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DOCUMENTAGAO FiccSo e Histéria: Malraux e a Guerra Civil Espanhola. Maria Teresa de Freitas (Depto. de Letras Modetnas da FFLCH/USP) RESUMO A Guerra Civil Espanhola teve grande repercussfio no mundo intei- ro, Na Franga,'o governo decidiu pela ndo-interveneSo, o que fez com que muitos intelectuais usassem Literatura como forma de combate. André Malraux, além de ter parti- cipado dirctamente da guerra, ¢s- creyeu um dos mais importantes ro- ances da Literatura francesa sobre cla — L'espoir —, aqui comentado. “Os deuses criam os acont Boel ABSTRACT ‘Tho Spanish Civil War had great repereussions throughout the world. In France, the government adopted a polley of monnterventon, which Ted many intellectuals to use litera- ture as a form of combat, André Malraux, aside from participating directly "in the war, wrote one of the most important novels of French literature, L’espoir, which is discussed here. entos histéricos para que os » do futuro possam canté-los”, disse Homero um dia, alguns séculos antes de Cristo. Ora, se essa afirmaco ja era verdadeira na Gpoca do grande poeta grego — a epopéia antiga constitui excelente exemplo da coexisténcia de Histéria e Literatura —, ela o continuow sendo através dos tempos — nos mitos biblicos, nas canges de gesta, em alguns romances da Idade Média, nas crénicas do principio da cra moderna, na teagédia cldssica do século XVII, nas biografias romanceadas e em alguns dramas do século XVIII —, até se reali- zar plenamente no século passado — com o florescimento ¢ 0 apogeu do “romance histérico”, a partir de Walter Scott —, e permanece valida, sob diferentes formas, em nossos dias, como se pode facil- SPaulo [vo 7 nt 13 | pp. is7-is2 | sei s6/fev. 87 | mente constatar pelo sucesso internacional, nos \iltimos anos. de uma Margherite Yourcenar, por exemplo, Com feito, grande a atragdo que alguns temas da Histéria exercem sobre os escritores de ficgdo literéria desde que o mundo é mundo. f que esscs temas oferecem a cles grande variedade de tuagdes (ricas em peripécias e emogées), dois dos elementos bésicos que constituem a intriga romanesca. Nao é de se estranhar, pottanto, que essa atraco seja ainda maior pelos processos com dimcnsdo es. Pecialmente “catastrofica” da Histdria: guetras, revolucées, insurrei- ses constituem momentos em que essas situagdcs se exacerbam, e que oferecem, por conseguinte, fontes inesgotdveis de inspiragio is mais diversas formas de produgio literdria. Todas as paixdes sfo ai le- vadas a0 paroxismo, situacdes dilacerantes de tragédia se acumulam, © @ aventura guerreira toca a sensibilidade do leitor, seja nos gran. des triunfos, seja nos grandes desastres. Os horrores da guerra, a0 Passar pelo crivo da sensibilidade privilegiada do escritor, transfor- mam-se facilmente em emogio estética. Entende-se entdo © sucesso que alcangam junto ao pablico leitor os romances cuja intriga se desenrola em torno desses momentos de explosiio da tenso histérica. Em nosso século, foram numerosos os processos daqucla natu: reza, todos suficientemente ricos em experiéncias humanas trégicas Para fornecer ampla matéria a ficedo literdria, Entretanto, nao seria exagero dizer que nenhum desses flagelos teve tanta repercussdo literéria na Europa quanto a Guerra Civil Es- panhola, a ponto de provocar af o desenvolvimento de uma nova forma de relacio entre Histéria e Literatura, que se concretizaria na chamada “literatura engajada”, onde a tradugao estética das devas- tagdes © do caos que se ptoduzem no universo assume deliberada- mente um cardter politico, polémico e pragmético. E nao é dificil entender por qué. O conflito armado provocado em julho de 1936, na Espanha, pela rebelido dos generais contra 0 governo republicano, representando séria ameaga a essa recente conquista nequele pais, datada de 1931, assumiria logo proporgdes universais, pois, como cedo ou tarde todos acabaram por perceber, seria ele a bomba deto- nadora da Segunda Guerra Mundial, jé que envolyeu todas as po- téncias estrangeiras a seu redor, a partir da ajuda efetiva, material, humana financeira, enviada por Hitler, da Alemanha ¢ por Mus. solini, da Itélia, aos rebeldes nacionalistas. Uma das conseqiiéncias fol @ mobilizagio informal em favor dos republicanos, ¢, face ao acordo sobre a politica de nac-intervenco realizado entre’a Franca e a In- 138 glaterra, o empenho sobretudo dos intelectuais de esquerda em orga- t auxilio contra as forgas dos generais espanhéis, que culmina- tia, aliés, com a criagio das Brigadas Internacionais em novembro daquele ano, com sede de recrutamento em Paris, entre as armas de combate, estava, obviamente, aquela que eles mais sabiam mane- jar: a palavra. O