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CAPITULO MUNDOS DO TRABAL Neste capitulo vamos discutir: 1 Otrabalho em Durkheim, Weber 3 Taylorismo e fordismo 4 Toyotismo e neoliberalismo 5 Novas modalidades de trabalho Trabalnadores do mundo, nies! obra de Banksy exposta em museu de Bristol Inglatera, Reino Unido, 2009, imos no Capitulo 6 que a Sociologia pode ser entendida como um desdobramento das necessidades do século XIX, sobretudo em ra- 280 do processo de industrializacéo de Europa. Naquele contexto de intensa transformag&o das cidades, da cultura, da producdo e da politica, foram construidas a sociologia de Karl Marx, no século XIX, e as de Emile Durkheim e de Max Weber na virada do século XIX para 0 XX O estudo do trabalho, das questées que 0 envolvem e da relacdo do traba- Iho com outros aspectos da vida social é referéncia para os autores classicos. Até aqui nos remetemos ao trabalho de maneira geral. Neste capitulo vamos conhecer a viséo dos autores classicos sobre 0 trabalho assalariado, isto é, © tipo de trabalho realizado nas sociedades capitalistas como a nossa. Tam- bém veremos como 0 trabalho assalariado se desenvolveu, quais so suas caracteristicas centrais no mundo atual, como se organizou e se organiza o trabalho na industria, qual o papel da geréncia e como a tecnologia incre- menta a producao. 50 ‘unmape2icariruLo7 1, O TRABALHO EM DURKHEIM, WEBER E MARX Emile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, apesar de terem explicagoes e métodos de analise diferentes, elegeram o trabalho como um dos objetos cientificos de seus estudos, Como Durkheim era de origem francesa e Marx e ‘Weber, de origem alema, eles foram influenciados pela Revolu¢ao Incustrial @ pela Revolucdo Francesa, marcos de um novo modo de vida no Ocidente. Revolucdo Industrial é 0 nome dado a um con- junto de mudancas tecnolégicas que tiveram. profundo impacto no processo produtivo, econdmico e social. Iniciado na Inglaterra em meados do século XVIll, esse amplo processo de mudancas se propagou pelo mundo a par- tir do século XIX. Na primeira fase (desenvol- vida entre a segunda metade do século XVill © a primeira metade do século XIX) foram principalmente utilizados recursos como © ferro, 0 carvao, 0 tear mecénico e a méquina 2 vapor. A segunda fase (entre cerca de 1860 ‘+ PARA SABER MAIS « Revolucdes burguesas ea segunda metade do século XX) foi carac- terizada pelo emprego da energia elétrica, do a¢0 @ de produtos quimicos. Ja a terceira e mais recente Revoluco Industral se inicie nos anos 1960 e tem como centro a robotica e mi: croeletrénica Revolugao Francesa é o nome dado um periodo crucial da historia da Franga, entre 1789 € 1799, que marcou © fim do chamado Antigo Regime, Nele, a monarquia absolutista foi substituida por uma monarauie constitu- cional e em seguida pela Primeira Republica, Aopcao pelo trabalho como objeto de anélise demonstra a importancia dessa atividade nas sociedades capitalistas, tanto na época desses autores como nos dias atuais, Durkheim concentra sua aten¢o na diviséo do trabalho. Como vimos no Ca~ pitulo 6, essa civiséo seria responsdvel pelo desenvolvimento de uma sociedade diferenciada internamente. Para Durkheim, quanto mais especializado é 0 traba- Iho, mais lacos de dependencia se formam. Assim, quanto mais profunca for a ci- visdo do trabalho, maior sera a teia de relacées de dependéncia entre os indivi ‘duos (um padeiro depende de um agricultor, que depende de um ferreiro, @ assim por diante), Isso levard, por consequéncia, a uma maior coesdo social ‘A divisao do trabalho, na concep¢ao de Durkheim, é um fato social presente ‘em todos os tipos de sociedade. Ha sociedades com menor ou maior divisso do trabalho, mas em todas elas so encontradas funcSes diferenciadas entre os indi viduos, © que 0s divide em grupos funcionais distintos com condutas socials tam- bem cistintas. Nas sociedades capitalistas, 0 trabalho ¢ pensado come uma ativi- dade funcional que deve ser exercida por um grupo especifico: os trabalhadores. Durkheim entende a diviséo social entre trabalhadores e empregadores como uma divisdo funcional. Divisdo entre aqueles que devem cumprir uma atividade de organizacao ds produgao & mando (os empregadores) ¢ os que devem desen- volver uma atividade produtiva (os trabalhacores). Essa diviso, como extensao da divisdo do trabalho, promove a coestio social e, por isso, deve ser preservada socialmente No entanto, nessa divis8o hé problemas que Durkheim vé como doencas so- clais a serem corrigidas para que o todo social se desenvolva adequadamente, Se hd excessos por parte de capitalistas ou de trabalhadores, deve-se regulamentar suas atividades a fim de alcancar 0 equilibrio e garantir a integraco social das partes envolvidas. Dessa maneira, o lema de Durkheim prevalece: as partes (05, individuos) devem submeter-se de modo a garantir a permanéncia co todo (@ so- ciedade), De um lado, o capitalista ndo se deve deixar levar pelo egoismo do lucro ‘exacerbado, de outro, 0 trabalhador ndo deve questioner sua funcionalidade den- tro da diviséo do trabalho. 