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CAPITULO IL AS COISAS E 0 PATRIMONIO 86. Nogiio juridica de coisa 1 —Interessa fandamentalmente num estudo juridico earacterizar a ‘nogdo Juridica de coisa Num sentido corrente e amplo — e de certo mode filosético — coisa € tudo o que pode ser pensado, ainda que nao tenha existéncia real e pre- sente. Num sentido fisico, coisa é tudo o que tem existéncia corpérea. quod rangi potesr ou, pelo menos, é susceptivel de ser captado pelos sentidos. Quanto ao sentido juridico de coisa, hé que considerar o artigo 202.° do Cédigo Civil, onde se contém a seguinte definigao: «Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relagdes Juridieas.» Nio pode considerar-se rigorosa tal definigio. Acresce no se divi- sar um qualquer valor operacional ou pratico na inelustio de uma definigdo deste tipo num Cédigo, revestindo a nogao explicitada no artigo 202.° um significado puramente expositivo, de tipo manualistico , nesse plano, como dissemos, incorrecto. Com efeito, hé entes susceptiveis de serem objecto de relagdes juri= divas que ndo so coisas em sentido juridico. Pensemos nas pessoas, nas prestagées, nos modos de ser ou bens da prépria personalidade. Quanto aos bens imateriais, objecto dos direitos de autor ou de propriedade industrial, e aos direitos, objecto de certas figuras de dire tos sobre direitos, podem integrar-se no conceito de coisas. embora tenham um regime especial relativamente ao regime geral das coisas © iio estejam previstas nas varias classificagSes das coisas enumeradas no artigo 203.° Sdo coisas incorpéreas. 30 Tinia Ger do Conjugando todas estas ideias podemos definir as coisas em sentido juridico como «os bens (ou os entes) de cardcter estitico (), despro- vidos de personalidade e nfo integradores do contetido necessério desta, susceptiveis de constituirem objecto de relagdes juridicas». Qual o sentido da caracteristica especifica assinalada nesta definigio ¢ constante do artigo 202.° («que podem ser objecto de rela- ‘sBes juridicas»)? Por que motive recortimos com mais rigor o género desenhado no artigo 202.° (2°5) e mantivemos na definigdo a referida caracteristica ou nota especifica? E que os bens de caricter estitico, carecidos de personalidade, 6 sio coisas em sentido juridico quando puderem ser objecto de relagses juridicas. Para esse efeito devem apresentar as seguintes caracteristicas: a) Existéncia auténoma ou separada (uma casa é uma coisa, nao © sendo todavia cada uma das pedras ou das paredes que a inte- ‘gram, enquanto absorvida ou incluida no todo) (396); }) Possibilidade de apropriagdo exclusiva por alguém (no so coisas os bens que eseapam ao dominio do ser humano, de qual- ‘quer homem. como, p. ex. ¢ por enquanto, as estrelas. os planetas, ete., ou os que, por falta de possibilidade de delimitagao ou Assim se excluem do conceito as prestagBes. Cif 3. CASTRO MANOES, cit, pigs. 383-4 sno 9 aitEz0 202." yocova» género de concerto definido em temn-los vagos ede inadequada extensio 0” Udo azuitn que). ns falimos de ~bens de carter estilo, desprovidos de personaldade e 0 intepradores do cone. do necessiro desta.» yA dkcinglo entre coisas e partes integrantes nem ser pre efleil. Cft. p ex ‘0 Actino da Relago de Coimbra de 20 de Maio de 1986 (( /. 1986. I. pg. $5), ‘8 propdsito da quali£cay:le dos clevadors instalados em prédios, os AcSri:los da Rela- ‘lo de Lisboa de 12 de Maio de 1988, de 18 de Janeiro de 1990 «. de 20 de Junho de 1991 (in CR. 1988, II. pig. 141, ¢ 1990, 1, pég. 146, e sum. no BR /. 1." 