resultado foi entéo uma ampla produgdo literdria em torno do assunto, sob suas mais diferentes formas: reportagens, crdnicas, memérias, teatro, poesia, criag&o romanesca. Mas néo foi s6 isso. O cardter eminentemente ideoldgico da Guerra na Espanha exerceu enorme poder passional na Europa. Na luta fratricida, onde sc afrontavam republicanos © nacionalistas, a piel de toro tornou-se também o palco sangrento onde se debatiam as grandes correntes de pensamento e prética social e politica do século XX: comunismo, fascismo, socialismo, democracia, monar- quia, catolicismo e liberdade religiosa — como mostrou concreta- mente o Segundo Congresso Internacional dos Escritores Antifascis- tas, que teve lugar no ano seguinte (1937) em Madri e Valenga, em plena guerra. Assim, todos tinham algo a dizer, a direita c & esquer- da: era preciso influenciar os espfritos, agir sobre as massas. Além disso, 0 grande mito da Revolugio Francesa — o acontecimento po- litico que mais dividira a opinido publica até entiio — instalou-se no campo republicano, onde combatia grande ntimero de operérios ¢ camponeses, quase todos ainda pobres ¢ explorados. Era uma guer- ra romantica, feita de “tragédias” © nao de batalhas; por “herdis” ¢ nao por soldados. Eo afluxo de voluntérios estrangeiros, nem sempre simples mercendrios, sé fez ampliar esse cardter romintico que o conflito adquiria. Episédios relatados por historiadores como Hugh Thomas — soldados que se recusam a cavar téneis porque “jamais se baterfo sob a terra, como ratos” — ou S. Koestler — homens que dispen- sam enxadas, declarando que “partem para combater ¢ morrer e nao para trabalhar” — apontam claramente o clima romanesco que pai- rava no ar ensangiientado da Espanha em guerra. Testemunhos de personalidades famosas que participaram do conflito armado, como 0 de André Malraux, num conflito cara a cara com um inimigo — “je sais ce que signifie ne pas pouvoir tirer sur un adversaire (trois secondes...) parce qu’il est le premier ennemi barbu sous le masque et que sa barbe change le combat en meurtre” —, ou o de George Orwell, perante o alvo facil de um homem seminu que, apavorado, corria segurando as calcas com as mios — “I had 139 come here to shoot at ‘Fascists’; but a man who is holding up his trousers isn’t a ‘Fascist’, he is visibly a fellow-creature, similar to yourself, and you don’t feel like shooting at him” —, ressaltam a apreenséo humanista da guerra na Espanha, que faz dela um alvo facil para as flechadas da inspiragao literdri Trata-se sobretudo de uma revalorizagéo do homem, que deixa de ser considerado apenas como uma das pecas do mecanismo de uma engrenagem. Conseqiientemente, néo é somente a acdo que serd colocada em evidéncia, mas também os sentimentos individuais; 0 acontecimento histérico torna-se assim a aventura de cada um e de todos 20 mesmo tempo, pois que se tratava de homens que busca- vam conquistar a sua dignidade pessoal, através da luta por uma ideologia comum. E a Guerra Civil Espanhola torna-se também uma problemitica literdria, e de ambito internacional; os mais diversos paises produziram, em maior ou menor quantidade, uma literatura a esse respeito, como bem mostra o Dossier H — Les écrivains et la guerre d’Espagne (Paris, Panthéon Press France, s/d), dirigido por Mare Hanrez, onde diferentes autores examinam, entre outras coisas, literaturas de varias origens sobre essa guerra (alemi, inglesa, irlan- desa, italiana, americana, soviética, espanhola — é claro —, e al- guns autores franceses). Outrossim, seria cla a origem de dois dos mais famosos romances da primeira metade do século, L’espoir, de André Malraux, em 1937 € For whom the bell tolls, de Ernst Hemingway, em 1940; este tiltimo, em pouco tempo transformado num dos maiores best-sellers da literatura norte-americana, seria logo traduzido em intimeras linguas (Por quem os sinos dobram, na tra- dugao brasileira), e conheceria afinal a consagragao mdxima nas telas de cinema; o primeiro, talvez menos conhecido entre nds, fez no entanto enorme sucesso na Europa e nos E.U.A., teve considerdvel repercussao histérica e literdéria na época, e permanece ainda hoje uma das obras mais significativas do panorama literdrio francés do século XX — como veremos a segui As evidéncias mostram que, de todos os paises envolvidos no conflito espanhol, a Franga foi o mais diretamente concernido, Unica democracia de esquerda a ter fronteira comum com a Espanha na época, jé que Portugal tomara o partido dos rebeldes nacionalistas: © pais acabara de scr sacudido por penosas € mal resolvidas greves, as de junho de 1936. As acirradas divergéncias que, desde o retum- bante “ajfaire Dreyfus”, dividia os intelectuais franceses de direitu © de