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| Jose afonso da silva | | | | | _ DIREITO URBANISTICO BRASILEIRO 2° edicdo, evista e i &> DIREITO URBANISTICO BRASILEIRO © JOSE AFONSO DA SILVA 1% edi¢do, 1982; 2° edi¢do, 1% tiragem: 1995, Direitos reservados desta edi¢aéo por MALHEIROS EDITORES LTDA. Rua Paes de Aratijo, 29 — conjunto 171 CEP 04531-940 — Sdo Paulo — SP Tel.: (011) 822-9205 — Fax: (011) 829-2495 Fotocomposicado, Paginagao e Filmes: HELVETICA EDITORIAL LTDA. Capa: Vania Lucia Amato Impresso no Brasil Printed in Brazil 03-1997 Capitulo IT DO DIREITO URBANISTICO NO BRASIL 1. Generalidade. 2. Evolugdo da legislagao urbanistica no Brasil. 3. Fundamentos constitucionais do Direito Urbanistico brasileiro 1. Generalidade 1. As normas urbanisticas, no Brasil, ainda nao atingiram, como na Ita- lia, na Franga, na Espanha, na Alemanha e na Bélgica, aquela fase de unida- de substancial de que nos fala Spantigatti,! pois ainda se acham espalhadas em varios diplomas legais federais, estaduais e municipais. A Constituigao de 1988, no entanto, abriu espaco para a realizacéo dessa unidade substancial, como veremos adiante, depois de breve consideracao sobre a evolucdo da le- gislaco urbanistica brasileira. 2. Evolugao da legislagao urbanistica no Brasil 2. A convivéncia urbana pressup6e regras especiais, que a ordenem. Compreende-se que, inicialmente, essas regras tenham surgido com base nos costumes, e sO mais tarde se tornaram regras do direito legislado. Eram re- gras simples, referentes aos aspectos mais primarios da urbanificagdo, como arruamento e o alinhamento. Assim tinha que ser, porque também as cida- des eram simples. A medida que estas ficam mais complicadas, também as normas urbanisticas adquirem complexidade até chegar 4 formacao de uni- dade institucional, quem sabe até adquirir autonomia, formando um ramo auténomo do Direito. 1. Federico Spantigatti observa que ‘‘as matérias juridicamente estudadas podem ser identificadas sob dois aspectos: ou com um critério de cardter material, segundo o objeto regulado, ou, entéo, com um critério substancial, obedecendo a unidade de principios que constitui um instituto. Na historia da ciéncia juridica sucede freqiientemente que quando certo problema chama a atengao dos juristas, as normas, de inicio, s6 tém, entre si, uma conexao de cardter material; em outras palavras, sdo normas de institutos diversos que se ocupam de uma mesma matéria; posteriormente, a evolugdo progressiva as converte numa unidade substancial e passam a formar um instituto’’. spo uRBANSTICO BRASILEIRO oi «de Dieito Urbanistico J encontramos y ce simples de Pitrapoes do Reino fixavam principe ' “prasileiro- AS ‘das povoacdes, COMO aquela’ 3 ote 8 onena eum er ence de oda ae que: "A0s Verean eT celho, e de tudo que puderem saber, a das obras 40 Cones re dela possam bem vver, eng ue a terra © rg ainda a idéia de que as imposicdes ura” sso putoridades locas. Normas gendss niscicas ae ao encontradas nas OrdenacBes Filipinas. easiness as las Waban ed 1.1, $86 13 fe constUit. fodo colonial, apenas algumas regras ¢ al. “ 4, Vamos assinalat, 20 Pt eee sobre 0 planejamento urban istco. rn ats de Direto Urbane aa criagdo da Capitania de Sao Tosd lembrar a yj 33.1788, ue tava o plano da povoa. Amazons) apital, nos terms sepuintes: deter ao que deveria proprio para servir de Praca fazendo levantar no meio par lag mals TSP Fog paras eliicar uma Igeja capar de dea o Pelourinhe’ “re numero de fregueses quando a Povoagdo se au. receer um compere Aras reas comPetentes Para as casas das Ve. seta, 29m ae Cadeas,e Mais Oficinas publicas; fazendo delinear scat Audne yes por linha eta, de sorte que fiquem lrgas edie “Ags oficiais da So Rio