You are on page 1of 11
ACTUAL COM VISTA PARA O PASSADO Da cidade industrial a pos-industrial Conti Graca Moreira ‘As cidades so. uma realidade em permanente rmutaco. De acordo com 0 sistema produtive dor ante na respectiva sociedade, elas vao-se modili- cando e adaptando. Neste artigo analisa-se a transformago que se ado na passagem da cidade industrial para a pés-industrial segundo um conjunto signifi- cativo de parametros. tem ver 1, CIDADE INDUSTRIAL - EVOLUCAO DA ESTRU- TURA E MORFOLOGIA URBANAS As cidades dos paises desenvolvidos que cres- Ceram significativamente durante os séculos XIX e XX podem ser consideradas como cidades da época industrial, uma vez que apresentam um conjunto de caracteristicas semelhanies e s30 habitadas por populagtes que tm muitas semelhangas 20 nivel dos comportamentos e dos anseios (Hall,1998). Em 1981 a populagdo portuguesa a viver em aglomerados urbanos com 5000 ou mais habitan- tes era de 44%, enquanto que a popula¢io and- loga do Reino Unido na mesma data era de 91%; ‘em 1993, no conjunto da Comunidade Econémica Europeia esse valor ascendia a 71%, fm alguns pafses menos desenvolvidos, como Portugal, 0 conjunto dessas caracteristicas nem sempre se verficam, encontram-se alguns aspectos uto para uma anilise da transformacao urbana em Portugal ' que correspondem & fase pré-industrial e outros perfeitamente de acordo com os de outros patses desenvolvidos (Santos, 1997}, A esirutura urbana, que reflecte o planeamento © 08 processos de urbanizacao modemnos associa- dos ao capital industrial, nao desaparece rapida- mente. As formas urbanas sa0 bastante estaticas elo que podemos encontrar cidades ou partes de cidade com determinada morfologia anterior & estrutura econémico-social em presenca, A gestao da cidade tem preocupagées saciais. Estamos no periodo do «Estado-Providéncia (Wel fare State)» em que 0 sector piblico providencia, pelo menos em principio, os servigas essenciais, As principais caracteristicas da cidade industrial podem ser vistas de acordo com as dimensoes de analise que se seguem. 1.1, O Desenvolvimento Econémico e a Cidade (© desenvolvimento econémico que se fez sentir desde @ primeira metade do século XIX nos paises desenvolvidos da Europa pode ser organizado em ies fases: ~A primeita, de desenvolvimento do capit lismo industrial com grande competicao entre (os mercados, desenvolve-se durante © século XIX até A Grande Depressao americana de 1929, * Antigo elaborado com base na Dissertagio de Doutoramento em Plancamento Regional Urbano na UTL como titulo «Processes de Requalificago Urbana, tuma anise comparativa entre Liverpool, Almada © Bare Py DA CIDADE INDUSTRIAL A POS-INDUSTRIAL ~ A segunda abrange o final dos anos 20 até ao da familia nuclear, caracterizada por um menor fim da tl Guerra Mundial rnamero de flhos (Giddens, 1998). ~ A terceira abrange 0 final dos anos 40 até a0 - Este processo teve uma evolugio faseada que processo de globalizagao da economia mun passow numa primeira fase pelo aumento significa dial, em curso (Soja, 2000). tivo da morialidade em meio urbano e da mortali- dade infantil em particular, devido as més condi- © longo boom econémico do pés-guerra, de GGes de salubridade que as habitagdes ofereciam 1945 @ 1973, foi construido sob um conjunto de no inicio da fase industrial Préticas de controlo de trabalho, misturas tecnolé- A segunda fase, intimamente relacionada com Bicas, novos habitos de consumo, configuragdes as progressivamente melhores condig6es higiéni- politica associadas a poder econdmico que pode cas que a cidade passou a oferecer, devido ao ser designado de sfordista-keynesiano» (Ascher, incremento das infra-estruturas e 8s preocupacdes 1998) higien’stas de urbanistas, engenheicos e arquitec- Os aspectos econémicos mais marcantes na tos, implicou a diminuigao da mortalidade e