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€& Po» niicteos na Cotdnia 2.5.1 Os primeiros assentamentos ~ as feltorins quando aos dois, quando aos ts, de maneirg “Acudiram pela praia homens, 1 ete 3 , jd alt havia dezoito ou vinte homens que, ao chegar o batel & boca do 11 Eram pardos, todos ms, sem coisa alguma que Ihes cobrisye suas vergonhas. (_) Ali nao pade deles haver fald, nem entendimento de ie proveito, por o mar quebrar na costa’ (fig,54). [Aliestavam os donos da terra ¢ 0 invasor branco, porém sem aparente hostilidade no primeiro contato. Ao contrério, mesmo sem uma comunicagio formal, a troca de presentes, sugeria un relacionamento tolerante. Seria possivel avaliar, sem derramamento de sangue, potencialidade da nova terra, cuja fama j4 chegara a Europa, reple de lendas e mistérios. ‘ig. 54, Primeiros assentamentos, na visto de Hans Vieram as expedigdes maritimas para reconhecimento do litora taden. RDIM, Ferndo. Tratados da Ter- Gente do Brasil. Belo Horizonte ia; do Paulo: EDUSR, 1980 p.50. cho da Carta de Pero Vaz de Cami latada de 01 de maio de 1500, a escolha de nomes para os acidentes geogrificos ¢, gragas A habilidade lus fundiam-se a toponimia tupi com o pantedo de santos do calendario catélico. A cartografiae descrigdes do século XVI revelavam florestas, animais estranh selvagens, conforme o jesuita Femndo Cardim, no inicio do século XVII “Em Por ‘Seguro se véem alguns, e jé tem morto alguns indios. O modo que tém em ma he: abragdo-se com a pessoa téo fortemente beijando-a, e apertando-as coms que a deixao feita toda em pedagos, ficando inteira, e como a sentem morta ¢ alguns gemidos como de sentimento, e largando-a, fogem; e se levao alg comem-lhes somente os olhos, narizes e pontas dos dedos dos pés e mao, ¢ genitailias, e assi os achéo de ordindrio pelas praias com estes cousas meno’ Registrava-se, por escrito, vocdbulos de uma manifestagao linguis exclusivamente oral. E Sao Vicente passaria a conviver com Ubatuba, Ite com Sao Salvador, S40 Tomé com Reritiba, uma babel cultural completan festival de frutas tropicais, mulheres nuas, animais estranhos, aguas tépi cristalinas, matas exuberantes, talvez uma materializagiio dos jardins do | abrigando o frato proibido, pronto para ser degustado. Papagaios ¢ abacaxis, saguis ¢ mandioca, corpos pintados, pau-b Enfim surgia algo que recompensasse 0 esforco da travessia transatlan Arquitetura no Brasil como © contato inicial fora amistoso, pouco a pouco as naus abarrotavam-se da madeira vermelha ~ ibirapitanga — colorindo as terras europeias. Para assegurar 0 controle do novo empreendimento, surgiram as feitorias, ‘0s primeiros assentamentos coloniais lusos em terras brasileiras. Sem padrio definido, as feitorias eram compostas de frigeis construgdes, palicadas © algumas bocas de fogo, em média com vinte habitantes que viviam ansiosos pelas idas ¢ vindas das embarcacdes, cujas viagens poderiam Jevar meses. Durante os primeiros trinta anos de ocupagao lusa, por questées estratégicas, as feitorias quase sempre foram implantadas junto ao mar, proximas a um embarcadouro natural e algum manancial de 4gua potivel, como aconteceu nos atuais estados de Pemambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Séo Paulo. Ali, seus ocupantes poderiam melhor se defender, vigiar o territorio e, em iiltima instincia, empreender uma répida fuga em diregdo ao mar, escapando de ataques dos nativos, f provavel que algumas das primeiras feitorias tenham originado arraiais ¢ vilas que adquiriram, com a afirmagao do processo de ocupagao, importncia econdmica para a Metropole a partir da exploragao das riquezas coloniais, mas de sua concep¢ao original praticamente nada ficou para um registro mais preciso, 2.5.2 Os primeiros ndcleos - século XVI Sfo Vicente A expressiva quantidade do pau-brasil ¢ as possibilidades de novas riquezas atraiam a cobica de estrangeiros por motivos diversos que variavam da simples pilhagem & possibilidade de reconhecimento da nova terra para uma futura ocupagao. Afinal, o Tratado de Tordesilhas nao fora aceito de forma incondicional ‘por todos ox povos europeus, ¢ invasores rondavam, ininterruptamente, 0 extenso ¢ despovoade litoral. As feitorias nao dispunham de estrutura defensiva para impedir os ataques ¢ futuras invasdes ¢, além disso, um novo fator entrava no cendrio, ponsibilitando a implantagto de uma economia organizada ecertamente muito lucrativa; o cultivo da cana-de-agticar. ; fim 153), cumprindo: determinagSes de D. Joao III, Martim Afonso de Sousa chegou @ regio sudeste ¢ promoveu a fundagao das duas primeiras vilas brasileiras: Sdo Vicente, na atual baixada santista, junto a0 mar € Piratininga, Dos nticleos urbanos Fig. $5. Vila de S20 Vicente nos primeiros anos do século XVI. 0 pacharel da Cananela €uma figure singular 0s primévdles da ccupacto do teri rasleto, Noha esto ee tivosdesua eigem e sua chegada, mas presume se que ele js estvessena ride beste onal doséeulo XV portant anes do descobviment oficial Sua denidade seria Cosme Pemaries Pessoa, europe diplomado em Coimbra. dai seu apelido de “bacharel”, Segundo 0 hsterlador Hernani mara Xavier da APORVELA, fem gepolmento ao Globo Ecologta, em 1996, exlstem registos sobre 0 concato estabeleid ene oespantl Pinzon Bacharel em 1801, quando este teria formado ao espanol que esta nage: la regio ha 31 anos, povanto desde "4 obra de fel Gaspar, Memérias para a Histérla da Capltania de So Vicente, fol publcada em 1797 acima da Serra do Mar, por possibilitar a penetragdo no sertio Os pontos escolhidos nfo foram aleatorios, mas a consolidacdo de povoados existentes sem organizagdo formal, ocupados por figuras quase lendarias como Jodo Ramalho e o Bacharel da Cananeia.’* Da vila de Piratininga pouco se registrou até a chegada dos jesuftas, na segunda metade do século XVI, originando Santo André da Borda do Campo, Sao Vicente original se situava numa itha porém, segundo frei Gaspar da Madre de Deus, devastada pelo mar, foi reconstruida préxima do seu sitio atual, entre 1542 ¢ 1546, mas legou poucos vesti ‘uma segura reconstituigao” (fig. 55). So Vicente promoveu o progresso da regio, principalmente pela introdugao da cultura da cana, criagdo de animais, vinda de colonos ¢ mao de obra africana e construgo do primeiro engenho d’gua no Brasil: Séo Jorge dos Erasmos. Quanto ao tragado, a reduzida quantidade de edificios nao era suficiente para definir um plano estabelecido. Como diversas outras vilas da Coldnia, as principais construgdes como a igreja Matriz e a Casa de Camara, inicialmente também edificadas de maneira precéria, estabeleciam-se junto a grande terreiro ~ a praca central — em tomo do qual espalhava-se o reduzido casario, partido que se reproduziu quando a vila foi reconstruida, Olinda Apés trinta anos de posse, a Coroa portuguesa constatou que a extensio do litoral era uma grande barreira para manutengdo de uma posse hegem@nica. Isso sem considerar as possibilidades da ocupacdo dos sertdes. Para tentar minimizar provaveis prejuizos decorrentes de invasdes ou ‘ocupag0es indiscriminadas, D, Jodo III decidiu adotar uma solugdo ja empregada em outras possessdes lusas, como Agores e Madeira: dividir para governar. O futuro povoamento ¢ respectiva colonizacdo foram entregues 4 iniciativa particular através do sistema de Capitanias Hereditérias, Assim, apés protestos espanhdis em relagdio ao limite do Meridiano de Tordesilhas, o territ6rio lusitano, compreendido entre os atuais Maranhao e Santa Catarina, foi dividido em quatorze capitanias, distribuidas por doze donatiries, sendo a de Pemambuco doada a Duarte Coelho. Arquitetura no Brasil Em Pemambuco duas vilas conseguiram se destacar; Igaragu, local do assentamento original do donatirio e litordnea Olinda. Para construir Olinda, Coetho escolheu ‘uma colina de facil defesa, junto ao rio Beberibe, muito proxima ao litoral. Como porto, distante poucos quildmetros, surgiria Recife (fig. 56). Yoltada ainda para a tradigo urbanistica medieval, Olinda nao se caracterizou pelo tragado reticulado, mas por implantago em clevagdo, ruas estreitas e sinuosas, vias de ligago entre marcos e equipamentos urbanos, como igrejas ou a Casa de Camara (fig. 57) Da mesma forma desenvolveu-se Igaracu, apesar das recomendapdes das Leyes de Indias quanto ao planejamento das novas vilas 10 detinidor, muito mais al, 0 modelo de cidade remetia a Lisboa, Porto ou conhecido ¢ sedimentado pelo ocupante luso remet smite 88059 7 ayas de Olinda ou os outros poucos niicleos implantados nestes quinze anos A memoria do colonizador tornava-se e do que qualquer recomendaydo oficial. A Evora (fig. $8 ¢ $9), ¢ ali buscavam-se clementos pare 3s iciais de capitanias (fig. 60). anos S aN =N SNS a y = Fig. 60. Vista das cidades de Recife e Olinda, cerea de 1630, Salvador to das ameagas de invasées estrangeiras € ‘alorizagdo expressiva do comércio do agiicar produzido na Colénia. Ao decidir pela construgao de uma fortaleza no centro do litoral, para sediar 0 Governo Geral, D. Jodo III procurava criar instrumentos para ndo perder 0 que jé fora conquistado, além de proporcionar um apoio efetivo para 08 niicleos que sobreviveram a derrocada do sistema anterior. De direito, as capitanias ainda existiam, mas gradativamente perdiam Suas caracteristicas originais até sua ‘extingdo no século XVIII. Porém, de fato, ja refletiam 0 controle direto dos agentes reais, iniciado com a vinda de Tomé de Souza e seu regimento. Entre as diversas recomendagdes e obrigagbes dispostas no Regi- mento de Tomé de Souza, considerada a primeira Carta Magna do Brasil, dispunham-se recomendagdes sobre a cidade a ser fundada para abrigar 0 Governo Geral. “Todavia como consta que este local nao é dos mais apropriados, 0 estabelecimento que se fizer nele serd de natureza provisdria — e deve escolher outro mais pela baia dentro, tendo atengdo & capacidade do ancoradouro, d bondade dos ares e dguas, e abundéncia dos provimentos, com que pelo tempo adiante venha a povoagéo a ser cabega de todas as capitanias.”® Fundada oficialmente em 1549, a cidade Sao Salvador marcaria o inicio de uma nova fase do urbanismo colonial. Para projetar ¢ implantar a cidade-sede do Govern Geral, Tomé de Sousa trouxe 0 mestre de obras Luis Dias, cujas tragas ¢ descrigdes foram encaminhadas 4 Sua Majestade para devida aprovagéo, Tais documentos, arquivados na Torre do Tombo (Portugal), revelam que Dias acumulou fungdes de arquiteto ¢ urbanista, e foi responsavel pela tentativa de atribuir a nova cidade um tracado regular, conforme recomendavam as Leyes de Indias. Pelo resultado original, que ainda pode ser observado na regido mais clevada de Salvador, é possivel perceber a habilidade de Dias adaptando um tabuleiro de xadrez a um suporte irregular, trapezoidal, com algumas Tuas cruzadas ortogonalmente, porém gerando quadras com formato de poligonos irregulares Mapas do inicio do século XVII revelavam que o nucleo original, devidamente amuralhado ¢ com portées, j4 havia rompido os limites dos ™uros, se dirigindo a érea mais baixa, junto ao mar, onde se localizavam 4s instalagdes portuérias. A denominada Cidade Alta, mais antiga, abtigava 9s principais edificios consagrados as ordens religiosas, entre elas o Colégio dos Jesuitas e 0 Convento de Sao Francisco e a Casa de Camara © Cadeia (fig. 61) Dos nticleos urhanne (Wo) 2° Trecho do Reimemo de Toon d Savza, Governador do Bras Nacional 1546 Biblia ae O séeuto XVII ina encontrar um resuitads tbrabs ap wacade G2 cudede. mochuinde 2 tentativa de planejamenm reoculads mo pian). nuns accempumfamds 2 oria na cidade bana ¢ o Tadicional modelo de mfiuimaa do medkevc mare 62 h:zac$o entre estes dots pontes. permmnde associates com cadmies insas come Lisboa ou 0 Porw | figs. 62 ¢ 63 Rio de Janeiro _, Diante do conhecido abandono das novas terras até a implantacdo das Capitanias, havia constante Presenga de navegadores estrangeiros no litoral brasileiro procurando produtos lucrativos como o pau-brasil. Travando um contato amistoso com os Rativos, conseguiam, através do cscambo, a madeira como também outros produtos exéticos, de grande aceitagZo no mercado internacional. Noentanto, o centrio teligioso se modificava na Europa, com o crescimento do protestantismo reformista, gerando conflitos e verdadeiros