408 (635). Pur Aeérage de 31 de Jansito de 1996, [izado um pleno Ein DR. 1 Série, de? de Junho de 1996), 0 STI considerow qu, partir da momento em que est instalado imeel, 0 elevador passa a ser parte componente ou integrante de um prédio :abano, soba prophedade de quem & dono detodo o imvel (tornando-se. consegLsmtemente ficaz a respectiva cliusula de reserva de propriedade sobre cles, Convent € contrata de voutstinancoe instaagtio de elevadores). _fervia Geral do Objecto da Relagdo Juridiea a8 ccaptura, so necessariamente aproveitados por todos os homens. como, p. ex., a camada atmosférica, a luz solar, ete.); ©) Aptidao para satisfazer interesses ou necessidades humanas (Ser humano é a medida e 0 critério do relevo juridico das coi- sas; por isso no silo coisas, pois para nada servem, uma gota de gua, um grio de areia, ete.) Inversamente nfo necessétio: 8) Que se trate de bens de natureza corpérea ia energia eléctrica é uma coisa como © s8o os objectos dos direitos de autor e da prox priedade industrial); b) Que se trate de bens permutaveis, isto é. com valor de troca (pode tratar-se de bens com valor meramente pessoal); ©) Que se trate de bens efectivamente apropriados (pode tratar-se das ref mullius, como 03 animais bravios ou os peixes néo apropri dos (7), ou de coisas abandonadas (°”") ou ihs derelictain basta, portanto, que sejam bens apropridveis) Il — 0 Cédigo Civil define varias categorias de coisas, decorrentes das classificagdes que consagrou. Essas categorias tém interesse porque allei faz, por vezes, corresponder regimes jut categorias © ndo a outras (399, Assim 0 Cédigo Civil define no artigo 204.° e seguintes as coisas iméveis ¢ méveis, as coisas simples ¢ compostas, as coisas fungiveis, as, icos especificos a certas 5) 0.5 90a do Cédigo Civil alessio S raduzide em 1990, proclama qce «os saints alo sto colsaso, sendo peotegidos por les expe'ais, para logo de seu pee- ceinuar que na falta de disposigio especial ‘Lhes sio spiciveis 2 normas sobre coisas. Segundo o Cédigo Civil de 1996, porém. os arbmais so de considerar como coisas. sem prejuizo do reFale de peotecgio que resulte de outros diplomas (como 0 Des slos ‘831572003, de 17 de Dezembro, a Lei a." 92/95, de 2 de Selembro, ¢ 2 Lei 182 128/200, de 8 de Julbo) 2) O que nfo C o mesmo que coisas pecidas "1 Ovartgo 201". 1." 2 considera fora do comércio todas as coas que nto padem ser abjecto de dircto privado. Fa eato,p. cleoss beddios e dos bens do dominia paibLco, Cfe. sobre 6 dominio piblico & o dominia privado do Estado, © Decreto- Lain! 477/80. de 15 de Outubro, Teoria Geral do Direiro 041 coisas consumiveis, as coisas divisiveis, as coisas principais e as coisas acessérias ou pertengas (°"), as coisas futuras, Da também o conceito de frutos (art. 212.": tudo 0 que a coisa produz periodicamente, sem prejuizo da sua substancia), nogao muito ‘mportante dada a sua aplicaso no regime do usurfruto ¢ da posse (os frutos da coisa cabem ao possuidor de boa fé, mas nio jé ao possuidor de ma £8) (LuD)_ Definemese igualmente as benfeitorias (art. 2162: despesas feitas para conservar ou melhorar a coisa), nogao igualmente importante dada a sua aplicagio no re#ime da posse, do arrendamento ¢"), ete, © mesmo artigo considera e define trés modalidades de benfeitorias: necessirias, Uteis e voluptusrias 87. Nogao de patriménio 1 — Na linguagem dos juristas a palavra patriménio conhece varias acepsies, Fala-se, por vezes, de patriménio para designar 0 patrimdnio glo- bal. Tem-se entio em vista 0 conjunto de relagdes juridicas activas e passivas (direitos ¢ obrigagdes) avalidveis em dinkeiro de que zuna pes- soa é Titulai: E importante destacar alguns pontos sobre esta nogio: 1.1 Trata-se do conjunto de rela¢des juridicas; nao se trata do conjunto de iméveis, méveis, eréditos ou outros direitos patrimoniais, pois