You are on page 1of 14
oo Hoegnw0h, £8, Racy do Broth , RS Top” Dlg pro, 1979 rizado, pois as pessoas de casas nobres e distinfas viviam reti- radas em suas farendas e engenhos. (ese depoimento serve para atesiar como ainda durante a se- gunda metade do sévulo XVIII persistia bem nitido o estado de coisas que caracteriza a nossa vida colonial desde os seus primei- ros tempos]]A pujanga dos dominios rurais, comparada & mes- quinhez urbane, representa fendmeno que se instalow aqui com (0 colonos portugueses, desde que se fixaram a terra. E essa sin- gularidade avulta quendo posta em contraste com 0 que reali- zaram os holandeses em Pernambuco. J se assinalou no capitulo anterior como a Companhia das fndias Ocidentais nfio conseguiu, durante a conquista de nosso Nordeste, apesar de todo 0 seu em- penho em obter uma imigragéo rural considerével, senfio aumen- tar o afluxo de colonos urbanos. A vida de cidade desenvolveu-se de forma anormal @ prematura, Bm 1640, enquanto nas eapita- nias do Sul, povoadas por portugneses, a defesa urbana era ex- carada, As vezes, como sério problema, devido & escassez dos ha- bitentes, o que se dava no Recife era justamente o contrério ceseassez notével de habitagdes para abrigar novos moradores, que nfo cessevam de afluir. Referem documentos holandeses, que por toda parte se improvisevam camas para os recém-chegados A colinis, Por vezes, em um s6 aposento, sob um calor intolerdvel, deitavam-se trés, quatro, seis e as vezes oito pessoas. Se as auto- ridades neerlandesas nfo tomassem providéncias rigorosas para facilitar 0 alojamento de toda essa gente, s6 restaria um remédio: ir residir nas estalagens do porto, ‘IS’ estas—diz um relatério holandés—sio os Iupanares mais ordindrios do mundo. Ai do mogo de familia que cair ali! Hstaré condenado irremediavel- mente & desgraga”. (O predominio esmagador do ruralismo, segundo todas as apa- rineias, foi antes um fenémeno tipico do_esforgo dos nossos colo- nizadores do que uma imposigéo do meio) B vale a pena assina- lar-se isso, pois parece mais interessante, e talvez mais lisonjeiro a vaidade nacional de alguns, a renga, nesse caso, em certa mis- teriosa “forea eentrffuga” prépria ao’meio americano e que ti vvesse compelido nossa aristocracia rural a abandonar a cidade pelo isolamento dos engenhos ¢ pela vida ristiea das terras de criagao. Hermann Witjen, op. cit, phe. 244. tt AM attractant wena, HiStoiva ch Aqunre iol To box ep: 6 Fa tee Iv O SEMEADOR E 0 LADRILHADOR 4 FUNDACO DB CIDADRS COMO INSTROMENTO De DOMINAGd0.—ZRLO URBANISTICO DOS C43. TELHANOS: 0 TRIUNFO COMPLETO DA LINHA RBTA—MABINGA E INTERIOR—A ROTINA COW: Th 4 24240 ADSTRATA, 0 BOPIRITO DA BE. PANSO PORTUGUES4, 4 YOBREZA NOTA DO (QUINHENTOS—O 2B4i13MO LUSITANO.—PAPEL Da TGREI4 NOTAS AO CAPITULO IV: 1 VIDA INTBLRCTUAL NA AMBRICA BSPANHO- LAB NO BRASID. ATINGUA-GBRAL BM 8, PAULO. ‘APERSAO 28 VIRTUDES ZCONOMICAS. watoenZd B azrE, ( Eos pmncazta ecentaada da vi da rural concorda bem com o espirito da dominagio portuguesa, que renuneion a trazer normas imperativas e absolutas, que ce- dew todas as yozes em que a8 convenidneias imediatas aconse- Tharam a ceder, que cuidou menos em construir, planejar ou plantar alicerces, do que em feitorizar uma riqueza fieil e quase 40 aleanee da mii Com ofeito, a habitagdo em cidades 6 essencialmente antina- tural, associa-se a manifestagées do espirito e da vontade, na me- dida,em que se opdem & natureza. Para muitas nagées conquis- tadoras, a construgio de cidades foi o mais decisivo instrumento de dominagio que couheceram, Max Weber mostra admiravel. mente como a fundagio de cidades zepresentou para o Oriente Proximo ¢ partieularmente para o mundo helenistico e para a Roma imperial, 0 meio especifico de criagio de érgios locais de poder, acrescentando que o mesmo fendmeno se encontra na Chi- na, onde, ainda durante o séeulo passado, a subjugagio das tribos Miaotse péde ser identificada & urbanizacfo de suas terras. H no foi sem boas raziies que esses povos usaram de semelhante recurso, pois e experiéncia tem demonstrado que cle & entre to- os, o mais duradouro ¢ eficiente. As fronteiras econdmieas esta- Delecidas no tempo e no espago pelas fundagies de cidades no Império Romano tornaram-se também as fronteiras do mundo roizes do br. 61 que mais tarde ostentaria a heranga da cultura cléssiea®® Os dominios rurais ganhavam tanto mais em importineia, quanto mais livres se achassem da influéneia das fundagdes de eentros urbanos, om seja quanto mais distassem das fronteiras. Mas no é preciso ir tdo Tonge na histéria e na_geografia Em nosso proprio continente @ eolonizagéo espanhola caracte. Tizou-se largamente pelo que faltou A portuguesa:—por uma aplicagao insistente em assegurar o predomfnio militat, econd- ico e politico da metrépole sobre as terras conquistadas, me. diante 2 eriagio de grandes miicleos de povoagio estaveis € bem ordenados. Um zelo minncioso ¢ previdente dirigin a fundacio das cidades espanholas na América. Se, no primefto momento, ficou ampla liberdade ao esforgo individual, a fim de que, por faganhas memordveis, tratasse de incorporar novas gldrias € no- yas terras A Coroa de Castela, logo depois, porém, @ mo forte do Estado fez sentir seu peso, impondo umta diseiplina entre os novos ¢ velhos habitadores dos paises americanos, apaziguando suas rivalidades e dissensGes e eanalizando a rude energia dos colonos para maior proveito da metrépole. Coneluida a povoagio ¢ tetminada a construgéo dos edificios, “nfo antes” —recomen- Gam-no expressamente as Ordenanzas de Descubrimiento Nuevo y Poblacién, de 1563—6 que governadores © povoadores, com riuita diligéncia e sagrada dedicagéo, devem tratar de trazer, pa- cificamente, ao grémio da Santa Tgreja e & obedigncia das auto- ridades civis, todos os naturais da terra (94 & primeira vista, o pr6prio tragado dos.centros urbanos na América Espanhola denuneia o esforgo determinado de vencer ¢ retificar a fantasia eaprichosa da paisagem agreste: 6 um ato Gefinido da vontade humana) As ruas néo se deixam modelar pela sinuosidade e pelas asperezas do solo; impiemelhes antes o acento voluntério da linha reta. 0 plano regular nfo nasee, aqui, nem ao menos de uma idéia religioss, eomo a que inspirou a cons. ‘trugio das cidades do Lacio e mais tarde a das colénias roma nas, de acordo com 0 rito etrusco; foi simplesmente um triunfo da aspirapio de ordenar e dominar 0 mundo eonquistado, O trago retilineo, em que se exprime a diregao da vontade a um fim pre- visto e eleito, manifesta bem essa deliberagio. H no ¢ por acaso que ole impera decididamente em todas essas eidades espanholas, as primeiras cidades “abstratas” que edifiearam europeus em nosso eontinente. Unna legislagio abundante previne de anteméo, entre os des- eendentes dos conquistadores castelhanos, qualquer fantasia ¢ caprieho na edificagio dos mieleos urbanos. Os dispositivos das Leis das Indias, que devem reger a fundagio das cidades na W Max Weber, op. cit, 11, ple. 713, 62 8 bdeh, América, exibein aquele mesmo senso buroeriitieo das minGcias, que orientava os easufstas do tempo, oeupados em enumorar, de: nir e apreciar os eomplicados cases de consciéncia, para edifi- cagio e governo dos padres contessores. Na procura do lugar que se fosse povoar eumpria, antes de tudo, verifiear eom euidado as regides mais saudaveis, pela abundineia de homens velhos ¢ mogos, de boa eompleiedo, disposigo © cor, ¢ sem enfermidades; de animais sios ¢ de competente tamanbo, de frutos © manti* mentos sadios; onde no houvesse coisas peconhentas e nocivas de boa ¢ feliz constelagio; 0 eéw claro e benigno, o ar puro ¢ Se fosse na marinlia, era preciso ter em consideragéo 0 abrigo, a profundidade, e u capacidade de defesa do porto e, quando possivel, que o mar nfo batesse da parte do sil ow do poente. Para as povoagies de terra dentro, no se escolhessem lugares demasiado altos, expostes aos ventos e de acesso dificil; nem muito baixos, que costumam ser enfermigos, mas sim os que se achassem @ altura mediana, descobertos para os ventos de norte e sul. Se houvesse serras, que fosse pela banda do levante e poen- te. Caso reeaisse a escoiha sobre localidade beira de um tio, ficasse ela de modo que, ao sei o sol, desse primeiro na povoagae € 86 depois nas Aguas, A construgao da cidade comegaria sempre pela chamada praca major, Quando em costa de mar, essa praga fiearia no lugar de desembarque do porto; quando em zona mediterranea, a0 centro da povoagio. A forma da praca seria a de um quadrilitero, caja largura correspondesse pelo menos a dois tergos do comprimento, de modo que, em dias de festa, nelas pudessem correr avalos, Em tamanho, seria proporeional ao ntimero de vizinhos , tendo. se em conta que as povoagies podem auumentar, uso imediria menos te duzenttos pés de largura.por trezentos de’ eompriinento, nem mais de oitocentos pés de eomprido por quinhentos e trinta © dois de largo; a mediana e boa proporgio seria a de seiscentos pés de eomprido por quatrocentos de largo, .A praca servia de base para o tragado das ruas: as quatro prineipais sairiam do centro de eada face da praga. De ead Angulo saitiam mais duas, havendo 0 cuidado de que os quatro angulos olhassem para os quatro ventos. Nos Ingares frios, as Tuas deveriam ser largas; estreitas nos Ingares quentes, No entanto, onde houvesse cavalos, ‘ melhor seria que fossem largas.