massacres. Influenciado por Calvino, com quem se correspondia, ¢ apoiado por Gaspar Coligny, almirante ¢ lider protestante francés, Nicolas Durand de Villegagnon, vice-almirante da Bretanha, desenvolven o projeto da Franga Antértica, com objetivos claramente definidos: exploragao comercial sistematizada, implantagao da soberania francesa no Brasil através de uma coldnia protestante. Para implantagao do micleo gerador foi escolhida a ilha de Sirijipe (atual Villegagnon), dentro da baia, com boa visibilidade da entrada da barra. Ali construiu o forte Coligny, estabelecimento inicial antes da ocupago do continente, onde seria erguida a cidade de Henriville. A permanéncia francesa na regiéo foi um empreendimento repleto de dificuldades, agravadas pelo conservador puritanismo do comandante que vedava qualquer contato com as indias da terra, avidas por deitarem-se com aqueles homens brancos, filhos da mandioca, de armaduras reluzentes ao sol. Villegagnon esperava que “como as mulheres so vinham a nds com seus maridos, a oportunidade de pecar contra a castidade se achava afastada”™, Frustrada esperanga! O calor dos trépicos exaltando os horménios, indios ¢ indias nus, as aguas tépidas da baia, um convite sensual... Afinal, 0s jesuitas 4 avisaram que nao havia pecado ao sul do Equador. Apés algumas lutas, com vitérias parciais dos portugueses, em 1563 as posigdes francesas ainda estavam estabelecidas. Para empreender uma atitude definitiva, Mem de SA articulou uma estratégia que envolveria portugueses, jesuitas ¢ 0 auxilio dos nativos locais, inimigos naturais dos indios aliados aos franceses. Em 12 de margo de 1565, na Praia de Fora, na entrada da baia, Estacio de Sé fundava a cidade de Sao Sebastido do Rio de Janeiro, “ndo mais que uma cerca de pau a pique e casas de patha”, segundo descrigao do padre Pero Rodrigues. Dos nicleos urbanos (61) lepaigno Ginulativamente, 0 nitcleo foi reforgado com pedr ealonenciou reforyos suficientes para expulsar um invas Litadlo, em janeiro de | 567. Imediatamente o governad stdcio, que havia sucumbido je geral, som o yobrinho FE: butalho, transforiu o nucleo para um local estrategicamen ‘nus seyuro, baa adentro; 0 morro do Castelo. al munteve a tradigao medieva 0 Colégio de Esta ocupagdio ini com destaque para os edificios religiosos, Jesuits, a $é.€ 0 Castelo, localizados no cimo da elevacdi enquanto o casario descia por vielas sinuosas na direga da varzea, procurando um porto que deveria se implantado em regiflo protegida, uma praia entre morros com boa visibilidade da navegacao na bafa. Jé no inicio do século XVII, a cartografia holandes« registra uma vila cujo tragado procurava alguma organizago certamente influenciado pelas Leyes de Indias, esgucirando-se entre acidentes naturais como morros ¢ Jagoas, situagio que perdurou até os primeiros anos do século XIX, quando chegou a Corte portuguesa (fig. 64). Por rés séculos 0 nticleo urbanizado ficou limitado a0 Norte pelos morros de Sto Bento e Conceigo; a Leste pela Fig. 64. Mapa holandés de 1624, registrando as primeiras vias bafa de Guanabara; ao Sul, pelos morros do Castelo ¢ Santo de ocupseio da cidade junto ao mar, baia adentro. Fig. 65. Mupa de Rio de Janeiro, demarcando 8 ocupsrio da varzea limitads pelos quatro morr0s. Antonio e a Oeste pela antiga rua da Vala, atual Uruguaiana. Definia-se o perimetro pelos quatro morros que balizavam a érea edificada, de onde partiam caminhos para regides rurais ou ainda inexploradas (fig. 65). 