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A HISTORIA AMBIENTAL: temas, fontes e linhas de pesquisa 1 - Introdugao: dos objetivos Prevx neste artigo dar uma noticia sobre a histéria ambiental, disciplina académica praticada em alguns paises de lingua inglesa. Abordarei aspectos gerais da disciplina, para nds ainda “estrangeira”, e refletirei sobre a sua rclevancia como campo de trabalho para historiadores bra- sileiros. Inclusive apontarei escritores bra- sileiros do passado e do presente que ex- ploraram caminhos similares. Nao farei uma revisao completa da produgio da dis- ciplina — bastante ampla, como se verd -, remetendo 0 leilor para alguns textos de revisdo historiografica. O surgimento da histéria ambiental, os seus niveis mais gerais de andlise e as suas “tarefas” basicas sao discutidos no altigo de Donald Worster (importante historiador ambiental dos EUA), incluido nesta mes- José Augusto Drummond ma publicagéo. Eu me concentrarei em t6picos no mencionados ou nao desenvol- vidos por ele. Se os leitores que desconhe- cem a histéria ambiental se julgarem bem inforados com meu texto e se cogitarem delerou reler alguma obra citada, terei tido sucesso. Mas a minha ambigao maior é convencer alguns historiadores e outros cientistas sociais a incorporar varidveis ambieniais aos seus estudos sobre a socie- dade humana. Assim atrairei interlocutores para as minhas recentes incursdes nesse campo. 2- Tempo, historia social e historia natural A maneira mais provocativa de colocar © significado da histéria ambiental € con- ‘Alpumas idéins hscvtides neste artigo foram exbogadas na introdugso ao meu Devasracéo ¢ preservacao ambiental 05 parques nacionais fluminenses (no prec), ume histéria ambiental do estado do Rio de Jancro e dos seus parques nsciooais. Estudos Histbricos, Riode Janeiro, vol. 4 a. 8 1991, p. 177-197 178 siderar 0 fator tempo. O tempo no qual se movem as sociedades humanas € uma constiucdo cultural consciente. Cada so- ciedade cria ou adota formas de contagem € divisdo do tempo em torno das quais se organizam as diversas alividades sociais. Pode parecer que cometo banalidades nes- sas duas frases. Mas talvez nao seja 140 banal, por exemplo, considerar que as ciéncias sociais modemas ¢ contempora- neas, pelo fato elementar de seremtambém atividades sociais, adotaram as modalida- des socialmente consagradas (no Ociden- te) de contagem e divisao do tempo (ver Campbell, 1970, para uma discussio da importancia das formas de contagem do tempo em diferentes sociedades). Como tantas outras construgées cultu- rais estveis — que perduram no proprio tempo ... — a nogao do tempo se incorpora ao inconsciente social, inclusive ao incons- ciente das disciplinas cientificas. Vira um ~ pressuposto. Para o historiador, em espe- cial, o tempo é um crucial fio condutor das mudangas ¢ continuidades que lhe propi- ciam os seus objetos de estudo, quando nao Os seus conceitos. Lidar com o tempo, por isso, € um instrumento basico de seu oficio. Nao parece haver arbitrio no fato de medimos a passagem do tempo histérico em unidades que variam de dias e semanas ‘ameses, anos, decénios, séculos e milénios. Por vezes adotamos fatos sociais miltiplos ou divisores de alguma dessas unidades: N geracdes humanas, a dinastia X, Y manda- tos presidenciais, Z décadas. Historiadores ecientistas sociais desprezam os segundos, ‘os minutos € as horas, unidades menores da mesma escala, embora outras ciéncias as usem. Alias, na nossa cultura as unidades “extremas” dessa escala - segundos e mi- lénios — tém sido bem estiveis. E verdade que as fragdes de segundo se tomaram mensurdveis e at€ titeis, para alguns fins, hd poucas décadas. Nooutroextremo, o prépriodocumento fundador de nossa civilizacao, 0 Livro do ESTUDOS IUSTORICOS ~ 1991/8 Génesis, do Velho Testamento, ainda exige que os figis acreditem que o mundo [c criado ha seis milénios. Esse prazo, que por muito tempo pareceu a quase todos gigan- tesco e indiscutivel, permanece até hoje sem revisdes oficiais. E bem verdade que alguns intérpretes atuais admitem que os ‘nios do Velho Testamento sao meras figuras literérias. Mas até 150 anos atrds os intéipretes do Velho Testamento nao admitiam essa libe- ralidade. O mundo tinha seis mil € poucos anos de idade, e nada havia a discutir. Foi entéo que um pequeno grupo de cicntistas contestou esse prazo. Foi a ciéncia narural —e nao a social —do século XIX, a “histéria natural”, que esludava conjuntamente a geologia ea vida animale vegetal, a primei- ra atividade social modema a literalmente exigir outras unidades de medida de tempo ¢, principalmente, muito mais tempo. Ahistéria narural precisava de mais tem- po para dar conta de processos que sequer muitas dizias de milénios eram capazes de descrever adequadamente. Requeria unida- des de tempo € prazos estranhos 4 moderna cultura ocidental, mais afins, talvez, aos intetvalos imprecisos das narrativas miti- cas. Chasles Lyell, Alfred Russel Wallace e Charles Darwin (entre varios outros), estu- dando as paisagens e as formas antigas ¢ atuais de vida, inferiram processos (forma- do das rochas, génese das montanhas, ero- sao, elevaco dos niveis dos mares, eras glaciais, formacdo e extingao de espécies, etc.) que tomavam insuficiente o teto de seis mil anos, prescrito pelas zelosas auto- ridades religiosas e acatado pelas legioes de fiéis. Eles propuseram um tempo que extra- polava a cultura européia e a experiéncia humana como um todo, Esse tempo fazia da cultura humana uma pequena frase 20 fim de uma nota de rodapé na tiltima pagina do longo compéndio da vida do planeta. Pelo [ato de repensar a histéria da terra e dos seres vivos numa escala de centenas de milhées de milénios, um punhado de AHISTORIA AMBIENTAL Cientistas naturais doséculo XIX provocou um cataclisma no sistema “ocidental” de contagem do tempo (ver Barber, 1980, pa- Ta umainstigante histéria social desse cata- clisma cultural). Esse foi um fato central na vida intelectual européia do século XIX € os seus choques perduram. Entre profis- sdes de fé materialistas e antimaterialistas, escindalos, excomunhées e polémicas ca- nhestras sobre a ancestralidade simia dos humanos, a histéria natural do século XIX e as suas diversas herdeiras desafiaram o tempo do Velho Testamento e da cultura européia e ocidental (Gould, 1977; 1982; € 1983 discute o debate cientifico em tomo do darwinismo). Mas essas ciéncias escavaram um nicho onde prosperaram. Usaram_ as suas novas réguas cronolégicas € os conceitos que sé funcionam com elas. Avangaram, mesmo sem a adesao geral da sociedade as suas gigantescas dimensées de tempo. Esse tem- po é chamado agora de “tempo geolégico” e € ignorado no cotidiano da maioria das pessoas. No entanto, hoje qualquer inician- te de geologia sabe, na ponta da lingua, que “eons” é uma medida que indica dezenas de milhées de anos e que a idade da Terra € calculada em cerca de 4,5 bilhGes de anos (Lovelock, 1991, éum exemploacessivel a leigos de como 0 tempo geol6gico se tomiou usual entre cientistas naturais). O tempo geolégico tem evidentes implicagées para pensar sobre a aventura humana no planeta, mesmo que seja apenas para tomé-la cro- nologicamente insignificante. Assim, 0 tempo das culturas humanas estd contido num tempo geoldégico ou natu- ral muito mais amplo e que a meu ver néo pode ser ignorado pelas ciéncias sociais. Por isso € que a questo do tempo nao é banal para iniciar um artigo sobre a histéria ambiental. Afinal, as ciéncias sociais fica- ram @ margem dessas novas dimensées do tempo geoldgico. As modemas ciéncias so- ciais européias, que nasciam nessa mesma época (meados do século XIX), ficaram 179 com © stams quo cronolégico. Mesmo quando leigos ou até materialistas, mesmo quando simpatizantes do recém- proposto “tempo geolégico”, os cientistas sociais na sua pritica ficaram dentro do tempo social- mente consagrado (0 do Velho Testamen- to), que sobrevivera ao ataque do “tempo geolégico” na maior parte das atividades sociais. As ciéncias sociais nao colidiram de frente com 0 ainda autoritério teto de seis mil anos, porque nao precisavam —ou pen- savam nao precisar — ir além de alguns poucos milénios para interpretar os fatos sociais, ou a agao social, ou 0 processo histérico. Esses poucos milénios da histé- ria humana registrada em documentos pa- reciam mais do que suficientes. Por serem criadores de simbolos e culturas, os huma- nos foram subtraidos — as vezes explicita- mente — do tempo geolégico e dos proces- sos naturais a ele associados. Talvez a rejeigao as implicagdes colo- nialistas e ou belicistas do “darwinismo social” de Herbert Spencer e aos determi- nismos geogrdficos e raciais do século XIX tenha sido a causa mais importante para isso. As nascentes ciéncias soci todas as vertentes hoje consagradas, com- bateram