poste- cidade deste pertodo, denominada por alguns riormente da natalidade. autores de sfordistas, tendo em conta o sistema A crescente necessidade de mao-de-obra é col- produtivo dominante, so a massificagao da produ. matada por vagas sucessivas de trabalhadores ‘#0 industrial, formas de organizacao da trabalho migrantes. em série ea sua relagao com o consumo de massas Durante este periodo subsistirarn, no entanto, ‘ economias de escala; concentragio dos meios de alguns sectores econdmicos, sob uma base nao-(or- producao, progressiva internacionalizacao do capi- dist, ligados & subcontratagio, mantendo uma tal dominado pelas macroeconomias dos paises l6gica pré-industral desenvolvides; grande importancia do comércio extemno e do consumo massificado. 1.3. Os Factores Ambientais da Cidade ‘A quebra deste sistema, desde 1973, com @ Nesta fase existiu pouca preocupacio com a crise petrolifera, iniciou um perioda de mudanga, qualidade do ambiente, o qual se foi degradando. ripida, continua e com matores incertezas. precisamente devido & industrializacao, aos tipos de sistemas de transportes implementados e, em 1.2. As Alleragdes Sociais na Cidade Beral, & exploracao ndo sustentada dos recursos. O fordisma do pés-guerra deve ser visto menos A qualidade do ambiente urbano era, em geral, ‘como um sistema dle produs3o em massa e mais ma. Atingiram-se elevados niveis de poluigdo indus como um modo de vida total. A produgdo em tial do ar, contaminagao de dguas superficiais e de ‘massa implica uma padronizagao do produto a0 _aquiferos subterraneos dos solos, atingindo por ‘mesmo tempo que © consumo de massas se desen- _vezes profundidades significativas. volve, significando um conjunto de nova estéticae _Aparece ainda um novo problema relacionado mercantilizagao da cultura (Harvey, 1990) com a destruigao dos valores da paisagem que Assiste-se a uma massficagao da sociedade divi alguns autores designam por «poluicao estéticar, e dda em classes sociais bastante homogéneas inter- que resulta de uma falta de enquadramento paisa- hnamente. Essa organizacio fomenta a segregacdo _g(stico das instalagGes industrials, que nao foram social e 0 desenvolvimento de guetos sociais com _projectadas tendo em alencdo este aspecto, Nestas expressao espacial. Na area laboral, os grupos estéo _situagdes, apenas foram equacionados os aspectos ‘organizados em sindicatos que representam secto- _funcionais propriamente ditos. res completos. As preacupacées sociais estao i ‘mamente ligadas as linhas pollticas que se desen- 1.4, A Estruturago dos Espacos e a Morfologia volvem durante todo o século XX (socialista e social Urbana democrata) Durante o perfodo de desenvolvimento directa- Na Europa, 0 modelo anterior, socialmente mente ligado & industrializag0 foram desenvolvi- dominante, da familia alargada € substituido pelo dos varios modelos teéricos de morfologia urbana: 28 ~A cidade-jardim de Howard (1898), onde é defendiclo que cada familia tem direito a uma parcela de terreno com casa e jardim, inte- grado num bairro organizado com as infra- -estruturas hierarquizadas e todos os servicos basicos. A cidade industrial de Garnier (1904), com a separagio das fungées urbanas e a promocao. dos espagos verdes. —A proposta culturalista de Camillo Site (1903), ‘onde a estética historicista tem um valor sig- nificativo, ~O movimento da «City Beautiful» que corres- ponde a um modelo de construcao de habita- ‘<0 unifamiliar integrada em parques, loc zados na periferia das grandes cidades ea ela ligados por avenidas. Este movimento teve particular importancia nos Estados Unidos da América. A cidade industrial do século XX esta muito associada ao movimento modemo na Arquitectura, A ligagio deste a uma visio funcionalista, repre- sentada por Le Corbusier, e expressa na Carta de ‘Atenas, cria caracteristicas fisicas