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DAS MOBILIZAGOES AS REDES DE, MOVIMENTOS SOCIAIS* Ilse Scherer-Warren™ Resumo: A realidade dos movimentos sociais ¢ bastante dinémica e nem sempre as teorizacdes tm acompanhado esse dinamisino. Com a globalizacdo ¢ a informatizagao da sociedade, os movimentos sociais em muitos paises, inclusive no Brasil e em outros paises da América Latina, tenderam a se diversificar e se complexificar. Por isso, muitas das explicagdes paradigmsticas ou hegemdnicas nos estudos da segunda metade do século XX necessitam de revises ou atualizagdes ante a emergéncia de novos sujeitos sociais ou cenirias politicos. Este estudo busca, inicialmente, uma compreensto acerca da nova configuragéo da sociedade civil organizada, explicitando os miltiplos tipos de ages coletivas do novo milénio. A partir desta compreensao, busca-se explorar a diversidade identitiria dos sujeitos, a tansversalidade nas demandas por direitos, as formas de ativismo e de empoderamento através de articulacBes em rede ¢, finalmente, « participagio politica das organizagdes em rede. Palavras-chave: movimentos 80% cidadania, empoderamento. is, sociedade civil, redes, fe abel foi apresenfada no Vit Condor das sto de 2015 e no XXV Congresso da Asso ‘Antericana de Sosiologia (ALAS), Porto Alegre, em agosto de 2005, ~ Profesora do Departamento de Sociologia ¢ Cigncia Politica da Universidade Federal de Senta Cetarina © Coordenadore do Néeleo de Posquisa em Movimentos Sociass da mesma universidade Attgo secebido em 5 mat. 2006 e aprovado em 13 maio 2006. Sovadae Bando, Bla © 21, 1,9 108130 anise 206 110 Thse Scherer-Warren ‘Novos formatos de organizacio da sociedade eivil Parte-se aqui de uma nogao genérica e contemporinea de sociedade civil. De fato, trata-se de um conceito cléssico da sociologia politica, mas, na atualidade, ele tende a ser utilizado num modelo de divisto tripartite da realidade: Estado, mercado e sociedade civil? ‘Nesta perspectiva teérica, a sociedade civil, embora configure um campo composto por forcas sociais heterogéneas, representando a multiplicidade e diversidade de segmentos sociais que compdem a sociedade, esti preferencialmente relacionada & esfera da defesa da cidadania e suas respectivas formas de organizagao em torno de interesses puiblicos e valores, incluindo-se o de gratuidade/altruismo, distinguindo-se assim dos dois primeiros setores acima que esto orientados, também preferencialmente, pelas racionalidades do poder, da regulacao e da economia. E importante enfatizar, portanto, que a sociedade civil munca seré isenta de relagdes e conflitos de poder, de disputas por hegemonia e de representacdes sociais e politicas diversificadas e amtagénicas. As vezes, também, a sociedade civil & tratada como sindnimo de “terceiro setor”, mas isso no é adequado e comporta certa ambigiidade. O temo “terceiro setor” tem sido empregado também para denominar as organizacdes formais sem fins lucratives ¢ ndo-governamentais, com interesse piblico. A sociedade civil inclui esse setor, mas também se refere a participaao cidada num sentido mais amplo. Pode-se, portanto, coneluir que a sociedade civil éa representacao de varios niveis de como os interesses, € 0s valores da cidadania se organizam em cada sociedade para encaminhamento de suas ages em prol de politicas sociais e piblicas, protestos sociais, manifestagdes simbolicas e presses politicas, Esses niveis, presemtes na sociedade brasileira, na atualidade, podem ser genericamente tipificados da seguinte maneira’ ‘Num primeiro nivel, encontramos 0 assoctativismo local, como as associacdes civis, 05 movimentos comunititios e sujeitos sociais envolvidos com causas sociais ou culturais do cotidiano, ou voltados a essas bases, como sao algumas Organizagdes Nao-Governamentais, (ONGs), o terceito setor? Essas foreas associativistas sdo expressdes locais e/ou comunitérias da sociedade civil organizada. Para citar SciaideeEaate, Beals « 2 21,9. 08-30 jamal 2006 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials — 111 apenas alguns exemplos dessas organizagdes localizadas: niicleos dos movimentos de sem-terra, sem-teto, piqueteiros, empreendimentos solidérios, associagdes de baitro, ete. As organizades locais também -vém buscando se organizar nacionalmente e, na medida do possivel, participar de redes transnacionais de movimentos (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Movimento dos Catadores de Lixo, Movimento Indigena, Movimento Negro, etc.), ou através de articulacdes inter-organizacionais, caracteristica central de outro nivel a ser mencionado a seguir. Entretanto, no nivel local existem também coletivos informais, sem nenhuma ou pouca institucionalidade, que jutam por modos de vida altemativos, por reconhecimento ou sho produtores de novas formas de expressio simbélicas, como grupos de neo-anarquistas e outras tribos urbanas. Num segundo nivel, encontram-se as formas de articulacao inter-organizacionais, dentre as quais