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As Reformas BourbGnicas (1750-1808) Desde finais do século XVII, 0 Império Espanhol enfrentava uma profunda crise, ondmico ¢ cule com desdobramentos diversos, especialmente nos Ambitos politi tural. ‘Tao dificil momento era produto de uma conjuntura dimstica, mas também da forma como a propria administracio tinha ido estruturada, tanto na metrépole {quanto nas coldnias € na relagio entre elas. Em razio disso e fazendo parte de um mundo que se transformava com maior velocidade, alterando os precirios equilibrios pré-existentes, a Coroa perdeu importincia em favor de outras poténeias em ascensio, ha, O reinado de Carlos I, el bechizado (1664-1700), revelouse um completo desas- es, bal moeds, inflagio progressiva e fome gen particularmente a Franca ¢ a Gri-Bre tre, com derrotas mil incarrota da Coroa, retrocesso intelectual, depressio da alizada, 0 que fer diminuir em um milhio a populacio que havia no Império nos tempos de Filipe II (1556-1580). A crise chegou a0 dipice com a longamente esperada morte do monarca, em 1700, consumando o fim da dinastia espanhola dos Habsburgos (Austrias) ¢ abrindo a Guerra da Sucessio. Esta guerra civil, que também foi europeia, durou de 1701 até 1713, quando foi assin: paz. em Utrecht, cujo prego final foi a partilha do patriménio dinéstico. 0 novo periodo nao apenas se abriu com uma nova e mais vigorosa dinastia, a dos Bourbons, mas trouxe também uma nova visio das necessidades do Império ¢ de como seria sua administracio. Filipe V (1701-1746) tinha herdado essa visto de sew avd francés, Luis XIV. Os novos monarcas, aconselhados por virios ministros de destaque, provenientes, em sua maioria, da pequena nobreza ou de simples plebeus, impulsionaram uma série de medidas que a historiografia tem denominado como Re-. formas Bourbénicas, Primeiramente, Filipe V e, depois, Fernando VI (17: 16-1759) iniciaram 0 processo; Carlos [II (1759-1788) 0 acelerou, dando-lhe maior sistematicidade, mas scu sucessor, Reformas. O dramatico fim Carlos IV (1788-1808), no conseguiu dar continuidade & de seu reinado coincidiu com o inicio da dissolugio do Império, Em suas agdes, esses monarcas inspiravam-se no espitito da época. Mais que na pripria Hlustracio, fundamentavam-se nas ideias da fisiocracia, do mercantilismo e do liberalismo econdmico, fazendo de suas Reformas um rico processo, cujo ritmo era di tado pelo ecletismo, pelo oportunismo, pelo bom senso e pelas préprias necessidadles HisTORMA DA americas ‘DA PRE-HISTORIA AO PERIODO COLONIAL Conjunturais. Fizcram-nas avancar de forma um tanto castica, em um longo espago temporal e geogrfico, mas sempre em um “crescendo. Nas vis6es mais gerais, o pensamento iluminista tem sido associado a Revolugio Francesa, mas ele tinha miiltiplas arestas, algumas das quais foram aproveitacas peas Préprias monarquias europeias para se fortalecer. De fito, uma das suas variantes, © absolutismo ilustrado, € uma prova disso. Nas estratégias ¢ também nas priticas Politicas, esse vasto corpo de ideias serviu para racionalizar, na medida do possivel € de acordo com os desejos ¢ capacidades de monarcas ¢ ministros, os aparelhos est s, que buscavam fortalecer seu poder diane da nobreza, da Igrea ¢ das demais ~poténcias. O lluminismo, em grandes tracos, também permitiu desenvolver os paises, promovendo especialmente as ciéncias, as artes € 0 “conhecimento util” s fisiocratas trouxeram & tona os problemas vinculados a posse fundiacia, cujos Fesquicios medievais ¢ de outros tipos atravancavam o desenvolvimento, impossibil tando uma oferta mais abundante de alimentos € matérias-primas a custos menores € nao deixando a populacio ultrapassar um certo umbral, sem que fosse submetida a severos padecimentos. As ideias mercantilistas, nos moldes colbertianos, atraiam 0 olhar para a paradoxal circunstincia de que o Império, tendo se baseado. extragio de metais preciosos, via escorrer toda essa riqueza para outras poténcias, como Gri-Bretanha e Holanda, que ‘io tinham sido agraciadas com esses recursos naturais em tio larga escala, No entan- to, esas nagdes eram mais ativas no comércio e nas manufaturas, nos quais o Império ‘espanhol nfo levantava voo. Por fim, 0 liberalismo chamou a atencio para uma série de restrigdes de ordem administratva, as quais tornavam 0 comércio, tanto o interno & metr6pole quanto 0 que envolvia as colénias, lento e oneroso, estimulando, dessa forma, o contrabando ¢ as produgéx s locais, que tinham assim uma protecio virtual para se desenvolver. ‘Todo esse turbilhdo de ideias, apesar das proibigBes que a Coroa e a Igrefa impu- ‘nham a sua circulagéo, ultrapassou as fronteiras da propria metrGpole ¢ chegou 3s colé- nias, na maioria das vezes por intermédio de divulgadores que, num meio escassamen- te-culto, traduziam e comentavam os originais franceses ¢ ingleses, particularmente. No entanto, esse embate nfo era apenas de ideias. O século XVIII, que se iniciou com a Guerra de Sucessio ao trono espanhol ¢ se encerrou com 0 turbilhio da Revo- lucio Francesa, que decepou, literal ¢ metaforicamente a monarquia francesa, carac- terizou-se por intensos confltos internos e externos, pelas primeiras emancipagoes, a dos Estados Unidos e a do Hait, pelo nascimento das primeiras repablicas depois de Roma, cujos reflexos se faziam sentir no préprio impéri, tanto na peninsula quanto ‘no ultramar, ‘AS GUERRAS DINASTICAS E COLONIAIS EM UMA NOVA ERA Amorte precoce de José Fernando da Ba a, Principe das Astras, ungido herd: ro da Coroa em 1699, € do seu tio-av6, Carlos II, em 1700, desencadearam a Guerra des jucessio ao trono espanhol, entre 1701 e 1713. Opun n-se 0s pretendentes Fili pe de Anjou, futuro Felipe V, neto de Luis XIV, rei Bourbon da Franca, € 0 arquiduque Carlos, da casa de Habsburgo, da Austria, que formou ut «at ampla alianga, incluinds Gri-Bretanha, Portugal ¢ Sacro Império Romano Germanico, a qual dividiu os préprios cespanhiis,jé que vastos setores da aristocracia de Castela assim como a maior parte das cidades ficou do lado do contestante austriaco, temendo perder seus privilégios. A pau veio com o Tratado de Utrecht (1713-1715), mudando radicalmente a geopo- litica europeia. A alianga da Espanha com a Austria dos Habsburgos foi perigosamente substituida por outra, com a Franca dos Bourbons. Nessas circunstincias, a tltima aparecia como possivel poténcia continental, levando suas adversdrias a