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UOC MCN CC eS MUU CR UCL Pee ae Me RU UU) (ol » res CRs eam UE Ur Cie Mmm UC oe el oe a Paula Menezes * Raphael M. C. Corréa + Rodrigo Pain + Rogério Lima + BURNT Cl eam kT eR Ct) Sociologia nner -em movimento Componente curricular: SOCIOLOGIA PNLD <2 ©2019 2020 FNDE vaste pe Pty ie = MODERNA Cultura e sociedade: cultura, poder e diversidade nas relacoes cotidianas * Capitulo 3 Cuttura eideotogia, 62 + Capitulo 4 Socializacéoecontrole social, 88 + Capitulo Raga,etniae multiculturatismo, 108 Haitianos em fila para almogar na lereja Nossa Senhora da Paz, no bairo do Glictio, ‘na capital paulist, em 2014. Exlados da tragédia social decorrente da situaglo fem seu pals, esses lmigrantes se vam em contato coma riqueza e (0s conflitos presentes na cultura brasileira @ Primeiras palavras Entre 2013 2015, o niimero de haitianos matriculados na rede de educagSo puibli- ca estadual de Sao Paulo cresceu 13 vezes. A maioria desses alunos fala apenas créole « francés, Além da dificuldade com a lingua, eles se depararam com o desafio de toda crianga que muda de escola pela primeira vez: fazer novos amigos e se enturmar. Muitas vezes, no entanto, estrangeiros sao vitimas de preconceito e violéncia quando chegam a uum pais que tem uma tradico cultural diferente da sua ‘A palavra cultura tem diversas origens e usos. Entretanto, para a Sociologia, ela é a base sobre a qual as sociedades humanas constroem seus diferentes modos de vida. E por melo da cultura que buscamos solugdes para nossos problemas cotidianos, interpretamos a realidade que nos cercae produzimos novas formas de interagao social. A maneira pela qual estruturamos a economia, nossas formas de organizacao politica, as normas e os valores que orientam nossas agées, todos esses elementos esto presentes na cultura. Por sua vez, a cultura é resultado das nossas aces socials. As praticas, os saberes e sua aplicagao pela coletividade resulta num conjunto de conhecimentos que orientam nossa a¢ao no mundo e nos permitem reconhecer, explicar e construir a realidade social. Porém, a construgao da cultura nao écorte de maneira harménica e igualitéria. Ela é marcada por conflitos e relagdes desiguais entre os diversos grupos humanos. Por exemplo, quando exaltamos a diversidade cultural bra- sileira, nfo podemos nos esquecer de que boa parte da cultura popular sofre preconceito e {que os processoshistéricos que geraram essas expresses culturais foram e s80 marcados por conflitos nos quais negros, mulheres, nordestinos, indigenas, quilombolas, comu- niidades ribeirinhas e outras minorias sociais so geralmente considerados cidadaos de segunda classe e suas contribuigSes para a formacdo da cultura siorelegadas aum plano inferior. Entretanto, ahistéria nos mostra que, diante deinteresses politicos e comerciats. as classes dominantes incorporaram essas pré- ticas, saberes e costumes ao padrao cultural estabelecido. ‘ | V cronotogia ward Tylor publica Cultura pritiva, noqual explictaa primeira defnigso ‘madera de cultura, Levi Strauss publica As ‘ronislaw Malinowski cstruturas elementos publi Argonautes do do parentesco,em que Paci ocldenal texto festabelace as bases da que revehicionou as cotrente estrauralista pesquisasantropologicas a Antropologl, Franz Boas publica’As Semana de arte ‘Theodor Adorno Max Timitages da método Modem de 1922.ompe | Horkheimer pubiicam comparativo ne como padrio.estéticoda | Dialédcadoesclarecimeno, Antropologia artigo €0c2,insprando-sena | emque analsam e citicam ‘que cricafortemente vanguard europea, aindustilizacio da evalucionisme, cura Uma forma de perceber como esse prozesso de construgo da cultura ocorre no cotidiano & pensar sua realidade como estudante. Os conhecimentos, as normas, 0s valores e as ages pedagégicas com que voce interage no espaco escolar so produzidos em contextos historicos especificos e por grupos ‘que tém interesse em sua formagdo, Muitas vezes, os saberes ‘que voc® traz para a escola ou sua experiéncia de vida e sua realidade social so ignorados no processo educativo. Assim, sua formacao e a maneira como voc® constrdi suas opinides e ‘como age em seu dia a dia, os comportamentos com os quais se identifica, entre tantas outras coisas, podem nao representar ‘0 modo como os grupos dos quais vocé faz parte representam arealidade Isso se relaciona, entre outros aspectos, as ideologias domi- nantes em nossa sociedade. Cada grupo ou coletividade constréi sua visdo de mundo com base em contextos historicos e préticas sociais especificas. Desse proceso