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SUMARIO APRESENTACAO \atica de assentamentos construtivos CAPITULO 1: Adequacao cule 2: Compreendendo a relacao entre clima e cidade 2.1. Ainfluéncia dos Fatores Climaticos Giobais € Locais Elementos Ciimaticos e 0 Meio Uroano Escalas de Analise Climaticas Uroanas O Canyon Urbano e 0 Fator de Visdo do Céu O Balanco ce Energia Urbano CAPITULO 3: A ilha de calor urbana e os impactos no consumo de energia 3.1. Desenvolvimento do Fendmeno 32 joaoe e Varad sEnca do desenho de assentamentos construtves na qualidade térmica utara e1agdo come elemento de melhona ae qualivade a> CAPITULO 5: A andlise climatica urbana 5.1 O monitoramento urbano 5.2. Teorias e abordagens de andlise do Cima Urbano .. 5.3. AModelagem chmatica nos estudos de clima urbano 5.4 O Confono Termico Uroano CAPITULO 6: Clima @ planejamento urbano: por que € importante obter informagdes sobre o clima? CAPITULO 7: Bioc! REFERENCIAS atologia e Sustentabilidade Urbana .. ee 1 A adequacgao climatica de assentamentos construtivos CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Oclima é um importante fator responsdvel pela variagao das paisagens, pela diversidade biolégica na Terra, pelas diferentes tipologias arquitetnicas, assim como pelos diversos habitos e costumes humanos. Desde a pré-histéria, o ser humano cria novas condigdes de habitabilidade, modificando 0 ambiente construido e natural. Construir com Principios ecoldgicos em harmonia com a natureza foi algo que a humanidade também praticou. As culturas antigas, por exemplo, principalmente as greco-romanas, destacaram-se pela produgdo de espagos criados a partir da captacéo do genius loci, ou seja, do espirito do lugar que Ihe confere o sentido e o significado. O arquiteto Vitruvio, que viveu no século | d.C e inaugurou os conceitos da teoria classiscista da arquitetura, ja destacava que a orientacao adequada das construgdes e dos assentamentos proporciona melhores condigdes de habitabilidade do edificio e da cidade. A preocupacao de Vitrivio com o clima e a orientacao dos edificios resultou em um dos escritos mais antigos sobre 0 assunto. No seu tempo, a preocupa¢ao com a higiene e o conforto veio modificar mais ainda o tragado da cidade romana, sugerindo que as ruas pequenas ou vielas fossem orientadas no sentido de conter os desagradaveis ventos frios e os infecciosos ventos quentes. Historicamente, as cidades gregas eram implantadas em fungao do Sol, de modo que as suas edificagdes pudessem estar voltadas para ruas orientadas a leste - oeste. Os romanos, do mesmo modo, garantiam, Gianna Melo Barbirato. Léa Crsting Lucas de Souza e Simone Camauba Torres A atraves de leis, como o Codigo de Justiniano, 0 direito ao acesso e aquecimento pelo sol. Em assentamentos primitivos proprios dos climas quentes € secos do mundo islmico, 0 tragado de ruas estreitas € massa edificada formada por estruturas de varios andares ao longo das mesmas mostravam a resposta inteligente & necessidade de sombreamento nesse tipo de clima. Na cidade medieval encontram-se varios elementos que demonstram adaptagao ao clima e ao lugar. © morador medieval procurava prote¢ao contra o vento do inverno, evitando a construgao de tuneis de ventos, tais como a rua reta e larga. Além de estreitas e irregulares, as ruas medievais apresentavam curvas abruptas € interrupgdes, becos sem sal ida, para quebrar a forca do vento. A relagdo entre habitat e meio ambiente sempre ajudou o homem, ao longo da historia, a refugiar-se contra a inconstancia do meio climatico, geografico e natural. Neste sentido, a arquitetura vernacula que utiliza conhecimentos empiricos transmitidos por geragdes, fornece inumeros exemplos da construgao do abrigo humano em perfeita harmonia e adaptacao com o meio, reunindo formas de expressao e conteUdo determinadas também pelas atividades sociais e culturais (ilustragao 1.1). Com base nesse contexto, a arquitetura pode ser entendida como uma concretizagdo do espago existencial a partir do relacionamento do homem com 0 meio em que vive (ilustragao 1.2). a) b) ¢) llustragao 1.1 a)habitagao vernacula ‘em Swaziladia, Africa (Foto: Madaiena Zambi); b) Exemplo de assentamento vernaculo clima arido, Fortaleza Ushiss Capadocia, Turquia; c) Via estretae sombreada em cidade de clima quenlé @ seco,Antioquia, Turquia (Fotos. Elon Lopes Camatba) CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Materiais que o jo natural — meio fornecee Solo e cima ™ condigées fisicas regionais Influéncia Geografica sobre a Genero da vida Momento cultura — historico Homem. lustragao 1.2: Influéncias do meio natural e humano sobre o ambiente construido. Fonte: adaptado de Castro (1987, p. 85) 44 O termo “arquitetura bioclimatica” surgiu na década de 60 do século XX, a partir de pesquisas de Aladar e Victor Olgyay (OLGYAY, 1998). Consiste na adequada e harmoniosa relagéo entre ambiente construido, ima e seus processos de troca de energia, tendo como objetivo final o conforto ambiental humano. Mais do que parte do movimento ecolégico mundial que se seguiu posterior, 0 bioclimatismo é uma das concepgdes que mais reforcam e contribuem para a eficiéncia térmico-energética de um edificio. A bioclimatologia trata da relagao entre o usuario e as condigdes imaticas, de modo que a arquitetura torne-se um “filtro” das condigées Gi Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Carnatiba Torres jana , Gann teri , (o.cvay, 1998) foi utilizado para designar a arquitetura em harmonia com o meio natural. Em quase todos os climas, quando o rigor climatico nao é extremado, € possivel o condicionamento natural, através de técnicas seletivas de adequa¢éo ambiental ou conservativas de energia natural. Estas técnicas podem tornar os ambientes mais frescos nas épocas mais quentes e mais agradaveis nos dias frios, especialmente para programas arquiteténicos que nao requerem cuidado especial com a climatizacgao artificial dos ambientes. Por outro lado, sabe-se que a refrigeracao e a calefacao sao solugdes bastante eficazes para climatizagao interior, mas sao dispendiosas e podem tomar o ambiente insalubre. Por essas razées, é importante levar em consideragdo os aspectos climaticos no processo projetual, desde a primeira fase de concepcao, de modo que se obtenham ambientes confortaveis, salubres e com baixo consumo de energia. Para o controle natural dos ambientes Na concepgao de projetos, é importante conhecer os fatores externos, ou seja, o clima de onde se esta projetando. Assim, os €spacos construidos poderao amenizar as condigdes externas, se desfavoraveis, Proporcionando ambientes confortaveis e favoraveis a realizacao de atividades pelos seus usuarios. Uma arquitetura baseada na conservacao de energia pode ser Confortavel, além de menos dispendiosa que lores, com a adequada envoltéria, O termo ‘projeto biocli nates! llustragéo 1.3: Exemplos de adaptagao climatica de construgées: a) Edificacaoem clima quente e seco, Mesquita do sult Ahmet, em Istambul, Turquia (Foto: ione Lopes Carnaiba); b) Arquitetura Colonial ‘em Ouro Preto-MG CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS a arquitetura “convencional’, baseada no uso de equipamentos mecdanicos para resfriamento, aquecimento ou necessidade de iluminagdo (Iluatragao 1.3). Exemplos significativos de resposta arquitet6nica frente as diferentes solicitagdes climaticas estéo presentes nas construgdes vernaculas e regionais, exemplos de equilibrio térmico entre o abrigo e o ambiente. No Brasil, correspondem, entre outros exemplos, as casas ribeirinhas do vasto territorio amazénico, aos alpendres paulistas, as casas de taipa e palha do \itoral nordestino, as varandas mineiras ou as residéncias em madeira, pedra e tijolo da serra gaticha (ilustragdo 1.4). a) Da mesma forma, a arquitetura dita “regional’, é uma resposta a indiferenga da “intemacionalizacao da arquitetura” aos valores Culturais, esteticos e climaticos de uma regido. Apesar de ser