2.5.3 Nacleos no século XVII Devido @ Unido Ibérica, a primeira metade dos seiscentos no registrou uma significativa implantagdo de novas vilas ou cidades. Em algumas ocasides, 0 motivo getador de sua criagfo estava associado preocupayao defensiva, jd que, com 0 dominio espanhol, foram herdados inimigos que também ambicionavam a ocupacao ou exploracao do territério luso-hispanico. Considerando ainda a influéncia espanhola, os principais nucleos adotaram os principios expressos nas Leyes de Indias, que determinavam o reticulado dos tragados, como Sao Luiz ou Recife, herdeiros naturais das tradigdes dos invasores, ’ G2) Arquitetura no Brasil Sdo Luiz Existem registras que indicam a presenga frances 20 Maranhto, Antes das iniciativas oficiais ¢ aps o fracasso da ranga Antartica, 0 rei Henrique LV empreendeu estinyos pant poupar uma area compreendida entre a faz do rio Amazonas € cabo de Sto Roque, abandonads pelos donos da terra jd que, parentemente, no apresenitavam potencial agricola (fig. 66). Em 1612, Daniel de la Touche, comandando trés navios ycupados por franciscanos, alguns tidalgos e soldados, a na IIha do Maranhio, onde construinam o forte de Luiz, em homenagem ao rei Luiz XU Sungia o embridio futura Franca Equinocial. © local fora determinado, considerando-se as ecessidades de defesa e a natureza do sitio para uma rovavel expansio urbana, impedida em 1615 quando os ranceses foram expulsos pelos portugueses, ‘Mesmio com sua curta permanéneia, os inyasores Iegant um modelo de tragado, inspirido mas Leyes de Indias, apro- -citado e ampliado, principalmente pela posigito estratégica er clagao a ocupagao do eixo nordeste-norte, na direyo do Pari, Surgiu um plano de urbanizagdo que chegoua inclu a onstrugdo de uma casa como modelo para as demais, onforme disposto nos noves regulamentos ¢ nas trayas tribuidas ao engenheiny Francisco Frias de Mesquita. rojeto estabeleceu Tuas regulures, ortogonais, detinindo o buleiro de xadrez (fig. 67). Recife século XVIL, mesmo com a cme’ No inicio do s rodugdo de agticar na regio de Pernambuco, Rs povoado por pescadores. Iyaragu ipagilo, enquanto Olinda entralizava os interesses locais (fig. 68). A pose da regido pelos holandeses, que fladministravann comércio ¢ 0 refine da produ Je um monopsilio gerador de Lucros desmnedidos m modesto arra ambém nao apresentava grande oct Dos nucleos urbanos | ho, seule XVI, com em tubuleiro de xadrer, faulo Formagao de 1 Colonial. Ki —_ —~ MARIN D OLINDA 47=eo rs = $i + Ey, Paste a ae Fig. 68. Vistas gerais de Olinda e Recife, séc. XVI ‘Apés a frustrada invasdo da Bahia, a nova empreitada foi preparada com muito cuidado, inclusive utilizando a correspondéncia interceptada durante as lutas anteriores. Havia informagdes sobre a potencialidade da produgao acucareira ¢ também sobre a fragilidade de suas defesas. Em fevereiro de 1630, uma esquadra composta por 77 navios, com mais de sete mi] homens, chegou ao porto do Recife. Ainda que recebido com alguma resistencia por Matias de Albuquerque, esta no foi suficiente para impedir 0 desembarque ¢ a tomada de Olinda. Em curto tempo, jé que os homens da terra se retiraram para 0 serto, os holandeses ocuparam Olinda, Recife ¢ a ilha de Antonio Vaz, de onde se expandiram para todo o Nordeste, ali permanecendo por Vinte e quatro anos. Os invasores optaram, diferente dos portugueses, por um sitio plano. + junto ao mar, por vezes alagado pelos rios Beberibe ¢ Capibaribe, um cenério eT Seas | Muito proximo a Amsterdi ¢ sua relacdo com o oceano. orguapene = | Para minimizar a condi¢o dos alagados litorineos, os holandeses 5© Sete: expandiram pela tha de Amtonio Vaz, que dispunha de égua potive,lignda 2° jeqibetn se? - _coatinente por uma poate, simbolo da capacidade empreendedors do invasor 1 que poderia, inclusive, fazer bois voarem.” @ nrauieecura no Brasit ‘A cidade edificada na ilha foi batizada de Mauritiopolis, enquanto Recife ficou para o antigo arraial. O assentamento contava com uma planta de tragado erudito, baseado nas Leyes de Indias, atribuido ao arquiteto Pieter Post.* Por questdes defensivas, o niicleo povoado contava com cortinas fortificadas ¢ baluartes, além da implantag&o de pequenos fortes nas extremidades (fig. 69). Os canais, elementos de drenagem ¢ navegacio, serviam como diretrizes para a implantago das ruas, longitudinais ou obliquas. O Recife holandés nao contribuiu apenas com seu tragado reticulado, mas com a insergo de diversos elementos na malha urbana, pouco comuns na iniciativa lusa: eriagao de dreas verdes, pomares urbanos, palicios ¢ uma arquitetura muito particular, denominada ‘flamenga’ pelos locais. ‘Nao fossem as intengdes veladas de Nassau em criar um reino