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Sonia Lane REICHERT ROVINSKI | CATULA Da Luz PELISOLI VIOLENCIA SEXUAL CONTRA CRIANCAS E ADOLESCENTES TESTEMUNHO E AVALIACAO PSICOLOGICA Catalogacao na Publicagao (CIP) do Livro, 5P, Brasil) Grants e adolescentes : restemunhoe Sones Liane Reichert Rovinski, Catula da So Paulo Vitor, 2019 Bal - Aspectos psicoldgicns 2. crancas Gligions 3, Psicologia forense Bul da Luz. 1, Titulo. cpo150.195 fatalogo sistematica: WielEncia sexual : Psicologia 150.195 -85-7585-933-9 ecutivo: Ricardo Mattos mwas: Fabio Camilo Rodrigo Ferreira de Oliveira fFemandes e Patrizia Zagni ‘Ltda. or quslquer meso exstenta por escrito dos editores, dmeno da violencia s dindmicas e consequ sewal contra criangs mulheres que abusam ease adolesrentes: 0 que stama legal e violincia : egais ea rede de protec. de violincia sexual SS eficas sobrea interven es contextos da rede Peeters dn evianc: cognitivo dec nos para a condugio d forense ts de entrevista comcria om suspeita de woléncia tos @ Lecnicas Uicis Na a2 de woldncia sexual c -scusacies de abuso sexual \Ge decisia em situardes yriancas e adolescentes. = Glaboragio de docurmeat c ode documentos no: de de pratecao e justica.... de avaliacSo psicoldgica para nocinema ¢ na TW: dic tarias © séries de televisag. PREVALENCIA, DINAMICAS = _E CONSEQUENCIAS POSSIVEIS DA VIOLENCIA SEXUAL CONTRA CRIANCAS E ADOLESCENTES INTRODUGAO As Criangas $80 as principais vitimas da violéncia. Elas vivenciam mais situa- Gaes de vitimizagdo do que outras segmentos da populacao, incluinde estupras, exposi¢do a violéncia doméstica, punicaa corporal, abusos fisicos, bullying, entre outras (FINKELHOR; TUCKER, 2015), em razao de sua vulnerabilidade e dependéncia (FLORENTINO, 2015). Especificamente, o abuso sexual contra criancas e adolescentes é considerade um problema de satide publica, cam alta prevaléncia e com cansequéncias que podem ser de curto 2 de longo prazo na vida das vitimas e de suas familias (WHO, 2006; 2017). Segundo a Organizacao Mundial da Saude (WHO, 2017), a violéncia sexual atinge 18% das meninas e 8% das meninos ao redor de mundo, sendo definida como o envolvimento de uma crianca em atividades que ele(a} nao compreende em sua totalidade, para a qual ndo é habil para dar consentimenta, para a qual ndo esta preparada em termos desenvolvimentais ou, ainda, que viola leis ou tabus da sociedade (WHO, 2006). Ha uma concordancia bastante significativa entre profissionais ao redor do mundo acerca da compreensdo de que o abuso e a exploracdo sexual envolvem diferentes acdes dirigidas 4 crianga, as quais nao se limitam ao contato fisico (DUBOWITZ, 2017), A legislacde brasileira, ao tipificar a violéncia sexual, discrimina 0 abuso da exploragao sexual. A Lei n® 13.431/2077 definiu 0 abuso sexual como “toda agaio: que se utiliza da crianga ou do adolescente para fins sexuais, seja conjuncac cama ‘ou outro ato libidinoso, realizado de modo prasencial ou por meio eletronica, pare estimulagdo sexual do agente ou de terceiro” (BRASIL, 2017). A mesma let m2 exploragaa sexual comercial como “o uso da crianca ou do adolescents em Sas Line Restor: ovis | Cala a. Lr Pete Ge sexual em troca de remuneragio ou qualquer outra forma de compensacao, de forma independente ou sob patrocinio, apoio ou incentive de terceira, sejade modo presencial ou por meio eletrénico”.A exploracda sexual é compreendida segunda uma relagéo que conta com a interferéncia do mercado, seja local ou mais amplo, formal au informal, ¢ 6 considerada uma das “piores formas de trabalho infantil” pela Organizacda Internacional do Trabalho (OIT) (CERQUEIRA-SANTOS et al., 2008). Assim, a nocao de-violéncia sexual inclyi tanto crimes cometidas no contexta doméstico¢ intrafamiliar como aqueles que ocorrem no contexto extrafamiliar, com ou sem interferéncia do mercado. Finkelhor (1994) & um importante pesquisador desse tema, e seu estudo rea- lizade em 1994 serviu como parimetro global de prevaléncia do abuso sexual. 0 estudo epidemioldgico na época definiu 6 abuso como um problema internacional, encontrando niveis entre 7 ¢ 36% de vitimizacdo em mulheres e entre 3 ¢ 29% em homens, em 21 paises. Em 2009, Pereda e colaboradores publicaram um estudo em que se propuseram a dar cantinuidade 2 investigacdo de Finkelhor, comparando ‘as dados de 1994 com estudas até entdo mais recentes. Os autores encontraram similaridades entre as distribuigdes de prevaléncia, concluindo sobre a existéncia de um padrdo mais ou menos constante ao longa do tempo, principalmente para 0 Sexo feminino. 