ainda bastante discutida, é, sem duvida, uma leitura eficiente da cultura de uma regiao, resgatando muitas vezes técnicas construtivas e tipologias tradicionais, traduzindo-as para um repertorio atual (Ilustragao 1.5). O regionalismo é destacado na arquitetura de Severiano Porto, em Manaus. A Residéncia Robert Schuster na floresta, aberta ao vento, é feita com processos construtivos artesanais, utilizando-: -se de material llustracao 1.4; Exemplos construgées obtido no local — madeira para estrutura, vedagao e cobertura. O partido paises eon Cueiaray aes arquitetonico fica condicionado a redugao da area destinada a construgao em madeira Serra Gaticha, c) Casa com Para evitar a remo¢ao de arvores e a abertura de grande clareira, que varandas, litoral de Alagoas. Possam ocasionar a queda de arvores pela quebra do equilibrio existente na | b) 13 x rv Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres ———— a possuem somente raizes superticiais floresta amaz6nica, onde as arvores (ROVO; OLIVEIRA, 2004). No contexto urbano, o projeto e planejamento do sitio e da configuragao do tecido urbano afetam e tem um importante impacto na resposta das edificagdes frente ao clima. No tropico umido, algumas comunidades, beneficiam-se da necessidade de resfriamento pela ventilagao natural, com o afastamento entre edificagdes e uso de vegeta¢ao alta, que nao obstrui o fluxo de ar no nivel das construcées. Atualmente a adaptagéo dos assentamentos humanos a partir das condigdes climaticas nao tem sido observada facilmente. A Revolucao Industrial trouxe o desenvolvimento tecnoldgico, o crescimento Populacional e a urbanizagao. Entretanto, do ponto de vista ambiental, estes fatos implicaram na degradagao do meio natural, decorrente tanto do processo de obten¢ao de matéria prima - desmatamentos, escavacées - como do processo de sua transformagao - poluigdo das aguas por despejos industriais, aumento da temperatura devido aos adensamentos urbanos Provocando 0 aparecimento de “ilhas de calor”, etc. Todos estes exemplos tém conseqiiéncias graves sobre a qualidade de vida e podem nao ficar festritos apenas ao local de ocorréncia. llustragdo 1.5: Exemplo de construgses adequadas ao clima em Vilankulos, arquipélago em Mogambique. A urbanizagao pode ser caracterizada Pelo aumento das unidades de habitag4o humana, atrelado a um Malor consumo energético per capita e extensa modificagéo na Palsagem, de modo a criar um sistema que en CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS- fence nado depende, especialmente, dos recursos naturais locais para subsistir (McDONNEL; PICKETT, 1990). A urbanizacao excessiva também é responsavel pelo contraste de padrées de vida dentro das cidades e entre assentamentos urbanos e rurais (BROWN; JACOBSON, 1987). A escassez de terra e agua, © uso ineficiente de energia e os problemas resultantes da poluigdo contribuem para o aumento do custo ecoldgico e econdmico de suporte das cidades modernas. Os problemas ambientais decorrem, enfim, do impacto dos assentamentos humanos sobre o meio natural, em face disso, a urbanizagao € as quest6es ambientais sempre deveriam ser examinadas e tratadas de forma integrada. Por outro lado, é inegavel que apesar de todos os prejuizos ecologicos e especialmente sob 0 ponto de vista de higiene, satide e oportunidades culturais, os moradores das cidades vivem mais e melhor que os moradores do campo. Certamente, 0 cuidado com a sade, educacao e outros itens so mais facilmente providos pelas populagées urbanas do que pelas rurais. Historicamente, até 0 inicio do século XX, a relacao do meio ambiente com os assentamentos humanos era vista de forma nostalgica. A natureza era encarada nao pelos seus aspectos dinamicos e interativos, mas unicamente como paisagem. Da mesma forma, a qualidade do meio ambiente urbano significava um mal a ser reparado exclusivamente pelo desenvolvimento 415 | a 16 ana Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camauba Torres — $$ tecnolagico. Consequentemente, os problemas ambientais das cidades eram resolvidos através de sclugdes técnicas de carater imediato. Entretanto, essas solugdes técnicas logo demonstraram suas imitagdes frente aos problemas ambientais urbanos, levando as discussdes desses processos para outras areas - a economica, @ social e a politica. A idealizada Cidade Jardim de Ebenezer Howard continha conceitos presentes em numerosos planos e projetos, como “suburbios jardim”; “bairros jardim” e “cinturdo verde’. Constituiuse em uma tentativa de harmonizar a natureza e meio construido, ao mesmo tempo em que buscava aliar os condicionantes do lugar como parametro de desenho. Da mesma forma, Robert Owen em 1817 e Charles Fourier em 1843, desenvolveram igualmente modelos tedricos considerados pouco sustentaveis hoje, ja que exigiam elevado custo manutengdo energética e de infra-estrutura, além de grande quantidade de trafego (HIGUERAS, 2006). E com o enfoque ecolégico mais uma vez posto de lado, continuou a visdo inerte, estatica e limitada da natureza, demonstrada até mesmo nas tentativas complexas dos planejadores da segunda metade do século XX. Certamente os arquitetos do movimento moderno demonstraram Preocupacao com a correta insolagao nos edificios e em melhorar as condigées iénicas e sanitarias do meio urbano e edificagdes. La Cité Radieuse, de Le Corbusier em 1930, era densa, com espacos verdes, tipologias de edificios- CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS oO CRRAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS torres, amplas avenidas mas trazia embutida uma forte segregacao espacial (HIGUERAS, 2006). Enfim, a dificuldade de se encarar o planejamento urbano com as quest6es vitais da qualidade do meio ambiente nas cidades ainda persiste, embora haja algum reconhecimento, por parte dos planejadores e cidadaos em geral, da importancia desse enfoque. Hoje, a preocupacao com a qualidade do meio ambiente, em particular com o impacto dos assentamentos humanos sobre o clima urbano é motivo de inumeras investigagées, ja que se dispde de uma gama de conhecimentos, legislagao e avango tecnolégico que permitem auxiliar nessas questées. Alem disso, as pesquisas recentes sobre clima urbano enfatizam que a qualidade ambiental das edificagdes depende fundamentalmente da qualidade ambiental urbana, portanto, esse aspecto deve ser considerado nos estudos consolidados relacionados a conforto e desempenho de ambientes (SANTAMOURIS,2001; STATHOPOULOS, 2004). No entanto, as discuss6es ainda nao tém permitido solucionar a grande questéo ambiental que é 0 processo de urbanizacao. Nesse contexto, é importante ressaltar que qualquer intervengdo no meio urbano pressup6e, como recurso indispensavel ao planejamento, a investigagao climatica, pois, a forma de ocupacdo e crescimento das cidades gera mudangas ambientais e conseqliéncias inquestionaveis no meio natural, especialmente no clima. 