surgem interpretacOes e pro- postas de aco que sdo difundidas sociatmente com a pretenssio de se tornarem 0 padrao geral a ser seguido. Quando isso ocorre, estamos diante do que chiamamos ideologia. Nesse sentido, a ideologia pode ser compreendida como o conjunto de visées de jena tees mundo produzidas por determinados grupos socias, propostas camo modelos destinados no saclo XVI na aba a orientar as praticas de Outros grupos sociais ou da sociedade na qual se inserem. The Pueblo Indian Revolt ; ; 1680, co arsta ‘escola tradicional & um velculo para a difusdo da ideologia dominante,e, por isso, LySarigeae teyard ha uma desvalorizacio da cultura popular, que propde outras formas de pensar e de agit Dun (ars 1946) no mundo. Por essa Fazio, varias praticas @ varios saberes que n3o pertencem ou nao Omundoé formadopor interessam as classes dominantes foram historicamente desconsiderados pela escola, wr imensa versdade Cultura e deologia s80 conceitos que explicam a relacdo intrinseca entre pensamento _construcSoas diferentes © aco, Diferentes contextos modelam nossas escolhas pessoais. Na atualidade,aexpan- cultura émarcaéa pelos so das novas tecnologias da informagéo e da comunicagéo (TICs) é mais um elemento nfltosepelaimposcio a interferir em nossas opcdes de vida, Produzidas com base em uma dinémica social que Goninantes envolve diversos interesses econdmicos, sociais e politicos, essas tecnologias provocam transformacées no modo pelo qual os diferentes atores sociais agem e se percebem no mundo. Por outro lado, o modo como individues e coletividades se apropriam dessas tecnologias pode gerar novas interpretacées da realidede, capazes de alterar 0 sentido e a utilizaco original planejada por aqueles que incentivaram sua difusdo. a aaa caga rates tiC nite tte. ‘Ano marcado por diversas. ‘marifestagBes dajuventude em vatlos paises, com destaque para Frangse Estados Unidos, em its por transformacées cultura, E crag a World Wide politica ecomportamentais na Web, base paraa saciedade contemporines. fusio da internet. Einauguradaa Citford Geertz Aprovado 90 Brasil o Marco primeira emissora publica Icerpreagao CC da Inceret. Ale criow detelevsaorno dos cultura, base recanisinos de protecio a0 Brasil aTVTupl ‘6a Antropoloata Usuarine estabeleceuo dirito Imnerpretativa, a comunicagio come dieto fundamental do cidadéo, eno ‘apenas come negocio comercial oe Wii @ Cultura e vida social SANTOS, José Perceber os miltiplos significados e usos da cultura ¢ um dos modos de constatar wir dos. Oqueé sua importancia. Em sua origem latina, cultura deriva de colere, que significa cuidar, cul- cultura. tivar, podendo também adquirir um sentido ligado a satide fisioldgica (cuidar do corpo), 16. ed, So Paulo 2 religido (cultuar uma divindade) ou ainda a producao de alimentos (agricultura). O uso Bases 2006 | do temo, portanto, indmico e adquie sentios dvesos de acordo com o contexto ‘lego Primeiros Passos) ‘aga simples e didatica do conceito de cultura e suas conexSes com a di- versidade, as relagdes de poder ete Almeida Jnior (1850-1899). Capira picando fumo, 1893, leo sobre tela, 202 x 141 cm. Ahievarquizagso das culturas urbana e rural um exemplo do Uso discriminatério do termo cultura. O55 social e histérico. Numa definigao sociologica basica, a cultura consiste no conjunto de ‘Acbra faz umaapresen- prdticas, saberes, normas e valores de uma coletividade, servindo de fundamento para as relagdes sociais nela estabelecidas, Mercado em Bac Ha, Vetnd, em 2072. A cultura pode ser percebida por meio de diversos elementos, ‘como vestimenta, comida e normas de relacées socias ® Cultura como juizo de valor ecomo producao social Para entender esses diversos significados, devemios aten- tar para algumas formas de utilizacao do termo presentes em nossa sociedade. A primeira delas é a relacio entre cultura e educac3o. Quando afirmamos que "uma pessoa tem muita cultura", 0 termo estd sendo utilizado no sentido de educagao formal ou académice. Nese aspecto, relacionamos cultura a uma hierarquizacao dos individuos e grupos. Essa, porém, é uma utilizacéo tipica do senso comum. As Ciéncias Sociais compreendem diferentes formas de insergio na cultura, tendendo a descartar qualquer hnierarquizagao que resulte na discriminagéo de pessoas ou grupos sociais. Taicomo acontece como personagem Jeca Tatu, de Monteiro, Lobato, o habitante das zonas rurais foi muitas vezes apontado como alguém preguicoso e apatico, o que exemplifica um modo preconceituoso de tipificar a cultura sertaneja, apresentada como inferior & cultura