0 estuda de Pereda e colaboradares (2009) envolvey quase 100 mil participantes de amostras nao elinicas, em 22 paises, encontrando médias de 19,74 para mulheres e 7,9% para homens. Por fim, uma metanalise publicada em 2011, envolvendo 217 estudos, possibilitau aandlise de dados de quase dez milhdes de participantes (STOLTENBORGH etal., 2011). Os autores encontraram uma media Blabal de 11,8% de vitimizac&o por abuso sexual: para as meninas, 0 percentual 6 de 18%, ¢ para os meninos, 7,6%, Finkelhor e Jones (2004) relataram queda de 40% na prevaléncia do abuso sexual Contra criancas e adolescentes nos Estados Unidos, em um perieda de aite anos (1992 a 2000), e explicaram fatores que poderiam estar envolvidos nesses dados. Para os autores, considerando que a reducio apresentada nas analises estatisti- cas de fato mastre uma redugdo real da violéncia, tal queda poderia ser explicada pela investimento realizado por duas décadas em prevencao e tratamento dessas situagGes, pela conduta agressiva da justica criminal nesses casos (mais condena-, gOes ¢ encarceramento de acusados), bem como par mudancas culturais 2 sociais, incluindo a reducao de problemas sociais relacionados, No Brasil, os estudos de prevaléncia sido escassas, Entretanto, dois estudos envolveram coleta de dados cam parcelas diferentes da populacao geral, Um deles 18 WOLENCIA SEXUAL CONTRA CRANCAS & ADOLESCENT incluiu 1.193 adolescentes de escolas estaduais de Porto Alegre, identificands 2.3% de vitimizagio ¢ 4,5% de testemunhas de viol&ncia sexual, sendo esta definida como atacar sexualmente, molestar ou estuprar (POLANCZYK et al, 2003), Outro estudo envolveu estudantes universitarios adultos que responderam sobre suas infancias ¢ identificou uma prevaléncia de 13% de vitimizacao por abuso sexual, senda mais de 70% das vitimas do sexo feminino e mais de 70% dos agressores do sexo masculine (CAPITAO; ROMARO, 2008). Dades do Disque Denlincia nacional indicam que as criangas so as principais vitimas de vialagao aos Direites Humanos no Brasil, com mais de 60% das denuincias recebidas (SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS, 2015). Mais de 20% das alegagoes de violéncia contra criancas € adolescentes que utilizam a ferramenta do Disque 100 envolvem alguma forma de vinléncia sexual. Historicamente, a violéncia sexual tem atingide mais meninas e mulheres ao redor do mundo, porém, meninos também tém sido vitimizados, Segundo uma revisao tedrica realizada por Hohendorif e colaboradores (2012), apesar de existir diferenca em termos de prevaléncia dessa violéncia contra meninas @ meninos, quando a populacdo clinica é considerada, a diferenga entre os dois sexos diminul. 05 autores indicam que esses dados podem estar associados a mais dificuldades des meninos em relatar o ocorrida, pois eles possivelmente sentem medo ¢ vergonha, em razdo de questées de género relacionadas a vitimi- zacdo masculina. Alem disso, alguns comporlamentos abusives contra meninos podem ser compreendidos como uma iniciagdo sexual e jamais ser notificados. OS estudas revisados pelas autores mastram que os meninos S40 as vilimas em 7,9 40.7% dos casos de violéncia sexual, ao passo que as meninas sdo vitimas em 59,3 a 85% das situagdes que chegam ao conhecimento de drgaos responsavers ¢ servicns, em estudas nacionais. ‘abuso sexual intrafamiliar destaca-se como o mais prevalente quando, compa rado aquele perpetrado por pessoas de fora da familia e sen vinculos significatives coma vitima. 0s principais agressores identificades em estudos brasileiras sao pais, padrastos ¢ tios (HABIGZANG; RAMOS; KOLLER, 2011; SERAFIM et al, 2071), BE acordo com Aratijo (2002), esse é um problema complexo € dificil de ser enfrentado por todos os envolvidos. Especialmente na violéncia intrafamiliar, a presenca de certas dindmicas, que se relacionam com a manutencao do seerede, tend= = petuar a violéncia em maior prazo, ¢ a revelarao do abuso costuma: crise imediata na familia Sonia ane tsichert Rovinsh | Catla da List Debio DINAMICAS RELACIONADAS A REVELACAO DO ABUSO SEXUAL A revelacao do abuso sexual pela vitima ©, geralmente, feita a algum familiar, om especial ans pais (HABIGZANG; RAMOS; KOLLER, 2011). Contar a alguém sabre ter sofrido violéncia sexual 6 uma decisao dificil de ser tomada e que pode levar um tempo mais ou menos longa, dependendo de diferentes fatores Presentes no ‘cantexto, A revelacdo do abuso Pode ocorrer para um familiar, amigo au profes- 501, mas também pade ocorrer durante uma entrevista forense au durante um Processa Terapéutico em um contexto clinica GONES, 2000). Pode ser intencional (relato deliberada), acidental (quando envolve uma situacao desencadeadora) au estimulada (quando uma suspeita leva a Questionamentos). Ea partir da revelacso que 5€ Lornam pussiveis a assistincia psicossacial e legal as vitimas e familiares e 4 prevencao da vitimizagado de outras Criangas (BALA et al., 2013) Desde a década de 1990 quando Furniss escreveu sobre