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npr Boaventura de Sousa Santos na oficinado socidlogo artesao aulas 2011-2016 Selegao, revisao e edigao Maria Paula Meneses Carolina Peixoto Sesh Aula 1 Por que as epistemologias do Sul? © que sao as epistemologias do Sul? ‘hecimente-emancipago parte dem ponto de ignordnca a que cham ‘oni ~ 0 coloniaiso aqui no €ocolonlalismo politico, mas un ‘olnialime epistmoligico, pois ocoleniaismo eistemoligicoantecede ‘9 polltico ~e pocede,obviamente, para um conhecimento que se chama ‘eldavedade. tstas so as dua formas de conhecimentofundamentais que ‘es dentfico na medernidade ocidental -Ameu vero conlecimento-emancipagio tem capaidad para conduzir alata anticapitalista, Quando a cigncia moderna se transforma numa fora produtva,oconhecimento-egulago comecaadominarrecedificando nos ‘se ermas oconhecimento-emane pao. Assim. aquilo que éconsiderado ‘onhecimento no conhecimento-emancipacio (slidarledade) al pasar a Ser considerado ignorincia no cnhecimento-reglago (aos solidaie dade transforms em cas para pensamento do conhecimente regula. saul que era uma forma de ignorincia do conecimento-emancipagio {olonalisme) transfarma-se em forma de conhecimento no conhclmen to-regulaci (onde). Ou sea, colonlalsmo passa aserordem, sl daredade & transformada em cs € isto que, em meu entender, explica ‘crise desta diltica, no momento em que a reguacdo a emancipacio Aeixam de tr foras uals, porque ocaptalismofavorece o conhecimen tevreglg oe noe cahecimento-emancipao. Terceira fase -Aterceirafaseéaquelaem ques critica a0 capitalise, clonalsmo ‘epariarcado se untam para rar as epstemologiasdo Sul Enessafaseque ‘stou pewentemonte Arita ifnca moderna deixou de ser uma critica interna para se transformar numa ctca externa que avanga pr dus vis, or um lado, porgue & uma critica que ver reivindiar a valida de utr formas de conhecimento, € fundamental reconhecer qu existem diferentes formas de conhecimento para diferentes pritica soca que ‘extremamente negativo que a modernidade ocdentl tena conferdo A ci oprivilégio exclusive do rigor. No se pe em causa que a céncla ‘cja um conhecimento rigoros,oque Se pe em causa é que sea conside- ‘ada onic conhecimentorigoroso, Para ir Lua énecessra a cléncla ‘moderna, mas para preservarabiodiersdade da AmazSnla € essencial © conhecimentoindigena. Ninguém conhece melhor a Amazdala que os indigenas Pracisamos de diferentes tipo de conhecimentes para alana sliferentesobjtivos, Essa evindicac3o do reconhecimento da diversidade eplstemolégica do mundo é muit importante poset nabasedaprmelea linha de rca externa clénca ‘A segunda linha de rtea externa tem como alvo o facto de acacia io cuidar de princpos ou de fins tims david, mas estar incrustada rnacultura de tradicaoeurocéntria, 6 mult importante que lito se tore sive. cknciaassenta em pressupostos queso ftalmente eurocénrcos como, por exempl, a separaio sueto-bjetooua separaciosociedade-na, tureza Alegando ser universal aciénciaéfundamentalmente eurocénrica «quando comeraos olharparao mundo de una outraperspectva este eurocentrismo revela-seextremament provinciano eiénca moderna & lama exces, Fora do mundo eurocéntrco, estas distingdesndo vigoram sc Mt 950, Bani de® Aaa yee J 4 novesto de muito saber atrbuido 8 moderna cénca oidental. via i sido deseberto pelos chineses, pelos indianos¢ outros. Por tori hllontrcaencontra-se em textos em sinscrito. Nem hs nem os portuguess dscobriam a América so & uma dh cient no sé porque estas terra estavam descobertas pelos fue i viviam, como porque oteos povos terioachado a América dos europeus Exists conhecimento cartogrfico que peemitia r= lar as Américas em deta, pouco depots de os curopeus li terem fon transgio do sculo XV para