esses reducionismos e rejeitaram as explicagées da cultura através da biolo- gia ou qualquer ciéncia natural. Resistiram aos conceitos e modelos da “histéria natu- ral” e das suas herdeiras, inclusive a cién- cia da ecologia. As sociedades humanas, principalmente as modemas, foram con- ceituadas e investigadas sob 0 pressuposto de obedecerem apenas aos ponteiros do tempo cultural de alguns poucos milénios. Para os cléssicos das ciéncias sociais, as sociedades humanas estavam, portanto, fo- ra ou acima da “histéria natural”, ou do “tempo geolégico” adotado a duras penas no estudo dos fatores vivos e mortos da natureza. Se a opgio foi consciente ou in- consciente, pouco importa. Importa é que foi duradoura. Dois socidlogos norte-ame- 180 ricanos, W. Catton e R. Dunlap (1980), indagando jé na década de 1980 0 motivo de as ciéncias sociais ndo terem integrado a vanguarda do “despertarecolégico” mun- dial da década anterior, concluiam que, des- de a sua origem, elas adotaram um “para- digma da imunidade humana” (human exemptionalism paradigm) aos fatores da natureza. Nele, cada sociedade e a cultura humana em geral sao intelegiveis apenas em si mesmas. Nos termos de Durkheim, fatos sociais sé podem ser explicados por outros fatos sociais. Por isso, segundo Catton e Dunlap, por mais de um século os socidlogos —e outros cientistas sociais, acrescento — evilaram cuidadosamente sugerir que a cultura fosse de alguma forma limitada ou condicionada por fatores naturais. A partir da Primeira Guerra Mundial, tomou-se anatema entre cientistas sociais sugerir que os humanos ¢ as suas sociedades tivessem “bases nalu- rais” — raga, anatomia, cor, clima, vinculos com a terra —pertinentes 4 sua atvilise cien- tifica. O agressivo racismo-territorialismo nazista, nas décadas de 1930e 1940, tomou ainda menos provavel a consideracao de varidveis fisico-ambientais por cientistas sociais. Enfim, o tempo da “historia natural” e os proprios fatos naturais ndo se mistura- ram como tempo da “histéria social” e com 0s fatos sociais, para quase todos os cien- tistas sociais, cléssicos, divulgadores e an6- nimos. Aexcecao sio algumas correntes da antropologia. O legado das ciéncias sociais em seu conjunto é, por isso, ampla e inevi tavelmente “humanista”, no sentido de pri- vilegiar a sociedade e a‘cultura humanas como objetos suficientes e como campo “méximo” para investigac6es legitimas. Circunstancias extra-cientificas. ainda bem recentes, mencionadas no artigo de Worster — principalmente movimentos so- Ciais ambientalistas e certas crises ainbien- tais localizadas — desatiaram as ciéncias sociais deste fim de século XX a ir além ESTUDOS HISTORICOS - 19918 deste marco “humanista”. Nao era mais possivel pensar na sociedade humana sem ancoragem no mundo natural. Curiosa- mente, foram cientistas naturais que de no- vo lideraram, nos movimentos ambientalis- tas ou nas instituigdes de pesquisa, um en- tendimento “ecolégico” da sociedade e da cultura humanas. Entre outros, lembro os nomes de Paul Ehrlich (bidlogo), Garrett Hardin (bidlogo), Rachel Carson (bidloga), E. F. Schumacher (engenheiro), Amothy Lovins (fisico), aluantes nos EUA e na Inglaterra desde fins da década de 1950.No Brasil, tivemos José Lutzemberger, enge- nheiro quimico, ambientalista militante na década de 1970. As disciplinas sociais foram desafiadas, por cientistas naturais e movimentos so- ciais, a superar 0 seu paradigma e a incor- porar varidveis naturais ao seu repertorio. legitimo de pesquisa. Os antropélogos en- frentaram o desafio mais cedo e acumula- ram um legado tedrico-empirico relativa- mente amplo (ver, por exemplo, Moran, 1990 e Meggers, 1971). Socidlogos e eco- nomistas iniciaram a sua “refonna”, com resultados por vezes instigantes mas com impactos limitados dentro das suas respec- tivas disciplinas (algumas obras importan- tes de sociologia ambiental nonte-america- na sio Schnaiberg, 1980; Catton, 1980; Humphrey er Bultel, 1982; no campo da economia ambiental dois autores impor- lantes sio Daly, 1977 e Boulding, 1978). A historia ambiental, conforme pratica- da hoje em dia em alguns paises como os EUA, Franca e Inglaterra, resulta de um projeto “refonnista” de alguns historiado- res. E uma reagio a essa pressio de ajustar 08 ponteiros dos reldgios dos dois tempos, © geolégico (ou natural) € 0 social. Como diz Richard Cronon, ela trata de “colocara sociedade na natureza” (lermo empregado em Worster ct al., 1990). Nao é tarefa pe- quena, ¢ os obsticulos sio muitos. Mas creio que os historiadores avangaram nesse caminho mais do que sucidlogos e econo- AUISTORIA AMBIENTAL mistas. De toda forma, os herdeiros ortodo- xos das tradigdes humanistas das ciénci sociais Continuarao, por bom tempo, a te- mer que o estudo das bases naturais sociedade conduza aos determinismos me- ritoriamente rejeitados no século XIX. Precisa ficar claro que pensar sobre a relagao entre o “tempo geolégico” e o“tem- po social”, combinar a histéria natural com a historia social, colocar a sociedade na natureza, enfim — implica necessariamente atribuir aos componemes naturais “ objeti- vos" a capacidade de condicionar signifi- cativameme a sociedade nas. Nao hd meias palavras quanto a isso. Nao se trata de fazer apenas metdforas am- bientais, ecoldgicas ou naturais, como as. que predominaram, por exemplo, na famo- sa escola de “ecologia humana” desenvol- vida na Universidade de Chicago a panir dos anos 1920 (ver, por exemplo, 0 clissico texto de Park, 1936). Trata-se de uma mu- danga séria de paradigma nas ciénci Ciais. Significa que o ciew “forgas da natureza” um estatuto de agente condicionador ou modific: Vale lembrar que, a esta aliura do debate cientifico, nem a histéria ambiental nem as outras disciplinas sociais que vém incorpo- rando elementos do mundo natural & sua lista de variiveis analiticas prop6em um determinismo natural unilateral. A cultura humana age sobre o meio fisico-material, propicianuo significado ¢ usos complexos dos seus elementos. Evito, por isso, entrar pela bolorenta discussdo sobre o detenni- nismo. . 3 -Conceitos, temas, fontes, métodos e estilos de trabalho da toria ambiental de lingua inglesa A historia ambiental qua analisarei nesta segdo nasceu da pesquisa c da escrita de um 181 grupo relativamente pequeno, mas alia- mene produtivo, de historiadores ¢ bidlo- gos norte-americanos, vindos de diferentes temas ¢ especialidades. Ele vem construin- do, hi 15 anos, 0 que eu considero uma nova modalidade de estudo, ligando expli- cilamente a histéria natural 4 hist6ria social € examinando as interagées entre ambas. O grupo tem uma associagio profissional — American Society for Environmental His- tory - ¢ um periddico trimestral criado em 1976, Environmental Review, sobre 0 qual farei comentérios mais frente. Inicialmente tragarei algumas caracte- risticas metodolégicas e analiticas da his- Gria ambiental. A primeira delas € que quase tds as andlises focalizam wma re- gido com alguma hemogeneidade ou in- dentidade natural: um territério drido, 0 vale de um rio, uma itha, um trecho de terms Norestadas, um litoril, a area de ocorréncia natural de uma drvore de alto valor comercial ¢ assim por dinute. Isso revela um parentesco com a histéria natu- ral, que via de regra prospera melhor em cendrios fisicamenle circunscritos. Por vezes se da um recone cultural ou politico a regio estudada, mas sem esque- ceras suas particularidades fisicas ¢ ecolé- gicas: um parque nacional, a drea de in- Auéncia de uma obra (ferrovia, projetos de irriyagao, represas cic.), as terras de povos nativos invadidas por migrantes curopeus etc. Com es a hist6ria ambiental revela ligagao também com a histéria regional, pois focaliza pro- cessos sociais (e naturais) geograficamen- te circunscritos, embora tipicamente os li- mites dessas dreas sejam naturais, ¢ nio sociais ou politicos. Uma segunda caracteristica ¢ 0 didlogo sistemdtico com quase todas as ciéncias naturais — inclusive as aplicadas — per- tinentes ao entendimento dos quadros fisi- cos e ecolégicos das regides esindadas. Nesse 182 tradigao humanista das ciéncias sociais, inclusive da histéria regional. Usam textos basicos e avangados de geologia (inclusive solos e hidrologia), geomorfologia, clima- tologia, meteorologia, biologia vegetal e animal e ecologia (a ciéncia da interagéo entre os seres Vivos e entre eles e os ele- mentos inertes do ambiente). Aagronomia eas engenharias florestal e de minas séo trés outros campos muitas vezes citados nos estudos de histéria ambiental. Os estu- dos de biologia humana e de doencas de plantas, animais e humanos também com- parecem. Usam-se tanto os seus achados de campo quanto os de laboratério e, por vezes, 0S seus métodos e conceitos. Os historiadores ambientais nao “visi tam” protocolarmente as ciéncias