17 a 18 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Carnauba Torres Amassa construida das cidades (edificagdes, pavimentagao) produz alteragoes na paisagem natural, resultando em inumeros microclimas. © fenémeno de “ilhas de calor’ (e ilhas frias coexistentes, devido ao sombreamento de edificios altos), ja bastante estudado, tornou-se sindnimo da propria climatologia urbana. Por outro lado, a urbanizagao dos paises tropicais nao foi consequéncia direta da industrializacao, mas o resultado da migragdo de areas rurais (na forma de um crescimento rapido e desordenado até os dias de hoje), tornando mais dificil o suprimento das necessidades basicas de habitagao, saneamento basico, alimentagao, entre outros. Tudo isso resultou, entre outros fatores, na degrada¢ao do ambiente urbano e com consequéncias importantes para a eficiéncia ambiental das edificagdes. O ambiente urbano, portanto, configura-se como o resultado da interagao humana sobre o espaco natural, e por defi ligao, esta inserido na categoria de espaco adaptado. Mas, torna-se claro que as alteragdes no ambiente nem sempre atendem aos fequisitos de um “habitat” adequado as necessidades biofisicas do ser humano. Os efeitos negativos decorrentes da nao adaplacao das estruturas edificadas ao meio natural e as caracteristicas climaticas preocupam a todos que se relacionam profissionalmente ao mei urbano: urbanistas, m gedgrafos, médicos, ecdlogos, bidlogos ete. Desta forma, os estudos sobre clima urbano sao de extrema importancia para 0 entendimento dos processos e fendmenos que definem a qualidade CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS ambiental urbana. No contexto dos climas tropicais de baixa latitude, estima-se que ainda existe muito a descobrir sobre o estado da atmosfera tropical e seus Processos fundamentais. A maiona dos trabalhos sobre climas tropicais ainda baseia-se unicamente em dados de estagdes-padro jé existentes, localizadas frequentemente em areas suburbanas de aeroportos, e que raramente so \deais para o monitoramento urbano. Dessa forma, os pesquisadores ainda no podem contar com uma rede meteorolégica densa, e isso inclui ainda escassez de equipamentos apropriados para estudos adequados da camada limite urbana Nesse contexto, o desenvolvimento das pesquisas sobre clima urbano pode auxiliar o planejador urbano quanto a possibilidade de trabalhar alternatives de organizagao dos espacos urbanos. fundamentadas nao apenas em crténos técnicos € de desenho, mas também com énfase em enitérios ambientais, entre os quais, o de conforto térmico dos ambientes urbanos. 19 2. Compreendendo a_relagao entre clima e cidade O clima € 0 resultado dinamico de fatores globais (latitude, altitude, Continentalidade, etc), locais (revestimento do solo, topografia) e elementos (temperatura, umidade, velocidade dos ventos, etc) que dao fei¢aéo a uma certa localidade. E a integragao dos estados fisicos do ambiente atmosférico (tempo), caracteristico de certa localidade geografica, de modo que nao ha dois climas rigorosamente iguais (KOENIGSBERGER, et al, 1977). E a feigao caracteristica e permanente do tempo, constante e previsivel. Adequar 0 ambiente construido ao clima de um determinado local significa construir espagos que possibilitem ao homem melhores condigdes de conforto, alem de permitir a valorizagao dos aspectos culturais, sociais e ambientais das diferentes regides que compdem o planeta. A definigao do tipo de clima € baseada no levantamento das caracteristicas da atmosfera inferidas de observagdes durante um longo periodo, abrangendo um numero significativo de dados referentes as principais variaveis climaticas. Dentre os elementos do clima, pode-se afirmar que os que mais afetam © conforto humano sao a temperatura do ar e a umidade do ar, sendo a radiagao solar e a ventilagdo, os fatores climaticos mais representativos no processo (GIVONI, 1976). Atribui-se, portanto, aos elementos climaticos, a qualidade de definir e fomecer os componentes do clima, € aos fatores climaticos, a qualidade de condicionar, determinar e dar origem ao clima (ROMERO, 1988). Os chamados fatores locais introduzem variagdes no clima condicionando, determinando e 21 ¥ Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres — _———<—$$ dando origem aos diferentes “microciimas” verificados em ambientes restntos ‘como um bairro ou uma rua. Desta forma, o clima de uma area é composto pelos fatores climéticos, globais € locais, e pelos elementos climaticos. Nas estagdes meteorolgicas, sao registradas comumente, na forma de tabelas ou graficos, as seguintes variaveis climaticas: temperatura do bulbo seco, umidade (absoluta ou relativa), movimento do ar (velocidade e diregao), Precipitagao (em mm por unidade de tempo — dia, més, ano), nebulosidade (em fragao do céu - em oitavas); durag4o da luz do sol, radiagao solar. As condigdes climaticas externas sao determinadas através de analise estatistica de dados climaticos de séries histdricas longas (30 anos — normais Climatologicas). No projeto arquitet6nico, graficos climaticos e cartas solares sao bastante Uteis para analise. Conhecendo-se o comportamento dessas variaveis, pode-se obter um primeiro diagndstico de seu clima e das principais estratégias de projeto. A escolha das estratégias deve ser feita em funcdo do tipo de clima e do tipo de edificagao. Pode-se definir tempo (estado essencialmente varidvel) como estado atmosférico em um determinado momento, considerado em Telagao ao comportamento dos elementos climaticos: temperatura, umidade e ventos. Ja a defini¢éo de clima (estado constante e previsivel) esta relacionada a feicao caracteristica e permanente do tempo, num lugar em meio a suas infinitas variagdes (MASCARO, 1996). Oo! CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS 2.1 A influéncia dos Fatores Climaticos Globais e Locais Dentre os principais fatores climaticos globais destacam-se a radiagdo Solar, a latitude, a altitude, os regimes dos ventos e as massas d'égua. A seguir Serdo descritos as principais caracteristicas destes fatores e sua relagao com © macroclima. A Radiagao Solar é uma energia eletromagnética, de onda curta, emitida pelo sol sendo parcialmente absorvida pela atmosfera terrestre. A intensidade da radiagao solar varia em fungao das atividades solares e da distancia da Terra ao Sol. O curto comprimento é divido em trés escalas: a ultravioleta, <0,4um; a visivel, 04a 0,76um, e a infravermelha, >0,76um (1 um corresponde a 1 micrémetro sendo equivalente a 10*m). O oz6nio absorve a maior parte dos raios ultravioleta e aqueles de menor comprimento de onda, fazendo com que apenas uma pequena Parcela chegue a superficie da terra. Os vapores d'agua e 0 diéxido de carbono absorvem grande parte dos raios infravermelhos, reduzindo sua carga térmica. A parcela de tadiagao restante é absorvida pelas superficies terrestres e reemitidas ao meio sob forma de ondas longas, produzindo um aumento da temperatura do ar. Tal reemissdo varia segundo 0 albedo de cada superficie, isto é, segundo a capacidade de reflexao da radiag4o incidente pela superficie. Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatiba Torres temperatura do globo, Quanto maior a altitude do sol llustragao 2.1), mais concentrada sera a intensidade da radiagao por unidade de area € menor sera o albedo. A altura solar (Angulo entre seus raios e uma tangente a superficie no ponto de observacao) é determinada pela latitude do local, pelo periodo do dia e pela estacao. NY llustrago 2.1: Localizagao da posigao do sol: Azimute (A), altura (ALT.). Fonte: adaptado de Bardou; Arzoumanian (1984, p.20) TS Aire s{_ N L A latitude é a distancia contada em graus da linha do equador, no sentido Norte e Sul, de 0° a 90°, medida pelos paralelos. Possui influéncia CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Principal no controle sobre a quantidade de insolagéo que um determinado local recebe (ilustracao 2.2), A radiagao solar diminui com 0 aumento da latitude ocasionando o aquecimento diferenciado no globo terretstre. Dentre outras consequiéncias, faz alterar a pressao atmosférica, diminuindo nos tropicos, onde o ar aquecido tende a subir, resfriando-se a grandes alturas e deslocando-se Para zonas mais frias. Os valores maximos de temperatura do ar ndo so encontrados no equador, e sim nos tropicos. Os fatores que contribuem Para esse fendmeno 80 os seguintes (MASCARO, 1996) wmessrrcecms « Amigragao aparente do sol no zénite é relativamente rapida durante sua passagem pelo equador, mas sua velocidade diminui a medida que se aproxima dos trépicos; Entre os 6°N e os 6°S os raios do sol permanecem quase verticais run A. / 4y “/ / C durante apenas 30 dias dos equindcios (significa “dias iguais", com 7 Z uma distribuigdo simétrica de radiagao solar para os dois hemisférios, . correspondendo as estagdes de outono e Primavera), ndo havendo Coseey = Aear>intay tempo para armazenar calor na superficie e Originar altas temperaturas. Hlustragao 2.2: Influéncia da latitude na