®® Assim, a povoagio partia nitidamente de um centro; a praga maior representa aqui o mesmo papel do cardo edo decumanus nas cidades romanas—as duas linhas tragadas pelo lituus do fun- 8 Recopilacién de Leyes de tor Reynos de Indias, TX (Nadi, 1756), 1s, 90:9, ralzes do br. 63 dador, de norte a sul.e de leste a oeste, que serviam como refer rénela para o plano futuro da rede urbana. Mas, ao passo que nnestas © agrupamento ordenado pretende apenas reproduzir na terra a propria ordem eésmica, no plano das cidades hispano- samericanas, 0 que se exprime 6 a idéia de que o homem pode intervir arbitrariamente, e com sucesso, no curso das coisas ¢ de que t histérin nio somente “‘acontece”, mas também pode ser dirigida e até fabricada.” % esse pensamento que aleanca a sua melhor expresso e 0 seu apogeu na organizagdo dos jesuitas em suas redugées. Estes nfo s6 0 introduziram na cultura material das misses guaranis, “fabricando” cidades geométricas, de pedza Iavrada e adobe, numa regifo ria em lenho e paupérrima em pedreiras, como 0 estenderam até as instituigdes, Tudo estava tao regulado, refere um depoimento, que nas redugdes situadas em territério hoje bolivieno, “conjuges Indiani media nocte sono fintinabuli ad ezercendum coitum ezeitarentur”, Na América Portuguesa, entretanto, a obra dos jesustas fot ‘uma rara e milagrosa exceco. Ao lado do prodigio verdadeira- mente monstruoso de vontade e de inteligéncia que constituin essa obra, ¢ do que tarabém aspiron a ser a colonizagéo espanhola, fo empreendimento de Portugal parece timido e mal aparelhado para veneer. Comparado ao dos castelhanos em suas conquistas, © esforco dos portugueses distingue-se principalmente pela pre- Gominineia de seu caréter de exploragio comereial, repetindo assim 0 exemplo da colonizagio da Antigitidade, sobretudo da fenicia e da grega; os eastelhanos, ao contrério, querem fazer do pafs ocupado um prolongamento organico do seu. Se nfo é tio verdadeiro dizer-se que Castela seguit até ao fim semelhante rota, 0 indiseutivel 6 que to menos a intengio e a direcio inicial foram essas, O afi de fazer das noves terras mais do que sim- ples feitories comerciais levou os castelhanos, algumas vezes, & comegar pela etipula a construgao do ediffeio colonial, J& em 1538, etiase a Universidade de Sao Domingos. A de Sto Mareos, em Lima, com os privilégios, isengées ¢ limitagies da de Salamanca, ¢fundada por eédula real de 1551, vinte anos apenas depois de inieiada a conquista do Peru por Francisco Pizarro. Também de 1551 6 a da cidade do México, que em 1553 inangura seus cursos (Outros institutos de ensino superior nascem ainda no séeulo XVI GH Nao esté exclufda, alide, hipSteae de wma infludusia dizote dos modelos ‘greco-romanos "bre 0 tregade das. cldades. hispane-american fe focenies. demonstraragk_ meaino e estoeita fillacto daa Instraes ws para fundacto de cidades Jo Novo Mondo no tratado clitsico ‘Dan Stanislawsid, "Early Town Planning in the New World”, Geographical Review (Nova York, janeiro, 1947), pag. 10 e sexs. ‘SOF, A. Bastian, Die Wulturlinder det Alten’ Amerika. TY Bsitrige 20 Geseniehtlichen Vorarbeston (Berlim, 1878), pg. 888 64 5b. deh, © nos dois seguintes, de modo que, ao encerrar-se 0 perfox Tonia, tinbem sido fstaladas nas diversas posseedes de Castea nada menos de vinte e trés universidades, seis das quais de pri- meira categoria (sem incluir as do México e Lima). Por esses estabelecimentos passaram, ainda durante a dominagio espauho J, dezenas de milhares de filhos de América que puderara, assim, completar seus estudos sem precisar transpor 0 Oceano. Bose exemplo nko oferece sendo uma das faces da colonizagao espanlola, mas que serve bem para ilustrar a vontade eriadora ae anima. Nose quer dizer quo esc vontado eiadora. distin pre o esforgo eastelhano e que nele as boas intengd ere tity cere cence «aces on boa intent valecido sobre a inéreia dos homens, Mas 6 indiseutivelmente por isso que seu trabalho se distingue do trabalho portugués no Bra- sil. Dir-se-ia que, aqui, a coldnia é simples lugar de passagem, para o governo como para os siditos. i, ali, a impressto que evar Koster, jé no século XTX, de nossa terra, Os castelhanos por sua ver, prosseguirem no Novo Mundo a luta seeular contra 08 infigis, ¢ coincidéncia de ter chegado Colombo & América justamente no ano em que eafa, na Peninsula, o dltimo baluarte sarraceno, parece providencialmente ealculada para indicar que no deveria existir descontinuidade entre um esforgo e outro. Na colonizagio americana reproduziram eles naturalmente, e ape- has apurados pela experiéncia, os mesmos processos ja empre gados ns colonizagio de suas térras da motrdpole, depois de ex. pulsos os diseipulos de Mafoma. B acresce o fato significativo de que, nas regides de nosso continente que Ihes couberam, o lima nio'oferecia, em geral, grandes inedmodos. Parte considerdvel dessaa regides estava situada Zora da zona tropical e parte a gran- des altitudes, Mesmo na cidade de Quito, isto & em plena linha equinocial, o itnigrante andaluz vai encontrar uma temperatura sempre igual, e quo nfo excede em rigor & de sua terra de ori- gem (Os grandes centros de povoagio que edifiearam os espanhéis steps cts de popes gue eifenra oe epanhie a altitude permite aos europens, mosmo na zona térrida, destru- tar um clima semelhante ao que Ihes é habitual em seu pais, Ao contrario da colonizago