se destacam os foruns da sociedade civil, as associacdes nacionais de ONG e as redes de redes, que buscam se relacionar entre si para o empoderamento da sociedade civil, representando organizagdes © movimentos do associativismo local. E através dessas formas de mediag&io que se dé a imerlocucdo e as parcerias mais institucionalizadas entre a sociedade civil e o Estado, Essas articulacdes também se tornaram, possiveis porque hit meias técnicos que as viabilizam: a Internet e os e-mails s8o praticas cotidianas das redes do novo milénio. Os encontros presenciais podem ser mais circunstanciais e espagados, quando a comunicagdo cotidiana esté garantida pelos meios virtua. Consegttentemente, tem se observado um crescimento expressivo de redes de ONGs e associagdes, de {runs e de redes de redes, conforme constatado em nossa pesquiisa.* Mas até agora destacamos formas organizacionais que possuem certa institucionalidade: algumas com registros legais certificagdes, outras apenas com normas ou procedimentos intemmos 2 associaco, Essas normas disciplinam 0 cotidiano de atuagao do associativismo civil. Todavia, ha formas de protestos sociais de maior abrangéncia, por um lado, e mais conjunturais, por outro, compondo Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 112 ThseScherer-Warren o terceiro nivel organizacional: so 0 que chamo de mobilizagao na esfera publica Nesse terceiro nivel, observa-se que as mobilizagdes na esfera piiblica $80 fruto da articulagao de atores dos movimentos sociais localizados, das ONGs, dos féruns e redes de redes, mas buscam transcendé-los por meio de grandes manifestagdes na praca piiblica, incluindo a participacdo de simpatizantes, com a finalidade de produzir visibilidade através da midia e efeitos simbélicos para os préprios manifestantes (no sentido politico-pedagégico) ¢ para a sociedade em geral, como uma forma de pressio politica das mais expressivas no espaco piiblico contemporineo. Alguns exemplos ilustram essa forma de organizacio, incluindo varios setores de participantes: a Marcha Nacional pela Reforma Agréria, de Goidnia a Brasilia (maio de 2005), foi organizada por articulagdes de base como a Comissao Pastoral da Tetra (CPT), 0 Grito dos Exciuidos e © proprio MST e por outras, transnacionais, como a Via Campesina, ‘Também se realizaram articulagdes com universidades, comunidades, igrejas, através do encaminhamento de debates prévios & marcha. A Parada do Orgulho Gay tem aumentado expressivamente a cada ano, desde seu inicio em 1995 no Rio de Janeiro, fortalecendo-se através de redes nacionais, como a ABGLT, de grupos locais simpatizantes.® A Marcha da Reforma Urbana, em Brasilia (outubro de 2005), resultou nao s6 da articulagdo de organizagies de base urbana (Sem Teto e outras), mas tambgm de uma integracao mais ampla com a Plataforma Brasileira de Agao Global contra a Pobreza. ‘A Marcha Mundial das Mulheres tem sido integrada por organizacoes civis de todos os continentes. A Marcha vinculada a IIL Cupula dos Povos, em Mar Del Plata (novembro de 2005), “foi convocada pela Alianca Social Continental, por estudantes, trabalhadores, artistas, lideres religiosos, representantes das populagdes indigenas e das mulheres, juristas, defensores dos direitos humanos, parte desse movimento plural, que, pela terceira vez, celebra o encontro, apés os realizados em Santiago do Chile (1998) e Québec (2001)” (cf. Adital, 4 nov. 2005). A Marcha Zumbi + 10 desmembrou-se em duas manifestagdes em Brasilia (uma em 16 e outra em 22 de novembro SscioideeEaatn, Brain «21.09 Janae 206 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 113 de 2005), expressando a diversidade de posturas quanto & autonomia em relagao ao Estado, Portanto, vale destacar, que essas organizacdes em rede abrem-se para a articulagao da diversidade, mas com limites quanto a capacidade de absorcdo de posturas ideolégicas ou politicas conflitivas, vindo a se cindir quando os conflitos se tornam ndo negociveis, como no caso acima. No nivel da captagdo de recursos materiais de sustentacdo organizacional, registram-se 03 apoios financeiros, especialmente 0s das agSncias ndo-governamentais nacionais e internacionais e, freqiientemente, governamentais. Mas, ha também contribuigdes individuais advindas do campo da solidariedade cidada. Finalmente, como resultado de todo esse processo articulatério vai se constituindo o que denominamos, enquanto conceito teérico, de rede de movimento social, Esta pressupde a identifieagdo de sujeitos coletivos em tomo de valores, objetivos ou projetos em comum, 98 quais definem os atores ou situagdes sistémicas antag6nicas que devem ser combatidas ¢ transformadas.