esquerda, provocara recentemente violentos comfrontos nas ruas 149 de Paris e das grandes cidades do interior da Franga. Ora, a defla- graco do conflito na Espanha vinha justamente recrudescer esse estado de tensio interna, introduzindo a ameaga de conseqiiéncias semethantes, Além disso, ele logo se transformaria numa verdadeira guerra civil moral entre os franceses: duas concepgdes do mundo totalmente diferentes se defrontavam. Azafia, o presidente da Re- publica Espanhola, preconizara a um conhecido jornalista frances que via a seu lado as primeiras linhas de combate tomarem posislo em sew pais: “crest 1 que se décide le sort de la France”? Simone de Beauvoir, em suas mem6rias, relata: +... nous savions que la guerre d’Espagne mettait en jeu notre propre avenir; la presse de gauche lui consacrait autant de place ue si elle avalt &1é une affaire francaise, et elle I'était en effet: ine falat & aucure pris qu'un nouvenu fasclme sinstallat 2 nos portes.” Com efeito: & Frente Popular Espafiola correspondeu na Franca © Front Populaire Francais, cuja solidariedade 8 causa republicana foi amplamente proclamada por todos os jornais de esquerda, ime- diatamente apés a deflagragio da guerra. A posigao oficial do gover- no socialista de Léon Blum, a politica de nao-intervengfio, contra- riava fortemente as aspiragdes do povo que o elegera, do proprio Front Populaire, enquanto o grupo de extrema-direita de L’Action Francaise, dirigido nor Charles Maurras, assim como os pacifistas, apoiayam essa decisfio, sendo que os primelros apoiavam também as forcas de Franco, A esse respeito, ¢ significative o testemunho de R. Peissy, em Viva la muerte: le drame espagnol: “Je suis stupéjait de voir mon pays devenir une véritable Espag- ne, divisée en deux camps: le camp dex rebelles et le camp des gouvernementaux.”* ‘Vé-se bem até que ponto a Franca estava envolvida — e dividida — pelo conflito espanhol: ele fornecia a esquerdistas © dircitistas a oportunidade de definir suas posigdes. Embora minoritério, 0 grupo favordvel & participagéo efetiva na Guerra da Espanha mostrou-se ativo: apesar de proibido, o tré- fico de armas continuou, ¢, dentre os aproximadamente 25.000 vo- 141 luntétios das Brigadas Internacionais que foram combater na Es- panha, os franceses eram os mais numerosos, segundo estatisticas de vérios historiadores. Além disso, a primeira ajuda material cfetiva aos republicanos espanhdis em luta teria vindo da Franga, com a criago da ayiagio internacional, sobre o que voltaremos a falar aqui. E, se a Guerra Civil Espanhola exaltou tanto os intelectuais de todo © mundo, a ponto de legar-nos mais de 20.000 obras de dife- rentes tipos — a mais yolumosa bibliografia de todas as guerras do século XX até agora —, € significative que a contribuigo francesa tenha sido das mais considerdveis, deixando também algumas das mais importantes delas, nos mais diferentes dominios. Assim, por exemplo, entre os ensaios hist6ricos considerados por varios estudio- 0s como os mais abrangentes sobre a questo, encontra-se o de P. Broué e E. Témine, La Révolution et la Guerre d’Espagne (Paris, Ed. de Minuit, 1962). No se pode esquecer também que intimeros es- critores franceses de renome internacional na época deixaram memd- rias ou didrios sobre 0 problema — como por exemplo: F. Mauriac (Journal: 1932-1939), A, Gide (Journal: 1889-1939), Simone de Beauvoir (La Force de l’Age), J. Green (Journal: 1955-1959) — como também testemunhos vivos da guerra em periddicos, jornais, ensaios, discursos ou conferéncias — P. Nizan, SaintExupéry, P. Claudel, L. Aragon, R. Brasillach, Ch. Maurras, entre outros — tendo a maioria deles participado de alguma forma diretamente do conflito. Como se vé, os escritores franceses nao se limitaram a simples- mente emitir opinides e discutir a questio, comodamente instalados 4s mesas famosas do Café de Flore ou do Aux Deux Magots, envoltos em sua por vezes habitual redoma. Hé até meso quem diga que nem © controvertido caso Dreyfus, nem a sofrida guerra de 1914 haviam conseguido mobilizar tantos pensadores franceses. Mas & sem diivida no campo da criagio literéria que a Guerra Civil Espanola iria germinar com maior fecundidade no pafs onde Voltaire, Rousseau, Balzac, Flaubert, ¢ muitos outros, j4 haviam pensado o mundo sob a forma de imagens romanescas. A vigorosa exaltaciio de Aragon, no jornal Europe de 15 de novembro de 1936 — “Je m’adresse a mes Iréres écrivains et artistes de France... et je leur demande d’ouvrir™ de toute la force de leur génie, de toute la générosité de leur talent eb de leur coeur, une croisade nouvelle, la croisade de la poésie-et de Fart pour VEspagne” —, as respostas foram abundantes, ainda que nem sempre no sentido de Aragon, militante