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DOCUMENTO Corrigir erros e desvios radicalizar a revolucao @ Decisoes do IV Congresso transmitidas & Nagao Para transmitir 4 Nagio us orientagées, decisdes © terefas definidas pelo IV Congreso, © Presidente Samora Machel orientou na Praca da Independéncia, em Maputo, no pasado dia 21, um comicio que foi como que um prolonga- mento do 1.° de Maio, «porque nfo terminamos © programa de trabalho que tinhamos definido para esse momento». ‘Na ocasiio, o Presidente Samora Machel anunciou a remodelaeig nos quatro ministérios que garantem a soberania (Defesa Nacicnal, Interior, Segurange e Justica), alteracées estru- turais nos ministérios da érea econémica, des- centralizagdo ¢ afectaghy de quatros dirigentes em centros de producio estratégicos e de vete- anos da Luta de Libertacio Nacional em minis- 4érios, entre outras medinias. Publicamos, a seguir, que so definidag as medidas com efeitos ime- @iatos, algumag das quais ja comecaram 2 ser executadas, reservando para publicagio em edi- io extra da TEMPO 0 discurso integral profe- Hido no dia 21 de Maio pelo Presidente Samora Machel partes do texts em Estas mudangas, estas transformagoes pa gam-se. ‘Um homem, que trabalhava com enxada de cabo curto, que nunca teve uma bicicleta, torna: se tractorista. O tractor tem.um motor, O trac tor tem sistema eléctrico. O tractor tem sistemas, hidréulicos, No tem $6 volante e acelerador. Tem regras para funcionar. Mas esse homem passou da enxada para o tractor, sem ter tido ‘casio de conhecer e assumir as regras de ma nutencdo. Por isso destréi a autocombinada, des tréi o tractor em menos de seis meses, destroi © camiao. ‘A independéncia trouxe para a maioria dos mogambicanos uma profunda transformacao da sua vida. Os delegados ao 1V Congreso subli nharam Vérias vezes os reflexos que tem na nossa sociedade as marcas do subdesenvolvi mento que o colonialismo nos deixou. TRANSICAO DO CAMPO PARA A CIDADE E ADAPTACAO TECNGLOGICA Ja falémos muitas vezes do subdesenvolvi- mento econémico, mas ha outras coisas que foram ditas no Congresso. Estamo-nos 9 Jembrar 0 subdesenvoivimento cultural, dos problemas ue nascem da mudanga do campo para a cidade, da machamba individual para a empresa estatal, . a oft) 140s delegados sublinharam vérlas vores on reflexes em ng nossa soeleda reas do subesenvolvin ‘awe coloiatning wos dX 4 ‘aUm homem que trabaihava com entada de eabo cto, ‘que munca teve tima bleleleta, tora se tractors para a fabrica, para a reparti¢Go, para a escola para 0 hospital. Estas mudangas, estas transformagbes, meus amigos, pagamsse. Um homem trabalhava com a enxada de cabo curto e nunca teve uma bici- cleta. De repente, ele torna-se tractorista. Quan. to tempo vai durar esse tractor? O tractor tem um motor, a enxada nao fem, O tractor tem um sistema eléctrico, 0 tractor tem sisten‘a hidréu- lico, nao tem s6 0 volante e o acelerador. Tem regras para funcionar. Mas este homem passou da enxada para o tractor, sem ter tido casio de conhecer e assumir as regras de manuiencao. Por isso destréi automaticamente uma autocom: binada, destréi um tractor em menos de seis meses, € $6 porque no veriticou dle0, s6 por que néo pis agua. Ele ndo sabe, porque a enxada nao precisa de dieo, no precisa da agua. Da enxada ele sabe tratar, sabe onde guar- data quando vem do servico. Mas da maquina néo sabe tratar, deixa ficar em qualquer sitio, no 9 sabe tratar e por isso néo dura sequer seis. meses. Uma pessoa vivia numa palhota, com fo- sueira lé dentro, sem janela, com uma porta de canico, baixinha, que 6 preciso curvar Ou ajoe. thar para entrar. Conquistémoé @ cidade, conquistimos o pré. TEMPO — 29/5/29 dio. Agora ele vive no 12° andar. O prédio tem um passeio, uma entrada, um elevador, tem janelas de vidro, persianas, tem portas dentro @a casa, tem electricidade, tem armérios na parede, ‘tem soalho, tem louca sanitéria, tem canalizagoes, tem fossag sépticas. Esta_pessoa estava habituada a pilar no quintal, Fizemos uma grande campanha para que sao trouxessem pildes para dentro da casa © prédio esta calculado para