as coisas méveis ou iméveis nao so entidades do mesmo tipo dos eré- ditos ou dos outros direitos (®*), © patriménio ¢ integrado por direi- Sio cxemplos de coisas acestrias ow pertengas os anima alfaias aera | exploragio de um prédio nistico os o= mveis¢ wtenslios pertencentes a um prédio uurbano, Cfr a definigio no artigo 21011 1" 1, O artigo 210" consagra umm regime coo 110e a0 brocacdo tradicional ve-cerrar/um principal’ seqittrr. peto que, sex livsul conteatual em contriio, as coisas acess alo acompanham a alienagio da cosa principal 8) Cfe- artes 1270. c 1271." Os feutos podem ser natuais («os que peovérn dlicectamente da coisa) civis (as rendas ou interesses que a coisa produ em con reldrencia de uma relagiojuriieas) — argo 212'T ) Cfe ards 1273,1 1275." e artigos 142" © 15 © do Deceeto Lein® 3.85188, dhe 25 de Outubro. "| As coisas sio objecto de tclagdesjuldcas, ox créitos so elagbesjucdcas. Teoria Geral do Objecto da Relagdo Juridica a8 tos sobre as coisas (propriedade, usuffuto, etc.). direitos de erédito, obri- gagbes e outros direitos patrimoniais. 2.°) No fazem parte do patriménio certas realidades, susceptiveis de ter “rande relevancia para a vida econémica das pessoas, mas que no silo relagGes juridieas existentes, sendo antes meras fontes de rendi- mentos futuros. E 0 caso da forga de trabalho, da competéneia técnica de um individuo, do seu crédito, ete. Sdo qualidades do sujeito que se projectam nos resultados patrimoniais da sua vida, mas nao so parte do seu patriménio; a sua lesdo, ilicita e culposa, por terceiro gera, todavia, um dano patrimonial indemnizavel, desde logo pelo facto de a respon- sabilidade civil dever cobrir os chamados lucros cessantes. 3.°) Sé fazem parte do patriménio as relagées juridicas suscepti veis de avaliagdo pecunidria; esta pecuniaridade pode resultar do valor de troca do direito, por este ser aliendvel mediante uma contraprestag ou do valor de uso, traduzido em 0 direito, no sendo embora permu- tavel, proporeionar o gozo de um bem, material ou ideal, que 86 se cobtém mediante uma despesa (404). E a esta nogdo que se refere 0 artigo 2030.", n.° 2, ao definir her- deiro como o que sucede na totalidade ou numa quota do patriménio do falecido (cfr. também, p. ex., 0 art. 154.°, n.° 1). Fala-se, outras vezes, de patriménio para designar o chamado patri- ménio bruto ou patriménio iliquido. Temese entio em vista o conjunto de direitos avalidveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abs~ traindo, portanto, das obrigagées. E esta nogo de patriménio que reveste, talvez, o maior interesse jur= dico, pois é ele que interessa para o dominio institucional (a responsa- bilidade civil) em que se situa a principal fungao juridica do patriménio: a garantia dos credores (eff. aras. 601.° ¢ segs.). E neste sentido que o artigo 817.° fala no direito do credor de executar © patriménio do dev dor (cfr. também, p. ex.. 0 art. 198.°), em conformidade com o disposto nos artigos 801.” e seguintes e artigo 821.° do Cédigo de Processo Civil, (} Assim o direito de uso e 0 direito de habitagao (1,80 confundir on; & diccito do locatirio emergemte do artendamento de um peédio ushano) so inteanemis- siveis (att. 1488/), mas slo elementos do patrimnio: © mesmo sucede Com Un ‘mesmo intranemissive, para um expectictlo, 8 Teoria Geral do Direto Finalmente. num sentido mais restrito, pode designar-se por patrimé~ nio o chamado patriménio liquida, isto &, 0 saldo patrimonial (relagSes jud- dicas activas ou direitos menos as abnezagdes ou relagbes juridicas passi- vas). Esta acepgo da palavra patrim econdmico, pois, como dissemos, o sentido juridico da nogio de patrimé- nio é fundamentalmente o