intensidade da radiagao solar incidente. , Fonte: adaptado de Bardou; Arzoumanian : Aaltitude Corresponde a elevacao de um ponto acima do nivel do mar, (1984, p.19). tendo influéncia direta na temperatura do ar, pois, aumentando-se a altura, o ar 25 incuyo 0 mnctDeNcIA ° cose=y¥ AREAZ>AREAY 7 _INTENSIDADE Z < INTENSIDADE ¥ Hustragao 2.2: Influéncia da latitude na intensidade da radiagao solar incidente. Fonte: adaptado de Bardou; Arzoumanian (1984, p.19). aeeeerneee cece cea e cee ee hae eRe Eee se® Souza e Simone Carauba Torres nna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de lidas e liquidas. S20 justamente estas lares e as difundem aumentando a estara menos carregado de particulas s particulas que absorvem aS radiagdes SO! temperatura do ar. / , O gradiente termométrico do ar 6 de aproximadamente 41°C para cada 200m de altura, com pouca variagao em relacao a latitude e as estagdes (ROMERO, 1988). O regime dos ventos é det atmosfera, que tendem a igualar 0 aqueciment do globo terrestre. A diferenga de pressdo, ou de temperatura sfera, gera um fluxo de ar, que se desloca das regides mais frias (alta ), para as regides mais quentes (baixa pressao — ciclone) erminado pelas correntes de convecgao na to diferencial das diversas zonas entre dois pontos da atmo: pressao — anticiclone, = (ilustragao 2.3). Aproporedo entre as massas de terra e os corpos de agua produz um impacto caracteristico no clima, pelo amortecimento das variagées térmicas, aumento da umidade do ar, alteragao de pluviosidade e a indugao de brisas locais. As massas de agua, especificamente, possuem um consideravel efeito estabilizador, contribuindo para a redugdo de temperaturas extremas diurnas e estacionais Gevido a diferente capacidade de armazenamento de calor em relagao as massas de terra. Isso ocorre Porque os corpos d’agua apresentam llustragao 2.3: Padrao de circulagao do vento na atmosfera. Fonte:adaptado de Koenigsbergeretal (1977, p.32) CLIMA E CIDADE A ABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS uma capacidade de armazenamento de calor significativamente maior do que 9 solo, exercendo um importante papel de volante térmico, formando correntes de convecgao (NASCIMENTO, 1993). Algumas pesquisas comprovaram que quanto maior as distancias das amostras de uso do solo das grandes massas de agua, maiores sao as amplitudes termicas (SAMPAIO, 1981) Apresenca de compos d agua tem participagao relevante na modificagao. do efeito do aquecimento nas cidades, devido as grandes diferencas no balango energetico entre superficie urbana e superficie de agua (DUFNER et al, 1993). Em padrdes diferenciados de uso do solo, a proximidade do oceano assume importancia sobre as variagdes de temperatura na cidade (SAMPAIO, 1981). E evidente, ainda, o efeito positive de massas dagua em areas urbanas No microclima de areas vizinhas, methorando a qualidade climatica dessas Tegides (MURAKAWA: SEKINE: NISHINA. 1991). As brisas que sopram do mar podem ser desviadas por acidentes topograficos, provocando a sotavento uma regiao arida, como acontece no sertao istragao 2.4). 27 28 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres SERTAO + CoroiHeiRA ~——[~AGRESTE | LITORAL llustragdo 2.4: Deslocamento e desvio de massas umidas: falta de chuva no sertdo, Fonte: adaptado de Romero (1988, p.30). ‘Além da influéncia dos fatores climaticos globais, é importante destacar que 0 macroclima, ou até esmo o mesoclima de determinada regido, pode ser fortemente influenciado pelos fatores climaticos locais como a topografia e os tipos de revestimento do solo. A topografia influencia na redu¢ao de temperatura, quando ocorrem mudangas na elevagao e orientacao do sitio, devido a diferenga de radiagao solar incidente. Um relevo acidentado pode, também, atuar como barreira a ventilagao modificando, muitas vezes, as condigdes de umidade e de temperatura do ar em escala regional (ilustragao 2.5 € 2.6). (© zona ae 30 © zona de alta pressio Hustracao 2.5: Efeitos do relevom incidéncia dos ventos predominates = posicoes privilegiadas ¢ desprivilegiadas de assentamentest partir de diferentes conformagées relevo. Fonte: Oke (1999, p.183) © zona de baixa pressao @ zona de alta Press4o llustragdo 2.5: Efeitos do relevo na incidéncia dos ventos predominantes ~ Posigées privilegiadas e rivilegiadas de assentamentos a Partir de diferentes conformagées de relevo. Fonte: Oke (1999, p.183) desp CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS encosta (acima) ina (olantay lencosta (abaixo) llustragdo 2.6: Efeitos do relevo na incidéncia dos ventos predominantes ferentes conformagées de relevo. Fonte: Oke (1999, p.185) Alguns estudos sobre o efeito da urbanizagéo no aumento da temperatura da cidade, comprovam que o posicionamento do sitio dos recintos urbanos pode resultar também em beneficios para a qualidade térmica dos assentamentos urbanos. Uma pesquisa realizada na cidade de Salvador — BA, baseada na analise de diferentes bairros, como o de Sao Pedro, de uso predominante de comércio e servicos, possuindo edificios altos, com uma taxa de ocupag&o do solo na ordem de 73%, constatou que este bairro nao obteve altas elevagdes de temperatura. Ou seja, a posi¢ao privilegiada do sitio no qual se assenta o respectivo bairro, facilita sua exposicao a ventilagdo predominante, amenizando as suas possibilidades de armazenar calor nas massas edificadas (SAMPAIO, 1981). No Deserto do Colorado, nos E.U.A, 0 povo de Mesa Verde construiu suas habitages protegidas do sol pelas encostas de pedra, sombreando as habitagdes no verao quente e seco. No inverno, quando a inclinacdo do sol é mais baixa, os raios solares atingem as edificagdes aquecendo-as durante odia. Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatiba Torres Gianna Melo Barbirato, Os revestimentos do solo podem ser massas d’agua, oopera vegetal ou revestimentos artificiais de urbaniza¢ao, que apresentam implicagoes climaticas de cardter local. As massas d’agua, como ja exposto anteriormente, funcionam no amortecimento e diferenciagao das variacoes térmicas, provocam aumento de umidade, alteragao de pluviosidade e indugao de ventos locais (ilustragao 2.7). A cobertura vegetal quando por florestas tropicais, afeta oclima de grandes regides, provocando a diminui¢éo da temperatura média local e reducdo da amplitude térmica, diminuindo a absorgéo de calor e aumentando a umidade relativa. A taxa de umidade do solo é diretamente proporcional a sua condutividade térmica. O solo pouco umido absorve rapidamente o calor incidente durante o dia, liberando-o 4 noite e provocando uma elevada x amplitude térmica. Através da ilustragao 2.8 pode-se observar que os diferentes tipos de revestimentos e materiais urbanos possuem albedos diferenciados. Desta forma, verifica-se que a qualidade térmica dos recintos urbanos também sera fortemente influenciada pelas propriedades termo-fisicas dos materiais llustragao 2.7: Brisas do mare de ters durante o dia e durante a noite. CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS _ lustragao 2.8: Valores de albedo de diferentes materiais e superficies urbanas contribuindo para um aumento da temperatura do ar (expresso pelo albedo, absorgao e emissividade). 