proprias. No planeamento urbano do uso do solo, € emblematico 0 zonamento da ocupacao do solo (Quadro 1). © zonamento industrial foi conside- rado uma necessidade incontorndvel. A grande fabrica localiza-se melhor em zonas isoladas ou junto de pequenas localidades (Goitia, 1982). ‘A cidade & considerada como um conjunto de sistemas: de circulagao, de habitacao, de equipa- mentos, de trabalho, de recreio, etc., que se local am no terttério em funga0 de I6gicas préprias de problemas especiticos. Zonas homogéneas, bem marcadas social- mente, s30 uma das principais caracteristicas das cidades que se desenvolveram durante a maior parte do século XX, com dominancia da actividade ter Ciaria, comércio e servigos no centro das cidades. ‘As zonas antigas perdem prestigio com o aban- dono dos grupos sociais mais favorecidos e so ‘ocupadas pelos imigrantes, que ai procuram a sua Primeira residéncia em condigdes precarias, de grande densidade populacional, tornando- se zonas para populacio desfevorecida, seguado um processo de invasdo-sucessao explicitado nos ACTUAL COM VISTA PARA O PASSADO modelos de estrutura urbana da Escola de Chicago (Carter,1974), Os grandes baitros residenciais, de tipologias, rmultfamiliares, na Europa da Sul incluindo Portu- gal, e de grandes éreas de pequenas tipologias uni- familiares, no Norte, caso do Reino Unido, desen- volvern-se nas periferias, mal equipados a todos os niveis. Os grandes subiirbios residenciais sfo outra caracteristicafisica da cidade industria. No entanto, ainda se encontram em alguns bairros mais antigos outros grupos sociais privile- siados, localizacao herdada da fase pré-industrial, fem que as classes dominantes habitavam junta da sede de poder, quer secular quer religioso, No que diz respeito a questo do prego do solo no mercado livee, este funciona principalmente dle acordo com 0 modelo de Weber’, ou seja, existe uma correlagdo entre 0 prego do solo, a distancia a0 centro e 0 preco dos transpartes. A esirutura dentro da qual estas cidades se desenvolveram, tanto mais fortes quanto os paises se industrializaram mais cedo, promoveu a prazo 0 declinio urbano (Friedrichs, 1993). ‘As repras do zonamento retiraram as cidades a complexidade distributiva e formal, promovendo a monotonia visual ¢ a falta de significa¢ao dos espagos (Lamas, 1993). ‘As cidades sao planeadas como um todo, pri- ‘meito com planos de ocupago e mais tarde com planos de estrutura, Desenvolvemse as grandes operagées de reno- vacao urbana, onde s3o arrasados antigos bairros e equipamentos colectivos sem nobreza mas com grande valor afectivo para as respectivas popula- 506s utlizadores. S20 favorecidas as grandes urba- nizagdes em lote Gnico, onde nao ha o problema de parcelas miltiplas que condicionem o desenho turbano. O espaco pablico domina sobre o privado, ‘que por vezes se reduz ao proprio edificio e outras vezes em termos de fruigo, nem isso (quando os edifcios s30 com pisos térreos vazados) ‘A continuidade espacial é dada pelas vias que, como sistema auténomo, jluem por entre os edifi ios. O automével ganha um papel muito forte na organizacao espacial da cidade. 3 edificios tornam-se elementos preponderan- tes na imagem da cidade, as suas qualidades estti- ‘cas necessitam de isolamento para se manifesta- 2 Os elementos essoncinis para. formacio do ‘modelo so: transporte, ‘trabalho ea aglomeracéo ou ‘concentracio (Delle Donne, 1983). 29 DA CIDADE INDUSTRIAL A POS-INDUSTRIAL sociais universas para o ‘mercado de trabalho Aexivel e aescolha do ‘consumidor, eam 3 politica social subordinada § politica econdmica (il, 200,40). 