descontianga, especialmente a Gri-Betanha, que passava a dominar os oceanos € tinha conseguido da Espanha o asiento c os direitos de importagio para a Companhia dos Mares do Sul. Nao obstante as pr augdes introduzidas nesse ‘Tratado, a Casa de Bourbon selou ‘uma s6lida alianga entre seus varios ramos, em acordos conhecidos como Pactos de Fa milia, A alianga franco-espanhola, assinada em 1733, durante a Guerra da Sucessio da Polénii éconsiderada como o primeiro deles; 0 segundo acordo foi assinado durante a Guerra de Sucessio Austriaca, pelo Tratado do Escorial, em 1743; € 0 terceiro, pelo Tratado de Paris entre os reis da Franga e da Espanha eo Duque de Parma, em 1761. Por causa do segundo casamento de Felipe V, em 1724, com Isabel de Farn Coroa espanhola se envolveu nas disputas dindsticas italianas em favor dos filhos des ta, dispersando forcas militares e dlilapidando recursos do exaurido tesouro espanhol Nas possessbes coloniais, 0 conflito renasceria durante a Guerra da Orelha de Jenkins, 1739-1748, que, além dla lend, foi iniciada pelo almirante inglés Vernon, com a destrui fo de Portobelo, ¢ continuiou com ataques a Cartagena de Indias, em 1741, terminand em retumbante fracasso depois dh maior batalha naval, antes de Trafalgar, ocorrida em diversos pontos de Cuba, da Ami ica do Norte e do Pactfco, Essa guerra coincidiu com a Guerra de Sucessio da Austria, 1740-1748. As duas terminariam em 1748, com o ‘Irata do de Aix-la-Chapelle, cujas consequéncias mais relevantes para as coldnias espanholas foram o fim do asiento e a concessio dos privilégios 4 Companhia dos Mares do Sul lode Madr, assinado com Portugal em 1750, pelo qual este cedia i Espanha a Colbnia de Sacramento juntamente com suas Outro acortlo de pacifi io importante foi Tra trio los Sete Povos das pretensées ao estuario da Pratae, em contrapartda,reccbiao te Misses, em longo ltigio entre os dois patses, cujos resultados foram as Guerras Guarani lads ticas, entre 1754 € 1756, Posteriormente, as detemminacdes desse trata fora pelo Tratado de El Pardo, de 1761 ‘8s Reforms Bourbénicas 11750-1808), HisTORIA DA AMERICA: DA PRE-HISTORIA AO PERIODO COLONIAL Guerra dos Sete Anos, 1756-1763, Espanha ¢ Franca, unidas pelos Pactos de voltaram a se enfrentar com a Gri-Bretanha ¢ Portugal em tomo das lutas iam Austria e Prissia, assim como em torno de outros contlitos indsticas que divi coloniais. No que tange a Espanha, 0 éxito no norte de Portugal viusse eclipsado pela tomada inglesa de Havana e Manila Pelo Tratado de Paris, de 1763, que pés fim a guerra, a Espanha recuperou as du cidades pecdidas, mas teve que devolver a Colbnia de Sacramento a Portugal e ceder ada Florida & Grio Bretanha; a Franca entregou a Espana a Luisiana, a oeste do rio Mississipi, incluindo su apital, Nova Orleans Em 1777, uma no ‘guerra contra Portugal disputando a Colnia de Sacramento € dominios circundantes foi resolvida com 0 Tratado de Santo Ildefonso, pelo qual a Espanha recobrava 0 dominio sobre esse territ6rio ¢ sobre duas ilhas na Guiné, em troca de se retirar de suas novas conquistas na América portuguesa. Os contlitos foram reiomados com a entrada dla Espanha na Guerra de Independén- dos Unidos, 1779-1783, em apoio aos sublevados contra a Gri-Bretanha € novamente ao lado da Franca, 0 Tratado de Versalhes, de 17 ‘com a recuperacio da Florida ¢ de Minorca por parte da Espanha ¢ com 0 abandlono bri tinico de Campeche ¢ da Costa do Mosquito, no Caribe. Outras expedigées foram pre- paradas na Nova Espanha para assegurar a posse fetiva clas provincias d © Califérnia (BRADING, 1998). S imo quarto assalto desde a “ocupagio, a Espanta fracassou ao tentar recuperar Gibraltar de um persistente cerco & cia dos trouxe a paz juntamente Sonora, Texas em embargo, em seu d teve de reconhecer a soberania britinica sobre as Bahamas ¢ outros pontos do Caribe. Com a Convengio de Nutka, em 1791, foi resolvida a disputa entre essas duas po- téncias pelos assentamentos britinicos ¢ espanhdis na costa do Pacifico, delimitando-se, m, a fronteira entre ambos os Impérios na regio. As disputas dindsticas podiam pa- recer longinguas, mas afetavam o quotidiano de vastas regiées da América espanhola. As vicissitudes entfrentadas pela Colonia de Sacramento sio exemplo claro da fragilidade 2s paragens coloniais, dos acordos e das incertezas que pairavam em muitas d A Colénia de Sacramento foi fundada em janeiro de 1680 pelos portugues 10 daquele ano pelos espanhii cocupada em ag que perceberam de imediato 0 petigo que a pequena cidade representava, Por meio de negociagoes diplomaticas, cla foi devolvida a Portugal pelo Tratado Provisional de Lisboa, de 1681, que continha diversas restrigoes 4 sua expansio. A posse efetiva foi dada de 1683 a 1705 ¢, em 1715, a cidade passou a dominacio espanhola, Pelo Tratado de Utrecht, os portugue- a ciddad tratado de Madri, os portugueses a devolveriam pela segunda vez, Fssas disposicies ses a retomaram nessa data. Em 17: freu outro ataque e, em 1750, pelo foram anuladas pelo Tratado de E Pardo, de 1761, mas, em 1762, Colonia do Sacra mento foi ¢ anos, concluida acada pelos espanhdis, no contexto da guerra dos com a assinatura do Tratado de Paris, em 1763, que fixava, entre outras disposicée: seu terceiro retorno a Portugal No entanto, a er 10 do Vice-reino do Rio da Prata, em 1776, com capital na viz qu em 1777, foi novamente ocupada pelos espanhéis, o que ficou referendado no Tratado deSa agi nha Bucnos Aires, deixava vulnerivel a nova jurisdigao portugues: razio pe n Ildefonso. Esse tratado, assinado nesse mesmo ano, daria 3 cidade um longo © raro periodo de estabilidade. Os britdnicos, como parte das operagées para a invasio de Buenos Aires, liberaram Colénia do dominio espanhol, em 1807, fomentando as ideias independentistas. Nes se momento, ela foi interinamente comandada por José Gervasio Artigas. Em 1813, durante a Revolugio de Maio, Coldnia tornou-se parte da Provincia Ori alc, partir de 1828, continuo como palco de disputas, desta ver entre nacdes platinas ¢ 0 Imp rio do Brasil, que tinha se tornado independente em 1822 As lutas dindsticas ¢ territoriais causavam descontentamentos num mundo que jé do ac 1a a monarquia como um diteito divino. Elas proprias atigariam as chamas ‘que as consumiriam ao tentar atingir seus rivais. Ao exemplo da independéncia das ‘Ireze Col6nias logo se somaria 0 da Revolucio Frances ‘no epicentro da Europa ilustrada. Sem seus aliados, os