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—— ee A FUNCAO DO OBJETO NA LIGACAO E DESLIGAMENTO DAS PULSOES RENE RousstLton, Liow, Frasca Introdugio A destrutividade © a violencia slo geralmente malvistas ¢ frequentemente acom- Panhadas de adjetivos negatives. No entanto, nfo deixam de ser uma caracteristica necessiria a vida ¢ aos varios processos que tomam a vida possivel, Sem destru- tividade, nada pode ser criado ~ para algo novo surgir € preciso destrvir 0 estado anterior, Tanto o metabolismo corporal quanto a metabolizacio psiquica implieam mobilizagao de procedimentos destrutivos. © problema elinico da destrutividade nfo & portanto, da destrutividade em si, mas das formas em que se exprime ¢ se mani- festa — em outras palavras, o que acontece com ela. © problema das consequéncias da destrutividade € o do resultado desejado, Sc a destrutividads for empregada de modo a promover ou prolongar a vida, se cla servir deriatividade, a impressio imediata que se tem é que ter um efaite completamente diferente do que ocorreria se seu objetivo fosse a destraigo real. No entanto, essa Discutirei agora © segundo pada clinico que data do inicio da inffincia, Isso en- volve bebés e criangas que sofreram um tipo de rejei¢ao primaria, em especial o tipa de rejeigdo primaria fisica ou eorporal. Ferenczi (1929) foi o primeiro a investigar ‘esse padro de rejcigtio.priméria em criangas “nie desejadas”. Mais tarde, em estudo clinico de criangas especialmente agressivas ¢ violentas, Hopkins (1987) ressaliou a importincia da rejcigdo primaria do corpo para a forma pela qual essc tipo de inten- sificagdo da destrutividade acontece. Uma crianga fisicamente sejeitada, ou aquela cuja mic desenvolveu ta fobia de tocar seu bebé, constréi uma autorrepresentagao inicial de si como “lixo” — ou “um coed”, para falar de modo ainda mais preciso; a violéncia se desenvolve entio como reagiio a essa representagao baisica ‘Além disso, defendo (Roussillon, 1995a, 1995b) que o senso de self que entio se consttéi nao se organiza em torno do processo que, para Freud, era a prisieira po- siglo subjetiva do bebé (“Eu sou o seio” (Freud, 1941[1938], p. 299)), mas em tomo de algo que tem mais a ver com “Eu sou (o) mal”. Passei a estudar viries padrdes clinicos que as veves surgem nas Lentativas de sobreviver a uma posigdo to subje- tiva, sugestivos de “alguns tipos de carater eneontrados no trabalho psicanalitico” conforme descrite ne famoso artigo de 1916 de Freud que antes mencionei + A posie&io negativa excepeional, como a de Ricardo III, que ja mencionei: “Que o mal seja o meu bom” + Oscriminosas, por sentimento de culpa, em que a violéncia ¢ os crimes $40 e0- metidos a fim de localizar 63 sentimentos inconscientes de culpa impossiveis de confinar. + Neurase de fracasse ¢ neurose dee destino expressas come compulsio para reprodus- air fracassos; elas reforgam o sentimento dé ser “maldita” do individuo. Qualquer sucesso “bom’” torna-s¢ “mau” como resultado de uma espécie dé culpa prim: Esses padrdes, criados no inicio da vida, constitaem um abstdculo para a ligacio das pulses. Eles impedem a estruturagao de qualquer conflito que envolva ambi- valéneia. gragas & qual a violencia poderia ser ligada ¢, assim, perder sus qualidade destrativa, Sao todos dificeis de distinguir como fendmenes isolados, na medida emt ‘que mais tarde na vida outras questécs de algum modo os encobrem O mito de Narciso ¢ Eco é, de certa forma, uma ilustragio desse proceso. Come sabemos, Hera puniu Eco por ter distraido sua alengdo ao tagarelar ininterruptamente ¢, assim, permitir que as ninfas flertassem com seu marido. A punigio de Eee foi impossibilitd-ta de fazer outra coisa que no fosse repetir as silabas finais ditss por outras pessoas. Fla, no entanto, aprendeu a fazer uso dessa restricfo, a fim de tentar dar a conhecer o que descjava, Foi o que acontexeu no mito de Ovidio, em que Eco conheceu 0 belo jovem Narciso. Ela se apaixonou por ele ¢ seguiu-o, escondida na floresta, esperando uma oportunidade favorivel de se aproximar e tentara sorte. Pen- soul ter encontrado essa oportunidade quando Nay De forma muito intcligente, repetindo habilmente os fragmentos fin: iso deixou © grupo ¢ ficou sozinho. das frases de = RENE ROUSSILLON Narciso, cla conseguiu fascini-lo até cle the pedir para acompanhé-lo. Quando Nar- so disse: “Juntemd-nos aqui”, Eco respondeu: “Reunir-se aqui’. Ela entio saiu do seu esconderijo, deixou-se levar por seu amor e se-aproximou de Narciso, Ele se desvencilhau dela rudemente, dizendo: “Morrerei antes de vore se deitar comigo”. Seu impeto arrefeceu, Eco ficou pasma; envergonhada, retirou-se