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ARQUITETURA E EDUCACAO DO CORPO: NOTAS INDICIAIS Carmen Ltieia Soares Andrés Zarankin** Resume corpo, cm sua materialidads, pode se trazide deena como possibilidade para se pensara vida humana «toda aeomplexidade de suas interagbes, Cncunserito em quadros relacionais bem precios, &capaz de ‘eselarcerum mando (Vigarlla, 2003p. 4). Testo constr por iberdades.intesligdes. erevelador {e soeicldesintieas, o eorpo pude ser tomaulo como sintese wisivel da inewivel inter-elagio entre palureca e cultura. Seus mitiplos sntidos, ssn, pdem ratiplos lores para que dele se Fae (O compo, portant, & também expressio do tayo eseulpido na pedra. no conert0, nos g comin esta meniria e G taunhéa, emda, Sua educagdo se na telugao com a materatidade do mundo, Asimplieagoes disso sao claras quando se ra de pensar no papel da anuitetura nesta cducagto itrodugio Vitnivioilustrao seu Tratado de Arguitezura como desenkio de um corpo, conhecide como medida proporcional do corpo humano.' Distante ainda da simettia prépria & perspectiva, mas bem esquadrinhada por linhas horizontais e vertica = esta im Mestre em Filosofia ¢ Historia da Educagio pela PUCISP, doutora em Eiucagio pela FE-Unicamp protessora da Faculdade de Educagio da Unicamp, inicamp, pessisador do Departamento de Investigagdes Arqueol6gicas © PrHistineas do Conieet (Argentina e professor aljuno da Universidade de Buenos Aises. "Ver atespeito as andlises empreendias por Claudia Marinho Wanderley em Nogdes de sie dla linguergem. Campinas, Tese«doatora),Isiuto de Estados da Linguagem-Unicamp, 2008, outor em Histdria pelo IFCH secnologias as Campinas, W: 23-35,2004 mM Aguitetua € educa do corpo: notas indicias ) pode ser lida como tum mapa de proporedes do corpo” representa a concepeio do hdbitat humano e suas proporgdes perfeitas, Eo corpo humano que se traduz em beleza, firmeza e utilidade, qualidades imprescindiveis & arquitetura conforme os ensinamentos de Vitnivio, Iniciar este texto com a rememoragao desta imagem do corpo em uma obra de arguitetura da Antiguidade indica as miltiplas possibilidades de leitura das relagdes ora sutis, ora explicitas, ora amplamente comentadas, ora ocultadas, porém sempre em paula, entre corpo e arguitetura, Panl Valéry observa que io terminado nos expde, num tnico olhar, uma soma de imengdes, ncies, dos conhecimentos & das forcas que sua existéncia implica; cle manifesta a luz a obra combinada do querer, do saber ¢ do poder do omen (2). A arquitetura, como parte da mem@ria coletiva e individual de uma sociedade, também conduz nossos pasos, constitui uma outra linguagem, suarda segredos, controvérsias € nos condiciona, As ruas, cmolduradas por estes atos de conhecimento que se traduzem emedificios, casas, eastelos, escola... rufnas de todas as 6poeas, sio nossos lugares dle passagem, de socializagio, de educagio. O corpo que cruza veloz ou lentamente os quilémetros de construgies, portanto de histéria humana, € ali também condicionado pela sucesso tensa e contradit6ria dessas agGes no tempo materializadas pela arquitetura. Neste sentido, a experién pode construir uma outra narrativa cidade.* Isto. porque a educago do corpo se di na relagao com a materialidade do mundo e as implicagées disso so claras quando se trata de pensar a arquitetura. Seri a diversidade dos corpos considerada nos projetos de urbanizagd0? Seriam os espagos destinados aos divertimentos pensados e concretizados a partir de uma premissa que considera a diversidade dos corpos? Richard Sennet vai afirmar que “o corpo humano encobre um caleidoscdpin de épocas, uma divistio de sexos.eragas, oeupando um espago a corporal tarnl caracteristico nas cidades do passado e nas atuais”.