correspondente ao conceito de patriménio bruto, que 6 0 conceito relevante para efeitos de responsabilidade civil sio tem um valor puramente I — 0 patriménio distingue-se, pois, facilmente da esfera jurt- dico. Esta € a totalidade das relagdes juridicas de que uma pessoa é sujeito, Abrange, assim, o patriménio e os direitos e obrigagdes no ava- liveis em dinheiro (pessoais hoc sensz), encabegados na pessoa, TT — 0 conceito de patriménio traduz a soma ou conjunto das relagdes juridicas avalidveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, Nao se trata de um objecto juridico tinico ou uniiversalidade, $8-lo-i se o direito tratasse o conjunto de relagdes que inte Fram o patriménio como formando uma unidade distinta dos seus elementos e susceptivel de um tratamento juridico diferenciado do tratamento que reclamam os varios elementos componentes dela. Mas no ¢ assim. Deste modo, quem pretender alienar, por acto entre vivos, todas as suas relagdes rer aos varios tipos negociais adequados a ali- patrimoniais tem de ret enago de cada um dos elementos componentes do seu patriménio, observando os requisitos necessarios para cada um desses actos. Tera de promover, para a respectiva cessdo ser eficaz (art. 5831), a notifica- 0 do devedar, se esto incluidos eréditos no patriménio alienado; tera de obter consentimento do credor, se do patriménio alienado fazem pparte dividas (art. 595Y); terd de lavrar escritura piblica, se do patriménio alienado fazem parte direitos sobre iméveis; etc. Quer dizer nfo hé um tipo negociai dirigido & alienagdo em bloco, uno acta, do patriménio, Este &, portanto, um conjunto atomistico de relagées juridicas € ©), Nao hé uni diteito tinico ou unitrio sobre o patti- nfo uma unidade ( ménio bruto ou global. H) © adiro aspecto em que © patiménio parece ead-portadse como wna vt vessall dade & croscido heredadda. dada a responsabildade dos hal-dedos pends teoria Geral do Oineclo da Reténo Juridica 88. O fenémeno da autonomia patrimonial ou separagdo de patri- 1 —Na esfera juridica de urna pessoa existe normalmente apenas um patriménio, Em certos casos, porém. seremos forgados a concluir existir na titularidade do mesmo sujeito, além do seu patriménio geral. um conjunto de relagdes patrimoniais submetido a um tratamento juri- dico particular, tal como se fosse de pessoa diversa — estamos entiio perante um patriménio auténomo ou separado ss Qual o tratamento juridico particular que conduz a afirmagio da existéncia de um ou varios patriménios separados (auténomos) ao lado do patriménio cera] do sujeito? Quando podemos considerar existirem ‘Varios patriménios na esfera juridica do mesmo titular? Trata-se de saber qual 0 critério do reconhecimento da autonomia ou separagio de patriménios. Poderia atender-se a critérios diversos: a especial destinagio de certa massa de bens, a sua administragtio sepa- rada, a responsabilidade por dividas. 1 — 0 critério preferivel 6, em coeréneia com a principal fungie Juridica do patriménio. o da responsabilidade por dividas. Se o patriménio tem como fungdo principal responder pelas di das do seu titular, entio parece que o critério mais adequado para caracterizar a separacdo de patriménios deve ser o da existéncia de um ‘das hereddaras, embora dento apenas das farpar da heranga, edad a existéncia dd uma, scgio de petiggo de heranga Cart. 2075." (0%) 0 ‘ermeno da autonomia patrimonialtaduz-s, portanto, a nosso ver, na ‘xGsttacia de ume massa de velages patrimonias.pertencentes ao mesmo susvte do pad ninio geral. com um datamos:o Suridico panicular Por vezes di-se a este fenddieno 1 denominagdo de searagdo de panar :o_reservando a expresso parindSnio auté- ‘nome para os palriménios darditoriament: sem suictto como suicede Lima heranga ‘Gre art. 2046.