novamente e se escondeu nas profundezas da fleresta. Parou de comer, ficou anoréxi- ca, sua came se dissolveu pouco a pouco, ¢ seus oss0s tornaram-se to duros quanto as pedras, a que acabaram se assemethando. Nessa parte do mito, Ovidio, de forma notavel, solucionou a relagio de causa € efeito entre a anorexia reativa de Eco, 0 fato de ela terse transformado-em algo semelhante a uma pilha de fezes endurecidas, ea rejeigdo fisica violenta softida nas mios de Narciso. G impeto do bebé se rompe pela rejeigo do corpo fisico © que implica, para cle, que a sua onda de afeigdo € ma, Fairbairn (1940) realca o fato de que a rejeico fisica implica para a crianga que o seu amor é“man ¢ destrutivo”; isso cria uma confustio ‘em sua mente entre o que é bom ¢ 0 que ¢ mau, como mencionei antes. A crianga, ‘entio, sente que a sua pele-ego (Anzicu, 1974) esti repleta de contetidos maus poten -cialmente perigosas para 0 objeto. A pritica clinica mostra que podem ser definides dois tipos diferentes de controle € que, as vezes, entram em ago aliernadamente. A primeira reagae € semelhante 4 de Eco: todos os impulsos da eriamga ficam tolhidos, quaisquer movimentos que ela sente cone indesejdveis sto congelados no trajeto; por meio da interiorizagao do significado que o objeto thes confere, a.crianga também sente que so maus ¢ perigosos. ‘A-segunda ¢ totalmente oposta. A crianga se torna terrivel, semelhante & imagem especular que a reago do objeto cnvia de volta, alivamente “ma”, pois ndo hd ma- neira de evilar esse desfecho, em uma tltima tentativa de permanecer no controle, a destrutividade manifesta entdo se intensifica Falhas na satisfacao primaria Um tereeiro padrio, que também remonta ao primeiro ano de vida tende a agravar muitos tipos de destrutividade ¢ violencia, envolve falhas na satisfagio pri- maria, Durante muito tempo, pensava-se que esse nivel de satisfagie ora evidente em sic que, de certa forma, era um elemento fundamental “determinado” sobre o qual se poderia construir a metapsicologia. O trabalho clinico com vivéncias muito iniciais na alimentagdo ¢ na estruturagia do autoerotismo tem mostrado que no é ; mio se-deve confundir a satisfacdo das necessidades, vinculada & ‘autoconservagao (a erianga ¢ realmente alimentada), com a experiéneia de satisfagio como um todo ¢ com scu valor como modelo. Issa ndo depends apenas da autoconservaeo, mas também da maneira come 0 objeto cxprime sua presenga afetiva c na medida em que espelha os sentimentos da erianga, Mais precisamente, 0 tipo de presenga alttiva exibido pelo objeto ¢ o prazer que da sfo necessirios para a experiéncia de satisfacdo primaria a ser criada, porque 6 bebé os experimenta como reflexo da sua propria satisfagio que, como resultado, exatamente as solugdes vidade tet exemplo 4 owiras violéneiag isso ps elo Nar- roxiMOU, . de voee tirou-se anorexic s quanto fe forma 5, 6 fato idas, ea crianga, Bs poten- jefinidos pent. pcrianga Vimagem p ha ma- ntrole, a 2s muito ee nga é sculada a stisfacao como 0 ntos da © prazer porque ultado, A FUNGAO DO OBIETO NA LIGAGAO B DESLIGAMENTO DAS PULSOES 195 torna-se uma experiencia aceitével. Quande 0 objeto no demonstra qualquer sinal de satisfagdo, a crianga nfo toma conhecimento do seu préprie prazer ¢ satisfago. Isso implica que algumas pessoas nao tenham absolutamente qualquer conhecimento de satisfago, ainda que possam tcr alguns tipos de prazer: 0 efeito da satisfagao, que ndo pods ser instituido mentalmente, permunece inconseiente. Uma das consequéncias do fracasso da experiéneia de satisfagaio ¢ da exacerba- ¢ao da decepcao primaria (a que Winnicott [1974] se refere como “tantalizadora") é grande dificuldade em que o individuo-se encontra no que diz respeite 4 produge das condigdes em que um amalgama primario positive de experiéncias pulsion: boa “ligaco das pulsdes” — torna-se possivel. A inveja, ery particular, é aqui também exacerbada ¢ 0 individuo se instala na posigdo subjetiva de “eternamente insatisfcito”, criticando ou atacando © que ocorre em nome dessa insatisfago, A experigncia de satistugdo.