ativo do partido comu- 142 nista francés, o desejasse. Escritores célebres, de diferentes ideolo- gias, romancearam o tema, e poctas famosos, & direita e a esquerda, ‘cantaram-no, das mais diversas formas, sob os mais diferentes pontos de vista, e com os mais variados objetivos. Assim, por exemplo, Georges Limbour prega o engajamento em La Pie Voleuse, onde, através de uma pequena cidade feliz destrufda pela guerra, mostra a fraternidade que renasce gragas & RevolugSo; Henry de Montherlant, em Le Chaos et la Nuit, mostra, por meio do herdi revolucionério exilado h4 vinte anos e obcecado pelas lembrangas da guerra e pela idéia de morte, o non-sens da guerra e da vida; Claude Simon, em Le Palace, faz, por tras do discurso cadtico e da desordem moral e intelectual das’ personagens, uma evocaco tréigica da confusio total, do caos incompatével causado pela guetra; Georges Conchon, em Corrida de la Victoire, descreve o fracasso de uma vida por causa da revolugao; romancistas partiddrios do fascismo, como Driew la Rochelle ou Robert Brasillach, aproveitam-se do flagelo para mostrar as possibilidades que ele pode abrir para uma vida melhor: Gilles, do primeiro, conta a trajetéria de uma personagem pusilénime, que 86 © deixa de ser quando decide Iutar ao lado dos nacionalistas; Les Sept Couleurs, de Brasillach, mostra 00 final a importincia da guerra para a felicidade de um casal; Les yeux dEzéchiel sont ouverts, de Raymond Abellio, mais complexo, traz uma profunda interrogagao metafisica sobre o sentido da RevolugSo, a partir de um ideal de combate que se desvanece na Segunda Guerra, culminando num ceticismo politico, Outros utilizam o fato apenas como pano de {undo de seus romances, mas quase sempre tencionam também passar uma mensagem ou uma reflexio sobre ele. E 0 caso de Sartre, com Les Chemins de la Liberté, onde a guerra ocupa um lugar se- cundério, porém importante, na medida em que ela representa uma’ oportunidade para o heréi de se engajar, e, para o autor, de refletir sobre o problema do engajamento e da liberdade; também Saint-Exu- péry, em Terre des hommes, aproveita-se de uma lembranga de sua estada em Madri durante a guerra para mostrar a dignidade hu- mana; Les Communistes, de Aragon, apesar de conter apenas um episédio da guerra no Prélogo ¢ algumas ripidas referéncias aqui e ali, mostra a obsessio que ela causa nas personagens — obscssio essa, digase de passagem, partilhada pelo autor; e em Histoire, Cl. Simon revela, em r4pidos porém intensos momentos de um dia na vida de sua personagem principal, que, trinta anos dépois, as lem- brangas da guerra ainda persistem em sua meinéria. Dentre os poe- 143, tas, hé que se citar trés grandes nomes pré-republicanos, que exal- tam em seus versos a resisténcia espanhola ao regime franquista, Pregando sempre a esperanga num futuro melhor: Paul Eluard (La victoire de Guernica ¢ Poémes politiques) L. Aragon (Créve-Coeur) ¢ Tristan Tzara (Espagne 36); da poesia pro-nacionalista, o repre- sentante mais significativo 6 talvez Paul Claudel, que em Aux martyrs espagnols toma a defesa da Igreja Catdlica, que apoiara a insurreigéo dos generais. Contudo, nfo resta a menor ddvida de que foi L’espoir, romance de André Malraux publicado alias em plena guerra (1937), a mais importante criagao literéria francesa sobre a Guerra Civil Espanhola, cujo sucesso e repercussio inigualiveis na época devem-se nao ape- nas ao engajamento politico que ela representa, mas também As suas incontestéveis qualidades artisticas. A chamada “literatura engajada” conheceu seu apogeu na Franga por ocasiéo da Segunda Guerra Mundial, sobretudo a partir do manifesto langado por Jean-Paul Sartre em 1945, no primeiro niimero da revista Les Temps Modernes, e cuja esséncia encontra-se nesta frase: “Puisque Vécrivain ta aucun moyen de s'évader, nous voulons quill embrasse étroitement son époque ... L’écrivain est en si tuation dans son époque: chaque parole a des retentissements. Chaque silence aussi.” No entanto, ela jf fora fecunda em outras épocas, quando escritores famosos ¢ politicamente ativos “ousaram” emprestar as suas belas imagens literdrias, objetivos pragméticos — como foi o caso, por exemplo de Victor Hugo, no século XIX francés" —, e teria portanto suas origens bem antes do famoso manifesto, sobretudo porque a maioria dos escritores franceses do inicio do século XX era enga- jada politicamente. No perfodo do entreguerras, porém, apesar da abundancia de romances que se inspiram na Hist6ria social e polf- tica da €poca, a producdo literdria €, na realidade, muito pouco en- Sajada politicamente, devido talvez A necessidade generalizada de evasio ¢ de divertimento que se alastrava nos famosos “années folles”” subseqiientes & Primeira Grande Guerra. Um certo gosto pelo pito- tesco € pelo exotismo, que alids j4 caracterizara o romance histérico Propriamente dito do inicio do século XIX, predominava nos ro- Mances que se relacionavam com a Histéria nessa.