*; cf. 0 ar. 65" al. q). do Céd. de Processo Civil). Ao uiilizamos. ‘como sindnimos as expressbesaulonomia patimoSiate separagio do paeiménios ox path nhinfoauténomo e patriménio separado (ft. para est, a epigrate dose, 8725 do Céad Civil, para a primeiza, p. ex. 0 da26, ." 1, did. do Céd. da Insolvéncia a da Recu- peragio de Empresas. ea equivaléncia «patriménio separada ou auténomo no peeden= "nulo do Dee--Lei nd 248/86, de 25 de Agosto- que aprovou o regime do estabeleci- rmenta individual de responsabilidade dandada — ue Teoria Goral do Dirito tratamento juridico particular em matéria de responsabilidade por dividas (40h, Patriménio auténomo ou separado serd, assim, o que «responde por dividas préprias», isto é, sd responde e responde sé ele por certas dividas. Torna-se necessério para se falar de autonomia patrimonial ou separacdo de patriménios que um certo patriménio responda apenas por certas dividas do seu titular, néo respondendo pelas outras, e que por aquelas dividas s6 o patriménio auténomo responda, nao podendo elas afectar o patriménio geral do seu titular (408). As dividas pelas quais sé o patriménio auténomo responde, sem res- onder por quaisquer outras, so as dividas relacionadas com a fungio especifica, com a finalidade ou afectacdo especial desse patriménio. Um estabelecimento comercial seria um patriménio auténomo se respondesse apenas pelas dividas comerciais do seu titular com exclusdo das dividas estranhas ao exercicio do comércio e se por essas dividas comerciais no respondessem os restantes bens do comerciante. Nao é esse, porém, 0 caso do nosso direito privado (salvo, em certa medida, no caso do estabeleci- mento individual de responsabilidade limitada, como veremos). A heranca seré um patriménio auténomo, se os bens hereditérios responderem ape- nas pelas dividas do de cujus, e néo pelas dividas pessoais do herdeiro, e se pelas dividas do de anus responder s6 0 activo da heranca e nao 0 patri- ménio pessoal do herdeiro — esse o regime do nosso direito privado. III — 0 caso mais nitido e claro de patriménio auténomo no direito privado portugués era, até 1986, a heranga. A heranga é 0 conjunto das relacées juridicas patrimoniais que, por forca da morte de um indi- viduo, passam da titularidade deste para os herdeiros e legatarios. (7A qualiieagao como patriménio auténomo & relevante, nos termos do ‘artigo 2',n." 1. ah). do Cédigo da Insolvencia e da Recuperagio de Empresas (que se eer a aquaiequer outros patriménios auténomass), para a possibiidade de ser objecto de processo de insolvancia. Cf, em geral, 08 art¥oe 6.". a a). ©22.° do Cédigo de Processo Cuil (0) A existéncia de uma plena autonomia patrimonial exige 0 concurso de ambas estas caracteristicas,s6 responder e responder sé ele por certas dias) reo bas tando a verifeagao de urna deras apenas. Poderd exist, todavia, uma autonomia pati- ‘monial de cardcter parcial, Teoria Geral do Objecto da Relat Juridica wo ‘As caracteristicas de uma plena autonomia patrimonial manifes- tam-se: a) Na circunstancia de a responsabilidade do herdeito pelas divi- das da heranga niio exceder 0 valor dos bens herdados, quer a heranga, seja aceite a beneficio de inventério, quer seja aceite pura e simplesmente (art. 2071.°); se a aceitagdo ¢ a beneficio de inventirio, os eredores do de cujus s6 se podem pagar pelos bens inventariados, salvo se os cre- dores provarem a existéncia de outros bens da heranga que no consta- ram do inventério (art, 2071", n.