o XVI" Estes mapas slo produto onhecimentos alinigenas? Nao, Saberos haje que as esquadras chi do impéro Ming portaram na costa do que é hoje a América do Sul ldo do oceano Pacifico, mas sem a intensio de dominar,e por isso se naam. Fl outro tipo de ocupac, mas estiveram por i | oj, aoinsstirmos em atribuir’ Europa oldentala"descoberta das “néicas— com atribuines mutasoutas coisas, como nosso sucesso Inatematico, por exempla quand sabemos que o zero & uma invenso da Udine que no séulo Xie no século Xl era ainda muito problemitico na Tropa entender porque & eo zero, que no val nada, poste dita de ‘outro nimero vale tanto — estamos aroubarahistéria do Oriente, como firma Jack Goody. -Aproblematizacioda criginaidade do pensamentooedentl ji come: ‘ou hd algum tempo, Mas 36 recentemente se fer sentir este movimento ho sul global, de emergnca de orcas politics e econdmicas que dessem aera ca aterleala hnaatinEste proto proms ‘Ge runes bapa Carrie hart Press Opn ora cot sob ‘onertago do Gro de blag: de mato Ge Pg ethan MRD Vrs ese 1950 \Scoremit Untrte umsyegh enone 190) Serna (Sec eaensticl emo ovo ee se Aas a Sop ‘Snares manors eof to row cara oP. | 32 Goa 2008), -Existem outros fundadores alm daqueles que conhecemos? Se ex cstiver a leconarintrodugdo 8s cléncis sociais no Norte da Africa, num Mdepartamento de seciologia,imaginem que sé fgo referéncas a aca tmicor europeus. Qualquerestudante maeroguino, agelino ou tunisino pode perguntar:entdo, eos nostos? Nio houve nenhuma contribuicio host i fundago da sacologa? A resposta sim, Se eu votasse a ensinar 1h introduio 3s ciéncas soci, um dos Fundadores da socilogia, das ‘incias socials em geal, ser includ nesseensino seria fbn Khan, {que nasceu er 1382, em Tis, Um intelectual slnio, um grande eo fomista, um grande historiador, um grande secilogo, mas que nunca entrow no nosso clnone.” Como ji efrl, todas as teria das céncassciis moderas foram ‘onstruidas com base no gue chaino um persamentoabisal, segundo © ‘quale mundo se divide em socedades metropoitanase sociedades colo tis 0 que € valid na soctedade metropoitana europeia no vido nas tociedades colonials, Eas realidadesvividas no espaco colonial no slo Considradas contemporineas das reaidades metropelitanas. sto cons tittiv de noses cincia soca E ocds podem dizer: "mas terminou ‘colonalsmo, no hi ess lina abisal”, Nola abisal continua presente. 0 racsmn em multas das nssussociedades mio se explica sem ‘salina aba 0 colnialismo interno, que Pablo Gonzilez Casanova teorizou.” exist hae em da nas nossas sociedades. As nossas dscplinas, ‘ssocioloa aantropologa entetantasoutras, so parte dest pensamen to abssal Sociologia para os clizados, antropologa para os selvagens. (Ou sea, somes wins de uma dviso ablsal colonial que havera que revilar,obviamente. ‘linha abil por vezes em muros bastante fortes." O Mediterraneo agora um muro, Frontera el dor EUA com o México obviamente que {um maro muito free e muito dur. Mas © que interessa sos murs smentais que existe nas nossas cabocas. Voc ero certamentesepuldo Baveraso3 Stead Caro (20061, 23, Wj Sates 2017, wwon 9930001000 aTESAO » os recentes incidents racists nos TUA. Os polcas tom uma linha abissal ‘mental que distingve, quando estio a rua, quem é eidadio,branco, obviamente abediente alle que no é suspeito de nada eo jovem negro, normalmente visto como depravado,pergos,imediatamente suspeto de ‘cometer um crime eque pode ser atid, Um grande problema neste mo- ‘mento nos EUA éexatamente esta emengncia de racismo com uma forgt ‘enorme. a eriminalizagdo da diferenga. Caleula-s que uma percentagem signifctva da juventude negra dos EUAextejaencarerada Potanto, tua forma de resolver um problema social, mandand osjovens negro para A piso, De facto