* Em outras palavras, 0 ‘Movimento Social, em sentido mais amplo, se constitui em torno de uma identidade ow identificaedo, da definicio de adversérios ou opositores e de um projeto ou utopia,’ num continuo processo em construcao e resulta das miiltiplas articulacdes acima mencionadas. A idéia de rede de movimento soctal &, portanto, um conceito de referéncia que busca aprender 0 porvir ou 0 rumo das aces de movimento, transcendendo as experincias empiricas, concretas, datadas, localizadas dos sujeitos/atores coletivos. Na sociedade das redes (para usar uma terminologia de Manuel Castells), 0 associativismo localizado (ONGs comunitarias ¢ associaedes locais) ou setorizado (ONGs feministas, ecologistas, étnicas, e outras) ou, ainda, 0s movimentos sociais de base locais (de moradores, sem teto, sem terra, etc.) percebem cada vez mais a necessidade de se articularem com outros grupos com a mesma identidade social ou politica, a fim de ganhar visibilidade, produzir impacto na esfera piiblica e obter conquistas para a cidadania. Nesse processo articulatério, atribuem, portanto, legitimidade as esferas de Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 114 Tse Scherer-Warren ‘mediagdo (fénuns ¢ redes) entre os movimentos localizados e 0 Estado, por um lado, e buscam construir redes de movimento com relativa autonomia, por outro. Origina-se, a partir desse fato, uma tenstio ‘permanente no seio do movimento social entre participar com e através do Estado para a formulacao e a implementacdo de politicas puiblicas ou em ser um agente de pressao auténoma da sociedade civil A Figura 1 ilustra o atual cendtio da organizacao da sociedade civil, contemplando os niveis descritos. Rede de Movimento Social sea" Aetna Financiadora Figura 1— Cenario atual da organizacao da sociedade civil ‘Fonte: Use Scherer-Waeren, 2005 Pode-se ilustrar uma rede de movimentos sociais através do ‘Movimento Nacional Quilombola, ainda que se trate de um movimento emergente, na medida em que esse vem se constituindo numa expresso ativa do movimento negro brasileiro e pode ser considerado Sociale eEaala, ena 2,1, 9, 10-130, jm abe 2006 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 115 como uma rede, tendo em vista seus aspectos organizacionais e de ago movimentalista.® Do ponto de vista organizacional, inchui varias redes de redes, desde a Coordenagto Nacional de Articulagto das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ), criada em 1996, até as organizacdes das comunidades locais de “mocambos”, “quilombos”, “comunidades negras murais” ¢ “terras de preto”, que silo varias expressdes de uma mesma heranga cultural e social, © ONGs ¢ associagdes que se identificam com a causa’ Do ponto de vista da aco movimentalista, apresenta as varias dimensdes definidoras de um movimento social (identidade, adversdrio € projeto): waem-se pela forea de uma identidade ética (negra) ¢ de classe (camponeses pobres) — a identidade: para combater 0 legado colonialista, 0 racismo e a expropriagio — 0 adversério; na luta pela manutengdo de um territério que vive sob constante ameaca de invasio, ou seja, pelo diteito a terra conmunitéria herdada — 0 projeto. ‘Nese momento, unem-se também ao Movimento Nacional pela Reforma Agraria na luta pela terra, mas mantendo sta especificidade, isto é, pela legalizacao da posse das terras coletivas. A articulacio em torno de novas identidades politicas e de valores Nas sociedades globalizadas, multiculturais e complexas, as identidades tendem a ser cada vez mais phurais e as tas pela cidadania incluem, freqtentemente, miltiplas dimensdes do se/f: de género, étnica, de classe, regional, mas também dimensdes de afinidades ou de opedes politicas e de valores: pela igualdade, pela liberdade, pela paz, pelo ecologicamente correto, pela sustentabilidade social e ambiental, pelo respeito a diversidade e s diferencas culturais, etc. As redes, por serem multiformes, aproximam atores sociais diversificados — dos niveis locais 40s mais globais, de diferentes tipos de organizacdes— e possibilitam o didlogo da diversidade de interesses e valores. Ainda que esse diflogo nfo seja isento de contlitos, 0 encontroe o confronto das reivindicacdes e lutas referentes a diversos aspectos da cidadania vém permitindo aos movimentos sociais Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 116 Tse Scherer-Warren passarem da defesa de um sujeito identitario tinico 4 defesa de um sujeito plural, Por exemplo, a Articulagao das Mulberes Brasileiras (AMB), rede tradicionalmente feminista, hoje carreza um sub-titulo que diz Articulagao de Mulheres Brasileiras ~ una atticulagao feminista¢ anti-racista. Isso se definiu afirmando 0 feminino e também afirmando o anti-racismo coma uma questio central. Isso tudo € fruto das mulheres negras dentro da AMB. (Entrevista com Guacira, ex-coordenadora da AMB. 2005). A Marcha Mundial das Mulheres (MMM) é um caso emblemético de luta transversal de direitos para a América Latina e para a sociedade global. A MMM teve sua origem no movimento de mulheres e caracteriza-se por set um projeto de mobilizacao social no qual participam ONGs feministas, mas também comités organismos mistos de mulheres e homens que se identificam com a causa do projeto. Essa causa parte do principio da existéncia de uma discriminagao de género, mas