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Eugénio Pacelli André Callegari Curso de Ee ty ale Parte Geral Id EDITORA sPODIV! IN Eugénio Pacelli André Callegari Curso de DIREITO PENAL Parte Geral 7a Edicao 2022 | ¢ EDITORA jsPODIVM. ‘wma editorajuspodivm.com.be rr Da ACAO PENAL X | | | | AcAo PENAL CONDENATORIA E A TRANSACAO PENAL ‘Ant, 100, A ago penal publi ando Aut 100 aio penal é pli, sv quando ae expesament dela private § 1° A agio piiblica & promovida pelo Ministerio Pablico, dependendo, quando a lei 0 cexige, de representacao do ofendido ou de requisigao do Ministro da Jusica. Ll {Art 101. Quando a lei considera como elemento ou citcunstincias do tipo legal fatos que por si mesmo, constituem crimes, cabe ago pablca em relagio aquele, desde que, em relagio a qualquer destes, se deva proceder por iniciativa do Ministerio Public. A primeira vista, pode causar alguma perplexidade ao iniciante nos estudos do Direito Penal 0 tratamento da agao penal no corpo do Cédigo Penal. Nao estaria 0 tema melhor acomodado no Processo Penal? Sim e na Em primeiro lugar ~ e seriam estes os motivos de ser negativa a resposta -, € de se observar que a escolha do modelo de persecucio penal ~ se de ago publica, con- dicionada ou incondicionada, ou se de aco privada ~ tem varias consequéncias no que toca & punibilidade do fato. ‘final, em geral, eno Brasil é assim, a ago penal de natureza privada tem como caracteristica principal a disponibilidade de seu contetido. E dizer: cabe ao ofendido (ou representantes, quando for o caso) decidir pela persecugo penal, o que tem gra ves consequencias na punibilidade do crime. Adiante, avangaremos um pouco mais sobre a matéria, Data importincia dea propria legislagio penal jé defini, em linhas gerais, quais tap apoio do oendid,o que, nos meldes de Sio 0s delitos cuja punibilidade esta d disposie Curso de Direto Ps @a pago em que se de rie Especial, nosso Cédigo Penal, constara de sua beset Salas ‘4 ais gerais do art, 100, CP. crimes e respectivas sangdes, segundo a re Nao bastasse, e como a realgar a estreita relagao entre 0 Direito Penal eo Pro. cesso Penal, a legislagao penal, a0 cuidar das hipdteses de extingo da punibilidadg, tema de evidente natureza material, tem que levar em consideragio alguns insttaos ‘ou conceitos que, embora de aplicagao especifica no processo penal, dizem respeitg questo da propria punibilidade do crime, na medida em que afastam, por razses de politica criminal, a punigdo do fato, diante de determinadas condicoes verificaveis ny mbito da persecugao penal. F 0 caso, por exemplo, da rentincia, da decadéncia ou dg perdao na aco penal privada. Por outro lado ~ ej agora esclarecendo por que a resposta a indagagao feitaé também positiva, ou seja, ja apontando a inadequagao da regulacao de determinadas matérias no Cédigo Penal -, néo vemos a menor necessidade ou mesmo pertinéncia de se tratar, neste ambito (do Cédigo Penal), da rentincia (art. 104, CP), e, ainda, das diversas modalidades do perdio (art. 106, CP). Tais aios, ainda que tenham por consequeéncia a extingzo da punibilidade, caso especifico da rentincia ao diteto de queixa e do perdio aceito, ambos na acio privada, recebem também minucioso tra- tamento na legislagao processual penal. Veja-se que a perempeiio, que diz respeito & perda do direito de se prosseguir na acio ja instaurada, é também causa de extingio da punibilidade do crime (art. 107, 1V, CP), todavia, e corretamente, nao foi objeto de maiores consideraces no CP. Talves, porém, a critica que ora se faz sequer deveria ter por alvo a legislagio, Possivelmente, o erro maior esti na doutrina penal, que parece se ver na obrigagio de descer a detalhes na abordagem da a¢ao penal (legitimidade ativa e demais condicées da agao, pressupastos processuais et). De nossa parte, nos limitaremos a apontar as diversas modalidades de interven. do penal de nosso direito sem investigar em minticias as caracteristicas das respec- tivas modalidades de persecucao, deixando-as para 0 nosso Curso de Pracesso Penal, obra em que se