proprio ¢ as necessidades holandesas decorrentes da Guerra dos Mares contra a Inglaterra, a experiéncia poderia gerar mais frutos, eliminados gradativamente com a retomada lusa ¢ & Fig. 69. © plano para Mauritiopolis restauragao do trono portugués. Contrariavam-se 0s interesses (Recife) ne sec. XVI. da Companhia das indias, talvez criando uma nova futura possessiio holandesa sem futuro. Ficaram os descendentes, uma nova contribuigo étnica & nossa formagao cultural, ao lado de novas técnicas construtivas, tolerancia religiosa, bois voadores, prostitutas importadas, uma festa que frequentemente ressurge nos becos permambucanos 2.5.4 Nicleos no século XVIII Apés a expulso dos holandeses, néo tardou 0 declinio do agicar nordestino. Afinal, a técnica de cultivo fora apreendida pelos invasores, os engenhos devidamente detalhados nos desenhos de Franz Post ¢ as mudas de cana brevemente se aclimatariam em possesses holandesas, longe da colénia lusa, nas Antilhas. No Brasil, a matéria-prima, a garapa da cana, era espremida nas moendas coloniais até a produg3o do melaco que. cristalizado, tomava-se 0 piio de agiicar. Este produto era negociado e transformado, pelas mdos das companhias estrangeiras, no ouro branco. Dos nicleos urbanos SANTOS. Paulo. Formagdo de Ct dades no Brasil Colonial. Ris de janet: UFR). 2001. p. 11 Com produgdo propria holandesa, a cana brasileira ou mesmo 0 pao de agacar tomavam-se mais caros do que o produto refinado estrangeiro, caminho direto para estagnagdo e decadéncia, atirando por terra toda a esperanga ibérica de recuperagao econémica. O resultado era um pais-canavial abandonado, casas-grandes vazias, povoadas de espectros, engenhos de fogo morto. Como opgdo a médio prazo, @ Coroa retomava a antiga ideia da busca de metais e pedras preciosas. Havia a campanha espanhola bem-sucedida nas minas de prata. Sertanistas, homens marginalizados pelo poder por sua ocupa¢ao contraventora no trafico de indigenas, gradativamente, tornaram-s¢ cada vez mais requisitados, niio raro guindados a condigo de herdis, apesar de seus habitos rudes e leis préprias, por vezes cruéis e violentos. Rasgavam 0s sertées, afogavam-se nos rios, cram ceifados pelas febres, envenenados pelas pegonhas, mas conseguiram seu ‘objetivo. ‘Até 1711, ano da fundagdo oficial das vilas mineiras, arraiais nasceram, progrediram ou simplesmente desapareceram sem rastros. Nasciam junto aos cérregos, proximos ao ouro de aluvido, esgueirando-se dos vizinhos ambiciosos. Choupanas de pega tnica, sem organizagdo de tragado, nenhuma roa para extrair alimentos. Afinal, todos os bragos eram importantes para violar as entranhas da terra e extrair a riqueza. Incrivelmente, no interior da colénia em que “se plantando, tudo da”, era tanta a febre de ouro que grassou a fome por falta de oferta de alimentos. A inexistente agricultura de subsisténcia gerou apelidos como “tatu com repolho” ou “sabié com farinha”, que revelam 08 frugais habitos alimentares dos mineradores. ‘Surgiam nicleos némades, abandonados a medida que o ouro escasseava ea busca desenfreada seguia rio acima, procurando catas mais generosas. A fartura de ouro atraiu gentes de todas as origens, de todos os credos, de todas as ragas. O apogeu dos metais ndo apenas enriqueceu e transformou 0s sertdes das Gerais como também resgatou do esquecimento ou da decadéncia vilas abandonadas ao longo dos caminhos, antigos niicleos portuérios, simples entrepostos que se tornaram présperas cidades, como Paraty. Cidades estagnadas que se tomaram capitais, como o Rio de Janeiro. Paraty Considerando-se que a Vila de S. Vicente foi findada em 1532, podem0s afirmar due fei sudeste da costa brasileira era conhecidae povoad pin — coloniza¢o por portugueses ou invasores, principalmente franceses viagens © incursdes para o contrabando do pau-brasil . ~ “No dia seguinte wero a noticia de que os rupiniquins, apis sua retirada de Ubatuba, onde eu me achava aprisionado, tinham assaltado a aldeia de Mambucaba."