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(08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon ts jus.briconsutata/controlador php ?acaoracessar_documento_publico8doc=3115986281846560920085754674808event Evento 126- SENT? Poder Judiciario JUSTICA ESTADUAL Tribunal de Justia do Estado de Santa Catarina Juizado Especial Civel da Comarca de Balneaério Camborit ‘Avenida das Flores, sin - Bairro: Bairro dos Estados - CEP: 88339-900 - Fone: (47)3261-1708 ~ Email: balcamboriu juizadocivel @ijse,jus.br PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CIVEL N° 0309178- 12,2018.8.24,0005/SC AUTOR: LUCIANA COLVARA BACHILLI REU; ARTHUR MOLEDO DO VAL SENTENGA Trata-se de agdo de indenizago por danos morais com pedido de tutela antecipada, sob o rito sumarissimo, proposta por LUCIANA COLVARA BACHILLI contra ARTHUR MOLEDO DO VAL, partes qualificadas. Aduz a autora que, durante manifestag%o piiblica, foi abordada e concedeu entrevista ao réu. Alega que se sentiu "intimidada" com as perguntas, de modo que decidiu interromper a entrevista informou ao réu que nfo autorizava 0 uso de sua imagem, Relata que foi surpreendida com sua imagem divulgada pelo réu em redes sociais de amplo alcance e nfo teve 0 pedido de exclusdo atendido. Afirma que o fato the causou abalo moral, agravando sua satide, pois possui “transtorno de personalidade borderline". Ao final, postula a exclusio dos videos, bem como a condenagio do réu ao pagamento de indenizagao por danos morai De outro lado, o réu suscita, preliminarmente, a incompeténcia territorial e pela complexidade da causa. No mérito, sustenta que a autora concedeu a entrevista espontaneamente, que o embate politico nao configura dano moral e que inexiste prova de prejuizo extrapatrimonial. Assim, postula a improcedéncia da pretensio deduzida na inicial, Estas sio as teses trazidas a apreciagio. Inicialmente, saliento que os elementos processuais sio destinados ao julgador, a quem compete determinar as provas indispensdveis ao julgamento do mérito e indeferir eventuais diligéncias desnecessarias, conforme estabelece o art. 370 do Cédigo de Processo Civil. 168 (08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon ts jus.briconsutata/controlador php ?acaoracessar_documento_publico8doc=3115986281846560920085754674808event Evento 126- SENT No caso, os pedidos genéricos de prova oral, depoimento pessoal da autora e do réu, conforme postularam as partes, sio desnecessirios ao deslinde do feito, razio pela qual deixo de designar audiéncia de instrugo processual ¢ julgo antecipadamente a lide (art. 355, I, do CPC). Quanto s preliminares, afasto a alegada incompeténcia territorial, j4 que compete ao juizo do domicilio do autor apreciar demanda que objetiva a reparagio de danos, conforme expressamente dispde a Lei n. 9.099/95: Art, 4° E competente, para as causas previstas nesta Lei, 0 Juizado do foro: 1 - do domicilio do réw ou, a critério do autor, do local onde aquele exerca atividades profissionais ou econdmicas ou mantenha estabelecimento, filial, agéncia, sucursal ou escritério; I- do lugar onde a obrigagdo deva ser satisfeita; HII - do domicitio do autor ou do local do ato ow fato, nas ages para reparacao de dano de qualquer natureza. (grifos meus) Do mesmo modo, no se vislumbra qualquer necessidade de pericia técnica, porquanto eventual diagnéstico e agravamento da patologia da autora pode ser comprovado por meio de atestado de médico especialista. Com efeito, a causa nao se reveste de complexidade, de modo que inexiste dbice ao tramite neste juizado, nos moldes do art. 3° da Lei n. 9.099/95. Superadas as questdes preliminares, passo 4 andlise do mérito. E cedigo que a Constituicao da Republica, em seu art. 5°, incisos IV e IX, assegura a livre manifestag3o do pensamento, bem como a liberdade de informagio, reprimindo qualquer tipo de censura. Todavia, os incisos V e X do mesmo artigo asseguram que sio inviolaveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, garantindo, ainda, o direito 4 indenizagio decorrente de sua violagdo. A manifestago de pensamento, assim como a liberdade de expresso, encontra restrigdo no tocante & protegao da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, tendo em vista que ¢: protegdo esti interligada 4 dignidade da pessoa humana, que & um dos fandamentos consagrados na Constituigo Federal (art. 1°, ITD). 