° 1); se a aceitagio & ha inventirio dos bens da heranga. mas a responsabilidade do herdeiro pelas dividas hereditrias nao excede também o valor dos bens herda- ura e simples. nfo dos, incumbindo, porém, ao herdeiro provar a insuficiéncia do activo here= ditério para solver as dividas do de cujus (art. 2071, n° 2); constata-se, pois, que 0 herdeiro ndo responde pelas dividas da heranga para além das forgas dos bens herdados (ndo responde «ultra vires hereclitatis»). mas © snus da prova da .cis do activo hereditério cabe ao herdeiro endo aos credores na aceita¢do pura e simples. enquanto 0 & ‘ariados cabe aos cre da prova da existéncia de ma alén dos inver dores na aceitago a beneficio de inventirio (409). b) Na circunstancia de os credores da heranga ¢ os legatarios gozarem de preferéncia sobre os credores pessoais do herdeiro, durante 98 cinco anos subsequentes a abertura da sucessiio ou constituigao de divida, se esta é posterior (art. 2070.°); os credores pessoais s6 podem, portanto, pagar-se pelos bens hereditarios, depois de satisfei- tos os credores do de cupis, desaparecendo assim a autonomia patri- monial com o pagamento destes; passados cinco anos cessa também, Dado que na acetagdo psa e simples hi em sisco de o herdeco sespond ultra ries, 4 no consegue peovar a insufciéaca do active hereditiio, na cedacgi0 figingsia do Cédigo Civil a heranga deferida a menor inteclito,inablitado ou pessoa colectiva #5 podia ser acite a beneficio de iaventirio (art 2033", n° I) Tal exigen a Fo, todavia, revogada pelo Decreto-Lei 227/94, de 8 de Setembro, por se vor ene ido nio subsistiem as sxztes —segundo se afema no prefmbulo, «undadas na des- fianga com que 0 legislador a Administracdo encaravam os cidadios ¢, neste panietla, os pas e repeesentant tagio de hersnea por menor, interdito, inabiltado ou pessoa colectiva nfo tem, pois, de Iegrs do meno — que a ustificavam Loje, 2 ace fazer se a beneficio de inventicio. 350 Teomek, Geraldo Dirchw Chol, como vimos, a autonomia patrimonial da heranga, estejam ou nao Pagos os eredores do de cujos. pois cessa ento a preferéncia consa- grada no artigo 2070." Constata-se do exposto ser a heranga um patriménio auténomo e visar esta autonomia um mero escopo de Liquidacao, traduzido em asse gurar © pagamento dos credores da heranga com os bens da heranga e 86 com estes TV — Um caso em que o legislador se referiu a um «patriménio separado ou auténomo» & 0 estabelecimenta individual de responsabi- lidade limitada (E.1.R.L.). Este pode ser constituide por qualquer pes- soa singular — que, porém, pode eriar um sé B.1.R.L. — que pretenda exercer uma actividade comercial, afectando para o efeito ao estabele- cimento uma parte do seu patriménio. eujo valor representa o capital inicial do estabelecimento (art, 1,° do Dee.-Lei II." 248/86, de 25 de AFosto) (4 elas dividas resultantes de actividades no Ambito do abjecto do E.LR.L..96 respondem os bens a este afectados. Em caso de insolven- cia do titular (°*), por causa relacionada com a actividade exercida naquele estabelecimento, s6 responde com todo © seu patriménio pelas vidas contraidas nesse exercicio se se provar que a separagao patri- ‘monial ndo foi observada na gestio do estabelecimento (art. 11 °.n."° 1, €2, do Dee.-Lei n.” 248/86). Por outro lado, o patriménio do E.LR.L. responde, em prinefpio, ape- nas pelas dividas contraidas no desenvolvimento das actividades com- preendidas no ambito desse estabelecimento. Pode, porém, ser penho- rado 0 préprio estabelecimento, em execugdo movida contra o seu titular por dividas alheias a exploragdo, desde que os credares provem a 6.1 Com o Deereto Lei n. 36/2000. de 14 de Margo deixou de ser nice cscritura pebliea para a constituicio do EIRA— passindo a haste documento pa-ticule salvose forem electuadas entradas em bens diferentes de i> 79 paca cua transmis- io sci necesiriaexcritura pili, caso em que 0 acto cons. itutiva deve evestr est forma © capital min aio pode ver hoje infenve 15000 € (Dee Les 08 M798, de 6 de Novembro ant ‘PhO esabeecmento individual dereponsabddelminda,engua autinome. pode le prdpi ser sito passive dadecarago de inaalvencia, Teoria Geral do Objecto da Relacdo orftica ss ficigncia dos restantes bens do devedor (arts. 10." 