o abuso Sexual coma sindrame de segreda, © conhecimentoacerca das dificu: Idades paraa revelacao desse tipo de violéncia tem sido discutido @ aprofundade (FURNISS, 1993), 0 segredo en- volve a proibi¢ie de verbalizar os fatos, seja de maneira explicita, em que a.agressar solicita/ordena a vilima que nda conte sobre o ‘oconrida, seja de forma implicita, por meio da comunicacao nio verbal, predominantemente quando o abuso é intrafami liar..A vitima mantém o segreda seja por temor de solrer sancées, seja por sentirse responsavel por manter 9 equilibrio ea integridade da familia (FLORENTINO, 2015) A presenca de um conjunto de fatores costuma protelar a revelacao da vitimizacio, Sportunizanda ao agressor novos episddios de violencia Ameacas e barganhas sao utilizadas pelos abusadores, ¢ tais estratégias, somadas aos diversas sentimentas despertados nas vitimas, como vergonha, culpa e autorresponsabilizacdo pelo abuso sofrida, acabam por manter retroalimentado 9 ciclo abusiva, Os sentimentos deculpa Sa-ainda mais intensos quando a relacdo é incestuosa e de longa duragdo. efeitos emacionais severos so possiveis quando ha estigmatizacda da vitima ¢ vivencia de conflitos Familiares decorrentes dessa revelacio, por exemplo, quando pais e familiares culpabilizam a vitima Pelos fatos ocorridas (FURNISS, 1993). O psicélo- 80 que for intervir nesses casos deve considerar 0 papel que o segredo exerce em Cada grupo familiar especifico, buscando compreender, junto 3 familia, as sentidos @ significados proprios que ela lhe atribui, Para a crianca, o segredo pode advir da censura, da vergonha em felacdo.4 sociedade, da autocritica, do medo da rejeigdo e da possivel perda das vinculos familiares, das amearas, da ambivaléncia em relagao 18 VICKENCIA-SENUAL CONTRA CRIANGASE ADDLESCENTES autor do. abuso. Desconsiderar a dindmica do segredo pode levar a interpretagdes moralizadoras das condutas das vitimas, resultando a intervencdo profissional em mais uma forma de supressao da alegacdo do abuso sexual (OLIVEIRA, 2012), Outros fenamenos sdo esperados quando se trata da revelagdo do abuso se- xual por criangas e adolescentes. A negacao ¢ compreendida como a situa¢ao em que a crianca/adolescente declara que nao foi abusado(a), ainda que se tenham evidéncias fisicas ou testemunhos. A retratagao consiste em situagoes nas quais ‘0 individuo declara que foi abusado(a), mas posteriormente nega 0 proprio relato prévio (BAIA et al,, 2013). Um estudo investigou revelacao, negacaa e retratacao. em prontuarios de vitimas de 8 a 11 anos de idade atendidas em um servico espe- Cializaco em Belém (PA). Os autores abservaram que: a nao revelacdo ocorreu em 15% dos casos e estava associada a abuso intrafamiliar, houve negacao em 19.4% dos casas; e retratagao em 6,5% (BAIA el al., 2013). Para Cantén Duarte (2011), pesquisas realizadas sobre o tema das consequéncias da revelacdo demonstram que as criancas nao apenas reagem de maneiras muito distintas, como apresentam diferengas em termos de adaptacde psicnssocial, por ferem ou nao participade de processds judiciais. Os maiores niveis de estresse ede desorganizac’o emocional sao apresentados por criancas que se encontram imersas noandamento da proceso judicial, sendo a incertezae a demara na conclusdo da sentenca fatores que dificultam o trabalho de apoio ¢ atendimento dinicoa essas ‘vitimas. Para o autor, é fundamental que a crianca passa ser informada sobre os procedimentos aos quais sera submetida e esclarecida em suas falsas expectativas, tanto quanto a retaliages que imagina sofrer pelo agressor como em relagao a possibilidade de sanar problemas diversos de seu nucleo familiar. Quando a crian- {a se percebe apoiada, tende a desejar participar do provesso judicial, ainda que, temporariamente, apresente um nivel mais clevado de ansiedade. Complementando a que Furniss (1993) descreveu como sindrome de segredo, mantida por ameacas, barganhas e sentimentos negatives percebides pela vitima, ha a sindrome de odicdo, fendmenc que envolve o comportamento do agressor. Em analogia 4 dependéncia quimica, e tal qual o sujeito que abusa de substancias. o autor indica que o abusador usa a crianca para a propria satisfagao sexual, de maneira compulsiva. © abuso da crianca gera no agressor alivio de tensdo, o qual, ao ser negativamente reforgado, pera dependéncia psicolégica. 