portuguesa, que foi antes de tudo lito- rinea ¢ tropical, a castelhana parece fugir deliboradamente da marina preferindo as terras do interior ¢ os planaltesixistem, aliis, nas ordenangas para descobrimento e povoagio, recomen. Gagdes explicitas nesse sentido. Nao se escolham, diz 0 legislador, 58 V. nota 1 a0 fim do capitulo: Fide Intelectuat na América Repe- hota ¢ no Bras a eee 20 Bernhard Brands, Sudamerika (Breslan, 1923), pig. 60 raizes do br. 65 sitios para povoagio em lugares maritimes, devido ao perigo que h& neles de corsérios e por no serem tao sadios, © porque a gente desses Ingares no se apliea em lavrar e om cultivar a terra, nem se formam to bem os costumes, $6 em caso de haver bous portos € que se poderiam instalar povoagGes novas ao longo da orla ma- ritima e ainda assim apenas aquelas que fossem verdadeiramente indispensiveis para que se faeilitasse a entrada, o comércio ea defesa da terra. (oa portngueses, aster oriavamn todas us difiguldedes as entra- as terra a dentro, receosos do que com isso so despovoasse a marinhaNo regimento do primeiro governador-geral do Brasil, ‘Tomé de Souisa, estipula-se, expressamente, que pela terra firme ‘a dentro nfo v4. tratar pessoa alguma sem licenga especial do governador on do provedor-mor da fazenda real, acrescentando- se ainda que tal licenga nfo se dard, senfo a pessoa que possn ir “a bom recado e que de sua ida e tratos se nfo sequiré prejuizo algum, nem isso mesmo irfo de huss capitanias para outras por terra sem licenga dos ditos eapitdes ou provedores posto que seja por terras que estim de paz para evitar alguns enconvenientes ‘que se disso seguem sob pena de ser agontado sendo pio e sendo de moor ealidade pagaré vinte cruzados a metade para os canti- vos ¢ a outra metade para quem o accusar”?! i Ontra medida que parece destinada a conter a povoagio no litoral 6 a quo estipulam as cartas de doagio das capitanias, se- gundo as quais poderdo os donatarios edifiear junto do mar e dios rios navegaveis quantas vilas quiserem, ‘por que por dentro a terra fyrme pelo sertam as nam poderam fazer menos espaco de soys legoas de hua.a outra pera que se posam fiear ao menos tres legoas de terra de termo a cada hua das ditas villas © a0 tempo que se fizerem as tais villas ou cada hua dellas Ihe lyme- taram e asynaram logo termo pera ellas ¢ depois nam poderam da terra quo esy tiverem dado por termo fazer mays outra villa”, sem licenga prévia de Sua Majestade.”® Bm Sio Vieente, a notfeia da derrogagio, om 1554, pela esposa do donatirio, Dona Ana Pimentel, da proibigao feita pelo seu marido aos moradores do litoral, de irem tratar nos campos de Piratininga, provocou tal perplexidade entre os camaristas, que estes oxigiram Ihes fosse exibido o alvaré em que figurava a nova resolugao. io impradente devo ter parecido a medida, que ainda durante os ltimos anos do século XVIII, era ela acerbamente criticada, e homens como Frei Gaspar da’ Madre de Deus ou 0 WCE, “Regimonte do Tomé de Sousa”, Histarie da Colonizasdo Por. tuguesa do Brasil, 11t (Porto, 1924), pig. 347 Se Tt. da Col. Port, city TTT, phe 80 66 « baeh. Ouvidor Cleto chegaram a lamentar o prejuizo que, por seme- Thante revogagio, vieram a sofrer as terres litorineas da Ca- pitania. [Coma criagéo na Borda do Campo da vile de Santo André © depois com a fundacdo de Séo Paulo, decaiu Sio Vicente © mesmio Santos fez menores progressos do que serie de esperar a prinefpio, assim como contimuaram sem moredor algum ag terras de beira-mar que fieam ao norte da Bertioga e ao sal de Ita- nhaém; nio trabalbavam mais os engenhos da costa e, por falia de géneros que se transportassem, cessou a navegagio da capita. nia tanto para Angola como para Portugal. ‘A providéneia de Martim Afonso parecia @ Frei Gaspar, mes- mo depois que os paulistas, gragas @ sua energia e ambigio, ti. xiam corrigido por eonta propria o tragado de Tordesilhas, esten- dendo a eoldnia sertio adentro, como a mais ajustada ao bem comum do Reino e a mais propicia ao desenvolvimento da eapi- tenia. 0 primeiro donatério penetvara melhor do que muitos dos futures governadores os verdadeiros interesses do Bstado: sen fim fora nao somente evitar as guerras, mas também fomentar 4 povoagio da costa; previn que da livre entrada dos brancos nas aldeias dos indios seguir-se-iam contendas sem fim, alterando fa paz to necesséria a0 desenvolvimento da terra; néo ignorava fais D, dole. TI finba mandado funder colniag em, pas to re ‘moto com o intuito de retirar proveitos para o Estado, mediante ‘a exportagio de géneros de procedéncia brasileira: sabia quo os géneros produzidos junto ao mar podiam conduzir-se facilmente & Buropa e que os do sertio, pelo contrério, demoravam a chegar fos portos onde fossem embarcados e, se chegassem, seria com tais despeses, que aos lavradores ‘‘nfo faria conta latgé-los pelo prego por que se vendessem os da marinha”] ( Assim ditia Frei Gaspar da Madre de Deis hi. séeulo e meio. E acrescentava: “Estes foram os motivos de antepor a povoagdo da costa i do sertio; e porque também previu que nunca, ot muito tarde, so havia de povoar bem marinha, repartindo-se 08 colonos, dificultow a entrada do campo, reservando-a pata 0 tempo futuro, quando estivesse cheia e bem cultivada a terra mais vizinha aos portos”.