faz amplo e aprofundado estudo de temas atinentes a acéo penal, publica ou privada, assegurada a andlise devida aos institutos da transacio penal e suspensao condicional do processo (Lei 9.099/95 e Lei 10.259/01). ‘Mas, ainda que breves, algumas consideragoes hio de ser feitas sobre os refer dos temas, Assim, se a ago penal diz respeito ao processo de natureza condenatéria, isto é dirigido, como regra, & imposigao das sangdes penais cominadas no tipo penal imputado ao acusado, a transagdo penal, por sua ver, cabivel para as infragdes deno- minadas de menor potencialofensivo, nos termos da Constituigao Federal (att. 98,1) € Lei 9.099/95 (art. 61), tem lugar no que se pode designar por processo concliatéria, orientado, “sempre que possivel, para a reparacio dos danos softidos pela vitima ea aplicasao de pena nao privativa da liberdade” (art. 62, Lei 9,099/95 ~ grifamos) "Yer, também, nossos Gomentirios ao Céigo de Processo Penal e sua jurisprudéncia 6 dem pate ria com Douglas FISCHER. Sao Paulo: Atlas, 2014 Mae chia te i k Titulo V+ ca — (663) os termos doar. 76 da citada 3 publica incondicionada ou cond : peta fy Ministerio PAblico poder propor a apicarae each a sea represen 6 citos na jie Nr : sine ria tum acordo firmado entre a acusagaa ea fan asa penal por- ‘gislagio (Lei 9, tun iat Importanteassinalar que toda forma de justi ; hiesecucg ga Megociada & sempre ano ae cOncere 8 exCuGO do Mod, Nao et pues problemé- geasado, por variadas razbes (ma orientagéo, md informacio etc.) se re em ane ° ), se Vera compelido ido a aceitaraproposta de transagi sa constrag a ransa¢io, pelo e suma consalago irrespondive, "Ce soerconsequénclas ors. No entanto, € a0 contririo do que ocorre nos et spade plea bargaining (barganha, negociagio) iene ne a pelv jlo quanto aos limites Note-s, por primeiro, que aproposta de transaio somente poder ser feta se _ esomente se ~ ndo for 0 caso de arquivamento (att. 76, Lei 9.09995), ou se jas quando 0 Ministério Piblico estiver convencido da vablidade de oferecimento gh denincia, E disso resulta que o delito que venha a dar ensjo transacto seed, necessariamente, aquele que integraria o nuicleo da imputagao penal, no eeoatdeie) formalizar a acusagio. O que se transaciona nao é o delito, mas a sangao, desde que, cevidentemente, 120 se trate de pena privativa daliberdade. ae Ali, no particular, € bem de ver que a jurisprudéncia da Suprema Corte, ¢ assim, dos demais tribunais nacionais,j se pacificou no sentido da inconsttuciona- lade do art. 85, Lei 9.099/95, que permitia a conversio da pena de multa em priva- tirada iberdade, quando nao fosse paga aquela em sede de execucio, Inaceitavel por brio, a imposicao de pena privativa da liberdade a quem quer que seja- e mesmo {ue esteja de acordo! ~ sem o devido process legal, no ambito de um Juizadoe de tim processo vetorizado pelo principio conciliatorio, Ver STF ~ HC 79.572/GO, Re. Min. Marco Aurélio, 2" Turma, DJ 2-2-2002 e Plenario do STE, RE 602.072, Rel. Min. Cezar Peluso, julg. 19-11-2008. E mais: segundo entendimento que hoje prevalece no ambito dos Tribunais Superiores? diante do nao pagamento da multatransacionada, 0 Ministerio Pabli- co se vé livre para oferecer dentinciae, assim, dar inicio ao processo de natureza condenatéria No ponto, ndo estamos de acordo com este tiltimo entendimento, Ora, se no direto penal comum, condenatério, 0 no pagamento da mult aplicada na sentenga penal implicaré a sua consideragio como divida de valor, aplicando-se em sua ¢o- branga as normas relativas & divida ativa da Fazenda Pablica, conforme at. $1, CR, ho vemos por que nao ser essa ainterpretagio aplicivel no ambito dos Juitados Naturalmente, ha uma explicagio: no direito penal comum, a multa é geralmente lustraivamente: RHC 34.5805, Rel €m 12-3.2013, Dfe 19-3-2013. 