urbana. Esse é um exemplo de cultura utilizada como critério de vaior. Ainda hoje, muitas manifestacdes da cultura brasileira sao tratadas desse modo, sobretudo quando tém origem em grupos socialmente marginalizados, wn Peds t0 601 Stent de Por outro lado, a cultura € pensada como praticas e valores de um grupo social, na sua dimensao material e imaterial, como patriménio a ser preservado e transmitido, Nesse contexto, no hd atribuigdo de superioridade de uma expresséo cultural sobre cutra. A ideia de cultura fundamenta a construcao de teorias. = sociais que nos permite compreender os confltos culturais € a construgao de uma critica a dominacSo cultural que historica- mente destruiu diversas sociedades e grupos sociais. Oconceito de cultura e a Antropologia A disciplina que historicamente mais se dedica ao estudo da cultura é a Antropologia. Os antecedentes da discussio sobre cultura se encontram no século XVI, quando as grandes navegacdes permitiram que os europeus conhecessem novas partes do mundo e entrassem em contato com outros grupos humanos, suscitando debates sobre os habitos, os costumes e a produgdo desses grupos. Esse momento histérico construiu a viso de mundo que marcou para o Ocidente a ruptura entre a forma como o feudalismo pensava a si mesmo eamodernidade. (O surgimento de impérios coloniais estabeleceu um processo de intercdmbio cultural e de dominago que até hoje marca as relagdes entre as diferentes regides do planeta. A reflexdo sobre (5 proprios padres culturais diante da inesgotavel diversidade da criatividade humana tomnou-se mais complexa, perdeu 0 ar de conversas pitorescas de salio e ganhou uma abordagem cientifica, preocupada em desvendar os mistérios da organizago social humana. © método cientifico oferecia uma nova chave para a descoberta de nossas origens e futuros possiveis A lggeja Matrix dos Santos Cosme e Damiso, em lgarassu (PE, 2013), no alto, €um exemplo de cultura material 52 apresentacio do grupo Leo de Ouro de Nazaré da Mata fa festa do Maracatu Rural, em Nazaré da Mata (PE, 2014), cima, constitui uma manifestagao de cultura imateria. AA partir do século XVI, destacavam-se entre os colonizadores europeus duas posicSes Copostas em relaco 20s povos encontrados no Novo Mundo: “a repulsa sistematica pelo que é ilferente e a fascinacao romantizada pelo ‘outro” No primeiro caso, 0 sentimento era tradutido pela "boa consciéncia” sobre si mesmo e sua sociedade. No segundo, pre- ponderava um olhar sobre o outro como “bom selvagem”. © pensador francés Michel de Montaigne (1533-1592) destacou-se por relativizar a civilizago europeia diante das formas de organizacdo culturais do Novo Mundo. ‘Quem escreveu sobre isso \ Michel de Montaigne ! Humanista, Montaigne (1533-1592) afirmou, em seu clas- sico Dos canbals, que cada pessoa considera barbaro o que ‘ose pratica em sua terra, argumentando que ofato de os. europeus classificarem como bérbaros os povos do Novo ‘Mundo acabava por conduzir& cegueira sobre suas prOprias praticas e acbes. ‘Michel de Montaigne foi um pensador huranista do século XVI que efletiu sobre orelativismo cultural Cultura material eimaterial ‘Acultura material € formada pelos bens tangiveis produzidos pelas sociedades, come construsées, alimentos, méveis, aparelhos eletrénicos etc. A cultura imaterial & composta pelas praticas, ‘expressbes, valores, ‘conhecimentos ¢ saberes produzidos pelos membros de uma cultura a0 longo do tempo, we Cultura, civilizagao e determinismo cultural Entre os séculos XIX e XX, 0s relatos de viagem e a reflexao filos6fica sobre a diversida- de dos povos abriram espaco para a reflexao sociologica e antropolégica sobre a cultura. Nesse periodo, surgiram diferentes formas de hierarquizar as sociedades segundo sua cultura. Antes disso, tal hierarquizacao se fundamentava em explicages nao cientificas, que utilizavam argumentos inspirados na Biologia ena Geografia, aos quais denominamos determinismos biol6gico e geogratico. No determinismo biolégica, as diferencas entre as sociedades s80 explicadas com base nas caracteristicas fisicas da populago. Assim, haveria correspondéncia entre as caracteristicas culturais ea constituigdo genética de urna populacdo. Essa visdo de mundo promoveu uma explicacio cultural baseada em diferencas biclbgicas que justificavam a dominagéo das populagses negras e indigenas pelos europeus. 