30 Fem. Os arquitectos ja os projectam isolados, com as suas fungdes, € bem arientadios ao Sol, arejados ® afastados uns dos outros, sem preocupacdo de Integrago no espaco urbano. As qualidades dos edificios, por maiores que sejam, se no forem integradas num contexto, ficam desarticuladas desprovidas de significado para 0 conjunto, 2. CIDADE POS-INDUSTRIAL - EVOLUCAO DA ESTRUTURA E MORFOLOGIA URBANAS A cidade pés-industrial desenvolve-se ‘no con- texto da emergéncia dos centros urbanos como alos dinamizadores do espaco geografico em substituigdo da regiao, -Meesmo em contexto metropolitano as cidades adquirem uma importaneia marcante como centvos de decisio, poder e inovacao, Quando se fala sobre a morfologia da cidade Pés-industrial naa a consideramos como um todo, uma vez que no século XX as novas cidades nao foram criadas de raiz mas apenas Partes, ou foram efectuadas reconversoes de reas, sobretudo da fase industal. ‘As mudangas na economia mundial e a emer- ‘éncia do liberalismo politico levaram a uma rees- truturagdo da socledade nas suas diferentes areas, @ qual se reflectiu, no que diz respeito 4 cidade, numa mudanga na estrutura do investimento, na consttuco e nas tecnologias utlizadas A esido da cidade passa a ter caractertsticas ‘empresariais, sob influéncia do capital internacional € do investimento, Os sectores pblico e privado ta- balham em parceria, deixando de sero sector piiblico 9 Gnico responsavel pelos servicos ‘essenciais, que Concessionam esse desempenho ao sect privado, Os grandes espacos publicos, desenvolvidas na cidade moderna, tém indiscutivelmente um pro- blema econéimico de conservacio e manutengao, Nesta fase as questées sociais deixam de ter ° Cardcterprioritrio que possuiam na fase anterior, 0 «welliare statex é substituido pelo «workfare states (Oatley, 1998; Hill, 2000). As ideologias que favoreceram a evolugao da cidade industrial perdem capacidade explicativa, entrando em declinio, coma foi o caso do mar xismo ou do capitalismo liberal. A sociedade portuguesa encontra-se numa siluagao que nao corresponde nem a0 grupo dos paises desenvolvidos, nem t#0-pouco ao dos patses subdesenvolvidos. Segundo B. Sousa Santos (1997), Portugal & um pais de desenvolvimento intermédio, quer com indicadores de carécier social semelhantes aos dos paises desenvolvidos, ‘quer com outros indicadores (como tipo de desen. volvimento industrial e politicas culturais entre Outros) mais perto dos valores de sociedades menos desenvolvidas. Em alguns aspectos no estamos a passar da sociedade industrial para a 6s-industrial, mas da pré-industrial directamente ara a pés-industrial, como se pode avaliar pela analise do Quadro 1. Esta questao tem necessaria- mente que ser considerada em analises comparati- vas internacionais. Enquadra-se neste tipo de explicagao a impor- fancia cade vez maior das autarquias locais € ‘egionais, quando existem, para promover ou ape- as apolar o desenvolvimento de politicas nomea- ‘damente urbanas. O poder central faculta os instru= mentos, mas sdo as autoridades locais e as suas elites dirigentes que fazem as opgées de escolha e as implementam de acordo com as caracteristicas, especiticas do seu territ6rio e a sensibilidade as suas necessidades. A semelhanga da cidade industrial, as caracte: risticas de cidade pés-industrial podem ser descti- tas segundo as dimensoes de andlise seguintes: 2.1. O Desenvolvimento Econémico As alteragées estruturais que resultaram da libe- liza¢o da economia face as forcas de mercado assumiram-se mediante uma retitada relativa do Boverno do controle dos precos e do mercado, de movimentos para controlar as finangas pablicas ¢ uma abertura as exportacdes e imporiagdes nas relagdes de comércio intemacional. A intemacio- nalizagao da actividade econémica foi acelerada Por alteracdes institucionais como a implementa. ‘o do mercado tinico europeu. ‘Ao aumento de importéncia da intemacionali- aco corresponde o aumento da esfera local repre- sentada pela cidade; a regio tao importante na fase anterior perde poder na fase actual (Gaspar, 