* seus gestas sao eapazes de revelar Cladia Wanderley. opt, 2003, Ver por exempla Richa Sennet, Come « Pea, Rio de fans: Revord, 1997. Sennet, op. cit, 1997, ua, Campinas, 10: 23-35, 2004 Carmen Licia Soares e Andrés Zavankin 25 ‘e6digos e sentidos de uma sociedad inteira, conforme nos ensinam Marcel Mauss" ¢ Lévi-Strauss." Como lugares de inserigéio da cultura, os corpos também revelam as ccidades, revelam a sua materialidade, (4) mais do que isso, elas afetam os corpos que as constroem ¢ guardam, em seu modo de ser e de aparecer, os tragos desta afeccdo. Hé um trdnsita ininterrupto entre ox corpos e 0 espaco urbano, hd un prolongamento infinito ¢, em via dupla, entre 0 gesto humano ¢ a marca “em concreto” de suas ambigies ¢ de seus receios.” E possivel, ent&o, pensar que os corpos so educados por toda a realidade que os cireunda, por todas as relagdes que se estabelecem, pelt materialidade do mundo. Poeticamente, Pasolini afirma que (..) 4 educagdo que um menino recebe dos objetos, das coisas, da reatidade fisica — em outras patavras, dos fendmenos materiais da sua condigdo social — tornd-o corporalinente aguito que é ¢ sera por toda a vida. O que é educada é sua carne como forma de seu espirito. A condigao social se reconhece na came de um individuo... Porque ele foi plasmade justamente pela educagao fisica da matéria da qual é feito 0 mundos © corpo, portanto, revela toda a imposigao de limites sociais e psicol6gicos que s dados 8 sua conduta, permitindo, assim, compreender a dindmica de elaboragiio de cédigos, técnicas, pedagogias, arquiteturas ¢ instrumentos desenvolvidos para submeté- loanormas. Pode-se afirmaraqui que o corpo vem sendo tanto 0 objeto quanto a vitima preferencial da civilizaga Marcel Mauss pode ser considerado quase unt Fundador de uma compreensto do cospo come um objeto istic. Vera respeito Marcel Mauss, Saciolagie Antrapologéa, Sio Paulo: EPU/EDUSP, 1974 (Cap. ‘ogi de Téenien Comporal pp. 211-233), * Claude Lévi-Strauss, “Intodugio i obra de Marcel Mauss", nx MAUSS, M. Sociologia ¢ Animpotogia (v0 1, Sto Panto, Edusp, 1974, p. 48), "Denise Bente de San’ Anna one, Politica do corpo. Sto Paulo: Estagio Lierdade, 1995p. 17, » Pier Paolo Pasolini, Os jovens injelizes, So Paul: Brasiliense, 1990. 127 26 Anguiterura e educagdo do conpo: nots indiciais A arquitetura Como assinala Foucault, a capacidade de controlar o espago é uma condigio para 0 funcionamento do poder e é neste sentido que a arquitetura, como forma de construc fisica da paisagem cultural, torna-se dispositivo eficaz para tal fim, Desta forma, entendendo a arquitetura como uma tecnologia do poder (Foucault, 1976; Grahame, 1993, 2000; Zarankin, 1999, 2000), « sua manipulagdo pode ser considerada uma estratégia do poder para perpetuar-se As construgées arquiteténicas, como por exemplo a moradia familiar, a escola, os _iltiplos locais de trabalho e mesmo de divertimento, constituem-se em limitesartficiais conde 0s corpos so confinados ¢ educados. Estes limites muterializados por atos de conhecimento regulam a forma peli quill ay pessoas Se encontram no espago e, portanto, favorecem ou limitam relacionamentos pessoais (Markus, 1993; Grahame, 1995, 2001), Importiincia central pode ser atribuida a estruturas arquitetonicas vineuladas mais diretamente aos processos de socializagtio das pessoas, como a moradia familiar © a escola, lugares nos quais ¢ ineorporaula a maioria dos esquemas mentais assumidos pelo resto da vida, conforme assinala Bourdieu (1977), Assim a arquitetura pode ser pensada como um tipo de comunicagao niio-verbal, silenciosa, ¢ Hida como discurso que transmite miiltiplas mensigens, Formas distintas & ais sensiveis, palpaveis e, sobretudo, mais proximas dos que nao t palavra (ex. Punosky, 1957: Eco, 1968). Na longa e conflituosa passagem da sociedade medieval para capitafista, cada vez mais as atividades humanas passam a ser realizadas dentro de estruturas constr delas dependentes para serem realizadas, e isso eer possivel afirmar que a maioria das atividades e priticas sociais quotidianas passou a desenvolver-se dentro de prédios, dando lugar a uum processo de “arquitetonizagaio” paisagem humana (Zarankin, 2002). Os séculos XVITe XIX atestam esta assergio constituem-se em um tempo no quil se multiplicaram, nas universidades, 0s cursos que diio um cariter académico ao ensino da arquitetura, tornando-o um conheeimento normatizado, Num certo sentido, inaugura-se mais uma atribuigao