é vital se a intensidade das pulsdes ¢ a implacavel relagdo de objeto (Winnicott, 1974) — a forma priméria de mages pulsionais ~ pu- derem reunir ¢ vineular tanto a criatividade quanto a destrutividade. A intensidade tipica das pulsdes deve ser capazde s¢ expressar ¢ obter satisfagaio para que ocorra ‘uma farma bisica de liga¢o-pulsional (sc isso nile acontecer, o masoquismo erége- no tendera a substitui-la— mas isso levard a satisfago para pistas escorregadias de soluges perversas). Quando a fusiio das pulsées nao for bem-sucedida, a destruti- vidade tende a ficar livre ¢ permanecer fora de qualquer situago de conflito ~ um exemplo € a violéncia contra 0 seif (por exemplo, em docngas somalicas) ou contra outras pessoas (em alguns tipos de negativismo e manifestagocs antissociais de violéncia), A destrutividade entdo se azrava pelo proprio fate de nao estar ligada; isso parece ocorrer de forma bastante evidente. Eis aqui um exemplo de tratamento psicanalitico cm que questdes que envolvem nao satisfagio estavam no cere do trabalho . Paul era um exccutivo sénior, de quarenta anos de idade, enérgico e muito admirado em seu trabalho. Comegou andlise por estar sofrendo de uma espécie de depressao ria; nao tinha (ou nd podia mais) ter qualquer “gosto para as coisas” ¢ sentia que tudo ¢ que fazia era initil, embora geralmenic oblivesse sucesso em sua realizado. Antes de chegar a esse eslagia, projetara no futuro © momento em que tudo seria melhor; construiu para si uma imagem ideal do que cle seria para que, fi- nalmente, sentisse que alcangara @ que era bom para si. Ao Tongo dos titimos anos, no entanto, comerou a se aproximar do cumprimento dos seus ideais (tinha obtide uma promogde muito significativa na sociedade intemacional em que trabalhava, havia namorado € se casou com uma mulher muito bonita que se assemelhava aos sonhos da adolescéncia), de forma. que seu sentimemto de inutilidade foi ficando cada vex mais forte. “De que adianta tudo isso, todo esse esforgo s6 para chegar oade cu j8 estou? Em lugar da satisfagiio que imaginara que teria, sentia-se muito decepcionado, com a impress de que se deixara Ievar, especialmente em seu ambiente de trabalho, onde sentiu ter sido “explorado”. Quando 0 recebi para enteevistas preliminares, antes de comegar a ansilise, ele estava desesperado, muito negativo sobre tudo o que estava acontecendo em sua “De que adianta tudo isso?” foi o tema dominante, uma 10s RENE ROUSSILLON O inicio da anilise (com a configuragle bastante usual na Franga: trés sessbes por semana) foi marcado por uma série de aventuras extraconjugais. Ele nao sentia prazer com a esposa: “Quando. gozo, no sinto nada”, disse cle. O prazer estava li, mas ele no 0 experimentava come tal; o orgasmo sexual acompanhado de ¢jaculagdo io The dava sensagao de prazer ~ nfo sentia nada, Paul partiu, entio, para uma série de conquistas femininas. Com as mulheres, a quem escotheu devido 4 sensualidade delas, tinha prazer durante a relagio sexual. Elas Ihe deram prazer ¢ ele experimen- tou prazer, Mas 0 mais marcante foi o fato de no se sentir bem imediatamente apés a relago sexual. O prazer no levou a satisfago: a0 contrario, deu origem a uma sensago geral de mal-estar. Como esse sentimento caminhava pari passu com a auto- ‘censura, minha hipétese inieial era de que ele estivesse vivendo sentimentos de culpa mais ou menos inconscientes. Esse tipo de interpretag3e proporcionou algum alivio para seu desconforte: gradativamente foi possivel fazer lagas identificatérios com vum pai mulherengo, famoso pelas muitas escapadas sexuais. Esses também serviram de algum modo para melhorara forma como Paul se sentia, mas no resolviam total mente sua angistia. Ele, no entanto, comegou a se aproximar do seu mundo interno desprovido de qualquer percepedo de seus afetos. Na transferéncia, apesar de Paul reconhecer que eu estava “fazendo um bom trabalho” € que ele “se sentia melhor”, cle me sentia “frio, sem feco emocional, impermetivel ao [seu] sofrimento e desespcro”. O processamento desse aspecto da transferéncia Ievou antes dé tudo a uma ligagdo com a relago entre ele © a esposa Aquela mulher linda, apaixonada por ele, que em seus sonhos ele sempre considerara absolutamente ideal, comegou a assumir um fascinio um tanto diferente. Na medida em que Paul voltou gradativamente ao contato cont suas cmogdes € sentimentos, tentou falar sobre essas coisas com ela e criar um novo tipo de didlogo em seu re- lacionamento camo marido ¢ mulher. Mas as coisas niio sairam como ele esperava; sua esposa, do ponto de vista emocional, era uma pessoa fria e com poucs disposico para uma conversa cmocional intima. Enquanto cle estivera ena busca de um ideal, concentrado em sua tentativa de satisfagio nareisica, estivera tudo bem entre eles, mas quando ele comegou a se mover cm dinegao a wii relacionamenta mais “objetal € a se envolver mais. com suas emogdes, as coisas pioraram. Paul tinha a impressio de ter encontrado “uma parede de gelo”, sem nada em que se apoiar, “sem sentimentos”, e que “nunca [Ihe] dew qualquer feedback”. A desestabilizacio do relacionamento Tevon a esposa a solicitar analise ~ prova, talver, dé que cla nde