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1054 DIT R: ‘ror DANG aah FRANCISCO IGLESIAS Historiadores do Brasil Capitulos de historiografia brasileira 28 impresséo a) © 2000 ty Teresina tplsis, Marlene Ighsi e Diets de eich da obra cm nga portuguese aqui pela 3 EDITORA NOVA FRONTERA SA. uw tam 8 ~ Botafogo C22543% _ca'asvan nn cclne- re 34 B84 EDATORA NOVA FRONTERA Neten dept, ie gies tele dc ‘ts il acme Revido Ana Lika Krstnerger Deni Safne Mars Diagramagio Are Stem Tels (21) 2889-4770 — Fan: (21) 2837-2689 higp: ww. novafronteira,com. br ‘ema saciPaavatronte comb EDITORA UFMG Ay. Antdinto Carlos, 6627 ~ Biblioteca Centeal, sala 405 — Campus Pampalha 31270-9011 — Belo Hortaonte/ MG Tek: (31) 499-4650 7 Faxs (31) 499-4768 E-mail: Editora@buulmg, br agp / reve elt. co fing UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS Reitor: Franclaco Clue de Sh. Barreto Viee-Reitra: Ana Livia Almeida Garzola CONSELHO EDITORIAL ‘Ttalarer: Heloina Maria Murgel Starling, ‘Lie Orivio Fagundes Amaral, Marsa Helena Dasmaceno e Siva Mega, Nomew Camkina Guimaries, Silvana Maria Leal Céver, Wandee Meto Mirarda (Present) Suplentes: Cristiano Machado. Gontijo, ‘Maria as Gragus Sante Rirbara, Mout, [Nuss Viera, Relnaleo Martinine Marques Projeto Prosengs de Franciien Iglisioe UPMGirIPEA, CHP. Beanl, Catalogeeio-ne fonts Sindicato Nactonal das nares de Livron, Rf 126 gli, Francaco, 1929-1999 ‘Or histriadorey sk Bran: capitulos de Natori braeira (Fancico Iglsiag, Ria de Janeino: Nowa Front Be. ari sonte, MG: UEMG, IPEA, 2060, Inch ISHN 85.209: 1056-4 1, frail Hitonogaia, 2. tall atria 1 Tita, cop 91 pu oe SUMARIO Nota sobre a edigio ssesssssitie crema CY |. Francisco Iglésias — a historia das idéias © a historiografia... nea 8 IE. © trabalho da edigio 2 Ill, Breve bibliografia .... 15 ermopucAo "7 Periodizagio ..... 2 Prastemo Mowero; 1500-1838 25 Statnno momento: 1838-1931... ss Instituto Histérico © Geogrifico Brasileiro .. 0 Martius .... ‘Varnhagen Além de Varohagen . Tencuno momenro: 1931... 0... A contribuigaio da universidade NOTA SOBRE A EDICAO Para Hélto Gravaté Historiadores do Brast! & 0 titulo que se dew a texto inédito do professor Francisco Iglésias, falecido em fevereire de 1999. ‘Trata-se, de um lado, de homenagem que a UFMG e 0 IPEA que- rem emprestar a esse homem que dignificou © ensino © a pesquisa entre nés, exemplo de dedicagio e sensibilidade as melhores cau- 38, De outro lado é também prémio aos muitos leitores, que aprenderam a admirar tanto 0 estilo elegante e fuente, quanto a eapacidade de pesquisa, quanto o espirito critico © Kieido de Franchico lgléaias, © trabalho que se vai ler é também 0 resultado da dedica- gio ¢ da afetividade discreta ¢ intensa das irmis de Francisco Iglésias, Marlene © Teresa scompanharam este dltimo trabalho do irmio ¢ entenderam a importincia de sua publicago, Tam- bém, generosamente, franquearam os arquivos de Francisco Iglt- sias permitindo a montagem desse texto. ‘A obra que se vai ler aqui é 0 resultado de dedicagio am- pla a todas as dimensdes da historiografia, mas, sobretudo, & histdria do Brasil. Intelectual pleno, atento a todas as manifesta- gbes do espirito, ¢ possivel dizer de Francisco Iglésias a frase conhecida — tudo o que é humano interessou-lhe: a Hteratu: ra, as artes, as cigncias, a filosofia, a politica, 9 comportamento © até os pequenos nadas de que a vida também é feita. A tudo buscou entender. Pesquisador de arquivo, nio se furtow as mindcias da papelada, dos manuscritos, dos cddices. Pesquisa- dor de bibliotecas, soube valorizar as fontes secundirias por meio da leitura critica, do olhar que supera as aparéncias ¢ revela os sentidos ocultos por detris dos discursos: trabalho de historia- dor atento aos anacronismos, 4 ligio de Lucien Febvre © trabalho que se esth apresentando é o resultado de uma vida dedicada ao estudo da histiria, é 0 resultado de uma atilada sensibilidade critica, de um conhecimento amplissimo de nossa produgio intelectual. Se ¢ possivel dizer que Francisco Iglésias foi um historiador de larga visio, que buscou a compreensia do todo’ e, portanto, transcendew recortes regionais, setoriais, dis- ciplinares, também & verdade que lugar especial teve em seus cestudos a historia das idéias, a historiografia. |. Francisco Iglésias —a histéria ‘das idéias e a historiografia Niio se pretende aqui catalogar a obra de Francisco Iglésias, Seus ensaios, prefiicios, apresentagdes, artigos, resenhas contam- se na casa das centenas, Seus livros sio mais de dez, Q que'se quer sublinhar aqui é a presenga reiterada da historia das idéias ¢ da reflexio sobre historiografla em sua obra, No campo da histé- ria das idéias/historiografia escreveu sobre Mirabeau, Jackson de Figueiredo, Oliveira Viana, Joaquim Nabuco, Pandii Calége- ras, Celso Furtado, Fernando Pessoa, Antonio Candido, Caio Prado Jr., Sdrgio Buarque de Holanda, Diogo de Vasconcelos, o padre José Anténio Marinho, entre outros iniameros autores. Sio estudos criticos, ensaios i moda de Montaigne, de Antonio Sérgio, dois de seus grandes mestres; a inteligéncia livre de cinones, aberta para explorar as diversas cintilagdes do objeto; ROTA om A HORAD ‘compreender © reacionarismo de Jackson de Figueiredo; reve- Jar © ambiguo pensamento politico de Fernando Pessoa; desta- ‘ear as qualidades que se escondem na carapaca “cafardenta’, di- ‘ia Pedro Nava, da obra de Oliveira Viana. Francisco Iglésias, e a escolha dos seus temas, mostra isso, evitou as facilidades, as una- “nimidades, entendeu, superiormente, que a histéria da cultura também a histdria das tensdes, das contradigbes, do que se recu- ‘sa i linearidade. Destaquem-se aqui, como parte de sua bibliografia, seus livros publicados: IGLESIAS, Prancisco, Breve histéria contemporanea del Brasil, Mé- xico: Fondo de Cultura Econémica, 1994. —___. Gonstitwinces ¢ constitwigées brasileiras. Sio Paulo: Brasi- liense, 1985. Histéria ¢ ideologia. S30 Paulo: Perspectiva, 1971. . Histéeia para 0 vestibular. Belo Horizonte: Jiipiter, 1973. A industrializocao brasileira. Sio Paulo: Brasiliense, 1985. _—_— Introdugao & historiografia econdmica, Belo Horizonte: FCE/U.M.G., 1959. —_ Prriodizagao do processo industrial no Brasil. Belo Hori- aonte: FCE/U.M.G, 1963. —___. Politicis econtimica do governo provincial mineiro: (1839- 1889). Rio de Janeiro: INL, 1958. Revolugdo industrial. Sio Paulo: Brasitiense, 1981. Trajetéria politica do Brasil. Sio Paulo: Cia. das Letras, « 1993. ‘Um tema importante € recorrente em sua obra jd foi dito: © 0 referente 4 historiografia. Em 1959 publica Introducdio 4 historiografia econémica, em que ‘hd uma primeira tentativa de abordar, de forma sistemitica, um campo da historiografia. A, partir dai, ele publicard sobre histo riografia e pesquisa histdrica no Brasil o¢ seguintes trabalhos; 1, “Situagio da histéria econdmica no Brasil”, em Anais da histé- 1a, n° 2, Assis, Faculdade de Filosofia, 1970, 2. “A pesquisa histOrica no Brasil”, na Revista de Histéria, n" 88, 1971. 