do sisterma, qual seja, de formar e controlar os novos profissionais autorizados a eonstruira propria paisagem do capitalismo, aca, Campinas, 1023-35, 2004 Carmen Leia Soares e Andrée Zarankin a por meio da especializacio e regulagao do ensino. Aos arquitetos é reservado um lugar de relevancia na sociedade; convertem-se. assim, em profis pritic idgias e discursos, muitas vezes representativos do poder de individuos, grupos e classes em estruturas fisicas. No que concere a esta problemitica, Eco assinala que o desenho arquiteténico tem inserido uma ideologia global que regea ugio do arquiteto (Heo, 1968) e que se expressit por meio de normas ou cédigos que atuam sobre a produgao arquiteténiea, Conforme as palavras do autor, $“(..) nos obligan a movernos dentro de una determinada gramstica del construir, tan conereta y li codificada con ef nombre de Ciencia de Ia Construceién’ stas normas e esses c6d 9, 1968, p. 365). Mais amplamente, pode-se inferir que, pela natureza de seu conhecimento, a arquitetura ". sisface algunas exigencias de la gente, pero al mismo tiempo las persnade para que vivan de una manera determinada” (1968, p. 367) Arquitetura, escola ¢ educagio do corpo Pensarno lugar ocupado pela arquitetura no processo de formagio do mundo moderno cia na educagio do corpo, parece ser uma tarefa siria, AS transformagdes do capitalismo, evidenciando seu paralelo material, mudangas nunca antes vistas na forma de co cidade. Espacos, decoragdes, distribuigdes e morfologias da arquitetura acentuam a importancia de sua dimensdo ideolégica ¢ simhdlica e permitem, assim, pensar por exemplo na organizagiio curricular das escolas e perceber que a auséneia de determinado conhecimento ou modos como outros conhecimentos sto apresentados ceber, construir, estruturar & tém o seu correspondente direto dado pela organizago do espago, pela construcio, pela arquitetura (Zaranikin, 2002). Pode-se assim pensar nos discursos inseridos nas paredes, os quis acabam contribuindo para modelar 0 habitus dos individuos de nossa sociedade, F possivel, portanto, compreender a “consirugio material da escola como forma de ampliar (0) cntendimento dos processos de produgao e reprodugo da sociedade moderna”? Desse modo, procede-se a uma busea de compreensiio das subjetividades Andeés Zarinkin, Paredes que domesticam: arnqueologia dea arquiterira escolar capitalist @ caso de Buenos Ates. Campinas-SP: Conteo de Hist da Arioe Argueologia, IECH-Unicamp/Fopesp, 2002, p15 Rua, Carina. 10: 23-35, 2008 28 Anite © educaci dle compo: notas indicts ‘ullurs material, considerando as transform: itimagiio do poder sociedades & pensar também no modo e es no tempo eas Pensar des”, sempre provisériase mutiveis, sio construfdas por meio de miltiplas pritieas, sendo a manipulacao da cultura material uma delas, 0 que nos permite compreender a arquitetura como tecnologia de poder. Ha uma domesticagao silenciosa das paredes, muros, estruturas arquitetOnicas, e pensé-las como extensiia dos seres humantos talvez.nos permita pensar as conquistas, os problemas e as angistias do presente vivido num mundo urbano, cada vex mais radicalmente transformado. Pensar, ainda, a propria idéia de construgao, supostamente voltada para « harmonia e felicidade humanas, como atividade que Faz a passagem da desordem para a ordem, num mundo que faz uso deliberado do arbittario, para, também supostamente, atender is necessidades (Zarankin, 2002). Na sociedade moderna, muitos ediffcios, pela orgati hierdrquica e no-distributiva do espago, revelam em sua materialidade consiruida relagdes de poder assimétrieas e, deste modo, limites coneretos aos deslocamentas, aos encontros entre pessoas, iisua liberdade de ir vir. A partir dessa compreensdo. é possivel equiparar as a verdadeiros teatros do poder (Markus, 1993). ‘AS formas atuais das escolas, as prisdes, os hospitais, as moradias familiares, cidades em seu conjunto representam um modelo de sociedade, um modelo de individuo cestruturas arquitetdnic aclequado e ttl ao sistema predominante, Desigualdade, individualismo, vigitancia, controle, flexibilidade, complexidade, hierarquia, so