Bourbons espanhdis sucumbiram 20 avango napoleénico de 1808 e 20 Bloqueio Continental, que colocou uma barreira quase intransponivel entre a metrépole e suas colénias. Essa circuns- tincia seria aproveitada em terras americanas pelos precursores dla Independéncia, muitos deles alentados pela propria Gri-Bretanha, que assim fazia os Bourbons provar do seu préprio veneno. REFORMAS POLITICO-ADMINISTRATIVAS A mudanca de dinastia nao trouxe apenas novos monarcas, também insullou novos ares na administracio. Os Austrias menores, afeitos a deixar 0 comando dos assuntos do reino a validos, seus protegidos da noblesse de roube, cederam passagem 20s Bour~ bons, os quais, sem deixar de outorgar espagos para os seus ministros, exerceram 0 poder de modo mais direto, tentando dar novos brios a um império carcomido em seus alicerces, Por tal motivo, um dos processos mais intrincados, de maior relevo ¢ que efetiva mente deu frutos foi o das reforms administrativas Para leviclas adiante, os Bourbons Logica de funcionamento rnecessitaram mudar, embora por partes ¢ diaeronicament do poder estatal até aquele momento No periodo Habsburgo, os cargos eram providos por heranca, por feitos & Coroa, por venda ou arrendamento, Essas duastltimas formas rendiam ingressos pecuniarios ‘As Reformas Bourbnicas 10750-1808), isto DA AMERICA: ‘curto prazo, mas consumiam muito m DAPREHSTORAAO PERIODO COLONIAL vam a autoridade real, reservando fatias de poder com graus relativos cle autonomia is mina. is recursos a longo prazo e todas el Arcforma politico-administrativa foi iniciada em 1705, com a criagao de dois depar- stado, Graga e Justi idade era seguir outras formas de provisio, excluindo, na n tamentos, os quais, em 1714, foram desdobrados em quatro: Guerra e india. A fit io- rin das veres, a alta arstocracia desses cargos. De fato, 0 Conselho de Castela continuou como suprema magistratura depois do rei, O Ministério de indias incorporou algumas das funcées mais importantes do Con- selho de indias, tornand nncia real para a emissio de ordens sobre fi ~ cas, comércio, guerra ou qualquer outro assunto de Estado importante, Ao Conselho ficaram reservadas as fungoes de Supremo Tribunal de ape! cho. Além disso, era urgente encontrar uma forma de controlar um império de dimen. ‘ses mundiais, Embora menor que os dominios de Carlos | ¢ Filipe 1, 0 dos Austrias maiores estendia-se pela Peninsula Ihérica, nos Paises Baixos, por alguns dominios italianos, por diversas ilhas no Atki ks ico, de Norte a Sul da América até as Filipinas. ssa possessics, ligadas por trés oceanos imensos, tinham ganhado complexidade cram assediadas por diversas poténcias, além de enfrentar outras ameagas, como as dos nativos nfo assimilados ¢ dos piratas que atuavam por conta prépria Primeiramente, a retomada do poder se deu na propria Peninsula Ibérica, com 0 intuito de homogencizar e centralizar o Estado espanhol, utilizando 0 modelo terri- torial da Franga. Como forma de retaltacio pela calorosa recepcdo que varios reinos ofer ecerim ao arquiduque Carlos, Felipe V, 0 outro pretendente ao trono, impos os Decretos de Novo Plano, segundos os quais seriam eliminadlos, a no ser em Navarra e nas provincias basea 6s privilégios ¢ imunidades dos antigos reinos peninsulares, a0 mesmo tempo em que se unificava o Estado espanol, Este passava a ser dividido em provincias, chamadas capitanias-gerais, comandadas por um oficial € quase todas clas regidas plas mesmas leis, com poucas excecdes. Posteriormente, as Reformas sairam da metr6pole ¢ passaram 3s coldnias. Por um Jado, as extensas jurisdigdes politico-administrativas da América espanhola foram divi didas, mediante a eriagio de novas unidades, o que terminaria por reconfigurar a gco- politica regional. A finalidade dessas medida cera criar unidades territoriais menores, seria instalada uma defesa mais para garantir melhor controle, Nas dreas limitrofes efetiva contra os inimigos externos, particularmente Portugal, Franca e Gra- Bretanha ou contra os inimigos internos, os indios cimarrones. Além dos vice-reinos jf existentes, do Peru e da Nova Espanha, outros dois foram fundados. 0 de Nova Granada, criado em 1717 € suspenso em 1723, foi estabeleci do definitivamente em 1739, compreendendo, originalmente ¢ em grandes tragos, 6 territsrios das atuais repuiblicas da Colombia, do Equador e parte da Venezuela. O vice-reino do Rio da Prata foi criado de forma proviséria em 1776 ¢ de forma definitiva um ano depois, em 1777. Tal criagio era uma resposta aos continuos problemas na Col6nia do Sacramento c i instalagio, apesar dos protestas espanhiis, ce uma guarni- ‘Gio britinica nas ilhas Malvinas (Falklands). Ele abarcava os territdrios que sio hoje as repiblicas da Argentina, da Bolivia, do Paraguai ¢ do Uruguai, constituindo-se como tum corredlor mais seguro e menos oneroso para a prata do Alto Peru, assim como uma via alternativa para 0 Cabo Horn, Por quest& compreendendo toda a América Central, menos o Panamé, pertencente ao vice-reino de defesa, foram criadas ainda as capitanias-gerais da. Guatemala, da Nova Granada, ¢ as capitanias-gerais do Chile, da Venezuela e de Cuba, Além disso, como os territ6rios eram demasiado extensos, em face da necessidade ad xado nos titimos anos dos Habsburgos, os Bourbons importaram para os scus novos de dar maior raciona idministracio e retomar as rédeas que tinham se afro dominios o sistema francés de intendéncias, desenvolvido, entre outros, por Mazarino, licux e Colbert. De certa forma, as jurisdigdes eram menores que as governacées, mas essa nfo era a diferenca mais significatva, jé que se ratava da implantagio de uma nova l6gica, da designacio de intendentes mais rigorosos ¢ com poderes mais amplos sobre as corporagées municipais, os cabildos (HALPERIN DONGHI, 1975, 1985) A aplicagdo desse sistema na América espanhola ¢ também nas Filipinas deveu- -e aos resultados obtidos na Peninsula Ibérica, Os intendentes tinham como missio principal a promogio da economia c o resguardo da fazenda, embora nem todos todos tivessem prerrogativas idénticas. 