se associa & luta contra discriminacdes € exclusdes sociais em outras dimensdes, especialmente em relacdo 8 igualdade, solidatiedade, liberdade, justica e paz. Dessa forma, & central em sua plataforma politica’ — 0 combate & pobreza (demanda por terra, trabalho, direitos, sociais) — combate injustiga (contra a violéncia em todas as esferas da vida social, que vai do tréfico de mulheres ao trabalho escravo até o cancelamento da divida externa, como forma de exploracao injusta), Portanto, a MMM, como muitos movimentos sociais que se constituiram a luz dos movimentos alterglobalizacdo, é uma rede inter- organizacional, mas, no momento de suas mobilizacdes na praca piiblica se amplia consideravelmente com a presenca de muitos(as) cidadaos(as) participantes, como ocorreu no langamento da Carta ‘Mundial das Mulheres para a Humanidade, em 8 de margo de 2005, em Séo Paulo, onde foi estimada a presenga de 30 mil mulheres de 16 Estados brasileiros e representantes de outros paises (Mujeres de las Américas, 2005). A viagem da Carta pelas Américas permite nao SscioideeEaatn, Brain «21.09 0 ale 2006 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 117 séuma agto integrada do movimento feminista latino-americano, mas também aliangas com conjunto dos movimentos sociais, em tomo de uma pauta multidimensional que foi se construindo a medida que ppassava pelos varios paises: por moradia, pela reforma agréria, por salirio justo, satide, direito ao aborto, pela paz, contra a violéncia, 0 racismo, a guetta, etc. — agenda essa que vai caracterizando uma face multi-identitaria de um feminismo em movimento, latino- americano e mundial. A Carta chegou a Burkina Faso, na Africa, no dia 17 de outubro de 2005, iltimo porto dessa ampla rede mundial de solidariedade e de Inta simbélica por “um outro mundo possivel”, ema do Férum Social Mundial (FSM)." Outras oportunidades politicas e reflexivas para as articulacdes em rede se encontram em féruns transnacionais como o FSM ea Ciipula dos Povos da América. De fato, o FSM, ocorrido por quatro vvezes em Porto Alegre, tem se constituido em um momento central de mobilizagdo para as redes de movimentos na América Latina. O FSM, enquanto espago de articulacio da sociedade civil, tem servido de inspiragao a criagdo de varios outros foruns (por exemplo, o Forum Brasileiro de Economia Solidaria surgiu a partir do TIT FSM ¢ 0 T Forum Mundial da Sade, ocorreu imediatamente antes do V FSM, realizado em Porto Alegre, em 2005); além de estimular 0 crescimento © 0 fortalecimento de outras redes, tais como a Via Campesina e a Marcha Mundial das Mulheres, ja mencionadas. A transversalidade de direitos na luta pela cidadania © Férum Social Mundial (FSM) bem como outros féruns e ‘edes transnacionais de organizagdes t8m sido espacos privilegiados para a articulado das Iutas por direitos humanos em suas varias dimensdes sociais. Assim, através dessas articulagdes em rede de movimento observa-se 0 debate de temas transversais, relacionados a varias faces da exclusfo social, ¢ a demanda de novos direitos. A transversalidade dos direitos tem uma referéncia organizada na Plataforma DhESCA (direitos humanos econdmicos, sociais, seeds eEnade, Brain 21. 1p 100-130, jae 2008 118 ThseScherer-Warren, culturais e ambientais), a qual defende a indivisibilidade dos direitos. Essa referéncia reflete o crescimento da presenca de sujeitos e redes diversas no interior do Movimento Nacional de Direitos Humanos e no Forum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDH), ‘no Brasil, onde se associaram as Comissdes de Direitos Humanos, fundadoras do movimento, as pastorais sociais, ONGs, entidades indigenas, de negro(as), de mulheres, ambientalistas e outras, trazendo ‘para o Movimento a necessidade da ideia de indivisibilidade dos direitos homanos, 0 diagrama mostrado na Figura 2 representa a transversalidade das lutas sociais por direitos, através da atuacao em redes. Figura 2 — Transversalidade das Iutas sociais por direitos Fonte: Use Scherer-Wetren, 200 Essa transversalidade na demanda por direitos implica 0 alargamento da concepsao de direitos humanos e a ampliagao da base das mobilizacdes. Por exemplo, a Marcha Mundial das Mulheres (MMM) teve inicio numa manifestagao piiblica feminista no Canada, Sociale eEaala, ena 2,1, 9, 10-130, jm abe 2006 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 119 em 1999, eujo lems, inspirado em uma simbologia feminina — “pio e rosas” ~ expressava ja a resisténcia contra a pobreza e a violéncia. Mantém até hoje esse primeiro mote, mas vem ampliando sua ‘conotagdo, convocando 0 conjunto dos movimentos sociais para a Juta por “um outro mundo”, e por novos diteitos humanos, onde sejam. superados varios legados hist6ricos do patriarealismo e do capitalismo, conforme foi registrado na Carta Mundial das Mulheres para a ‘Humanidade (2005, n. Esses sistemas se reforcam mutuamente. Eles se enraizam e se conjugam com o racismo, o sexismo, a misoginia, a xenofobia, a ‘homofobia, 0 colonialismo, o imperialismo, o escravismo ¢0 trabalho forcado. Constituem a base dos fundamentalismos e integrismos ‘que impedem as umulheres e aos homens serem livres. Geram pobreza, exclusto, violam 0s direitos dos seres humanos, particularmente 03 das mulheres, ¢ poem a Inumanidade ¢ o planeta em perigo. Essa luta pela transversalidade dos direitos humanos expressa na Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, possui cinco valores de referencia: igualdade, liberdade, solidariedade, justiga © paz, Esses valores transformam-se em reivindicagdes coletivas da Marcha, das quais destacamos a sintese mostrada na Figura 3. Podem ser observados af os direitos humanos clissicos e os direitos humanos de uma nova gerago (das minorias e ambientais). Vale ressaltar que cada um desses direitos & perpassado pela conotaco de uma luta contra a exchusto ea violéncia que contemple as dimensbes de género, étnica,etiria, regional, de eqidade e de qualidade de vida, Portanto, € em tomo dessa plataforma ampla que a MMM nilo sé consegue se comunicar com o conjunto das tendéncias do feminismo, dos movimentos de mulheres de base local, mas também com os mais globais, com movimentos sociais de outras especificidades, com simpatizantes de suas causas, formando redes de redes de movimentos, identidades plurais, radicalizando a democracia a partir dos niveis locais, regionais, nacionais até os transnacionais na diego de uma cidadania planetitia Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 Ise Scherer-Warren DIREITOS HUMANOS | EXEMPLOS DA PLATAFORMA, INTEGRIDADE FISICA E MORAL, Wis, Cnt orifice sev ede sere has LIBERDADE COLETIVAE INDIVIDUAL POLITICOS Pena, pni, pip ma pbs, sno REDISTRIBUICAO FQUITATINA DE RIQUEZAS. ECONOMICOS ‘Conve a pobreza, suisse de esis espeiis + liad de ite seo TICs PROTECAO SOCIAL NECESSARIA: SOCIAIS I sine ie, end, ar, lb, sequrnga veces Be TIBERDADE E RESPEITO A DIVERSIDADE: ‘alien sae, cid clase, habia CULTURAIS E DIAS MINORIAS, sequen velie ee ANMENTAINE PRESERVACRO DO MEO AMBIENTE: pone \e sus suas, panna hse, com comme Smtpultes ents Figura 3 — Sintese das reivindicacoes contidas na Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade Compilagso: Ise Seberer-Warren, 2005, O ativismo nas redes de movimento Muitos tém afirmado que o ativismo e a militaneia vém perdendo fOlego nas iiltimas décadas. A militincia que se autodefinia como “revolucionéria”, certamente sim. Mas hé um outro tipo de ativismo, que se alicerca nos valores da democracia, da solidariedade e da cooperagao e que vem crescendo significativamente nos tiltimos anos. Por exemplo, 0 Movimento de Economia Solidétia, que tem suas expressdes empiricas nos empreendimentos populares solidarios, no Forum Brasileiro de Economia Solidéria (FBES) e na Rede de Entidades Brasileiras de Economia Solidéria (REBES), mostrou sua forga organizativa no Forum Social Mundial de 2005, pelo niimero de oficinas, experimentos e tendas organizados. © ativismo de hoje tende a protagonizar um conjunto de agdes orientadas aos mais excluidos, mais discriminados, mais carentes e SciaideeEaate, Beals « 2 21,9. 08-30 jamal 2006 Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 121 mais dominados. A nova militincia passa por essa nova forma de ser sujeito/ator. Portanto, a divisao classica de ONGs “think ranks” (ou produtoras de conhecimento), ativistas (ou cidadiis) e prestadoras de servico (ou de caridade) tende a dar lugar a organizacdes que mesclam, cada vez mais, essas trés formas de atuacdo," tendo em vista seus compromissos com o pré-ativismo no campo da democracia. Um exemplo emblemitico do encontro do ativismo com um protagonismo mais pragmético pode ser encontrado nas agdes do Forum Brasil do Orcamento (FBO), especialmente em sua atuacdo pela construcdo democratica de uma Lei de Responsabilidade Social, orientada a partir dos seguintes principios: — Pagamento da divida social brasileira; — Publicizagdo do Estado ¢ monitoramento das politicas sociais; — Empoderamento social e mudancas na gestio piblica; — Construgdo de um sistema de governanga social. Portanto, ai se conjugam reivindicacdes para a superacdo da exclusdo social, para a transparéncia do poder puiblico e para a participacdo ativa da sociedade civil organizada O empoderamento nos movimentos sociais em rede Pode-se, enfim, indagar: Nos movimentos sob a forma de redes, a estruturas de poder se dissolvem? Pressupie-se, freqlentemente, que, mma organizagao em rede hd uma distribuicao do poder, os centros de poder se democratizam, ou, como hé muitos centros (nds! elos), 0 poder se redistribui. Isso é parcialmente verdadeiro, porém, mesmo em uma rede ha elos mais fortes (liderancas, mediadores, agentes estratégicos, organizacdes de referéncia, etc.) que detém maior poder de influéncia, de direcionamento nas agdes, do que outros elos de conexio da rede, Tais elos sto, pois, circuitos relevantes Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 Ise Scherer-Warren