0 proprio orgasma & compreendido também como reforcadar (positive) do comportamento abuswa: Diante disso, ha a tendéncia a repetir o cicla de excitacdo, obtendo alivio © pramer (SANDERSON, 2005}. Alguns agressores podem sentir-se culpados ¢ compreenger Semin Richart ineks | Cited a Lur Rabat 2 madequacio de suas condytas. Outros nao necessariamente sentido que estaa tazendo prejuizos ao desenvolvimento de uma crianca. € importante compreender que nem todos 05 agressores sexuais S40 ipuais apresentam o mesmo perfil, Se gundo Sanderson (2005), acreditar nisso pode abrandar as Preocupacdes ¢ gerar um falso senso de seguranca. Ha diferentes tipos de Agrestores sexuais de crian- (as, eo peddfilo pace ser um deles, mas certamente nem tacos as agressores tém © transtome parafilico compreendide como pedofilia, Aspectas mais especificas Sobre 0 estado da arte do conhecimento sobre abusadores sexuais de criancas @ adolescentes serda abordados em capitulo especifico, A$ relacdes abusivas ocorrem em um contexto de dominagao. O.apresser constrbi uma rela¢ao de poder, que exerce mediante hostilidade eapressividade (FALEIROS, 2000; KOLLER; DE ANTONI, 2004), ficando a vitima subjugada a essa condico. Aresponsabilidade, portanto, é integralmente de agressor, que faz uso de forga & poder para obter satisfacao por meio da submissao. Geralmente, o abusader tem mais dade que sua vitima, ou seja, esta em etapa desenvolvimental superior, tem mais conhecimentg, mais poder fisico & cognitivo, Essas diferencas impossibilitam qualquer consentimento da vitima, portanto, ela ndo esta apta a concordar. $aa relagdes de pader permeadas de desigualdade, em varios aspectos. Ainda que o agressor possa nao fazer uso de forca fisica, o abuso sexual pode ser realizado mediante seduc30 @ coacao (SANTOS; DELLAGLIO, 2008). As interacées entre abusador vitima podem ser inicialmente Sulis, mas, com a conquista da confianga da vitima, a tendéncia é que um maior nivel de vialincia ovorra gradualmente. A seducdo pode se dar por meio de discursos carregados de elogios e comportamentos de afeto, que fazem a crianca acreditar que ela é espe cial (SANTOS; PELISOLI; DELUAGLIO, 2012). Em alguns casos, 0 abuso sexual nao deixa nenhuma marca fisica; em outros, pode culminar em episticios com agressdes fisicas e penetragdo. Quando perpetrado em uma relacdo familiar e/ou proxima, Com quem acrianca ¢ a familia tém vinculos significatives, o abuso envplve aquebra de confianca. Geralmente, sq abusos com duragio mais longa, contando, muitas vazes, COM varios episddios de violagao ao longo de muitos anos ¢ com potencial para suscitar mais impacto emocional a vitima. Os abusos intrafamiliares esto associados a outras conflitos, camo a propria violéncia doméstica, e também a limites @ papéis fragilizados e invertidos no nucleo familiar. A continuidade da violéncia por meio de ciclos entre as geragdes é chamada multigeracionolidade e contempla aquelas situacSes em que se percebe a repeticiia de histérias ao longo da tempo, porém, com a mudanga de Personagens e papéis, Um estudo brasileiro 20 ° VICK ENCLA SEXUAL CONTRA RNAS | ‘que encontrou resultados corraborando a hipétese da multigeracionalidade fora de Santos ¢ Dell’Agiio (2009), que investigaram maes ce vitimas de abuso sexuale identificaram que muitas delas também haviam sido vitimas na propria historia. NO estudo de Simon e colaboradores (2008), 73% dos abusadores sexuais relataram terem sido vitimas.de abusos sexuais na propria infancia ¢ 65% relataram ter sido expostos precocemente a materiais com cantelido pamnografico. Além das dindmicas especificas do abuso sexual, ha fatares do context social e cultural que podem ser associados a mais risco para 4 vitimizagao. As crises socials e econémicas estao associadas a maiares niveis de violéncia domestica urbana, ea presenca de desemprege, instabilidade financeira e pobreza acabam incidinda em maiores niveis de maus-tratos contra criancas, incluindo violencia sexual. Do mesmo modo, quanda a sociedade tem camo caracteristica a acei- taco cultural de posse da mulher e da crianga pelo home, a naturalizacao da dominagao de um género sobre 0 outro ou de uma faixa etaria sobre a outra, a banalizacda das agressdes contra criancas, inclusive as compreendendo coma parte de acdes educativas, ela se predispie a maiores indices de praticas abusivas (KOLLER; DE ANTONI, 2004). Um das elementos do mundo contemporaneo que também merecem alencao éa virtualizagao- das relagées, que implica afastamento e redugdo das relacbes face a face no contexto da familia e na sociedade. Assim, uma das caracteristicas da violéncia sexual no mundo contemporanea é aquela perpetrada pelos recursos tecnoldgicos e pela Internet, 0 acesso a dispositivas como celulares dificulta o controle parental ea monitoragao regular e proxima do comportamento das criangas ¢ das adolescentes. Um estudo investigando exposigio a experiéncias on-line indesejadas com contedido sexual e estratégias de coping de jovens expostos foi Teita por meio de contatos telefdnicos.com usuarios americanos de Internet entre 10 e 17 anos @ seus pais (PRIEBE; MITCHELL; FINKELHOR, 2013). Os resultados indicaram que 95 