15: BERBER que pratica o ascetisma um conjunto de praticas que leva a cefetiva realizacao da virtude, a plenitude da vida moral por meto da discipiina e do autocontrole. Sinftnio, de malo de 2012 Max Weber parte de uma perspectiva diferente. Segundo ele, nao hd algo ge- ral e comum a todas as sociedades. Cada sociedade obedece a situades histori- ‘cas exclusivas; e no capitalismo, por condicées especificas, o trabalho teria se tornado uma atividade fundamental Em seu livro A ética protestante e 0 espirto do capitalismo (1905), Weber observa ‘que ocorreu um encontro que deu ao capitalismo sua particularidade, Segundo We- ber, ndo bastou o desenvolvimento do mercado, da moeda, do dinheiro, das relacoes, de troca em geral para que o capitalismo se constituisse como uma sociedade parti cular. Essas condicées estavam presentes em sociedades passadas, como na antiga Roma e durante a Idade Média, cuando jé ex’stiam vérios elementos que hoje cover nam as relagdes monetérias, comerciais € de troca. Para Weber, tais caracteristicas, tipicas de uma estrutura mercantil, n30 $80 suficientes para explicar formacao do capitalismo. A especificidade do capita: lismo, segundo ele, est no encantro entre o “espirito” capitalista, de obter sem- pre mais lucros, e uma ética religiosa fundamentada em uma vida regrada, de au: tocontrole, que tem na poupanca uma de suas caracteristicas centrais. Nesse encontro entre o espirto capitalista ea ética protestante, que se deu em de- terminadas partes da Europa e também nos Estados Unidos, 0 trabalho ocupa lugar central, Para o praticante do protestantismo, o sucesso nos negécios é um sinal de ter sido escolhido por Deus. © trabalho arduo e disciplinado e uma vida regrads e sem ex- ‘cessos podem Ihe trazer o éxito profissional, expresso de sua fé e salvacao espiritual Weber observou que a formaco do capitalismo teve como caracteristica fun: ‘damental essa aco social orientada por um objetivo racional. Isto é, uma a¢ao BBEBHGE que, quando resulta em éxito em sua vica material, garante ao individuo ‘a sequtance de ter sido escolhido por Deus. O encontro entre uma ética religiosa e um espirito empreendedor teria possibilitado a formagao histérica do capitalis: mo. Entretanto, a procura da riqueza que Weber ja via em sua época nao seria mais quiada por padrées éticos. Ela, contrariamente, estaria agora associada tao somente 2 "paixGes puramente mundanas". Ao longo 1A Bo TRABALNO do tempo, o encontro formador da sociedade capita- lista perdeu seu sentido original e o lucro capitalista passou a dirigir as sociedades cantemporéneas, Para Karl Marx, 2 perspectiva sobre o trabalho ¢ his: torica, como em Weber. Entrotanto, Marx Gestacou a di- ferenca entre 0 trabalho em geral e o trabalho particula- rizado em suas formas histéricas. O trabalho em geral é toda atividade que relaciona a humanidade & natureza, isto é, toda e qualquer atividade que envolve a transfor: macdo da natureza para suprir nossas necessidades, mas, que envolve um processo teleolégico: primeiro pense: mos, concebemios mentaimente a ativicade, e depois a realizamos. Antes de construir ume casa, eu imagino ‘essa casa e $6 depois transformo o que imaginei em uma casa real, Quando transformo minha ideia de casa em uma casa objetiva, faco isso por meio do trabalho. ‘unmape2icariruLo7 [SOU NISTO? Cada sociedace marcada por um tipo especifico de organiza¢o do trabalho, e Marx concentra sua anélise nessas formas histéricas de trabalho, particularmente, no trabalho assalariado, Para Marx, 0 trabalho assalariado @ uma manifestago histérica da organiza¢o do capitalismo como sociedade. Com base na exploraco do traba- Iho, por meio do pagamento de salérios, como veremos adiante, a sociedade capita- lista produz e reprocuz sua existéncia. Ou seja,o trabalho assalariado ¢ uma atividade central para a perpetuacao das relacdes sociais entre capitalistas e trabalhadores e, por consequéncia, da explora¢so e dominacao do trabalhador pelo capitalista Para Marx, a divisdo em classes sociais no capitalismo constituiu-se com base na retirada, pela burguesia nascente no século XVIll, dos meios de produ- 80 (terras, ferramentas, animais, etc.) dos pequenos produtores livres. Com isso, formaram-se 3 burguesia (ou classe capitalist) e 0 proletariado (ou classe trabalhadora), classes fundamentais do capitalismo. A reproducao dessa divi-. Vela na seco 80 social se dé com base na exploracao do trabalho assalariado que o traba- _BIOGRAFIAS quem thador vende para o capitalista em troca de um salario, s80 Daniéle Kergoat 2 primeira vista, 0 trabalho assalariado pace ser considerado como atividade (1942) e Helena ue 6 vendida pelo trabalhador em troca de um salrio pago pelo capitalsta. No Hirata (946-. entanto, Marx assinala que essa troca, apesar de aparentar uma igueidace 0 _— pratica se d de forma desigual. Do panto de vista das leis. regras, normas socials que foram construidas his- toricamente a favor da classe dominante (@ burguesia), essa troca aparenta ser igualiteria. Por exempio, o captalista tern um capital (inheiro) ¢ com esse capital ‘monta um neséeio. Para isso, precisa contratar certo numero de trabalhadores. Aparentemente, 0 capitalsta oferece trabalho e 0 trabalhader pode aceitar ou ro esse trabalho, No entanto, como salientou Marx, Gevemos considerar a desi gualoade historica desse rolacgo de troca ‘A constituio da classe trabalhadora como classe a obriga @ vender sou trabalho. Porém, o trabaihador no posers rejaitar 0 T°DE MAIO trabalho? De maneira individual sim) Mas, se pensarmos no conjun- to da classe trabahadora, no, A classe trabalhadora é forcada 3 vender seu trabalho poraue teve seus meios de producso toma- dos historicamente pelos capttalistas. Se no tem como procuzir sua subsisténcia por conta prépria,a classe trabalhadora se vé for- cada a vender seu trabalho em troca Ge um salario, caso contrério ‘no teria como sobreviver [Nossa vida na sociedade capitalista depende, portanto, da ex- ploracao do trabalho assalariado, Aquilo que comemos, bebe- ‘mos, vestimos, tocamos, assistimos, consumimos, em geral éfru- to desse tipo de trabalho A civisBo sexual co trabalho é um aspecto da diviso social do trabalho. Segundo a sociéloga francesa Daniéle Kergoat (1942) dois principios estruturariam @ diviséo sexual do trabalho: 0 princl- pio de separacéo, que divide as atividacies masculinas das femin- nas: €© principio de hiererauia, que estabelece maiores rencimentos e maior pres- tigio social 20s trabathos considerados masculinos e menores rencimentos e menor prestigio social 20s trabalhos considerados femininos. Outra importante estudiosa da divisao sexual do trabalho é a socidioga brasileira Helena Hirata (1946-) Charge de Jean Galvdo. 