22.° do Dec-Lé n° 248/86) ‘V —Estando um patriménio auténomo afectado A satisfagio exelu- siva de certas dividas, parece que, se um bem desse patriménio se perde, adquirindo-se concomitimtemente outro valor (p. ex., vende-se um objecto que & trocado assim pelo prego correspondente: troca-se um objecto por outro; arde um prédio e, em consequéncia desse facto, adquire-se um eré- dito sobre a companhia seguradora do mesmo contra o risco de incén= dio, etc.). este valor deve substituir-se ao primeiro bem, tomando o seu Inear no patriménio auténomo e fazendo as vezes dele. Esta instituigao da substituigto de uma coisa que se perdeu por forga de um acto ou facto juridico que simultaneamente implicou a aquisigao de um valor, ocupando ‘© novo valor o lugar do anterior, como novo abjecto da mesma relagao juridica que jd existia, denomina-se sub-rogagao real. Parece no poder deixar de ter ugar nos casos de autonomia patrimonial, em homena- ‘gem ao interesse dos eredores por dividas referentes ao patriménio auté- nome. ‘A sub-rogagao real, que foi expressa em brocardos romanistas ras sueceilit ir loco reis; spretiuni succerlit in loco reis; ares succedit in loco pretay). esta consagrada logicamente na disciplina juridica da LHe Cline Tdopredibulo de Decreto Le: 248/86 € o antiga 2 2" 1, do Céligo da Insolvéne Por veres 0 legisador limita sea qualificardeterminada massa patrimonial como patrimdnio auténomo, ox como patimdnia teparido, sem espeifear o respective reidme de responsabildade por dvidas. Cle, p. ex, 0 artigo 36". 2. do Cédigo dos Valo- res Mobilfrios (fandos de garantia dos investidores alo instinucioicasconstituides pela entidade gestora do mercado ou do sistema de liquidagao a que o fundo est afetol, © © artigo 2", 1." 1, a. 2). do Decreto-Lei n! 252-A788, de 3 de Outubro, pact os beas do rod. ite sconsytsem um patriminin separado © sc «integram o patsimenio do ens ‘ee ou gestorfiduciirio —o truz ou geste tidueir a. oriunda dos pafses do eon mon Ide e reconinecide por aque diploma ne Lmbite ds Zona Wranea da Made, & fos teemos do seu argo 1°, a. @), 2 wdesignagao das relagies jucdicasresulantes de um acto inter uivos ou monis causa pejo qual uma pessoa, o Sedar fou isttdor, tran mite e coloea quaiquer bens — com excepgio dens imeveislocalzados em tertécio portugués — rob o controle eadministragio de mm acues em proveito de uni benef imo: que pode seri) priprio redor ou o irusiee. sc visando a prostecagio de cin fr expecifcan. 352 Teoria Geral de Direito Civil heranga — e esta consagrada quanto as trés formas a que se referem aqueles trés brocardos (eff. art. 2069.", abs. @), 0) 89. A figura do patriménio colectivo I—Na hipétese de autonomia patrimonial existem na titularidade do mesmo sujeito duas ou mais massas patrimoniais separadas. A figura do patriménio colectivo apresenta-se-nos quando, inver- samente, um tinico patriménio tem varios sujeitos. Duas ou mais pes soas, que possuem — cada uma — o seu patriménio que Ihes pertence globalmente. I —O patriménio colectivo nfo se confunde, porém, com a compropriedade ou propriedade em comum, Na propriedade em comum ou compropriedade, figura de procedéneia romanistica, esta- mos perante uma comunhio por quotas ideais, isto é, cada compro- prietério ou consorte tem direito a uma quota ideal ou fracgao do objecto comum. Dai que © comproprietério possa dispor de toda a sua quota na comunhao ou de parte dela (art. 1408.