Nezro (A ‘Cara que sairem eleitos e aos que Ihes sucederem seat Sendo darem gratuitamente 0s terTenos, que se Ihes pedirem cara pert nos lugares que paraiso se houverem deneado 56 Fa ag de que as dtas cass sejam sempre fabricadas na mesma ca a oretine pela parte exterior, ainda que, na outra parte interior, as faga cada um conforme Ihes parecer para que desta sorte se conserve stove a mesma formosura na Vila e nas ruas dela a mesma largura que S lhesassnar na fundagio. unto da mesma Vila ficard sempre um Distrito que seja compe- tente no s6 para nele se podetem edificar novas casas na sobredita for. ‘ma, mas também para logradouros pliblicos.”"? Merecedestague, ness plano, a preocupagio com a estéticae for- rmosura da Vila, 0 alinhamento, a largura das ruas ¢ a reserva de dtea paraaexpansio urbana, assunto este titimo de extrema atualidade e muito descurado entre nés Ali, as posturas municipais, na Coldnia, determinavam, além dos srruamentos, obrigagdes de alinhamento, desapropriagdes “para ai ficar a ss Revista do natinto Histrico e Geoeréfico Brasileiro, t. LXL, parte 1, lmpren- cs, Rio 898.61, apud Nestor Goulart Reis Filho, Comtribuigdo do estudo de " 2 Bes pn 174, Sto Paulo, LivrariaPionera Edora/Edior, DO DIREITO URBANISTICO NO BRASIL “6 vila mais enobrecida e a praca dela”. Por volta de 1712, a Camara Mu- nicipal de Vila Rica (Ouro Preto) regulava assuntos urbanisticos, preocu- pada com arruamento e beleza da cidade, consoante a disposicao da ‘‘ve- reagdo em que resolveram se fizesse vistoria nas casas sediadas no bairro de Ouro Preto para que se arruassem de sorte que ficasse praca suficiente por ser de fronte da igreja para ficar mais vistosa aquela rua”.* Entdo, como nota Nestor Goulart Reis Filho, 0 tracado das cidades vilas era regular, em forma de xadrez. ‘As ruas adaptavam-se as condi- ges geograficas mais favordveis.”” Valorizavam, por meio de pracas, 0s pontos de maior interesse para a comodidade. "Casas de Cémara, Igreja ‘ou Conventos provocavam a preservacdo de um espaco livre destinado 4 aglomeracao da populacdo, diante da prépria finalidade desses edi ios.” As ruas eram simples ‘meio de ligacdo, vias ou linhas de percur- 50, ligando os domicilios aos pontos de interesse coletivo ou um a outro desses pontos”.* As pracas € que ‘‘constituiam os pontos de atencao € de focalizagdo urbanistica e a propria arquitetura de maior apuro concentrava-se nelas, em seus edificios principais, oficiais ou religiosos, ficando a arquitetura particular quase sempre num plano inferior”.” S6 ‘mais tarde as ruas adquirem nova importancia, transformando-se, de ca- minho que se percorre para atingir os locais de permanéncia e atividade comum, em locais de permanéncia elas mesmas, de contato de discussdo, em fungdo do comércio e atividades manufatureiras, que nelas vao se ins- talando; elas ¢ suas casas comecam a ser feitas para serem vistas pelos que nela permanecem ou circulam ¢ passam a ser objeto de cuidados, co- mo as pragas. A atividade edilicia recebera tratamento normativo genérico nas Or- denagdes Filipinas (L. 1, T. 1, §§ 6, 13, 14 17), que obrigavam, entre utras coisas, a que todo aquele que tivesse casa ruinosa, capaz de defor- mar a cidade ou vila e de, caindo, causar dano ao vizinho, procedesse sua reedificagdo, sendo até mesmo obrigado a vendé-la a quem assu- rmisse 0 encargo de fazé-lo, caso se tratasse de pessoa pobre e sem recurso para cumprir o preceito.* Algumas determinagdes importantes em matéria edilicia foram to- ‘madas pelas cmaras municipais do Brasil Coldnia. Assim, por exemplo, ainda no século XVI, a Camara de Sao Paulo proibia que se “armasse casa nem alicergasse sem sua permiss4o” e, no inicio do século seguinte, Ct. Nestor Goul pinerTo URBANISTICO BRASILEIRO “ cf essoa eificasse casa nova, nem aby evotveu que “nenhume PS varruasse”.!