jovens contam a alguém mais frequentemente sobre assédios (ser ou sentir-se ameacado. ou constrangide por alguém —75%) do que sobre solicitages de ordem sexual (ser questionado sobre informacées de ordem sexual ou privada ~ 53%) ou exposicaa indesejada & parnografia (92%). De moda geral, os jovens costumam procurar OS pais ou um amigo para revelar a situacdo. Os jovens que nao contaram indicaram como motivos para a nao revelagdo o fata de pensarem que a situagao ndo era tio grave ou porque aconteria muito frequentemente com eles (todo.o tempo). Sigums jovens indicaram que nao contaram porque estavam com medo, envergonhacas ‘ou porque pensavam que teriam problemas eu perderiam o acesso 4 intemet-Os Sonitlane Rekchest Roviek | Conta da Luz Pelook autores concluem que sao necessariog esforcos para @ncorajar os adolescentes a Contar a alguém sobre experiincias indesejadas na Internet e lembram que cortar © acessa n&o Se mostra efetivo para protegé-los. Observando essas queslies, & necessario perceber que tanto as relaghes presenciais quanto as vintuais podem trazer exposigdes inadequadas a conteddos Sexuais, Com potencial significativo para gerar impacta sabre as criancas, os adolescentes e suas familias. AS POSSIVEIS CONSEQUENCIAS DO ABUSO SEXUAL ‘AS consequéncias do abuso sexual podem ser graves, extensas e diversas (FLORENTINO, 2015), Esse evento de vida & considerade um facilitadar para o aparecimento de psicopatologias gfaves © para prejuizos 4 evolucao psicoldgica Social afetiva da vitima, Os efeitos Podem manifestar-se om diferentes momentos da vida das vitimas, imediatamente apds a vinléncia ou em médio ou longa praza. Segundo Florentino (2015), a brutalidade com que ocorre essa violéncia, somada ao fato de a crianca ou adolescante nao estar preparada em termos desenvolvimentais Idesenvolvimentos fisica e psicolégico} para atividades de natureza sexual, contribui Pata que o abuso seja potencialmente trauma Co. OS danos variam, dependenda de caracteristicas da vitima fidade, sexo, funcionzmento psicoldgieo ¢ personali- dade prévia, incluindo recursos de entrentamento, antecedentes psicopatoldgicas, etc.), fatores relacionados & violéncia (gravidade, duracaio e cronicidade, utilizagao de violéncia fisica, relacao com perpetrador) ¢ Teacbes posteriores do contexto social a Que pertence a vitima, como 0 apoio social apos a revelacdo (GOBIERNO BE CHILE, 2010). Estudias internacionais ¢ nacionais tém sida malizados cam a intuito de demons- trar.o impacto do abuso sexual Para as vitimas, as familias e a snciedade. Um dos. Principais estudos intemacionais a respeito dessa questao é a metandlise de Pao. lucie colaboradores (2007), que investigou mais de 9 mil vitimas em 37 estudos. Na revisde da literatura, os autores apantam tanto problemas internalizantes como, ‘externalizantes nas vitimas, como efeitos decorrentes do abuso sexual. Com relacao 49 primeino grupo de sintomas, aparecem, principalmente, a depressao e a ansiedade- ho segunda prupa Sdocitados dissociacaa, prablemas deconduta, apressividade, com: portamento sexual inapropriado, mau ajustamento sexual, problemas interpessoais, dificuldades educacionais, Prostituicgo, comportamento criminal/infrator, tentativas de suicidio, mecio ¢ baixa autoestima, As andlises estat(sticas realizadas mostraram ‘qué, entre os efeitos considerados mais significativos da experiancia de safrer abuse nm \HOLENCIA SEXUAL CONTRA CRANCAS E ADOLESCENTS sexual na infancia e adolescéncia, esto o transtorno de estresse pes Traumaiaaa (TEPT), a depressao, 0 suicidio, a promiscuidade sexual ¢ 0 prejuizo no desempeniag académico. Os autores identificaram uma clara associagao entre 0 abuso © essas ‘consequincias negativas em curtoe longa prazos. Nesseestudo, as va ridveis genera status socioeconémico, tipo de abuso, idade quando ocorreu o abuso, relacdo com a perpetrador 2 numero de incidentes nao mediaram os efeitos do abuso sexual, ou sqja, nig influenciaram na manifestagdo das consequéncias da vitimizacaa. Prejuizos Funcionais peneralizadose baixa qualidade de vida foram encontrados como efeitos do TEPT decorrente de experiéncias de violacao sexual. Adolescentes que foram vitimas podem sofrer efeitos deletérios em seus funcionamentos acadé- mico ¢ sacial, por exempla, ter chances aumentadas de reprovagao de ano na escola e de ser suspensas, ter prejuizos nos comportamentos de apego & de intimidade (MCLEAN et al., 2013). As vitimas de abuso sexual com contato fisico apresentam grandes chances de sofrer sintomas psicossomaticos, como dores fisicas, dores de cabeca, dores de estimago, néuseas, vomito, tortura € fadiga (BONVANIE et al., 2015). Na vida adulta jovem, mulheres que foram vitimas reportam mais dificuldades na vida sexual ¢ mais. comportamentos de