era tao fria e insen- sivel quanto Paul fazia crer Na andlise, tomou-sc entio possivel voltar no tempo, das criticas que fez da espo- sa para as que munca se permitira expressar a respeito da sua mie. Ela também sempre fora para cle uma mulher “perfeita”, sempre fiel a forma; mas entio ele comegou ‘perceber que ela sofia de uma espécie de depressdo fria, nunca satisfeita, nunca real- mente feliz, incapaz de sentir prazer ¢ talvez até mesmo de ter quaisquer sentimentos reais, Ele chegou 4-conclusio de que ela ficara prisioneira da relagdo com a mae dela. Foi possivel ento comegar a analisar eerto tipo de identificago narcisica com ela. As aventuras do seu pai também comegaram a tomar outra dimensao, a da economia de ia dentro da atmosfera de depressao fria que dominava a vida em familia Sessbes sentia cava li, sculacio ma série salidade erimen- ate apos = a.uma ba auto- de culpa m alivio sos com eviram m iotal- Jintemo em bom bcional,, cto da esposa siderara medida mentos, stu re perava; posigio n ideal, re eles, sbjctal” sso de jentos”, emento :insen- 2 espo- sempre negou a ca real- Mentos ic dela. cla. As mia de familia, AFUNCAO DO OBJETO NALIGAGAO E DESLIGAMENTO-DAS PULSOES 107 Nessa ovasiao, Paul passou por fases de profunda depressio. Reapareceu a sen- sagdio de que tudo era inttil, que melhorara significativamente na primeira parte da anilise. Pude perceber a melancolia que subjazia a sua condicio e, por viirios meses, éstive muito preocupado com isso. Ele resistin 4 tentaglo de reeorrer a antidepres sivos como solugdo: ja tomara esse tipo de medicamento no passado, sem mui melhora, Seu desespero se expressou por meio de uma série de ataques irnportantes: 4 andlise, a esposa, 4 mic, a empresa onde trabalhava e, em geral, a qualquer coisa que pudesse aconteccr cm sua vida, Mencionei que fiquei preocupada porque as vezes temia que ele pudesse cometer suicidio. Algo que foi, mesmo assim, sempre mitigado pelo sentimento de que cle preferia a autenticidade emocional que conseguira adquicir 4s situagies falso-se// que tantas vezes haviam presidido sua vida. Senti-me confiante na forma come a anlise foi progredindo © na minha propria capacidade de “sobre- viver” a esses alaques. Paul passou por fases psiquicas muito dolorosas, as vezes imentadas pelo que ele sentia como © mado “desumano” com que seus eolegas éram tratados no trabalho ¢ pelos conflitos com a esposa. Fiz uso de virias situagdes, de que falou durante a andlise, a fim de continuar processando a histéria da sua relagao inieial com a mie, Varios elementos, que pertenciam ao quc cu pensava como sua relagao primdria com ela, ainda cram partes importantes da situagio de Paul naquele momento. Os aspcctos mais iniciais desse relacionamento pareciam ter subsistido 20 Tongo dos anas, deixando uma sétie de marcas na inffincia ¢ na adolescéncia de Paul. Para concluir esta visio geral da trajet6ria clinica de Paul, devo dizer que ele Conseguiu aos poueos se libertar do seu desespero agonizante conforme consegui ‘mos reconstruir as caracteristicas especificas da sua relagio inicial com a mide: isso © ajudou a mudar sua necessidadé de reproduzi-las em sua vida atual. O que acabou por ser decisivo nese desenvolvimento foi o trabalho que fizemos sobre a falha da fun¢do materna como o-“espelho primirio” da sua vida emocional. Foi quando 0 desespero de nunca conseguir satisfazer a mic veio cada vez mais a tna e quando Paul conseguiu conectar isso nfio com quaisquer caracteristicas sus em particular, ‘mas com as vicissitudes da relagdo da mic com os pais dela, que a melhora em sua condigio tomou-se mais estivel Além disso, Paul era um analisando muito talentoso e muito gratificante do meu Ponto de vista, Assim, até mesmo quando ele passava por fases negativistas muito intensas — permaneceu muito entusiasmante no que diz respeita 4 minha fungao de analisar. Acho que sentiu meu intense investimento do-n0ss0 trabalho em conjunto: conseguiu encontrar nese investimento 05 recursos necessdrios para capaciti-lo a ter um novo tipo de experiéncia. Gostaria de salientar, também, que sua rélagao com a esposa melhorou significativamente, gragas 4 agdio combinada das duas andlises: nesse dominio ele também passou a gradualmente ter experiéneias eada vez mais salisfatorias, A “Sobrevivencia” do objeto e o fracasso em sobreviver Discutirei agora sucintamente a quarta ¢ diltima situag3o clinica problematica, Que tem suas raizes na historia passada do individuo, Ela é paradigmatica e central 108 RENE ROUSSILLON para esse tipo de situagdio, e foi por isse que a usei no titulo deste artigo. Na verdade, outro-suig Ja nos