essa invisblizaio, essa degrada da humanidade em sul-humanidade, é uma constant da nossa cultura moderna. Como disse, ‘conceta de humanidade na modernidade eurocéntria arta sempre da ‘ela de que nem todos sio humanes,verdadeeamente humanes. Conv ‘vue conta a conviver com a iela de sub-humanidade. As mulheres, por exempl, foram sub humanas dante mult tempe,entendidas come tal Os eiravos, 0s neros, os selvagens, os povoscolnizados,e agora os ‘emigrantes no documentados. Pde se fazer em rela a eles auilo que io se pode fzerem relago a outros. Em termes priticos, ees no s30 ‘jets de diretos humanos, porque no so verdadeiramente huranos, no ti dreito &digidade plea.” Obviamente que nos dseursos se dz ‘out cols. Mas, como socilogo, ol para a realidadee para os compor tment. E estes comportamentos mostram que nose tata apenas de tuna dierenga de lass. por iso que no éspenas capitalism € também Fefleno da presenga de um pensamento colonial e patrlaral na nssa ca bese em nossa sociedad, da presen da colonialidade cdo patrarcado as relagSes soca, e que nos permite compreender porque € que uns se 39 be cr coma esata rece pos govema nearest se ye rade 129 13% pogo americana Sparen Tossa est 60 img 6Om Sos ne 21 mit pesos do er msc cao 0 5. Nose at (2010, Maar (2006 era 201 1) Ura eee este iv goes steer ose cored 12 ARO 20, tomato Al & psn meat os els nanos enaraie? ‘consideram superiors outros so vstos como inferiores e, come tal, no ‘so cignos do mesmo trataments, Curioeente, a presenga de uma reflext sobre o colonialism not Fudadores das ciécias sociais& muito pequena.Evejam que mesmo os autores que desenvolveramederam continusdade aos grandes fundadores, © ‘que nos tm legado grandes linhastedrcas,tal como lmmanuel Wallerstein, tum grande amigo e claborador, Fernand Braudel,” entre muitos outros, Sempec dbservaramomundo a partir de una perspectvaeuroentrica,onde ‘© enfoque que nteress & impacto do captalsmo na sociedad. Um dos _randes telcos de referéncl,oscilogo Talcott Parsons, no menclona uma s8 vera palavraescraidio” ededia uma atencio muito peiférica A questi colonial. Mas a wllam Du Bois" contempordneo de Parsons. lum grande intelectual afro-americano,n escapou de mancira nenhuma ‘que a escravidio era constitutiva da modernidade norte-americana que era parte do sistema captalista Se comecarmos a analisrcritcamente o crite eurocntrco do co hecimentoclentifico socal, coneluimes pla necesiade de descolonizar as cldncas social eas humanidads. Por exemplo, voc saber que Santo ‘Agostinho era african? Era bastante mais esc do que vetnos em sis representages em esculturase pinturas do Vaticano. cidade de Deus tem textos suis contra ocalonalismo,cimperialismo romano, que talaga una considerou, As perspectivas eas problematizagSes qu foram o tema da aula de ‘hoje no entraram ainda no cinone das clnclas soca. “i mesa (1979 1984. 42 Vrs et cut rat (1985 «1992-1999, 4k es or so or ron il em es tte ‘She ce ante pki pope de ale Pron sta snca nt ptr uae 15 Dee Oc de Des) esr ade Sto te. te de ate tsa astra eum eriom por 9 ran eum fim me — 3 ‘slag spain exigent ate Cee Referencias vn, ina The pan Debate xcs Laws the Netter Aer Ws. Teves: Univers of Nevada Press, 2 ie, temand can mar comics 3 Liha Tore g0n 19. Ani da cpio, isos: Tere 185. [ARROLL, Lewis Ale mo pias mars Tad Maria iomena Dust, Usk Pon aues, 190. MAU Marien, litem pin So Paulo: Companhia as era, 200, DESCARTES, René. Oris de Descartes (Org) Charles Adam ¢ Paul Tanne. 