3. “Comentirios & introdugao a0 estudo de historia do Brasil”, no | Semindrio de Estudos Brasileiros, do Instituto de Estudos Brasileiros, USP, 1971, 4. A propésito da historiografia brasileira", na Revista Debate ¢ Critica, n° 5, 1975, 5. “A historia do Brasil”, no yolume 1 da Histérta das ciéncias no Brasil, organizada por Mario Guimaraes Ferri ¢ Shozo Mo toyama, em 1979 ‘6, “Avaliagao © perspectivas — Historia 1982", no Relatério ela= borado para 0 CNPq, mimeo 1982, 7. “A historiografia brasileira atual ¢ a interdisciplinariedade”, na Revita Brasileira de Histdria, em 1983, 8. “Fontes impressas para o estudo'de Minas Gerais no século XVIII", na V Semana da Histéria, UNESP, Franca, 198+. Estes trabalhos s30 fragmentos de uma pesquisa que Fran- cisco iglésias sempre cultivou: a reconstituigio de uma histéria chs idéias no Brasil ampla © compreensiva, com énfase na histo- iografia mas abrindo-se para o conjunto das ciéncias sociais, para a literatura, para as artes, Francisco Iglésias exercitou um tipo de historiografia que poder-se-ia chamar de clissiea, Se cle ja € filo da época da insti- tucionalizagao dos cursos de historia — formou-se em 1945 — suas referéncias tedricas © metodaldgicas sao universais. Leu Tu- cidides © Técito, Voltaire ¢ Montesquieu, Burckhardt © Michelet, Ranke e Fustel de Coulanges. Entendew, desde logo, a revolugio epresenitada pela ficole des Annales e incorporou ao seu reper- trio de historiador os clissicos das eigncias socials, da peografia, fatima cee oal ora Somer 4 tnichor dda literatura. No Brasil suas grandes referéneias s30 Capistrano Abreu © Sérgio Buarque de Holanda; historiadores que com- binaram a erudicio © a inteligéncia critica. Sua obra, ampla ¢ informada, da conta de um interesse ‘nivoro: as centenas de artigos, ensaios, preficios que publicou, totam um historiador, um intelectual, que esteve atento a ‘odas as grandes questdes do seu tempo. O mais representative dlisto € seu livro Hictéria ¢ fdeologia, de 1971, em que Francisco Aglésias retine alguns de seus melhores ensaios, atingindo nivel ‘dé exceléncia raramente encontrado entre nds, A redagio do texto que se vai ler iniciou-se em 1985. E desta época um primeiro sumario, que tem anotagio a cancta ‘que diz: “sugestio inicial”, onde no item 5.1 do original aparece adata 1985 como limite do que ele chamou “surto renovador" da historiografia brasileira, iniciado em 1920. No ano xeguinte, 1986, hi outro sumério, que cle entendeu ser “quase definiti- yo". E desta época, 1985-1986, ¢ 1987, a redagio de cerea de dluzentas piginas de um texto bisico sobre historia da histéria do Brasil. Este texto bisico contém uma Sintrodugio" e os capitulos que ele chamou “momentos de historiografia”, Mais tarde, ji na década de 90, em 1997/98, ele vai reto- mar 9 texto da década anterior, buscando reescrevé-lo. Deste esforgo resultou a redagio de 54 paginas, em 1998, que sio uma nova versio da introdugio, do capitulo Le parte do capitulo Il, até ojtem "Alm de Varnhagen”, Disto & possivel deduzir-se que estas 