44 para o determinismo geogréfico, as caracteristicas naturals das regides, como 0 lima e © relevo, causariam as diferengas culturais entre as sociedades. O maior desen- volvimento econ6mico das nacdes do norte do globo era explicado como resultado do suposto temperamento racional e laborioso dos povos naturais de regides de clima tem- perado, 20 passo que populacdes das regides mais quentes do hemisfério sul possuiriarn comportamento mais displicente e criativo, Embora o determinismo biolégico e geografico seja refutado pelas Ciéncias Socials, 5545 ideias ainda hoje influenciam o senso comum. Para esclarecer a questo, estudas antropolbgicos mostram que sociedades com origens biolégicas semelhantes ou que ‘ocupam a mesma regiao geografica podem apresentar comportamentos e formas de organizagao bem diversos, Para a Antropologia, as experiéncias historicas vividas em cada sociedade so 0 fundamento das diferengas entre as culturas, que se explicam, por sua vez, pelos diferentes valores e praticas advindos da vida em sociedade, Y Integrantes do povo Sami ‘em Utsjoki, m3 Finlandia, representantes dos Nanuvut, grupo inufte, fem uma tenda tpica, no lago Baker, no Canad, em 2013. Apesar de viverem tem clima semelhante, os poves podem desenvalver tragos culturais bem diversifcados. | ; E 8 © Escolas antropoldégicas Mas como a Antropologia explica as manifestagdes culturais em meio 8 diversidade existente? Veremios a partir de agora de que maneira diferentes escolas antropologicas desenvolveram as definigdes de cultura que so hoje objeto de seu estudo. ® Antropologia Evolucionista A Antropologia Evolucionista foi desenvotvida na Inglaterra, no século XIX, especial- mente por meio dos estudos de Edward Burnett Tylor (1832-1917). Para Tylor, cultura é"o ‘todo complexo que inclui conhecimentos, crengas, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou habitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” Essa definicdo esté em seu livro Primitive culture, de 1871. oe ‘A conferéncia do Congo (1884-1885), ene Beri, Alemanha, langou as bases para a corrida pela ‘rica. A perspectiva evolucionistalegtimou a expansio neocolonialista europeia no século XIX, com consequencias que persistem ainca hoje. ‘A escola evolucionista ¢ importante para a Antropologia principalmente por ter elaborado a primeira teoria social da cultura. No entanto, ela também é responsavel pela construgao de outro postulado, hoje jéultrapassado, segundo o qual as sociedades tém inicio num estado primitive e se tornam civilizadas com o passar do tempo. Essa tese contribuiu para justificar o proceso de colonizagio da Africa e da Asia no século XIX, pois a Europa levaria a civilizaco aos povos dos outros continentes. Baseada numa vis0 eurocéntrica do mundo, essa forma de pensar ainda hoje exerce influéncia em nossa sociedade, mesmo sendo refutada pela Antropologia contempordnea. Isso pode ser percebido, por exemplo, quando utilizamos como modelo padrdes de comportamento- tipicos do Ocidente — principalmente da Europa ocidental e dos Estados Unidos ~ para analisar formas de organizacao social e praticas culturais de outras regiées do globo. ® Relativismo cultural: Antropologia e diversidade cultural Para contrapor-se ao evolucionismo que dominava 0 pensamento social e politico, a partir do século XIX outros métodos de pesquisa e de andlise da cultura foram desen- volvidos. O resultado desse esforco intelectual est presente nas diferentes correntes da teoria social, que tém em comum o reconhecimento da diversidade cultural. Nesse sentido, difusionismo, culturalismo, funcionalismo, estruturalismo ea Antropologia Interpretativa so as miltiplas faces da construgdo do pensamento antropoldgico até os nossos dias. Difusionismo: empréstimos e imitagdo cultural Contemporaneo do evolucionismo social, mas compreendendo a cultura de uma forma que inaugura o relativismo na Antropologia, o dfusionismo cultural caracterizou- -se pela rejeicdo da urnilinearidade, ou seja, ndio admitia a ideia de um desenvolvimento constante e ascendente das culturas defendida pelos evolucionistas. Nesse sentido, para 0 difusionistas, a cultura deverie ser pensada como um mosaico no qual as diferentes sociedades criavam e difundiam praticas e saberes que seriam absorvidos por outros gru- os sociais pelo contato entre seus membros. O difusionismo foi importante no comeco do século XX por ser ume teoria alternativa para a compreensao da diversidade cultural. Um modo de efletir sobre a proposta difusionista é pensar que diferentes elementos da cultura brasileira surgiram em outros contextos culturais e foram trazidos para nosso pais pelo contato com representantes de diversas culturas. Antropologia A Antropologia surgiu no século XIX ese dedica a0 estudo das culturas em todo 0 mundo Inicial mente, seu objeto de interesse foramas sociedades nao industriais. Mais tarde, incorporou a andlise das sociedades industriais. Hoje, ccompae em conjunto coma Sociologia ea Ciencia Politica o ramo das Ciéncias Humanas . Acesso em 16 fev. 2016, 70 Multiddo de fides no Farol da Barra, em Satvador (BA, 2015). 