2.2 Os Elementos Climaticos e o Meio Urbano Os elementos imaticos - especialmente a temperatura, umidade, radiagéo, 0 movimento do ar (ventos), nebulosidade e chuvas - sofrem influéncia do ambiente urbano. Esses elementos atuam de forma integrada, influenciando-se mutuamente. A temperatura do ar é resultante do aquecimento e resfriamento da ie da terra, por processos super iretos, ja que o ar é transparente a radiagao solar. O balango térmico da superficie terrestre é constituido por fendmenos como evaporaco, conveceao, condugao e emissao de radiagao de ondas longas. Na cidade, a temperatura do ar € geralmente maior do que na area tural circundante, tanto que na literatura especifica, a cidade é tratada como uma ilha de calor. Varios estudos e pesquisas tém constatado essa diferenga comprovando o registro de media de temperatura anual de 0,5°C a3°C amaise umidade relativa 10% menos em relagao ao meio rural, principalmente em dias de uso de aquecimento da cidade com equipamentos de climatizagao artificial (LANDSBERG, 1997). eh 32 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatiba Torres usado para descrever a quantidade de vapor ™~ Aumidade é 0 termo ido na atmosfera. Embora 0 vap atmosfera, ele 6 o componente atmosférico mais importante fo clima, por ser a origem de todas as formas de er tanto a radiagao solar quanto a d’agua con! or d’dgua represente apenas 2% da massa total da na determina¢ao do tempo e de condensa¢ao e precipitacao, além de absorve terrestre, exercendo um grande efeito sobre a temperatura do ar, constituindo- se um fator determinante da sensa¢ao de conforto térmico humano. Ha varias maneiras de medir 0 contetido de umidade da atmosfera: umidade absoluta, umidade especifica, indice de umidade, temperatura de ponto de orvalho, umidade relativa, pressdo de vapor’. Destas, a umidade relativa é a mais usada, e indica 0 grau de saturagao do ar (%). E fortemente influenciada pela temperatura do ar, sendo inversamente proporcional a esta Apesar da maior quantidade de vapor presente na atmosfera urbana em fungdo das atividades antropogénicas, a umidade relativa 6 menor na cidade, em torno de 6% em média (LANDSBERG, 1997), se comparada com 0 campo, devido ao incremento da temperatura urbana. * Umidade absoluta representa o peso de vapor d'agua por unidade de volume de ar expressa em gramas por metro cibico de ar (gim"): Umidade relativa: porcentagem da quantidade de vapor agua existente no are 2 quantidade maxima que esle pode conter nas mesmas condicoes de temperatura pressao quando saturado (%a); Umidade especifica’ indica 0 peso do vapor d'agua Por unidade de peso de ar (g/kg); Pressao de vapor: pressao global decorrente do vapor d'agua (rmming) CLIMA E CIDADE A ABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS A diminuigéo da umidade relativa do ar nas cidades é uma Caracteristica importante do clima urbano. A maior quantidade de superficies impermeabilizadas nas cidades provoca o rapido escoamento das aguas de chuva e reduz 0 indice de evapotranspiragao. E importante observar que apesar das 4reas urbanas provocarem iminuigéo da umidade, podem também incrementaé-la por processos iberadores de vapor d’agua (combustdo). Em climas quentes e secos, o incremento do teor de umidade do ar é importante, e pode ser alcangado através de estratégias projetuais que incluam, no recinto urbano, agua e vegetacao (ilustragao 2.9). A radiagao total nas superficies horizontais de uma estrutura urbana é cerca de 10 a 20% menor que em um arredor rural proximo. Da mesma forma, a dura¢ao da insolagdo é estimada entre 5 e 15% menor istra¢ao 2.9: Exemplo de utilizacao (LANDSBERG, 1997). Essas condigdes dependem, fundamentalmente, de componentes com agua (fonte) para qa latitude do local e das condigées do sitio urbano (montanhas, serras, bareamerctes SSA el grandes formagées rochosas, etc.). Em escala microclimatica, a massa Foto: Elione Lopes Carnauba. edificada urbana modifica a duracao da exposi¢éo nos espagos, provocando sombreamento do solo, sobre si mesmo, ou em outros edificios. O movimento do ar é resultado das diferengas de pressdo atmosférica verificadas pela influéncia direta da temperatura do ar, deslocando-se s Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza € Simone Carnauba Torres horizontalmente e verticalmente. O movimento horizontal e diferengas de tempt perfil de temperatura. No centro urbano, a velocidade do vento é mais baixa que nos arredores. O ar tende a se mover mais devagar proximo ao solo e aumenta a sua velocidade com a altura. Alem do mais, o vento, ao chegar na cidade, pode mudar de diregdo, ao seguir os tuineis criados pelas ruas com edificagdes altas em ambos os lados, ou ao incidir em edificagdes perpendiculares a dire¢ao original do vento. A diminuigéo da velocidade do vento esta relacionada a rugosidade da superficie edificada na cidade. Contudo, em alguns casos, a configuragao de vias e edificios pode acelerar a velocidade do vento urbano - efeito de canalizacao de ruas, efeito de pilotis, desvio do fluxo de ar até o solo por edificios altos (Ilustragao 2.10). A turbuléncia criada pelas edificagdes e tragado vidrio modifica a diregao dos ventos na cidade. Pequenas brisas podem, ainda, ser formadas a partir dos contrastes de temperatura entre diferentes setores dentro da rea urbana. Aconvergéncia de fluxos de ar, da periferia ao centro, quando o vento fegional esta fraco ou em calmaria, denomina-se brisa urbana. Surge a partir st relacionado as eratura da superficie terrestre, e 0 movimento vel ical, ao Hustragao 2.10: Efeito da turbuléncia e formagao de sombras de ventoen diferentes posicionamentos da mass icada. Fonte: Oke (1999 pp. 265. llustragdo 2.10: Efeito da turbuléncia e formagao de sombras de vento em diferentes posicionamentos da massa edificada. Fonte: Oke (1999 pp. 265). CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS eee ea eao ee eee coe ee do estabelecimento de um gradiente horizontal de temperatura, e quando a lha de calor (denominagao atribuida ao maior aquecimento das cidades em relacao a sua area periférica ou rural) apresenta-se bem desenvolvida. O ar mais fresco, ao chegar a cidade, reduz temporalmente a intensidade da ilha de calor. Cria-se, assim, um sistema de circulacao local, de modo que 0 ar mais fresco procedente do campo ou da periferia dirige-se ao centro urbano, de onde ascende, para retornar ao campo, onde, Esse fendmeno é, em geral, intermitente. mais frio, descende novamente. 35 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres ie Efeitos Principios de Controle Efeito Pilotis: fendmeno de corrente de ar sob 0 edificio. A entrada de ar se faz de forma difusa, mas a saida 6 a jato, Orientagao paralela ao vento predominante; base dos edificios com vegetagao ou construcdes; aumento da porosidade do edificio. Efeito Esquina: fendmeno de corrente de ar nos Angulos das construcées. Arredondamento dos cantos, adensamento com vegeta¢do ou construcdes proximas. Efeito Barreira: fendmeno de corrente de ar com desvio em espiral Barreiras ortogonais com pelo menos duas vezes as alturas dos edificios; espagamento adequado entre construgdes Efeito Venturi: fenémeno de corrente formando um coletor dos fluxos criados pelas construgdes projetadas em um Angulo aberto ao vento. Efeito de canalizagao: fendmeno de Corrente de ar que flui por um canal a céu aberto formado pelas construgdes Adensamento do entorno, abrindo ou fechando 0 Angulo critico; Tracado urbano sob incidéncia entre 90° e 45°; afastamento das construgdes; espacamento entre : 4 es Barreira Quadro 2.1: Efeitos aerodindmicos do vento. Fonte:adaptado de Romero (1988) Venture vA canalizagao CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Area rural = Area A sree pana Area urbana Th ani) Altura (m) 100) UeBlal WIND SPEED —> llustragao 2.11: Representagao esquematica do perfil do vento em diferentes ambientes, a partir da influéncia do tipo de rugosidade. Fonte: adaptado de Oke (1996). : A rugosidade (Zg) é um parametro que expressa a morfologia geomeétrica da superficie (ilustragao 2.11), cujo conceito significa a medida da Tugosidade aerodinamica da superficie, relacionada, a altura dos elementos, como também, a forma e distribuigéo da densidade destes (OKE, 1996). Assim, * jel A 2, = 0,5) Eq(2.1) Onde: h = altura média do elemento de rugosidade (m), At = area da face do elemento, na diregao perpendicular a do vento (m); A= area ocupada pelo elemento (nm). Através da tabela 2.1, observam-se alguns valores de rugosidade de ies urbanas e a respectiva classificagao destas tipologias na diferentes superf perspectiva do clima urbano. 