suportar um de terminado peso. Alguns prédios hoje tém o soa~ Tho deslocado, buracos no cimento, pareties re chadas, vidros e sanitas partidos gor causa da batida ‘do pildo. Outros vém pilar no passeio, esburacando e destruindo 0 passeio. Na palhota, o armério para guardar 0 co- bertor, a capulana, a blusa, 0 lengo de cabeca 6 a corda esticada. Quando chega 20 prédio, nao considera o armdrio. P6e dois pregos na parede para esticar a corda dentro do apartamemto e, nha varanda da frente do prédio, poe toda a rou- pa a secar, incluindo a mais intima, Na pathota, era um candeeiro de petrileo que iluminava. No prédio, hé interruptor. Re- bentar o interruptor no’ constitui problema. Ficar sem luz dentro da casa e voltar a por uma lamparina de petrleo que suja as paredes, no constitui problema, Ne palhota, uma lata furada, com égua es. corre para o chéo, que é de terra. No prédio, a gua que vaza, estraga o soalho, estraga as paredes, incoméda 0 vizinho, estraga a casa do vizinho. Pior ainda, pode fazer com que falte agua no prédia, Forma charcos que reproduzemn mosquitos ¢ provocam malaria. No campo, lava-se a boca andando, com «mulala», cuspindo no chao. Cuspir no chio é ‘cAlguns predios Roje tem 0 50 imento, parcdes raehadas, sidros « casa’ da bata do iio» TEMPO — 20/5/83, vulgar na povoacSo, na machamba, Cuspir do 30." andar para a Tua 6 outra coisa, Cuspir no machimbombo, no restaurante, no passeio, Porearia e provoca doencas. Urinar junto da mangueira na povoagio & fazé-lo na 24 de Julho; encostado a uma étvore ox a um prédio, é muity diferente. Fazer trangas no quintal € normal no cam. po. Mas fazélo na varanda virada para ‘0 pa- blico ou sentada no passeio, nos jardins, nos parques, nos miradouros, na escols, no hospital 2 espera da consulta, na paragem do machim- bombo, ¢ falta de sentido de intimidade. Quando se vai da casa para a machamba, sentar-se & sombra da arvore, é diferente de se sentar ou pior ainda, de se deitar no passeio da cidade. E também falta de civismo sentar-se no muro, deitar-se no muro. Reflecte falta de apru- mo € civismo. Hé bancos nos jardins para se sentar. Também deve haver bancos na rua para se sentar. Mas o jardim ou miradouro néo séo para dormir. ‘Assistimos a tudo isso nas nossas cidades. ‘aTraremos os nossor familiares para a cidade para const ‘mirem, para irent A blebay Por isso at nossas cidades esto sujas. E nao vemos que estiio sujas. Trata-se de uma questo cultural, ‘Na povoagdo, haver capim a dez metros da casa é normal. Mas na cidade, continuamos a considerar normal haver capim diante do prédi Mais: aproveitamos esse capim diante do prévio Para fazer lixeira e latrina. ‘Na povoaego, todos tém tarefa. O homem, tem tarefa, a mulher tem tarefa, a crianga tem tarefa. ‘Na cidade, ficam em casa, no prédio. 58 descem para ir a bicha, Trazemos ‘os nossos familiares para a cidade, para contsumirem, para irem bicha. Nés prdprios é que encorajamos 05 nossos familiares a virem para a cidade. Nés préprios € que Ihes dizemos que na cidade ¢ que ¢ bom viver, que na cidade ha de tudo. Sio estes desajustamentos, estes deseauili- brios que abrem as portas & marginalidade, & destruicho do tecido ético e morel. 6 ‘Fol referldo pelos vétlos delegndos que os cafés estto empre chelos de pessoas que mada fazem que nas bichas cencontranrse pessoas cujo ualen chpreso © blchar; que hos cinemas, vimos centenas de pessoas que nfo trabalham ‘mas que arcanjam dinkeiro para comprar @ Bithete (..)» Como? A ociosidade, dizemos sempre, ¢ a mie de todos 0s vicios, é'a triste conselheira da ‘hhumanidade. MARGINALIDADE PARASITISMO DEGRADACAG MORAL As pessoas nao tém tarefa. Outras sto de- sempregadas ou vivem de expediente. Os delegados deram grande importincia 20 problema da marginalidade. Foi referido pelos varios delegados: que os cafés esto sempre cheios de pessoas que nada fazemr; que nas bichas encontram-se pessoas cujo inico emprego é bichar;que nos cinemas, vemos centenas de pessoas que nao trabalham mas que arranjam dinheiro para comprar o bilhete. que as lojas esto permanen:emente cheias de pes- soa desempregadas, que