0 sistema passou por modificagdes a0 longo do tem- sci ou do gover po. Inicialmente, separavam-se as fungdes do intendente das do nnador, mas, em certas regides, 0s conilitos produzidos levaram 4 decisio de unica, es dignatirios costumavam ter um assessor ou tenente letrado, nomeado pelo rei em carater permanente. linham também subdelegados, que cumpriam suas ordens € exerciam suas funcoes em areas terrtoriais denominadas subdelegaciones ou patti dos, que correspondiam aos antigos corregimientos. Em alguns lugares, eles substitu- fam os préprios titulares. AApés a recuperacio de Havana, ocupada pelos britinicos, instaurou-se em Cuba, ‘em 1762, a primeira intendéncia; em 1764, ditaran para ela algumas ordenanzas, nas quais se introduziram mudangas em 1765 ¢ 1767, e que a regeram até 1786, quan- do foram substituidas pelas aplicadas na Nova Espanha, 1764, foi criada a intendéncia da Luisiana, no mesmo ano em que José de Galvez introduzida pelos iniciou uma visita a0 Vicereino da Nova Espanha, a exemplo da pri ‘Habsburgos. No Informe y Plan de Intendencias, assinado por cle ¢ pelo vice-rei Carlos ‘As Roformas Bourbénicas (9750-1808), HISTORIA DA AMERICA: DAPRE-HISTORIA AO PERIODO COLONIAL uncisco de Croix, cle propunha o estabclecimento do regime de intendentes nessa jus * risdigdo, Em 1770, foi criada a Intendéneia de Arizpe nas provincias de Sonora ¢ Sinaloa. Em 1776, G: tendéncia da Am lvez assumiu a Secretaria de indias e criou, na Venezuela, a primeira in- ica do Sul. O govemnador ¢ 0 intendente exerciam suas fungdes por in termédio de ordenanvas similares as de Cuba, com énfase nas atribuigdes de policia. Em 1783, elas foram substituidas pclas normas estabelecidas para osintendentes platinos ois anos depois da eriagio clo Vice-reino do Rio da Prata, ¢m 1778, optou:se pe instauracio desse regime; em 1782, foram eriadas as Ordenanzas de Intendentes del Rio de la Plata e, em 1783, elas foram modificadas. Com base nel lividida em oito intendéncias. No caso da Nova Fspanha, em 1782, foram dez as intendéncias estabelecidas, M: eino do Peru, tal normativa posteriormente, outras duas foram acrescentadas. No Vic foi aplic cias nas Filipinas ¢ em Porto Rico. Na Guatemala, foram instauradas em 1785, regidas em 1784, com adaptacies. Nesse mesmo ano, estabeleceramsse intendén. Pelas ordenanas do Rio da Prata, No ano seguimte, também seguindo tais ordenanz s, élas foram instituidas no Chile, mas com as adaptacdes peruanas, Por volta de 1790, com excecéo das principais regides fronteisicas, administradas por governadores militares, as intendéncias tin am se espalhiado por toda a América espanhola (PARRY, 1970). As tiltimas foram as intendéncias de Puerto Principe e San- tiago de Cuba, criadas em 1813, ambas nessa ilha caribena 0 intrincado ¢ complexo conjunto dessas disposicdes obrigou Carlos IV, em 1803, aditara Ordenanza General de Intendentes, que reunia, num s6 corpo juridico, todas as regulamentagoes que tratavam das intendéncias. Entretanto, em pouco tempo, essa inicitiva perdeu seu efeito, por influéncia do ministro Manuel Godoy Quando foram instaladas as intendéncias, o sistema previa a figura do super: tendente, que, na sede de cada vice-teino, turelacia os intendentes da sua jurisdic sobrepondose a figura do vice-re. Isso gerava conflitos que emperravam a administra io, motivo pelo qual, em alguns casos, foram unificadas as funcBes €, em outros, eas foram abolidas definitivamente depois de um tempo. ‘A menor cficicia desse regime do que o previsto deveusse, em parte, a0 fato de que o sistema de receitatinha sido amplamente reformado tempos antes, Fim 1754, as lariados; alcabalas da cidade do México tinham sido entregues a funcioniios ass: 1776, a administragéo direta que foi extendida para toda a col6nia ¢ todas.as principais Cidades foram aquinhoadas com um diretor e contador local, encarregado do imposto de consumo, auxiliado por um grupo de guardas (BRADING, 1998). Esse processo teve seus recuos entre 1687 1712 e, novamente, na década de 1740, quando os cargos nas Audiéncias america foram colocaclos a venda para todo licitante qualifcado, Isso fez com que as da cidade do M ico, Lima ¢ Santiago do Chi: ‘As Reformas Bourbsoicas (1750-1808) le fossem ocupads por uma maioria de criollos, situagio que s6 foi revertida a partir de 1776-1777, quando o ministro Galvez resolveu ampliar 0 nximero de ouvidores, para depois, por meio de uma politica resoluta de transferéncia, promogio ¢ al ‘mento, minar o predominio dos nascidos na América Tal politica nao era apenas uma prevencio contra o avanco dos criolfos, mas tam- bém obedecia & intengéo de criar uma meritocracia com uma escala de promogio. i Buenos Aires € Cuzco, assim como o cargo judicial de regente, que deveria substituir cias (BRADING, 1998). alizando 0 proceso, em 178: 1786, novas Audiéneias foram criadas em Caracas, 6s vice-reis como presidentes das Audi Esse método também foi empregado para recompor o exército regular, substituin- do 0s tercios por regimentos de estilo francés, com tropas recrutadas compulsoria- mente, 0 que evitava © emprego de mercendrios estrangeiros, ¢ compost por um indo i merito- terco de oficias plebeus, muitas vezes promovidos em suas fileira cra Apenas os regimentos dos guardas reais tinham alguma ambigio de prestigio real, como demonstra ofato de que a maioria clos vice-eis, apd a ascensio de Ferman rciras (BRADING, 1998). Nio obstante atingirem 0 niimero de 60 mil soldados em 1761, as guarnigoes per do VI.a0 trono, provinha de tas manentes eram insuficientes para resguardar tio extensos territérios. Por essa razio, optow-se pela organizagio de indimeras unidades miliciana , sobre as quis as elites locais tinham cominio. ‘ais mili garantiram a0 Estado colonial uma salvaguarda contr caques estrangeiros, a exemplo da resist cia de Buenos Aires ¢ Nova Espanha 4208 ataques ingleses em 1806 € 1807, e contra agitagées populares, embora algumas dlas tenham servido de base também para as ages dos primeiros independentistas A armada tam recebeu atengio, especialmente durante e apés a Guerra da Orelha de Jenkins: no final do reinado de Carlos Ill, com a ampliagao do programa de reaparelhamento, foram langados no mar 66 navios apoiados pelo grupo usual de fragatas ¢ paquetes (BRADING, 1998). . A ideia era estabelecer umm sistema tiplice, no qual os regentes chefiavam 0 ju iio, os superintendentes dirigiam o tesouro € 0s intendentes ¢ vice-reis cuidariam dda administragio civil e das forgas militares. No entanto, o funcionamento desse orga rnograma esbatrou nos conflitos entre as esferas, na pritica comum de aglutinar numa ‘mesma pessoa alguns desses cargos © mas poucas aliancas que 0 regime consegui estabelecer com as elites criollas. De toda forma, 2 nomeagio de uma burvcracia assalariada permitiu & Coroa es- panhola obter uma coleta de impostos extraordinacia |. Com a expansio da atividade ee econdmica, fruto das reformas no comércio ¢ do incentivo is atividades de exportacio : HISTORIA OA AMERICA: DA PRE-HISTORIA AO PERIODO COLONIAL coloniais, as receitas quase quadruplicaram até 1750 e duplicaraum nos anos de 1785 € 1790. Todo esse esforgo fiscal, no entanto, esvaiu-se num gasto militar que consumia 60 por cento do orcamento, sem contar os dispéndios de guerra, ¢ nas despesas da propria Coroa que consumia os outros 15 por cento (BRADING, 1998). hem que parecesse ruim num primeiro momento, essa composicio orcamen- tiria promoveu parte da renovagio e do despertar econdmico do império, tomando Possivel o fornecimento de uniformes, armas e muni para o exército, a construgio de navios de guerra e de arsenais navais, a fundicio de ferro para a fabricacio de ca- nnhoes, além da construgio de trés novos palicios ¢ da provisio de produtos téxteis, tapecarias ¢ outros artigos de luxo para saciar o apetite da Conte REFORMAS ECONOMICAS Aconselhados por ministros como Campillo, Campomanes, Jovellanos ¢ Florida- blanca, os monarcas do século XVIII tentaram transformar o Império, superando 0 atraso em relacio a outras poténcias, promovendo o desenvolvimento da mineracio, da agricultura ¢ da industria c, ao mesmo tempo, reorientando 0 comércio, O objetivo €ra retomar o controle politico, militar ¢ econdmico das coldnias com base em um ‘mercantilismo ¢ liberalismo. corpus eclético de ideias que misturaria fsiocrac ‘A Guerra da Sucessio exauriu a economi do Império espanhol, mas a paz resul- tante do tratado de Utrecht, em 1713, também foi danosa nessa matéria, abrindo duas brechas que, por meio século, sangrasiam importantes recursos, levando a Espanha a Jutar desesperadamente para retomar 0 controle do comércio colonial Uma delas era 0 asierio, que assegurava & Gri-Bretanha o direito de introduzie escravos nas coldnias espanholis. Outra era a concessio de direitos legais & Compa- nhia dos Mares do Sul para enviar um navio mercante com até quinhentas toneladas de mereadorias a ser vendidas livremente nas indias. Esse limite era burlado por meio do subterfigio de descarregar 0 navio durante o dia e voltar a abastecé-lo na calada da noite, com o apoio de outras embarcagdes que ficavam & espreita, contando para isso, ‘na maioria das vezes, com 0 conluio das autoridades locais, Além dessas possibilidades legais, ou nem tanto, o comé io de entrelopos sempre {oi muito ativo. Os ingleses realizavam-no da Jamaica, os holandeses de Curagau ¢ 1977). condos dinisticos, 0 que tor: (8 portugueses, com provisoes britinicas, da Colénia do Sacramento ( Apenas os navios franceses estavam excluidos mediante. ‘ava 0 monopdlio muito m: te6rico do que efetivo, pois a Espanha era incapaz de manté-lo a contento. Por tal motivo, as principais modificagées introcluzidas pela Coroa espanho- Ja na area econémica foram as mercantis ¢ as de incentivo a nticleos de economia exportadora, seia na mineracio seja em atividades realizadas & margem dela, Uma das ‘As Rlormas Bourbénicas (70009) pretenses dla Espanha era voltar a (0 monopélio, pelo menos uma par Cipagio mais ativa no comércio com suas col6nias, além de tentar a recuperagio da atividade mineradora, que tinha entrado nun 4 crise secular. Outros produtos, como cacau, agicar, algodio, indigo e couro, despertaram o interesse ca metrépole, 0 que resultari io ‘no desenvolvimento de outros nticleos além dos voltados para 0 comé de metais preciosos. Por fim, olhar para a América espanhola como mercado consumi- dor que poderia incentivar as manufaturas que se tentavam promover na metrépole {oi outra das viradas significativas nesse sentido. De modo concreto, uma das primeiras medidas administrativas de impacto na firea econdmica foi deslocar 0 epicentro comercial, por ser pouco apropriado para as no- vas circunstancias. Em 1717, 0 Consulado de Sevilha, a C: de Contratagio € toda a ‘maquina administrativa da Carrera das indias foram transferidas de Sevilha para Cadiz, porque a fonelagem comportada por este porto excedia a daquele que subia 0 rio Guadalquivie e, em face do grande ealado dos barcos mais modernos, estes podiam ter seu mimero diminuido. nimacio do Outra preocupagio do governo foi a redugio do contrabando e a rea sistema de navegat » por comboios, que havia praticamente cessado na primeira déc dado uulo XVILL A suspensio das frotas em 1739 e a sua substituigao por navios de registro, que zarpavam cle um em um, fazendo uma viagem mais ripida, significaram © fim da independéncia relativa que os comerciantes americanos haviam conseguido ata ao longo das duas décadas anteriores. Em razaio disso, eles se viram relegados aa as decisdes dos membros do Consudo de Cidiz, Gnicos autorizados a comerciar € limitacios legalmente apenas pela concessio de outros monopélios por parte de com- panhias de comércio. Buscando reanimar o comércio com as ind © governo espanhol decidi criar empresas semelhantes 2s que, no inicio do século, foram organizadas por britinicos~ ¢ holandeses. Por meio delas, grupos particulares de investidores recebiam privilé- ios comerciais¢, as vezes, administrativos em determinadas regioes da América e, em contrapartida, tinham o compromisso de d dominar o contrabando (PARRY, 1970). Em 1728, foi fundada a Companhia Guipuzcoana, de Caracas, com 0 monopélio senvolver os recursos daquelas regioes © do comércio na costa da Venezuela; em 1734, a Companhia da Ga ia, que recebeu 0 privilégio de enviar dois barcos, anualmente, para Campeche, atual México, dedicou- 10 negocio com madeiras € corantes; em 1740, foi criada 4 Companhia da Havana, para o comércio de canale-acticar ¢ de tabaco; e, em 1755, foi fundada a Companhia ‘HsTORIA DA AMERICA: de Barcelona, destinada ao trato com DA PRE-HISTORIA RO - eRIODO COLONIAL empresas pertencia a grupos do norte da Espanha, que no tinham tido oportunida- iio Domingos e Porto Rico. A maioria dessas de de comerciar diretamente com as indias. Apesar das suas intengdes originais ¢ de suas administracées, com excecio da Companhia de Caracas, resultaram em fracassos financeiros (PARRY, 1970). A Guerra da Orelha de Jenkins (1739-1748) estabeleceu um marco no comércio, pois a destruigio de Portobelo por Vernon pos fim ds esperancas de restauragio da Frota de Terra Firme que, daf por diante, passou a ser feita pelos navios de registe. Além disso, foi