1 Ministra Mara Therera de Asis Moura, 6 Turmajugado —— cell Cala curso de iritoP ce wa 4 nto na transagao penal na snte com outa sangao, enquanto na transagdo Penal nig (, spl cama tee em PUTo au pena transacionada é uma sO!) fensivo. de menor potencial ofens! hese deixar de reconhecer que tendimento, se objeto de transagio penal, pensamos que rte juie, constitu titulo executivo e, por ig De nossa parte, e mesmo sem prevalecente, afastaria a multa como: dan jomologada pelo {crannies gemma 4 ‘ional do Ministério Pg Insta observar, ainda, que a configuracéo constitue “iblicg sree TaesLavenie aif dos EUA, pais em que quase ~ € impressionantes brasileiro é totalmente diferente da dos FUA, ee 40 resolvidos pela via do plea bargainin — 90% (noventa por cento) dos pracessos sa ge Pe 5 ‘io ha o controle politico (pelo processo eleito. ea guilty. Aqui, e ao contririo dali, nao 0 ( De sblico, drgio instituido em carreira e Cujos cargos ral) daatuago do Ministerio Pablico, gio insta 0 preenchidos a partir de concurso piblico (o nosso MP). a E, mais que isso, 0 nosso parque, sobretudo pela independéncia funcional de seus membros, atua debaixo de lie nio sob eventuais efrequentes PressOes punitivas do corpo social, com o que se espera sejam diminuidos 05 riscos de praticas persecy. tdrias movidas por outra ordem de interesses. “Tudo isso permite concluir que 0 nosso modelo de transagio penal, se nao & perfeito e nem ideal (nao ha perfeigdo em nenhuma politica criminal), é, no minimo, garantidor de um arrefecimento responsével da intervengao punitiva, desde que bem seguidas as suas orientagdes e observados seus principios funda- mentais, Para tanto, hao de concorrer os advogados criminalistas, desempenhan- do papel jé bem exercido pelas Defensorias Pablicas na fiscalizagio da pauta de garantias assegurada pelo referido modelo, merecendo destaque o fato de quea aceitagdo da pena transacionada nao pode ser considerada para fins de reinc- déncia, imitando-se a impedir novo procedimento (de transacao) nos cinco anos seguintes (art. 76, § 4, Lei 9.099/95). De outro lado, uma alternativa concreta a tais modelos se apresenta pela possi- pt pela p bilidade de descriminalizagio de muitas das infracdes consideradas de menor poten- cial ofensivo, evitando-se, assim, o congestionamento desnecessério de um sistema judicidrio jé completamente exaurido de demandas, civeis ou criminais. Mas, fora do Ambito da legalidade - apenas as leis revogam leis que definem crimes -, somente uma hermenéutica pautada pela proibicao do excesso e potencializada pelo reconhe- cimento da insignificancia de determinadas condutas e/ou resultados poderé reduit 5 efeitos da criminalizagao arbitriia, ITA PRETENSAo PUNrTiva E 0 CONTEUDO DO PROCESSO Depois de pontuarmos o fato de haver ‘nos manuais de Direito Penal, hi de tensio punitiva e ao contetido do pr excessos de abordagem processual pens! causar estranheza a tematizagao atinente & pre ‘ocesso, Mas hi uma razio para isso. ! Titulo ¥ + Gp. xp, oD f, que a definigdo acerca da natureza, publica o nwlicionads, da ago penal tangencia a 7 inca material. Quando seafirma se publi mer eto no art. 100, CP, e segundo Privada, condicionad , vada, ada ou Igumas questées de indole essencial ica, como rey ‘84, acd penal, tal como fitura do conjunto de normas ai lecidas no texto constitucional © Stas consequéncias, e que preci- ost isp? 125 Comekito, endo piblicaaacéo, haver «, por érgies publicos. No Brasil e na ta ee dese persed, portan- itular da agdo penal pablica, privativamente, 9 Minister: Pablo (ar aaa We nasa questo da legitimidade ativa para agio penal piblica est longed pein otratamento da matéria nesse espaco, bem o sabemos, Duas questSec neon ne Selamando maiores detalhes, as questies emergem dai, _A primeira lesretpet a08 poderes atribuidos ao Ministério Pablico em sua tela de fazer aplicar o Direito Penal. A ago penal pblica seria obrigatiria ou dis- criciondria? De oo modo: poderia 0 parquet empreender uma politica de esco- Iha das pautas punitivas (crimes mais graves) ou estaria ele vinculado ao critério da Iegalidade? ,a segunda, absolutamente Conectada ~ e, mais que isso, verdadeiro desdobra- mento da primeira ~ €:0 que seria o tio decantado ius puniendi,usado com frequén-

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