54 paginas sio a iltima e definitiva forma que ele queria dar a0 texto, Possivelmente ele teria feito o mesmo com o festante do material se tivesse tida tempo. ® Neste sentido, o trabalho de edigdo constituiu-se basica- miente em, tomando em conta o sumrio de 1986, montar um texto que é.a jungio das $4 paginas da versio reeserita por Iglésias, Mais 103 paginas do texto bisico, com cerca de 35 linhas por pagina e setenta toques por linha, que complementam 0 capitu- to Il, © © capitulo III inteiro. 11. Otrabalho da edigao No volume que se vai ler, tem-se um panorama getal da trajetéria dos esforgos de se escrever uma historia do Brasil, des- de © periodo colonial até as iniciativas derivadas dos estudos universititios recentes. Sobre as condigSes do material clabora- do por Francisco lglésias ¢ as providéncias que foram necessirias para a edigao, falar-se-4 em seguida, A montagem do texto foi possivel porque, contemporineo: da redac3o da primeira versio do texto, como jd se disse, ele ela- borou dois sumarios. No primeiro, datilografado, hd uma nota a caneta que diz “sugestio inicial", entre parénteses, e é 0 seguinte: Razdes ¢ natureva do livro Por que estudar histéria do Brasil O regional, 0 nacional ¢ 0 universal . O Brasil no mundo. De 1500 4 1985 . Situagio da historiografia brasileira 1, © esquema oficial 2. Temas relativamente esquecidos 3, O mito a ser feito 4, Momentos da historiografta 5. O surto renovador, de 1920 a 85 6. Principais correntes © ensino, arquivos © pesquisa: instituigdes ¢ rendimento Importincla ¢ significado do estudo da historia, particular mente a brasileira 8. A histéria € 0 historiador, hoje Vocabulirio Breve bibliografia Indice analitico © onomastica A outra versio do sumério, também datilografado, tem a dobservacio “quase definitivo” e € 0 seguinte: yeenn 2 — 1 = Introdugao 1. Razdes'e natureza do livro 2. regional, o nacional e © universal I~ Fistortografia brasileira 1. Primeiro momento: 1500/1838 2, Segundo momento: 1838/1931 3. Terceiro momento: 1931/1986 4. Quadro atual; conquistas e caréncias 5. Dilemas da interdisciplinaridade Ul — Ensino 1, Curso primirio 2. Curso secundirio 3. Curso superior 4. A pés.graduagao IV — Arquivos ¢ pesquisa 1. Breve historico 2. O impulso recente V — Assisténcia & histéria 1, © poder publico institucionalizado. E outros. 2. Financiamentos Vi — Perspectivas da histéria ¢ do historiador Breve bibliografia Indice analitico © onomistico Uma comparario entre as dois sumarios permite dizer que houve considerivel redugio de amplitude entre primeiro ¢ © segundo, Se 0 primeiro sumério sugere tanto uma histéria geral do Brasil, quanto uma historia da historiografia do Brasil, o se gundo redux seu escopo 4 historiografia ¢ ao ensino de historia no Brasil. A auséncia de um sumario contemporinco da redagio das 5¢ piginas da versao definitiva nao’ permite afirmar se Franciseo Iglésias modificou ainda mais seus planos. Contudo, & certo afir ‘mar que ele fundiu muito 0 material na versio definitiva, nao apro- ¥eitando um texto ja pronto cujo titulo ¢ “0 regional, o nacional ‘ec ouniversal", cerca de sete piginas, que na verso definitiva é dilui do na pequena introdugio de apenas das piginas © meia, O segundo sumirio, que Francisco lglésias chamou de “qua- s¢ definitivo", tem um iinico capitule, o Ill, referente ao ensino, que nao