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Capitulo Il A educagao escolar publica e democratica no contexto atual: um desafio fundamental a A educacao escolar publica e democratica no contexto atual: um desafio fundamental EEE 1. Impactos e perspectivas da revolugao tecnolégica, da globalizagao e do neoliberalismo no campo da educa¢ao A televisao, 0 video, a parabélica e o computador ja comecam a fazer parte do cotidiano de muitas escolas particulares e piiblicas, assim como a educacao a dis- tancia, a internet, os CD-ROMs educativos/interati- vos ¢ outros recursos de multimidia. Essa equipacio eletrénico-educativa esta associada a certa ansiedade € corrida produzidas pela revolugio tecnolégica ¢ pelas demandas e finalidades diversas de politicas educacio- is em intenso processo de transformagoes técnico- vcjentificas, econdmicas, sociais, culturais e politicas pelas quais passam as sociedades contemporineas. ‘A equipacio eletronica da escola constitui, todavia, apenas a ponca do iceberg que a revolugéo tecnolégica representa para 0 campo educacional. £ preciso mer- gulhar e ir mais fando nas razdes, impactos e perspec- tivas dessa revolugao para a educagio e, especialmente, paraa escola, de modo que se possam avaliar as politi- cas educacionais que incluem a equipagio eletrénica ou a propagacao dos multimeios didaticos. 123 1+ PARTE — A EDUCAGAO ESCOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAGOES DA SOCIEDADE CONTEHPORI Ng, 124 Torna-se cada vez mais evidente o fato de que g revolugao tecnoldégica esté favorecendo o surgimenty de uma nova sociedade, marcada pela técnica, Pela informacio e pelo conhecimento, como vimogs ante. tiormente; dito de outro modo, de uma Sociedade técnico-informacional ou sociedade do conhecimentg, Esta se caracteriza ainda por novo paradigma de Pro ducao e desenvolvimento, que tem como elemento bisico a centralidade do conhecimento e da educacio, Essa centralidade ocorre porque educagao e conhe- cimento passam a ser, do ponto de vista do capitalis. mo globalizado, forca motriz e eixos da transformagio produtiva e do desenvolvimento econdmico. S40, por- tanto, bens econdmicos necessérios 4 transformacio da produc, a ampliagao do potencial cientifico-tecnolé- gico € ao aumento do lucro e do poder de competicéo em um mercado concotrencial que se pretende livre e globalizado. Tornam-se claras, assim, as conexdes edu- cagdo-conhecimento e desenvolvimento-desempenho econémico. A educagio constitui um problema econé- mico na visio neoliberal, j que € 0 elemento central desse novo padrio de desenvolvimento. No novo processo de produgio, em que esto pre- sentes as novas tecnologias e as novas ou mais flexiveis € eficientes formas de organizacio da producio, nao hé Praticamente lugar para o trabalhador desqualificado, com dificuldades de aprendizagem permanentes, ince- paz de assimilar novas tecnologias, tarefas e procedi- mentos de trabalho, sem autonomia e sem iniciativs especializado em um oficio e que nao sabe trabalhar Ly equipe — enfim, para o trabalhador que, embora saiba realizar determinada tarefa, no é capaz de verbalizat ° que sabe fazer. A desqualificagio passou a significa exclusio do novo processo produtivo. Por isso, hé AEDUCAGAO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATUAL lugar, no novo sistema produtivo, para o trabalhador cada vez mais polivalente, flexivel, versétil, qualifica- do intelectual e tecnologicamente e capaz de subme- ter-se a um continuo processo de aprendizagem. Verifica-se, entao, que 0 novo processo de trabalho requet flexibilidade funcional e novo perfil de qualifi- cagio da forca de trabalho. Ha, em consequéncia, cres- cente demanda por qualificag4o nova e mais elevada do trabalhador, assim como por educagio de maior nivel, mais flexivel, mais polivalente e promotora de novas habilidades cognitivas e competéncias sociais pessoais, além de bom dominio de linguagem oral e escrita, conhecimentos cientificos basicos e de iniciacio/alfabe- tizago