1992), O desenvolvimento das cidades, onde uma Brande percentagem do emprego pertence aos ser- vigos deu origem 20 fenémeno das cidades pés- -indlstriais, através do desenvolvimento de nichos de mercado que permitem oportunidades de negé- cio de relativamente pequena dimensio; de salien- tar dentro deste processo a grande importancia dos servigos financeltos e a crescente importincis dos servicos &s empresas. Verifica-se, assim, 0 paradoxo da concentraca0 num espaco reduzido, uma cidade, do controlo slobal dos fluxos de informacao e de capital, porque por um lado o poder de decisio ecanémico esta muito concentrado € por outro a dependéncia das telecomunicagdes requer a concentrasao do con- trolo em areas com sistemas de informago muito sofisticados. Os gigantescos investimentos em infra- -esiruturas de telecomunicagdes requerem econo- mias de escala que obrigam & concentragao dos centros de alta tecnologia. 5 servigos ligados por terminais podem estar espalhados por uma vasta area, mas os ceniros de decisio devido a sofisticagao do seu funcionamento promovern a concentragéo (Castells, 1991) (Lewis, 1992). Novas tecnologias de informagao e indistrias, niomeadamente informatica, telecomunicagoes & bictecnologia, tomam pouco a pouco o lugar pre Ponderante que tinham as inddstrias ligadas a0 automével, petroqulmica ou electrénica, desenvol- vendo tipos de ligagdes laborais mais precérias com novas segmentagbes socioprofsionais, sub- contratagbes associadas & flexibilizacao do mer- cado e melhor anticulagao funcional, diminuindo as relacées sal ‘emprego e no consumo, de massas. A sua localiza- ‘20 € peritérica & cidade, em novas areas suburba- ‘as (por exemplo parques tecnolégicos). Estas novas actividades econémicas oferecem emuneracSes elevadas que permite um aumento a procura de actividades culturais, servicos pes- soais especializados, melhor educagao e saide, 0 ue por sua vez atral novas actividades econémi- cas (Gaspar, 1992). © turismo desenvolve-se em novas éreas como 25 das cidades industrials que se promovem exac- tamente por essa caracteristica. As cidades sempre foram centros de atraccio turistica, mas eram as capitais e os centros histéricos que eram promo: vidos: fundamentadas no pleno ‘ACTUAL COM VISTA PARA 0 PASSADO A pattr do fim dos anos 70, mas sobeetudo na década de 60, turismo, recreio e lazer passaram a ser considerados como alternativa & desindustiali- 2a¢30, permitindo a criag3o de empregos nas novas actividades, criadas para servi o turista ou nas actividades culturas e de lazer que so inere- mentadas. © turismo foi considerado uma inchistria em expansio nesias areas, © iinvestimento turistico implica 0 desenvolvi- mento de infra-esiruturas, equipamentos, a melho- do ambiente, 0 que Implicitamente favorece a populacae local. © marketing e a imagem promo- vidos para atrair turistas tem um efeito posit sobre a actividade econémica e sobre a populacio residente que pode voliar a0 centro tadicional ‘A despesa feta pelos turisias em actividades cul- 'urats como teatros e concertos pode tornar estas, actividades economicamente vidveis, para benef cio da populagao residente (Bianchini, Pa 1993), ‘A aposta na eartee cultura» como produto turis- fico nestas cidades, ¢ aqui esto inclufdos museus, galerias de arte, heranca cultural e eventos espe- clais como festivais, deve-se & importincia eco- némica demonstrada devido a0 peril elevado e 40 emprego qualificado que dio prestigio e boa imagem & cidade. As grandes manifestagdes desporivas como os Jogos Olimpicos tém também um papel relevante na melhoria da qualidade de vida urbana, quer através das infra-estruturas construfdas especial- mente quer pela publicidade que dat advérn. Todo 0 desenvolvimento produzido pelo turismo, a inerente requalificago fsica dos centros das cidades e o aumento de vistantes