para 1é vio comprar mereadorias para a3 revenderem a precos espe- culativos; que nos prédios das nossas cidades habitam marginals, uns sem pagar as rendas, outros sem sabermos como arranjamn meios para 0 fazer; que nos nostos bairros, as nossas casas so assaltadas enquanto trabalhamos, e, quando 0 ladréo € apanhado, geralmente verifica-se que € alguém que nfo trabatha E estranho que todos estes marginais que acabamos de referir, vestem bem, tém cbaste- cimento, frequentam os bares, enchem os cine. mas, tém alojamento, ‘Alguns até tém carro ¢-mudum de carro com frequencia, ‘A mensagem do povo que 0s delegados trowxeram ao Congreség foi: De onde vém es- tes marginals? Como ¢ que se engrossam as suas fileiras? De onde vém os seus meios? O que é que 0 Governo faz para, por exemuplo, na Cidade de Maputo, travar a entrada didria de centenas de pessoas que vém do campo para aqui residir sem trabalho? So pessoas que no tm emprego garan- tio; so pessoas que vem desorganizar comple- tamente a vida das cidades; séo pessoas que para sobreviver tém de entrar na especulagéo, na candonga, no roubo, no assalto & mio ar- mada, na prostituigdo e, muitas vezes, no assas- sinato. So Pessoas que no produzem, 36 conso- mem. Semeiam a intranquilidade, 0 ‘panico, re- Guzem 0 abastecimento planificado. Séo' um factor de dissolugdo, isto 6, destruicio dos cos- tumes, da moral’e ética. Si sestabilizacio dos lares. SGio agentes potenciais do inimigo. E no seio destes que o inimigo recruta os «Cada um de n6s, Individual e colectivamente, ¢ responsivel por esta sociedaden seus agentes para difundir boatos, langar cali- nias, espalhar a intriga, criar a inseguranga e a intranquilidade Peeguntaram: o que é que 0 Governo faz? Essa condescendéncia serd porque os dirigentes sio os primeiros a trazer 08 seus familiares para as cidades? Qs delegados denunciaram a semiprosti- taigao em jovens, nomeadamente com candon: gueiros e estrangeiros, Muitas dessas meninas sio estudantes. Um estudante, quando sai das aulas, tem exercicios para fazer, tem ligdes para estudar. Se os pais, 0s encarregados de educagao nao séo exigentes € facil a essa jovem ir vadiar. Deixa-se corrom- Per por um par de sapatos, de sandalias da In- terfranca, por uns , electrodomésticos, antes de aparecerem nas cooperativas e nas lojas ja es- ‘fy a ser vendidos na candonga. Quem os levou para 14? Produtos que 56 so produzidos em empre- ‘eCompramos unm centena de tris, Onde estho? Ninguém Fespone per Isso. Mas todos saben gue ov usts foram Westruidos por aguetes que vs condusiann sas estatais esto na candonga. Produtos que so totalmente entregues a0 sistema de abaste- cimento, aparecem na candonga. Quem os des- vie? Os ladrées, os especuladores, agambarcado- res e candongueiros esto nas fabricas, nos ar- mazéns, nos portos, nas repartigies, nos. ser- vVigos, estiio nos governos dos distritos, das pro- vineias, nos Ministérios. © Governo’ coexiste ‘com eles, no 0s denuncia. Nao s80 punidas. NB 880 desalojados. © Estado paga hospedeiras, paga pilotos, compra avides, camides-frigorificos, estes meios que so do povo, so utilizados para o contra- Bando. Estas situagdes séo denunciadas e néo se tomam medidas. Em Angola, prenderam trés Pilotos, que eram contrabandistas de diamantes. Os produtos so trazidos nos nossos avides de Nampula para Maputo, da Beira para Maputo ey € desembarcam no Aeroporto Internacional de Maputo. Depois so carregados em camies-fri- gorificos para a Suaziléndia, para a Africa do Sul e para outros paises. Que candonga € esta? Quem € candongueiro? Como € que isto entra os nossos avides? Como é que os produtos pas- sam a fronteira? © povo denunciou a APIE como um covil de bandidos. Tomaram-se algumas medidas, Néo se deu continuidade. A quadrilha cresceu, Ocupam-se as casas do Estado de graca. Sto destrufdas. So transformadas em lojas de candongueiros, em casas de Iadroes. Aprovamos Jeis para estes casos. Mas elas nao so aplicadas. Pessoas entram nas cass legalmente, dei- xam de pagar a8 rendas, ficam em situagdo fle- gal, e no se age. Pessoas invadiram casas ile- galmente, E no se