para o empoderamento das redes de movimento, As redes, assim como qualquer relagao social, estdo sempre impregnadas pelo poder, pelo conflito, bem como pelas possibilidades de solidariedade, de reciprocidade e de compartilhamento. Portanto, 0 que interessa & saber como se dé o equilibrio entre essas tendéncias antagonicas do social e como possibilitam ou nao a autonomia dos sujeitos sociais, especialmente os mais excluidos e que, freqtientemente, so as denominadas “populagdes-alvo” desses mediadores. Pergunta-se entio: Como o trabalho de mediagdo das ONGs junto aos movimentos de base local pode ser direcionado ao empoderamento dos sujeitos sociais “socialmente mais exctnidos”, no sentido de nao estimular as hierarquias de poder? Dentre outras, trés orientagdes politico-pedagégicas podem ser citadas como relevantes no trabalho de mediagao social: 1) Atuar no sentido de resgatar a dignidade dos sujeitos socialmente excluidos, porque sem a desconstrugao das discriminagdes introjetadas pelos dominados socialmente nao ha Iuta por direitos; atuar no sentido de resgatar positivamente suas raizes (culturais, simbélicas, estéticas), sem abrir mao de avaliagdes auto-criticas transformadoras, potencializando as iniciativas da base para enfrentar e resolver os problemas sociais (por exemplo, redes de arte e cidadania, desenvolvidas através de varios projetos sociais); 2) Promover novas formas de acao coletiva junto &s populacdes, excluidas (por exemplo, através de trocas solidérias, de trabalho cooperativo, de iniciativas artisticas e da mistica), potencializando os mecanismos de reconhecimento social, de solidariedade, de cooperacdo, de confianga, de reciprocidade, enfim, construindo uma nova ética para 0 social 3) Associar-se a outras experiéncias (articulagdo e trocas de experiéncias de virios coletivos em redes, formando redes de redes, ¢ participando de mobilizagdes de base),"* SciaideeEaate, Beals « 2 21,9. 08-30 jamal 2006 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socials 123 empoderando-se, assim, na diregao de uma rede de movimento social, Enfim, as seguintes dimensdes sociais merecem estar contempladas para um trabalho de empoderamento democritico de incluso social das bases: combate 4 exclusto em suas miiltiplas faces e a respectiva luta por direitos (civis, politicos, socioeconémicos, culturais e ambientais); reconhecimento da diversidade dos sujeitos sociais e do respectivo pluralismo das idéias; a promogio da democracia nos mecanismos de participacio no interior das onganizagdes e nos comités da esfera publica, criando novas formas de governanga. Novas formas de governanca na organizacdo em rede Preparar os sujeitos para se tornarem atores de novas formas de governanca requer a participagao em diversos espacos: mobilizades de base local na esfera piiblica; empoderamento através dos formns e redes da sociedade civil; participagaio nos conselhios setoriais de parceria entre sociedade civil e Estado; e, nos tiktimos anos, a busca de uma representacdo ativa nas conferéncias nacionais e globais de iniciativa governamental em parcerias com a sociedade civil organizada, No espaco das mobil afirmam e se consolidam: icaes de base local & onde se re- — as identidades coletivas, reforcando o sentimento de pertencimento (0 que é ser, se sentir e atuar como um sem- terra, um quilombola, um afro-brasileiro, um neo-zapatista, uma feminista, ete.); — 05 simbolismos/misticas das Iutas, criando-se a idéia de unidade na diversidade e forca interior para prosseguir (através do culto a bandeiras dos movimentos, mmisicas, objetos cultura, ritos, ete.); seeds eEnade, Brain 21. 1p 100-130, jae 2008 124 Ise Scherer-Warren — 05 projetos’utopias, que dao longevidade e significacao a0 movimento (projetos da reforma agrétia, tervitério comunal, agdes afirmativas e igualitarismo e reconhecimento das diferengas de género, étnicas, etc.) Portanto, & nesse espaco que o empoderamento politico e simbélico das organizagdes de base local se constréi e se reconstréi de forma mais efetiva. No espao dos féruns da sociedade civil € onde se vio construindo de forma mais sistematica, as propostas para a transformagao social e formas de negociagao com o Estado © 0 mercado. Para citar elementos das plataformas de alguns féruns, que visam uma politica de negociagao com o Estado: SscioideeEaatn, Brain «21.09 — Forum em Defesa dos Direitos Indigenas (FDDI) - garantir direitos originirios dos povos indigenas (especialmente a terra), conforme previsto na Constitui¢ao de 1988; — Forum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDR) — participagio no Plano Nacional de Direitos Humanos, com incluso da Plataforma DhESCA: — F6rum Brasil do Oreamento (FBO) ~ Campanha sobre Superivit Primario e pela Democratizacao da Lei de Responsabilidade Social; — Férum Nacional de Reforma Agriria (FNRA) — limite da propriedade da Terra (Carta da Terra, que contempla também um modelo de sociedade); — Forum do Lixo e Cidadania (FLC) — erradicar