37 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres Tabela 2.1 - Critérios para um sistema de classificagao urbana ———— CLASSIFICAGAO DE —SITUAGAO—«CONDIGOESDARUGOS. GRAU DE CLIMAURBANO _GEOGRAFICA —SUPERFICIE (2) _—sBSTR—_=ESTR-DACIDADE —— 7 Principalment Areas densamente mx, intensidade de Princip mere ona o15 60% _ construidas alos iha de calor vales edifice Intensidade de itha Conereto, ruas “i Areas densamente de calor mais baixa «(efi comaneres 19 ei) construidas Intensidade de tha Margens de Casas com , . de calor moderada _cidades. indefnida ins «040% —_Eclfcatbes pequenas Clima industrial indefinida a ne 40 60% © Cortedores, produgéo Zonas de ventiaggo Areas de ne 2 Barassiemas de ventlagdodentto 202) <0.5—<10% ——_Ruas, espagos livres Cieulagao regional da cidade eaetare Zonas de ventilacao, Areas de vegetacao Zonas de produydo —arredores. «Campos, verdes. «<0. <10% ‘u agricutura, de ar frio parques Areas te er de Espacoslivesna Superficies 4 0-60% _ Ocorrem em varias iagdo local cidade diversas uras urbana Ateas frias, com apd beet indefinida Vegetagio 05-15 <1p% —-Parques, florestas, Cinturdes verdes, Fonte: adaptado de Katzschner (1997, p52) eee CLIMATICA CON CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Em uma area urbana, os elementos de rugosidade sao principalmente ‘Suas edificagdes, o que torna a cidade a mais rugosa das superficies. Em face da dificuldade de sua medi¢ao para problemas praticos relacionados ao meio ambiente urbano (OKE, 1996), sugerem-se os seguintes valores tipicos para tugosidade em terrenos urbanizados, expressos na tabela 2.2: Tabela 2.2 - Valores tipicos da rugosidade Zg para terrenos urbanizados $$ TERRENO 2, (m) Povoados esparsos (fazendas, vilas, arvores, sebes) 0,2-0,6 ‘Suburbano, baixa densidade, residéncias e jardins 04-12 Suburbano, alta densidade 08-18 Urbano, alta densidade, fileira de edificagdes e blocos com microescala: 102 a 10° m; escala local: 102 a § x 104 m; mesoescala: 104 a 2 x 10° m; macroescala: 10° a 108 m, 55> ~xuer i matiba Torres Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Car Essas duas camadas de influéncia - camada intra-urbana e comada imite urbana - tem extensGes variadas no tempo e no espago e aumentam e diminuem em estilo ritmico, de acordo com o ciclo solar es 7 O ciclo solar diario influencia as escalas de andlise climatica(OKE, 1996).Assim, durante o dia, a camada limite urbana (UBL) pode se estender de 0,6 a 1,5 km enquanto a noite, essas distancias verticais podem alcangar somente de 0,1 a 0,3 km (0 limite da influéncia da superficie terrestre na atmosfera se da em camada abaixo de 10 km, chamada troposfera). Da mesma forma, as condi¢des sindticas influenciam as diferencas locais e microclimaticas. Sob condigdes de céu claro e ar calmo, sao mais evidentes as respostas da influéncia urbana nas condicées climaticas. Andrade (2005) alerta sobre a importancia fundamental, para a Climatologia aplicada, do conhecimento das caracteristicas dos diferentes tipos de tempo, sua frequéncia sazonal e interagdes com as estruturas urbanas. Katzschner (2005) relacionou os niveis de planejamento as escalas climaticas urbanas, no quadro mostrado a seguir (quadro 2.5): livel administrativo Nivel de planejamento Desenvolvimento urbano, Efeitos da itha de calor, plano diretor {rajetoria da ventilagao Tecido urbane Poluigao do ar Projeto do espaco ivre Conforto térmico Efeitos da radiagao e ventilagao Quadro 2.5: Clima urbano e escalas de planejamento, Fonte: KATSZCHNER (20, Questo do clima urbana Escala climatica Cidade 41:25.000 Barro 75000 ‘Quadra 1:2000, Edificio unico 1:50 Mesoescala Mesoescala Microescala Microescala 105, p. 915), Projeto do editicio ~-——— w—___ llustragao 2.14: Representagao da variagao da unidade geométrica - urban canyon ou street canyon. Fonte: adaptado de Oke (1988, p.108) lustra¢ao 2.15: Corte esquematico de um canyon urbano com o volume de ar contido. Fonte: adaptado de Nunez, Oke (1977). CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA, COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS 2.40 Canyon urbano € 0 Fator de Visdo do Céu ; Na camada intra-urbana Ocorrem as trocas de energia que afetam diretamente os moradores da cidade. Essas troca Parte, da natureza da su (GIVONI, 1989). iS dependem, em grande perficie e da forma das diversas estruturas urbanas Partindo-se de uma maneira simplificada de tratar a forma urbana e com Objetivos relacionados a Modelagao climatica, s4o comumente encontrados os termos “urban canyon” ou “street canyon”. Esses se referem a uma unidade geométrica, de natureza tridimensional Correspondendo a um perfil de via urbana de forma retangular, orientado sob um Angulo @. E composto por duas superficies verticais de altura He Por uma superficie horizontal W, geralmente represenlativas das fachadas das edificagdes e da via de circulagao urbana, respectivamente. Como suas dimensdes absolutas nao sdo, normalmente, relevantes, é comum considerar esta unidade como sendo adimensional e caracteriza-la pela razao entre a altura média e a largura do perfil, chamada de relacdo H/W (ilustragao 2.14). Sua profundidade L também por simpl pode ser considerada infinita. icagao, O canyon urbano (ilustragao 2.15) consiste na principal unidade da camada intra-urbana, e refere-se ao volume de ar delimitado pelas paredes eo solo entre dois edificios adjacentes, e as inter-reflexdes produzidas nas superficies que 0 compée, resultando em microclimas particulares dentro do 7 Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Carnatba Torres TT macroclima da cidade. No balango energe' ico do canyon urbano sao importantes a determinagao de fatores como a orientaco, a relagao entre largura das vias e altura das edificagdes e os materiais de construgao utilizados. Alguns estudos, por exemplo, demonstraram, através desta unidade, a interferéncia das edificagdes no fluxo de ar, diminuindo a transferéncia de calor sensivel por turbuléncia (OKE, 1988). Seus resultados am os limites para os quais ocorre mudanga do tipo de fluxo de ar, podendo ser extraidas as seguintes informagées: - As edificagées interferem no fluxo de ar, criando um campo de turbuléncia ao seu redor. Quanto mais afastadas umas das outras, portanto menores H/W, mais isolado se torna o campo de turbuléncia, nao chegando a causar 0 impacto de uma edificagao no fluxo de ar que atinge a outra; - No caso de edificagdes mais préximas entre si, os campos de turbuléncia se interagem; - Amedida que o espagamento entre edificagdes diminui, o fluxo de ar tende a nao penetrar entre elas, formando um campo isolado, que sofre pequeno movimento, Provocado pelo atrito com as camadas Superiores, causando assim uma diminui do na turbulénci G40 Na perda de calor por cu IMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA, COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Damesma forma, considerando-se a relacao HW, pode ser verificado © acesso solar de vias ea Capacidade de absoredo solar devido 4 geometria urbana. O aumento de cerca de 13 a 27% de absorgao ocorre para HW entre 0,5e 20, comparados a um albedo de 0,40 para uma superficie plana (OKE, 1988). O albedo diminui coma latitude e € mais pronunciado em épocas de sol mais baixo (inverno), aumentando com o HM, sendo maior para orientagdes leste-oeste do que Para norte-sul. Por outro lado, pode-se destacar que o albedo é apenas fracamente dependente da latitude (ARNFIELD, 1990) (Tabela 2.4). O aumento de HW provoca o surgimento de superficies refletoras no entorno, Causando um aumento de absor¢ao. Tabela 2.4 - Albedo no topo da camada de cobertura urbana em fungao de HMW, estaco do ano e latitude HAW (Margo! Latitude HAW(Dezembro) Seeaiel HM (Junho) 0,25 4,0 4,0 0,25 4,0 40 0,25 0 40 0°N 013 0.10 0.08 0.13 0.090.060.1310 0.08 20°N 0.43 0.10 0.09 0.43 0.09 0.07 0.13 0.09 0.06 40°N 0.413 0.41 040 0.143 0.10 0.09 0.13 0.09 0.07 60ON 0145 0.45 0.45 043 0.12 0.10 0.11 0.10 0.08 SOON 0.15 015 0.45.3 O42 0.1001} 0100.08 Fonte: Amfield (1990, p.128). Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Carnaba Torres —~=e Aliados a graficos solares, estes perfis urbanos servem ainda como instrumento para andlise do desenho urbano em relagao a largura de ruas e a altura de edificagdes, em fungao do acesso solar ou da promogao de sombreamento. Destaca-se ainda que para cidades tropicais é desejavel a minimizagdo da radia¢ao solar no ambiente urbano e 0 acesso solar pode ser diminuido pelo aumento da relagao H/W (ARNFIELD, 1990). Qutra unidade, sob o ponto de vista climatolégico, que pode ser considerada no estudo da forma urbana, tem como um dos elementos que a compéem, a abdbada celeste. Como o céu apresenta, normalmente, temperaturas mais baixas do que a superficie terrestre, funciona como um elemento primordial no balango de energia, pois recebe as radiagdes de ondas longas emitidas pelo solo terrestre, que conseqiientemente perde calor, diminuindo a sua temperatura. Por isso a capacidade de resfriamento das superficies urbanas esta relacionada a obstru¢ao do seu horizonte, evidenciando a importancia da forma geométrica de uma superficie e de um conjunto de superficies. No ambiente urbano ocorre uma relagéo geométrica entre as Superficies, 0 qual influi na troca de calor por radiacao entre elas e na troca de Calor dessas com o céu. Essa relagdo é um parametro adimensional chamado de fator de visdo do céu. CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Ne cre EnE nnn an neninn ann ITS IAIISISO SISO INSURER nna Quando as condic¢des morfoldgicas observadas, a partir de um determinado ponto da superficie, causam obstrugao do céu, a troca de calor Ocorre entre as superficies, acarretando um actimulo de calor no entorno urbano. Por outro lado, quanto maior a capacidade de visdo de uma superficie Para 0 céu, maior a sua capacidade de resfriamento. Assim sendo, a area de céu visivel a partir de um ponto na superficie terrestre deve ser considerada nas andlises climaticas da forma urbana. Alguns pesquisadores (BARRING, MATTSSON, LINDQVIST, 1985; JOHNSON, WATSON, 1987; OKE, 1981; STEYN, 1980) expressam essa unidade pelo FVC (fator de visdo do céu). Trata-se de um fator que indica uma relacdo geométrica entre a Terra e o céu e que representa uma estimativa da area visivel de céu. Algumas vezes, em fungao do interesse da pesquisa, esta unidade é relacionada com o fluxo de radia¢ao, através de expressées trigonométricas, sendo definida como a razdo entre a radiacao do céu recebida por uma superficie plana e aquela recebida de todo o ambiente radiante. Assim a area de céu toma uma configuragao resultante de limites impostos pelas edificagdes, associada a sua propria forma, aparentemente, arredondada para os olhos do observador na Terra. Na inclusdo desta forma arredondada aparente do céu como elemento da unidade geométrica, SW uba Torres Lucas de Souza e Simone Camaut Barbirato, Léa Cristina Gianna Melo 6 tida como uma superfi ie hemisférica imaginaria sua representagao (llustragao 2.16). ; Emtermos geométricos, qualquer edificagao, elemento ou equipamento urbano pertencente a0 plano do observador representa uma obstrugao a abdbada celeste. Aproje¢ao dessa edificacao na abobada celeste 7 a fragdo do céu por ela obstruida para 0 observador, representa a parte obstruida do fluxo de radiagdo, que deixa o observador, em diregao ao céu. Seu valor numérico é sempre menor que a unidade, pois dificilmente se encontram regides urbanas, que nao apresentem nenhuma obstrugao do horizonte (situagao para a qual seu valor seria igual a unidade). Utilizando-se 0 método de projecao estereografica, os pontos, que correspondem a obstrugdo na abobada celeste, podem ser projetados em um plano horizontal e, assim representada, a area de céu visivel para o ponto de observacao em questado (ilustragao 2.17). abdbad, elses observador v observador = aaa, abdbada aie ‘celeste | [ase \ Mustragdo 2.16: Representagao corte, da abobada celest ono dscerverine isin de poderse 4. projegdo estereogrifica em corte >. projego no plano horizontal 63> llustragao 2.17: Projegao estereografica da area de céu . O Fator de Visio do Céu (FVC) é um recurso que permite estabelecer uma série de Telagdes, que podem servir de instrumento para 0 planejamento urbano. Medindo 0 fluxo de radiagao em varios Pontos de uma tnica via em relagao a diversos fatores de visdo do céu, em Vancouver, pode-se observar que a relacao entre eles é aproximadamente linear (OKE, 1981). A medida que a area de visao do céu diminui, 0 fluxo de radiagao perdido pelo entorno decresce. Confirma-se esta tendéncia através da utilizacdo de um modelo Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatiba Torres de simulacdo para a camada de cobertura urbana, que considera condi¢des noturnas e calmas, sem interferéncias do calor antropogénico ou sazonal da cidade no balango de energia. A estimativa do FVC pode ser feita por processos analiticos (matematicos), por fotografia, por processamento de imagens, Por diagramas ‘ou por graficos. Tanto pelo processo analitico como pelo uso de diagramas graficos, é necessdria uma base de dados angulares relativos as edificagdes existentes no entorno urbano, sendo este, um dos problemas mais constantes neste tipo de pesquisa. No caso de fotografias € processamento de imagens, so necessarios equipamentos sofisticados, devendo-se contar com uma cAmara, com possibilidade de nela ser acoplada uma lente tipo Iho de peixe” lustragao 2.18). Além disso, no caso do processamento de imagem, sao necessérios recursos computacionais apropriados. Para simplificar a determinagéo do FVC, alguns estudiosos desenvolveram um algoritmo de calculo integrado a um sistema de informagées geograficas, capaz de gerar valores de fator de visdo do céu, a partir de arquivos vetoriais (poligonos) representativos da edificagdes da malha urbana (SOUZA; RODRIGUES; MENDES; 2003). Este algoritmo permite obter novas coordenadas cartesianas para pontos que representem os vertices das arestas das edificagdes ou elementos urbanos que compdem a cena. Assim, a area total da malha estereografica pode ser comparada a area obstruida pelos llustragao 2.18 - Fotografia com leit tipo “olho de peixe”. Fonte: Steyn (1980, p.256) CLIMA E CIDADE s. AEORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS Mlustragao 2.19 - Projecao @stereografica de uma canyon gerada no programa 3DSkyView. elementos urbanos & consequentemente extraido o FVC, além de criadas representavies da projecdo estereografica das edificagdes que compdem a canyon. (ilustragao 2.19). 2.5 O Balanco de Energia Urbano O estudo dos processos de fluxos de energia, umidade e massa €m ambientes urbanos permite uma melhor caracterizagao da superficie atmosférica afetada pela urbanizagao. O balango de energia de uma superficie urbana permite um melhor conhecimento do clima urbano e @ representado satisfatoriamente por fluxos de energia através do volume solo - construgées - ar, até uma altura onde as trocas verticais de calor s&o despreziveis para o periodo de interesse (KALANDA; SPITTLEHOUSE, 1980). O balango de energia da superficie constitui o seccionamento da energia radiante absorvida na superficie da terra em fluxos de calor que controlam o clima da superficie, que dependem de diversos fatores como umidade; propriedades térmicas e perfis da temperatura da superficie, da atmosfera e do solo; velocidade do vento; rugosidade da ‘superficie; estabilidade atmosférica; entre outros. ‘ J wt Gianna Melo Barbiralo, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camauba Torres ‘A maioria dos modelos matematicos desenvolvidos, salvo algumas simplificagdes, consideram os seguintes componentes na equacao do balanco de energia ao topo da camada intra-urbana (ilustragao 2.20): Q*+QF =DQS +DQA+QH + QE Eq. 2.2 onde: * Q* = fluxo de radiago liquida, em fungao do albedo”, energia solar difusa e direta, radiagao infravermelha emitida pelo topo da camada intra-urbana e densidade de fluxo infravermelho da atmosfera; QF = fluxo de calor antropogénico (combustao, condicionamento do ar, etc.); « DQS = densidade de fluxo de armazenamento de energia na camada intra-urbana e sol ¢ DQA= adveccao* Hlustragao 2.20 - Fluxos envolvidos QH = fluxo de calor turbulento sensivel, ————— no balango de energia de um volume 3” Signifca a razéo entre a quantidade de radiagao solar refletida por um corpo e a quantidade —_urbano construgao-ar. Fonte: Oke (19%, p.275). incidente sobre ele (OKE, 1996. p.400). A adveceao descreve, predominantemente, o movimento horizontal na atmosfera (OKE, 1996, p. 400). O balango de €nergia é resultado do intercambio de Tadiagdes entre © Sole oar, de f ‘orma que, numa definigao simplificada, representa iferenca entre aS radiacdes recebidas pela super terrestre e-aquela devolvida ao espago, apds as interagées térmicas entre as Superficies © ar. No entanto, a complexidade dessas inter-relagdes é muito grande, Principalmente, quando Considerada a acao humana. a Terra, Ha pesquisas que alcan completo (OKE, 1996). Outras for OU a presenca de qualquer fonte garam a formulagéo do balango de energia rmulagdes simplificadas ignoram a adveccao antropogénica de calor, O termo fluxo de armazenamento de energia calor turbulento no ar, edi icagdes, vegetacao e solo, desi dos telhados até uma profundidade no solo onde as tro: consideradas despreziveis para os objetivos de um det (OKE; CLEUGH, 1987), inclui trocas de de 0 nivel médio cas de calor sao terminado estudo Constitui-se, portanto, em um termo importante Na formagao da ilha de calor urbana. As mudangas de armazenamento de energia em sistemas urbanos so maiores que em sistemas naturais, j4 que os materiais de construgao tém propriedades térmicas que os fazem bons condutores e armazenadores. 67. Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres No ambiente urbano, a obtengao do fluxo de calor do solo torna- se mais dificil, j4 que a superficie urbana é multifacetada e extremamente complexa. De qualquer forma, se todos os outros termos da equagado sao independentemente avaliados, 0 armazenamento pode ser obtido através de parametrizagées, em fungao de Q* (OKE; CLEUGH, 1987). Pode, ainda, ser encontrado como residuo da equac¢ao, em fungao de Q*, QH e QE, e desprezando-se os termos relativos ao calor antropogénico e adveccado (DUFNER; BAILEY; WOLFE; ARYA, 1993). Os efeitos tipicos das areas urbanas em cada um dos termos da equacao de balango de energia (como o aumento do calor sensivel devido geometria urbana e materiais; redugao do calor latente pela diminuigao da disponibilidade de umidade, etc.), bem como a influéncia urbana tipica nos componentes individuais da radiagdo liquida (como o aumento da radiagao de ondas longas devido ao aumento da temperatura do ar urbano e aumento da emissao de ondas longas pela Poluigao, etc.) sao sintetizados, respectivamente, nos quadros (2.6 e 2.7). TERMO DO BALANGO DE ENERGIA EFEITO URBANO ipico CLIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS. JUSTIFICATIVA Radiagao liquida Entrada diminuida durante o dia. A noite: dentro do canyon urbano, diminuigao das perdas. ‘Acima da camada intra-urbana, aumento de perdas; dentro do canyon" urbano, diminuigao das perdas Calor antropogénico ‘Aumento Alta densidade de aquecimento dos espagos, transporte, processos industriais. Mudanga do Efeitos combinados da armazenamento de Aumento geometria urbana e materiais energia na superficie e na de construgao camada intra-urbana ‘Advecgao Variado Depende da variagao das propriedades da superficie Fluxo de calor turbulento ‘Aumento Disponibilidade de umidade sensivel reduzida, aumento de turbuléncia, Fluxo de calor turbulento Redugao Redug&o da disponibilidade de latente umidade Quadro 2.6 - Influéncia tipica urbana no balango de energia Fonte: Dufner et al. (1993, p.433) oD Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatiba Torres ann TERMO DO BALANCO DE RADIAGAO EFEITO TIPICO URBANO. RAZAO, Radiagao de ondas Redugao da radiacao global ‘Aumento da dispersao e absorgao longas, para baixo Vv Radiagao de ondas longas, para cima a a T Radiagao liquida curtas, para baixe | —redugdo da radiagao ultraviolet pela poluigao L aumento da radiagao difusa . Radiagao de ondas Redugao Redugao do albedo curtas, para cima * Radiagao de ondas ‘Aumento Aumento da temperatura do ar Acima da camada intra-urbana: provavel aumento, no “canyon” urbano: diminuigéo Diminuigao da entrada durante 0 dia; a noite, acima da camada intra- urbana: aumento de perdas; A noite, dentro do “canyon” urbano: diminuigao das perdas. urbano, aumento da emissao de ‘ondas longas devido a poluigao ‘Aumento da temperatura da superficie; redugdo da emissividade da superticie diminuigao do fator de visdo do céu(OKE, 1981) Efeitos combinados dos ‘componentes acima. Quadro 2.7 - Influéncia tipica urbana na radiagao liquida Fonte: Dufner et al. (1993, p.434) LIMA E CIDADE AABORDAGEM CLIMATICA COMO SUBSIDIO PARA ESTUDOS URBANOS © balango hidrico urbano de um volume edificado - ar pode ser expresso pela seguinte equacao: P+F+I=E+Ar+AS+AA Eq. 2.3 Ond * P= precipitacao; « F =a agua liberada para a atmosfera por combustao; ¢ | =a entrada de agua por tubulagGes procedente, por exemplo, de rios; « E = evapotranspiragao; Ar = variagdo de runoff « AS = variagao armazenada de agua no solo, nos e volume; « AA =a transferéncia liquida de agua em gotas ou em vapor, através das superficies do volume. Comparando-se este balango hidrico com o que apresenta-se em um volume rural (supondo-se AA =0), as diferengas so bem claras. A cidade possui dois componentes novos, 0 F e 0 |, que contribuem para aumentar a entrada de 4gua no sistema urbano. TA, 3. A ilha de calor urbana e os impactos no consumo de energia De todas as Modificages climaticas evidente Caracteristi “a noite, Construgdes formam um Conjunto mais densificado, oF 92 PERFIL DA ILHA DE CALOR URBANA 3 30 a3 88 a7 86 85 Temperatura - final da tarde llustragao 3.1: Representago do perfil tipico de RURAL RESID. CENTRO RESID. PARQUE _RESID. SUBURBANA SUBURBANA, SUBURBANA a de calor urbana, Fonte: adaptado de Santamouris (2001, p.49). produzidas pela cidade, a mais € estudada consiste no fendmeno chamado de ‘ilha de calor’. E um fendmeno Proprio das cidades, resultante do processo de urbanizacdo e !cas peculiares ao meio urbano. Este fenémeno ocorre especialmente , Quando as cidades apresentam temperaturas maiores que o meio tural ou menos urbanizado, que a rodeia (ilustragao 3.1). O lov cal de seu maior desenvolvimento coincide, , Com freqiéncia, com o centro das cidades, onde as 73. Gianna Melo Barbirato, Léa Cristina Lucas de Souza e Simone Camatba Torres kel As causas que contribuem para a formacao da ilha de calor estao relacionadas as mudangas no balango energético da superficie devido @ urbanizagao. Sabe-se que, devido a sua natureza fisica particular, os centros urbanos podem ter temperaturas maiores que as areas adjacentes, especialmente durante a noite e de maneira proporcional ao tamanho da cidade (OKE, 1973). Na verdade, desde o trabalho pioneiro de Howard® para a cidade de Londres em 1833, muito se tem estudado sobre o clima urbano. A maioria dessas inumerdveis investigagdes tem como objetivo a comprovagao do ja bem conhecido e documentado fenémeno da “ilha de calor urbana’, um exemplo de modificagao da atmosfera devido a urbanizagao (OKE, 1973). Pode-se definir o fenémeno da ilha de calor urbana como um reflexo da totalidade das Mudangas microclimaticas trazidas pelas alteragdes humanas na superficie urbana (LANDSBERG, 1981). Os contrastes entre as temperaturas urbanas - rurais sao maiores em condigdes de céu claro e ar calmo, e mais evidente ao cair da tarde e apds 0 por do sol - diferenga maxima de temperatura, de duas a trés horas depois (LANDSBERG, 1981). * Foram analisadas observagdes meteorolégicas entre 1797 e 1831, e identificaram-se maiores temperaturas no centro da cidade,

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