nas linguagens da informatica (Paiva, 1993). Isso ocorre simultaneamente ao aumento da produtivi- dade, da eficiéncia e da qualidade de servicos ¢ produ- tos, com constante reducio dos postos de trabalho e do emprego da forca de trabalho humana, Parte do que foi exposto neste tépico pode ser exemplificado no esquema a seguir, que apresenta as miltiplas conexdes e determinagoes entre tecnologia, novo paradigma de produco e desenvolvimento, edu- cago de qualidade e elevacao da qualificacao. IM DESAFIO FUNDAMENTAL Esquema 3 - Conexdes e determinagées entre tecnologia, Rove paradigma de produsae e desenvolvimento, educasaio de qualidade e elevaséo da qualificacdo Tecnologia ™s Novo Paradigma de Producéo e desenvolvimento NL Elevada qualificagéo Educagao de qualidade DADE I+ Pare — A roucacKo EScOLAR NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAGOES DA SOCIEDADE CONTEMPORANEy 126 Na 6tica economicista e mercadolégica, presente ng atual reestruturagao produtiva do capitalismo, 0 desa. fio essencial da educag&o consiste na capacitagig gy mio de obra e na requalificacao dos trabalhadores, para satisfazer as exigéncias do sistema ptodutivo e formar © consumidor exigente e sofisticado para um mercado diversificado, sofisticado ¢ competitivo. Trata-se, por. tanto, de preparar trabalhadores/consumidores para os novos estilos de consumo e de vida moderna. O cidadig eficiente e competente, nessa dtica, € aquele capaz de consumir com eficiéncia e sofisticagéo e competir com seus talentos e habilidades no mercado de trabalho, Por isso, no campo da educagao, existe um projetode elevagio da qualidade de ensino nos sistemas educativos (e nas escolas), com o objetivo de garantir as condigées de promocio da competitividade, da eficiéncia e da produtividade demandadas e exigidas pelo mercado. Obviamente, trata-se de um critério mercadolégico de ensino expresso no conceito de qualidade total. No 4mbito dos sistemas de ensino e das escolas, Procura-se reproduzir a légica da competicao ¢ as regras do mercado, com a formagdo de um mercado edi- cacional. Busca-se a eficiéncia pedagégica por meio da instalago de uma pedagogia da concorréncia, da efi- ciéncia e dos resultados (da produtividade). Essa ped gogia tem sido levada a efeito, em geral, mediante: a) a adogéo de mecanismos de flexibilizagao e diversi- ficacdo dos sistemas de ensino e das escolas; bya atengio & eficiéncia, a qualidade, ao desempenbo € as necessidades basicas da aprendizagem; ©)@ avaliaggo constante dos resultados (do desem- Penho) obtidos pelos alunos, resultados esses que [A EDUCACKO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATUAL? UM DESAFIO FUNDAMENTAL OLAR PUBLICA E DEMOCRATIC NO CONTEXTO ATUAL: UM DESAFIO FUNDAMENTAL comprovam a atuacio eficaz e de qualidade do tra- balho desenvolvido na escola; d)o estabelecimento de rankings dos sistemas de ensi- noe das escolas ptiblicas ou privadas, que sao classi- ficadas/desclassificadas; e)acriaco de condigSes para que se possa aumentar a competi¢ao entre escolas e encorajar os pais a parti- cipar da vida escolar e escolher entre varias escolas; f) a énfase sobre a gestao e a organizacio escolar, com aadoco de programas gerenciais de qualidade total; g)a valorizacao de algumas disciplinas - Matematica e Ciéncias — por causa da competitividade tecnolégi- ca mundial, que tende a privilegié-las; h)o estabelecimento de formas inovadoras de treinamen- to de professores, tais como educagio a distancia; i) a descentralizacao administrativa ¢ do financiamen- to, bem como do repasse de recursos, em conformi- dade com a avaliagao do desempenho; ja valorizacao da iniciativa privada e do estabeleci- mento de parcerias com o empresariado; k)o repasse das funges do Estado para a comunidade e Para as empresas. . Quando se consideram as possiveis contradicdes desse projeco com a melhoria da qualidade de ensino e Com a qualificagao profissional, em decorréncia da "evolucdo tecnolégica e do novo paradigma produtivo, Pode-se