age. A mé utilizagdo e até destruicao das casas esto generalizadas por todo o Pais. E nao se age. Quem é responsivel? Um trabalhador honesto, dedicado, tem os mesmos beneficios sociais que um candongueiro, sum ladrao. ‘Um trabalhador aprumado, disciplinado, pontual, recebe o mesmo vencimento que o fal: t0s0, 0 ‘indisciplinado, o desleixado. ‘Um trabalhador’ competente, experimen- tado, com muitos anos de profissdo, recehe 0 mesfao que um incampetente que até é nomeado seu chefe. Jé nio queremos capataz que controla 0 trabalho na fébrica, na machamba. Jé nfio temos inspectores para verificar a produgo e quanto se produz. ‘J4 nfo femos 0 porteiro que quando chega ‘cQcupancse as cas05 do Estado de_graca, Sto transformiadas emt lojas dos candonguelros, em casas de" ladrdes, Aprovamas leis para estes casos, Mab clas ‘alo so aplleadasy TEMPO — 29/8/63 a hora fecha a porta e retira o livro de ponto. 14 no hi reldgio de ponto onde se vai furar © cartao, Jé no se controla a chegada ao tra- balho. Cada um pode chegar quando quer, assi- nar 0 livro de ponto como se tivesse chegado a horas. ‘Até se chega ao cimull de se poder assinar com antecedéncia as presengas de varios dias. Falta'se uma semana e quando se regressa 20 trabalho assina-se por toda a semana que se faltou. Os delegados disseram que, no campo, o Governo manda produzir mas no escoa os pro- duos © Governo manda produzir, mas nao dis- tribui os instrumentos de producéo. Entdo o camponés pergunta: vou produzir para qué? Qual é a vantagem que eu tenho em produzir mais? (O camponts disse a0 delegado: vei a0 Con- gresso e diz: eu tenho milho, tenho feijao, tenho batata, tenho girassol, tenho mandioca, tenho batata-doce, tenho caju, tenho algodao, tenho gergelim, tenho mapira. Mas onde esti a ce pulana, a linha, a agulha, o botio, a méquina de costura, o remendo da bicicleta, a cémara- -de-ar, a pilha? Onde est a chaleira, a panela, © bule, a chavena, o prato, o pticaro, 0 copo, a colher, 0 garfo? Onde esta a roupe, 0s sapatos, © brinco, a missanga, a pulseira, 0 pente, o es petho, o Tengo de cabega? Onde esta 0 machado, a enxada, a catana, a charrua, a lima, 0 mar telo? Onde esta 0 saco de cimento, a chapa de zineo, 0 prego, a dobradica? Importam’se bicicletas. Mandam-se 05 qua- ros da bicicleta para uma provincia do Norte, 0s pneus para outra provincia no Centro ¢ 05 remendos ficam a apodrecer no armazém cen- tral em Maputo. Importamos.candeeiros., O$ vidrog. do can- deeiro sio mandados para Nampula ¢ 35, arma- ses para Niassa. ‘TEMPO — 29/5/23 40s delegados Aisseram au ‘10 campo, ‘© Governo manda produsie mas nio eseon 05 produtos, (). nto ‘distribu 9 instrumeitos €e produgdon! Produzimos sabio e P6é Vim. O sabiio apa- rece nas lojas dos patses vizinhos. O PO Vim nas aldeias comunais Definimos o: produtos de exportacdo. © Governo devidiu que se devia aumentar a produgdo de cha, copra, castanha de caju, al- godao, camaro, carvao, madeira. Os delegados falaram destes produtos de exportacao que tantas divisas valem. Mas dis- seram que estdo acumulados nos portos, que apodrecem nos armazéns, que enchem e para- lisam as fabricas. Precisamos de divisas, mas 0 ché nfo sai do Pais. A madeira permanece nas florestas, nas serragées, ao lado da linha férrea, nos por tos. E desviada para a candonga ¢ falta na cons- trugio. Uma cama de madeira custa dezenas de contos. O algodao fica no campo & chuva ou ‘enche armazéns. A castanha de caju no é es coada. O camarao é exportado em contraband. © carvao fica amontoado ao lado dag minas. © marmore é extraido, mas fica nas pe- @reiras. Sio milhares as toneladas de copra & espera de serem exportadas. Porque € que estes produtos nao sacm? Ha infiltragdo no Comércio Externo, 0 inimigo con- centrou’Ié a sua sabotagem. 0 Governo sabe e assiste passivamen ‘A candonga esta generalizada. Og delegados disseram que ela comega nas estruturas do Aparelho de Estado, nos Mini trios, nas Direccdes Nacionais, nos’ Servicos do Estado. Estende-se pelas empresas grossistas, pelas Fabrica, pelas lojas, pelos mereados. Atin- Be as nossas préprias casas, © responsavel aceita comprar um quilo de peixe a 500 meticais. Como ¢ que este Tespon- sive] pode denunciar « candonga? No abastecimento falta carne, 0 peixe, 08 vos, 0 leite, 0 frango. Mas estes produtos exis- tem ha candonge. Ha falta de agticar, arroz, dleo, sabéo na Toja, mas ha na candonga. 