2. FORGA DE TRABALHO E ALIENAGAO A desigualdade econémica ¢ estrutural em nossa sociedade: esta presente desde 0 inicio do capitalismo, ganhanda novos contarnos e feicdes em cada con- juntura histérica. Vimos, no item 1, que essa desigualdade tem relac3o com os meios de producao. Na formacao do capitalismo, classes socials distintas se es: truturaram e com base nelas estruturou-se também uma forma de viver e de con: sumir. Essa diviséo estabeleceu uma separacéo entre aqueles aue tém os meios de produgao e os que no os tem, Segundo Marx, essa relacdo ndo ¢ apenas uma relagao econémica. A divisso ‘entre classes socials impée formas de vida especificas. Por exemplo, o acesso 20s transportes das classes trabalhadoras no é © mesmo que o das classes capita: listas; 0 acesso a educa¢ao também nao. Poderiamas listar muitas outras diferen: cas em relacao a sade, habitaco, consumo, lazer, etc. lustracao do artista ‘polonés Pawel uczynsk de 2004, Assim, apesar das leis, ragras @ normas que aparentam garantir a igualdade entre {as pessoas, ha ciferencas sociais significativas entre elas. Para Marx, essa questo é estrutural nes sociedades divididas em classes, como a sociedade capitalista, No en: tanto, a diferenca em relaco as outras sociedades que antecederam o capitalismo & ‘que até entéo as diferencas entre as classes eram formais e estruturais, Jé no capita: lismo, paracemos iguais, formalmente todos temos os mesmos direitos e oportunida- ‘des; porém, de fato somos recortados por diferencas estruturais relacionadas & divi- so entre os que tém e os que nao tém camo produzir sua subsisténcia, Segundo Marx, a desigualdade social é fruto da diviséo da sociedade em clas- ses. Aqueles que tém os meios de procucso (dinheiro, prédios, capital, acdes na Bolsa de Valores, etc.) compram o trabalho daqueles que no tém esses meios, ‘A questo se torne sinde mais complexa quando falamos em forga de trabalho. Quando o capitalista paga pelas atividades desenvolvidas numa empresa ou industria ‘em um més, 0 que ele esté pagando? Por exemplo, se um grupo de trabalhadores ‘esta empregado em um ramo da construcao civil, ¢ $8 no fim do més todos esses tra~ balhadores forem pagos pelo conjunto de seus trabalhos, o capitalista nao teré lucro. Isso quer dizer que 0 capitalists paga pela forca de trabalho (@ capacidade de traba: Iho) € néo pelo produto de todo 0 trabalho realizado naquele periodo. Quando alguém recebe seu salario mensal, acredita estar recebenco 0 total de seu trabalho, mas, na verdade, essa quantia representa apenas uma parcela do trabalho desenvolvido durante o més. Marx entende que nessa relacao de troca hd ume aparéncia (salério pelo trabalho) e algo oculto (salério apenas por parte do trabalho). Essa ocultacao seria uma forma de alienacao. 1 ml Como vimos, o trabalhacor vende sua forga de trabalho, mas s6 recebe por uma parcela do periodo em que a empregou. Segundo Marx, ai existe uma dupla dimensao. 4 primeira dimensao ¢ alienago co trabalhador, que verermos em se- uid. A segunda & a mais-valia, termo cunhado por esse autor para exolicar essa relacSo de apropriacao do produto do trabalho como um todo € o pagamento de ‘apenas uma parte dele. Na economia marxista, mais-valia é a ciferenca entre 0 va~ lor que 0 trabalhador produz e 0 seu salario. O salario equivale a apenas parte do valor produzido pelo trabalhador e o restante é a mais-valia, apropriada pelo capi- talista. Por exemplo, em um més, uma montadora produz 100 automévels, mas nso. aga 0 valor dos 100 carros para os trabalhadores, Paga apenas uma parte desse valor: @ outra parte € 0 lucro do capitalista, (OCE JA PENSOU NISTO: © lucro é uma forma de rendimento que est relacionada ao trabalho. 0 lucro € maior & medida que se paga menos pela forca de trabalho, Se 0 capitalista corta 0 salério de seus empregados, seu lucro é maior; se ele ‘aumente os salérios, seu lucro menor. Por isso, ha um movimento cons- tante para reduzir o valor da forca de trabalho, com o objetivo de aumen- tar os lucros, Reflita sobre essa questo: existe a possibilidade de chegar 2 uma condigso mais equilibrada entre trabalhadores e capitalistas? Em que medida é possivel criar regras e normas para a diminui¢ao des de: ‘gualdades socials? Assim, 2 finalidade de toda 2 produgao de mercadorias no capitalismo no atender a necessidades individuals ou coletivas com produtos utes, e sim valori- zar 0 capital. Marx afirma que a mercadoria precisa ser uti, afinal ninguém com- praria algo sem utilidade, seja um eletrocoméstico, seja um programa de compu- tador. No entanto, o ue define o valor da mercadoria ndo é sua utilidade, mas a ‘quantidade de trabalho contido nela. E com base nesse raciocinio que