216 (08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon tis jus-briconsutatalcontrolador php?acat Evento 126- SENT Quando houver colisio de direitos fundamentais, tanto a doutrina quanto a jurisprudéncia jé se posicionaram no sentido de que deve ser aplicada a técnica de ponderagio em que, dentre a razoabilidade, adequagdo e necessidade ser verificado qual o direito mais relevante ao $0 concreto. ‘A propésito, importante mencionar o posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal: 2, Embora seja livre a manifestacao do pensamento, tal direito néo & absoluto. Ao contrério, encontra limites em outros direitos também essenciais para a concretizagto da dignidade da pessoa humana: a honra, a intimidade, a Privacidade eo dieito & imagem". [...] (STF, Acdo Origindria 1390/PB, rel. Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, j. em 12/05/2011, grifou-se) © direito 4 liberdade de expresso deve ser exercido de maneira razoavel, sem ferir o direito & imagem de terceiros, cabendo a responsabilizago daqueles que dele abusam, sobretudo para fins lucrativos. Nesse sentido, dispde 0 Cédigo Civil: Art, 20. Salvo se autorizadas, ou se necessérias @ administracdo da justica ou é manutengao da ordem piiblica, a divulgacdo de escritos, a transmissdo da palavra, ou a publicacdo, a exposicéo ou a utilizag&o da imagem de uma pessoa poderio ser proibidas, a seu requerimento ¢ sem prejuizo da indenizago que couber, se the atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins No caso, sobreleva incontroverso que, no primeiro momento, a autora anuiu tacitamente com a divulgagao de sua imagem quando optou por conceder entrevista ao réu. Do mesmo modo, inconteste que, no decorrer do ato, a autora mudou sua postura e expressamente asseverou que nio desejava responder a pergunta. Ainda, alega a autora que expressamente desautorizou 0 requerido a utilizar sua imagem ao final da entrevista. Tal cena ndo aparece nas gravagdes que juntou aos autos, pois constituem os videos previamente editados pelo réu, nfo a gravacio integral da entrevista (sob poder exclusivo deste) Assim, considerando que 0 réu apenas sustentou que houve a concesso voluntaria da entrevista, mas sequer impugnou especificadamente a alegagiio de que houve a desautorizacio do uso da imagem ao final ou apresentou o video integral apto a indicar desfecho da entrevista diverso do alegado na inicial, tenho por incontroverso que 0 uso da imagem nao estava autorizado (art. 341 do PC). 1essar_documento_pubico8doc=3115986281846550920085754674808event. 318 (08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon ts jus.briconsutata/controlador php ?acaoracessar_documento_publico8doc=3115986281846560920085754674808event. Evento 126- SENT Além disso, verifica-se que a imagem foi utilizada para fins evidentemente econdmicos. Isso porque a divulgagio ocorreu em perfil de amplo alcance em paginas das redes sociais Facebook e Youtube, cujos acessos aos videos rendem "monetizagio", ou seja, revertem dinheiro ao titular da pagina. Alias, sabe-se que a explorag! de canal de Youtube, atualmente, representa evidente atividade comercial, sobretudo quando ha expressivo niimero de inscritos, como sucede no caso (mais de dois milhées de inscritos). Com efeito, a publicagdo de imagem nio