componentes freqiientes de qualquer prédio modierno. Conceitos silenciosos assimilados pelo corpo aos entraves de préticas cotidianas. Rotinas que, ao se repetirem, constroem modelos de individuos. A arquitetura nao pode ser pensadla como uma pritica humana neutra, pois sua mensagem marca, para sempre, (8 NOssos corpos. Pr icas corporais arquitetura: um exemplo de domesticacao sutil Piscinay retangulares “semi-olimpicas”, quadras “poliesportivas”, academias de “gindstica” equipadas com indimeros aparelhos destinados 3 modelagem do corpo cfou 8 sua performance aerdbica fazem parte de nosso cotidiano urbano e do imagindrio sural, alcangado pela midia televisiva, como locais destinados as priticas eorporais, ua, Campinas, 10: 23-35, 2004 Carmen lacia Sones © Andrés Zarankin 29 Um olhar mais atento aeste aparato arquitetonico ¢ material revela uma padronizac de atividades, as quis parcela signifieativa da populagdo é “educada” a consumir como possibilidade Ginica de colocar o corpo em movimento, a0 largo da atividade produtiva do ‘mundo do trabalho. A titulo de exemplo, podemos voltar nosso olhar para a arquitetura das escolas de ensino fundamental ¢ médio e perguntarmos qual & 0 espago destinado as praticas corporais, se € que hi algum, Se partilhamos da idéia de ser a arquitetura"* um caso particular de linguagem, portanto possibilidade concreta de materializagio de discursos, podemos afirmar que nas escolas, mesmo naquelas que posstem precérias estruturas arquitetGnicas, quando algum espaco & destinado as priticas corporais, vamos encontrar as quadras “poliesportivas”. Do mesmo modo, naquelas que apresentam arquitetura © cequipamentos considerados ideuis, as quadras esto If, quando piscinas sto construias, e adquirem 0 formato seguem as especificagdes do esporte"’ de alto rendims rotangular da piscina “semi-alimpica Aparentemente nao Iii nenhum inconveniente em relagdo a essas construgdes, sejam em escolas on em outros lugares, até porque parece algo estabelecide que eolocar 0 corpo em movin em alguma academia superequipadaefou pra Para maiogesinformagaes, consular Andeés Zarankin,op.ct..2002, "C1. Valter Bracht:" Oesporte “modezno' desenvolve-sea partir do século XVIM en estreita relagio eo 9 desenvolvimento da scicdade capitalist ingles [..] ¢ vai constiir-se fundamentalmente a partie de vials do ambito do divertimento das classes doninantes no sea tempo livre-edos jozos popolares.[. (O desenvolvimenta e aexpansio do esperte aconteet tena camo pao de fund o prosesso de modemizayio dos séeulos NIX XX, [.] Matos dos clementoscaractersticns da sociedade moderna, no caso capitalista industial vo srincorpondos cfou est presente to export: orentago para o rendimentoe acompeti ientifizagao do teinamemoa ‘i anizagio hurocrtics, a especalizago de papsis, a posagosiz ial para expais0 do esporte promvida pelo maviment olimpico, neionalismo -esettime send e sta formaclep sca coxporal com estas erates, ov Sea. orienta pa Yeni expandirse « paris du sdeulo XIX para o cantinente europeu e vai tansfonmar.se ae fongo do sseule XX conti egemsnico da eultura corporal de movimento a nivel mundi.” In: Sociologia Crtiew do Exporte: uma iniradugao. Nitin UPES, Cento de Fidacogio Fisica © Desportos, 1997, pp. 95-97: ver rama Georges Vigarello, Du jee ecient au show spordlanassance do nye. Pris: Seuil 2002, temps da spo, In: CORBIN, A, Lavénement dex fois: 1830 1960. Pais: Aubiee. 1995, pp. 191-22: vor ainda a tevisia Comuuonication, Pars: Seuil, 1998, n, 67 (Le spectacle Ju sport jento wn compe a Campinas, 10; 23-39, 2004 30 Anguiterurae educagde do compo: notasindiciais alguma atividade “esportiva”. Torna-se dificil pensar praticas comporais ¢ lugares pura o seu desenvolvimento, seja em escoks ou fora delus, que nao estejam domesticados pela cultura do treinamento desportivo e todo seu aparato cientifico, nele inctuida a arquitetura esportiva, Talvez por isso aquele belo passefo num parque ou mesmo nas rus do baitto onde se vive se tore agora “exercicio”, os alimentos consumidos por décadas e