Marx diferencia o trabalho produtive do trabalho improdutivo. Nao se trata de um juizo de valor: o que define o tra- balho produtivo nao é sua importancia social, politica ou econdmica, Trabalho produtivo é aquele que produz diretamente uma nova quantidade de valor com base na exploracao do trabalho. O trabalho de um médico nao assalariado, por exemplo, ¢ improdutivo, pols nao procuz diretamente mais-valia, a0 contrério daquele exercido pelo trabalhador assalariado da montadora. ‘A.outra dimensao desta relacéo é 2 alienacao do trabalho: o trabalha- dor se aliena — se distancia — do produto de seu proprio trabalho, ois tudo aquilo que produziu torna- se propriedade de outra pessoa. O resultado do trabalho nao pertence mais a0 trabalhador, pois esse pro- duto pertence ao capitalista, na for- ma de propriedade privada. Ao se alienar do produto de seu trabalho, segundo Marx, o trabalhador se alie~ na do seu préprio trabalho, isto é, de sua atividade vital como ser huma- no, alienando-se, com isso, do que o caracteriza como ser humano. Nstragso do artista Pawel ‘Kuezynsti, do 2004 ‘unmape2icariruLo7 A industria astomobilitcn fal, durante o século XX, moderizacae. Alguns ‘estudiosos se referem a0 sécvlo XX como a civiiacko ‘do automovel, NSO 8 t03 8 dois mais importantes ‘modelos de producto Industria levam o nome de ‘automobilticas ciados © plonelramente implantades. Naimagem, vemos 9 pitio de uma industria tab conde foram experi eutomobilist Estados Unidos, em 1973 3. TAYLORISMO E FORDISMO. © conceito de mais-valia talvez seja © mais importante dentre os desenvolvi dos por Marx. Com esse conceito, Marx demonstrou uma desigualdade estrutu: ral: pare produzir mercadorias, o trabalhador se submete a uma relac3o na qual seu trabalho @ explorado de forma cada vez mais intensa. Para entender como se dé a produc8o no capitalismo é necessério compreen: der as grandes transformagdes produtivas. © que podemos chamar de reestru- turagdo produtiva, revolucdo tecnolégica ou, nas palavras do pensador marxista italiano Antonio Gramsci, como uma forma de revolugao passiva. Para iniciar & discusséo, vamos pensar nas seguintes questdes: Por que é sempre necessério desenvolver a producao da industria? Por que a produeao sempre precisa ser in: crementada em termos tecnolégicos e gerencials? das do século XX. Gramsci ns mediterranea d eS PERFIL ANTONIO GRAMSCI teoria politica de Antonio Gramsci pode ser considerada uma das mais notaveis e profun- ceu em Ales, na ilha xdenha, regio auténoma da Ité- Mesmo desfrutando de imunidade parlamentar por ser deputado eleito pelo Partido Comunista Ita liano (PCI, Gramsci foi preso em 1926 pelo regime fascista de Benito Mussolini. Transferido prises, nelas permaneceu por quase dez anos Morreu em 1937, pouco depois de ter encerrado seu ia, em 22 de janeiro de 1891. Filho de Francesco Gramsci e Giuseppina Marcias, destacou-se desde muito cedo pelo brilhantismo intelectual Jovem Gramsci iniciou sua pratica politica e in- telectual escrevendo em jornais ¢ participando do movimento socialista na Sardenha e depois em Tu- rim, Em 1920, foi um cos criadores de LOrdine Nuo- vo, uma revista socialista que ganhou a aceitaca: de milhares de leitores. Além de escrever sobre as condicdes de trabalho e da vida proletaria na Italia, Gramsci traduziu e publicou textos de Lenin (1870: 1924) e outros intelectuais comunist periodo de liberdade condicional ‘Ainda que sua vida na priso tenha sido marca: da por enfermidades, Gramsci escreveu, entre 1926 1934 dernos do cércere (1948), Embora esses escritos tenham como tema central a andlise da sociedade italiana, seus principios de teoria politica se carac: terizam como gerais no contexto das sociedaces capitalistas. Os conceitos de hegemonia e de revo" luco passiva sintetizam un pouco de sua produ 80 intelectual, cue ainda hoje é umas das mais i das, atuais e relevant principais obras, publicadas como Ca: ‘Ao longo do tempo, a producso industrial teve grande desenvolvimento. A produgao manufatureira dos séculos XVI e XVII, realizada com poucos recursos. tecnolégicos, seguiu-se no século XVIII a introdugao da maquinaria, que fez au- mentar vertiginosamente a produtividade. Como veremos adiante, do fim do sé- culo XIX @ comeco do XX, com a utiizacdo de formas de geréncia taylorista ede producée fordista, até a producdo toyotista dos anos 1960 e 1970, podemos constatar uma extraordinéria transformacao da produgdo industrial A transformacéo industrial tem como objetivo central aumentar os lucros capita~ lstas. Para isso é necessério, a0 mesmo tempo, aumentar a produtividade e controler © coletivo de trabalhadores. 4 introducao de tecnologias no & um processo neutro: atende aos interesses das empresas e das industrias. A substituicao de uma maquina Ultrapassada por outra mais eficiente no s6 aumenta @ produtividade (@ quantidade ‘de mercacorias produzidas) como amplia o controle sobre os trabalhadores, \Velamos um exempio histérico: a Primeira Revolu¢ao industrial. Antes dela, a produgao, mesmo que ja sob a l6gica da propriedade privada do capitalista, era em grande medida controlade pelos trabalhadores. Aqueles trabalhadores ainda conseguiam determinar o ritmo da producao, porque conservavam o saber-fazer. Com a introducae da maquina, 0 trabalhador perdeu o controle do ritmo da pro- dueao, que passou a ser ditado pela maauina. Ou seja, a méauina incorporou al- ‘gumas técnicas de pracucao que pertenciam aos trabalhadores, submetenco o trabalhador coletivo a exercer