autorizada com finalidade comercial ou econdmica configura dano moral presumido (in re ipsa), sendo desnecessiria a comprovacao do efetivo prejuizo, conforme orienta a Samula 403 do Superior Tribunal de Justiga: Stimula 403. Independe de prova do prejuizo a indenizagao pela publicagao ndo autorizada de imagem de pessoa com fins econdmicos ou comerciais. Nessa toada, entende o egrégio Tribunal de Justiga de Santa Catarina: RECURSO INOMINADO. ACAO DE INDENIZAGAO POR L_ CONFIGURADO, PROCEDEN( QUO. CERCEAMENTO DE DEFESA. FALTA DE CITACAO. PEDIDO DE AUDIENCIA DE INSTRUCAO_E JULGAMENTO. NULIDADES AFASTADAS.[...]. MERITO. USO INDEVIDO DE IMAGEM DO AUTOR EM CATALOGOS PUBLICITARIOS POR INTERESSE _ COMERCIAL. INEXISTENCIA DE PROVA DE QUE TENHA HAVIDO AJUSTE ENTRE AS PARTES DA UTILIZACAO DA IMAGEM DO AUTOR. OBRIGACAO.——_INDENIZATORIA EVIDENCIADA."E firme a jurisprudéncia no sentido de que os danos morais em virtude de violacdo do direito & imagem decorrem do préprio uso indevido, sendo prescindivel a comprovacdo da existéncia de dano ou prejuizo, pois 0 dano é in re ipsa" (STJ ~ AgRg no AREsp n° 204394/SP, Terceira Turma, rel. Desembargador convocado Ricardo Villas Béas Cueva, j. em 23.10.2014).A diretriz jurisprudencial cunhada pelo Superior Tribunal de Justica, tem-se a compreensio de que, “para a configuracio do dano moral pelo uso ndo autorizado da imagem de menor ndo é necessdria a demonstragio de prejuizo, pois 0 dano se apresenta in re ipsa. O dever de indenizar decorre do préprio uso néo autorizado do personalissimo direito @ imagem, nao havendo de se cogitar da prova da existéncia conereta de prejuizo ou dano, nem de se investigar as consequéncias reais do uso (STJ, Rel. Min. Ricardo Vilas Béas Cueva)” (TJSC - Apelacdo Civel n° 2011.039937-2, de Blumenau, Quinta Camara de Direito Civil rel. Des. Sérgio Izidoro ‘Heil, julgada_— em 16.10.2014).Precedente: TJSC, Recurso Inominado 1. 0701412-54.2010.8.24.0090, da Capital - Norte da Itha, rel Des. Rudson Marcos, j. 07-07-2016.SENTENCA MANTIDA PELOS PROPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO. CONHECIDO E DESPROVIDO. DECISAO (TJSC, Recurso 48 (08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon ts jus.briconsutata/controlador php ?acaoracessar_documento_publico8doc=3115986281846560920085754674808event Evento 126- SENT? Inominado n. 0300499-64.2015.8.24.0090, da Capital - Norte da Iha, rel. Fernando Vieira Luiz, Primeira Turma de Recursos - Capital, j. 13-07-2017), APELACAO CIVEL. ACAO DE RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MATERIAIS E MORAIS. USO INDEVIDO DE IMAGEM PARA FINS COMERCIAIS. FOTO DA AUTORA VEICULADA NA INTERNET EM PROPAGANDA DE EMPRESA DE COMERCIALIZACAO DE PRODUTOS NUTRICIONAIS, SENTENCA DE PARCIAL PROCEDENCIA QUE CONDENOU A EMPRESA RE AO PAGAMENTO DE INDENIZAG4O POR DANO MORAL. [..] "0 direito & imagem reveste-se de duplo contetido: moral, porque direito de personalidade; patrimonial, porque assentado no principio segundo 0 qual a ninguém ¢ licito locupletar-se a custa atheia. A utilizagao da imagem de cidadao, com fins econémicos, sem @ sua devida autorizagio, constitui locupletamento indevido, ensejando a indenizacdo. O direito d imagem qualifica-se como direito de personalidade, extrapatrimonial, de cardter personalissimo, por proteger o interesse que tem a pessoa de opor-se @ divulgacdo dessa imagem, em circunstancias concernentes d sua vida privada. Em se tratando de direito & imagem, a obrigagao da reparagéo decorre do préprio uso indevido do direito personalissimo, ndo havendo de cogitar-se da prova da existéncia de prejuizo ou dano. O dano é a propria utilizagdo indevida da imagem, néo sendo necesséria a demonstragio do prejuizo material ou moral” (STJ, Recurso Especial 267529/RJ, rel. Min, Silvio de Figueiredo Teixeira). (ZISC, Apelagdo Civel_n. 