deparamos com ela nas vérias outras situagies clinicas que deserevi, por estar intersubjggg envolvida em todos os tipos de problemas que tém a ver com a destrutividade. Refiro- Inv =me ao fracasso do que Winnicow chamou a “sobrevivéncia” do objeto, necessairia de estar para a capacidade de “fazer uso do objeto”. sempenk Uma vez que as manifesiagdes primérias das pulsées tenham sido suficientemen- | Quis te ligadas, por meio de experiéncias de satisfagdo, surge a questio da diferenciagio | porque secundaria das modes pulsionais — aquela entre 9 amor € 0 dio (nao estou conven- te” (Eu cide de que esta seja a melhor mancira de expressi-lo). De acorde com Winnicott, possibiggg a experiéncia decisiva € a do encontro com a capacidade deo objeto “sobreviver” A barrcirasal intensidade primaria das mogSes pulsionais, 4 natureza cruel de suas formas primiti- Des Vas ¢ ds primeiras manifestarGes de destrutividade c de raiva. Em terminologia talvez mais “freudiana”, poderiamos dizer que tudo isso tem a ver com crueldade (Cupa, 2007) € talvez até com um tipo fundamental de violéncia (Bergeret, 1984). De acorde com Winnicott, a resposta do objeto, ou seja, sua capacidade de ni retaliar, em face do que ele poderia ser tentado a considerar como ataque destrative, vem a ser deci- siva para a subsequente capacidade de 9 individue distinguir entre objeto interna e/st; ‘objeto extemo. O objeto intemo é o que esta “destruide” pela forga das mogdes; ele} “= | se retira ou recebe represdlias. O objeto extemo € 0 que “sobrevive”, mantendo-sc -* suficientemente firme em sua con Aexperiéncia de “sobrevivéncia do objeto” permite, assim, que se trace uma dis- Fingao entre as duas formas em qué 0 objeto esté presente ~ 0 objeto da alucinagdo.co objeto da percepeao~ uma ver. que a experiéncia de objeto encontrado-criado os une. Por sua vez, isso significa que se pode configurar uma lopografia psiquica em que 0 2. mundo da fantasia, onde o objeto é destruido, pode se distinguir daquele dos objetos objetivos, que “sobrevivem’ 4 destruicdo. A pessibilidade de destruir 0 objeto, cm € por meio da fantasia, contribui de alguma forma para pacificar a destratividade ou Para oferecer meios néio destrutives de expresso, Este € o paradoxo fundamental da destrutividade ¢ sua exacerbagio: agrava-se quando niio alcanga seu objetive na fantasia e se agrava quando se confunde com destruicdo real. Aqui, novamente, a ineapatidade de satisfazer as mogSes pulsionais de forma “psiquica” € que acarreta algo: no conseguir criar uma fantasia destrutiva ¢ incitagto a destruigao real. Inversamente, a confusio topografica entre o mundo das representagdes psiqui- case fantasia, por um lado (Donnet & Green, 1973; Junin, 1989) ¢, por outro, ade _ Objetos objetivos (que nao sao mais “objetivos”, devido & confusio topografica) tem * ‘um efeito traumitico e tende a agravar a manifestagao de destrutividade e de formas de violencia contra si proprio au contra o outro, A experiéncia da sobrevivéncia do objeto torna possivel passar da “relagdio com. © abjeto”, em que o objeto “extero™ € o objeto das pulsdes — o objeto “interno”, como ¢ chamado ~ se funda em dirego ao “uso do objeto”, em que o objeto externo ¢ visto “objetivamente”, ou seja, sem qualquer onipoténeia infantil, para poder ser co- Jocado em uso como objeto verdadciramente externa, distinto do objeto das pulsdes. Outro modo de colocar isso seria dizer que ha um mavimento de objeto “per- cebido” como externo ao objeto “concebido” como tal, ou seja, concebido como o véncia” sobreviv talvex {Cupa, scord face deci- oe cele fo-8e dis- eo Ss E gue 0 lebjetos eto. cm Sade ou AFUNCAO DO OBJETO NA LIGACAO E DESLIGAMENTO DAS PULSOES 109 utro-sujeito. Q uso do objeto representa, assim, o protétipo paradoxal da relagao intersubjetiva. Inversamente, se a diferenciagao topogritica falhar, de forma que a capacidade de estar sé na presenga da objeto se tore mais dificil, isso poderia muito bem de- sempenhar um papel ebjetive em manifestagdes de violéncia relacional, Quando o objeto sobrevive, a distribuigio topogrifica ~ “Objeto, eu te amo Porque vocé sobrevive” ¢ “Eu o destruo todo o tempo na minha fantasia inconscien— te” (Eu posso fazer sem voce, no sentido de uma forma alienante de dependéncia) ~ possibilita a criagdo de um confite de amibivaléncia, que é a mais forte de todas as barreiras contra as expresses de violéncia, Desereverei agora 05 caprichos dé uma analisé em que a questio da “sobrevi- véncia” do analista contribuiu para a capacidade de a paciente ultrapassar a “nio sobrevivéncia” de seus abjetos primarios no passado. Noire era uma mulher de 38 anos, que