naturais: dependem profundamente delas e muitas vezes trabalham em associacao direta com cientistas naturais. Precisam entender o funcionamento dos ecossistemas para ava- liar com correcao o papel das sociedades humanas dentro delas, os limites da ago humana e a potencialidade de superacao cultural desses limites. Freqiientemente é preciso estudar até conceitos e achados “superados” ou “equivocados” dessas ciéncias, no caso (muito freqiiente) de elas terem tido alguma influéncia identificdvel no modo como a sociedade estudada inter- veio no seu ambiente. Ou seja, as ciéncias naturais, além de “aliadas”, podem ser também parte do préprio objeto de estudo, como manifestagdes culturais que ajudam a entender os padrées de uso dos recursos naturais. Um terceiro traco da histéria ambiental € explorar as interacdes entre o quadro de recursos naturais titeis e initeis e os dife- rentes estilos civilizatorios das sociedades humanas. As ciéncias naturais contribuem na identificagao do conjunto de recursos naturais disponiveis no territério de uma sociedade. No entanto, as préprias ciéncias sociais fazem o principal: na histdria das civilizages, em alguns ramos da antropo- ESTUDOS HISTORICOS ~ 1998 logia cultural e na geografia humana os historiadores ambientais encontram con- ceitos e enfoques titeis para estudaro papel da cultura nos usos dos recursos. Afinal, os recursos s6 se tornam recursos quando cul- turalmente identificados e avaliados. Nao existem recursos naturais per se. Os recur- sos nao se impdem unilateralmente cul- tura, embora possam vetar alguns cami- nhos e estimular outros. Vejamos alguns exemplos. As pasta- gens naturais, um recurso natural, so pou- co importantes para um povo sem animais domésticos herbivoros (que, alias, so in- tegrantes do mundo natural modificados pela cultura) que mora nelas. Para outro povo distante que domesticou ou adotou cavalos e bois, no entanto, as pastagens naturais s40 recursos cruciais. Pastagens “nao-utilizadas” em muitos casos levaram povos pastorialistas a invadir as terras de povos sem animais domésticos, condicio- nando fortemente as relacdes entre povos eculturas, Um minério util, em outro exemplo, pode ser abundante no territério de uma sociedade e, ainda assim, ser ignorado, pelo fato de ela nao dominar a tecnologia do seu processamento. Apesardaabundan- cia de minério de ferro em varios pontos do territério do Brasil, os povos indigenas que os percorriam nao Ihe davam impor- tancia. Mas os instrumentos metdlicos in- troduzidos pelos europeus - como facas machados — foram altamente valorizados pelos mesmos indigenas. O desejo do in- digena de possuir objetos metélicos até entao desconhecidos e a capacidade euro- péia de supri-los afetaram as relagdes entre nativos € colonizadores. O dominio do fogo, num ultimo exem- plo, amplia drasticamente o controle que uma sociedade tem sobre o seu territério, condicionando o uso de recursos. Um povo que controla 0 fogo ganha acesso a novos alimentos e a novas técnicas de preserva- los, tem novas possibilidades de caca, de AHISTORIA AMBIENTAL, agricultura e pecudria, de artesanato e até de guerra. Mas nem todos os inumeriveis povos que dominaram o fogo usaram o carvao mineral como combustivel, edestes nem todos fizeram uma “idade metélica” (ferro, bronze etc.). Apenas um povo in- ventou a méquina a vapor e fez uma revo- lugdo industrial baseada nela. Como se pode ver nesses exemplos, os historiadores ambientais fogem do determinismo natu- ral, tecnolégico ou geografico, mas se re- cusam a ignorar a influéncia dos quadros naturais na histéria e na cultura das socie- dades humanas. Como diz Worster, nao podemos mais nos dar ao luxo dessa ino- céncia. Uma quarta caracteristica a considerar, de importincia especial para os historiado- res que valotizam as fontes, € a grande variedade de fontes pertinentes ao estudo das relacées entre as sociedades e 0 seu ambiente. Podem ser usadas as fontes tra- dicionais da histéria econ6mica e social censos populacionais, econdmicos e sani- l4rios, inventdrios de recursos naturais, im- prensa, leis e documentos governamentais, atas legislativas e judicidrias, crénicas. Ne- les se encontrarao informagées abudantes sobre os conceitos, os usos, os valores atribuidos e a disponibilidade de recursos naturais. Nos casos dos povos sem escrita ou de tradigao predominantemente oral, os historiadores trabalham com materiais também familiares: mitose lendas, confor- me registrados por viajantes ou antropdlo- gos ou coletados diretamente em trabalho de campo. As boas etnografias antropolé- gicas so riquissimos reposit6rios de infor- mes sobreas relacdes dos povos sem escri- ta com os seus ambientes naturais. Os relatos de exploradores, viajantes e naturalistas europeus - também muito usa- dos — que percorreram quase todos os qua- drantes do globo a partir do século XV, séo outra fonte fundamental da histéria am- biental. Os primeiros exploradores de um territério, por exemplo, ansiavam por en- 183 contrar recursos naturais valiosos — para pagaras contas da viageme agradaros seus soberanos — e prestavam atengdo minucio- sa a tudo que viam nas novas paisagens: Por vezes 0 mero desejo de encontrar recursos é em si mesmo instrutivo. Relata- va-se até 0 que nao se via, como no célebre caso de Pero Vaz de Caminha. Com a escassissima empiria de curtas incursdes por algumas praias, ele noticiou otimisti- camente ao rei de Portugal que “em se plantando tudo da[ria}” nas terras do Bra- sil. A crer em Caminha, havia ou poderia haver no sul da Bahia uma vasta civiliza- ao agricola, alids inexistente na época e até hoje. Mas ficamos sabendo que os in- digenas plantavam alguma coisa e que as perspectivas agricolas consolavam a de- cepgao com a auséncia do cobigado ouro. Ainda no campo dos desejos, lembro os disparatados rumores que corriam entre os portugueses do primeiro século colonial - invejosos dos espanhdis —sobre a ocorrén- cia de ouro e pedras preciosas em terras brasileiras. Sérgio Buarque de Holanda es- creveu uma obra-prima, Visdo do paratso (Holanda, 1985), usando esses rumores, que mostram o que os europeus pensavam de si mesmos ¢ 0 que esperavam das terras encontradas. Os viajantes estrangeiros (diplomatas, militares, missiondrios etc.) observam e narram fatos sociais “totineiros” que nem sempre aparecem nos registros dos locais. Oliveira Vianna e Gilberto Freyre os usa- ram nas suas obras principais de histéria social, pois eles dio noticias detalhadas sobre os modos “nativos” de vida, passa- dos ou remanescentes, tanto de europeus transplantados quanto de natives propria- mente ditos. Esses viajantes prestam muita atencdo as dificuldades de implantacdo dos modos europeus de vida, com os quais estavam familiarizados. Alguns dao infor- mes preciosos, mesmo que leigos, sobre aspectos naturais (fauna, flora, plantas cul- tivadas, paisagens etc.) e da vida cotidiana, 184 como materiais de constiugio, comidas roupas. J4 os viajantes naturalistas, também es- trangeiros, principalmente os de meados do século X1X em diante, tém mais a dizer sobre 0s aspectos naturais do que sobre as sociedades. Seus olhos eram treinados pa- ra identificar novas espécies animais e ve- lependentemente de sua utilidade econémica, mas prestavam ateng4o nos recursos locais usados pelos europeus, es- cravos, indios e mesticos residentes em lugares distantes. Alguns, no entanto, co- mo Saint Hillaire, descreveram com viva- cidade a gente brasileira que habitava um meio natural tao distinto do europeu. Os historiadores ambientais usam tam- bém memérias, didrios, inventdrios de bens, esctituras de compra e venda de ter- ras, testamentos. Usam descriqaes de dit tas, roupas, moradias, materiais de cons- trugdo, mobilidrio, ferramentas e técnicas produtivas, estudos sobre epidemias e doengas, projetos e memoriais descritivos de obras (estradas, ferrovias, portos), listas de bens comercializados, romances, dese- nhos, pinturas ~ tudo enfim que permita ver (a) quais recursos naturais so locais € quais so importados, (b) como eles so valorizados no cotidiano das sociedades e (©) que tecnologias existem para o seu aproveitamento. Uma quinta e ultima (para fins deste artigo) caracteristica da hist6ria ambiental €0 trabalho de campo, Freqiientemente os historiadores ambientais viajam aos locais estudados e usam as suas observacoes pes- soais sobre paisagens naturais, clima, flora, fauna, ecologia e também sobre as marcas rurais e urbanas quea cultura humana deixa nessas paisagens. Evidentemente podem aproveitar para explorar fontes locais: en- trevistar moradores antigos, consultar ar- quivos e cientistas que trabalham na regio. Acima de tudo, no entanto, o trabalho de campo serve para identificaras marcas dei- xadas na paisagem pelos diferentes usos ESTUDOS HISTORICOS - 