foi desenvolvido. Todas os outros temas listados no su- mario mereceram dele algum tipo de abordagem, Assim © que efetivamente se fez para montar © livro foi, além das 54 paginas da introdugio, do capitalo I ¢ parte do capi. tulo Il, que estavam em wersio final, aptoveitar cerca de 103 piginas da versio original, para compor o final do capitulo Il ¢ 0 capitulo IM, © editor do livro acrescentou uma breve bibliogra- fia, que fazia parte dos planos do segundo sumirio. Foram acrescentadas algumas poucas notas do editor para esclarecer alguns pontos. Foram feitas algumas poucas, porque poueas foram necessitlas, cortesdes de datas e normes. Pequenas imprecisdes foram corrigidas ¢ algumas repetigdes suprimidas, No geral, © texto de Francisco Iglésias tem a solider e a penetra- 80 dos trabalhos pensacos ¢ pesquisados longa ¢ criteriosamente. Espero ter sido fiel a0 que Francisco Iglésias projetou ¢ quase inteiramente concluiu, A edligio deste texto foi possivel pelo interesse © apoio dados pelos professores José Alberto Magno de Carvalho ¢ Clélio ‘Campolina Diniz, da UPMG, e Roberto Borges Martins, do IPEA. Agradeco, também, a Fernando Novais pela apresentagio deste volume, que é reiteragio de amizade ¢ reconhecimento pelo muito que Francisco Iglésias nos deu a todos. MOA mH = On Ill, Breve bibliografia A.V. Alves Sacramento. Diccionério bibliogréphico dleire. Rio de Janciro: Conselho Federal de Cultura, Pedro Moacyr. Esbogo da historiografia brasileira nos XIX ¢ XX. In: GLENISSON, Jean. Histéria geral das Difusio Européia do Livro, 1961. (UX, Otto Maria, Pequena bibliografia critica da literatura brasileira. Apéndice de Assis Brasil. Rio de Janciro: Edi- ‘gdes de Ouro, (19-}. ), Carlos, POLIO, Ronald. A histéria no Bras: (1980-1989). ‘Ouro Preto; UFOP, 1992, 1994. v. 1, 2. VAO, Ramiz (org. ). Catdlogo da exposigao de histéria do Brasil. Brasilia; Senado Federal, 1998. 3 v, Edigio fac-similar, . José Roberto do Amaral, A histdria em questo. Petréipolis: Vozes, 1976. RTINS, Wilson. Hiséria da inteligéncta brasileira. Sio Paulo: ‘Cultrix, USP, 1977-1979. 7 v. _MORAIS, Rubens Borba de. Bibliogrofia brasileira do periods colo- nial. Sao Paulo: IEB/USP, 1969, _ MORAIS, Rubens Borba de, BERRIEN, William, Manual bibliogré- fico de eseudasbrailetros. Brasilia: Senado Federal, 1998.2 v, RODRIGUES, José Hondrio. Histéria da histéria do Brasil, Sao Paulo; Cia, Ed, Nacional, INL, 1979. parte 1; Historio- grafia colonial. _— Histdria da histévia do Brasil. Sio Paulo: Cia, Ed, Nacio- nal, 1988. 2 v., parte 2. » Historiografia e bibliografia do dominio holandés wo Brasit Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, INL, 1949. A pesquisa histérica no Brasil. 3, ed, Sio Paulo: Cia, Ed Nacional, INL, 1978. » Teoria da histéria do Brasil. Sao Paulo; IPE, 1949, ROMERO, Silvio. Histéria da literatura brasileira, 4. ed. Rio de INTRODUGAO, Janeiro: José Olympio, 1949, ¢ SODRE, Nelson Werneck, 0 que se deve ler ‘pata conhecer o Brasil, Rio. de Janeiro; INEP, 1960, Joao Antonio de Paula, janeiro de 2000 15 — continentes, paises, regides (América, Brasil, ‘Triingulo, Pirapora); das referentes & cronologia medieval, moderna, contemporinea, século, década, mica, politica, religio- BSS fects coms ches, pois do uma imagem do- con: alo que permite aprender a realidade, quanto foi feito ¢ 0 ha para ser