0 carnaval, elemento marcante da cultura brasileira, 6 exemplo de uma pritica que se originou em outrasociedade e fol absorvida pelos brasiliros, adquirindo carater préprio no pas. Culturalismo: trajetérias e percursos culturais Outra critica ao evalucionismo foi feita pela escola culturalista, da qual 0 alemgo raturalizado estadunidense Franz Boas ¢ o principal representante. Para ele, o conceito de civilizagao deve ser relativizado na medida em que depende dos paramettos utilizados para considerar as representacdes. Segundo esse pensador, as diferencas culturais seria resultado das trajetorias independentes dos grupos humanos. Assim, nao indicariarn uma hierarquia, mas as escolhas e experiéncias de cada sociedade Um exemplo da aplicagao dessa teoria é a utilizacao que cada cultura dé as inovacoes tecnolégicas. Pesquisas histéricas recentes apontam que os chineses inventaram o papelea imprensa mil anos antes que o Ocidente. O império chins também ja dominava as tecno- logias necessérias para a construcao de grandes embarcacdes, mas manteve seu isolamento como intuito de proteger sua sociedade. A China sé se deu conta do seu “equivoco” quando 10 pode fazer frente as aspiragoes coloniais da Gra-Bretanha nas Guerras do Opio, entre 1839 1860. Essa perspectiva de andlise antropol6gica criou anogao de relativism cultural Quem escreveu sobre isso \ Franz Boas Formade nos Estados Unidos, 0 alemao Franz Boas (1858-1942) rejeitou oevolucionismo e defendeu uma visio histérica da cultura por acreditar que ela seria a tinica capaz de permitir a compreensio das caracte- risticas de qualquer sociedade. Para ele, era funcdo da Antropologia estudar de forma nao linear as distingbes entre as culturas, atentando para os percursos diferen- ciados construides historicamente por cada uma delas. Franz Boas, antropélogo precursor da critica a0 evolucionismo. Funcionatismo: método etnografico e o relativismo cultural Para a Antropologia Funcionalista, a definicao de cultura pode ser resumida como um todo integrado, uma sintese de instituigoes juridicas, econémicas,religiosas etc) responsaveis pela perpetuacao da dinamica social entre seus membros. Assim, as insti- tuigdes sociais (familia, sistema legal etc.) s40 meios coletivos de satisfazer necessidades ingividuais (alimento, abrigo) e sociais (casamento, seguranca coletiva). i i ‘ } ¢ 3 q [Nas imagens, diferentes regides do Brasil constroem formas dstintas de expresséo artistica por meio da danca:carimb6, na tha de Maraj6 (PA, 2073), efandango,na cidade de Olimpia (SP, 2006). Para o funcionalismo, cada cultura encontra sua forma de resolver necessidades comuns &s sociedades humanas. ‘Quem escreveu sobre isso \ Bronislaw M linowski (0 polonés Bronistaw Malinowski (1884-1942) é um dos fun- dadores da escola funcionalista. Sua principal contribuigao & Antropologia Social foi o desenvolvimento de um novo mé- todo de investigacdo de campo, a etnografia, cujas origens remontam as suas pesquisas na Australia, inicialmente com, © povo Mailu (1915), e posteriormente com os nativos das, ithas Trobriand (1915-1918). De ld, saiu uma de suas obras de ‘maior envergadura, Argonautas do Pacifico ocidental, de 1922. Malinowski em sua pesquisa nas has Tobriand, na Nova Guin, feita de 191521918, A etnografia, método de pesquisa consagrado pela Antopologia Funcionalst, tomou-se referencia para diferentes eas do conhecimento COrreconhecimento da diversidade cultural foi uma das contribuigdes do funcionalismo para a Antropologia. A abordagem funcionalistanos permite entender, por exemplo, como ‘os variados ritmos e dancas existentes expressam as maneiras pelas quais 0s grupos sociais se relacionam com a musica e com a arte, Do mesmo modo, sutras expressdes culturais (eligisas, artisticas,alimentares, vestimentas etc.) e formas de organizacao social (politicas, econdmicas, institucionais etc.) devem ser compreendidas tendo como base os sentidos atribuidos a elas por seus préprios praticantes, endo por aqueles que as observam de longe Antropologia Estrutural: um fundamento universal das culturas Corrente surgida na virada da primeira para a segunda metade do século XX, a An- tropologia Estrutural inspira-se originalmente na