19918 humanos, marcas essas que nem sempre constam de documentos escritos. Como diz Roderick Nash, a paisagem se transforma em si mesma num documento que precisa ser lido adequadamente. Trata-se de ler a historia na paisagem. Essa “escrita” € dada ipalmente pelas plansas, ou pela au- séncia delas, ou pela combinagao de suas espécies, ou pela sua disposigéo no terreno. Um historiador ou cientista social com um olhar minimamente treinado pode, por exemplo, distinguir (a) uma floresta nativa madura de (b) uma floresta secundéria (ca- pocira) renascida depois de um desmata- mento total, ou de (c) uma floresta apenas parcialmente derrubada ou, ainda, de (d) um reflorcstamento. Cada tipo de floresta indica usos humanos distintos, recentes ou remotos, com antecedentes e conseqiientes ambientais relevantes. Ele pode também identificar plantas omamentais ou de valor comercial “exéticas” (nativas de outras re- gides, paises ou continentes) introduzidas pela estética ou pelo trabalho humano. Outros sinais da atividade humana séo importantes para o historiador ambiental: um rio assoreado que os documentos di- zem ter sido navegdvel no passado pode ter sido afetado por uma agricultura predaté- Tia; uma encosta nua, com fendas erosivas, teré sido outrora coberla de mata ou de plantagGes comerciais. Outras pistas: os rejeitos de uma mina exaurida espalhados sobre um trecho de terra com vegetacao rala; os restos de um pomar retomado pela vegetacdo nativa; uma pedreira; ouo leito, as pontes e os barrancos de uma estrada de ferro desativada. Esses “documentos” sio conclusivos em si mesmos, embora pos- sam e até devam ser confirmados pela documentagao tradicional. Mas muitas ve- Zes as observagdes de campo, que exigem capacidade de observacao e técnicas de anotagao peculiares, podem ser usadas mesmo scm comprovacio suplementar dos documentos propriamente ditos. ABISTORIA AMBIENTAL, Vejamos agora, brevemente, uma outra questao: a das “linhagens” da histéria am- biental. E evidente quea pesquisa ea escrita da histéria ambiental, mesmo inovadoras, tém antecedentes cientfficos e literérios no campo das ciéncias sociais. Ao meu ver, elas esto principalmente em duas 4reas: a historia das civilizagées e a anmopologia cultural, inclusive certas formas de estudos de comunidades. Os historiadores ambien- tais freqiientemente citam Amold Toynbee (1976), Lewis Mumford (1934), Gordon Childe (1951; 1964) e outros historiadores das civilizagGes. E compreensivel, pois eles estudam complexas formagées sociais, com séculos ou até milénios de duragao, cuja fortuna via de regra esteve intimamen- te ligada ao quadro de recursos locais (solos agricolas, florestas, minérios, pastagens, 4gua para irrigagio, animais domésticos etc.), Um antecedente particularmente im- portante para os historiadores ambientais norte-americanos sao os estudos da chama- da “conquista do oeste” ou da “fronteira” dos EUA, quando milhdes de europeus ocuparam agricolamente, em poucas déca- das, terras usadas milenarmente por povos indigenas de outras formas (Tuer, 1987; Webb, 1959; 1964; Billington, 1966). Muito citados também sao antropélo- gos cl4ssicos e contemporaneos interessa- dos nas relages entre cultura material e cultura simbélica, como Julian Steward (1955), Leslie White (1949) e Marshall Sahlins (1972, 1976a, 1976b). Hi ainda os chamados “estudos de comunidade”, onde antropélogos e socidlogos fazem estudos em profundidade sobre uma sociedade re- lativamente circunscrita (dois cldssicos desse género, referentes a0 Brasil, sio Wa- gley, 1953 e Willems, 1961). Outros cam- pos e disciplinas comparecem, com menor regularidade, nas bibliografias dos livros e artigos dos historiadores ambientais: a *Oenderego New Jersey 07102. EVA. 185 geografia humana e econémica, os estudos sobre energia e tecnologia. A histéria ambiental €, portanto, um campo que sintetiza muitas contribuigdes ecuja pratica é inerentemente interdiscipli- nar, A sua originalidade est4 na sua dispo- sigao explicita de “colocar a sociedade na natureza” e no equilibrio com que busca a interagdo, a influéncia mitua entre socie- dade e natureza. Vou tratar agora de alguns temas ¢ li- has de trabalho mais recorrentes dos his- toriadores ambientais. Uma revisdo deta- Inada da historiografia da histéria ambien- tal norte-americana até meados da década de 1980 estd no excelente artigo de Richard White (1985); em Worster, 1988, e Worster et al., 1990, h4 apreciagées criticas atuali- zadas ¢ fartas referéncias bibliogréficas so- bre os rumos da histéria ambiental em varias partes do mundo. Para fins deste artigo, apresento primei- ro uma bieve andlise de boa parte da série completa da revista Environmental Review (recentemente rebatizada como Environ- mental History Review). Ela foi fundada nos EUA em 1976 e é publicada pela As- sociagéo Norte-Americana de Histéria Ambiental. Foi criada por John Opie (New Jersey Institute of Technology), um historiador da tecnologia, ramo alids apa- rentado com a histéria das civilizagdes. Vem sendo publicada regularmente desde a fundagao, tendo chegado, Portanto, ao volume XVI. A revista se define como “um periddico trimestral que busca entender a experiéncia humana no meio ambit que“estimula o didlogoentreas disciplinas a respeito de todos os aspectos das relagdes atuais e passadas da humanidade com o ambiente natural”. Arevista mantém uma média de quatro artigos por ntimero, sendo que alguns ni- jo dease peri ico & EHR. Center for Techaology Studies. New Jersey Institute of Technology. Newark, 186 ESTUDOS HISTORICOS ~ 1998 meros trazem até dez papers apresentados em congressos regionais e nacionais pro- movidos pela Associacao Norte-America- na de Histéria Ambiental. Ao todo, a revi ta publicou em 15 anos uns trezentos arti- gOS, papers ¢ relatGrios de pesquisa, prova de que hd um mimero expressivo de estu- diosos dedicados ao tema. Muitos desses textos séo resumos de livros de autores profissionalizados, ou de teses de doutora- mento definidas em anos recentes, 0 que revela a penetracao da historia ambiental em setores selecionados do establishment histérico de alguns centros universitarios. Outro indicador do dinamismo da histéria ambiental é a média de dez resenhas criti- cas porntimero, referentesa livros relevan- tes e editados recentemente. Apesardea linha editorial vir enfatizan- do explicitamente o cardter internacional da revista, continuam a predominar nas ediges mais recentes autores e temas de paises de lingua inglesa (EUA, Inglaterra, Canadé e Australia). Historiadores com- poem a maioria dos autores, mas hé ex- pressiva presenca de cientistas politicos, fildsofos ¢ gedgrafos, além de ocasionais advogados,arquitetos e tedlogos. Enire as muitas diregdes tematicas presentes na re- vista, as seguintes me parecem predomi nantes: (a) origens e efeitos de politicas ambientais e da “cultura” cientifico-admi. nistrativa de organismos governamentais com responsabilidades pelo meio ambien- te; (b) usos conflitivos de recursos naturais por povos com marcadas diferencas cultu- rais (nativos americanos versus europeus, por exemplo), ou por grupos sociais distin- tos de sociedades complexas (protetores de animais versus cacadores); (c) valores cul- furais coletivos relativos 4 natureza, ao meio ambiente e aos seres animais ¢ vege- tais; (d) idéias de escritores ou militantes ambientalistas individuais; (e) éstudos de casos notdveis de degradagao ambiental. Geograficamente, a maioria dos textos publicados nos anos recentes se refere aos paises desenvolvidos, principalmente Eu- ropa e EUA, mas asescalas planetérias dos movimentos e das preocupacées ambien- tais tem propiciado artigos sobre paises do “terceiro mundo” ou sobre problemas que afetam grandes reas do planeta (florestas tropicais, oceanos, Artico, Antértida, chu- vas dcidas ctc.). Curiosamente, hé um tom marcada- mente “‘contemporineo” na grande maio- tia dos artigos recentes, que focalizam fa- tos das iltimas décadas, para os quais via de regra existem fontes abundantes e facil- mente acessiveis. Outra caracteristica co- mum 4 maioria dos artigos é ousode textos das ciéncias naturais, especialmente geo- logia, agronomia, engenharia florestal, bo- “tinica e Zoologia. Muitos artigos perten- cemao que Richard White (1985) conside- ta histéria das idéias ou histéria das insti- tuigdes govemnamentais, que ndo exploram necessariamente as relagdes hist6ricas en- tre as sociedades e os seus ambientes. No geral, a revista indica que a histéria am- biental € uma drea de pesquisa académica e cientifica em expansdo e em fase de refinamento de métodos e temas. Darci idéias mais precisas sobre os ca- minhos da histéria ambiental comentando alguns de seus livros importantes ou famo- sos. Alguns deles constam da colegao En- vironmental History, da Cambridge