° E a Camara de iat Wing, em que PelOs $15 que muitos fabricam ranchos sem sua ila Rica? S712, considerare et em que se Ihes proibe 0 levanté os qe Rap ec Pos ge toda pessoa due levantasse rancho ser gla Tcensa ordesor postura do Concelho e The mande botar aba, esa seja conden: eo ag cues rdurarar sande parte destas normas perdUraram no Impéri, caste ante nse period, com modiagoe gage 3 genejo a0 longo da Monarai ‘onstituigfo do Império nage redo a0 Jon ay eclarou ae exsiiam CAmaray em ca C3Ds see oa go govetne cconmico emunipal dela Mele ev aque er Peram decretadas por uma li regulamentar 6, cajas abu 1828, que atribuiU aos vereadores compere YO sera elo gbras do Munsiioe do governo econdmizn of ar do me neste ram f0r 8 pol dOs seus habtames (eg da ferTepor no antigo estado as serviddes e caminhos pablicos, ng farioFepgemaneitaalguma que os proprietitios dos prédios yan seid ue, ou Muerte aie a estradas (at 4) es Lape edo quanto dz respeito& policia, e economia das paras eat seu cargo fos, pelo que tomardo deliberagdes, proverdo por suae pee ce ec ow objetos seguintes, dé naturéza urbanistica: ue ow alinhamento, limpeza, iluminacdo, e desempachamen cals praia Sonservagaoe reparo de muralas feta para seguannsa ca Pears prisdes piblicas, calgadas, pontes, fontes, aqueduto, chao’ ses, pogos, tangues, € quaisquer Outras construedes em beneficio comum Tis, povomtes bu para decoro e ornamento das povoagées, 3 pestabelecimento de cemitérios fora do recinto dos tempos; 9 csgotamento de pantanos, e qualquer estagnagio de aguas nfectasr ace carntgio dos currais, e matadouros piiblicos, a colocasio de cary, sane epdsitos de imundices, € quanto possa alterar, e corromper a Salubridade da atmosfera (medidas, como se vé, de preservagdo do meio ambiente, de combate @ polui¢éo) 3 — edlifcios ruinosos, escavagdes ¢ precipicios nas vizinhangas das povoagdes (medidas, assim, contra a deterioragao do solo urbano), 4 — vorerias nas ruas em horas de silencio, injurias, e obscenidades contra a moral piblica (em um aspecto, medida contra a poluigdo sonoray, 5 — construgdes, reparo, ¢ eonservagio das estradas, caminhos,pla- \agdes de rvores para preservagao de seus limites & comodidade dos via antes e cas que forem iteis para a sustentagao dos homens ¢ dos 10, Ci, Nestor Goulart Res Filho, ob. ct. p11. oa ts 28 Matos ous exes podem ser cid a obra de Nese lat Res Filho, que tems ita 12. Ch art 66,86 19,28, 32, 4% © 6 da ita Let de 110.1828 DO DIREITO URBANISTICO NO BRASIL Enfim, as Camaras deliberavam em geral sobre on ai ae habi- ver rranca, elegancia e regulari atures iter ows, eure, a bjt formavam a S008 FONG a tia G79. roe eel nstituigdo do Império, descentralizando © poder 12s Pro Tegislar sobre alguns assuntos de interes crane, cone: EDO et tron ronnie ve ZoF oh pote, sags pnts como, ali aconest, na fe as primes norm uns en gate 5.91825, «20 sal ar aera ome es smoetndes nee rias a0, ‘uso destes objetos, bem como abertura ou melhoramento de ruas, pracas, decoragdes, monumentos, aquedutos, fontes € Jogradouros pu- tando undated oven ean dpe, aoe SE a ae ay cba desinadat Score pelo Decreto 1.664, de 27.10.1855, destinada a regular as desapropria- mente sendo estendids rimeiro, as desapropriagdes por utilidade pu- blica municipal na Capital Federal (Decreto 602, de 24.7.1890); em segui- da, as desapropriagdes para a execugao de obras da competéncia da Unido € do Distrito Federal (Lei 1.021, de 26.8.1903); esta lei autorizou 0 Go- verno federal a expedir regulamento e a consolidar as disposicdes vigen- tes sobre desapropriagdes, 0 que foi feito pelo Decreto 