39 «© Governo decidiu que se devia de chs, copra, castanha de’ alu, acumulades nos portos, que apodrece ‘chem eparallsam as t 4 diel comprar material de consteugie nas lojas, Mas “le existe na eandongay E dificil comprar material de construcao nas lojas. Mas ele existe na candonga. Nao se encontra a capulana, o cigarro, a cerveja na loja. Mas aparece na candonga. © camiao ‘sai da fabrica com 0 produto, mas nfo chega ao seu destino. O vagio € carregado no porto. Chega vazio 20 armazém. O maquinista para o comboio na linha para abastecer os candongueiros. Infiltrados nos caminhos de ferro organi- zam 0 descarrilamento de comboios que trans- portam milho e agicar, para os entregarem a ladrées, cimplices da mesma quadrilha Estes criminosos chegam ao ponto de des- viar donativos da solidariedade, produto do sa- erificio de outros povos. GOVERNO NAO EXERCE PODER ESTADO E SUDARIO DA INDISCIPLINA NECESSIDADES DO POVO NAO SAO SATISFEITAS © Governo tem conhecimento destes cri- mes. Mas eles ficam impunes. Que Governo ¢ este? —Que néo controle; —Que ngo pune; —Que nfo aplica as suas proprias lei —Que fica impassivel, a ver desfilar os ladrées, a bandeira ‘dos malfeitores, os malfeitores, os assaltantes & mio armada, 9s violadores de mulheres, os especula: dores, os acambarcadores, os candonguei- ros. Porque € que isto acontece? Temos ministros, temos governadores, te- ‘mos vice-ministros, secretarios de Estado, direc- tores nacionais, directores provinciais,” temos administradores distritais, temos 0 Exército. que é que falta para se exercer 0 poder? Ministros j4 néo punem os directores na- cionais porque sio amigos. Os direetores nacio- nais no punem os chefes de servigo porque 830 amigos, porque ficaram muito tempo no mesmo Ministério. Como € que as empresas e as fabri- cag nfo hdo-de seguir estes exemplos? Os responsaveis estatais ficaram nos gabi- netes, instalaram-se no conforto. Dirigem por notas, por oficios, por despachos, por circulares. Definiu-se que o Distrito € a base territorial para a planificagdo da economia. Mas os diri- gentes do Estado aceitam que os técnicos fiquem hos gabinetes a tracar os planos do Distrito, da empresa, da cooperativa Por isso 05 planos que sfio feitos, so muito onitos, mas ninguém cumpre. © Governo considerou 0 Pais como se fosse um territério uniforme. Nao considerou a gran- de diversidade, as diferencas sécio-culturais, as diferencas climéticas de cada provincia, de cada regiéo do nosso Pais, Trata Cabo Delgado do mesmo modo como s¢ fosse Inhambane. Trata ‘TEMPO — 20/5/83 de Niassa do mesmo modo que Maputo, Trata Manica do mesmo modo que Nampula. Trata Tete como trata da Zambézia ‘© Governo nao conhece o Pats. Ficaram nos gabinetes, fecharamse em qu: tro paredes, rodearam-se de secretarios, conti- rnuos, dactilégrafos, estafetas, funciondrios de relagées puiblicas e jé nfo ouvem a voz do Povo. Tornaram-se surdos ao apelo do Povo. Perderam a sensibilidade popular. Por isso 0 Governo néo controla directa- ‘mente as fabricas que produzem produtos im- portantissimos para a vida do Povo. Por isso ndo so colocsdes os homens nos lugares certos. Subestimaram-se 0s distritos, nic foram enviados quadros para ld. Ir para 0 di trito € ser pequeno. Subestimou-se a fabrica de cimentos No se mandou o economista para’a em presa de 500 hectares, mandou-se o analfabeto. Inicidmos a realizagdo dos grandes projec- tos © no foi mandado para ld nenhum mogam- icano. Foi entregue apenas aos estrangeiros E quando os estrangeiros sairem? Todos querem ficar nas cidades, Nao querem sair de Maputo, nfo querem sair das capitais provinciais. Nao so colocados quadros eapazes. na Texlom, na fibrica de panelas de alumini na fabrica de bicicletas. N&o controlamos as fé bricas de sapatos Precisamos de tijolos, precisamos de casas, as fabricas no so dirigidas, a