Uni- versity Press, que vem publicando as obras de maior peso produzidas na 4rea. Comen- tarei também alguns livros que nao cons- tam da colecao. Ohistoriador ambiental mais importan- te e mais famoso € Donald Worster (Uni- versity of Kansas). Ele tem trés obras que merecem ser comentadas. Em ordem cro- noldgica, primeiro vem Nature's economy ~«history ofecological ideas (Cambridge, Cambridge University Press, 1985), origi- nalmente publicada em 1977. Rigorosa- mente, trata-se da histéria de um campo cientifico, 0 da ecologia. Worster vai as AHISTORIA AMBIENTAL origens européias da ecologia, principal- mente na Franga, Alemanha e na Inglaterra do século XIX, e traga o seu desenvolvi- mento explosivo nos EUA a partir do inicio do século XX. Trata nao apenas dos achados e conceitos cientificos, mas tam- bém dos valores “arcadianos” ou “impe- riais” que movem os diferentes cientistas nas suas concepgies sobre o lugar dos humanos no mundo natural. Além de educaros leigos sobre o signi- ficado da ciéncia da ecologia, Worster con- cluicom a argumentagao desconcertante de que ela nao é boa companheira da preocu- pagdo ambientalista recente. Ou seja, para ele 0 movimento ecolégico nao tem afini- dade com a ciéncia ecolégica. Aocontrério, ‘Worster considera que a ecologia herdou a tradigao “imperial”, que pretende o domi- nio da natureza, e ndo serve para inspirar movimentos ambientalistas que duvidem da legitimidade desse dominio. Nature's economy é um livro pioneito, exaustivo, profundamente refletido e altamente in- fluente na histéria ambiental e das ciéncias. O segundo livro importante de Worster € Dust bowl — the southern plains in the 1930's (Oxford, Oxford University Press, 1982). E um cldssico da ainda jovem hist6- ria ambiental. Com ele Worster criou um padrio e uma agenda de trabalho para a disciplina. Ele historia as relacdes entre uma sociedade humana especifica, 0 seu meio ambiente € as suas influéncias mé- tuas. Mostra as dimensdes naturais e sociais do chamado dust bow! — apelido popular das tempestades de poeira que sufocaram as planicies centrais dos EUA na década de 1930 — considerado, alids, um dos maiores desastres ambientais provocados pelos hu- manos em toda a histéria registrada. Worster faz uma histéria natural da te- gido em tomo de Kansas (sua terra natal, ali4s), investiga a adaptacao relativamente frégil dos indigenas ao quadro natural e a falta de adaptagdo dos europeus. Estes, ‘numa tnica geraco humana (1895a 1930) 187 produziram uma débacle ambiental em pleno século XX, no pais que hoje se apre- senta como um dos lideres da consciéncia ambientalista, Worster mostra meticulosa- mente como o uso dos fr4geis solos locais com uma tecnologia agricola inapropriada alterou a sua compesicio fisica e permitiu a sua movimentagao pelos ventos constan- tes das planicies. Em seguida, mostra 0 cortejo de sofrimentos humanos e as difi- culdades, de ordem financeira, técnica e cultural, das tentativas de recuperar a drea para o uso humano. Conciso, elogiiente e ilustrado com excelentes fotografias, este livro ganhou importantes prémios nas 4reas académica e editorial. O terceiro livro importante de Worster é Rivers of empire — water, aridity and the growth of the American West (New York, Pantheon, 1985). Worster tenta se superar neste livro ambicioso, exaustivo e quase lopédico, escrito com competéncia, interdisciplinaridade, documentacio fartae num estilo que lembra o dos historiadores das civilizagées. Ele faz uma historia am- biental e social da irrigagao de vastos seto- res dridos do oeste norte-americano, princi- palmente na Califémia, Arizona, NovoMé- xico, Nevada e Utah. Worster vai a Wittfogel eaos “despotismos asiéticos” pa- 1a formular a sua pergunta bdsica: como se construiu numa regido drida e semi-drida dos EUA uma sociedade de abundancia? Para ele a resposta est4 na manipulagdo da dgua, o elemento escasso da paisagem. Prosperou quem possufa ou controlava a Agua, quem teve tecnologia para levar a 4gua de origens distantes até onde seu uso foi “privatizado”, na forma de abasteci- mento urbano, de irrigacao ou de energia, alimentando cidades, industrias e planta- des. Mas a politica entra na andlise, pois 0s grupos sociais poderosos do oeste con- seguiram que a sociedade nacional dos EUA financiasse as suas carissimas mano- bras hidrdulicas, subsidiando pregos de ter- ras piiblicas e de tarifas de energia e irriga- do supostamente para pequenos fazendei- ros, mias na verdade para fazendeiros ricos. O recurso natural escasso 4gua foi, portan- to, técnica e politicamente manipulado pa- ma produzir uma agricultura altamente ca- pitalizada, a custos sociais e ambientais altamente regressivos. William Cronon (Yale University) es- creveu outro livro altamente influente no campo da histéria ambiental, intitulado Changes in the land — indians, colonists and the ecology of New England (New York, Hill and Wang, 1983). E talvez o melhor livro para travar contato com os bons frutos do encontro entre a histéria eo meio ambiente. Cronon faz a interdiscip] naridade parecer facil e sintetiza histéria, antropologia, sociologia, economia, geo- grafia, ecologia, botanica e zoologia com perspicdcia, economia de palavras e alta legibilidade. Ele cumpre a promessa do titulo: analisa os diferentes usos que indi- genas e europeus deram mesma terra (do atual Noroeste dos EUA) e as marcas que esses usos deixaram, tanto na terra quanto nas sociedades. Usando criativamente as cronicas coloniais e as etnografias dos po- vos indigenas da regiao, Cronon revela comclarezaa faceta propriamente ambien- tal da interagao entre europeus e nativos num particular recanto do Novo Mundo. E, um estudo modelar. Quem preferir livros polémicos fard me- thor se escolher os de Alfred Crosby (até recentemente na University of Texas). To- me-se, por exemplo, o seu The Columbian exchange — biological and cultural conse- quences of 1492 (Westport, Connecticut, Greenwood Press, 1973), que se antecipou & histéria ambiental propriamente dita. Crosby produz uma espécie de inventar critico do que foi “trocado” entre os cont nentes americano e europeu desde 1492, com que conseqiiéncias imediatas ¢ remo- tas pata os humanos e os seus respectivos ambientes. Ele trata de homens, mulheres, idéias e teenologias, mas se ocupa mais de ESTUDOS HISTORICOS - 1998 animais e plantas (selvagens e domestica- dos) e até de bactérias, virus e doengas, concentrando-se mais no biolégico do que no cultural. Crosby dedica todo um capitulo instigante as origens da sifilis, que ele con- sidera a nica doenga americana exportada para a Europa, que numa “troca desigual” enviou paraa América dezenas de doencas, aliés dizimadoras de milhdes de nativos americanos. Outros capitulos instrutivos se dedicam aos efeitos da introdugao de ani- mais domésticos europeus na América e a0 “intercambio” de alimentos de origem ve- getal entre Europa e Américas. Crosby é ainda mais polémico em Eco- logical imperialism — the biological expan- sion of Europe, 900-1900 (Cambridge, Cambridge University Press, 1986), com 360 pdginas explosivas. A narrativa por vezes quase transcende a histéria académi- ca para entrar no territério do fantastico — ainda assim fartamente documentado. Crosby vai além de The Columbian ex- change, combinando de forina mais equili- brada a biologia e a histéria social e econ6- mica. O seu tema basico é dos mais espi- nhosos: analisar as “vantagens biolégicas” dos europeus na implantacao de “neo-Eu- ropas” — ou seja, réplicas da sociedade eu- ropéia — em alguns lugares do mundo. Se- gundo ele, foi apenas na América do Norte, na bacia do Prata, na Austrélia e na Nova Zelindia (todas séo dreas tempcradas) que 0s europeus conseguiram esse seu intento. No restante do mundo, os europeus, mesmo quando politica e economicamente domi- nantes, foram derrotados nas suas tentati- vas de reproduzit a sociedade européia, entre outras Coisas pelo fato de os quadros naturais dos trépicos anularem as suas “vantagens biolégicas”. Essas vantagens sio, de novo, os pré- prios homens e mulheres e as suas tecno- logias, os seus animais e plantas domesti- cados, as suas doengas, as suas bactérias e os seus virus. Aqui Crosby encara mais detalhadamente os temas da tecnologia, de AHISTORIA AMBIENTAL, organizacao social e militar, de percepgio européia do meioambienteetc., mostrando como a capacidade européia de manipular ‘Os recursos naturais sem entraves culturais foi uma vantagem crucial no seu confronto com os povos de tecnologias mais simples e/oucom concepgées menos instrumentais da natureza. Crosby narra alguns fracassos eu! peus, como as muitas tentativas dos cruza- dos de ocupar as “terras santas” e as frus- tradas col6nias vikings na Grocnlandia e na América do Norte. Infelizmente ele nao detalha os