risco potencialmente danosos a sua sal de, como envolvimento precoce em atividades sexuais consentidas, maior nimero de parceiros ¢ uso incansistente de preservativos (LACELLE et al, 2012). Ainda na vida adulta, as vitimas também podem apresentar maiores niveis de depressdo, ansiedade e TEPT (ADAMS; MRUG; KNIGHT, 2018). A vitimizagao por abuso sexual também esta relacionada a tentativas de suicidio a suicidiasefetivadas por homens e mulheres (DEVRIES et al., 2014), Um estudo longitudinal foi conduzide na Nova Zelandia com sujeitos entre 18 e 21 anos de idade com histaria de vitimizagao por abuso sexual acornda antes dos 16 anos. Quando eles tinham 30 anos de idade, foram avaliados em termos de sauides fisica e mental, ben-estar psicolbgico, comportamantos de risco easpectos socioeconémicos (FERGUSSON; MCLEOD; HORWOOD, 2013). Os resultados mos- traram associacao do abuso sexual com maiores niveis de depressdo, transtornas de ansiedade, ideacdo e tentativas de suicidio, dependéncia de alcool e de drogas ilfcitas, matores niveis de sintomas de TEPT, baixa autoestima emenos satistacdona vida. A vitimizacdo também se associou a uma idade menor de inicio de atividades sexuais, maior numero de parceiros, aumento de consultas médicas por problemas de satide e dependéncia econdmica_ Na Brasil, um estudla foi realizado com 205 criangas ¢ adolescentes com denunicia de abusos sexuais encaminhadas a uma unidade de atendimento da Universidade Sania Liane Reichert wink | Cainula ca ti Peis de Sao Paulo que presta atendimento. psicoldgico e psiquidtrico (SERAFIM et al, 2011), As criancas¢ adolescentes participaram de avaliacao envolvenda entrevistas © testes psicolégicos e tiveram analisados a presenca de transtarnos mentais ¢ de Comportamenta, as aspectos afetivos e comportamentais, além de género da viti- ma e do perpetrador e idade da vitima. Os resultados indicaram que a maioria dos Parlicipantes era do sexo feminino (65,45), com idadle entre 7 © 10 anos (48.5%), © apresentava quadras de depresso, TEPT ¢ fobias, tenda as meninas apresentado significativamente mais depressdo que as meninos. As vitimas apresentaram, ainda, Comportamenta erotizado, queda no rendimento escolar € tentativa de suicidia (principalmente as meninas) cisolamenta, agressividade e retraimento com relagdo 4 figura masculina (principalmente as meninas). Os sentimentos mais comumente identificades na amostra foram culpa, vergonha, medo e inseguranca. As vilimas percebiam a figura feminina camo mais fragil (69%) ¢ a masculina como forte @ dominadora (33%) e com necessidade de fazer algo ruim (43%). O ambiente foi percebide como ameacador (2798), desamparador (22%) e hastil (349%). Um estudo qualitative que trabalhou COM grupos focais de adolescentesem situacao de vulnerabilidade mostrau que as meninas compreendem o abuso sexual como um frouma pera o restente da vida, que acompanhara a vitima em putras situagies e nos relacionamentos interpessoais (ARPINI SIQUEIRA; SAVEGNAGO, 2012). As adolescentes participantes do estuclo indicaram que o evento é traumatico porque decore de uma situagde néo autorizada, forcadg, e que, entio, viola os direitos da pessoa. Por vezes, avitima pade compreender que temalguma responsabilidade sobre oucorrida, distor cendo os papéis de cuidado e sentindo-se desamparada. Sentiments de vergonha e medo também sain associados a Vitimizagao por abuso sexual, As vitimas podam nao compreender © que estava acontecenda e, sentindo-se desamparadas, podem apre- Sentar dificuldades em relatar o ocorrido, Um dos efeitos mais significativas do abuso sexual é 9 TEPT, caracterizado pela presenca de determinadas sintomas apis a exposicdo a episddio concreta ou ameaca de morte, lesdo grave ou violencia sexual, por meio da vivéncia pessoal, do testemunho oudocanhecimenta sobre a experiéncia de um familiar proximo ouamiga (APA, 201d), Os critérios diagndsticos.apos a exposicao envalvem sintomas intrusivas associados ap evento [raumiatico (lembrancas intrusivas angustiantes, sonhos angustiantes Fecofrentes, reacoes dissociativas, sofrimento psicoldgica intense ou prolongada, reagGes fisioligicas intensas): evitardo persistente de estimulos assaciados ao evento (evitacdo ou esforcos para evitar recordacties, pensamentos ou sentimentos; evitacao ‘ou esforcos para evitar lembrancas externas); alteraties egativas em cogniches & 24 VIOLENC1 SDRUAL, CONTRA CRIANC AS. E ADOLESCENT no humor (incapacidade de recordar algum aspecto importante do evento, crengas ou expectativas negativas; estado emocional negative persistente, interesse Ou participacdo diminuida em atividades significativas, sentimenta de distanciamento, incapacidade de sentir emogdes positivas); alteragbes marcantes na excitagda ena reatividade (comportamente