* ~ - Somentando detathes sobre a vida dos nativos da regio e seu contato com brancos curopeus, além de registros ¢ ilustragdes sobre a fauna ea flora, nfo esqueceado impressionantes relatos sobre 0s rituais de antropofagia. Do século XVII. em 1630, jd existe referencia a um povoado etigido por Jodo Pimenta de Carvalho, com “casa coberta de sapé” uma capela dedicada 2 So Roque, provavelmente construida & margem esquerda do rio Perequé-apu, Apés a morte deste povoador, foi o miicleo transferido para sitio mais ‘Seguro. menos sujeito a alagamentos, em terrenos doados por uma benfeitora, D. Maria Jécome de Mello, em ponto estratégico, com bom porto ¢ junto a0 inicio de antiga trilha guaiana que cruzava a Serra do Facio em diregdo a0 Vale do Rio Paraiba do Sul, a “Toca da Onga” para os nativos. Neste novo local, em 1660, mesmo antes da elevago do povoado a condigilo de vila, 0 que ocorreu em 1667, j4 os habitantes ergueram seu pelourinho ¢ a capela em devordo & Nossa Senhora das Remédios”, que se tomaria sua padrocira, Porto ji estabelecido, ¢ ponto de passagem obrigatério no caminho maritimo entre Rio de Janciro ¢ S. Vicente, a vila entrou no século XVIII como importante parada no trajeto para as minas recém-descobertas nos sertdes das Gerais, As rotas e caminhos eram conhecidos por sertanistas e guias indios, © que facilitava a criagSo de um corredor serra acima, por onde circulava ‘0 ouro que seria trocado pelos refinados produtos europeus que chegavam a0 porto. Para controlar o ouro ¢ ratificar a importéncia adquirida pela vila, esta recebeu, em 1703, uma Casa de Quinto ou de Fundicao, para fiscalizar 0 comercio do metal. cada vez mais em ascenso, gerando o progresso do niicleo que se desenvolvia fisica ¢ socialmente, atraindo mercadores, aventureiros, contrabandistas. salteadores ¢ até mesmo piratas avidos de riquezas que encontraram nas aguas tranquilas e povoadas de ilhas, esconderijos ideais para suas pilhagens ¢ acimulo de tesouros. Com a criagSo do Caminho Novo para as minas, em 1725, uma via terestre que procurava melhorar 0 controle sobre a circulag3o do ouro, minimizando os assahos e desvios da produsdo. Paraty enfrentou sua primeira grande crise econimica, estagnando o prospero povoado por cerca de um século. (> Dos nicleos urbanos (¢’) a5 ‘Mans STADEN. DUM Viagens ag. Brasil p 87. 28am op ct 104 conta a tradicao lval que 9 nome de Nossa Senhora dos Remédtos tere sun compte Fo none om Nossa Semxa sto Reina de Dew, ‘Apés a instituigo do Império ¢ a explosio da produeao cafecira no Vale de Paraiba, mais uma vez vila vislumbrou momentos de gloria. Seu porto abarrotou-se das sacas que desciam a serra para exportagdo ¢ das finas iguarias curopeias que seguiam 0 caminho serra acima para abastecer as fazendas dos Bardes do Café prologo de uma nova decadéncia advinda com a implantago da ferrovia. O tragado Do niicleo original, com a singela capela dedicada a S30 Roque, pouco se tem noticia. Apenas sabemos de “casas de esteios cobertas de sapé”, sugerindo modestissimo povoado. Noséculo XVII, acredita-se existir uma maior preocupa¢ao nas edificagdes € mesmo na criagdo de uma praca junto a uma igreja dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, sobre esteios de madeira, coberta de sapé. matriz da nova vila, agora instalada em local mais propicio, as margens do rio Perequé-acu. E possivel que nesta época tenha se desenvolvido uma rua junto ao mar, @ Rua da Praia, facilitando 0 acesso e ligago entre o pequeno cais e alguns armazéns que ali estavam estabelecidos. Perpendicularmente 20 mar e paralela ao rio, uma via seguiria em dire¢So a serra, passando pela anual localidade de Cunha. A definigo de um tragado e desenvolvimemo da vila ocorreu, provavelmente, ao longo do século XVIII, impulsionada pelo ciclo do ouro. Sobre estes aspectos é possivel o estabele- cimento de algumas hipéteses para explicar 4 implantagao em terreno plano, junto ao mar, de um reticulado “entortado”, & feigdo de um leque, muito Préximo de modelos utilizados com frequéacia pelos espanhdis, baseados nas Leyes de Indias (fig. 70). Ha a hipétese de um tragado que utilizaria como diretriz 0 Curso Solar ¢ a dirego de ventos dominantes mais