4.956, de 9.9.1903, fe DIREITO URBANISTICO BRASILEIRG de 14.6.1938. Aqueta Consolidago de 1903 tev de renovagao urbana do Rio de Janeiro, ¢ ae vier da Le 161855, radia Segundo o qual, aprovados 0 planos e plantas Presidente da Republica ou do Prefeite ton see 1 deg 8, propriados em favor da Unio, ou do Distrito Fedensnte8 ‘vos concessionarios, todos os prédios e terrer ah ow em visa fy aii 8 regra mag lity BF do Dest ™POnan as sa 0S neles congo fs tal ou parcialmente, que fossem necessirios & sua cree dy ‘no perdurou no sistema das desapropriagbes bras ceU940. Eye’ Decreto-ei3.365/41. Tampouco permanes Neiras deggit? er coreg? ; eu a te ent Consolidasao, que estatuia: “Se a desaproy vet priacdo tiver ne 1 da Fa denovas ruas,a0s propretiios que acetarem a nee im at do ser facultada a aquisigao dos terrenos dsponives 80 porn comunicaso plo prego minimo que fiat 9 Gove 88 nova te de concorrnsia”. Normas ambas que pons eden do Rio de Janeiro no inicio deste séeulor IM &Teurbaneee inagég 4. Essas normas, contudo, jé foram produzidas Primeira Constituigdo nada trouxera de interesse pars RePUbla, cjg nistico, sendo indiretamente com a possibi ilidade de desopt io Utba. uidade publica (art. 72, § 17), que fundamentaras erro pe, mensional acima. ‘As Constiuigdesposterioes até ia ey ram na competéncia da Unido a faculdade de etabelece © 12° el nal de vaso férea eo de estradas de rodagem (ar 3, Yate 0. fou a competéncia dos Municipios em tudo que respetass oy 8 interesse, af compreendendo a fungdo urbanistia foal Nara 60, houve tentativa de implantar uma politica urb; ada de flugncia da Lei 4.380, de 21.8.64, que criou 9 tagao (BNH), as Sociedades de Cré ore 4 Habitacdo ¢ Urbanismo (SERFHAU), a quem seus yr minou que o Governo Federal, através do Ministério do Plangjamea Lormulasse a politica nacional de habitagdo e de planejamento ten Fil, © deu 20 SERFHAU atribuigdes ligadas ao desenvolvmena ay no. Enfim, trouxe ela normas gerais de urbanismo, inclusive a ume, {Gncia do BNH para “+promover ¢ estimular o planejamento nal ee srado ¢ as obras e servos de infra-estrutura urbana, com base na al ele organizou Programas de Desenvolvimento Urbarion com o objetivo Principal de racionalizar © crescimento das areas urbanas brasileras. 0 11 Plano Nacional de Desenvolvimento reservou 0 Capitulo IX para f- ‘at as direttizes e objetivos do desenvolvimento urbano nacional, o cou trole da poluicdo ¢ a preservagaio do meio ambiente, estimulando a le- sislagdo federal, estadual © municipal sobre essas questoes (eis de wo € ocupagao do solo, de combate & poluigio, de protegao ao pattimdnio historico ¢ cultural, de parcelamento do solo, de regides metropolitan), que examinaremos no lugar proprio. DO DIREITO URBANISTICO NO BRASIL »° 3. Fundamentos constitucionais do Direito Urbanistico brasileiro 9. A Constituicao de 1988 deu bastante atencdo & matéria urbanisti- ca, reservando-Ihe varios dispositivos sobre diretrizes do desenvolvimen- to urbano (arts. 21, XX, e 182), sobre preservacao ambiental (arts. 23, IML IV, VLe Vil, ¢ 24, VIL, VII, ¢ 225), sobre planos urbanisticos (arts 21, IX, 30 ¢ 182) e sobre a fun¢do urbanistica da propriedade urbana. Desses temas, daremos noticia aqui, para destacar os fundamentos cons- titucionais do Direito Urbanistico. Depois, serio aprofundados, quando Formos examinar as instituigdes especificas que Thes correspondem. 10. art. 21, XX, da Constituigdo de 1988 declara competir & Unio instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitagao, saneamento basico e transportes urbanos, enquanto 0 seu art. 182 esta belece que a politica de desenvolvimento urbano, executada pelo poder iiblico municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por ob- Jetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funcdes sociais da cidade e ‘garantir 0 bem-estar de seus habitantes. 