tarefas mais simples. ‘Aumentar a produtividace pode parecer positive, dada a grande quantidace ce produtos & disposicgo da sociedade. Porém, no ¢ isso que est em quest8o, Com a introdugao da méquina, o trebalhador perce o controle sobre seu trabalho e so- bre 0 coniunto dos trabalhos realizacos. Com isso, sua capacidade politica se en- fraquece, pois seu trabalho pode ser facilmente substituido. Se a importancia do trabelhador € enfraquecida, © mesmo acontece com seu poder de resistencia po- ltica. A primeira conclusao, portanto, & que, ao introduzir maquinas ou novas tec- nologias, 0 capitalista consegue que o trabalhador produza mais e ainds tenha seu salério reduzido, jd que seu poder de resisténcia diminui 8 medida que diminui tam- bem sua importancia no processo de trabalho. ‘A substituigS0 de trabalho vivo por trabalho morto, isto 6, de trabalhadores por méquinas, comum na produgdo capitalista. Como vimos, essa estratégia tem relagao direta com o aumento da produtividade, com 0 maior controle do trabalhador e, portanto, com o aumento do lucro das empresas. ‘Ao longo do tempo ocorreram alguns momentos de arande transformacao produtiva no capitalismo. Cada vez que ocorre diminuic&o dos lucros, 0s capi- talistas tornam medidas para restaurar a lucratividade perdica. Nestas transfor~ mag6es, um modelo de procueae é substituido por outro. No século XX, identi- ficamos dois grandes momentos de reestruturac’o da producao: 2 impiementa¢o do modelo taylorista/fordista e a do modelo ohnista/toyotista. ‘unmape2icariruLo7 Mulhorestrabalham em de vagbes de passages ‘da Great Northern allway ferrova brtinica ‘estabelecida em 1846 O taylorismo e 0 fordismo datam do fim do século XIX e inicio do XX; 0 toyo: tismo, ou ohnisma, se desenvalveu nos anos 1960 no Japao e na década de 1970 na Europa e nos Estados Unidos, pare entéo ganhar o mundo. O taylorismo ¢ um tipo de organizacéo gerencial, o que hoje se pode chamar de métado de administracao co trabalho. Desenvolvido pelo engenheiro estadu: nidense Frederick Winslow Taylor (1856-1915) e condensado em seu livro Princ ios de organizacao cientifica (1911), pode ser sintetizado como um método de tempos e movimentos cujo principio geral era retirar 0 controle da producao das m8os dos operdrios para com isso aumentar a produtividade do trabalho. Taylor notou que os trabalhadores levavam muito tempo para executar suas terefas, Para acelerar a producdo, desenvolveu um proceso de classificacso € sistematizacdo, dividindo o trabalho de um artes8o em varias etapas simples, que podiam ser desernpenhadas por operérios recém-qualificados. Assim, aumentou @ produtividade do trabalho e conseguiu controlar os trabalhadores Com essa divisdo do trabalho em tarefas muito simples e extremamente repe- titivas, o trabalhador podia ser substituide a qualquer momento. Isso enfraque: ceu politicamente a classe trabalhadora, diminuindo também a mécia salarial Taylor também introduziu um controle rigido de tempo de trabalho fiscalizado por capatazes. Os operérios deveriam fazer seu trabalho em um tempo cronome: trado, sob vigilancis de supervisores. Taylor desenvolveu técnicas de manuseio dos produtos a fim de otimizar 0 tempo e estabeleceu salarios por peca. Sem in- troduzir uma s6 maquina, o sistema atingiu o objetivo central do capitalismo: fa: Zer crescer 0s lucros a0 aumentar a produtividade com base no controle dos ope: rarios e na diminuicSo dos salérios pagos. Otaylorismo e 0 fordismo foram introcuzidos praticamente ao mesmo tempo nas fébricas de automéveis dos Estados Unidos e depois na Europe ocidental, O industrial estadunidense Henry Ford (1863-1947) se utlizou de todas as técnicas gorenciais in- troduzidas por Taylor @ a elas somou outras. introduziu a esteira mecénica, que pas- sava diante dos trabalhadores, poupando tempo de transporte de pecas. Estabele- ceu também uma produco intensa, oferecendo elevacao de saldrios em caso de superacSo das metas, incitando a concorréncia entre os operarios e estabelecendo regras de comportamento fora da fabrica, Ford controlava o consumo de bebides al coblicas, incentivava a poupanca e estimulava um modelo ce vida cue se baseave no consumo de produtos vindos das indistrias de automéveis e de eletradomésticos: 0 american way of ife, sto 6, um estilo de vida caracteristico dos Estados Unidos, ¢ es timulade por esse tipo de produce de mercadorias. ‘unmape2icariruLo7 (ne Sa HE wR ninco publicado em revista feminina norte-americana a em torne Ge 1948 com os dizeres: HA MAIS FRIGIDAIRES EM LARES AMERICANOS 00 GUE QUALQUER OUTRO. REFRIGERADOR, es Lies a BF oe b Em outubro de 1913, a primeira esteira mecdnica do mundo entrou em opera¢do am uma fabrica na cidade ce Highland Park, estado cde Michigan, nos Estados Unidos. Na América, a racionalizacao do trabalho e o proibicionismo estao indubitavelmente ligados: as investi gages dos industriais sobre a vida intima dos operarios, os servigos de inspecac criados por algumas ‘empresas para contolar a ‘moralidade' clos operdiios sao necessidacles do método de trabalho _] Taylor exprime com brutal cinismo objetivo da socledace americana: desenvolver em um grau maximo, no trabalhador, os comportamentos maquinais e automaticos, quebrat a velha conexao psicolisica do tra balho profissional qualificad, que exigia uma certa particlpac4o ativa da inteligéncia, da fantasia, da Iniciativa do trabalhador, e reduzir as operacdes produtivas apenas ao aspecto fisico maquinal. i088 Brasieira, 2019 266. vol. 4 (Temas