concordar que as perspectivas para o campo educacional nao indicam a construgio de uma educagio democrética, equalizadora, formadora e distribuidora de Cidadani . Em vez de um projeto educacional para a clusao social ¢ para a producao da igualdade, adota-se 127 a |E— A EDUCAGAO ESCOLAR NO CON ™ {1x10 DAS TRANSFORMAGOES DA SOCIEDADE CONTEMPog, 1 PARTE — A EDUCAGAO ESCOLAR NO CONT Em relagio 3s pollticas_ implementadas no Brasil, especialmente nos governos Collor € Femando Henrique ‘Cardoso, Abicalil (1996, p. 22) afirma que configurou “2 politica da seletividade conuagadae da transformagao da escola ue intrumento submetido ds mesmas regras de mercado”, em ‘que prevaleceu “ compettividade ea produtividade, segundo ritros emproariai 128 uma légica da competicao em que a equidade, 4, melhor, a mobilidade social € pensada sob 0 enfogue estrito do desempenho individual (Costa, 1994), Parece inegavel que a revolucao tecnolégica ¢ demais mudancas globais promovam a crescente ints. lectualizago do trabalho, a generalizacdo de conhegj. mentos e habilidades e a demanda acentuada por educacio de qualidade ou mais te6rica. Isso, no entan. to, no implica que o projeto educacional deva ser por forca competitivo e seletivo socialmente, até porque ele tem servido basicamente a criagdo de um mercado edu. cacional, 8 ampliagio da esfera privada no campo da educagio e reproducao ou autovalorizacao do capital. A universalizacio do ensino e a melhoria de sua qualidade, a elevacao da escolaridade, a preparacio tec nolégica e a formagao geral, abstrata, abrangente ¢ polivalente dos trabalhadores sao fundamentais patt toda a sociedade, especialmente quando se tem em vista, no minimo, a garantia da igualdade de oport- nidades. Nesse sentido, os impactos da revolucio te nolégica no campo da educacio podem e devem sé absorvidos, de modo que gerem perspectivas dem craticas de construgdo de uma sociedade modern justa e soliddria, o que, evidentemente, nao deve sig: nificar a aniquilagdo da diversidade e das singularid® des dos sujeitos. Em uma sociedade de conhecimen® ede aprendizagem, é preciso dotar os sujeitos socials de competéncias e habilidades para a parcicipagio™ vida social, econdmica e cultural, a fim de 040 nse” jar novas formas de divisio social, mas, sim, # © trugai i 0 uso de uma sociedade democratic na forma" contetido. A EDUCACAO ESCOLAR PUI NO CONTEXTO ATUAL: UM DESAFIO FUNDAMENTAL 2, Objetivos para uma educacao publica de qualidade diante dos desafios da sociedade contemporanea Diante dos desafios da sociedade contemporanea e, especialmente, do ensino no Brasil, que objetivos edu- cacionais devem ser estabelecidos para uma educacio publica de qualidade? Que diretrizes e pressupostos fundamentais devem guiar a pratica educativa, a fim de construir uma sociedade democrética e igualitaria? Que cidadio se quer formar? Que preparacio os alunos precisam ter para a vida produtiva em uma sociedade técnico-informacional? Nao é tarefa facil responder a essas questées, sobretudo porque, como vimos, 0 qua- dro econémico, politico, social e educacional é bas- tante complexo e contraditério. As ideias a seguir sugerem pontos para a discussio de alguns elementos norteadores do trabalho docente. As transformagées gerais da sociedade atual apon- tam a inevitabilidade de compreender 0 pais no con- texto da globalizacao, da revolucao tecnolégica e da ideologia de livre mercado (neoliberalismo). A globa- lizagio € uma tendéncia internacional do capitalismo que, com o projeto neoliberal, impde aos paises peri- féticos a economia de mercado global sem restrigées, a Competicao ilimitada e a minimizacio do Estado na area econdmica e social. O resultado mais perverso desse empreendimento tem sido o aumento do desem- Prego e da exclusio social em diferentes regiGes e pai- S€s. Todavia, tendéncia nfo é destino nem obstdculo intransponivel, A insergdo do Brasil nesse quadro eco- "8mico precisa dar-se sem comprometimento da sobe- Tania. O Progresso, a