pediu uma entrevista comigo para dis- cutir scu estado geral de angistia. Em nosso primeiro encontro, senti que ela era um pouco estranba, Embora fosse advogada, do-alto escale da profissio, easada ¢ com dois filhos ¢, portanto, parecesse socialmente bem-adaptada, senti que tinha um tipo de contato psicdtice que ultrapassava @ falso-sei/ Na verdade, tive a impressto de que no poderia fazer contato real com ela. Nas entrevistas iniciais, no olhou para ‘mim a no ser muito rapidamente, de relance, quando entdo seu rosto se iluminava ‘com uma espécie de sorriso “de menininha”, cm contraste com a atitude muito severa ‘que geralmente adotava. Por isso, comecei a atendé-la trés vezes por semana em um. setting face a face; ccrea de um ana depois, as trés sessiies semanais passaram ao tipo tradicional, com a paciente deitada no diva. Desde o inicio, uma caracteristica das scssdcs cra sua “associatividade”’ um pou- ‘co estranha. De olhos fechados, mergulhava em algum tipo de “visio” que se tomava um devaneio — a0 relaté-los, ela sempre comegava dizendo: “Eu vejo...". Considerei muito di igado a entrar em seu devaneio, na tentativa de preservar ao menos um vineulo minimo. Esses devaneios nos levaram, a certa altura, a uma sepultura, ao lado da qual uma jovem (sem divida, a prépria paciente) estava algemada, com as algemas caindo para dentro da sepultura, Amarra- das & pessoa morta? © cadaver acabou por ser o de uma mulher, que pouco a peuco tomou as caracteristicas da avé da paciente: sem davida, a primeira representagde de um vinculo de transferéncia. O devancio tornou-se quasc delirante: Noire disse estar convencida de que a avé tinha sido morta pela me © por sua familia. Aos poucos, gragas a cssas “visdes” ¢ minha clucidag3o de muitos detalhes delas, parte de sua istOria passada comegou a se esclarecer. Noire era a mais nova de duas meninas, sua fami manter-me em contato com ela; fui ol era de origem nobre e vivia na regidio de Paris. Sua avé materna dominava toda a familia de forma despética; apenas da ave paterna (a avé na sepultura) Noire recebeu certo ealor e termura — mas isso durou apenas alé scus sete ou oito anos de idade, quando eclodiu uma briga c a avé nunca mais os visitou. Noire mesmo assim permaneceu muito ligada e, eomo no morava muito longe, encontrava-a uma ou duas vezes ao ano. WwW RENE ROUSSILLON mo filha do senhor das terras na regio, Noire no se adaptou bem a escola: a ‘= do tempo ficava sozinha, triste e rejeitada por outras criangas, com quem ve muito. Sua familia nunca foi realmente muito querida o que eausou impacto de relacionamento que, enquanto menina, teve com as outras criangas — elas st “pagar” por sua familia, Foi muito dificil reconstruir esses poucos clementos do seu passado. Naire nia == Gcava muito constrangida quando falava a respeito, como também envergonhada Feticente, Como nosso trabalho estava progredindo ¢ 6 contato entre nés melhorou, sonvidei-a a deitar-se no diva, em conformidade com o sessing psicanalitico tradicio- nal. Embora a situago analitica ainda estivesse ameacada de desrcalizagio, devido 3 Pressdo de suas “visées” e devaneios, alguns sonhos “reais comecaram a aparecer, Em um deles: Noire estava em uma regide mantanhosa, com neve.ao redor. A distiin- cia, vin sua famitia indo embora, deixandova para trds, completamente sozinka, As pegadas na neve se apagavam gradualmente, Ela acordeu, sentindo-se muita ansiosa. Tentei fazer uma conexdo com a situagie de andlise ~ agora que estava deitada no diva, no podia mais me ver ~, mas ela ndo reagiua isso, Houve mais um sonho que deu origem a uma espécie de transferéncia delirante. Nesse sonho, Noire estava em uma vala, sende “bambardeada” com pedacos de njolo. A lareira na minba sala de espera é feita de grandes pedras e sugeri que poderia haver uma ligagio entre esta ¢ scu sonho — talvez tenha sentide que seria “bombardeada” durante as sessies. Ela permaneceu em siléncio durante o resto da sesso, ¢ saiu sem me olltar nem apertar mit 20 contravio do que geralmente ocorria entre nds ao final de cada sesstio, Quando fui busea-la na sala de espera na sesso seguinte, senti que algo mudara, Ela entrou na minha frente, com expressio determinada em seu rosto, sem me olhar em dizer old. Assim que se deitow no diva, disse que “fa me mostrar como realmente cra, pois estava farta de ser gentil, niio era de modo algum uma pessoa gentil”. Esse fol 0 inicio de uma séric de sessées em que cla me tratou de forma tirdnica, proibindo-me, de forma muito confrontadora, de dizer qualquer coisa, Eu as vezes me surprecndia com seu vigor ao gritar: “Fique quielo!” para mim ~ ou, as