época, tornando- os assim yerdadeiros afrescos sdcio-histéricos sem grandes~ envolvi- 144 mentos ¢fetivos com os problemas politicos do momento. E é justa- mente a eclos%io do conflito espanhol que ir4, como vimos, reavivar aquela chama, instigando os escritores a colocar a fertilidade de sua imaginagao criativa a servigo de uma causa politica, ¢ a transformar sua arte em arma de combate. Um deles, no entanto, j4 se apercebera dessa necessidade alguns ‘anos antes, Conforme foi forcado a reconhecer mais tarde o préprio Sartre, André Malraux teria sido o primeiro escritor a perceber que ‘a Europa estava em guerra e a fazer uma literatura de guerra. O mestre existencialista referia-se af aos dois romances que escrevera Malraux sobre a “distante” Revolug&o Chinesa de 1925-27, Les Con- quérants e La Condition Humaine (1928 e 1933, respectivamente), onde — entre outras coisas, é ébvio — 0 autor tenta alertar uma Europa adormecida para o perigo iminente que a ameagava." Seu engajamento porém n&o era apenas literério, Como cle proprio dizia, pela boca do narrador de La Condition Humaine, as idéias nao sio feitas apenas para serem pensadas, mas também para serem vividas. itante de esquerda, Malraux havia participado in- diretamente dos acontecimentos da China revoluciondria de Chiang Kai-shek como dirigente de um jornal que fundara na Cochinchina francesa, acompanhando de perto a eclosiio da greve em Cantiio e 0 boicote as mercadorias inglesas em Hong-Kong, durante o ano de 1925, Quando a ameaca fascista A Europa comegou a se tornar cada vez mais iminente, além de publicar Le Temps du Mépris — novela que denuncia a ascensiio do nazismo alemao — e de pronunciar varios discursos prevenindo contra o perigo que ela representava, foi pessoalmente a Berlim para tentar a libertagao de Dimitrov, injusta- mente acusado como autor do incéndio do Reichstag. Ora, a luta fratricida na Espanha iria fornecer-the a melhor ocasiao para aliar a necessidade de ago & paixdo pela expressfio: trés dias apés 0 pro- nunciamiento dos gencrais espanhdis, Malraux j4 se encontrava em Madri para ver o que poderia fazer pela causa republicana; imediata- mente percebeu 0 que se passava ali: como diré uma das personagens do seu romance:* “les grandes manoeuvres sanglantes du monde étaient commen- cées.” (pag. 150). ‘A crise que previta nos romances anteriores entrava em sua fase ir- reversivel. De volta a Paris, pronuncia um retumbante discurso ex- pondo elogtientemente as dimensdes do conflite, e exortando os fra 145, ceses ao engajamento na luta armada. Duas semanas depois, comega efetivamente a “viver” suas idéi retorna a Madri com cerca de 30 avides, ¢ organiza af a aviacio internacional a servigo do governo republicano, comandando ele proprio a esquadrilha Espafia — cogno- minada mais tarde por seus homens “esquadrilha André Malraux” — que teve varias missdes importantes nos primeiros meses da guer- ra, € 86 cessou suas atividades em marco de 1957, por falta de avides. Apesar das muitas opinides contradit6rias a respeito da ago hist6rica de Malraux, que teria estado constantemente oscilando entre a verdade e a Ienda — que alids, por vezes, ele proprio nao hesi- taria em alimentar —, todos sio unanimes em reconhecer o valor de sua participaggo na guerra junto aos republicanos espanhdis, onde se expGs com seus homens a toda sorte de perigo, tendo inclusive sido ferido duas vezes, ¢ arriscado sua vida freqtientemente no combate aéreo. Além disso, Malraux acreditava poder exercer uma influéncia decisiva na marcha da Hist6ria, caso conseguisse, através de sua participacao cfetiva na luta armada, convencer o governo francfs a se engajar. Nesse sentido, é significativo o depoimento de Julien Seg- naire, que foi tenente e comissério politico da esquadrilha de Malraux: “Ce qui a attiré Malraux dans la guerre d'Espagne ... cest qu'it @ senti qu'il pouvait joeur un réle tres important avec tr’s pew de moyens (...) Si le gouvernement de Front Populaire en France, et la France mére au point de vue national, avaient décidé daider VEspagne, on aurait peut-étre évité la guerre d’Hitler.’