fracassos europeus mais con- temporaneos, ou seja, aqueles muitos luga- res do planeta onde os modernos europeus nao conseguiram reproduzir os seus pa- droes de vida, apesar de sua tecnologia avangada. Ele dé material de sobra para reflexao, porém. Os capitulos sobre a tec- nologia portuguesa e espanhola de navega- do maritima e sobre as conseqiiéncias da introdugéo de ervas daninhas e animais domésticos s40 os mais polémicos. Continuando com autores polémicos, passo a Stephen J. Pyne (University of Ari- zona). O seu Fire in America —a cultural history of wildland and rural fire (Prince- ton, Princeton University Press, 1988) é a mais controvertida de todas as producdes da hist6ria ambiental do meu conhecimen- to, E um texto candente, escrito com um misto de casualidade e grandilogiiéncia, macigo, meticulosamente pesquisado, or- ganizado de forma original, comexcelentes fotografias e um numero enorme de fontes. Trata-se de uma histéria ambiental do fogo de origem humana, principalmente mas ndo apenas na América do Norte. E relevante mencionar 0 motivo da con- trovérsia sobre esse livro. Ele € sempre criticado pelos que estudam os usos de recursos naturais por povos “primitivos”, pois Pyne extraiu os efeitos de comporta- mentos ambientalmente “predatérios” desses povos em varios lugares do mundo. Isso abalou o icone do “bom selvagem 189 ambientalista”, muito caro a alguns setores mais romanticos do movimento ambienta- lista e dos estudiosos do meio ambiente, para quem 0s povos “primitivos” sao inca- pazes de agyedir a natureza. Ele documenta uma enorme quantidade de praticas incen- didrias nativas na América do Norte, mos- trando a sua racionalidade econémica e sustentando que elas produziram mais campos abertos ¢ menos florestas do que existiriam “naturalmente”. De formaainda mais polémica, mas menos convincente, Pyne afirma que a chegada dos europeus 2 América do Norte e as sucessivas expul- ses de grupos indigenas € que pennnitiram a expansdo tempordria de floresias em campos intencionalmente “administra- dos” pelos incéndios indigenas. Embora as usos indigenas do fogose jam importantes na obra, Pyne analisa o fogo como fenémeno cultural de povos primiti- vos ¢ modemos, Na verdade, o tema prin- cipal € a obsessao que os norte-americanos de origem européia tiveram, por quase um século (1880-1970), com 0 controle do fo- go nas terras publicas e/ou florestadas dos EUA. Essa obsess.io deixou rastros docu- meniais ¢ institucionais fartissimos e faccis de encontrar nos aiquivos e acervos docu- mentais piblicos € privados de todos os EUA. Esta é a histéria ambiental mais ex- tensamente documentada que eu li. Pyne trabalha com a idéia de que o fogo nas regides de fronteira dos EUA foi visto, a partir de 1870, por parcelas influentes da sociedade e do govemo norte-americano, como um agente destruidor natural de vas- las reas sob controle governamental (flo- restas nacionais, parques nacionais, reser- vas biolégicas, mananciais etc.). Por isso foram mobilizados enormes recursos hu- manos, financeiros e cientificos para evilar e combater 0 fogo, numa escala sem prece- dentes em qualquer pais e em qualquer €poca. Mas Pyne recorre a ciéncia da eco- logia e mostra que o fogo faz parte do ciclo natural de quase todas as paisagens e ecos- 190 sistemas da América do Norte. Ele sustenta, porisso, que o combate sistemitico ao fogo, em nome da preservacao da natureza “vir- gem”, na verdade foi um fendmeno cultural de intervengdo humana que alterou por- 6es significativas das paisagens naturais, produzindo florestas ondeantes havia sava- nas ou campos gramados, ou modificando florestas adaptadas a incéndios periédicos. Pyne estuda ainda a “economia politi do combate ao fogo”. Mostra como aabun- dancia de mao-de-obra, ou de equipamen- tos mecanizados, ou de informagao cientf- fica, levarama diferentes métodos de com- bate. Mas os capitulos mais interessantes sdo as breves “histérias regionais dos in- céndios”, mostrando 0 papel do fogo na formagéo das paisagens regionais dos EUA. Se 0 leitor pensa que 0 fogo tiaz apenas “destruigdo” ambiental, e ndo quer mudar de opinido, aconselho que nao leia Pyne. Um campo importante da histéria am- biental € a dos valores humanos atribuidos @ natureza, Embora 0 campo derive da hist6ria intelectual ou literdria, os historia- dores ambientais tém investido nele com resultados importantes. Trés livros nesse género merecem ser comentados. Em pri- meiro lugar vem Leo Marx, na verdade um historiador da literatura. Ele produziu no inicio da década de 1960 um livro extre- mamente influente entre os historiadores ambientais: The machine in the garden-te- chnology andthe pastoral idealinAmerica (London, Oxford University Press, 1964). Marx ensinou a toda a “primeira geragio” de historiadores ambientais a importancia analitica dos valores atribuidos as diferen- tes formas de natureza. Ele estuda ficcionistas, poetas e ensais- tas norte- americanos do século XIX. Tra- tase de um estudo de expressio literdria, mais precisamente do recurso de fazer con- trastes e oposigoes entre “mAquina” e “na- tureza”. Marx retoma a tradigio cldssica greco-romana do pastorialismo e mostra ESTUDOS HISTORIOOS - 1991/8 como quase todas as paisagens elogiadas pelos escritores clissicos e contempor’- neos amantes da natureza séo na verdade “‘jardins”, 4reas rurais criadas e manejadas pelos humanas. Marx mostra como o ho- mem ocidental ama as paisagens que ele mesmo controla ou constréi, forma nada sutil de gostar de si mesmo. Quanto a natu- teza “selvagem”, “intocada”, “incontrol4- vel”, ele tem pavor ou um apetite insacidvel de controlar, domesticar, civilizar, Essas atitudes afetam profundamente as ages das sociedades humanas em relacéo aos seus ambientes naturais. Muitas vezes uma sociedade acredita que est4 “salvando a natureza”, mas “salva” apenas uma obra sua. 4 Outro livro dedicado apenas as idéias e influente na hist6ria ambiental € 0 de Ro- derick Nash, Wilderness andthe American mind (3 ed. Cambridge, Yale University Press, 1982). Considerado h4 muitos anos por associagdes de editores dos EUAcomo um dos 50 melbores livros em catélogo no pais, este texto de Nash (University of California, Santa Barbara) foi concebido ainda no infcio da década de 1960, quando nascia 0 movimento ecolégico nos EUA, foi revisto e ampliado em trés edicdes. O resultado é um texto rico de informacao, andlise, indagacdo, e facilmente legivel. Nash fez a pergunta complementar aos “jardins” de Leo Marx, por quem foi in- fluenciado: o que significa para os huma- nos modemos territérios com natureza “virgem”, “intocada”? Ele encontra res- postas variadas, mas mostra que a cultura ocidental moderna tem conceitos psicolo- gicamente carregados sobre 0 que é ‘‘sel- vagem” (wild). Para povos modemos que tenham ou imaginem ter dreas “selvagens” emseu territério, ela tanto pode representar algotemivel e inutil a ser civilizado, quan- to algo belo a ser preservado. Quando uma sociedade tem grupos sociais com valores assim opostos, nasce um tipo de movimen- AMISTORIA AMBIENTAL. 191 to ambientalista que deseja salvar a “natu- reza selvagem”, € ndo os “‘jardins”. Nash cria o conceito de “valor de escas- sez” da natureza “selvagem”. Para ele, essa natureza é tio mais temida e desprezada quanto mais abundante e mais préxima ela € do sujeito, e é tio mais amada e admirada quanto mais escassa e distante ela estiver. Isso diz muito sobre quem é a favor e quem € contra a preservagao dessa forma de na- tureza. Outra percepcao original de Nash é que a atual defesa da natureza “‘selvagem” €um fato culturalmente revoluciondrio nas sociedades ocidentais, que sempre valori- zaram a natureza apenas de acordo com o Brau de alteragdo ou controle humano. Um terceiro livro que investiga valores ambientais vem da pena de Frederick Tur- ner: Beyond geography —the western spirit against the wilderness (New Brunswick; New Jersey, Rutgers University Press, 1983; traduzido para o portugués com 0 titulo O espirito ocidental contra a nature- 2a. Rio de Janeiro, Campus, 1990). Origi- nalmente estudioso do folclore e da cultura dos nativos da América do Norte, Tumer aqui escreve uma histéria dramdtica das dificeis relagdes entre a cultura ocidental e a natureza e os povos “selvagens”. Comeca nos antigos israelitas, passa pelos cristdos primitivos, por gregos e romanos, pelos europeus da Idade Média e chega ao perio- do da modema expansio européia, quando 0s europeus foram confrontados com terras € povos “selvagens” e nao os toleraram. Trabalhando com as idéias de Jung e do estudioso de mitos Joseph Campbell, Tur- ner poe o dedo na ferida arquetipica do Ocidente: sua ojeriza as religies naturalis- tas ou miticas e aos povos que praticam ntais sao diligen- tes “desencantadores” das paisagens mi cas, produtores