lixdes, retirar ctiangas do lixdo; criar coletas seletivas e geragao de renda para os catadores. - Articulacdo das Mulheres Brasileiras (AMB) — integralidade e universalidade das politicas piblicas de atendimento a mulher, contra a violencia, contra 0 sexismo, contra o racismo, ete. Janae 206 ‘Das mobilizagdes is redes de movimentos socinis 12: Nesse espago as organizagdes de base encontram um canal de representacdo (ainda que bastante informal) e de mediacio politica para as negociacdes com o Estado e 0 mercado, Nas parcerias entre sociedade civil, Estado ¢ mercado hia amiltiplas formas de atuaca0, mas em termos de participagao para a elaboragao de politicas priblicas, merecem destaque os conselhos & conferéncias. Nos conselhos setoriais (popular e/ou paritério) & onde 14, pelo menos teoricamente, um espaco institucional para o encaminhamento de propostas da sociedade civil para uma nova governanca junto & esfera estatal. Alguns exemplos dessas parcerias podem ser citados: — A Secretaria Especial de Politicas de Promocio da Igualdade Racial (SEPPIR) criou, em 2003, 0 CNPIR (Conselho Nacional de Promogiio da Igualdade Racial), com 20 representantes da sociedade civil e 20 do governo, tendo cariter consultivo, para a interlocugao entre sociedade civil e governo; — Por ocasido da Mobilizagao Nacional Terra Livre, realizada pelo Movimento Indigena, na Esplanada dos Ministérios, em abril de 2005, durante a audigncia com 30 liderangas indigenas, 0 ministro da Justiga, Marcio Thomaz Bastos, compromete-se com a criagdo de um Conselho Nacional de Politica Indigenista sera um conselho para formulagao de diretrizes da politica para os povos indigenas, do qual participardo representantes dos indios, das entidades enistas e do governo; — Os conselhos setoriais possibilitam também uma participagao sistemtica e institucional da sociedade civil organizada nas conferéncias nacionais e globais, como nas ‘varias ctipulas e/ou conferéncias mundiais organizadas pela ONUe, no Brasil, nas Conferéneias Nacionais dos Direitos, ‘Humanos, das Mulheres, da Promogio da Igualdade Racial, dente outras jé reatizadas, ou que esto sendo programadas,, Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 126 Thse Scherer-Warren como as da Economia Solidétia e da Juventude, organizadas a partir das Secretarias Especiais do Governo Federal; — Resta lembrar os conselhos setoriais estaduais e municipais (criangas e adolescentes, salide, seguranca alimentar, educacdo, assisténcia social e outros), alguns com participagao ativa das organizagdes da sociedade civil, outros ainda muito controlados pelo poder priblico. Frente a este desafio, Raichelis (2005), acrescenta que: Estudos ¢ pesquisas tém destacado a importincia dos féruns, pplendrias, andiéncias piblicas, mesas de concertaclo, redes e ontras formas de articulagdo enquanto espagos politicos estratégicos para « ampliacdo da participagao e democratizacdo da informacéo, bem como miecanismos de ativagdo e dinamizagao dos pr6prios conselhos. ‘entanto,a dindmica de funcionamento ¢ 0 descaho organizacional desses novos espacos ptiblicos precisam ser cuidadosamente pensados, pois condiciona, em larga medida, a capacidade de inclusio de novos atores coletivas, especialmente aqueles excluides de ourtras arenas decisérias Entim, a gest2o das politicas piblicas poderd ser mais ou menos cidada, ou seja, influenciada pela sociedade civil. Isto dependera das relagdes de forga ou das possibilidades de convergéncia entre representantes das redes de movimentos, da esfera estatal e do mercado nos consellios setoriais e nas conferéncias de promogto de direitos da cidadania; bem como das possibilidades e efetivo empoderamento e democratizago no interior das préprias redes de movimento, na diregto do desenvolvimento de sujeitos com relativa autonomia na construcdo de seus destinos pessoais e coletivas. Concluindo ‘A sociedade civil organizada do novo milénio tende a ser uma sociedade de redes organizacionais, de redes inter-organizacionais © de redes de movimentos e de formagiio de parcerias entre as esferas piiblicas privadas e estatais, criando novos espacos de governanca com o crescimento da participacio cidad. As redes de movimentos Sciodadee Eade, ral 2,0 1,9. 100-10, jae 206 Das mobilizagdes is redes de movimentos soviais 127 sociais possibilitam, nesse contexto, a transposi¢ao de fronteiras territoriais, articulando as agdes locais as regionais, nacionais transnacionais; remporais, lntando pela indivisibilidade de direitos humanos de diversas geracdes histéricas de suas respectivas plataformas: sociais em seu sentido amplo, compreendendo 0 pluralismo de concepedes de mundo dentro de determinados limites éticos, 0 respeito as diferencas e a radicalizagao da democracia através do aprofundamento da autonomia relativa da sociedade civil organizada.”” Essa & a nova utopia do ativismo: mudancas com engajamento com as causas sociais dos excluidos e discriminados e ‘com defesa da democracia na diversidade. Notas 1 O trabalho tem por base alguns resultados de uma pesquisa emandamento sobre foruns ¢ redes nacionais de organizagées da sociedade civil do Projeto “As miltiplas faces da exclusio social” (Projeto AMFES), do Niieleo de Pesquisa em Movimentos Sociais da UFSC. cuja pesquisa cempiica foi realizada durante estigio enquanto pesquisadora visitante do CNPa, junto a Universidade de Brasilia (UNB), n0 petiodo de setembro cde 2004 a agosto de 2005, ‘A sociologia contemporinea tem privilegiado essa perspectiva analitica, vide, dentre outros, o estudo ja clissico de Cohen & Arato, 1992, 3 Hi distingdes histéricas sobre a origem dos dois termos ¢ seu uso, nesse sentido vide «obra coletiva organizada por Haddad (2002). 