de Cultura, Agao cat ‘Amercanisma efocismo) Rio de ani Juntos, 0 taylorismo e © fordismo caracterizam uma forma de reestruturacdo produtiva, que teve como objetivo central restaurar os lucros capitalistas. Tal re: estruturacdo nao se restringiu 20 chao de fabrica: a introducao de técnicas ge- renciais de controle dos trabalhadores (taylorismo), somada 4 tecnologia (esteira mecanica), 8 eleva¢ao dos salérios por metas produtivas e a certas formas de conduta social fora das fabricas, constituiu um mado de vida intrinsecamente vinculado & producao em larga escala e, por conseauéncia, a0 consumo em mas: sa, Muitos cientistas sociais procuraram entender as consequéncias sociais das reestruturacdes produtivas, na medida em que as compreendem ngo somente como um processo de transformacao tecnolégico, mas também como um pro~ cesso de reorganizacdo politico e ideolgico das classes trabalhadoras. 4, TOYOTISMO E NEOLIBERALISMO As reestruturacdes produtivas podem ser consideradas, apesar de sepa: radas no tempo, elementos estruturais das sociedades capitalistas. E sempre necessario incrementar a produc&o para aumentar os lucros. e esse incre- mento se caracteriza como uma grande transformacao tecnolégica, politica, cultural e social. Na maioria das vezes, as reestruturacées produtivas vém re: megiar as crises econdmicas. Falar em crise significa dizer que houve perda de lucratividade, Nesse sentido, as reestruturagées produtivas tém papel fun: damental na reproduce das sociedades capitalis! is procuram restaurar © crescimento das taxas de lucro. Vimos que no inicio do século XX 0 taylor-forcismo caracterizou-se como a forma de organiza¢so das industrias e empresas, sobretudo as de automéveis, eletrodomésticos ou de produtos duraveis e ndo duraveis, Esse tipo de organiza: 680 tinha como elementos centrais a produgao em massa eo consumo em mas- Sa, 0 trabalho era repetitivo, de alta intensidade, com compensacdes salariais (sa- lérios por peca ou por produtividade) e dentro de uma cadeia produtiva marcada Por um rigido controle. Esse tipo de producao vingou por quase todo o globo até meados dos anos 1970. Nas tltimas décadas do século XX e inicio do século XX gradativamente cedeu espaco, com variacées histéricas de pats para pais, a uma nova forma de organiza¢ao da producao: 0 toyotismo. Antes de estudar o toyotismo, im- portante lembrar por que essa substitui- 680 tecnolégica foi necessaria. No perio- do principal do taylor-fordismo (apro- ximadamente do inicio do século XX até ados da década de 1970), formou-se um tipo de Estado que dave suporte a esse tipo de organizecso das industrias, Cam 0 crescimento vertiginoso da pro- ducdo, surgiram novas associacées tra alhistas e empresariais, novos sindica tos, novos padrdes de consumo e de comportamento, Tornou-se necessario um certo tipo de Estado para regular es- sas novas relacSes sociais se tipo de Estado, conhecido como de Bem-Estar Social, por causa das con: quistas politicas e sociais da classe traba: hadora, estabeleceu leis trabalhistas, de regulamentacao da jomnada de trabalho, com regras gerais que em alguma medi- da protegiam os trabalhadores. No en- tanto, essa mesma classe se suleitava & ntensidade da producéo taylor-fordista, muito rigida e disciplinada, para atingir altos indices de produtividade. Por volta do final dos anos 1960, as taxas de lucra- tividade comegaram a cair ea classe ca- pitalista impés a necessidade de restau- rar as taxas de lucro perdidas Linha de producto operade por robés em montadora da cidade de Kolin, na Republica Teheca, em foto de 2008. 4 empresa, uma oint-venturenipo-ancesa Drodus 1050 carros por ia; um nove carro sai da ‘brea a cada 88 segundos. sVOCE JA PENSOU NISTO’ Em todos os momentos da histéria das socieda- des capitalistas formem-se tipos de Estado e de ‘governo com leis, constituicées, projetos e linhas, politicas particulares. Todos tém como caracte~ ristica central. a manutencdo das relacdes socials capitalstas, isto é, 2 manutengSo da sociedade come tal. No entanto, cada tipo de Estado e go- verno tem caracteristicas que convergem para um certo momento, procurando atender os interes: ses das classes dominantes e, em certa medida, 2s reivindicacdes das classes dominadas naauele contexto, Procure pensar Ge que modo as noti- clas que vocé |é em jornais © revistas expressam ‘unmape2icariruLo7 essa relacdo entre 0 governo e os interesses da sociedade. Por exemplo, quando lemos sobre a ‘competi¢So da indiistria brasileira com produtos feitos na China @ a consequente necessidade de [proteger a industria nacional, podemos perceber a relacéo entre o Estado e 0 tipo de organizacso do capitalismo no Brasil Qu quando o governo i incentivos fiscals, como 3 reducdo da taxa de energia elétrica, pare determinadas empresas, ou ainda quando determinados direitos trabaihistas 860 criados ou cortados também podemos ver 2 intervencSo direta do Estado em questdes aue nos afetam social, politica e economicamente, Nesse contexto, uma forma de organizacSo da produ= ‘680 introduzida nos anos 1960 por Taiichi Ohno (1912- 1990), engenheiro de producgo da Toyota no Japéo, co- mecou a ser implantada nas fabricas de automéveis dos Estados Unidos e da Europa ocidental e, posteriormente, na maior parte do mundo. O modelo implantado no Jap3o tem seis caracteristicas basicas: 2) produco por demands, com estoques minimos; ») flexibiliza¢o da procucdo, a fim de tornd-la varia a, a0 contrario do fordismo, que produzia em série o mesma tipo de pro~ duto: © automacso das maauinas, isto ¢ méquinas que desempenham varias fun- es e funcionam com menor grau Ge intervencao do trabalhador; d) sistema just-in-time (no tempo certo), no qual a matéria-prima, pecs ou acessério chega ao local de produgao apenas no momento em que sera uti= lizada, evitando 0 acumulo de produtos no estoque: ©) sistema kanban, em que se pode acompanhar a necessidade de repasicao do produto no estoque por meio de etiquetas; 1) 08 CCQs (Circulos de Controle de Qualidade), grupos de trabalhadores que supervisionam 2 qualidade dos produtos, completando um proceso de responsabilizacao em relacao 2 cada etapa de producao, que deve atingir uma qualidade preestabelecida. Essencialmente, o que muda do taylor-fordismo para o toyotismo @ a automa- (680 de producao. A substituieso de antigas maquinas por robos e maquinas so- fisticadas poupa tempo de trabalho e permite dispensar parte do contingente de trabalhadores. Com isso, 03 empresérios poupam custos produtivos, o aue eleva as taxas de lucratividade e desmobiliza as orgenizagées de defesa dos trabalha- ores, como os sindicatos e partidos operérios. As consequéncias disso, para a classe trabalhadora, séo 0 crescimento abrupto co desemprego. a diminui¢ao do valor dos salérios, a desmobiliza¢ao politica e a queda de seu poder de compra. © toyotismo concebe também um nove tipo de trabalhacor. O trabalhador das industrias taylor-torcistas, 0 operdrio que produzia em massa (© operdrio-massa) foi substituide por um trabalhador BIGIWBIERIS. As novas maquinas ou rabés, com funcées muito mais avancadas, exigem novas qualificacdes para serem operados. Enquanto 0 operério taylor-fordista operava uma sé maquina, em uma rotina de tarefas simplificadas, o operério polivalente opera varias maquinas. E mais: acu- mull as fungdes dos operérios que foram dispensados, ficando sobrecarregado, @ ainda passa a ser responsdvel pela qualidade dos produtos, na medida em que gerencia sua propria atividade. Diferentemente do ‘wabathador foraista, que ‘xecutava apenas uma {areta simplificada, 0 trabathadar palvalente ‘execute varie trefos Nessa charge, no canto superior 3 disita, soba “foto” emoldured, 1-2 EMPREGADO DO MES. No baldo: “Muito bem. Lépez, ‘continue assim e veremos sua foto no proximo mee!” ‘Charge publicada om 12001 pelos Cuadernos de Formacién Sinelea, da ‘argentina LEXICO polivalente: neste contexto, um. trabalhador versati eficaz e que cumpre varlas tarefas produtivas 16 A implantac3o do toyotismo fol diferenciada em todo o mundo e dependeu das particularidades de cada socieda- de. Mas, acima de tudo, essa forma de reestruturar a produ 80 cumpriu seu papel histérico de reproduzir as classes sociais 2 desigualdade social entre elas. Seu desenvolv mento pleno serviu-se de pallticas macroeconémicas im- plantadas pelo Estado. Assim, em paralelo a essa grande transformacao na procucao e procurando regulamenté-la, © chamado Estado neoliberal substituiu 0 Estado de Bem Estar Social da época taylor-fordista. As caracteristicas centrais do Estado neoliberal (neoliberalismo) so: 2) governo minimo, com cortes no numero de servido- res publicos; ') privatizacées de estatais e transferéncia das questées ‘econémicas para 0 mercado; ©) flexibiizecdo das leis trabalhistas, permitindo a inten: sificag8o da explorago do trabalho; ©) live circulago de capitais internacionais, o que pressupée a aberture dos pal ses periféricos 4s multinacionais e incentivos & politica de baixos impostos. =Nao hd vagas! Charge de Angeli publicada no joral Foha de 5 Paulo ‘em 27 de agosto de 2006. Estado neoliberal, que se estruturou a partir do final dos anos 1970 na ingla~ terra, com Margareth Thatcher (1925-2013), e no inicio dos anos 1980, nos Esta~ ‘dos Unidos, com Ronald Reagan (1911-2004), fol fundamental para o desenvolvi- mento da reestruturacdo produtiva toyotista no mundo. A promocao de politicas ‘que desregulamentavam as leis de protec do trabalhador foi extremamente importante para que esse tipo de produgo vingasse. Assim, com a crise das for- mas de producée taylor-fordistas e do Estado de Bem-Estar Social, foi implante- ‘da uma nova ordem internacional baseada na relacdo da producso toyotiste (ou flexivel) com 0 Estado neoliberal ++ PARA SABER MAIS « Terceirizacdo Nos ultimos 40 anos, a terceirizago vem sendo utllizada com o objetivo de reduzir os custos com 0 trabalho, de moco a ampliar as margens de lucro das empresas capitalistas. Aparente- mente, trata-se de um proceso no qual uma ‘empresa transfere parte de sua producao pare outra empresa (chamada terceira), livrando-se de atividades em que no € especializads pare investir nos setores que considera dominer mais. As empresas apresentam a terceirizacao como uma forma positiva de organizacao da producao e do trabalho, sobretudo porque leva 2 especializacéo das atividades produtivas e re- duz os custos da empresa contratante com sa- larios e direitos trabalhistas. No entanto, do ponto de vista do trabalhador. pode-se fazer outra leitura. Quando uma em- prese terceiriza parte de sua producdo, ela dei- xa de ser responsével pelo pagamento dos sa- lérios e direitos trabalhistas dos trabalhadores terceirizados, mas ainda controle @ producao € ‘a gestéo da empresa contratada, de forma dire- ta ou indireta. Ou seja, apesar de os trebalhado- res produzirem em outro lugar e sob outras condi¢des de trabalho e contrato, quem define 08 padroes e caracteristicas co produto é a em- presa contratante. Além disso, ela também pode determinar 0 valor dos produtos ou servi= cos das empresas terceirizadas, na medid em ue eles se destinam, na maiorie das vezes, apenas 4 empresa contratante Na pratica, a terceirizacao livra 2 empresa con: tratante de conflitos trabalhistas e resulta na di: minuigo de direitos trebalhistes, na reducao de salérios e, muitas vezes, na piora das condicoes de trabalho, No Brasil, a terceirizacao foi legaimente per- mitida em 1993, desde que a empresa contra~ tada nao realizasse uma “atividade-fim’ — ou seja, uma industria sutomobilistica poderie terceirizar os servicos de limpeza e segurance de suas fébricas e @ producso ce pecas util- zadas nos velculos, mas nao etapes de procu- 40 dos verculos. 