aberta a rota do cabo Horn mais navios foram autorizados a desem- sbarcar em Buenos Aires. Como os britinicos nao tiveram suc ess0 total com o bloqueio, cexistindo até certa expansio comercial, dew-se o fim do contrabando. Por fim, no trata- do de paz de 1750, a Companhia dos Mares do Sul, em troca de um pagamento de 100 reto de enviar navios, Dessa forma, a mil libras esterlinas, renunciou ao asiento & a0: Espanha recuperava, apds quatro décadas, o exercici irvestito do monopélio comer: cial com seu império americano (BRADING, 1998) Se, na América do Sul ¢ nas Antilhas, uma nova era se anuneia wa, em contrapartida, nna Nova Espana, ocorreu um retrocesso que demonstrava mais uma vez que 0 pro- ccesso era multifacetado ¢, por momentos, contraditério, Entre 1757 e 1776, a pedido dos consulados, associagées de comerciantes, de Cadiz e do México, que persuadiram a Coroa, foi restabelecidio 0 sistema de frotas. Seus pares sulinos intentaram obter idéntico privilégio, mas nao obtiveram igual sort. ico, desta vez a Guerra dos ‘Tempo depois, novamente um acontecimento bé te ‘Anos (1756-1763), catalisou a mudanga. A tomada de Havana provocou um notivel crescimento das exportagdes cubanas, demonstrando a necessidade de reformas ad- ‘ministrativas ¢ comerciais. Estas ocorreriam em 1765, quando as ilhas antilhanas foram abertas ao comércio com os nove principais portos da Peninsula. Além de decretar o fi do regime de porto tinico, a medida incorporou outra mudanga subs- tantiva, a substituigio do palmeo, pagamento de imposto por volume etibico, para outro, ad valorem. O sucesso des sas medidas fez.com que, em 1774, os efeitos da Real Cédlulafossem | estendicios para Yucatén ¢ Campeche, no atual México, preparando o terreno para a promulgacio do Decreto de Comércio Livre, que finalmente aboliu 0 monopélio do comércio de Cadiz, autorizando treze portos peninsulares a realizar 0 comércio co- lonial com 25 portos da América espanhola, dentre estes os do Chile, Peru e Buenos Aires, em 1778 (VAINFAS, 1984). © monopélio da companhia dle Caracas foi abolido em 1780 ¢, por fim, na Nova beh: Espanha as restrigdes foram climinadas em 1789, restanco apenas alguns vestigios -m 1798, 0 ‘que aos poucos foram desaparecendo, Em 1790, a Casa de Contratacio sistema de frotas ¢ galdes foram finalmente abolidos, transformados em simbolos do cestrangulamento comercial (VAINEAS, 1984) © propésito da legislacio liberal comercial era melhorat a posicio da Espanha em seu comércio com o resto do mundo, particularmente com suas coldnias, aumentando assim a renda e 0 poder imperial, mediante a amecadacio de impostos e incentivando ‘io metropolitana (PARRY, 1970), Na década de 1780, 0 comércio no interior do Império voltou a erescer, aum prod tando inclusive sua frota e tornando-se mais rentivel. O fim do monopolio de Cécliz ‘em favor do comércio americano repercutiu no renascimento das manufaturas esp: Aholas, O efeito mais notivel foi o rapido erescimento da indiistia txtil na Catalunha aparelhada com waquinario importado da Inglaterra, o que resultou no aparecimento de uma pequena, mas politicamente ativa, burguesia em Barcelona. No entanto, produtividade agriria se manteve baixa apesar dos esforcos por introduc novas fetté- ‘mentas para camponeses extremamente explorados ¢ sem terras. Nao obstante, 0 aproveitamento desse renascer foi extremamente pobre, pord 8 comerciantes pareciam se conformar com o papel de meros comissionados das mereadorias introduzidas pelo restante da Europa e, com seus privilégios, sufocavam a nascente burguesia comercial que tinha florescido na crise terminal do império. Como forma de incentivar 0 comércio e algumas atividades econdmicas, a Coroa impulsi now a eri “io de Consulados. ‘al pritica nao era nova: os mais antigos, criados em 1494 € 1511, eram os de Burgos e de Bilbao, na Espanha; depois, em 1592 ¢ 1613, 0s de México e de Lima, na América, todos na era dos Habsburg No final do século XVIUL, surgiu a nova tendéncia impulsionada pelos Bourbons, que, em pouco tempo, dotaram de tai instituigdes todos os portos ¢ cidades impor tantes para o comércio. Entre 1785 e 1786 foram estabclecidas os consulados de Male ga, Alicante, La Coruita, Santander e Tenerife, na Peninsula ibérica, e, na América, em 1793, os de Caracas e Guatemala, em 1794, os de Buenos Aires ¢ Havana, e, em 1796, os de Carta wgena de Indias, Veracruz, Guadalajara e Santiago de Chile, Além da antiga funcio, a de tribunal especial, garantindlo aos grandes comerciantes ia a de fomento das atividades agilidade nas causas comerciais, o consulado assu econdmicas, como agricultura, manufaturas e comércio, do ensino técnico e da intra estrutura, especialmente pars a navegacio e para as estradas. Os meios para que a Espana recuperasse sua antiga prosperidade viraram tema de 0 da ciéncia e do conhe vigoroso debate, Uma das respostas preferidas era a promoc cimento ttl, motivo pelo qual o governo oxganizou um censo nacional, compilow uma vasta gama de estatisticas sobre todos os aspectos da vida econdmica e elaborou um ‘As Roformas Bourbénicas (0750-1808), HisTORIA DA AMERICA: (DA PRE-HISTORIA RO eRiO00 COLONIAL Programa de construgio de canais ¢ estradas para abrir novas rotas para o comércio (BRADING, 1998) Entre 1789 ¢ 1794, teve lugar a Expedicio Mataspin: que percorreu as possesses espanholas da América ¢ da Asia, uma das viagens cientificas mais importantes ja rea- lizadas até entio. Além de dados cientificos, esses viajantes colheram observagoes de sentido politico, as quais, contrariando as ideias do ministro Godoy, terminaram por ‘causar a desgraca do seu mentor. Na Améri promoveu-se a importante reativagio da mineracio, particularmente ‘na Nova Espanha. Entre 1717 e 1778, essa atividade produzia quase oitenta por cento ‘Ue todo o valor tibutado e, em 1790, ainda produzia mais de sessenta por cento, ‘motivo pelo qual despertava especial atengio da Coroa. Esta iniciou uma politica de incentivos, criando isengdes ¢ redugdes de taxas para novos empreendimentos de alto risco, cortando pela metade 0 prego do mereirio, embora a produgio de Huancavé- lica estivesse estagnada e por vezes nio conseguisse chegar ao destino, situagio aumentou o fornecimento de pélvora, criando um tribunal de minas, que julgava com bas finalmente, criando um colégio especifico, com um corpo docente de mineralogistas 'm um novo cédigo ¢ cra responsivel por um banco central de