Lingulstica (ciéncia da linguagem). Para os estruturalistas, a cultura é um conjunto de sistemas simbdlicos (arte, religido, edu- cago) que atua de modo integrado e constitui a totalidade social. Logo, nao é possivel compreender uma cultura com base em elementos isoladamente considerados: ela s6 faz sentido como um todo, assim como uma lingua s6 faz sentido no conjunto de sua estrutura gramatical, de seu vocabuldrio e de sua pratica oral De acordo com seu principal representante, o antropélogo franco-belga Claude Lévi-Strauss, existem elementos universais nas diferentes culturas~ as estruturas—que devem_ ser estudados pela Antropologia por meio daexplicacoddos modelos inconscientes que servem de referéncia para que individuos e coletividades organizem o mundo e deem sentido a ele. Etnografia Etmografia, ov cobservacio participante, 0 étodo que descreve de modo sistemstico o.cotidiano de um grupo social pelo onto devista de seus membros. ‘Atualmente, constitui um método de pesquisa de campo utlizado por diversas cigncias ne Wrime L_ © Brava gente brasileira Brasil, 2001 Diregdo: Licla Murat Duragio: 104 min, No final do século XV, 0 cartdgrafo Diogo alguns soldados se dirigem 20 Forte Coimea, no inte ‘ior do pais, No camishe, ddeparam-se com um gru- po de mulheres indigenas eas estupram. Diogo & forcado por Peéro, chefe os soldados, a partcipar o ato. O filme retrata o cchogue entre as culturas branca e indigena, além de discutir os contlites entre Diogo, Pedro e ou: tras personagens. Etnologia Etnologia éa area dda Antropologia que estuda os habitos culturais de diferentes populagdes com base nos dados ‘obtidos por meio de pesquisa de ‘campo, isto 6, pela cetnogratia, on WF wetagies de parentesco y i § i ® Har | 8) Mest Ah i | 8) sos dorms pl es Masse : Sune oat rte | iio or dudes domeumarso) | as elagBes de eu arentesco, anno Sto uma das Ta OORT formate compreender Setrnhos es thos Sobrinno do (Fire. dos Vorau meu marido as relagdes em i ee rk aR | nantes ora euros Phos dot meu bon cultural Todas yan as sciedades Meus tsmetos hos dos mets eto a x i regres para evs tines ioe ds mais bane) cameos eo | possveise Y | probids entre wen | seus membros D> quem escreveusobre isso \ F Claude Lévi-Strauss Claude Lévi-Strauss (1908-2008) ¢ considerado 0 criador da Antropologia Estrutural.Iniciou seus estudos sabre os indigenas brasieiros quando f0i professor da Universidade de $80 Paulo (USP), nos anos 1930. Em suas obras, pro- pée a busca pelo entendimento das estruturas que con- Ferem sentido a um sistema cultural. Em contraposi¢ao & Claude Lévi-Strauss, ciadorda escola funcionalista, defendeu a etnologia, em lugar da Antropologia Estrutualista. et nografia, como principal método de estudo da cultura. Antropologia Interpretativa: o primado dos significados AA Antropologia Interpretativa - também chamada Antropologia Hermenéutica ou Simbélica—confere & historia papel diferenciado. Nessa perspective, cultura éum sistema simbolico, uma complexa “teia de significados" tecida pelos préprios seres hurmanos e da ‘qual estes nao podem se libertar. Seu principal representante é 0 antropélogo estadunidense Clifford Geertz, cujas bases teéricas esto na Sociologia Compreensiva de Max Weber. Para Geertz, o comportamento humano é sempre simbélico, dependente de como os individuos percebern a si préprios das agdes que resultam dessa percepcao. Essa corrente permite, por exemplo, compreender o comportamento esperado de um torcedor no estadio de futebol no meio de sua torcida. Nesse ambiente, espera-se que ele, assim como os demais, vibre, grite e torga de modo entusiasmado a cada ataque de seu time. A forma de torcer representa um conjunto de simbolos com significados compartilhados entre individuos de um mesmo grupo social, oi as Ne ern Quem escreveu sobre isso \ Clifford Geertz CO antropélogo estadunidense Clifford Geertz (1926-2006) realizou pesquisas na Indonésia e no Marracos que envol- viam politica e religido. O autor é comumente considerado Crresponsavel pela difuséo de Antropologia Interpretativa. Influenciado pelas andlises de Max Weber, defende que ain- vestigacdo antropolégica deve interpretar os significados que ‘0s membros de uma cultura dao &s suas préticas. Sua obra mais difundida A interpretacdo das cultura, de 1973, prope que o trabalho etnografico deve abordar 0 papel dos simbo- los na conformago das agdes humana. 