feito. bibliografia brasileira s6 recentemente sc atenta para de trabalho. £ natural que assim seja, pois o cuidado com a historia ¢ recente mesmo em reas mais desen- do mundo. Vista agora como categoria cientifica, a his- ispde de técnicas © métodos particulares, que lhe dio ope- nalidade ¢ rigor. Com o surgimento de cursos de histiria ¢ i Cursos de ciéncias sociais, o labor historiogrifico deixa de mo ou lazer para tornar-se profissio, Impem-se ainda ‘obras de referéncia, com a organizagio de dicionérios, biblio- eatélogos, guias, repertérios, que ajudam o pesquisador ‘intérprete da trajetéria nacional. © primeiro esforgo dé género foi o monumental Catdlogo da exposigao de histéria do Brosil, em trés volumes, em 1881-83. ‘Simples levantamento de material, é (itil, mas no ultrapassa of ‘nivel a que se propés, sem anilise critica, Em 1945 aparece 0 que 4e deve ler para conhecer 0 Brasil, de Nelson Werneck Sodré, em ‘pequeno valume, depois bastante ampliado, em sucessivas edi- g5cs, ¢ de ampla consulta. Esforgo admirivel ¢ 0 Manual biblio- grafice de extudos brasifeiros, sob a diregio de Rubens Borba de Morais © William Berrien, de 1949, com varias bibliografias: algumas sin de natureva historiogrifica, is vezes precedidas de aniilises criticas, como as do periodo colonial (Sérgio Buarque de Holanda), Independéncia — Primeiro Reinado — Regéncia (Otavio Tarquinio de Sousa), Segundo Reinado (Caio Prado Jinior), Repiblica (Gilberto Freire), Bandeiras (Alice Canabra va), Holandeses no Brasil (José Honério Rodrigues). No mesmo ano de 49 apareceriam duas obras significativas nessa diregio, de José Hondrio Rodrigues: Teoria da histdria do Brasil © Histortografta e bibliografia do dominio holundés mo Brasil, iniciando um ciclo de estudos importantes: A pesquisa histdrica no ‘Arasil (1952), Historlografia del Brasil, siglo XVI (1957) © siglo XVI (1963), culminando com primeiro volume de histéria do Brasil, referente ao periods colonial, em 1979, além de muitos artigos ¢ ensalos em revistas, livros, publicagdes de textos. © autor distingue-se nessa tarefa mais que qualquer outro, prosseguindo trabalho iniciado no século anterior por Varnhagen ¢ Capistrano de Abreu, que vasculharam todos os arquivos possivels, niio 56 do pais como europeus (caso de Varnhagen), revelando docu- ‘mentos originais, 4s vezes publicando-os, com pesquisas para atri- buigio de autoria, discussio das melhores versées. Outro bene- mérito fol Rodolfo Garcia, Quem mais atuou nesse sentido foi mesmo José Hondrio Rodrigues, que organizou dezenas de cdiges de textos ¢ fez bibliografias, em experiéncia de pesquisa ainda ndo igualada en- ‘tre nds, sobretudo pelo exercicio da diregio da Divisio de Obras Raras da Biblioteca Nacional ¢ do Arquivo Nacional, “Em 1988, apareceu, em dols volumes, a segunda parte da Hireia da hind do Anat, dedicada i historiograia conservadora.E também digno de regitro, pois ‘instrumenito dtl 40 estado de nossa historiografia, a Poyuens biblografia critica a tcdrovira healing, dé Otte Maria Carpesux, publicada em 1949, (N.E.) 20 wtnooueho © assunto se presta a muitos equivocos. Como exemplo de pretensa periodizagio, cite-se Silvio Romero no Quadro sinté~ tleo da evolugdo dos géneros na literatura brasileira, de ¥911, em que ‘trata da poesia, em 17 periodos; do teatro, em oito; do romance conto, em nove; da