vezes: “Diga alguma coisa!” Fla explicou que gostava de gravacdes: “Voce liga ¢ ele fala ‘ou canta, voce desliga ¢ ole fica em siléneio”, Entendi que era assim que cu deveria me manicr em suas sessbes ~ falar ou ealar, dependendo da “ordem” que me era dada, Naquele momento, senti que isso tinha algo a ver com um “meio maleével” (Roussillon, 1991), ¢ concordei em prosseguir de acordo com isse, sem qualquer retaliago interpretativa. Noire passou por algumas fases muito dolorosas, que também foram mareadas Por grande destrutividade. Depwis, recusou-se a deitar no diva; queria sentar-se na cadeira novamente, mas sem que cu a visse ~ exigiu, portanto, que cu virasse sua cadeira de modo a ficar de costas para mim, Sentia-se mais protegida pelo encosto da cadcira, menos exposta a0 meu olhar ou ao que cu poderia dizer —o que ela sentia como extremamente intrusivo. No entanto, ndo conseguia desvirar a cadeira sozinha. Por ser muito pesada. Pensei que scria uma hoa ideia chegar a um acordo, ento Ihe oféreci uma poltrona com rodas que seria facil virar. [sso a fez explodir em uma firia i ‘0s geri que joc seria resto da paimente isoudara, pe olhar paimente jzentil” irinica, Bs vezes i vezes: pele fala p deveria E me ¢ra leave!” qualquer parcadas ese na mse sua Fencosto Ba sentia jsozinha, patto the na fsria AFUNCAO DO QBJETO NALIGAGAO E DESLIGAMENTO DAS PULSOES 111 terrivel, cujo motivo eu s6 vim a descobrir mais tarde, quando pude fazer a ligagho enire a poltrona com rodas ¢ a cadeira de rodas que a avé materna usava. Sentada nessa cadeira de rodas, a avé, que cra deficiente fisica, tiranizava toda a mansio, forgande todos — ¢ em especial @ pai de Noire — a fazer o que ela queria, dominando com mao de ferro. Sem querer ¢ sem mesmo pereeber, ao sugerir que Noire sentas- se na poltrona com rodas, eu havia de fate “interpretado” a transferéncia baseada na identificagio nareisica de Noire com aquela avé tirinica. Depois que comecei a entender isso, o trabalho de andlisé tomou-se mais facil, Fu ainda tinha que falar ou calar, dependendo da ordem que me fosse dada, mas a atmosfera geral das sessdes tornau-se menos violenta ¢ 0 terror que ela me fez sentir ~¢ que viveu em relagao a mim — comegou a diminuir significativamente. ‘Quando Noire concordow em se deitar novamente no diva, mais uma fase da andlise pode comegar. Quando comegou a falar da sua infancia, a chave para o nosso trabalho em conjunte ficou clara. De acordo com sua mic, cla tinha sido um bebé frdgil, doentio, dificil ¢ irascivel. A irma mais velha, no entanta, aparentemente, desde o inicio, foi muito mais satisfatéria ¢ calorosamente investida pola mae. O nascimento de Noire foi uma decepedo — era ums menina, nio um menino. Isso se confirmou mais tarde, quando nasceu @ irmio mais novo. Quando estava com cerca de 18 meses de idade, as duas meninas ficaram gravemente daentes; a irmi morreu e, ‘em consequéncia disso, sua mie entrou em depresstio profunda. Foi nesse momento que 8 avé palerna tornou-se to importante para Noire ¢ ela rapidamente ligou-se a av6. Mais tarde, a me the disse que teria preferide que ela morresse ¢ a irma tivesse: sobrevivide. - ‘Aos paucos, foi possivel interpretar sua fantasia de ter matado a inmi ¢ feito a mic ficar deprimida © aparentemente morta; nenhuma délas “sobreviveu” aos ata- ques destrutivos de Noire, Essa interpretagao exigiu uma longa elaborago, pois em varias ocasides a mie de Noire no “sobrevivcu” a seus impulsas; no éntanto, taux uma mudanga fundamental na relagdo de Noire com o mundo extern, com queda notavel da violencia ¢ da destrutividade. Por outro lado, fator importante nessa andlise parece ter sido 0 longe teste de sobrevivéneia a que Noire me submeteu. ‘Durante sua fase tiranica, além de me envolver em uma espécie de repetigao do que ave materna fizera com toda familia, Noire tentava testar minha eapacidade de preservar a atitude psicanalitica em face de scus repetidos ataques — tentava ver se eu poderia “sobreviver” 4 sua destrutividade. Acredito que apenas quando pereebeu que minha criatividade nio fora destruida, que cu nfo retaliaria nem ficaria deprimido, € que, mesmo continuande a obedecer as suas instugbes, a maior parte do tempo, eu ainda permanceia livre e capaz de, de vex em quando, ignori-las, € que Noire comegou a revelar o material do seu passado que tornou significativo 0 processo em ‘curso, Na verdade, ¢ importante ressaltar que quando obedeci 4s suas instrugGes, ¢, a0 mesmo tempo permaneci vivo ¢ eriativo, foi que Noire pareceu descobrir que eu tinha existéncia independentemente dela; ela foi entio capaz de perecber minha al~ teridade, de me