® “L’homme est ce qu'il fait” — tinha Malraux feito uma de suas mais vibrantes personagens dizer, em La Condition Humaine. Anos depois, & pergunta sobre o que um homem pode fazer de melhor em sua vida, outra niio menos vibrante personagem respondi “Transjormer en conscience une explrience aursi large que pos- sible”, Era o que ele préprio fazia, naquela primavera de 1937, tendo como fundo sonoro os ecos da propria guerra: transformava a experiéncia pessoal que vivera nos campos de batalha da vizinha nacio espanho- la numa criacio literéria de inestimavel valor artistico, primeiro ro- mance de repercussio internacional sobre a guerra da Espanha, con- siderado por muitos como a melhor obra de ficgdo inspirada pela guerra — a qual deu, estranhamente, o titulo de L’espoir, j4 que, embora 0 livro se encerre com uma das vitérias parciais dos republi- 146 canos, no momento de sua publicagao, estes j4 haviam quase pratica- mente perdido a guerra. “Romance-reportagem”, disseram alguns. Por que nao? Escrito por um homem de agio, sobre uma aco da qual ele proprio parti- cipara recentemente, e que ainda nfo havia terminado, o romance néo poderia deixar de ter um certo cunho jornalistico ou autobio- grafico, sobretudo quando o autor narra suas préprias aventuras. “Romance de circunstincia”, disseram outros, Também. Consideran- dose o engajamento nZo apenas declarado, mas também ativo do autor, ¢ a publicagao do livro durante a guerra, ndo 6 de se estra- har que ele constitua uma outra forma encontrada por Malraux para contribuir para a causa republicana espanhola, ¢ que ele vise assim a comover as democracias ocidentais para tentar levé-las a intervir em favor dessa causa. Sob esse aspecto, de acordo com os termos foriados por Sartre para definir a literatura engajada em 45, L’espoir pode ser considerada a obra engajada por exceléncia. Todavia, nfo sfo esses os tinicos — nem os mais importantes — aspectos do romance, sem © que nao teria ele a importineia literdria que ainda hoje tem. A histéria é a da primeira fase da guerra civil, desde a rebeliio dos militares, em julho de 1936, até a vitéria dos republicanos em Guadalajara, em marco de 1937, e conta os combates armados de Madri, Barcelona, Sierra de Guadarrama, Medelin, Toledo, Tage, Talavera, Aranjuez, Baléares, Alcala, Mélaga, Teruel ¢ Guadalajara. Do ponto de vista histérico, o objetivo é mostrar a necessidade de se adotar uma determinada linha politica capaz de organizar e disci- plinar © entusiasmo revolucionério inicial — a organizaghio do “apo- calipse”, segundo as préprias palavras de uma das importantes per- sonagens do romance — para ganhar a guerra; assim, os combates miiltiplos e dispersos que compdem a primeira parte do livro, onde imperava uma certa anarquia e uma “ilusao lirica” (6 esse o titulo dessa primeira parte, que resume também o cardter roméntico da guerra), culminam com a batalha de Guadalajara, vitéria importante para os republicanos, onde, pela primeira vez, eles se apresentam como um exército constituido. Bo que explica o narrador do ro- mance, referindo-se ao chefe de uma esquadritha que participava da batalha: “Ce que Magnin voyait aujourd'hui sous tui, il le reconnaissait: cétait la fin de la guérilla, la naissance-de Varmée” (pag. 573). 147 E nesse sentido que se justifica, na perspectiva hist6rica, o titulo do livro — que, aliés, é também o subtitulo dessa terceira ¢ ultima parte: a esperanga nascia porque o “apocalipse” da “ilusio Iitica” conseguira ser controlado e organizado. © cardter documental do romance & incontestdvel: qualquer cronologia ou estudo histérico que se queira examinar comprova a autenticidade dos episddios relatados. No mais, além dos aconteci- mentos de que o préprio autor foi nifo apenas testemunha, mas tam- bém ator, o livro se fundamenta em depoimentos veridicos, direta ou indiretamente reportados a Malraux.” Vérios so os historiadores que utilizam-no em seus ensaios como obra de referéncia, que por vezes até mesmo esclarece alguns aspectos abscuros da guerra. Con- tudo, seria um erro pretender reduzir a obra as informacées que ela Yeicula, por mais exatas que elas sejam, ou & reconstituigio da situa- Go histérica que ela opera, por mais fiel que ela se apresente. Como 0 préprio Malraux o dizia, os artistas ndo séo meros transcri- tores do mundo; a matéria que o romancista & forgado a emprestar do universo de todos para criar o seu universo, € apenas um meio de ctiagao; 0 que importa — e que faz dele um grande escritor — € 0 poder de transfiguragao do real, e o grau de qualidade que essa transfiguragéo atinge; a arte no tem que submeter-se & realidade, mas rivalizar com ela.” Com efeito: o que difere fundamentalmente um jornalista de um escritor que decide escrever um romance em torno de fatos comprovadamente ocorridos, é justamente o grau de dependéncia ou de liberdade em relagao & realidade. Proust dizia que a partir do momento em que um acontecimento real € utilizado num romance, ele muda de estatuto no interior da obra, passando a se integrar a0 universo ficticio desta. Vérios so os eriticos e teéricos da Literatura que