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Ensaios sobre Filosofia, Literatura e Cinema (IM) POSSIVEIS (TRANS) POSICOES Zéfiro (uovossvms (Teasrongoes DERRIDA, Jacques. Epes de Mars. Tad de Anemia Skinner Ro de Jeneio: Relume— Dumas, 1994. DERRIDA, Jaques. Gremutolpia 2 ed. Tad. de Mitam Osoiderman Renato J. Ribeien Sao Paulo Pespeciva, 1999. ECO, Umberto noni aceeetuale nics delete In: ECO, Umber. Sobre fe cunt 2. Ted, de Eliana Agua. Rio de Janey: Record, 2003, FOUCAULT, Michel. Miafiice d poder. Organtzagto ¢ tadugio de Roberto Ma chao. 13 ed: Rio de fancio: Ga, 1998. FOUCAULT, Miche © gue tm awa? Tia, de Antonio Feenando Cascaire Béuao (Corder. 4d. Lsbou Passagens, 2002 JAMESON, Fede, Fim da are’ oi ‘Bim. da ltl, Jn JAMESON, Fie. A ‘ule do inher. Tend dle Masta Hla Cevasco @ Mars César de Paula Soars Perpoli: Vers, 2001 JOHNSON, Chistopher. Desde ind de Ral Fler. So Pao: Unerp, 2001 LECHTE, jo. 50 pemadovr conterpantier nena Tad, de Fabio Femandes. 2: cd. Rio de Jncieo: DIFEL. 2002. 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Em certassituagées mesmo, parece ser 0 prbprio Agostinho da Silva a, propositadamen- «e, criar sa dficuldade, para se afistar de estilos ¢ modas mais ou menos vigent=s sem que isso ponha em causa a sistematicidade orginica do seu pensamento, de contetido complexo, ¢ que nio invalide o prestigio da sua obra, antes 0 cleve. “Bacrta vida, erature ¢ existénci’ foi este 0 titulo que escolhemos, de ‘modo a permitir fazer uma lerura mais aberta da obra agostiniana, considerando que 0 ema nfo s6 nos (feencaminha para 2 temitica da Filosofia e Liceratura, como ainda da Antropologia, sem que outras abordagens néo deixem de ser possi- vis. Que isso posse significa dispersio no vasto mundo pelo qual o pensador pese- grinou, nfo se nos afigura como tum perigo ou sequer um tseo, j que ele écaleula- do. Risco maior em Agostinho & sempre circunscrever a andlise do scu pensamento no sentido de o tomnar definivel efechado. E que a sua personalidade nfo era, como continua néo sendo, de todo aprecidvel. Tendo a coragem de prezar toda aliberdadle possivel, a sua ousadia ¢sabedoria levou-o 3s contradig6es, As incoeréncias ¢a0s pa- ‘adoxos,assumidos como uma expécie de seguranca para chegar verdade possivel’ A semelhanca do clissico Diderot que na sua Encyclopédie define paradoxo como uma proposigio paradoxal, aquela que, contritia &s opinides comuns, € aparentemente absurda, embora, no fundo, ela sea verdadeita, também, em certo sentido, Agostinho da Silva no caminka longe desta visto, pois nele também © paradoxo, ou melhor, os paredoxos se manifesta como resultado da relexio, no silenciamento das vores da razio e das emogbes. Dat a semelhanga do actor em Dideroe que, ao epresencar um determinado papel em cena, nfo apenes aparente co sentimentas do personagem, mas os experimenta Também Agostinho da Silva néo apenas aparente ter sido mas foi, real- mente, uin filésofo ¢ um pensados enéo © esterebtipo do Flésofo come algu fA, lsd dn compensa in da produ da bs TCE Reet Aromas e Paradox, Beslia, Thess, 1999. « @ ujrossvns (Temrosg6as contemplative apenas. Pois éprecisamente eacima de tudo por sere nfo s6 autor ‘mas também actos, por ser tebrico € pritic, por ser sobretudo um hamem de acgéo por exceléncia, que mais contradigées ¢ paradoxos se Ihe deparavam. Ora, aos homens de acsio chamavarthes Agostinho os “oleios de Deus” ~ «ess, fo- am entre muitos outros, aqueles a quem nas suas Biggrafias eontemplou, como por exemplo S. Francisco, entre muitos outros. Em Diderot, o paradoxo envolveria, por assim dizer, as duas “verdades", ado actor ¢ a do autor-filésofo, que s6 aparentemente se excluem, pois elas de factos de conciliam. E por isso é que de modo nao de todo muito diferente 0 ‘mesmo acontece em Agostinho da Silva’, considerando, contudo, que no nosso aucor a convergéncia se acentua 20 mais alt nivel na ideia do autor e do actor dde uma obra, uma vida ¢ um pensamento. Por te sido essa a forma de se encon- tar consigo ¢ com a vids, Agostinho da Silva, no cumprimento das suas torais possibilidades, inevitavelmente nos interpela pela incomum, pela inédita ¢ pela forma sempre simples e a0 mesmo tempo apaixonada como se entrega ao saber 20 fiver que desde a literatura €a poesia & biografia, desde a tradugio