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A nivel epistemelégico, tio, enteligco ,portanto, 0 Formulara questo” com descloniar a cincias socials?” procuro temas lm do politico e avancar para uma discussioepstemol6gica. Por que é importante descolonizar ‘© conhecimento? ‘tema desta aula pode soar provoctsro a muitos de vis 0 ue nifica desclonizaro conhecimento? Ser que ascii soclas pe ddeserdescolonizadas? Fm nome de qu? para qué? Encarar as crises no Norte global como uma Nesta aula, o que vos vou apresentaréo sentido que eu dou 8 este oportunidade de pensarmos desde o Sul terme, Penso que precsamoseetvamente descolonzar no apenasas nag sasciénia soci, masa epstemolgi, 2 nossasonfologs. sto porque estamos pasar por um perodoem qu stoma clr, como refer que a compreensio domunco é mais vasta do que acompreensio nortecéntica <4o mundo, Durante um tempo i tivemos que nos preocupar demasiado com sso. Mas hoje nfo asi. 0 Norte global, por asim der, encahe. Sul loblexpande-se, E saberos que ausimentc na Europe, sofremos tum sentimento de exaustio, de alta de alternatives. Est situaco pode sjudarnos a dtectar oprtunidades de pensar pr além dos crits ds paradigms qe predominaram at agora. (0s meus estudantes de dotoramento em Portugal ou em inglatrra sim gue nar eeger fn orp nts copa por latino-americanos, enquanto gue na ingatrr so ris funda rmentalmente das exons brtdnias. Como saber, a unvesidades europeias refctem muito nas suas estrturas a herana colonial Estes alunos perguntan-me fundamentalmente “por ue € que a Europa no resol este problema ques arrasta hi tanto temp? Como é que a Eur a, que durante sculos nos ensinow os prinepios dos Diretos Humanos, da Democracia, do Direto, et, v8, agora as Arualment é claro o esgtamento epstomeligicotesrco ¢ politico ho chamado Norte global «Europa a América do Norte. Depois de cinco ‘culos a ensinar a0 mundo, o Norte global no sabe resolver os seus pré pros problemas. uando olhamos para o resto do mundo, para a Aica, a rea Latina, Asia, hoje em da, vemos que hé muita gente a fazer {oisas nova, Existem movimento, onganiages, tas, resistencias, slugs ltenativas de descbedincia~ mesmo ao Fund Monetiri Internacional ‘80 Banco Munda Porque que Norte global no pode aprender com estas experincis do mando? Porque um preconcsto clonal, que persiste mesmo depois do fim da era dos impéris, impede o Norte de aprender com o Sul Segundo ‘a perspctva precnceltuosa que, de modo ger, permanece em vigor no Norte global, no & possvel que 0 Sul global tenha algo a ensna.” Com fste pensamento,o Norte no &capse de poder aprender. ntretanto 5- tamos nuts ponto em que, qui todas a8 rises no Norte global judem riar uma jancla de oportunidade, desde que possamos fazer os teimites politicos e epistemolgpcos que nos permitamt realmente pensar a partic ho Sul de wma outra perspectiva que possa mostra a sua relevincia para as democracas suspen, os direitos dos seus cdadios a serem destruidos uns trl dos outros, e, aparentemente,ndo parece haver un alteratva™. 1s problemas do mundo em geral. Ou se, no se trata simplesmente de inverter a relagio ~ o Norte ensinava o Sul agora o Sul ensna © Norte, ‘© que pretendemos estabelecer€ uma outra conversagio da humanidade, ‘como diziao grande filsofo norte-americano John Dewey. E que pos samos realmente compreender que necesstamos de manterrelages mais horizontals para nos entendermos no mundo. Mas, para alcangarmos ea stonecessirias muitas coisas. A primeira éque oSul se constitua como um ‘sujlto epistemoligico. Porque neste momento o Su é ainda, em grande’ ‘medida, um objeto epistemoligico. que quero dizer com isto? Um sujeito€ _aquele ue pode representaro mundo como seu. Se podemos representar. mundo como nesso, podemos transformé-lo. Se oconhecimento que tems ‘do mundo nio nos permite representi-o como nosso to pouco podemos transformi-lo, F, de alguma maneira as ciénlas soca eo pensamento da "Norte global craram essa ideta que mantém grande arte da populago do ‘mundo a sentir