adotam essa posiggo em suas andlises, afirmando que a criagdo artistica nfo se submete & “prova da verdade”. No nosso entender, o escritor que utiliza uma matéria hist6rica como tema de seus roman- ces, tem um certo compromisso com a realidade, pois que a Histé- tia é de dominio ptblico. E certo, porém, que ele vai manipulé-la a seu bel-prazer, primeiramente com objetivos estéticos — transformé- la em romance (sem o que ele escreveria um livro de Histéria) — €, em seguida, com objetivos ideolégicos — exprimir os seus pontos de vista, passar a sua prdpria mensagem. Ora, nao € diffcil provar, como vimos, que a obra toda de Malraux € solidamente fundada sobre dados verificéveis.. Mas cla 148 se inscreve entre dois pélos: a necessidade do real ¢ a fransfiguragao desse mesmo real — e é justamente af que reside a sua especificida- de. A partir de fatos comprovadamente reais, geralmente tirados do universo histérico, 0 autor cria o seu universo; ele os utiliza para expressar, de forma concreta, sua concepgao pessoal do mundo ¢ da vida. Assim, nfo é gratuitamente, por exemplo, que, embora nume- rosas passagens de L’spoir sejam consagradas as atividades da es- quadritha internacional que Malraux comandara na Espanha, esta nndo tem no romance nenhum nome particular, ¢ seu comandante, apesar de ter alguns tragos de Malraux, ndo é Malraux, é Magnin — que s6 tem exist@ncia real no mundo imaginério. Além disso, im- portantes estudiosos da obra de Malraux, como W. Langlois ¢ R. ‘Thonberry, mostraram em seus ensaios a forma como alguns dos mais importantes episédios do romance foram manipulados pelo autor — organizados em seqiiéncias de segmentos deveras seletivas, acrescidos de elementos romanescos, perfcitamente verossimeis den- tro da coeréncia interna dos fatos, mas cuja veracidade seria impos- sivel de se comprovar, modificados em determinados detalhes de dados ou circunstancias, que, sem interferir propriamente na sua au- tenticidade, conferem-lhes no entanto um novo sentido — para, por um lado, aumentar o interesse dramitico do romance (objetivo esté- tico), e, por outro, revesti-los do significado que ele visa a veicular (objetivo ideolégico) © livro — além de suas qualidades especificamente literérias, cuju andlise foge dos limites deste artigo — pode ser resumido numa sucesso de atos herdicos ¢ discursos filosdficos: representagies da dura yida dos soldados alternam com altas consideragSes intelectuais; yioléncia fisica e meditagio metafisica coexistem; a ago gera a reflexdo, que acaba por se impor e predominar na narrativa: sobre a natureza e o verdadeiro sentido do conflito, sobre a necessidade de disciplinar os impulsos sentimentais dos republicanos, sobre as relagdes entre engajamento politico e liberdade, sobre a crenga no mito da Revolugo, sobre os homens diante da Histéria e diante da vida, Seqiiéncia de cenas onde, como diré G. Picon, “dialogam as inguietudes fundamentais do homem”. Ligando-as todas, a idéia bdsica que forma a unidade do livro: a exaltagzo da confianga e da fraternidade entre os homens. A auséncia do tradicional herdi ro- manesco tem por obietivo valorizar o sentido de coletividade: das cenas de feroz atrocidade guerreira, onde os sofrimentos fisicos € morais so descritos em todos os seus detalhes trégicos, atingindo 149 diretamente a sensibilidade do leitor, intimeras personagens emer- gem, muitas das quais epis6dicas; algumas porém, retornam com freqiiéncia, mas permanecem, de certa forma, apenas representativas: raros so os detalhes fisicos de suas descrigdes, 0 que as priva de qualquer possivel individualizagao; trata-se de intelectuais, suficien- temente humanos em suas grandezas ¢ em suas fraquezas, mas que se questionam incessantemente ¢ que meditam sobre o objetivo da guerra, sobre o valor da coletividade, sobre o destino do ser huma- no, sobre 0 sentido da vida, valorizando o engajamento fraterno por uma causa comum, exaltando valores como heroismo, lealdade e so- lidariedade, ‘Trata-se, para Malraux — e € aqui que encontramos o significa do profundo, subjacente & Histéria, que justifica o titulo do romance — de transmitir coragem e otimismo as massas sofridas, e, mais ainda, de “dar consciéncia aos homens da dignidade que eles ignoram em si” — objetivo maior da arte, segundo o préprio autor. Eo que resume, com fino lirismo, uma das personagens do romance. “Les hommes unis @ la fois par Vespoir et par Vaction accedent, comme les hommes unis par 'amour, a des domaines auxquels ils waceéderaient pas seuls” (pag. 379). Se a obra de atte por ser definida como uma transfiguragio do real, a verdade artistica 6 de natureza estética e moral. & assim que © verdadeiro sentido de L’espoir nfio esté na sua matéria-prima, ou