que compunham a dieta de populacdes inteiras virem “calorias” e, muitas vezes, deixem de ser consumidos... A cultura de movimento, conceituagiio de carter mais global que coneretiza pr culturais nas quais o movimento humano é 0 elemento principal de intermediagio simbslica ¢ de significagdes produzidas © mantidas, tradicionalmente, por comunidades ou sociedades,"® vai sendo substitufda por priticas corporais padronizadas ¢ difundidas como corretas, modemas c estabelecidas como mais adequadas ao bom desenvolvimento do corpo e 2 manutengo da sade. Na cidade, onde ha uma concentrago de corpos, mas niio somente nel, dado 0 ccariter globalizado que adquirem as priticas humanas, tem prevalecido uma cultura de movimento que educa individuos ¢ grupos a buscarem 0 “corpo ideal”, no quall sempre o excesso de gorthuras, as marcas do tempo que contam as hist6rias dos afetos devem ser climinados ¢ 0 rendimento maximo deve prevalecer. (..) Imagens ideais do corpo humano levam a repressio miitua e a insensibilidade, especialmente entre os que possuem corpos diferentes @ fora do padrao. Em wma sociedade on ordem politica que enaliece genericamente ‘0 corpo’, corre-se o risco de negar as necessidudes dos corpos que ndo se adequam ao paradigna.® Nos titimos duzentos anos mundo ocidental* tem afirmado uma cultura de movimento aque, investida pela cigncia e pela tecnologia, vai sobrepor-se a priticas singulares de "Rta coneeituagio bem desenvolvia por Elenor Kun Eucagdo Fisica ens e mulangas a Unijul a, 1991 " Sonnet, op et. 1997p "Par maiores rteréncias,consultar Ana Mic Silva, Conn, Ciéncia ¢ Mercado: reflexdes acerca da gestacao de wn nove arqueipo da felicidade, Campinas: Autores Assoviados, 2001 ‘a, Campinas, 10: 23-35, 2004 Carmen Livia Soares e Andrés Zaronkin individuos, grupos, classes sociais, comunidades e sociedades e, consciente ou inconseientemente, legitimar priticas de controle do corpo em movimento e, sobretudo, do prazer do corpo em movimento, O exemplo mais tangivel 6a obsessiio esportiva e 0 esporte como forma dor 8 10 da corporeidade, euja idéia central é 0 rendimento. E 0 esporte de alto rendimento que impée 0 seu contetido & cultura de ‘movimento através de virias estratégias, sendo uma delas a manipulagao da cultura material, ou seja, a construgdo dos lugares destinados is priticas corporais, os quais, por serem ativos, acabam determinando as atividades Ii desenvolvidas. Ocorre que em nossa sociedade ocidental hd uma crenga generalizadae uma educagio massificada que nos fazem crer que os processos de passagem das idades devem ser ccultadios e as experiéncias das transformagdes do corpo substitufdas pelas sensagdes causadas pelos milagrosos elixirs da juventude, nio importando muito as conseqiiéncias nem os riscos decorrentes de seu uso indiscriminado, desde que se conguiste 0 ttimo corpo da moda, “Tudo se passa como se, em nossos dias, as transformagdes do corpo estivessem mais na moda do que nunca, enquanto os limites do que & certo e errado, falso e verdadeiro, natural eanlficial tivessem sido completamente relativizados.”"* Talvez por tudo isso, reflexdes em tomo de nossa atitudes em relacio as priticas corporais sejam importantes, antes de aderir ingénua ou cegamente aos apelos miditicos, do“mexi-se”, “movimente-se” pautados pelo crondmetro, pela velocidade, pela busca ‘pido, fazer mais exercicios abdominais, de uma performance para caminhar ma peitorais, dorsais....nadar mais estilos em menos tempo, fazer mais “piscinas”, din © peso corporal mesmo quando o individuo se sente muito bem, porém esta fora dos padroes de peso, estatura e estética ocidentais que se querem universais.'" Essas reflexes implicam, ainda, um trabalho da memdria, win constante exercicio de tirar do esquecimento modos de tratar 0 corpo, de exercité-Io, de compreendé-lo no ® Donise B. SanAnna, E possivel realizar una histria do corpo? In: SOARES. C.1..9p. eft, 2001, 2001: Claude Fischer La ss Ins Communication, ul Aron, La tragédie de Papparence 3 Fépeque contemporaine, In Conmunicasion. Pais: Seuil. 