5 2 3 z a é f (© antropélogo e professor emérito estadunidense Clifford Geertz a ' i ma das coracterticas de uma cena relia ¢ocompartihamento desimbolos entre ses partpantes Nafoto, devotos mugulmanos faze suas preces, em Nova Dah ina, 2015} Etnocentrismo e relativismo cultural Arejeigao as praticas culturais (e 205 grupos ou individuos que as praticam) diferentes das culturas dominantes tem sido uma constante em quase todo o mundo. Nas Ciéncias Sociais, denominamos essa forma de pensar e agir de Etnocentrismo, Etnocentrismo €, por definigSo, a vis0 de mundo caracteristica de quem considera sua cultura e seu grupo étnico mais importantes que os demais. Essa vis0 produz uma avaliagao arbitraria do outro, Com base em critérios de sua prépria cultura, o Etnocen- trismo julga como atrasados ou sem sentido as praticas e os valores culturais de outros povos ou grupos socials. Aolongo da histéria, os contatos entre povos cont diferentes praticas culturais desper- taram estranheza, desconfiangae até mesmo rejeigdo, Em muitos casos, as consequéncias foram devastadoras para as sociedades e culturas militarmente mais frégeis, que no raro tiveram seus valores culturais relegados a uma posicao subalterna, quando nao extintos. Essa pratica persiste até hoje. Atitudes preconceittosas e discriminatérias (machismo, homofobia, xenofobia) derivadas de uma visdo etnocentrica continuam a ocorrer, apesar de serem combatidas por grupos organizados da sociedade civil e pelo sistema judiciario, quando tipificadas no Cécigo Penal Torcida da Sele;o Colombiana comemora gol na partida sisputada com a Costa do Marfim, pela Copa do Mundo, no Estadio Mané Garrincha, em Brasilia (DF, 2074). A participagdo dos torcedores em um estédio envolve um conjunto de simbolos compartthades que podem serinterpretados pelo antroplogo. Be O olhar etnocéntrico sobre o mundo produz das formas de agir que negam a diver- sidade cultural © preconceito e a discriminacao. O preconcelto vcorre quando grupos 0u individuos avaliam as praticas culturais de outros com base em valores e opinises preestabelecidas. Efetiva-se na realidade por meio de atitudes discriminatérias, ou seja, que tratam de modo distinto & pejorativo praticas, valores ¢ costumes de outras culturas. Em oposicao as agdes e aos valores que rejeitarn a diversidade cultural, as Ciéncias Sociais defendem o relativismo cultural. Essa forma de pensar compreende que cada ‘manifestagdo cultural é legitima quando avaliada de acordo com seus préprios critérios. & diversidade cuttural évista como positiva no &mbito da praticarelativista, quea compreende como portadora dos fundamentos do direto de se expressare, mais amplarnente, de exist. As préticas culturais no esto isentas da influéncia das ideologias presentes na so- ciedade. Desse modo, a ocorréncia de casos de preconceito e discriminagac expressa a permanéncia de visoes de mundo que rejeitam a diversidade. Nesse sentido, o desafio 6 produzirmos novas ideologias que respeitem e valorizem a coexisténcia e se tornem modelos alternativos a todas as formas de intolerancia, Praticantes do candomble reaizam cerim6nia rligiasa, no municipio ‘As praticas derivadas do tnacentrismo colocam em isco _de Lauro de Freitas (BA, 2074). O olhar etnacéntrico produz o diferentes grupas seciais em todo o mundo. Na imagem, _preconceitoe a discriminaglo de grupos e culturas. Os integrantes indigenas protestam em Brasilia (DF, 2073), em defese de das religiesafro-brasilelrassdo vitimas constantes de precontceito e seus direitos. discriminagso, 1 Um dos modos de perceber a dversidade cultural ¢observararelacSo das clturas hurianas com os animals. [Nas imagens, tes formas de se elacionar com os elefantes: turstas os usar par passear nas uinas de Ayutthaya, ao sul de Bangkok, Talandia, em 2013; em Kochin, na India, no mesmo ano, ees so usados em uma ceriménia relgiosa; no 200l6gico da cidade de So Paulo (SP), também em 2073, so expostos 8 vistacBo, Cada uma dessas formas de relagio sb pode ser compreendida por sua propia loge om Uma manifestagao cultural de origem popular como o funk carioca pode ser carac- terizada como expressao social de parcela das classes dominadas da sociedade brasileira. ‘Apesar da origem estadunidense, o funk foi ressignificado pelas populacces de periferia das metrépoles brasileiras, que dele se apropriaram, e se tornou uma de suas referencias na construgao da identidade social Por causa dessa origem popular, o funk é frequentemente visto como uma ma nifestagao cultural de menor valor. Aqueles que dancam ou cantam suas misicas sofrem preconceito € discriminacao, pois praticam uma arte considerada inadequada para os padroes dominantes. Muitas vezes, o funk também é asso- ciado & criminalidade e até mesmo proibido pelas autoridades policias. Entretanto, como gera retorno financeito sig- nificativo, em determinados contextos esse tipo de expressdo musical é encampado pelos meios de comunicagao de massa e se tora uma mercadoria difundida socialmente. 