se exlada no seu préprio unde, Sentemse do lado errado da histria porque hes foi negada a capacidade de representar o mundo: «como seu ssa 6, no undo, a grande tarefa de uma nova epistemalogia, de ‘uma nova politica: permitir que mas pessoas tenham acesso a esta grande possiildade de poder eepresentaro mundo como seue,consequentement, poder transform, ‘Como sabem, héalgum tempo propus 0 conceito de epistemologias do Sul para designar uma outra maneira de construirconhecimento para «transformacio social. Porque, como tenho dito, paraimaginare realizar ‘sta transformagio ¢ necessério um outro tipo de conhecimento, bem ‘somo um outro tipo de validacio, de credibilizaglo do-conhecimento, Para comecar,deveriamos usar 0 termo conhecimento sempre no plural ‘ou sea referirmo-nos a conlecimentos, Enfatizar a pluralidade do e0- mmhecimento ¢, por si sé, uma transgressio. Tentem escrever num texts em inglés knowledge no plural ~ knowledges — e vero que isto & sempre. ‘dentficado como erro. Fara o Norte global, o conhecimento € singular, no & plural 700 Wes ene ates on owe (1958 1925), Para enfrentar uma politica epistemologica precisamos de uma epistemologia politica Fundamentalmente, esta necessidade de transgressio impe-e por- qe a poltica que temos hoje, em maitas partes do mundo, é uma politica cpistemoligha. uma politica ques firma come a nica posivel, como Jnvenevel que descredibiliea todos 0s conhecimentos que podem cnfrentl,desafila, confront, Isto acontece quando um sistema polltico, intelectual ou outro sistema, 0 natural, por exemplo, entra em crs, A crse € um evento que nos obriga a repensaro sistema ea proc rar outtas posibilidades, Quando, eventualment,ocorre uma crise num sistema, cla tem que ser explicada sto &o que os socilogoschammam uma ‘ariivel dependent. problema & ue vivemos num tempo que a crise 6 permanente F quando a crise se faz permanente, ea no tem que ser cexplcada porque passa «set a explcago de tudo. Quando se diminuem fas pense, se privatizam os sistemas de said e educacio e se toma medidas prejudcais ao bem estar soil por causa da cris, sso significa, ‘como dria 0 scilogos, que a crise deixou de sor uma varivel depen dente para ser uma varive independents. Ou soa, a crise expla tudo. sso traz-ns uma grande inguetude, porque a crise permanente impede a transformagio ea emergéncia de Neste poo, é importante perceber quem detém © poder politic, social, econdmico,poraue muita veves os governos ~ mesmo aqules ‘que consieramos progressistas — eatrolam 0 Estado, mas no detém 0 poder Preocupa-me, por exemplo, fate de que no continent amercano, ‘que marcouo inicio do séclo Xt com tanta esperanc € com tanta tas ‘fensivas, de um mes a outro, tena sido necessiio pasar a lutas defen sivas, legislgiocriminaiza 9 pretest social, No Brasil por exemplo, temosasstido& nego do dirlto terra aos ndgenas, a0 assassinato de indigenas, de joven afrodescendentese de militants de diversos mo- vimentos socials Equi siuacSessemelhantesestejam a acontcer por lal da eid" escloizaio"enquanto noutros contests predomina fh referénca 3 “decoloialidad ‘al como jreferantriormente, oli 40 de controle politic, da estratura produtiva edo trabalho, Mover cconticcerde um determinado grupo cobre outro ot outros: Uta {ls caracterstias principals do colonaismo 6 facto de, muitas ere a faptalspolicas, as metrdpoles colonas se situaem noutras jurists s como fio caso de Portugal emt relag is suas colts 8 on... sac cnet fm ees iol cea oder mes um poe ronal, anton oe or matam i distancia © numa podem ser vencidos, P¢ 7 alvos com drone ti ea aos om roms no Agito esd tat 8 part ah hs ns Me ss 2 es z le computador. Nao ¢ a isto, obviamente, que nos referimos | ne eto normal nko hi reat un art onde o cea