financiamento, e, trazidos da Europa O impuiso, ajulgar pelo fracocesempenho no Peru, deveu-se masa outros fatores do que ‘essa agbes. Na Nova Fspanha, a indstria cra sustentada por uma elaborada cada de eréd- toe porum novo tipo de mio-de-obra, jd ndo mais servl sim live erelativamente bem paga. Outras mostras de dinamismo sio 0s virios tipos de atividades de exportacio que prosperaram naqueles anos: anil na Guatemala, cobre no Chile, produtos pecuérios ‘nos pampas, cochonilha no México ¢ na América Central e, especialmente, cana-de- -agiicar, cacau ¢ fumo, produziclos com base na mio-dle-obra escrava, uma relacio de trabalho diferente do repartimiento dos indios dominante no Peru. Algumas outras inovagées surgiram, com destaque para a energia a vapor em minas mais profundas e para os engenhos cubanos que, apés a invasio britinica, tinham dado um grande salto tecnol6gico. No entanto, o produto expedido em 1789, consi rando-se 14,5 milhdes de pessoas espalhadas por toda a América espanhola quase se equiparava ao produzido por 450 mil escravos da coldnia francesa de Saint Domingue, ilustcacio clara de quo atra ‘ncontrava a Espanha. E 11uma demonstragdo tam- bem de que a regio, embalada por um grande aumento populacional, que ultrapas sou.a metropolitana, estimacia em 10,5 mithdes, voltava-se para 2 economia doméstica (SANCHEZ ALBORNOZ, 1998) Grande parte desse « jento relacionan sci Se a0 aumento de pequenas produ- Ges tipicas, remanescentes inclusive da época pré-colombiana, como a industria téxtil, a cerimica ¢ 0s ali \entos para o sustento familiar, Outra parte relacionava-se & ‘As Reformas Bourbénicas - 11750-1808), grandes produgées, em especial do sistema de obrajes e das haciendas ou estancias ‘no caso platino, cuja dinimica social e politica estariafadada a transformar as feig6es da América espanhola, no futuro independente. REFORMAS RELIGIOSAS A lgreja, que, em épocas passadas, ha sido uma parceira fundamental na con- quista € na colonizacio, foi se convertendo em um entrave na nova conjuntura da con solidagio do poder absoluto do monarca. Ela disputava poder ¢ territ6rios, recursos, por meio do dizimo e das doagdes recebidas, corpos € mentes, inclusive desviando os bragos produtivos ou intelectuais da economia que definhava. Por iso, a politica regalista, que despontou na Espanha com os Austrias, foi efor «ada sob Filipe V ¢ se consolidou sobretudo com o reinado de Carlos Ill, procurou car fortemente 0s prvilégios da Igreja, subordinéela, na medica do possvel coroa © orienté-la para novos propdsitos. De alguma forma, tal avanco foi possivel porque o papa Clemente XI tinha sido obrigado a tomar parte na guerra de Sucessio do lado perdedor, nomeando o ar quiduque Carlos como rei da Coroa espanhola. Essa circunstincia, que nao passou em branco para Filipe V, levou-o a se enfrentar com parte da Igrejae alguns dos seus aliacios, especialmente os nobres de Castefa A vit6ria mais extraordindcia veio com a Concordata de 1753, pela qual o Papado cedeu & Coroa espanhola o dircito de fazer nomeacoes eclesiisticas no seu extenso territério, ou seja, concedewslhe o Patronato universal. Reafirmou-se assim a tradicio regalista na lei candnica, que postulava 0 monarca como vigirio de Cristo. Mais adiante, outros privlégios da Igreja seriam cassados: decretou-se a anulagio da validade universitaria dos cursos de conventos e seminatios, ubstituicdo do Tri- bunal da Nunciatura pelo da Roda, a intervencio nas testamentirias de clérigos, a Oe 17h, inspecio civil das obras pias ¢ a redugio da firacia de Excusado. Etre 1 com relagio & Inquisigio, procedew-se & impugnagio pablica da tortura judicial, & transferéncia dos crimes de adultério e bigamia para a competéneia civil, proibi de encarcera mento por parte do Santo Oficio sem provas de heresia, bem como de abertura de dentincias piiblicas contra magistrados do rei, sem prévia licenca do sobe- rano, Com essas medidas, atingiase parte do poder econdmico ¢ ideolégico da Igreja ‘também de seus mecanismos de controle. ‘Um dos pontos mais altos nessa disputa foi, sem diivida, a expulsio dos jesuitas, bas tides da Contra-reforma e defensores incondicionais do Papado. Essa medida no era apenas local, que coincidia com as adotadas pela maioria das monarquias da Europi HISTORIA DA AMERICA: DA PRE-HISTORIA AO ‘PERIOD COLONIAL cocidental. O processo ft iniciaclo por Portugal no ano de 1759, sendo imitado pela Franca em 1762 e pela Espanha em 1767. Em 1773, 0 Vaticano foi Ievado a suprimir a Ordem, que passou a ser tolerada apenas na Rissa e Prssia, onde sua ago era pouco significatva A expulsio foi importante pelo poder terreno que os jesuitas detinham, jf que atuavam como conselheiros € confessores de figuras proeminentes, e pela influéncia cultural que exerciam por intermédio de instiwigGes de ensino, especialmente dos Colégios Méximos e Universidades, ¢ das Misses ou Reduces, espalhaclas por virias regides da América ¢ algumas na Asia, Por meio is controlavam Ailtimas, os jesuita um ntimero expressivo de nativos em vastos territ6rios dos confins do império, onde possufam uma preocupante autonomia, chegando a se envolver em alguns confltos, como as Guerras Guaraniticas, entre 1754 ¢ 1756. No entanto, as duas medidas que mais resistencias levantaram € que chegaram no momento menos oportuno foram a promulgacio do Cédigo de Intendentes ¢ 0 dcereto de 1804, A primeira continha elfusulas que entregavam a coleta do dizimo a juntas controladas por funcionétios © isc a segunda estabelecia a consolidacéo ou a amortizagio dos bens ecles tisticos, com obrigacdo de venda de todas as propriedades da Igreja, bem como de depésito dos rendimentos no tesouro real, que, dai por dian- te, pagaria juros sobre o capital Assim, ao passo que os Habsburgos tinham pacientemente conquistado a amizade da lgeeja, com enormes vantagens, 0s Bourbons, em um século de reinado, tinham conseguido sua inimizade, Medidas aparentemente inécuas, como a de 1790, quando se proclamou 0 neockissico como o ‘nico estilo aceitével em substituicio a0 barro~ co, deixam visivel que a Coroa se afastara da tealégica escolistica em beneficio do pensamento ilustrado francés. Este preferia a moralidade pritica ¢ a educagio Inica ‘em detrimento dos exercicios religiosos © das celebragoes litingicas. Nao por acaso, muitos religiosos se colocar 1m 3 frente ou engrossariam as hostes da Independéncia ESTERTORES E CONSEQUENCIAS DAS REFORMAS Autores