de textos clissicos, desde a filosofia da educagio, da culeua, da politica cda historia’ ica, A metaisica, A filosofia da religiéo 4 mises, cudo vai acontecendo, simultanea- mente de modo quase compulsivo (no esquecemos que Agostinho da Silva erg alguém que escrevia deforma quase compulsiva) mas, ao mesmo tempo, de modo tranguilo, pois essa era a forma deste vigjante interior ¢ exterion de tal modo ciimplice, implicado em seus dislogos “interdsciplinares’ que, alguns ditéo, em alguns momentos compromete o rigor da sua inteligéncia com certas ambiguida- dls retricas, Contudo, cambém serd verdade que tantos e procuraram demarcar de certos “perigos” e neles acabaram por ser de algum modo “apanhados’. Procurando aproximarmo-nos um mais deste singular viajante, podemos tefetir que entre a Europa, a Aftia e a América do Sul, Agostinho da silva, ou ‘melhor, “Mateus-Maria Guadalupe” inicia uma viagem, chamemos-the intercon- tinental que, podendo néo ter sido previamente penseda, foi acontecendo € 0 levou desde'1953 (“Herta, Teresinha, Joan") a 1955 (com “Macaco-Prego") © depois de 1957 (com “Dona Rolinha’, “Ada Carlos’, *Tumulto Seis” e “Clara Sombra a das Fas"), Memo que, como sabemos, 0 prsdoxo aparesa em Diderot de forma explicica ma esética, io deitando de ertr ausente néo ¢6 noulros aspecos da obra © com multasimplicages de aruteca divers. A exe respi, ver em particular: Benbt, Yes, Didery, De Fase & Venticolniaione, Pass, Maspero, 1970. "Todas tepublicdas em: Bude Ob Ltera,Lisbox, Ancora! Citculo de Leiores, 2002 eS ” nua obe Poni, eeu Cinema Nesta viagem, a reflesio do autor, de canho existencial (também existen- ialista, no sentido mais amplo), ganha, stravés de Mateus, o outro em si que & ‘o-mesmo, uma vida onde as suas meméras, impressées, medicagées flossficas © cestéticas se misturam num todo literiio onde a arte de compor escttos num sea- tido do mais especifico nao apresenta uma clara componente artistic el ou esté- tica, Efectivamente, ¢ mesmo que o teabalho estético-literiio sobre a linguagem ‘bio tenha sido sua preocupacio, nfo deixa Agostinho de escrever: “fas minhas ‘memérias, que eu vou escrevendo tio preguicosamentee tio desordenadamente, (..) escrtasma] bom remanso ¢ bom repouso para uma existéncia que sem aci- ences, apesar disso, ou talvez por isso, tanta vez se cansa de si prépria’*. Con- ‘do, também afirma logo de seguida: "Revejo-o [ao texto da novels] mas néo o corrijo, Porque muito me agrada restituir vida, sem esforgo, o que a vida, a mim, sem exforgo me trouxe”, 0 que néo deixa de ser uma afirmacéo bem significativa ‘Acesctita ca vida assim juntas, mesmo que numa primeira letara, ow melhor, pesspectivadas de dentro da literatura, afinam Agostinho da Silva, ou Mateus M. Guadalupe, para “fora da liceratura’, mas nfo deixaremos de estar perante um conjunco de novelas de tipo memorialista. Aliés, © proprio autor as inticula como “lembrancas”, Todavia, se a literatura € considerada enquanto arte, sobretudo na definigio por extensio em que especificamente ela consistrd na arte ou oficio de cescrever de forma artista, Agostinho afimaria “... sea critiea me pergunta, eu continuarei supondo-me do lado de fora da literarura, que €assunto série diftcil dde mais para mim...” Bem sabemos que Agostinho tem como preocupagio maior uma “reflexio de autor” ¢ decaradamente a sua pretensfo no seria fizer literatura, deixando nds aqui muito caro que entee a Filosofia e a Literatura, mesmo que os dois am- bios possam ter pontos de chegada diferentes, nem sempre os pontos de partida serio tio distintos como, em sentido nio especifico ¢ restito, s¢ pode pensar (contudo, deixemos aqui de parce aqui essa questio, mesmo que ela nos seja ex- tremamente cara), Escrita ¢ vida, liverauura e existéncia, segundo “caregorias” amplas, cami- ‘nham sim indissocidveis. Por isso, na sua literature Agostinho da Silva seria um licerato? Um escrtor? Talver alguém “fora da literatura’, como em certa medida também ji se observou relativamente Fernando Pessoa 0 de néo ser um fil6sofo “mas apenas um poeta estimulado pela flosoia” “Tee p 2. ‘idem, idem. Idem, p. 183. Cartes H, do Carmo Silva, in AAV, Agostini Sl 0 pensementslusorbraiev, org. {de Renato Epifinio, Lisbon, Ancora Ed Associngio Agostiabo a Silva, 2005, p. 53. 