncia humana na terra percebe-se que a histéria da natureza ¢ a historia do ser humano, R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos e producdo camponesa de alimentos FILHO, C.F. M. de, Sj SANTOS, T. GD. embora contraditérias, estdo reciprocamente conectadas, e modificam-se incessantemente. A natu- reza e as relagGes sociais exigem o agir do ser humano, 0 ser humano se transforma constantemente nesse agir ¢ novamente a natureza acaba modificada, em um movimento miltiplo, A forma como seres humanos produzem suas vidas depende dos meios j encontrados e que precisam reproduz depende da natureza que encontra e das relagdes sociais existentes, porém como ser lnmano também teleologico pode também agir sobre a mudanga, de forma que a consciéneia é determinada pela vida, da mesma forma que a vida pode ser transformada pela consciéncia Mediante a percepgao do processo reciproco entre ser humano e natureza, como um pressu- posto histérico indispensével da vida humana na terra, percebe-se a verdadeira natureza da biodi- versidade: um complexo que envolve miltiplas determinagdes ecossistémicas, as quais relacionam um processo milenar de adaptagao de espécies a partir de condigdes bidticas e abidticas, incluindo Ges climéticas, processo no qual a espécie humana vem assumindo impactos diversos que ocorem ha milhares de anos no planeta. Apenas mediante percepgdo da grandeza que o fendmeno da diversidade biolégica representa tomma-se possivel 0 desenvolvimento de es- tratégias passiveis de atuar em sua protepao e este consiste em um dos principais desafios para 0 Direito contemporaneo. Desde as origens do sistema juridieo modemo o direito coloca-se no mundo como principal forga legitimadora de processos sociais e econémicos pautados pela mercadoria, Isso ocorre prin= cipalmente mediante a abstragao juridica representada pela figura da propriedade e pelos aparatos de sua defesa. A partir do avango das novas tecnologias emergin a biotecnologia, que desafiou os regimes legais existentes de propriedade. Nesse cenirio, a genética, os conhecimentos tradicionais €-as espécies passaram a ser objetos de interesse comercial. A fim de elevar o status de propriedade desses aspectos tidos como recursos, é que o regime de propriedade vem sendo reformulado, ndo sem o impacto de conflitos ambientais ao redor da biodiversidade, os quais se expressam principal- mente pelas altemativas de povos e comunidades tradicionais e camponeses No contexto em queas estratégias de couservagao de recursos genéticos ex situ sie amplamente rechagadas, visto sua ineficiéncia, bem como em um quadro no qual a erosao da biodiversidade expressa um risco tanto para a vida no planeta em geral, quanto em particular para o avango do capital biotecnologico, agdes alternativas e ecossistémicas de protegao da biodiversidade assumem grande potencialidade de impactar sobre a totalidade. Para além do interesse sobre os conhecimentos tradicionais © camponeses, aumenta a consciéneia sobre a dependéncia do desenvolvimento do capital biotecnoldgico e ambiental sobre a diversidade biologica inerente as formas de vida nao capitalistas. Meio a esta realidade complexa e dialética na qual a biodiversidade é regulada pelo direito, as formas juridicas assumem papel estratégico e seus sentidos e efeitos devem ser compreendidos enquanto parte desta realidade, a partir de um esforgo critico, diverso e complexo. fendmenos e condig NOTAS 1 Sobre as Jomnadas de Agroecologia do MST no Parana ver: hitp://www.jomadaagroecologia com. br! R. Fac. Dir UFG, v.43, p. O1-17, 2019: e0000% Biodiversidade, direitos # produs3o camponess de alimentos FILHO, C.F. M. de, S SANTOS, T. . D. REFERENCIAS DIEGUES, Antonio Carlos (ORG). Os saberes tradicionais e a biodiversidade no Brasil. Sic Paulo: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hidricos e da Amaz6nia Legal, COBIO-coordenadoria da biodiversidade. NUPAUB-Nitcleo de Pesquisas sobre PopulacSes Humanas e Areas Umidas Brasileiras— Universidade de So Paulo, fevereiro de 2000, FOLADORI, Guillemo: PIERRI, Naina (coord), ;Sustentabilidad? Desacuerdos sobre eldesarrollosusten- table. 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