°); dai que o comproprietario nao seja obrigado a permanecer na indivisdo, podendo exigir a divisio da coisa comum (art. 1412.°) (410.), 0 patriménio colectivo pertence em bloco, globalmente, 20 con- junto de pessoas correspondente, Individualmente nenhum dos sujei- tos tem diteito a qualquer quota ou fracsio; o direito sobre a massa patrimonial em causa cabe ao grupo no seu conjunto. Dai que nenhum dos membros da colectividade titular do patriménio colective possa nar uma quota desse patriménio ou possa requerer a divisio. () Che uma outra hipétese legal de sub-ronacto real no regime Juridico da hipoteca (act. 692°: substituicdo do bem hipotecado. em caso de perda. detesioraclo ‘ou diminuigio de valos, pelo eventual digeito a uniaindemizacao) E "A. carr © artigo 119°. 1 (patriminio do assent) (CA individo pode ser convencionada entre os compeoprictitio, mas pelo prém, part. o diccito dos con ere? prize maximo de cinco anos (ar. 1412. °2)-€ ‘dominos sobre as partes comuns do edificio, artigo 1420", Teoria Geral do Objeeso cle- Relagdo Juridico 353 enquanto nao terminar a causa geradora do surgimento do patriménio colectivo (415). © patriménio colectist, é, pois, determinado por uma causa ou escopo. Relativamente & prossecugo desse escopo pode gerar-se um passivo, um cconjunto de dividas. Por essas dividas, de que sto sujeitos passivos os mem- bros do grupo titular do patriménio colectivo. estes respondem com os bens colectivos e, esgotados estes. solidariamente com os seus bens pessoais. Os credores pessoais dos titulares do patriménio colectivo nao se podem pagar pelo patriménio refecido, mas, uma vez extinto 0 vinculo colectivistica, podem obter satisfagao pela parte que toque ao seu devedor nesse patri- ménio, respeitada a preferéncia dos credores da colectividade. III — O nosso direito conhece a figura da compropriedade ou ‘comunhao de tipo individualistico (arts. 1403.° e segs.), podendo esta resultar de sucesso, aquisi¢do contratual em conjunto de um prédio, colocagao em comum de dois ou mais bens. ete. [Nao 6 possivel, todavia, entre nds criar-se por negécio juridico um patriménio colectivo, uma comunhao de tipo colectivistico sem reparti- ‘go de quotas ‘Um caso em que parece divisar-se a figura do patriménio colectivo no nosso direito é a comunhdo conjugal. O regime especial dos patti _ménios colectives, quanto ao passivo relacionado com o escopo em vista do qual se formou o patriménio, esta claramente estabelecido nos arti- ‘g0s 1695.° (pelas dividas contraidas em proveito comum respondem os bens ‘comuns do casal, ¢, na falta ou insuficiéncia deles. solidariamente. os bens proprios de qualquer dos cénjuges) ¢ 1696.° (pelas dividas da res- ponsabilidade exclusiva de um dos eGnjuges respondem os seus bens pré- prios e, subsidiariamente, a sua meago nos bens comuns (416)). © Cédito Civil Alemio designs » compropricdade pot comunhio segundo quotas! Brucluclgemcimlchafi eo patrEmenio coketK o por com labio de io comm (eGerneleschaR wn YesaeRen Vande) (5) A’ moratina para execugio da meagio do eBajuge devedor nos bens Comuns, que crtava mses, na eelaego origmara do Covigo Civil de 1966 na pate final don ‘So animo 1696" a meacio s6 ora executive depos da magao judjcial discolugio ou decia- taco de imandade do caeamento), fo] revo ada pelo Decreto-Lei 0 "329-A/95, d: 12 de Dezembro, © actu regime da penliora de bens co=u7s do casa esta do ago 825 do Cédigo de Peacesso Civil na redakio de De*clo-Lei n 38/2003 desde Margo.

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