ver como outro-sujeito, algo que, nos estagios iniciais dessa andlise, cu certamente nao era, O interessante em situagdes-limite e extremas de subjetividade é que clas nos obrigam, em nossa tentativa de explicé-las do ponto de vista metapsicoldgico, a vol- {ar aos proprios fundamentos da nossa teoria ¢ olhd-los mais atentamente. Ou seja, quando 0 que parece ser um “dado” primario precisar ser examinado de novo para Vor 80 © que parece que sempre esteve ali, talvez, soja, na verdade, produto de uma fase inicial da historia intersubjetiva ~ é talvex até da “pré-bistiria”. O que parece ser devido somente ao individuo tem de ser olhado de novo, uma vez qué talvez seja resultado da interiorizagao do que inicialmente foi um padrio intersubjetive — ou “interpsiquico”, se esse termo for o preferido. Apratica clinica nos ensina, também, que o que faz com que o nosso pensamente © elaboragdo mental fracassem ¢ a acorréncia do fendimeno do “idéntico a si mesmo” Sempre que um processo, uma mage pulsional ou uma estrutura psiquica parega ser “jdéntica a si mesma”, ¢ evidente, cla nao pode mais ser trabalhada; ela perde sua capacidade de mentalizagio e simbolizagde. Isso, no processo de pensar, é conside- rado identidade perceptiva. Tendo a pensar quc a “‘pulsio de morte” se manifesta em © por essa equivaléncia de identidade entre uma coisa ¢ si mesma. O inconsciente ndo existe mais, nio ha mais a diferenca entre uma coisa e sua representacao na mente — ¢, portanto, nZio ha mais interagio, nao ha mais espago para o trabalho. Tais sdo as ameagas que as formas “silenciosas” de violencia impOem a mente. Esse tipo de violéncia nao precisa ser “ruidosa” ¢ no precisa ser expressa como violencia: € um tipo de violencia que pertence ao gue é apresentado como “real em si”, um real contra @ qual a mente fracassa ¢ perde (oda a esperanga de fazer algo significativo. ‘Amcu ver, é por isso também que, como clinices, precisames estar conscientes do risco que representa para nosso pensamento clinico tratar como idénticas uma coisa € 4 mancira pela qual cla se expressa. A violéncia vem de processos que apagam as diferengas e apresentam a identidade como intangivel. E sobre essa base que tenho tentado desenvolver um conccito de destrutividade que s¢ torna significativo cm um contexto dialétieo entre o individuo ¢ seu ambiente, dando as respastas do ambiente seu lugar na exacerbagio e resultado final da destrutividade. Neste artigo, investiguei quatro tipos de situacSes traumiticas em que certas caracteristicas particulares das respostas e reagdes do ambiente aos impulses do in- dividuo impedem a integragde ¢ processamento destes, Como resultado, diretamente: ‘ou em Tesposta a isso, a destrutividade sc manifesta em um grau ainda maior. Em situagdes clinicas como estas, a ligagio das pulsdes toma-se dificil de configurar, ¢ a ambivaléncia, ao invés de ser cxpressa como conflito tende a gerar padrées parado- xais que aprisionam o individue em varios tipos de impasse existencial ‘© autor discute as consequéncias clinicas do fracasso para estruturar a ambivaléncia em termos de conflito ¢ explica os padrtics paradoxais que catio sc criam, especialmente nos wiios } las 10s avol« Ou seja, povo para ode uma AFUNGAO DO ORJETO NALIGAGAO E DESLIGAMENTO DAS PULSOES 113 tipos de reaglo terapéutica negative. A seguir, investiga as quatro instincias de traumatismo pri- ‘mario que coniribuem paraa falha inicial na vinculag3o dos impulsos ena inabilidade subsequent do individuo para estabelecer um conflito de ambivaléncia que poderia comer as manifestagies ‘clinicas da destrutividade. Unitermes: destrutividade, violencia, critividade, amAlgama primirio, conflito de ambivaléncia, transferéncia paradoxal, rea¢io terapéutica negativa, recusa existencial, ejei¢30 cor- poral priméria, satisfagto primria. ‘Tradugo: Estevam Verde Lima Revisio Técnica: Tania Mara Zalcberg, Referéncias Anziew D (1974). Le moi-peau. Nowy Rev Psychanalyse 8: 195-200, Anview D (19754), La résistance paradexale” L'iacomscient et le groupe. Paris: Dunod. Anion D (175) Le transfert parndoxal, Mou Rew Peychanabise 12: 49-72. Bexperct J (1984). Le violence fonslomentale, Batis: Dunod, Bion WR (1970), Attendion and interpretation. London: Tavistock. [(19%4). London: Kamat]. Cupa D (2007), La tondresse ef la creautd, Pats: Dunod, Donnet JL. Green A (1973), Fenian de ga. Paris: Minuit. Fairbairn WRI (1940). Schizoid factors in the personality. In: Psychoanalytic atuakes ofthe personaly, 5-27, London: Tavistock, 1952. Ferenczi S (1929). The unwelcome child aid his death instinet. 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