riqueza € OS beneficios advindos 129 > 1 PaRte __10 ‘A EDUCAGAO ESCOLAR NO CONTEN 10 DAS TRANSFORMAGOES DA SOCIEDADE CON agdes no podem ser usufruidos ane dessas transform: arcela da sociedade. Com efeito a nas por pequena P lado dos avangos cientificos e tecnolégicos — com aumento dos bens de consumo, do bem-estar, da dif, sio cultural —, hd a fome, 0 desemprego, a doenga, , falta de moradia, o analfabetismo das letras e das te. nologias. Nao se pode, por isso, Negar O Progresso té&_ nico, o avango do conhecimento, OS Novos processos educativos e de qualificagao ou simplesmente perma. necer no plano da resisténcia ou achar que as deman- das feitas aos sistemas educativos € a escola seria parte de uma conjuragao dos neoconservadores. Trata- -se, antes, de disputar concretamente 0 controle do progresso técnico, do avango do conhecimento e da qualificagio, arrancé-lo da esfera privada e da l6gicads exclusio e submeté-lo ao controle democrdtico da esfe- ra ptiblica, para potencializar a satisfacao das necess- dades humanas (Frigotto, 1995). As opcdes do pais devem basear-se em varias tancias da sociedade civil e do Estado. O controle do Estado pela sociedade civil organizada torna-se fund mental para o estabelecimento de um projeto nacional de desenvolvimento econémico e social autonome ¢ solidério. E preciso definir claramente o papel do Es do e recuperar seu poder de agiio em areas que interes” sem a toda a sociedade, de modo que niio permant A mercé dos organismos financeiros internacions * das entidades supranacionais, _ Diante da globalizagio econémica, da trat so dos meios de produgio e do avango acelerad? eto hcg se a ee a sociedade, forman' Para o desenvolvimento © ins- sform® ‘A EDUCACKO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATU geragio de riqueza que sejam capazes, também, de par- ticipar criticamente desse processo. Em relagio as tare- fas dos sistemas de ensino, mais uma vez hé que reconhecer a urgéncia da elevacao dos niveis cientifi- co, cultural e técnico da populacao, mediante a uni- versalizacao efetiva da escolarizacao bésica ea melhoria da qualidade de ensino. Conclui-se dessas consideragdes que os eixos nor- teadores das ages nao significam a supervalorizacao da competitividade, do individualismo, da liberdade excessiva, da qualidade econémica e da eficiéncia para poucos com a exclusdo da maioria, mas o incremento da solidariedade social, da igualdade, da democracia € daqualidade social. Apresenta-se, assim, a enorme tare- fade integrar e desenvolver o Brasil em uma economia global competitiva, sem perder a soberania, sem sacrifi- car sua cultura, seus valores, sem marginalizar os pobres. Ou seja, o grande desafio é incluir, nos padrdes de vida digna, os milhées de individuos exclufdos e sem condi- Ges basicas para se constituirem cidadaos participantes de uma sociedade em permanente mutacao. No ambito da educagio escolar, 0 ensino ptiblico de qualidade para todos é necessidade e desafio funda- mental. Hé, atualmente, claro reconhecimento mundial € social de sua importancia para 0 mundo do trabalho, Para o desempenho da economia € para 0 desenvolvi- mento técnico-cientifico. Tal reconhecimento tem sido transformado em reformas e em politicas educacionais €M varios paises. O Brasil cem experimentado, desde © inicio da década de 1990, amplo processo de ajuste do sistema educativo. Todavia, esse reconhecimento ¢ se empreendimento, especialmente no governo de Fernando Henrique Cardoso (1 995-2002), deram-se IM DESAFIO FUNDAMENTAL 131 __ 2 "A eDUCAGKO ESCOLAR NO CONTEXTO agus weansronNncOES DA SOCEDADE CONTECH, com uma légica economicista, CUjO projet, jvo adequat a educagio escola, ncias do mercado. Nesse sen, pectiva de mercadoria gy de acordo educativo teve como objeti as novas demandas ¢ €xig<" tido, a educagao assumiu a pers} nee ; i a jireito servico que se compra, € nao de um direito universal, . que a leva a tornat-se competitiva, fragmentada, dual. zada e seletiva social € culturalmente. Em