* A influéneia dessa colonizagéo litordnes, que praticavam, de preferéncia, os portugueses, ainda persiste até aos nossos dias, ‘Quando hoje se fala em “interior”, pensa-se, como no século XVI, ‘em regio eseassamente povoada ¢ apenas atingida pela cultura ‘8 Fe, Gagpar da Madre de Dous, Memérias para a Histéria da Capitonia de 8. Ficente (Lishoa, 1797), pig- 32. Marcelino Percire Cloto, “Disecr tape a respeito da Capitania de & Paulo, aun decadéneia e m0d0 de reste belosta” (1782), dnais da: Diblicteca Nacional do. Rio de Voncira, XXT (io de Janeiro, 1900), pig. 201 « segs. raizes do br. 67 urbana. A obra das bandeiras paulistas nfo pode ser bem com- preendida om toda a sua extenséo, se a néo destacarmos um pou- 0 do esforgo portugués, como um emproendimento que encontra, em si mesmo sua explicagio, embora ainda nao ouse desfazer-se de seus vinculos com a metrpole européia, e que, desafiando ‘todas as leis e todos os perigos, vai dar so Brasil sua atual si Thueta geogréfica. No & mero acaso 0 que faz com que 0 pri meiro gesto de autonomia ocorrido na colénia, a aclamagio de Amador Bueno, se verificasse justamente em Séo Paulo, terra de pouco contato com Portugal e de muita mestigagem eom fo- rasteiros ¢ indigenas, onde ainda no século XVIIT as eriangas fam aprender 0 portuguts nos eolégis como as de hoje aprendem o latim. No planalto de Piratininga nasce em verdade um momento novo de nossa histéria nacional. Ali, pela primeira ver, a inéreia Gifusa da populagéo colonial adquire forma prépria ¢ encontra vor articulada. A expansio dos pioneers paulistas nfo tinha suas raizes do outro lado do oceano, podia dispensar o estimulo da metrépole e faria-se freqiientemente contra a vontade e contra os interesses imediatos desta. Mas ainda esses audaciosos caga- dores de indios, farejadores ¢ exploradores de riqueza, foram, antes do mais, puros aventureiros—s6 quando as circunstincias © forgavam 6 que se faziam eolonos. Acabadas as expedigées, quando nao scabavam mal, tornavam eles geralmente & sua vila fe aos seus sitios da roca. 1 assim, antes do descobrimento das minas, nio realizaram obra colonizadora, salvo esporadicamente. ['No terceiro séeulo do dominio portugués 6 que temos um afluxo maior de emigrantes para além da faixa litordnea, com 0 desco- brimento do ouro das Gerais, ouro que, no dizer de wm eronista, do tempo, “passa em pé e em moeda. para os reinos estranhos; ©. menor parto he « que fica em Portugal ¢ nas cidadés do Brasil, salvo o que se gasta em cordées, arrecadas ¢ outros brineos, dos quaes se vem hoje carregadas as mulatas de méo viver, muito sale que ax sonboras”) mesmo auea cmigragio faray'largo- mento a despeito de ferozes obstrugdes artificialmento instituidas pelo governo; os estrangeiros, entio, estavam decididamente ex- clufdos delas’ (apenas eram tolerados—mal toleredos—os stiditos de nagies amigas: ingleses © holandeses), bem assim como os monges, considerados dos piores contraventores das determina- bes régias, os padres sem emprego, os negociantes, estalajadeiros, todos os individuos enfim, que pudessem néo ir exclusivamente a servigo da insacidvel avider da metrépole. Em 1720 pretendeu- vse mesmo fazer uso de um derradeiro recurso, o da proibigio TY. Nota 2 so fim do capitulo: A Lingua-Geral em 8. Poul, 8 Joo Antnio Andreont (André Jodo Antonil), op. olf, pg 304, 68 5. b. deh, de passagens para o Brasil, S6 as pessoas investidas de eargo iiblico poderiam embarcar’ com destino & colénia. Nao acom: panhariam esses funcionérios mais do que os eriades indispen- is. Dentre os eelesidsticos podiam vir os bispos ¢ missions ios, bem como os religiosos que jé tivessem professado no Brasil f precisassem regressar aos seus conventes. Finalmente seria Gada lieenga exeepeionalmente, a partieulares que ranseguissem justifiear a alegacio de terem negécios impurtantes, e compro- metendo-se a voltar dentro de prazo certo Ento, ¢ 6 entio, & que Portugal delibera intervir mais ener gieamente nos negéeios de sua possessio ultramarina, mas para usar de wna energia puramente repressiva, policial, e menos dirigida a edifivar alguima coisa de permanente do que a sbeor- ver tudo quanto Ihe fosse de imediato proveito(/B 0 que se veri fica em particular na chemada Demareagio Diainantina, especie de Bstado dentro do Estado, com seis limites rigidamente defi- rides, ¢ que ninguém pode’ transpor sem lieenga expressa. das autoridades. Os movadores, rezidos por leis espeeiais, formavain como uma 86 fanoilia, governada despoticamente pelo intendente- -goral. }'Cnica na