0305003-18.2018.8.24.0023, da Capital, rel. Rubens Schulz, Segunda Cémara de Direito Civil, j. 18-06-2020). Desse modo, configurado 0 dano moral in re ipsa na hipdtese dos autos, desnecessarias maiores digressdes acerca do prejuizo extrapatrimonial. Logo, estabelecida a ilicitude da conduta e os presumidos danos dela decorrentes, passo a quantificar a reparagdo pelo abalo animico. Quanto ao ponto, & cedigo que a indenizagio a titulo de danos morais deve ser arbitrada de forma a compensar o abalo experimentado pelo ofendido e alertar 0 ofensor a nao reiterar a conduta lesiva ‘A quantia correspondente ha de ser fixada, porém, com moderagdo, em respeito aos principios da adequacdo, da razoabilidade ¢ da proporcionalidade, levando em conta nao s6 as condigdes sociais e econémicas das partes, como também o grau da culpa ¢ a extensio do sofrimento psiquico, de modo que possa significar uma reprimenda ao ofensor, para que se abstenha de praticar fatos idénticos no futuro, mas no ocasione um enriquecimento injustificado para o lesado. ‘Em suma, a reparacio do dano moral deve ter em vista possibilitar ao lesado uma satisfagdo compensatéria e, de outro lado, exercer fungio de desestimulo a novas priticas lesivas, de modo a “inibir comportamentos anti-sociais do lesante, ou de 56 (08/02/2028 21:27 hitpsileprocwebcon ts jus.briconsutata/controlador php ?acaoracessar_documento_publico8doc=3115986281846560920085754674808event. Evento 126- SENT! qualquer outro. membro da sociedade", traduzindo-se_ em “montante que represente adverténcia ao lesante ¢ A sociedade de que nao se aceita 0 comportamento assumido, ou o evento lesivo” (SILVA, REGINA BEATRIZ TAVARES DA. Novo Cédigo Civil Comentado. Sao Paulo: Saraiva, 2002, p. 841-842), Assim, sopesando as peculiaridades do caso concreto, notadamente o uso da imagem em videos de expressiva projesio digital e rendimento financeiro, inclusive com cunho de promosio de candidatura politica. E, 4 mingua de maiores dados acerca da condigdo financeira do réu, exceto o fato de que ocupa o cargo de Deputado do Estado de Sao Paulo (vide https://www.al.sp.gov.br/deputado/? matricula=300611 - acesso em 28/08/2020) e percebe salério que nio se pode considerar infimo, reputa-se razoavel sua condenagdo no valor de RS 5.000,00 (cinco mil reais), j4 computados os juros © corregio monetaria desde a data do evento danoso, nos moldes da Simula 54 do STJ. Ante o exposto, nos termos do artigo 487, 1, do CPC, JULGO PROCEDENTES os pedidos _formulados por LUCIANA COLVARA BACHILLI contra ARTHUR MOLEDO DO VAL para (I) confirmar a tutela proviséria concedida no evento Il e determinar, em definitivo, a remogdo dos videos contendo a imagem da autora dos perfis do réu nas redes sociais "Facebook" e "Youtube"; e (II) condenar o réu ao pagamento da importancia atualizada de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a titulo de indenizagao por danos morais. Sobre o valor da condenagao incidirdo juros de 1% ao més e correg%io monetéria pelo INPC a partir da publicacdo desta sentenga em cartério. Sem custas nem honorarios advocaticios. Publique-se. Registre-se. Intime-se. Com o transito em julgado, arquive-se. Balneario Camborit, 28 de agosto de 2020. Documento eletrénice assinado por PATRICIA NOLLI, Juiza de Direito, na forma do artigo 1°, inciso Ill, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferéncia da autenticidade do documento est disponivel no enderego letronico bttps://eprocl tise jus br/eprociexterno_controlador.php? acao=consulta_autenticidade_ documentos, mediante 0 preenchimento do cédigo verificador 310006156636V35 c do cédigo CRC ce60faSt, Informagées adicionais da assinatura: Signatirio (a): PATRICIA NOLLT Data e Hora: 28/8/2020, as 13:4:31 (0309178-12.2018.8.24.0005 310006156636 .V35 88

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