todas as reformas educativas, @ partir da década de 1980, a questdo da qualidade aparece como tema central. Na realidade, a educacéo busca novo patadig- ma, que estabelece 0 problema da qualidade, uma pedagogia da qualidade. Mas esta nao pode ser trata- da nos parametros da qualidade economicista. A esco- Ja nao é empresa. O aluno nao é cliente da escola, mas parte dela. £ sujeito que aprende, que constréi sev saber, que direciona seu projeto de vida (Silva, 1995). ‘Além disso, a escola implica formagao voltada para a cidadania, para a formagio de valores — valorizagio dt vida humana em todas as dimensdes. Isso significa qué a instituicio escolar nio produz mercadorias, nao pode pautar-se pelo “zero defeito”, ou seja, pela pet feigo. Ela lida com pessoas, valores, tradicées, crenG opgdes. Nao se pode pensar em “falha zero”, objetivo qualidade tral nas empresas. Escola nfo € fabrics, ™ formacio humana. Ela no pode ignorar 0 contexto poll Devemos infetis, porters ve cee us" lidade é aquela mesporeanto, que a educagao de “4 Para todos, o dominio he a qual a escola pro volvimento de capacidad = een e metas é ° s dis: Pensdveis ao atendiment, . cognitivas e afecivas m f ‘0 de necessidades individo™ [A EDUCACAO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATUAL: UM DESAFIO FUNDAMENTAL esociais dos alunos, bem como a insergao no mundo e a constituicio da cidadania também como poder de participacao, tendo em vista a construg3o de uma sociedade mais justa e igualitéria. Qualidade é, pois, conceito implfcito 4 educacio e ao ensino. A educagao deve ser entendida como fator de reali- zacao da cidadania, com padrées de qualidade da oferta e do produto, na luta contra a superagdo das desigualdades sociais e da exclusio social. Nesse sen- tido, a articulagao da escola com 0 mundo do trabalho torna-se a possibilidade de realizagio da cidadania, pela incorporacao de conhecimentos, de habilidades técnicas, de novas formas de solidariedade social, de vinculagao entre trabalho pedagégico € lutas sociais pela democratizagao do Estado. No contexto da sociedade contemporanea, a educa- Go publica tem eriplice responsabilidade: ser agente de mudangas, capaz de gerar conhecimentos e desen- volver a ciéncia e a tecnologia; trabalhar a tradigao e os valores nacionais ante a pressdo mundial de descarac- terizago da soberania das nagées periféricas; preparar cidadaos capazes de entender 0 mundo, seu pais, sua tealidade e de transformé-los positivamente. Essas responsabilidades indicam, complementar- mente, trés objetivos fundamentais que devem servir de base para a construcao de uma educagao publica de qualidade no contexto atual: prepatacao para o proces- $0 produtivo e para a vida em uma sociedade técnico- -informacional, formaco para a cidadania critica e Patticipativa e formacao ética. A preparagdo para 0 process produtivo e para a vida em ma sociedade téenico-informacional envolve a necessidade 133 1+ Parre — A EDUCAGAO ESCOLAR NO _134 RMAGOES DA SOCIEDADE CONTENPo, CONTEXTO AS TRANSFO! mundo do trabalho e pay preparar para © alho, tendo em vista g rnativas de crab que caracteriza 0 Processo Produtiyg 10 e a adaptagao dos trabalhadotes 3, es de exercicio de sua profissio, Is Zo escolar devera centrar-se: dea escola formas alte! flexibilizagéo contemporane' complexas condi¢6' implica que 4 educa « na formacao geral, cultural e cientifica que per. aa diversidade/integraga0 de conhecimentos s da ciéncia contemporanea e de habilidades que fundamentam 0s NOVOS Processes so- miti basico: técnicas ciais e cognitivos; © na preparacgao tecnolégica € NO desenvolvimento de saberes, habilidades e atitudes bdsicas que catac- terizam o processo de escolarizagao, incluindo as qualificagdes do novo processo produtivo, como compreensio da totalidade do processo de produgio e capacidade de tomar decisdes, fazer anilises glo- balizantes, interpretar informagdes de toda nature pensar estrategicamente € desenvolver flexibilidade intelectual; © no