frescos, pois sete ruas correm do nascente (Leste) Para 0 poente (Oeste) ¢ seis no eixo Norte-Sul, como atestava © Almanak Administrative da Corte, de 1851 (fig. 71). A tradico ja atribui 0 “entortamento” das russ # uma titica de defesa, pois possibilitaria conter invases, Tecuando-se quarteirio a quarteirio. Fig. 70. Tragado de Paraty, no final do século XVIII. Arquitetura no Brasil 14 as Atas da Camara comentam que o arruador Antonio Fernandes da Silva, tendo sido intimado para prestar contas do referido “entortamento”, alegou que “entortara de fato algumas ruas para retirar delas o vento que prejudicava a satide dos moradores com constantes resfrios"(fig. 71). Rua de Paraty, perpendicular ao mar, E desta ocasiio a preocupagaio com as marés e 4guas pluviais, surgindo o caimento das ruas para o centro, facilitando o escoamento das chuvas para 0 rio ou mar ea entrada das 4guas do mar pelas ruas mais ao litoral. Segundo atradigao, no auge do ciclo do ouro, canoas e barcos entravam pelas ruas até as Casas de Fundigao, através de falsos canais que secavam na maré baixa, transformando-se em armadithas para os saqueadores (fig. 72) Qualquer que seja.a versio correta, ou a fusdo delas, Paraty conseguiu resumir a eapacidade do colonizador portugués em se relacionar como o trépico, seja nos amplos beirais e caimentos para escoar a abundante chuva ou na integragaio plena entre um niicleo urbanizado ¢ nar que lambe sensualmente os pés da cidade a se esverddeadas e tépidas, refletindo debrucar sobre a: Fig. 72. Rua D. Geralda, em Paraty, tomada pela mare alta, a floresta que recobre © paredio da serra do Mar Dos niicleos urbanos (09 As vilas e cidades mineiras Fig, 73. Mapa de Vila Rica, sec. XVIII Vila Rica de Albuquerque, atual Ouro Preto, surgiu como fustio de alguns arraiais dispostos nos vales, as margens dos cérregos ¢ ribeirdes, onde bateias vidas revolviam suas outrora limpidas 4guas, entdo manchadas de barro e de sangue, desde a ultima década do século XVII. 74. Saotn Efigenia do Alto da Cruz. Ouro te, MG. Com a diminuigao do ouro de lavagem, incrementavam-se as minas ou grupiaras, transformando os arraiais moveis no fundo dos vales, junto as bocas das minas, em fixos, com edificagdes mais duradouras, com a capela jé inserida em um poligono irregular de baixos muros de pedra seca, associando ao carater religioso uma fei¢ao militar, defensiva, um misto de igreja-associagao-fortim, sede do niicleo, como pode ser observado na Capela do Padre Faria ou nas modestas edificagdes no Morro da Queimada. Este desenvolvimento espontineo, associado as caracteristicas do relevo local, acabou por gerar um tragado irregular que, a primeira vista, assemelhava-se As cidades medievais. No entanto, diferente destas, 08 micleos mineiros desenvolveram-se de baixo para cima, 2 Partir dos rios, dos vales, dos locais de extragao (fig. 73). Em Vila Rica a ocupasao aconteceu de forma longilines. subindo e descendo morros, com alguns becos convergindo para um eixo principal (fig. 74). A velocidade de ocupagiio nao permitit 8 definicdo de qualquer planejamento, ainda que existisse™ Profissionais capazes de executé-lo, como ocorrera em Marianas antiga Vila de Ribeirdo do Carmo. Esta, quando esco- Ihida como sede do bispado, fora elevada 4 cidade. Pela importancia que adquiriu e as caracteristicas topogrificas menos acidentadas, recebeu um tragado baseado no tabuleiro de xadrez, recomendado pelas Leyes de Indias, pelo menos em parte de seu niicleo (fig.75). Uma outra forma de ocupagao foi adotada nas vilas de S80 Joao del Rey e Sao José del Rey (atual Tiradentes). Como o relevo local permitia e a riqueza nao era tao exuberante, seus fundadores optaram pela implantagao nas curvas de nivel, em tabuleiros, evitando as grandes ladeiras de Vila Rica. Aqui associava-se alguma racionalidade ao didlogo com a paisagem local (figs. 76 ¢ 77). Fig. 75. Cidade de Mariana, em mapa do séc. XVII. Fig, 76, Rua da Matriz, Tiradentes, MG Fig. 77. Panorama do niicleo historico de Tiradentes, MG. siicleos urbanos

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