fabrica de cha: pas de zinco, a fabrica de lusalite nao so diri- sidas. Nao controlamos a extracgio e a fébrica de mérmore. No mandamos engenheiros para controlar a produgéo nes minas de Moatize. Néo dirigimos a Saborel, fabrica de saba nao controlamos a Investro, no controlamos a Soberana, néo controlamos a Maquinag que pro- Suz atrelados, mobilidrio e equipamento hospi- talar, Nao dirigimos as fabricas de mobilias Falamos de Matama, falamos de Nguri, fa- Iamos de Chipembe, mas nao colocamos 1a ‘ni guém. Os mocambicanos ficam nas cidades © nos gabinetes. Os deputados disseram: TEMPO — 28/5/83 40 Governo conslderow 0 Pais tomo se forse lum territrlo wniforme Nio.considerow 4 sua grande diversidade, as aiferencas Sbelacuttarals, 1s dlferencas limatieas de cada provincia, fe cada Fexlio do nosso Patsy © Estado nfo apoia os camponeses. Hosti- liza o camponés e 9 privado, em vez de os ga- har. Tira as machambas 20 camponés, mas foi © camponés que libertou 0 Pais. A indisciplina e os desvivs da politica co- ‘megam no préprio Estado, Em resumo: a acco dos malfeitores, a corrupea0, 0 roubo, a indisci plina, a ociosidade, a semiprostitui¢ao, tudo isto destréi a cultura, destréi a ética, destréi a mo- ral, destréi os valores. Deixa de haver pontos de referéncia na familia. Deixa de haver pontos de referéncia na sociedade. Que Estado € este? Que sociedade ¢ esta? nosso Estado transfarmou-se num Estado suddtio de indisciplina, de imoralidade, de com- padrio, de roubo, de apatia, de passividade, de burocracia. Toleramos a podriddo e ela alastrase na sociedade. ‘Um pais em que no hé pontualidade, em que nao ha disciplina, desde lar & fabrica, torna-se Pais sem valores. Se tolerarmos isto, sero apodrecimento das raizes da sociedade. Sio os tecnocratas, os exploradores, S008 preguicosos e os parasitas infiltrados nos Minis- térios, nas Direegdes, nos Servigos, que langam a ideia de que o socialismo ¢ uma Sociedade de caridade, de piedade, uma gigantesca instituigao de misericérdia. S40 05 esquerdistas © os ini- migos do socialismo que langam a imagem de que 0 estado socialista ¢ um estado de desres- pontabilizagéo, um estado de igualitarismo ab- soluto, onde 1080s so tratados do mesmo modo. Sio os esquerdistas, os oportunistes, que criam condigées para o ladréo viver a custa do Es- tado, 0 candongueiro viver & custa do Estado, do mesmo modo que aqueles que ganham a vida através de trabalho konesto. ‘Sao estes esquerdistas, anarquistas, oportu nistas, que ndo querem critérios que’ dignifi cam a sociedade. E por isso que o trabalhador ‘de mutrmares ‘Nilo’ siandamos vagenneiros para contcolnr as rllnas Me ‘Meatizey| dedicado, assiduo, estudioso nao ¢ encorajado e premiado pelo seu exemplo. Porqué esta situacéo? Tudo isto resulta do nfo exercicio do poder. Falimos nisto no comicio de Chibuto. Néo hd escalonamento no poder Os Ministros pensam que so todos inde- pendentes. Ninguém controla. Ninguém presta contas. AMBICIOSOS ASSALTARAM APARELHO DE ESTADO FOMENTAM RACISMO E TRIBALISMO Como ninguém controla ninguém, entéo 0 Governo, o Estado, transformou-se num campo livre para a acgdo do nossa inimigo de classe. (© Congreso analisou profundamente as raizes da situagio,. 9 ‘Os ambiciosos tém campo; Utilizam @ tribe: 2 lismo, 0 localismo, o regionalismo; utilizam 0 racismo; utilizam 0 boato, a intriga, a mé-lingua, © rumor; utilizam todos os meios para langarem a confusao, Querem com isto manter 0s seus postos, para subirem na hierarquia. Assaltaram 9 Aparelho de Estado e agora varios deles ocupam postos importantes. Fazem apreciagdes ¢ avaliagées na base de valores tri- bais, regionais e raciais. Porque é que isto acontece? Tudo isto est igado com a ambigéo. Qual é a téctica do ambicioso? O ambicioso procura obter apoio. Mobiliza 0s incapazes, os incompetentes, os descorltentes, apresentando-se como o defensor duma tribo, uma regido, duma raga. E nessa base que faz agitagio. As suas armas soo boato, a intriga, a caliinia, as promessas, a demagogi. © ambicioso procura a sua promogio pes- soal, Para isso, procura destruir todas as pessoas sem considerar