desenvolvimento de capacidades cognitivas € operativas encaminhadas para um pensament? auténomo, critico e criativo. Tal desenvolvimen® est4 intimamente relacionado a autossocioconst” a0 do conhecimento, com a ajuda pedagégice 10 professor. A formagao para a cidadania critica ¢ participativa & respeito a cidadaos-trabalhadores capazes de i ocerferi® socnae rane; na realidade para cransformé-la, ¢ a ecnccimntore © mercado de trabalho. A investindo para que se torne™m cris? - A EDUCAGAO ESCOLAR, NO CONTEXTO ATUAL: IM DESAFIO FUNDAMENTAL ese engajem na luta pela justiga social. Deve ainda entender que cabe aos alunos empenhar-se, como cida- dios criticos, na mudanga da realidade em que vivem e no processo de desenvolvimento nacional e que é fungio da escola capacité-los para desempenharem esse papel. Cidadania hoje significa, usando expressio do educador italiano Mario Manacorda (1989), dirigir ou controlar aqueles que dirigem, e, para que isso ocorra, 0 aluno precisa ter as condigGes bdsicas para situar-se competente e criticamente no sistema produtivo. Nesse sentido, a preparacio para a vida social é exi- géncia fundamental, especialmente porque um dos pontos fortes da chamada sociedade pés-moderna é a emergéncia de movimentos localizados, baseados em interesses comunitdrios mais restritos, no bairro, na regio, nos pequenos grupos, organizados em associa- Ges civis, entidades nao governamentais etc. A prepa- rago para a vida social é exigéncia educativa para viabilizar 0 controle nao estatal sobre o Estado, median- teo fortalecimento da esfera publica nao estatal. Cons- tata-se que muitos movimentos sociais atuais tendem a dispensar a intermediagao politico-partidaria para a con- quista de seus objetivos, seja por inoperancia deste canal, Seja pela hostilidade com que setores da opiniéio publica encaram os politicos profissionais. E preciso aliar a atua- $0 dos movimentos localizados nao governamentais Com as formas convencionais de representacio politica. Dai a necessidade de a escola preocupar-se com 0 desenvolvimento de competéncias sociais como rela- $6es grupais e intergrupais, processos democraticos © eficazes de tomada de decis6es, capacidades socio- Comunicativas, de iniciativa, lideranga, responsabi- lidade, solugdo de problemas etc. 135 a 136 EDUCAGAO ESCOLAR N ronmAGOES DA SOCIEDADE Cor 10 CONTEXTO DAS TRANS A formagao ttita é um dos pontos forees da esca, do futuro. Trata-se Valores do erent do mundo da politica € da economig a onsumist0, do individualismo, do sexo, da tog, da depredacéo ambiental, da violéncia e, também, day formas de exploragéo que se mantém No capitalism, contemporaneo. Segundo Haberm: as (1987), . Possivl reabilitar a sociedade no 4mbito da esfera Ptiblica, de modo que as pessoas possam participar ce decisdes nio por imposigao, mas por uma disposigao de dial. gar e buscar consenso com base na racionalidade das aces expressa em normas jucidicas compartilhadas. A emancipagio objetiva de todas as formas de dominagi torna-se possfvel se os individuos desenvolverem capaci- dades de aprendizagem alicercadas em uma pratica comunicativa. A escola pode auxiliar no desenvolvimen- to de competéncias comunicativas que possibilitario didlogo e consenso baseados na raziio critica. Para que os individuos possam compartilhar de uma situagio comunicativa ideal, recomenda-se: * investimento na capacidade do individuo de situa -se em relago aos outros, de estabelecer relagoe entre objetos, pessoas e ideias; desenvolvimento da autonomia, isto é, individues capazes de reconhecer nas regras e normas socials ° resultado do acordo mituo, do respeito ao outro da reciprocidade; , meen fer es vontades de forma saber suas ed oo BNitiva e verbal, incluim Perspectiva do F Outro (ni i Ges, incengdes etc.) vel de informa¢© * capacidade de dialogar al [A EDUCAGAO ESCOLAR PUBLICA E DEMOCRATICA NO CONTEXTO ATUAL: UM DESAFIO FUNDAMENTAL Bibliografia ABICALIL, Carlos Augusto. 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