inritadico e surtos de raiva, comportamentoimprudente ou autadestrutivo, hipervigilancia, resposta de sobressalto exagerada, problemas de concentracao, perturbacdo do sang) (APA, 2014}. Para se ter a confirmacao. de TEPT, deve haver a persisténcia de varios desses sintomas por mais de um més, de modo que o individua apresente prejuizos ou sofrimento no funcianamento- social, ocupa- cional ou em outras areas importantes da vida (PAOLUCCI; GENUIS; VIOLATO, 2001}, O TEPT tem sido associado a violéncia sexual infantil em estudos internacia- naig (FERGUSSON; MCLEOD; HORWOOD, 2013; PAOLUCCI; GENUIS; VIOLATO, 2001) & nacionais (BORGES; DELUAGLIO, 2008; HABIGZANG et al., 2010). A experiéncia de vitimizacdo sexual lem sida considerada um dos principais gatilhos desencadeadores do TEPT, mesmo quando comparada a outros even- tos negativos de vida, como testemunhar uma guerra ou vivenckar um ataque terrorista (CLARK; BECK, 2012). 0 TEPT pode ocorrer tanto em criancas como em adolescentes e adultos, ainda que, nas primeiras, possa caracterizar-se por diferentes manifestacdes sintomatologicas, o que tem sido faco de mais aten¢ao dos pesquisadores nos iltimos anos. Foi a partir do ditimo DSM (APA, 2014) que as criangas menores de 6 anos tiveram critérios diferenciadas para 0 diagndstico de TEPT. Nas especificagies para este ditimo grupo, ha mais énfase na andlise do comportamento e do brincar da crianca. Por exemplo, as sintomas intrusivos padem ser observadas na reencenacao de brincadeiras, que podem, dependen- do da intensidade, caracterizar-se por reagbes dissociativas. Em contrapartida, os astados negatives de humor podem inibir o brincar, com manifestacae de comportamentos socialmente retraidas. No Brasil, um estuda discorrendo sobre TEPT em criangas confirma a possibilidade de que os sintomas de TEPT possam sofrer influéncia da faixa etaria da vilima. As autoras verificaram que criancas menores podem apresentar mais sintomas de reencenacao do trauma (brincadeira, desenho), dificuldade de concentracao e de memoria, ao passo que as criangas maiares e os adolescentes tendem a apresentar uma sintomatologia proximo 4 dos adultos, com sentimentos de futuro abreviado (HABIGZANG et al, 2079). 0 TEPT também esta relacionada a alteragdes em estruturas.cerebrais e a prejuizos neuropsicolégicos, coma alencao, raciacinio abstrato, memoria, orientagao & FungGes executivas (BORGES; DELUAGLIO, 2008; 2009), 35 Somia Lane Reichert hosed | CUeula da Lar Reto Com relacdo a essas alteragdes morfofisiclégicas, Teicher (2002) explica que. como 6 abuso infantil acorre durante o perioda formativo critico do cérebro, este passa a ser fisicamente esculpico pela experiéncia, e o impacto-do extreme estresse pode deixar marcas indeléveis em sua estrutura e funcdo. Para o autar, a experién- Cla traumatica traz danos ao sistema limbico das eriancas vitimas, com prejuizos 4 regulagdo da meméria e das emogdes. Estudos realizados com sua equipe em 1994 identificaram, em vitimas de abuso sexual ou psicolégico, anormalidades das ondas cerebrais em eletroencefalogramas (EEGs), indicando uma medida mais direta da irritabilidade do sistema limbico. Nesse estudo foram encontradas anor- malidadles significativas de ondas cerebrais em 54% dos pacientes com histrica de trauma precoce, em comparacao com apenas 27% dos pacientes que nao tinkam sofride abusos, Na sequéncia de seus estudos, encontrou também diferencas no desenvolvimento dos hemisférios cerebrais. Os hemisférios direitos de pacientes que sofreram abusos desenvolveram-se tanto quanto os dos da grupo de controle, mas 0 hemisfério esquerdo permaneceu substancialmente menos desenvolvido, indicando prejuizos na percepcao ena expressao da linguagem. Ao relacionar seus achados com os de outros pesquisadores, concluiu que a alternativa ldgica é que 4 exposicao precoce ao estresse gera efeitos moleculares e neurabiolégicos que alteram o desenvelvimento neuronal de uma maneira adaptativa, preparando o cérebro adulto para sobreviver e reprodugir-se em um mundo perigoso. Pode-se dizer que experiéncias traumaticas criam um novo estado de equilibrio, ‘ue se Caracteriza por ser menos funcional e menos flexivel. Criancas vitimas que vivem no Caos, passam por experiéncias de abuso, negligéncia ou fortes ameacas, hao tém 2 oportunidade de vivenciar um contexta que thes possibilite.o desenvol- vimenta de seu potencial para a auterregulacdo, relacionamentas, comunicacao B pensament0, Essas criancas tornam-se menas sacializadas e mais vulnerdveis a apresentar problemas profundos ¢ duradouras de saiide fisica, emacional, social e cognitiva (GASKILL; PERRY, 2012). Biante do conhecimenta sobre os possiveis efeitos du abuso sexual para suas vitimas, a literatura tem entendido que as consequéncias devem ser compreendidas por meio de um modelo multifacetado relacionado ao trauma, em que miltiplas combinagées de sintomas s30 possiveis (PAOLUCCI; GENUIS; VIOLATO, 2001). As pesquisas sobre esse tema, portanto, nao suportam a ideia de que exista uma sindrome especifica relacionada a essa vitimizagao. 