obstéculos. Para ele, as fraque- zas de alguém sto a sua forga Quando utiliza o racismo, niio é para pro- mover a sua raga. E para se promover a si m2s- mo. Quando utiliza o tribalismo, nfo é para pro- mover a sua tribo. E para se promover a si mes- mo, Quando utiliza o regionalismo, nfo é para beneficiar uma regio. E para se beneficiar a si mesmo. No tempo colonia}, o que nos identificava era todos sermds colonizados, O que nos une hoje é todos sermos mogambieanos. Nao somos macuas, ajauas, chuabos, macondes, changanas, chopes.’Nag somos pretos, mulatos, ‘brancos, in- dianos. Somos mogambicanos, cidadsos da mes ma Patria, E esta a civilizagao que construimos a igualdade dos homens. Mas alguns nig aceitam esta igualdade. Estao descontentes com a igualdade. Alguns, que eram assimilados, nao aceitam que o seu filho estude na mesma escola em que estuda o filho do camponés analfabeto. Alguns, que sfio duma tribo a que uma ou- tra historicamente prestava vassalagem, nfo aceitam que uma pessoa dessa outra tribo seja © seu chefe, 0 seu colega de trabalho. Alguns, que so instruidos, nao aceitam que © analfabeto tenha acesso a0 mesmo hospital, & mesma quota de abastecimento, tenha o mesmo direito democrético de se pronunciar sobre os problemas do local de trabalho, sobre a vida do Pais. ‘0 nosso Pais foi colonizado por brancos eu- ropeus. Ser braneo era ser privilesiado, no tem- po colonial, Branco era autoridade, era poder. ¥ essa a origem do racismo no nosso Pais. 5 essa a fonte dos complexos. © ambicioso procura explorar esta circuns- tancia. Este Pais tem pretos, indianos, brancos mulatos, Mas aos mulatos eu costume chamar pretos. Alguns vio reclamar, mas no interessa Eu digo aqui que néo hé mulztos. hd pretos. ‘Vamos ultrapassar os complexos de brancos € TEMPO — 29/5/83 de pretos. Geralmente, s&o alguns assimilados, alguns pretos instruidos, alguns mulatos que agitam 0 racismo antibranco. Porque devido ao sistema colonial os ‘brancos tiveram privilégios e puderam obter maiares habilitagdes académicas, esses ambiciosos consideram-nos ubsticulos & sua promogo pessoal © ambicioso branco cultiva o elitismo, Por que teve maiores oportunidades de instrucio, quer fazer valer essa cireunstincia, apresenta Se como o que sabe mais, o indispensdvel, Quer impor ag suas ideias, as suas opinises, recusarse a aprender. E racismo atribuir defeitos a uma raga. E racismo atribuir virtudes a uma raga. E racismo o branco considerar que alguém vometeu um erro porque é preto MINISTERIOS DA DEFESA, SEGURANCA, JUSTICA E INTERIOR NAO FUNCIONAM Compatriotas, Ha certas coisas que negligencidmos e que 9 Congresso nos mostrou. m primeiro lugar, os instrumentos do poder, os instrumentos de soberania. Sem resol- ver os problemas dos instrumentos de soberania nao resolvemos nada. Cada Ministério seré um centro de poder. Negligenciémos os instrumen- tos de soberania. Quando ha brechas nos instru mentos de soberania, essas brechas alastram-se por todos os Ministérios, por todo o Estado. Quais séo estes instrumentos de soberania? Sfio 0 Ministério da Defesa Nacional, 0 Ministé rio do Interior, a Ministério da Seguranca, 0 Ministério da Justica. Estes Ministérios néo fun- cionam e em qualquer parte do Mundo sao esses quatro Ministérios que mantém a disciplina ‘Negligencidmos um pouco. Falamos sempre das zonas libertadas. O mos. sempre das Zonas Libertagas, 0 exéreite pro: duzin, O exérelto cumpria a paavre de orden: qestudat, tcombater, produziy TEMPO — 29/5/83 Ke Koreas Armacas sho 9 ponte wials alto ds unldade ‘nacional, LA matdmos 9 triballsmo, 0 region ‘smo exército produzia, O exército cumpria a pala- vra de order de desde 0 Ministro, 0 Director Nacional, 0 Director Provincial e 0 Go- vernador até lé abaixo, para liquidar os bandi- os armados e, para liquidar a fome. Sto estes os Ministérios que serdo reforca- dos pelos veteranos da Lutu de Libertagio Na cional. E preciso impor a disciplina na rossa sociedade do Rovuma ao Maputo. O governo nao pode aparecer misturado com coisas sujas, com coisas porcas. Nos Ministérios do sector econdmico iremos «mexer» no Ministério