seja, os acontecimentos ocorridos na Espanha entre julho de 1936 e marco de 1937; esté, antes, nas atitudes dos homens diante desses acontecimentos, no conjunto de idgias que Malraux coloca em cena através dessas atitudes, e no lirismo épica do estilo elaborado que traduz poeticamente a profundidade dessas idéias, Embora tenha vivido de fato a dolorosa experiéncia da Guerra Civil Espanhola, Malraux, como artista, transforma-a e adapta-a para inseri-la na reali- dade da ctiacdo literdria. Mais importante do que a verdade aparente dos fatos é a verdade subjacente a eles, que o artista capta ¢ trans- mite, Comentando o livro de Picon sobre si, Malraux anota: “En combatiant avec les Républicains et les communistes espag- nols, nous défendions des valeurs que nous tenions (que je tiens) pour ‘universeties's. Sao justamente esses valores que constituem a estrytura fundamental em torno da qual se organiza seu romance. Os elementos da reali- 150 dade histtica so assim dispostos em configuragdes romanesca com o objetivo de transmitir as idéias filos6ficas do autor sobre a Guerra da Espanha em particular, sobre a Revolugao em geral, ¢, numa perspectiva metafisica, sobre os valores que formam nfo um homem, na sua efémera individualidade, mas 0 homem, na sua per- manéncia fundamental. E o livro se fecha, pois, sobre esta conside- ago: “On ne découvre qu'une fois fa guerre, mais on découvre plu- sieurs fois la vie {...) Manuel entendait pour la preniee fois Ja voix de ce qui est plus grave que le sang des hommes, plus inguiéiant que leur présence sur la terre — la possibilité infinie de leur destin; et il sentait en lui cette présence permanente et profonde comme le battement de son coeur.” (pag. 593), E Malraux transforma assim sua experiéncia em consciéncii pondo-a para uma dimensio mais ampla, a da criagio literdri Nio hé diwida de que a obra de arte é uma “totalidade”, que tem vida auténoma e que nao necessita de explicagdes ou compara- ges referenciais para ser compreendida em toda a sua profundidade e multiplicidade de sentidos. Contudo, quando o artista faz de uma realidade conereta a fonte de sua inspiragio criadora, o valor de sua ‘obra estaré certamente nao apenas na tradugSo estética dessa reali- dade, mas também — e principalmente — na forma pela qual ele a ultrapassa. Se 0 “romance de idéias” tende em geral a se tornar uma leitura entediante, pela presenca das longas exposigdes tedricas a que sucumbe por vezes a ansia de demonstracio do autor, sc a “litera- tura engajada” corre o risco de ter vida curta, dado o seu cardter circunstancial ¢ tendencioso, a recria¢io romanesca que faz Malraux da Guerra Civil Espanhola pode ser considerada um exemplo de obra literdria que recusa a gratuidade estética e formal, sem para tan- to perder suas qualidades propriamente artisticas, que, como toda verdadeira obra de arte, desafia 0 tempo e 0 espago: permanece. trans- NOTAS 1 — Cf. respectivamente: H. Thomas, La Guerfe D'Espagne. 8. Kocstler, The Invisible Writing (London, Collins, Hamish Hamilton, 1954); A. Malraux, Antimémoires (Paris, Gallimard, 1967, pag. 99); G. Orwell, Such, such were the joys (New York, 1953, pags. 135-136). 2 — Segundo relato do proprio jornalista, Jean Cassou, a Cl. Pichois (cf. Les Eerivains et la Guerre d’Espagne, Les Dossiers H, pig. 14). 151 3 — La Force de V'Age, Paris, Gallimard, 1960, pig. 284. 4 — Tharbes, Ed. Pyrénéennes, s.d., pag. 5. 5 — Ver, a esse respeito, mett artigo “Literatura e Hist6ria: 0 exemplo de Victor Hugo” in Lingua e Literatura, n° 15, FFLCH — USP, 1986. 6 — Cf, Lildiot de la Famille — J. Paris, Gallimard, 1948, pags. 326-327. 7 — Ver, a esse respeito, meu ensaio Literatura e Histéria: 0 romance revoluciondrio de André Malraux. Sio Paulo, Atual Edit., 1986. 8 — A edigio a que me referirei aqui é a da Coll. Folio, Paris, Galli- mard, 1937. 9 — Le Magazine Littéraire, n° 11, 1967. 10 — Cf. Robert Thornberry, André Malraux et Espagne, Genebra, Live. Droz, 1977; Claude Pichois, “Histoire et Poésie dans L’espoir dAndré Mat. taux" in Travaux de Linguistique et de Littérature. Centre de Philologic ot de Littérature Romane de l'Université de Strasbourg, VIII, 2, 1970; Pol Gail- lard, L’espoir — Malraux, Paris, Haticr, 1970, 11 — Cf. Gaetan Picon, Malraux. Paris, Seuil, 1953, pégs. 38 ¢ 40. 12 — Cf. W. Langlois, “Malraux et la transformation littéraire du réel”, in Les Eserivains et la Guerre d'Espagne, op. cit., pigs. 259 a 274; “Malraux romancier devant le résl: Pattaque & Madellin” in Revue d'Histoire Littéraire de la France, 81° a., n.° 2, Armand Colin Fd., margo-abril 1981, pags. 215 a 235; R. Thornberry, op. cit., pags. 79 a 151, 15 — Op. cit. pag. 90. 152

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