4 C£oprojeto“Asmiltiplas faces da exchusto social” (vernota 1); destaca- se a multiplicidade de campos de atuacdo e de formas de articulagzo, no Brasil, © apenas para citar alguns exemplos: Associagdes de ONGS Associagdo Brasileira de ONGs (ABONG), ‘Associacto Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgénero (ABGLT), etc Féruns de entidades da sociedade civil Articulagdo das Mulheres Brasileiras (AMB), Férum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos (FENDE), Forum em Defesa dos Dircitos Indigenas (FDDM), Forum do Lixo e Cidadania (FLC). Forum Brasileiro de Economia Solidéria (FBES), Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 128 ThseScherer-Warren Forum Nacional de Mulheres Negras (ENMN), Forum Nacional de Prevengio ¢ Erradicagao do Trabalho Infantil (Forum Pet, Forum Brasil do Orgamento (FBO), Forum Nacional de Reforma Agratia (FNRA). Redes de redes Inter-redes Direitos e Politica (Inter-redes), Rede Cerrado, Rete Brasileira de Sécioeconomia Solidaria (RBSES), ‘Rede Mata Atlantica (RMA), Rede de Informagio do Tereeiso Setor (RITS). Na América Latina, para alguns exemplos Consejo de Educacién de Adultos de América Latina (CEAAL), Coalizio Rios Vivos, Via Campesina. ia Sto Paulo, a primeira Parada Gay c1a 1997, teve cexca de 2 mil pessoas € a nona, em 2005, cerca de 2,5 milbdes. Cf. . 6 Vide omtros desdobramentos sobre a nogio de redes de movimentas sociais em Scherer-Warren (1999, 2000, 2002 e 2005). 7 CfTouraine (1997), Melucei (1996), Castells (1996), entre outros, 8 Nosentido atribuido por Doimo (1995). 5 Levantamento realizado sob a coordenacio de Anjos (2005) mapeou a existéncia de 2.228 terrtérios quilombolas no Brasil, 10 Dados do Projeto AMFES (vide nota 1) IL Neste dia chegou em Onagadogou, Burkina Faso, a Carta Mundial das Mulhicres para a Humanidade ¢ a Colcha, que foi sendo costurada com os retalhos que expressam o mundo que querem as mulheres dos $3 paises por onde a Carta passou.Cf, . 12 Fide a esse respeito, sobre as ONGS ambientalistas, a tese de Flivia Barros (2005) 13. © que ficou evidenciado em nosso trabalho de campo com organizagdes da soviedade civil (ver nota 1), 14. Sobre o assunto vide também Scherer-Warren (2002). 15 Sobre essas categorizagées, vide Scheret-Warren (2005a). Ssiodadee Eade, rai «2,0. 109-190, 2006 Das mobilizagdes is redes de movimentos soviais 129 Abstract: The reality of social movement is quite dynamic, and theorizations do not always follow this dynamism. With globalization and the information age, the social movements in several countries, including Brazil and Latin America, are more diversified and complex. ‘Therefore, many paradigmatic or hegemonic explanations from the last century are in need of revision or updating vis-a-vis the emergence of uew social subjects or political scenarios. This study begins by clucidating organized civil socicty’s new forms, aiming to register the multiple types of collective action in the new millenninm. From this comprehension the study seeks to explore the diversity of identity of the social subjects, the transverse nature of demands for citizen’s rights, the forms of activism and the empowerment through networking and, finally, the political participation of network organizations. Keysvords: social movements, civil society, network, citizenship, empowerment. Referéncias bibliograficas ANIOS, Rafael Sanzio Armijo dos. Terrtérias das comunidades quilombolas 10 Brasil ~ segunda configuragao espacial. Brasilia: Mapas Editora ‘& Consultoria, 2008. BARROS, Flivia, Banco Mundial e ONGs ambiemalistas internacional inbiente, desenvolvimento, governanca global, e participagdo da soctedade civil. Brasilia, 2005. Tese (Doutorado em Sociologia) — UB CASTELLS, Manuel. The iyformation age: economy; society and culture. Lonclon: Blackwell Publishers, 1996. 3. COHEN, J; ARATO. A. Civil society and political theory. Cambridge: MIT Press, 1992. DOIMO, Ana Maria. 4 9 ‘Dumari, Anpoes, 1995, voz do popular: Rio de Janeiro: Relume- HADDAD, Sétgio (org.). ONGse wiversidades: desafios para acooperagae na América Latina, Sto Paulo: Abong; Peirépolis, 2002. Sociedade o Ena, Basa «21m 1, p. 100-130, janabe 2008 130 Thse Scherer-Warren, MELUCCL, Alberto. 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