0 caso do funk mostra como cultura (praticas, saberes, valores) est sempre arti- culada coma ideologia (interpretacao, compreensio, difusdo de ideias) e com os interesses econdmicos dominantes. As diversas faces da cultura ‘A cultura € produgdo humana e nao pode ser hierarquizade, pois ndo & possivel justificar qual se tia o padrdo cultural @ ser tomado como critério de diferenciagao. Dizer que determinada pratica cultural tem mais valor que outra é afirmar 0 etnocentrismo. Porém, isso ndo significa que nao possamos relacionar a produgao cultural com os grupos que as gereram, Sendo assim, € possivel afirmar que a cultura possui diversas faces, que, em grande medida, representam 05 grupos, sujeitos e contextos das quais surgiram. Cultura erudita e cultura popular Chamamos cultura erudita as priticas, os cos- tumes e os saberes produzidos pelas elites ou para elas. Normalmente, tais praticas e saberes esto relacionados & produgo cultural das classes domi- nantes, que procura se distinguir do que é produzido pelas outras classes. A cultura popular, por sua vez, refere-se as préticas, aos costumes e aos saberes que tém sua origem nas classes dominadas ou populares. Repre- senta 0 conjunto de manifestacdes culturais cuja rigem remete as experiéncias cotidianas daqueles que nao pertencem as classes dominantes. Se afir mamos que 2 cultura erudita est ligada a cultura oficial, institucionalizada, devemos entender que @ cultura popular expressa o saber nao oficial, oundo institucionalizado. Baile funk na rua, em Ribeirdo Preto (SP, 2013) © funk & um elemento da cultura popular que exemplifica ‘a complexa relaglo entre cultura ¢ deologia no Brasil Policia discutem com jovens que realizaram *rolesinhn” en shopping de Séo Paulo (SP, 2014). As prticasculturase as disputas ideol6gicas nao podem ser pensadas separadamente. (0s “rolezinhos' tornaram-se uma agSo coletiva de jovens de periferia em espacos destinados as elites. A severidade da repressio {que sofreram das forgas de seguranca do Estado apenas por cirularem onde ndo eram esperados revela 0s fundamentos ideol6gicos da segregacio dos grupos subalternos. me Livre ‘CANCUI, Néstor Garcia. Culturas hibridas: estratégias para entrar esair da modernidade. 3, ed, S50 Paulo: Edusp, 2000. (Colecao Ensaios Lating-Americanos) O vo estabelece relagdes centrea modemidade sodo- cultural eos processos de ‘modernizagio econdmica ra América Latina, tendo como base paises como Brasil Argentina e Mexico. Pelo fato de as praticas culturais efetivarem as visdes de mundo das diversas classes sociais, deverios entender que a dinamica da relagao entee cultura erudita © popular também esta inserida nesse contexto. Sendo assim, elementos da cultura erudita podem ser utilizados para reforcar a dominacao das elites sobre o povo. Ou seja, a difusdo de determinada forma de linguagem ou sotaque como padrao nacional pode indicar 0 estabelecimento do dominio \inguistico e cultural de um grupo social sobre os demais. Por outro lado, na tentativa de construlr valores contra-hegeménicos, membros das classes dominadas podem se valer de elementos da cultura popular como estratégia para se oporem aos padrées estabeiecidos pelas classes dominantes. A valorizagao do folclore de diversas partes do Brasil constitui uma possi- bilidade de difusdo das experiéncias e visdes de mundo das classes dominadas, ao mesmo tempo que fornece aitesnativasao modode vere explicar © mundo das classes dominantes, Por causa de sua origem e do pico ao qual era destinada, amisicaclissica um Aeratra de cardel & um exemplo de ‘exemple de cultura eruita, Nos itimos anes, uma tentativade popularzivlapor —_—_valorizago do olhar 6as classes populares meio da promacao de eventas ede atvidades voltados par as camadas socalsmenos sobre ormundo. Na imagem, exemplares favorecidas. ApresentagSo da Orquesta Sinfnica de S80 Paulo (Osesp), no Festival de desse tipo de literatura a venda em Invero, no Audit Claudio Santoro, em Campes do Jord (SP, 2014), Gravaté (PE, 2012) Desfile da Escola de Samba Académicos do Salguero, no Rio de Janeiro (R)), em dots momentos: em 30 1980 e em 2014. Tais eventos séo exemplo de manifestacdes da cultura popular apropriadas pelos interesses econdmicss das lasses dominantes,

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