6 QP (tawossivus (Das)rongoes Enquanto arte, 2 Literatura, como as outras artes, surge definida “como uma transfiguragio do real como uma ralidade recriada através do esptito do artista € reuansmitida através da lingua au6noma independente do autor ¢ da experiéncia da relidade que proveio”. Néo, em Agostinho da Silva temos sim a singularidade cde um homem néo de um estilo ltedtio (ou tlver. sim, mas néo cassifcéve] nos modelos cientifions) que esceve obviamente de um modo gramaticamente correo. HB verdade que em suas novelas num primeiro momento parece que vai surgir 0 ‘scriton, pois hd um tema —a impossbilidade de realizagéo de um amor absoluto ‘entre homem ¢ mulher =, hé uma forma litertia onde o tema se reenquadea € {que € 0 memorialismo. Dois dados fundamentals da novela esto ai. Conrado, ‘Agostinho da Silva nfo teve interessealgum em prosseguir na literatura como ate, ‘mas sim uma actvidade liverisa “ora da literatura, para usar as suas expresses. ‘Mas estar “fora da literatura’, no sentido de literacura como arce nestas no- velas de Memérias, diz Agostinho da Silva, significa sobretudo escrever que 0 seu interesse mesmo € apenas a “lembranga de pessoas que de qualquer modo me passaram na vida, ou, para ser mais exacto, em cuja via eu, de qualquer modo passei, Porque, no fim de contas foi a deles que realmente valet”, Curioso, 0 per- sonagem central afinal dé Ingar & existéncia, a existéncias,vidéncias, a ealidades sociais, lugares, paisagens, animais, com a preguica de io obedecer ao esperado ‘©20 certo mas deixar que a vida venha, asim esperando que a vida seja devolvida ‘em forma inesperada sem 2 dominar. Jogando-se ao acaso da vida, Mateus, entre a crrincia ¢ a preguica, pode possivelmente ser visto por uma outra perspectiva ppossivel, o Amor absoluto néo possivel entre homem e mulher. ‘Assim, interpretamos “Macaco Prego” (1955) ¢ “Dona Rolinha® (1957) ‘como uma afirmaco do Amor absoluto, sim, mas um amor que, perante uma fasio absoluta entre homem e mulher de certo modo actualiza, mesmo que mo- ‘mentaneamente, 0 amor do Criador projectado na cxianura, ou seja, Maceus 0 que Duscatia seria um Amor como aspiragio universal & unio ¢ consequentemente como dissolugao de dois em um, pelo que Mateus aspiraria 20 Absoluto ¢ no a limitat-se. Também por esta via, a busca de Agostinho cxcedia todos os limites. * CF. Aftino Coutinho, Nota de Tria Liter, Ro de Janeiro, Cvlagio ed, 1978, p 9-10. » Brus ¢ Obras Litedrias, ed. cit, p. 73. & “ MARK ROTHKO E CLARICE LISPECTO! ELEMENTOS PARA UMA ESTETICA APOFATICA’ Cicrro Cunna Brzerra Ui pensamencaprofiendo etd no devr continuo, brace a experiincia de uma vida ese malda a ela A Cams, O mito de Stifo ConstDERAGOES PRELIMINARES Pinta, assim como escreves, implica no enfientamento com o branco. Bs- ‘paco limpido entre os olhos ¢ as ideias. Na luta agénica por representas, sea na leeratura, seja na pintura, © que sem cor se mostra A mente, pintor ¢ escritor controem suas obras movendo-se no limite de planos, suportes, estruturas ft sicas, quase sempre inapropriadas ou pelo menos limitadoras do pensamento. No entanto, no branco, 0 negro, das letras ou das tinta, sobressaiiluminando ‘© que no branco se perde ou nfo se deixa ver. Malevich ousou pintar a tela mais desafiadora da arte moderna, a saber, seu Quadnado branco sobre fnndo brance?. ‘Variagdes de brancura no intuito de propiciar uma experiéncia no objetiva da arte, Curiosamente, no branco sobre branco, & a ideia paradoxal de um plenof vazio que petmancce como fundo iluminador. Na brancura é cegucira que pare- ce negar 0 esforgo de viséo dirgido pelo artista. Branco se torna negro, ou como divia Dionisio Pseudo Arcopagica teva luminiosa (1996). [Nio se tata de negar a qualidade iluminadora da brancura, mas de apontar para 0 aspecto negativo que reside na positividade da imagem. Em Clarice Lis- pector,o exerotcio da literatura é acima de tudo, um exercicio de despojamento, mortifcaséo e insito, pela narrativa, da pesaalidade 20 impenoal gragas a uma dlisciplina aseticae extiica marcada pelo silencio c pela contemplagio (NUNES, "Bie cnbalho & parte fargeante da Projto de Pesquisa desenvelvide junto 20 CNDg sobre MALEVICH, K, £1 mundo no objec, ad. Juan Pablo L. Zulstegsi, Sevilla: Dobe] ld. “6 eB

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