'Nesses dois textos da Constituicdo encontramas os fundamentos das dduas amplas perspectivas da politica urbana: uma que tem como objeto © desenvolvimento adequado do sistema de cidades (planejamento inter- uurbano) em nivel nacional ou macrorregional de competéncia federal; ‘ outra que considera o desenvolvimento urbano no quadro do territorio ‘municipal (planejamento intra-urbano) de competéneia local, De permeio se insere a competéncia estadual para legislar concorrentemente com a Unido sobre Direito Urbanistico (art. 24, 1), 0 que abre aos Estados, no ‘minimo, a possibilidade de estabelecer normas de coordenacao dos pla 'nos urbanisticos no nivel de suas regides administrativas, além de sua ex ‘essa competéncia para, mediante lei complementar,instituir regiges me- tropolitanas, aglomeragdes urbanas e microrregides, constituidas por agru- pamentos de municipios limitrofes, para integrar a organizacao, o plane- Jamento © a execugdo de fungdes piiblicas de interesse comum 11. O art. 21, 1X, dé competéncia & Uniso para elaborar ¢ executar planos nacionais ¢ regionais de ordenacdo do territério e de desenvolvi ‘mento econdmico e social. A importancia dessa norma esta em conferir expressa competéncia & Unido para elaborar e executar planos urbanisti- cos nacionais ¢ regionais, » Bois a isso corresponde o conceito de planos de ordenacio do terrtério, e mais, como veremos melhor depois, acopla sles, no mesmo dispositivo, aos planos de desenvolvimento econdmico © social, denotanclo uma vinculagao adequada no nivel federal com bons {rutos se soubermos extrair da norma toda a sua potencialidade no plano interurbano, 12. 340 planejamento urbanistico local encontra seu fundamento no art. 30, VIIL, da Constituigao. Ai se reconhece a competéncia do Munie io para promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, 50 DIREITO URBANISTICO BRast.sigg ‘mediante planejamento e controle do uso, do ¢d0 do solo urbano. Isso nao & competénei téncia propria, exclusiva, que no com, nem do Estado. Ve-se que a finalidade do planejamento local g smento do teritério municipal com o objetivo de dig celamento e a ocupacdo do solo urbano. O es no quando ordenado para cumprir destino ubg ia co edificabilidade¢ 0 assentamento de sistema vidrig fe fungio do plano diretor, aprovado pela Cara Muni tituipd elevou & condigao de instrumento basico ds Polit Cops vimento e de expansao urbana (art. 182, § 1°). Vale qin? & den ambos os dspositivos, que o plano ditetor constitu os Ming, aual se efetiva 0 processo de planejamento urbanistic M0 pe tatoo ara as eidades com mais devine mit han ot ee ge 13, & propriedade urbana fica pela Consttuigig ee meso uranic, nos temas de Su a ea, we o cumprimento de sua fund social As exigenciagdaegd tn, de express no plano dirtor. E também o plan dirtor aera trios da utlizagao do solo urban. Isso decorre do art. 183, do faculta a0 poder piblico municipal, meant le emp fc "iodo solo urbano no ediicao, subutlizado ou nda tiene ee Inova sev adequado aprovitamento, sob pene, sucesianents celamento ou edificagdo compulsérios, imposto progress 10 sobre a pro. Briedade predial eteritorial urbana no tempo ou desapropriaae cone, satmento mediante itulos da divida publica de emissi previamenepe ‘ada pelo Senado Federal com prazo de até dez anos, em parsean aor igus esueessivas asseguradoso valor real daindenizago on jute 14. Na verdade, a propriedade urbana pode ser desapropiada coms ualquer outro bem de propriedade privada, mas a Constuigho ere serrendu ag OS raletos municipais ou estaduais que, com as oferta de erTenos