1987, n, 46, yp. 258-79: Alevanale Fornander Vaz. Compo, educagio e indlistia cuftral na Sociedade contemporines nots para reflexao. Revista Pro-Pasigdes, v4, 0, 40), 2003, pp. 61-75, Pc, Campinas, 10: 23-35, 2004 Arguiteruee educagio do corpo: none indiciais AAmbito de uma cultura de movimento. A economia de energia e a utilidade das agdes, bjetivos maiores da educagio do corpo nos dtimos duzentos anos no Ocidente, nunca foram e nfo sio suficientes para compreendé-lo como lugar e inserigio da cultura. Neste sentido, importante & pensar que (Gu) entre 9 corpo © a técnica ndo hi sempre relacdes harmoniosas e de acoplamento funcional, mas, também, tensoes, disputas e diferencas, nen sempre visiveis ao primeiro olhar, nem sempre historicizadas © submetidas & andlise etnogrifica. Por isso, lembrar das sensibilidades culturais que em cada siruagdo possibilitam a eriagio ov o abundono de cada técnica esportiva uma maneira, entre ouras, de perceber que toda « seducio exercida pelo esporte tem razdes muito mais complexas do que pode explicar a sua insistente publicidade internacional.” As priticas corporais podem, assim, ser configuradas como expresso conereta de possibilidades de educagdo do corpo; sio discursos que movimentam ideais de corpo, satide, beleza, felicidade humana e revelam segredos e desejos ocultos de individuos e das sociedades que as criam e destroem, Pode-se afirmar que sio verdadeiros palcos onde se encenam aspectos da vida. Neste sentido, os lugares onde sao realizadas, ou seja, a arquitetura especificamente voltada as priticas corporais, também revelam medos ee anseios, também determinam uma certa “educagao do corpo” e, em sta materialidade permitem elaborar uma critica ao modo como temos vivido, Nunca & demasiadlo lembrar com Foucaul, que “fazererti icvis os gestos clemasiadamente ice “a critica & certamente a anilise dos limites e a reflextio sobre eles”. Arquitetura e corpos tém refletido, ao longo da histGria, a imposigao de modelos particulares de sociedade, de disciplina de liberdade e de interdighes. Se pensarmos no ‘mundo ocidental, parece claro que-o modelo que se impde como aspiragio ideal e global gera paredes que separam, de um modo cada vez mais efieaz, aqueles que posstem bens materia ¢ imatera daqueles que no os possuem. Assim, parece que os corpos ™ Denise B. Sant’ Anna, Ene o coepo eu KGenica: amigas e novas eoncepgbes. In: Revista Monica Ano Xen. 15, agosto de 2000, Flosiandpolis Eira dt UFSC, pp, 13:24, "> Fatcault, Dios e escrito, lp. 347 a, Campinas, 10: 23-38, 2004 Carmen Lieéa Soares e Andrés Zavenkin 3 constituem-se em lugares indiscut(veis, tanto quanto a arquitetura, de visibilidade dessas diferengas e do abismo que a cada dia se aprofuncda. ty of the body couk! be used to reflect human life in all its aspects. Through it we ean he understanding of the world, Body as a “territory” is bull by freedoms and oppositions. Ie reveals the essence of society and isthe visible synthesis of the relationship between nature and culture. Its moltiple senses ereate the need for maltiple looks or understandings. The body is also an expression of the marks seulpted in the stone, in concrete in sand grain, ILis composed of memories Hs education i lated to the world’s materiaht The implication of these ideas is evident when see think the role af architecture inthis process of body’ education, Referéncias grificas ARON, JP, La tragédie de Papparence 2 I"époque contemporaine, Conmmunications Paris: Seuil, 1987, n, 46, pp. 305-19. BRACHT, V. Sociologia cvitica do esporte: uma introdugdo. Vitoria: UFES, Centro de Educagio Fisica e Desportos, 1917. BORDIEU, P. Outline of a Theory of Practice. Cambridge U Cambridge, 1977. Communication, Paris, Seuil, n. 67. (Le spectacte du sport), 1998, ECO, U. La estructura ausente. Barcelona: Lumen, 1968. FOUCAULT, M, Vigilar y Castigar: El Nacimiento de la Prisidn. México: Siglo XX1, 1976. versity Press, Anqueologia das ciéncias ¢ histéria dos sistemas de pensamento, Rio de Janeiro: Forense Universitaria (Ditos e Escritos, v.11), 2000. FISCHLER, C. 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