possm de slguna mane, enero vendre us pa in poe dar un pb eum prs se a&contece som Gri, Este poder no ¢invencive, mes apresentaae ane 055 épsel dene wae gu src au *pistemologia tem que ser politica. . “7 Ves ake ne tee Yeemamvinnts diy eu ha pr end terior ric, Arica e Asia ‘Nasequéncia de tas nconaits em contextosafccanoseasiios, asogunda metade doséculo XX conheceu inimeras ats pela descent fo. tas que ainda marcam 0 panorama politico contemporines, omo, Por exemplo, lta dos estuantessul-aicanos pela descooniaci da Tiniversiade. Apesar de se impossvel desfaze a vilénca do encontro cli, oapelo& desclonizago defende a emancipario econsiica ¢ "os colonizados em que ofndamento da libertag0 Te pia hist, omar epistmica dos pow de no drito inaiensvel de um povo ater ua pr tdcides «parti da sua elidade, da sua experncla” ‘a colonalidade tl como proposto pr Anibal Quijano, revelase somo utes face da moderidade euoctntrica, rato da manuteno das felages colonials edo proceso de dominaco/exploraci, Neste setido,2 (olomaldade € um conceto que possibilit acompreensiodacontisidade ths formas colonials de dominacio aps fim da aminstragies lois | inetropoitanas Var como as duascorrentes se aproximam. Nos dois casos — descolonizago e descolonaliade ina aurgéncia de wm empenho cit intelectuase socials ~ de séos de sh 2 ncaa das cond par declnizar oc ', queria referir 0 porgué da opeio,nalgns contexts do Sul a denincia 4a situagdo colonial subi onsequencias politicasatuas — vexpanus’ no mundo colonizado, contestando a suposta natalisa (Go da inferiorizagio da alteridade ea despolitizagto do munde Neste Sontexto,descoloizaro conhecimento passa por wna reviso fies inclu algunas dimenses de desmonumentalizaco, Nio se trata de dest, mas de desmonumentalizar.Cabe-nos perceber quale context, fem que podem ter uma compreensBo do mundo que no faga dele wma Ombra dagilo que é 0 Norte global, Seo desmonumentalizarmos, bar anos também a sombre permitimos que outras realdades, eventual ‘Dou-vos das exemplos, entre muitos outros, para que percebam metho esta realdade o primero é, naturalmente, oda reflexées prod Tidas peo grupo dos estudos sbalteros (uber studs), uma corrente trite importante da histSria da fod. Hstacorrente val produrir uma istria a partir da perspectiva do lo, a partir da vitima, digamos asi o colonialisme. Este grupo prod inimeros volumes que refetem essa histria que hoje, als, est sob eitia porque fr uma transversal muito lnteressane, Teoricamentetrata-se de umahistria desenvolid a partir da perspectiva do eto, mas que usa os instrumentosaaliticos nrtecEtrcos, fundamentalmente da andlse marxsta, A primeira gerago dos estudos sublterns da india ¢ marxist, ® $6 com Dipesh Chakrabarty e outros é ‘qu passa para aguilo aque chamamos, no Note global, e-estraturals- mo. Mas evident que estamos perante uma tentativa de apresentar uma ‘utr histria usando as frraments das epistemologas do Norte de una ans cntrhagemdnFum princi paso dedesmonamentalzago ‘muito inceressante, ‘Outro exemple di-se em meados da década de 1950, quando surge a Escola deHistria de Dakar, liderada por Chek Anta Diop” fundamental ler Nations nbgresetclture, rs kro maravilhoso onde Cheik Anta Diop tenta mostrar que a Afric, longe de estar fora da histria esté dentro a histra, é parte dela, e que existe uma stra afreuna pri-colonial muito forte, que ¢ ignorada por muitos. Anta Diop chama a atengio para a Importncia de recupera ets histériapré-colonal. Obviamente trata se ‘de um histriaproblemstica, e hoe sto virios os historidoresafrcanos ‘que riticamalgumas das premissas de Anta Diop. Por exemplo,Boubakar Barry, um outro grande hstriador do Senegal, cola em causa vias das

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