historia—observa. Martias—essa Sdéin do se isolar thn tervit6rlo, onde todas as eondigées eivis Fieavam subor- dlinadas 4 exploragio de um beni exelusive da Coron” 2 , A partir de 771, os moradores do distrito ficarem sujeitos A mais estrita fiscalizagdo. Quon niio pudesce exibir provas de dentidade e idoneidate juigadus satisfatorins, devia abandonar Imedintamente a regilo. Se regressasse, fleava sujeito & multa de 30 oitaras de our e a seis meses de eadeia; em easo de Fein eidincia, a seis anos de degredo em Angola. E ningném poderia, por sa 'vex, pretender residir no distrito, sem autes justifiear animeiesunente tal pretensio. Mesmo nas tervas prosimas & de- mareacio, sf se estabelecia quem tivesse obtido consentimento prévin da intendente, “a\ devassa geral, qe se conservava sen. pre aberta—dliz um historiador—era coma um tela imensay in- fernal, sustentada. pola delagSes misteriosas, que se urdia’ nas trevas' para envolver as vitimas, que muitas vexos fariam a ca- Tila, a vinganga particular, o jnteresse e ambicko dos agentes do fiseo"."” A eixeanstineia do descobrimento das minas, sobre- tdo das minas de diamantes foi, pois, 0 que determinow final- mente Portugal a por um pouco inais de ordem em sta coldnia, orden mantida com artifivio pela tirania dos que se interessavam em ter mobilizadas todas as forgas evonémieas do pats para Ihe desfrutarem, sem maior trabalho, es beneticios Te Bpie & saring, op. it, IT pag. 196. 3 De. Joaguim Felco snc Sostors Meméria do Distrito Diamantino de Conaree do Serr Ea (tay eM), ie 107 raizes do br. 69 cosa oiromnstineia, veriamos, sem divida, prevalecer até ao fin recurso fell’ coloniagio.Ktordnes, rages & qual tsis boeffciosfleariam relativemente acesivei Neda se imagina mais dificilmente, em um eapitéo portugnés, do que um gesto como o que se atribui a Cortes, de ter mandado desarmar as naus que o conduziram & Nova Bspanha, para apro- vyeiter o leubo nas construgdes de terra firme. Nada, no entanto, Roig leitinamente castellano de que ese ato verdadeiramente simbéli¢o do novo sistema de colonizagio, que se ia ar. Plazero repstinia mais tarde a fapanha quando, em 1698, assed do por un exireito de eingilenta mil Indios ho Peru, ordenow ‘que 05 navios se afastassem do porto, a fim de retirar aos se omens toda veleidade ou tentaggo de fuga, enquanto prosseguia triunfente a conquista do grande império de Tiahuantivsuy. ‘Para esses homens, 0 mar certamente nfo existia, salvo como bstoulo a vencer, Nem exietiam as terras do litortl, a nio ser como acesso para o interior e para as tierras templadas ou frias.®_ No territério da América Central, os centros mais progressivos ¢ mais densamenio povoedos situtinae porto do oveane, 6 ear, mas do Oceano Pasfico, néo do Atlintien, etrade natural. da conquista e do comérei. Atrafdos pela maior amenidade do clima nos altiplanos das prosimidades da exstaopidental fl neles que fizeram os eastelhanos seus primeiros estebelecimentos. E ainda em nosios dias é motivo de surpresn para histriadores e gebgra- fos 0 fato dos descendontes de antiges colonos nfo terem reall zado nenhuma tentative séria para ceupar o litoral do Mar des ‘Antithas entre o Tusatd e o Panamé. Bmbore ese litoral fieasee quase 4 vista das possesses insulares da Coros Espanhla, © embora seu povoamento devesse encurtar apreciavelmente a dis- UGncia entre a mi-pitria ¢ ov estabelecimentos da costa do Pa. ciieo, preferiram eles abandoné-lo aos mosquitos, aos indios bra- ‘caso que 98 prinsipeis centron da, eolonlagio castethana no sontnent anerzano™Mexite, Guatemala, Boge Quito cet aca Inealitadoe a gious altudes” Apenay Lio, etuada a 140m otbre 0 iat domar ‘oa pooon Gnduela do ore, onstiutexento 2 opr ‘Bip exci alacionnto neu sno ax fachanden quo 0, data Geplia pervana propocinaiia pra o comico com metsdple, do que flim ceioeacldeney hntvios da copntita, Saber, que 0 Prizeee otal Sivoo, uo Dera, pare sede du siinatasao conabona fol Tavse 8.300 m do altitude, A preferdncia dada ulteriormente a Lima, dereae, pe Sete’ cenmuntadurn oie co torent aide eyrnepio magus ala Soin © Dom suceo dee armas atlanan depend em ence pte es presenga do caval exerts sobre on fio, t fecal due tio onda pon Crago vo fies msi facimenteDarscria de : iean-Of, Kant Sapper, “Uber das Problem der Tropena AEGLARIC Son Diroptern’y zeit der Gerduchoyt for Brdkande Bertin, Hee 9/10 (Benim, 2, 1899), pg. 972 10 2b. deh. ‘vos ¢ aos entrelopos ingleses. Em mais de um ponto, os maiores aiicleos de populagio centro-americanos achams-se at hoje isola dos da costa oriental por uma barreira de florestas virgens quase impenetréveis.” (A facilidade das comunicagées por via maritima e, a falta de ta, por via fluvial, tao menosprezada pelos castelhanos, consti tuiu, pode-se dizer que o fundamento do eaforgo colonizador de Portugal.]0s regimentos e forais concedidos pela Coroa Porta. guese, quitndo sucedia tratarem de regides Zora