Ud urbanizados e dotados dos necessérios melhoramentos, pe inicio imediato da construgéo de habitagdes, REGIME JURIDICO DAS URBANIFICACOES ur aj) — 08 projetos de cooperativas e outras formas associativas de consrapio de casa Prépri IV — 08 projetos de iniciativa privada que contribuam para a solu os problemas habitacionais; “y — a construgdo de moradia para a populagdo rural." art. 82 da mesma lei reafirma essas diretrizes, quando estatui que 9 sistemas financeiro da habitagdo, destinado a facltar e promover a cons ostao e a aquisipao da casa prépria, especiaiment pelas classes de me vor renda, sera integrado: io “IL — pelos dreios federais, estaduais e municipais, inclusive socie- dades de economia mista em que haja participagio majoritria do Poder Piblico, que operem, de acordo com o disposto nesta lei, no financia- rmento de habitagGes e obras conexas; “IV — pelas fundagdes, cooperativas, miituas ¢ outras formas asso- ciativas para construcdo ou aquisicdo da casa prépria, sem finalidade de Jucro, que se constituirdo de acordo com as diretrizes desta lei..."” 12, Somente essas diretrizes vinculam os Municipios nos seus pro- gramas de construcdo de moradias ¢ a melhoria das condigdes habitacio- nais. E a Constituigdo que the garante essa autonomia especifica na ma teria, quando, no art. 23, estatui: “E da competéncia comum da Unido, dos Estados, do Distrito Fe- deral € dos Municipios: ““IX — promover programas de construcio de moradias ¢ a melho- sia das condigSes habitacionais e de saneamento basico.” Competéncia comum significa que cada um de seus titulares pode ‘cumpri-la, por si, sem interferéncia dos demais, O que existe ¢ um ideal de colaboragdo entre as pessoas administrativas, mas todas exercem a com- peténcia comum sem supremacia de uma sobre as outras, observando o regime juridico estabelecido pela competéncia leisativa outorgada, pa- ra cada caso, pela Constituigdo. No caso em tela, cabe & Unido estabele cer diretrizes para a habitacdo (ar. 21, XX), esas direrizes ho que ser abservadas por Estados ¢ Municipios no exercicio da competéncia mate vial comum consubstanciada no transcrito art. 23, inc. XI.!! 13. As diretrizes da lei federal no impBem aos Municipios submeter a orgios estaduais ou federas seus programas de consirusio de mora. dias, ou execugao de seus projetos, com ou sem a oferta de terrenos jé 11, Cf. Fernanda Dias Menezes de Almeida, Competncas na Const de 1988 aa DIREITO URBANISTICO BRASILEIRO urbanizados e dotados dos necessérios methorament de habitagdes. Essa é uma forma de urbar a ana? : art 8° da Lei 4.380/64 mencionam 8 projetos de cog 2 ie. IV - 3s deco p {formas assciativas de constr de casa préprias ince Our, ‘outras formas associativas, a ditetriz que possibilta a ereo@gu> Ma, gramas de construsao de moradias e a methoria das contiesS%° " pro. nais (CF. att. 23, 1X) pelo sistema de mutirées. "0S habitagy, 14, Com base no texto da Constituigdo Fed z 10 Federal ici, € que as els orgies muniipas estabelecen 9 lady ia atuacdo das Prefeituras na promogio de progr eats ieee socal orto ds rosrames de habitat [essas prevsées, sempre se acena para o sist : © sistema de cooper bitacionais ou de moradias realizadas pelos préprioe mcg ee ha. dalidadesalternativas em que entra a modalidade deo deo. se v€ que o programa de mutirBes realizados pelo Munna © Onde Secretaria de Habitagdo e Desenvolvimento Urbano «fe gt da tara Consitugio Federal eneea de gene oe HABT nicipio sua legitimidade. As constituigdes estaduais tambee 42 Ma- mas sobre politica habitacional."