tem ainda um efeito significativo sobre a auto-estima da opulagao residente que por sua vez se interessacé mais pela boa qualidade do ambiente urbano (Law, 1992), As regulagdes socioeconémicas e politicas corganizadas pelo poder central perdem a sua efic’- cia e os poderes regionais e supranacionats tendem a substiu-las SANTOS, 1997), Ganham grande imporiancia as parcerias pblico- -privado para fornecimenio de, entre outros, serv 0s saci As regides adquirem novas especializagoes na estrutura econémica mundial. Os transportes rodo- a Escola de Chicago, para explicar a estrutura urbana da fase anterior; mas em que s3o as classes mais favorecidas que invadem o espago das classes menos favorecilas, vollando a sua localizagao tra- icional da fase pré industrial. € uma forma de revitalizar,reciclar ou requalifcar reas com graves problemas de desinvestimento (Smith, 1996) (Hall, 1998) A gentrification 6 simultaneamente um pro- ces50 fisico, social € cultural. Envolve a reabilita- ‘do das casas, as quais pertencem muitas vezes ao sector de arrendamento e sio depois compradas adaptadas aos requisitos indispenséveis dos novos donos, Socialmente, corresponde a um novo grupo social que surge, a uma diminui¢do da censidade de ocuparao ¢, no caso das cidades americanas, a alteragdes étnicas, com a passagem da populac3o negra a populacéo branca. Culturalmente, a op¢io recai sobre bairros com valor histérico ou de cariz tradicional com uma imagem cara aos fuluros ocu antes. As casas antigas representam a perenidade das estruturas fisicas e valores edificados do pas- sado, A proximidade de parques, de zonas arbori zadas ou de planos de agua e as vistas panordmi ‘as sio factores favordveis ao desenvolvimento do processo Pode dizersse que 0 processo de gentrification se tornou a imagem de marca da cidade global, devido a0 desenvolvimento que teve nas grandes ‘metrépoles mundiais, em boa parte apoiado pelos pode‘es pablico, central ou local. Mas mesmo as pequenas cidades tm sentido este fenémeno, rela- cionado com a reestruturacao econémica, politica © geogréfica da vida urbana (Smith, 1996) (Hall, 1998). Actualmente, desenvolve-se quer na reabilita- 20 de habitagoes antigas quer na construc3o de ‘novos edlfcios em areas centrais ou ainda na trans- formagao do comércio tradicional em novos tipos de comérclo que atraem novos clientes e dio vida nova aos bairros © processo de gentrification pode ainda ser relacionado com a preocupacao crescente com 0 patriménio e o desejo de o usufruit. Em algumas Sreas antigas € uma populagao Cculta e nem sempre endinheirada que reconhece a qualidade intrinseca do sitio e para af se desloca; este aspecto é particularmente interessante porque Pr ACTUAL COM VISTA PARA 0 PASSADO levania a questdo da forma de medir 0 processo. Nao € apenas a capacidacle.econémica dos novos hal ‘ces50, mas ainda a educacao € 0 tipo de ocupacao (Badcock, 1993), Deve ainda pensar-se este processo como, por um lado, um contraponto & suburbanizacao e, por utko, 0 reflexo da mesma, quando a populacia reconheceu que o suburbio nao Ihe proporcionava a qualidade de vida que ambicionava, quer pelo ‘tempo gasto em deslocagdes quer pelo deserto cul- tural que muitas vezes representa. 0s aspectos relacionados com a cultura e 0 lazer ganham grande desenvolvimento assumindo uma importancia social crescente, bem como o desenvalvimento de subculturas e culturas de ntes que deve servir para medir este pro- minorias étnicas e sociais. As relagbes socials de escala mundial intensific ccam-se através de ligagdes que unem areas distan- tes de tal modo que as ocorréncias locais sto mol- dadas por acontecimentos que se dio a muitos quilémetros de distancia e vice-versa. 