0 abuso sexual deve ser com- preendido como um eventa de vida negative e como um estressor generalizado, que vai disparar diferentes mecanismos e processos, resultando em grande varia= 26 \VIOL ENCIA SEXUAL CONTRA CRANCAS E ASS bilidade de resultados. Pode desencadear TEPT, além de outeas difculdades saat as vitimas, muitas vezes em comorbidade, com prejuizos em curto e longo prazme Arevisio de Paolucci e colaboradores (2001) indica que nao ha um sintoma Gna que caracterize a maior parte das vitimas de abuso sexual e, portanto, nao ha um processo traumatico que seja similar para todas.as vitimas. Ha, ainda, informagbes de que pode ocorrer witimizagao sem sintomataingia (FINNILA-TUOHIMAA et al. 2005; 2009) e haver sintomas explicados por outras razies que nao abuso sexual (SANDERSON, 2005). CONSIDERACOES FINAIS © abuso sexual contra criangas # adolescentes 6 um problema global, afetando meninas e meninos de diferentes idades ao redor do munde e aa longo do tempo. Historicamente, tem afetado mais pessoas do sexo feminina, mas as discusstes envolvendo a vitimizacdo masculina abordam a possibilidade de que exista uma subnotificacio ainda maior, em raze das questoes de género relacionadas. 0 fendmeno ocorre com mais frequéncia em nicleos familiares, porém, o abuso ex- trafamiliar é também uma realidade inegavel. No contexto intrafamiliar, dinamicas especificas caracterizam esse tipo de violéncia. Em geral, a abuso ocorre de maneira insidiosa, gradual, em que o nivel de vialencias fisica psicolagica aparece em um crescente, O segredo sobre. relardio abusiva ¢ mantido a altas custas paraavitima, que geralmente sofre ameacas, apresenta sentimentes de medo, culpa, vergonha e percebe-se envolvida em uma relagao de pader, na qual é subjugada ao desejo do ‘outro, usada coma objeto de satisfacde sexual de um adulta, em atividades para a5 quais seu desenvolvimento fisico ¢ psicolégica nao é adequado. E nesse contexto que a vitima de abuso sexual se torna vulneravel a diversos efeitos possiveis, que podem trazer consequéncias negativas para seu funcionamento psicakigico, social, além do desenvolvi mento cognitive e afetivo, Apesar de a litera: tura indicar uma série de consequéncias possiveis, nao ha um conjunta especifico: de sintomas que caracterize uma *sindrome” qu“transtorno”, lampouco um sintoma Unico que exerca essa funcao, de identificar de mods inequivoco a experiéncia previa do abuso sexual. Diferentemente de muitas condighes médicas, em que um sintoma: é considerado patognoménico de determinada candicao de satide ou doenca, ou soja, estando ele presente, nao haveria dividas de que a condicao determinada ae saideoudoenga também estaria, nas situagbes de violencia sexual, tais certezassaa uma realidade muito distante das possibilidades técnicas e Gentificas da psig Sma Liane Rschert Roun [Chul a Luz Sos Esse conhetimento impacta fortemente a questo do entendimento sobre a avaliacao psicolégica como provano contexto forense, em situacbes de suspeita de abuso sexual, pois traz limites muita significativas sabre a possibilidade de um pro- fissional fazer um nexo causal entre o evento relatado e 05 sintomas apresentadas, Nesse sentido, ha quese ter cuidado quando oa profissional faz inferéncias sobre uma possivel relacdo de causalidade, Compreendendo que deverd manter-se limitada an que os dados abjetivas podem informar, sem inferir para além das informaces de que dispde. Green (1993) propde que Pescwisadores e clinicos integrem dados de multiplas fontes em avaliagbes cuidadosas que envolvam tanto as criancas quanto seus pais, Ao abordar, em suas avaliagoes ¢ documentos, a questdo dos sintomas Apresentados pela suposta vitima, 0 profissianal deverg buscar explicaras hipdteses envolvidas, consicerando as questdes desenvolvimentais, familiares ¢ individuais, além de abordar 0 evento alegado e outras aventas negatives de vida que também possam explicar seus achados REFERENCIAS ADAMS, 13 SYLVIE, M. KNIGHT, D.C. Characteristics of child physical and sexual abuse-as predictors ‘of psychopathology. Child Abuse & Neglect v. 86, p. 167-77, 2018. APA ~ AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual dlagndstica @ estatistica de transtames mentais; DSM 5. 5. od. Porto Alegre: Aimed, 2014. ARAUJO, M, F, ViolEncia ¢ abuso sexual na familia, Psicol. Estud, Masingi, v.7,0.2, p.3-11,dez 2002. ARPINI, D. M.; SIQUEIRA, A. C.; SAVEGNAGO, 5. D. O. 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