de. beira-mar, insistian sempre em que se povoassem somente as partes que fi, cavam & margem das grandes correntes navegiveis, como 0 rio Sio Francisco, A legislaglo espanhola, ao contrério, mel se re. fere & navegagio fluvial como meio de comunicacao; o transporte dos homens e mantimentos podia ser feito por terra No Brasil, a exploragio litorénea praticada pelos portugueses encontrou mais uina facilidade no fato de se achar a costa habi- tada de uma tinice familia de indigenes, que de norte a sul fale. va um mesmo idioma. esse idioma, ‘prontamente aprendido, domesticado ¢ adaptado em alguns lugares, pelos jesuitas, As lois da sintaxe clissica, que hé de servir para o interourso com os demais povos do pais, mesmo os de casta diversa.(Tado faz erer que om sua expansio ao largo do litoral, os portugieses tivessem sido sempre antecedidos, de pouco tempo, das eatenses migra- ges de povos Tupi e 0 fato é que, duranta todo o periodo colo. nial, descansaram eles na érea previamente circunserita por essas migragies” 0 estabelecimento dos Tupi-Guarani pélo litorel parecia ter ceorrido em data relativamente recente, quando aportaram is nossas costas os primeiros portugueses. Um americanista moder- no fixa esse fato como se tondo verificado, provavelmente, a partir do século XV. B, com efeito, ao tempo de Gabriel Soares, isto , aos fins do séeulo XVI, ainda era tio viva na Bahia & Jembranga da expulsdo dos povos nfo-Tupis para o sertio, que © cronista nos pode transmitir at$ os nomes das nagies “Tapuias” das terras conquistadas depois pelos Tupinaé e Tupinemba, Ain- Ga depois de iniciade a colonizacio portuguesa, vamos assistir a ‘uma nova extensio des Tupis, esta aleangando’o Maranhao e es margens do Amazonas. O eapuchinho Claude d’Abbeville, que viveu. no Maranhio em 1612, chegou ® conhecer pessoalmente algumas testemunhas da primeira migragio tupinambé para aque- Jag regides. Métraux acredita, fundado em poderosos motives, rnold J. Toynbee, A Study of History, I (Londres, 1935), pb. 85 @ 00g. ratzes do br. 71 usage miranda tein prods entre ot anos de 1550 ¢ 11580. CA opinigio do que a conquista da orla litordnea pelas tribos ‘Tupi se verifieow pouco terapo antes da chegada dos portugus- ses" parece sinda confirmada pelo perfeita identidade na cul- tura de todos os babitantes da costa, pois estes, conforme disse Gandavo, “ainda que estejam divisos ¢ haja entre eles diversos nomes d¢ nagdes, todavia na. semelhange, condigio, costumes ¢ Titos gentilicos todos sam huns”.!0 Confundindo-se com o gentio principal da costa, eujas terras ‘ouparai, ou repelindo-o para o sertdo, os portugueses herdaram rmuitas das suas inimizedes e idiossincrasias. Os outros, os no ‘Taps, os “Tapuias", continuaram largemente ignorados durante todo poriodo colonial e sobre eles corriam as lendas ¢ versdes mnais fantisticas, 6 significativo que a eolonizagio portuguesa nao se tenba firmado ou prosperado muito fora das regides antes povoadas pelos indigenas da Iingue-geral, [Estes, dir-seia que Epenas prepararam tarreno para a conquisté. lusitana, Onde @ expanséo. dos Tupi softia um hiato, interrompiase também = colonizagéo branes, salvo em casos excepeionais, como o dos Goia- ni do Piratininga, que ao tempo de Jogo Ramalho ja estariam ‘2 caminbo de ser sbsorvidos pelos Tupiniquim, ou entdo, como 0 dos Cariris do sertio ao norte do Sio Francised 0 litoral do Bspfrito Santo, o “~ildo farto” de Vasco Fernan- des Coutinho, assim como a zona sul-baiana, as antigas capita- hias de Tlhéus e Porto Seguro, permaneceram quase esquecidos Gos poriugueses, 6 porque, justamente. nessas regides, logo se abriram grandes elaros na disperséo dos Tupi, desalojados pelos primeiros habitantes do lugar. Handelmann chegou a dizer, em ua Histéria do Brasil, que, excetuado o Alto Amazonas, era esse zona mais escassamente povoada de todo o Império, e espanta- Yate de que, apés trezeutos anos de colonizasio, ainda houvesse ‘uma regi8o (do selvagem, to pobremente cultivada, entre a baia de orice os Santos e a bata do Rio de Janeiro. No Eepirite Santo, ‘para manterem os raros centros povoados, promoveram os portu- aeses migragdes artificisis de indios da'costa que os defendes- TO A. Métraus, Migrations Historiques det Tupi-Gxarant (Paris, 1981), pig. 3 fx" ranto mais extraordindsia essa semsthanga quanto noe 6 conbeside hoje a capacidate Gea povos Tupi-Guarani pave assimilarem tragoe de cultu. ea diferentes da sun & também para veupizitaren” ov povos extrankos & ihe saya, O Padre W. Schmidt, om teu eafudo sobre on cirenios do cultura o apas Zo cultura ho eontinento sulamericano, observa que ease falo fa5 faseber quuce impossivel “éetarminarse o que constitu propriamente em BP yeulura eapecifiea dos Tupi-Guarani"-—P. Willelm Schmidt, “iCul- fortrein ud Hultuschichten ix Sidamerika®, Zeitschrift far thnologie (Geni, 1918), pag. 1108, 2 ob.deh sem contra as raziag dos outros gentios, B sé no séowlo