2.3. Os Factores Ambientais Verifica-se uma grande e crescente preocupa- ‘G20 € conscincia com os problemas da poluigao e com os valores da natureza (Areas verdes e rearbo- ‘izaGlo) nas cidades, associadas & problematica da sustentabilidade. Esta pressupde um crescimento ‘econémica capaz de satisfazer as necessiciades das nossas sociedades em termos de bem-estar, a Ccurto, médio © sobretudo longo prazo. Pressupbe que o desenvolvimento deve satisfazer as necessi- dades do presente sem compromeier as perspecti- vas das geracdes futuras. A criago de espagos verdes urbanos associa- dos, por um lado, & qualidade do ar e, por outro lado, & diminuiggo da densidade urbana é um aspecto cada vez mais relevant. ‘A qualidade do ar e da agua passam a ser preo- cupacdes de opinido piiblica, deixando de ser de exclusividade de alguns sectores técnicos (Gid- dens, 1998) ‘A paisagem passa a ser um valor a preservar, desenvolvendo-se trabalhos de recuperacao ambien. tal de antigas areas industriais brownfield, de forma 2 preservar espacos ainda nao urbanizados green- field, Esta recuperagao de reas poluidas, em geral 33 DA CIDADE INDUSTRIAL A POS-INDUSTRIAL 32 viatios de longa distancia substituem o caminho-tle- -ferro, 0 crescimento das auto-estradas e a transfor- magao do manuseamento de mercadorias nos pportos fizeram com que as ciddades portudrias per- dessem a sua localizacao atractiva como postos de movimentagao de cargas, bem como 0 seu emprego direclamente ligado as actividades portuarias (Cheshire, 1995), A revolucao nas telecomunicagoes permitiu grande flexibilidade na localizacao das activida- des, a acessibilidade efectiva deixou de ser priori- taria para servigos onde o cliente nao é presencial, podlendo 2 actividad ser deslocalizada para areas por exemplo de solos mais baratos, onde a sua ins- talagao é menos onerosa, au para Sreas da cidade de por acessibilidade mas com um ambiente urbano agradivel eventualmente devido & requalificagso Urbana, Ao mesmo tempo a classe dirigente, quer fem termas intesnacionais quer nacionais, pode con- centrar-se em pontos privilegiados e dat dirigir as suas actividades empobrecendo 0 tecido social petiférico e dificultando os meios financeiros para ‘uma requalificago econémico-social sustentavel. A tevolucao nas telecomunicacées possibilitou Por outro lado @ criagdo de novas dreas de inova- «0 tecnolégica signiticativamente atractivas onde anteriormente no tinham viabilidade por falta de todo um conjunto de actividades na envalvente, actividades que deixaram de ser necessarias ou podem ser distribuidas pela implementacdo dessas _mesmas tecnologias. 2.2. As Alteragdes Sociais © aparecimento da cidade pés-industrial cor- responde a uma preponderancia do dominio do individuo e da individualidade, com uma conse- ‘quente grande fragmentagao das classes sociai estas passam essencialmente a ser distinguidas pelos seus padides de consumo (Santos, 1997) A passagem do emprego industrial para 0 lemprego nos servigos altera radicalmente a estru- ‘ura social da cidade. A importancia dos centros de cultura e de servigos de nivel elevado é marcante © Fstado-Providencia sofre um enfraqueci- mento resultante da alteragao da relacao de forcas das classes sociais devido & sua pulverizagao. A mobiliza¢ao social passa a orientar-se por novas tematicas, dentro das quais sio de destacar a ecologia, 0 antinuclear e o pacifismo, as quais se associam comportamentos de grupo por vezes radicals. A nivel da estrutura familiar verfica-se uma vez mais uma alteragao da sua organizagao com a iminuigao da dimensio média da famtlia nuclear, © aumento das familias monoparentais e dos indi- ‘iduos isolados. (© desaparecimento dos empregos para toda a vida, representando um aumento do stress para pessoas ndo preparadas, conduziu a uma maior polarizacdo social, desenvolvendo-se o fenémeno dos sem-abrigo, em parte devido a perda do ‘emprego industrial ndo reciclavel, que promove 0

You might also like