> cont nor. 15, Como se realizam essas formas de urbai programas municipais de construco de moradias, as diretrizes da Lei 4,380/64, é assunto de estrita compensa mer 12.6. pit Le Oren do Muni de Sto sit 1 Ed competnct do Mut com ert at: ‘politica municipal de habitacdo, integrada a poli ca de deenvolviments Sedo programed consi de ora opus geen domi (rutura que assegurem um nivel compativel com a ignidade da pena «Seven nate acess Ame ls Me ts Sat perches entidades representativas, bem como os ins sos terinesecan sore pa won tl trodes stgo wera pride tid dx ee i tat ca ate pronase ssa Ca cies om 0 anima ci rsa lias lares, realizadas pelos proprios interessac ‘cooper Ss es mos aera Sos prseepthait Yo mesmo sentido, cf. tambér i oun 2838 one oe Sr vaca wee . ‘or exemplo, a Constituicao do Estado da Bahia (art _ REGIME JURIDICO DAS URBANIFICAGOES 9 ye € questdo do planejamento do solo urbano, pela elaborasio do msm aretor «de plas especial 4, Promosdo de construsto de moradis plo sistema de mutrio 16, No exercicio de sua competéncia constitucional, observadas as giretszes estabelecidas pela Unido (CF, ar. 21, XX) pla Lei $.380/66, fe 0 Municipio e também os Estados (¢ até a Unido), mediante legisla- Msp propria, escolher a forma que melhor Ihe parecer para promover pro- Sfamas de construsdo de moradias ea melhoria das condigées habitacio- aijs ¢ de saneamento basico, nos termos do art. 23, IX, da Constituicdo Ue 1988. Nesse sentido, 0 Municipio de Sao Paulo vem aperfeigoando a sua legislagdo, desde as diretrizes do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, baixado pela Lei 7.688/71, passando pela Lei 7.805/72, que dispoe sobre 0 parcelamento, uso e ocupacio do solo, por particulares, ‘n0 Municipio, com alteragdes ¢ complementacao das Leis 8.001/73, §.328/75 e outras, contudo, sem preocupacdo com habitagdes de interes sé social. Essa preocupagao veio no bojo do Cédigo de Edificagdes (Lei 8.266, de 20.6.75, criando facilidades para projetos ¢ execusio de habita- Bes de interesse social (arts. 523 e 565, hoje arts. 8° ¢ 9° do Codigo de Obras e Edificagdes, Lei 11.228, de 25.6.1992, que substituiu aquele ou- tro). Esses dispositives foram regulamentados pelo jé citado Decreto 1$.025/76, fixando normas especiais para arruamentos, loteamentos, con juntos habitacionais e edificagoes de interesse social Observe-se que alegislagio do Muncipio de Séo Paulo, aqui tomada como exemplo, também separou a dsciplina do parcelamento do solo para fins urbanos em geral, para criacdo de lotes a serem vendidos como prevé a Lei 6.766/79 (Leis 7.805/72 e suas alteragdes), €a disciplina das formas, de urbanificagdes (que nome tenha) destinadas a construcdo de habita- bes de interesse social (Lei 8.266/75, C. de Edificagses, art. 26 da Lei 9314/81, Decreto 14.025/76 e Decteto 31.601, de 2.5.92). 17. A construsio de casas populares pelo sistema de mutirdes teve origem e desenvolvimento, ha muitos anos, na cidade de Goiana, na ges- tio de Iris Rezende, por volta de 1962. Nao temos informagdes sobre a legislacao do sistema em outros Estados ¢ Municipios. Por isso nos limi taremos a mencionar a lesislagdo do Municipio de Sto Paulo. Aqui, a regulamentacdo do sistema de mutirdes surgiu no art. 27 do Decreto 14.025/76: ““Projeto Mutirdo aquele promovido pelas Entidades Promotoras, pelo regime de autoconstrucio ¢ se classificam em: “| — Mutirdo Concentrado — €0 projeto de unidades habitacionais de interesse social de até 2 (dois) pavimentos, em terrenos das Entidades Promotoras, a serem construidas pelo regime de autoconstrucao; 450 DIREITO URBANISTICO BRAS! RO “511 — Mutirdo Disperso — € 0 projeto de unidade, steresados, serem consruidos com asistencia dae feng Dopas toras, pelo regime de autoconstrugio,” lads rot Entidades Promotoras, nos termos do decret EMURB, INOCOOP, CECAP, Cooperativas Habitacig;oCHABSP, gas pelo