5. NOVAS MODALIDADES DE TRABALHO Com o desenvolvimento da producao toyotista, caracterizada pela automa- ‘680 produtiva, muitos trabelhadores foram dispensados, Apesar disso, 3 produ- tividade aumentou muito, restaurando os lucros. Esse aumento da producéo fo! acompanhado por um crescimen- to do setor de servicos. Grandes empresas de comida (fast-food), de satide (convénios médicos), de comunicacao (telefonia, internet € televisao), entre outras, cimensio- naram © mercado por conta do ‘enxugamento do Estado e das po- Iiticas neoliberais. Na politica neoliberal, o Estado procura transferir para o mercado setores que antes eram considera- dos estratégicos. Por exempio, 2 telefonia no Brasil esteve até os anos 1990 nas mos do Estado. Porém, com base em uma politica de cortes nos gastos publicos, foi concedida 8s empresas atuantes no mercaco a possibilidade de explorar a tele- fonia, Do ponto ce vista do Estado neoliberal. trata-se de cortar os gastos, crian- do novas frentes de crescimento econémico 20 transferir a administracao desse tipo de atividade produtiva setor de servigos, assim, expandiu-se juntamente com as in dustrias de bens duraveis, Tanto nas industrias como nos servicos foram requisitadas novas qualifica¢bes profissionais. Por exemplo, ‘operar uma maquina ultrassofisticade em uma montadora de auto méveis exige alta qualificacdo profissional. Para desenvolver novos softwares (programas de computador), as empresas precisam de profissionais qualificados nessa fun¢So; um operacor de telemarketing precisa ter certo grau de instrucao tecnica, Portanto, novos tipos de qualificacdo passaram a ser Gemandados pe- las empresas criadas ou em expanséo. Entre esses novos tipos de trabalho, um deles, que tem como fundamen- to as qualificacdes intelectuais, ficou conhecido como imaterial. Por que material? Porque o trabalho feito tradicionalmente nas industrias era consi derado material, isto &, todo tipo de trabalho que tem objetos fisicos, que con- seguimos tocar ou pegar, como matérie-prima e que os produz. Jé 0 trabalho material € todo aquele que tem camo matéria-prima elementos intangiveis (que no se podem tocar, nao fisicos) e que os produz Varios tipos de trabalho se destacam por nao ter como objetivo a produgao de abjetos fisicos. trabalho nao ¢ fisico. Na pratica, 0 produto de seu trabalho é fruto de aprendizadio, de estudos, trabalho do ferreiro é diferente do trabalho do. programacor de computador. O primeiro usa ferro, maquinas e ferramentas para confeccio- nar produtos em uma industria de panelas, nor exemplo. J 0 segundo se utiliza de recursos i telectuais para programar um computador ou para criar um novo programa, que no so obje- tos palpaveis. Ou seja, o resultado direto de seu de formacéo profissional. No entanto, tanto os trabalhos materials quanto os imateriais tem 0 mesmo objetivo geral: a geracdo de lucros. Pro- cure refletir sobre isso e descreve alguns tipos de trabalho distinguindo os de tipo material dos de tipo imaterial. Veja, por exemplo. as condi- G6es de trabalho de trabalhadores materiais e imateriais e estabeleca diferencas entre eles 165 ATIVIDADES REVENDO 1. Como os classicos da Sociologia entendem o trabalho? 2. Qual é a diferenca entre trabalho e forca de trabalho? Como a exploracao do trabalho gera alienaco no trabalhador coletivo? 3. As reestruturagdes produtivas so necessarias para o desenvolvimento do capitalismo. Explique isso com base no taylorismo e no fordismo. 4, Quais as diferencas centrais entre o taylor-fordismo e o toyotismo? 5. O que ¢ trabalho imaterial e como ele se diferencia do trabalho material? INTERAGINDO Considere a letra da cangSo a seguir Capitao de industria Marcos # Paula Sérsio Vall. Eu as vezes fico @ pensar Em outra vida ou lugar Estou cansado demais Eu nao tenho tempo de ter © tempo livre de ser De nada ter que fazer E quando eu me encontro peralido Nas coisas que eu criei Eeundo sei Eu no vejo além da fumaca Qamor e as coisas livres, coloridas Nada poluidas Ah, eu acordo pra trabalhar Eu durmo pra trabalhar Eu corre pra trabalhar Eu no tenho tempo de ter (© tempo livre de ser De nada ter que fazer Eu no vejo além da fumaca Que passa e polui oar Eu nada sei Eu no vejo além disso tudo Qamor e as coisas livres, coloridas (capa do disco 9 Luas. Nade poluidas Nas coisas que eu cr Eu acordo pra trabalhar Eeundo sei Eu durmo pra trabalhar Eu no vejo além ds fumaca Eu corro pra trabalhar O.amor e as coisas livres, coloridas Eu nao tenho tempo de ter Nada poluidas © tempo livre de ser Ah, eu acordo pra trabalhar De nada ter que fazer Eu durmo pra trabalhar E quando eu'me encontro perdido Eu corro pra trabalhar. 6 PARALAMAS DO SUCESSO. = De que modo a leitura do capitulo contribui para a analise dessa letra? 166

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