como David A. Brading e Tilio Halperin Donghi, entre outros, afirmam que algumas das Reformas Bourbonicas foram relativam we bem-sucedidas ¢, por esse motivo e paradoxalmente, teriam atigado as chamas da independéncia quando 6s integrantes da monarquia da Espanha, ainda nao totalmente restabelecida, foram capturados por Napoleio Bonaparte em Baiona, no ano de 1808. As reformas melhor conduzidas foram as administratvas, que deram uma nova dimensio geogrifica aos dominios dos espanhdis ¢ restabeleceram algumas das fur oes que favoreciam a Coroa, especialmente no atinente & arrecadacao dos impos- tos na América, Mostrando uma recuperacio consideravel, essa arrecadagio chegou a representar 15 por cento de todo 0 orcamento, sem contar 0 valor depositado pelo ‘comércio com as col6nias na propria metr6pole, antes de partir em direcio ao Novo Continente. Igualmente, foram reforcadas as autoridades politica ¢ militar sobre esses espagos, tendo 0 Império Espanhol voltado a ser, por um breve espaco, uma poténcia de magnitude ‘Com respeito as reformas econdmicas, no é possivel assegurar que tenham tido idéntico resultado. O malogro das intengées de promover 0 desenvolvimento org nava-se principalmente da incapacidade de suas manufaturas para progeedir em um contexto internacional de grandes avangos na drea. A abertura dos portos para além «do comércio gaditano favorecia outrasregibes nas quais 0 processo de industsalizagéo {inha se consolidado, especialmente Barcelona. Apesar disso e de outra série de incen- tivos, 0 aumento no fluxo comercial foi inimo, jé que, em seus tragos gerais, Cédiz continuava a ser um entreposto de mercadorias originarias da Gri-Bretanha, dos Pai- ses Baixos ¢ da Franca e, embora seu monopolio tena sido quebrado, foi substituido por outros, a maioria dos quais se tomnaram grandes fracassos. 0 impaeto das reforms também foi dessemelhante, conforme as regides os pre Pos sociais atingidas, o que ajuca a pensar no comportamento que estes tiveram due Fante esses acontecimentos € no que teriam pela frente, quando a Coroa fosse destitu- ‘ida, a Peninsula invadicla ea América espanhola deixada & sua prépria sorte, Um século antes, na Peninsula, 0 monatcatinha retomado alguns dos direitos de Setores da aristocracia, da maioria dos reinos e das cidades, ¢ da Igreja, em razdo de esses setores terem sido favoriveis 20 contestante Carlos. Essas ccatrzes ainda nio hhaviam cicatrizado na Peninsula. A nova dinastia tampouco havia conseguido formar aliados poderosos; pior ainda, no longo prazo, 0s grupos que incentivara com tas ‘medidas revelaram-sc historicamente mais desfavoriveis do que favoraveis 20s monar quistas, De fato, como peculiar paradoxo, a Restauracio teve que se apolar nos grupos ‘que 0s primeiros Bourbons combateram com afinc. Na outra margem do Atintco, na América espanhola, 2s refoemas tinham despee tado interese inicil, Havia a expectativa de que as elites criollasseriam. premiadas com a possibilidade de ascensio na nova estrutura burocritea, para qual se ulgavam ‘mais compctentes do que seus concosrentes peninsulares,olhados com pouca simpa- tia © chamadls pelo jocoso apetido de gachupines, mortiaz recurso dos oprimidos, Hava também a expectativa de que o comércio lucraria com a abertura dos ports, ‘mas o restabelecimento do monopélio gaditano a frustrou duplamente: de um lao, cerceou seu aproveitamento e, de outro, prejudicou nio apenas 0 comércio regular ¢ ilegal, mas também outras atividades como a agricultura eas manufatueas, que tinham florescido amparadas no emperramento do sistema, mas vinham sendo combatidas ‘As Reformas Bourbénicas (1750-1808) HisTORIA 0A AMéRICa (DA PRE-HISTORIA AO PERIODO COLONIAL __ para proteger as que existiam na Peninsula. Essa circunstincia obrigava as pessoas a pagar caro por produtos que produziam anteriormente ou tinham demonstrado ou acreditavam ter habilidades paca tal, Algumas revolias populares, como a de Tupac Amaru, no Peru, ou dos Comuneros, nna Nova Granada, sio usualmente credit I a essa resist ncia, mas devemos conside- rar que scus alvos nao eram apenas os monarcas Bourbons: a primeira continha tam- bém reivindicagées relacionadas de alguma forma quests ancestrais © a outra era cenclémica, restrita a0 aumento dos tributos, Finalmente, 0 ataque a certos privilégios da Igreja tinha desiludido os aspirantes ~locais a dignidacles eclesiisticas e também os elGrigos curopeus aos quais elas estavam reservadas, ja que, cles pretendiam assegurar o sustento das suas ex- lio vaticano, varias tensas parentelas. Quando mais de mil jesuftas partiam para seu © familias ou amigos viram- e separados para sempre, sem contar que as reminiscéncias do poder ¢ do papel intelectual que os padres exerciam mantiveramse por muito tempo num meio que experimentou um forte retrocesso nesse imbito. O afastamento da Ordem de Loiola deixou um vacuo que nao pode ser preenchido totalmente, Seus despojos materiais, duramente disputados, nao renderam os frutos esperados ¢ seus m vastos dominios desorganizaram-se velozmente. A participacio dos descontentes ¢ esse fat nos i icios do proceso de emancipagio tem sido sublinhada, Em sintese, 0 prego das Reformas na América espanhola foi a alienagéo da elite criolta, mani ta no fato de que, na vacdneia do trono, a rebelido tenha se alastrado, primeiro de forma mascarada ¢, depois, quando esse ardil jd nio se sustentava, aberta- mente. Na América, repetia-se 0 paradoxo observado na Peninsula: a Coroa enfrentara a rebeliio de setores que tinham sido beneficiados anteriormente. No processo de emancipacio, as unidades que tinham sido clevadas a vice-reinos foram as que toma- ram a dianteira. O Peru que, nessa disputa, tinha perdido Potosi para Buenos Aires, fot © que mais tardou a se tornar independente. Por ironia, ¢ a hist6ria esté repleta dela, 0s criolfos encontraram, cm duas institui- 6es alavancadas pelos Bourbons, as ferramentas para se opor 3 monarquia: os consu- lados ¢ as milicias. Dos Consulados, espa se varias das ideias que embasariam ¢ foram © movimento emancipatério, As milicias ofereceram as primeiras resisténci abase de exércitos regulares, fornecendo seus primeiros quadros, muitos deles exem- plares servidores das guardas reais. y [As Reformas Bourbinicas (1750-1008) David A. A Espanha dos Bourbons e seu império americano. In: BETHEL, Leslie (Ong.). América Latina colonial. 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