INOCOOP, IPESP, Montepio Municipal (atts A8sor ‘A Lei9.314/81 previu a possbilidade de execugao des. bitacionais em propriedades pibicas (art. 26) A Lei 9 aire ha. art $65 da Let 8266/75 (Cédigo de Ealifiacoes), para esat¥0 “Os projetos para dreas sob intervengao urbanistica promos Poder Pablico, bem como os programas habitacionals defor Polo desenvolvidos por entidades sob controle acionario do Pod iit por entidades privadas que operam com recursos vineulgacy e004, Sistema Financeiro da Habitacdo, poderlo ser objeto de sees o° SEH — especiais, a serem fixadas, por ato do Executive, aprons tics de do empreendimento, dentro das condigdes Sécio-econtmicas Logo, 0 Decteto 22.215/86, estatuiu que a Prefeitura, nso dade de cooperasio com o plano de construgdo de moraijns Su av ¢ econdmicas, continuaria adotando o sistema de mutiroes apes 0 Decreto 29.034/90, no termo da Lei 9.414781, edtou wenat ee para a implantagao de projetos de habitacdo de imeresse social, eee do regras especiais também sobre aprovacdo desses projetos cog compreendidos os referentes a mutirdes. Enfim, o Deereto fore de sobre os critérios urbanisticos e de edificacao para elaborartog plementagdo de projetos de empreendimentos habltacionehs de og. social promovidos: interest “I — por drgios da administragao direta do poder piblico “IL — por empresas de controle acionario piiblico; “Ill — por entidades conveniadas com a Superintendéncis tagéo Popular — HABI; 7 a “IV — por entidades conveniadas com 0 FUNAPS; “V — pelo IPREM; “VI — pelo IPESP; “VII — em terrenos de propriedade publica, agente promotor; dependentemente 0 “VILL — por promotores privados quando as unidades forem dest- nadas @ contrapartida de Operacdes Interligadas, nos termos da Lei n. 10.209, de 9 de dezembro de 1986, ¢ do Decreto n, 26.913, de 16 de s- tembro de 1988" © decreto reservou aos mutirdes 0 disposto no seu art. REGIME JURIDICO DAS URBANIFICAGOES. 381 «Em empreendimentos habitacionais promovidos ou subsidiados pelo ger Publico e destinados ao atendimento da populacao com renda fa- oder mensal igual ou inferior a S (cinco) salarios minimos, executados smilrutirdo © por autoconstrusao, ¢ em projetos executados em cortigos em elas, poderao ser analisados pela Comissao de Avaliagao de Empreen: ¢favetos Habitacionais de Interesse Social, para ins de aprovacao rit ding tecnicos especificos, propostos pelo responsvel pelo empreendimento, Serentes dos definidos na legislagdo vigente. Nesses casos, a Comissio Geverd solicitar do agente promotor justificativa técnica dos parametros ttilizados e encaminhar a elaboracdo de andlise pds-ocupagdo detalhada, ique permita avaliacdo dos pardmetros experimentais utilizados em caré- ter excepcional”” Essa legislacdo especial do Municipio, criada com base em sua ex- clusiva competéncia constitucional com observancia das diretrizes fede- rais sobre habitasdo de interesse social (Lei 4.380/64), também fundadas nna Constituicdo (art. 23, IX) e na Lei Organica (art. 170), € que apoia (0s programas de construgdo de casas populares pelo Sistema de Mutirao. 18. O Municipio nao esta sujeito a anuéncia prévia do Estado para execusdo de suas urbanificayées, incluindo aquelas destinadas a execu- 10 de programas habitacionais de interesse social. O art. 13 da Lei 6.766/79 nao se aplica a esses casos, porque nem a lei toda nem ele em particular regem tais urbaniticagées, como ja demonstramos, & sacieda- de. Esse art. 13 se refere & aprovacdo de loteamentos e desmembramen- 10s executados por partiulares em seus prOprios terrenos. Mesmo assim, no € constitucional submeter a aprovagao municipal a anuéncia do Es- ado, como consta desse dispositive.

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