da Agricultura, £ por ane? (© Congresso pds énfase em importantes pontos deste Ministério: Empresas Agricolas Es- iatais; Complexos Agro-Industriais; Movimento Cooperative, com as aldeias comunais a entrar no Ministério da Agricultura, para a socializagao cooperativizagao do campo; apoio aos privados; € apoio da Estado ao sector familiar, com char: Tuas @ todos os meios para produzir comida, E necessétio apoiar todos estes sectores para matar a fome. Outro aspecto no Ministério da Agricultura tem de existir um director que responda pela produgéo dos cereais (arroz, trigo, milho, mapira e mexoeira). Tem de haver quem responda pela produgdo de vegetais e legumes. ‘Tem de haver no Minlstérlo da Agricultura wn responst vel pela proaucio de carne de galinha e de ovesy ‘Tem de haver no Ministério da Agricultura, um responsével pela produgdo da carne de gali nha ¢ de avos. Tem de haver um responsivel peta produ: gio de carne de bovino; de porco, de ovelha e de cabrito. E tem de haver um responsavel pelo cha, pelo cajt pelo algodéo ¢ pela copra, Tem de haver quem ficara responsavel pela floresta e pela madeira, (Os nossos animais nfo stig conhecidos neste Pais. Os bafalos, os leSes, os elefantes, as gazelas € a5 zebras no tém controlo. Tem de haver um responsivel. Por isso o Ministério da Agricul- tura serd o primeiro a ser mexido. O segundo Ministério a ser mexido Ministério da Industria e Energia. Este Ministério tem & sua responsabilidade a energia, a indistria ligeita, as fabricas e as minas, Este Ministério tem de ser dividide © tem de haver responsabilizacdo. Nem temos planos de produgdo de panelas, de pratos, de chavenas e de copos no nosso Pais. Tudo aquilo, de que necessitamos diariamente em casa ndo tem plano. © terceiro Ministério seré 0 do Comércio Externo. Podemos produzir, quando néo vende- ‘mos? O quarto Ministério sera o dos Transpor- tes, Caminhos de Ferro, Portos e Navios, Vamos eriar um sector s6 para a camionagem, Este sec- tor vai ocupar.se s6 das viaturas e das estradas. ‘Temos 0 Ministério das Obras Publicas, que se encarrega de planificar © de construir e no da manutengao das casas e da venda das casas, © que nao é sua missio. Para este teabalho, va- mos criar uma estrufura em cada provincia, O agamento das casas, a partir deste més, seré descontado no vencimento. Acabou-se a bicha. Agora até vamos descobrir os preguicosos, os ‘que nfo trabalhem: DISCIPLINAR 0 TRABALHO COMBATER A MARGINALIDADE Vamos introduzir 0 cartéo, O ‘atraso vaise reflectir no vencimento, & descontado, A falta vai-se reflectir no venci mento, com o respectivo desconto. E 9 primeiro movimento, que vamos fazer este més 6 Milfcias, Policia, Grupos Dinamizadores, Exéreito e outros vo também ir produzir. Nio ficam nas celas, vao produzir todos. Segunda acco. Dissemos que a indisciplina comeca no Aparelho de Estado. O motorista do Secretério do Presidente vai para o campo. O meu Secretério tem dois bracos; vai conduzir 0 seu carro, Haveré motoristas até aos directores de certos sectores estratégicos. Quanto ao resto, chefe de servico ou chefe do gabinete, os seus motoristas véo. para 0 campo, véo & produgéo. Os que atropelam e matam sero julgados, condenados e punidos e ficardo sem carta. Nun- ca mais conduziréo. Aqueles que fazem aciden- tes e destroem carros, serdo julgados, condena- dos e sero postos num trabalho produttivo, para pagar a destruigéo. ‘Motorista negligente, bébado ou alcodlico no pode ser motorista. Poe a vida dos cidaddos em perigo. Vai para o campo, para a machamba produzir, volta bara o seu distrito. Vamos lim- par a cidade. Quando falo de motoristas ¢ porque quere- mos Teduzir 0 nimero de funcionétios no Apa- relho de Estado. So muitos, os funcionérios que nfo produzem nada: em primeiro lugar, 08 incompetentes, incapazes, negligentes preguigo- 303, faltosos, indisciplinados, alcoélicos e ma- landros. Depois, varios organizar as nossas escolas como escolas de um Pais socialist ry TEMPO — 29/5/89 a osc I S: me “ie. Tas oe Peete ais Rutan ert ae umo eo Scare: Geo igre rae

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