de paisagens “ordenadas”. Tumer diz escrever uma histéria “espiri- tual” do Ocidente, mostrando as suas dili- culdades simbdlicas de lidar com outras formas de perceber a natureza. Em tom de ensaio, mas com ampla pes- quisa nas fontes sobre as culturas dos povos miticos, Tumer usa linguagem ao mesmo tempo trégica e persuasiva para narrar os encontros entre ocidentais e mfticos.O me- thor capitulo do livro, significativamente, € sobre o “aprendizado” dos brancos cativos de povos nativos da América do Norte. Baseado em cerca de duzentos textos publi- cados e inéditos desses prisioneiros, Tumer mostra como quase todos eles descobriram durante esses “encontros” que os seus cap- tores tinham virtudes que a tradigio ociden- tal Ihes negava por principio. Tuner produ- Ziu um livro indispens4vel para quem q ser estudar o papel das diferencas culturais na percepgao e no uso da natureza. Warren Dean (New York University) conhecido dos leitores e profissionais de histéria no Brasil pelos seus varios livros sobre a nossa histéria social e econémica. Mais recentemente ele produziu 0 tnico livro de histéria ambiental que conhego sobre o Brasil: Brazil and the struggle for rubber — a study in environmental history (Cambridge, Cambridge University Press, 1987). Pelo fato de Warren Dean ser conhe- cido nosso, e de este livro tratar principal- mente do Brasil e estar disponivel em por- tugués (com 0 titulo Brasil e a lua pela borracha. Sao Paulo, Editora Nobel, 1990), iremos dedicar um comentério mais exten- so a esta excelente combinagao entre histé- ria natural e histéria social, que sintetiza as principais tendéncias da histéria ambiental. Dean estuda a “domesticagao” de uma planta, a seringueira (Hevea brasiliensis), no Brasil e em varias partes do mundo. Ela foi, alids, uma das tltimas plantas domes- ticadas com sucesso pelos humanos. Dean explica a ecologia da Hevea, érvore nativa da Amaz6nia e geradora de latex (matéria prima da borracha natural), descrevendo sua ocorréncia natural numa extensa re- gifio quase toda ao sul do rio Amazonas. Mostra como o latex foi usado por nativos ¢ brancos antes da fase de intensa extragdo 192 ESTUDOS IIS TORICOS - 149 18 comercial dos fins do século XIX e analisa ‘0 famoso “boom” da borracha no Brasil. Olivro se concentra entao em dois con- juntos de fatos. Primeiro, Dean segue o destino das mudas e sementes brasileiras “contrabandeadas” para a Inglaterra em 1875. Mostra meticulosamente quando, ‘onde, como e com que sucesso elas e suas descendentes foram plantadas na India, Ceildo, Indonésia, Maldsia, Filipinas e ou- ros paises remotos em relagao a Amaz6- nia. Segundo, Dean examina o invaridvel fracasso dos grandes plantios da Hevea no Brasil e nas Guianas, América Central e Caribe, ou seja, relativamente perto desua rea de expansao original. Dean discute portanto o fracasso das plantagdes brasileiras. Hé questdes de mer- cado consumidor, custos de méo-de-obra ¢ de transporte, produtividade, escala, regi- mes de trabalho, pouca racionalidade nos plantios, colheita e beneficiamento etc. Mostra também como os seringalistas ama- Zonicos sempre se opuscram As plantagdes brasileiras que, se bem-sucedidas, liquida- riam os seringais nativos sob seu controle. Mas Dean dedica todo um capitulo a mostrar que o principal motivo do fracasso das plantagdes brasileiras foi ecoldgico. Ele mostra como a Hevea desenvolvcu em scu habitat uma co-evolugao adaptativa como um Fungo parasita de suas folhas. Na flo- testa tropical imida pouco alterada pelos humanos, o fungo modera a sua incidéncia € poupa muitos espécimes por causa das dificuldades de se propagar na mata densa. Nas plantagGes, ao contrdrio, as dezenas ou centenas de milhares de Hevea plantadas em carteiras homogéneas facilitam a sua propagagao. Até hoje, depois de 80 anos de pesquisa, o fungo resistiu a todos os méto- dos de neutralizagao e contaminou todas as. plantagGes brasileiras estudadas pelo autor, inclusive em estados fora da regio amaz6- nica (Bahia e Sao Paulo, por exemplo). Significativamente, o Fungo até hoje nao foi registrado nas plantacées asidticas e do oceano Pacifico. No entanto, Dean faz questéo de mos- trar que esses fracassos nao foram exclusi- vamente “brasileiros”. Hé um 6timo capi- tulo sobre os fiascos de Henry Ford no plantio de borracha na Amaz6nia, nas dé- cadas de 1920 e 1930. Partes de outros capitulos examinam plantagdes, também frustradas, feitas porempresas estrangeiras do setor de pneumiticos. A soma dos fra- cassos dos brasileiros e dos estrangeiros nas plantagoes em territério nacional e a carestia da borracha naliva da Amazénia fez do Brasil um importador crénico de borracha natural, hd varias décadas. O livro de Dean é tanto sobre o Brasil quanto sobre as grandes plantagdes de se- tingueiras em todoo mundo. O conjunto de fontes empregadas é impressionante, va- riando de dados censitérios, jomais, publi- cagées governameniais, manuais técnicos, entrevistas, discursos, anais de conferén- cias ¢ congressos, discursos parlamentares, leis e regulamentos e alé os arquivos de institutos de pesquisa botanica e de varias fazendas e postos experimentais de todo 0 mundo. Eum livrovitorioso que pennite ao leitor brasileiro ver as realizagdes da hist6- mia ambiental. 4-Alguns autores brasileiros com producao relevante para a historia ambiental No Brasil, tivemos e temos historiado- res, cientistas sociais e ensaistas sensiveis as relagécs histdricas entre sociedade meio natural. A seguir, menciono alguns deles ¢ a relevincia das suas obras para estudos mais propriamente académicos de histéria ambiental, Devo dizer que até 0 momento desconheco qualquer brasileiro do passado ou do presente que tenha se AMISTORIA AMBIENTAL declarado “‘historiador ambient!” ou equi- valente. Ohistoriador Sérgio Buarque de Holan- da, principalmente em Mongées (1990) ¢ em O extremo Oeste (1986), trata com desenvoltura de varidveis ambientais co- mo flora, fauna, topografia, solos, navega- bilidade de tios, meios de transporte, dis- ponibilidade de alimentos etc. Sao notd- veis, por exemplo, as suas observacdes sobre a eficdcia bélica de dois grupos nati- vos dotados de adaptagdes cultursisao am- biente: os guaicuru (0 “gentio cavaleiro”), que dominaram o cavalo introduzido pelos europeus, € os paiagud, eximios canoeiros. Esses nativos afetaram as rolas terrestres ¢ fluviais dos paulistas em demanda do inte- rior ¢ influenciaratn os padrdes de ocupa Gao européia. Holanda focaliza também as tecnologias européias, principalmente as agricolas, e a sua incapacidade de sustentar 0s colonos, sem ajuda dos alimentos pro- duzidos pelos nativos. O socidlogo Gilberto Freyre produziu na década de 1930 um livro intitulado Nor- deste (1985), cujus quatro capitulos ini- ciais sio verdadeiros ensaios de historia ambiental. Embora nao aprofunde os as- pectos de ciéncia natural, Freyre mostra como as expectativas, os valores ¢ os atos dos portugucses produziram efeitos preda- térios no quadro natural do chamado Nor- deste timido. Examina as relagdes dos por- tugueses com Os nutivos, a term, a flora, 3 fauna ¢ a dgua, e produz um diagndstico de destruigéo ambiental nada tavorivel aos senhores de engenho, de quem em tantas outras obras cle fez 0 clogiv. O gedgrafo Aziz Ab’Saber tem uma percepgao altamente apurada da historia das interagdes entre os quadros naturais ¢ as sociedades humanas. Veja-se, entre muilas outras produgGes suas, os pequenos textos inseridos nos dois primeiros volu- mes da Histéria geral da civilizagao bra- sileira (Holanda, 1985 e 1989), onde apon- ta cuidadosamente quais os usos ¢ as po- 193 tencialidades qucas terras c diguas brasilei- ras ofereciam para nalivos, escravos afri- canos ¢ colonos europeus. Ele destaca as dificuldades que estes dltimos tiveram por causa da “tropicalidade” de quase todo o territorio brasileiro. A obra de Alberto Ribeiro Lamego - possivelmente engenheiro civil — € outro exemplo do estudo conjunto e histérico da “terra” e do “homem”, como ele mesmo coloca a questao (ver, porexemplo, Lame- go, 1974). Lamego focaliza as terras flu- minenses, numa série de livros com titulos. ambientalmente cspecificos (brejo, restin- gs, baia de Guanabara e serra) e que co- brem todos os ecossistemas pré-europeus do estado. Ele parte da geologia e geomor- fologia, passando pela hidrografia, solos clima, mostrando quais atividades huma- has eram mais propicias para cada ecossis- tema. A historia propriamente social e eco- nmica que ele deriva de suas observacdes ecoldgicas peca por simplismo e por um regionalismo pouco relevante. Ainda as- sim, 0 Conjunto da sua obra resulta de um ambicioso projeto de estudo histdrico das interagdes entre meio ambiente e socieda- des humunas, projeto esse em tudo similar ao de uma historia ambiental. Entre os chamados “ensaistas”, espe- cialmente Euclides da Cunha (1986) e Oli- veira Vianna (1987), encontramos exem- plos de abordagens mais unilaterais - mas ainda influentes — das relagGes entre natu- rez e socicdade. Cunha e Vianna, bem a moda dos detenminismos bioldgicos e geo- graficos do fim do século XIX, enfatizam as restrigGes criadas pelos ecossistemas e paisagens, mas raramente se ocupam de como as sociedades humanas modificam mesmo os ambientes mais hostis para os seus fins. Ou seja, eles se concentram na dimensio daquilo que o meio natural “faz” com os humanos, € deixam de lado o que as “leituras” humanas do meio natural po- dem representar cm termos de agao cultu- ral de modificagio do meio natural. Ambos 194 escreveram obras relativamente amplas, focalizando varias regides: Rio de Janeiro, Nordeste e Amaz6nia (Cunha), Rio de Ja- neiro, Sao’ Paulo, Minas Gerais, Parand e Rio Grande do Sul (Vianna). Alberto Torres, outro “ensaista”, empe- queno texto do inrcio do século (1990), caracterizou elogiientemente a economia brasileira como uma consumidora voraz e imprevidente de recursos naturais, num tom apocaliptico que lembra o de alguns ambientalistas contempordneos. Embora bem informado sobre o que ocorria na Europa e nos EUA em tennos de “uso racional de recursos naturais”, Torres se limita a deniincias e apelos. Que eu saiba, ele nunca desenvolveu o tema além desse texto, que, no entanto, parece ter tido algu- ma influéncia nos primérdios da legislacao ambiental brasileira. A falta de espago impede observagées sobre aspectos ambientais das obras de Vambhagem, Capistrano de Abreu, Caio Prado Jr. ¢ outros (ver Padua, 1986, para uma revisdo mais detalhada de autores que refletiram sobre a natureza brasileira). Mas quero indicar que nao sao poucos os auto- res brasileiros cujos textos ajudam na pro- dugo de pesquisas com uma abordagem mais explicitamente ambiental. Quero recordar aos interessados em his- téria ambiental no Brasil que contamos com uma colegio relativamente vasta de relatos de viagens do século XIX e XX produzidos por viajantes, diplomatas, mili- tares ¢ naturalistas estrangeiros. Uma parte importante desses relatos foi publicado na colegao Brasiliana, da falida Editora Na- cional, e vem sendo reeditada desde a dé- cada de 1970 pela Editora Itatiaia, numa colegao chamada Reconquista do Brasil. Aji temos os textos j4 bastante conhecidos de Saint-Hillaire, Spix e Martius, Burton, Bates, Agassiz, Wallace, Conde d’Eu, e muitos outros nao tao conhecidos. Além disso, as segdes de manuscritos da Biblio- teca Nacional e de varios Institutos Hist6- ESTUDOS HISTORICOS ~ 19918 ricos € Geogréficos contam com intimeros relatos € crénicas de viagem inéditos, al- guns deles pertinentes aos séculos XVI e XVIII. Como disse emsegdo anterior, essas so fontes privilegiadas para os historiado- res ambientais, e 0 Brasil, pela sua tropica- lidade e pela diversidade dos seus ecossis- temas, atraiu e continua a atrair centenas de viajantes e cientistas estrangeiros oriundos de paises temperados, treinados para obser- var paisagens e aspectos da natureza. 5 - Conclusao: em pro! de uma revisdo dos ciclos econémicos brasileiros Espero ter convencido alguns historia- dores, estudantes de histéria e interessados da originalidade da hist6ria ambiental. A pretexto de conclusio, defenderei a sua re- levancia para a historiografia e sociedade brasileiras, tocando apenas num ponto. Fa- gO parte de uma geracdo que estudou a histéria do Brasil, no primério, em livros dominados pela cléssica visao dos “ciclos econémicos”: pau-brasil, cana-de-acticar, gado, algodio, ouro, café, borracha etc. Nao foi particularmente agrad4vel estudar esses ciclos, mas o conhecimento deles ho- je me permite entender melhor o Brasil ‘como pais cuja economia foi e continua estreitamente atada a exploragao de curto prazo de recursos naturais (florestas e pro- dutos florestais extrativos, animais selva- gens, terras agricolas e pecudrias, depdsitos minerais, tios etc.). A partir da década de 1960, essa litera- tura foi deslocada por outra que enfatiza as “telagdes dialéticas”, as “articulagdes” e os “movimentos do capital” entre os diversos ciclos que, assim, passaram a ser ciclos abstratos, emanagées de uma entidade ain- da mais abstrata chamada “exploragio co- lonial”, Embora nao discorde da Sbvia arti- AHISTORIA AMBIENTAL 195, culagio entre os ciclos da “velha historio- grafia”, percebo que a juventude fornada dentro da “nova historiografia” desenvol- veu a capacidade de articular competente- mente fatos e processos que mal entendem. Ela sabe montar esquemas complexes, mas no sabe dizer o que compée cada parte do esquema. A “nova historiografia” tem sido inca- paz de esclarecer exatamente os tipos de sociedade gerados pela exploragao de um recurso natural, ou de varios recursos si- multaneamente, ou de vdrios recursos em segiiéncia, No fim das contas, uma regiao pecudria tem uma estrutura social e uma cultura substancialmente diferentes de uma 4rea de mineracao ou de agricultura de exportagio. Sinto que a capacidade de dis. tinguir os efeitos sociais dos ciclos foi eli- minada pela “nova historiografia”, ansiosa de estabelecer ligacdes entre ciclos conce- bidos isoladamente. Sem diivida, a histéria deve ter a ambigdo de fornecer esquemas, mas deve fornecer também materiais inte- ligiveis para montar esses esquemas. Quero sugerir que a histéria ambiental pode contribuir nos prdximos anos para que se atinja um meio termo entre os “ci- clos estanques” e os “ciclos abstratos”. A. melhor agenda para um possivel grupo de historiadores ambientais talvez seja reto- mar o tema dos ciclos econémicos da his- t6ria coloniale independente doBrasil,em clave ambiental. O objetivo seria identifi- car, emescala regional e local, que tipos de sociedade se formaram em tomo de dife- rentes recursos naturais, que penmanéncia tiveram essas sociedades e que tipo de conseqiiéncias elas criaram para os seus ambientes sustentarem outros tipos de so- ciedade. Essaéa melhor forma de verificarcomo os ciclos se interligam, ou nao se interli- gam. O Vale do Rio Pariba do Sul, por exemplo, foi devastado hi mais de um século pela cafeicultura. Hoje € uma regio rigorosamente estagnada, desligada de qualquer outro ciclo dinamico préximo ou longinquo. A maneira de usar os solos lo- cais, por mais que tenha obedecidoa logica do capitalismo internacional, pouco ou na- da deixou para a manutengao de uma so- ciedade local. Exemplos de 4reas igual- mente exauridas e estagnadas poderiam ser multiplicados dentro do territério brasilei- 10. Todas elas merecem estudos que supe- rem os marcos dos “ciclos estanques” e dos iclos abstratos”. A mesma Gtica pode ser aplicada para (1) os numerosos pontos do lerritério brasileiro submetidos a proces- sos recentes de uso intensivo e (2) aos que apenas agora estao sendo incorporados & economia nacional em termos efetivos. A economia e a sociedade brasileiras continuam a ser extremamente dependen- tes dos recursos naturais. Nosso futuro de- pende desses recursos, dos valores que Ihes emprestamos e dos usos que lhes damos. Nao temos ética do lucro, nem ética da prod utividade, nem ética do trabalho; nao somos criadores de tecnologia de ponta, nem de processos produtivos; ndo temos capital para viver de rendas; a nossa mo- deridade industrial e pds-industrial € tao impressionante quanto € fragil. Grandes setores da nossa populagao e da nossa eco- nomia continuam a depender dousoexten- sivo e raramente prudente de recursos na- turais: novas terras agricolas e pecudrias, novos empreendimentos de mineracio, novos produtos extrativos, novas usinas hidrelétricas. O mercado mundial est4 pa- gando cada vez menos por esses recursos naturais. Sabemos que todas as dimensoes da nossa economia de recursos naturais estao atticuladas. Nao podemos mais adiar um conhecimento histérico mais consistente de cada uma dessas dimensées. E minha opiniao que a histéria ambiental pode dar uma contribuicdo decisiva para entender- ‘mos 0 nosso passado € o nosso presente de pais rico em recursos naturais e assolado por dividas sociais. 196 bliografia BARBER, Lynn, 1980. The heyday of narural hisigry ~ 1820-1870. Garden City, New ‘York, Doubleday. BILLINGTON, Ray Allen. 1986. America ~ a frontier heritage. New York, Holt, Rinehart and Winston. BOULDING, Kenneth. 1978. 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José Augusto Drummond é professor adjunto do Departamento de Ciéncia Politica da Univer- sidade Federal Fluminense, Mesire em ciéncias ambientais pelo The Evergreen State College (Olympia, Weshington, EUA), atualmente cursa © Programa de Doutorado em Recursos Natu ‘Terrestres na University of Wisconsin, Madison (EVA), com bolsa de estudos da CAPES.

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