XTX, graces a0 zelo beneditino de Giiido Tomas Marlitre, foi inieiada f catequese dos que se presnime serem os iltimos descendentes dos ferozes Aimoré das margens do rio Doee, em outros tempos, 0 flagelo dos colones. ‘Assim, acampando nos lugares antes habitados dos indigenas quo falavam o abanheenga, mal tinham os portugueses outra noticia do gentio do sertao, dos que falavam “outra [ingua”, como se exprime a respeito déles 0 Padre Cardim, além do que thes referia 2 gente costeira. Como jé foi dito, nfo importava muito aos colonizadores povoar e conitecer mais do que as terras da mariuhe, por onde a comunieagéo com o Reino fosse mais féeil. Assim, 0 fato de acharem essas terras habitadas de uma 36 raga de homens, falando a mesma lingua, nfo podia deixar de representar para cles inestimivel vantagem. ‘A fisionomia mereantil, quase semita, dessa colonizagio, expri- ‘mese tio sensivelmente no sistema de povoncéo litordnea eo al- ‘eance dos portos de embarque, quanto ao fendmeno, jé aqui abor- ado, do desequilfbrio entre o esplendor rural ¢ a misSria urbana, ‘Justamente essas duas manifestagies sdo de particular signifi ‘eagio pela Iuz que projetam sobre as fases ulteriores de nosso desenvolvimento social. O Padre Manuel da Nobrega, em carta ae 1552, exclamava: “... de quantos 1é vieram, nenbum tem jor a esta terra (...) todos querem fazer em seu proveito, ainda que seja a custa da terra, porque esperam de se in”. Bm outra carta, do mesmo ano, repisa o assunto, queixando.se dos que preferem ver sair do Brasil muitos navios carregados de Gro do que muitas almes para 0 Céu. B acrescenta: “Nao que- rem bem a terra, pois tém sua afeiggo om Portugal; nem traba- Tham tanto para'e favorecer, como por se aproveitatem de qual- quer maneita que puderem; isto geral, posto que entre eles faveré alguns fora desta regra’’.02 E Frei Vieente do Salvador, escrevendo no século seguinte, ainda podera queixar-se de terem vivido os portugueses até entdo "arranhando as costas como ca- Tanguejos” ¢ lamentaré que os povoadores, por mais arraigados que A terra estejam c mais ricos, tudo pretendam levar a Por- tngal, “se as fazendas e hens que possuem souberam falar, também Ihes houveram de ensinar a dizer como papagaios, aos quais a primeira cousa que ensinam é: papagaio real para Por- ‘tugal, por que tudo querem para 16”.!0# " Mesmo em sous melhores momentos, a obra realizada no Bra- sil pelos portuguoses teve um carter mais acentuado de feito- ‘Manvel da Nobrega, Cartas do Brosl, 1540-1560 (Rio de Janeiro, 2081), pégs, 131 6 134, 108 ‘Fr, Vicente do Salvador, op. cit, pg. 10 raizes do br. 73 rizag&o do que de eolonizagio./Nao convinha que aqui se fizessem grandes obras, ao menos quaiido nip produzissem imediatos be- neficios. Nada que acarretasse maiores despesas_ou resultasse em prejuizo para a metrépole. O preceito mercantilista, adotado aligs por todas as poténcins eoloniais até ao século XIX, segundo © qual metrépole ¢ coldnias ho de completar-se reciprocamente, ajustaya-se bem a esse ponto de vista,’ Assim era rigorosamente proibida, nas possessdes ultramarinas, a produgio de artigos que pudessem competir com os do Reino, Em fins do século XVIII, como da capitania de Sio Pedro do Rio Grande principiasse & exportagéo de trigo pera outras partes do Brasil, 0 gabinele de Lisboa fazia sustar sumariamente o cultivo desse cereal. Eno alvard do 5 de janeiro de 1785, que mandava extingnir todas as manufaturas d¢ ouro, prata, seda, algodio, imho e la porventura existentes em territGrio brasileiro, alegava-se que, tendo os mo- radores da colénia, por meio da lavoura e da cultura, tudo quan- ‘to thes era necessério, se a isso ajuntassem as vantagens da in- diistrie ¢ das artes para vestuério, “ficario os ditos habitantes totalmente independentes da sua capital dominante”. Com tudo isso, © administragdo portuguesa parece, em alguns pontos, relativamento mais liberal do que a das possesses espa- nholas. Assim que, ao contrério do que sucedia nessas, foi admic tida aqui a livre entrada de estrangeires que so dispusessem a vir trabalhar. Inimeros foram os espanhiis, italianos, flamenges, ingleses, irlandeses, alemdes que para cé vieram, aproveitando-se dessa tolerncia, Aos estrangeiros ere permitido, além disso, per- correrem as costes brasileires na qualidade de mereadores, desde que se obrigessem a pager der por cento do valor das suas mer- cadorias, como imposto de importagio, e desde que nfo trafieas- sem com os indfgenas. Bassa situagio’ prevaleeen ao menos du- ante os primeiros tempos da colénia. $6 mudou em 1600, durante” © domfaio espanhol, quando Filipe 11 ordenou fossem terminan- ‘temente exeluidos todos os estrangeiros do Brasil. Proibiu-se ento seu emprego como administradores de propriedades agricolas, determinou-se fosse realizado o recenseemento de seu nimero, domicilio ¢ cabedais, e em certos lugares—como em Pernambues

You might also like