clogiiéncia, em dex; da histéria, em sete; da critica, em sete; da filosofia, em nove; da prosa como arte, em dez. Quanto a histéria, para.o autor, o primeiro periodo vai de 1500 a 1627; 0 segundo, de 1627 a 1730; 0 terceiro, de 1730 a 1820; © quarto, de 1820 a 1850; o quinto, de 850 a 1870; 0 sexto, apresentado como de monografias eruditas, nem € data- oj 0 sétimo, a iltima fase, até seus dias, Inconsistente, é dispen- sivel ilustrar com nomes e obras. Dizer que 0 sexto periodo é 0 de monografias cruditas nada significa, pols estas existem antes ¢ depois. O mesmo pode ser dita dos demais, Usa-se sempre a palavra periodo, na verdade nio fax periodizagio, quando 0 cer- to € que a pretendeu, como se vé no final do primeiro género a poesia —, afirmando nio fazer ai, nem nos demais géncros, “elassificagdes de escolas", mas “enumeragies das fases de evolu- 30 dos aludidos génerox”, Ora, “faxes de evolugio” significam ptopdsite de periodizar, mas, no modo feito, constituem apenas aproximagio ou forma imprecisa de periodizagio, trabalho dlifi- Gil € dispensivel na historiografia, pois a categoria bisica do co rnhecimento histarico & o tempo, a compreensio de historia sen- doa das diferentes temporalidades, nas quais se apura ¢ se afirma © verdadeiro cultor do género. Jihé agora alguns outros artigos ou livros sobre a historip- grafia, de diversos autores, com monografias sobre temas, bio- frafias e bibliografias, em teses para conquista de postos na car- reira de historidgrafos, arquivistas, professores, ou de simples titulos de doutoramento, buscados por muitos que se diplomaram no curso de historia, bem como trabalhos originirios dow cursos de pis-graduagio, © quadro nacional, portanto, j4 ¢ apreciével, embora se poss lembrar que © trabalho a ser feito & incomparavelmente maior qué 0 ji feito. As obras instrumentais ainda sio reduziday: Jembre-se, por exemplo, que se espera um razoivel diciondrio de histéria do Brasil, se os poucos existentes nao primani pela qualidade. Ax grandes historiogralias dispem de amplo mimero de obras de referéncia: clas facilitam © pesquisador, dando-the {nnstramental de trabalho que muito osajuda. Informam, dio conta das conquistas ¢ das insuficiéncias. Aqui, interesse crescente por obras do género & sinal seguro de amacurecimento intelectual, ji com uma ciéncia social densa e historiografia digna de nota. Periodizagio ‘O assunto nao se esgota com 0 autor que mais o cultivou: além de anilises sctoriais, lembrem-se as obras de Américo Jaco- bina Lacombe — Introdugio ao estudo de histéria do Brastl (1973) ‘ou José Roberto do Amaral Lapa —< histiria em questo: biseario- grafia brasileira contempordnea (1976). ‘Além dos trabalhos globais sobre, 0, assunto,— que ainda si poucos —, citem-se as inimeras biografias, que tém 0 ponto mais alto em Um exeadista do Império, de Joaquim Nabuco, de 1899, Hi muitas, de modo que se pode falar em exagero, com 0 pre~ dominio do biografismo na produgio nativa. Nos dias de hoje, entre of autores mais dignos de nota, colocam-se os nomes de Ottivio Tarquinio de Sousa, Afonso Arinos de Melo Franco, Laiis Viana Filho, outros mais ainda. Lembre-se também 0 artigo de Pedro Moacyr Campos, inserido como apetdice ap volume complementar da Hurts yeral das tslieapies — Inia so extados Iistdveo, de Jean Glénison, cujo titulo &"Eshoso da historiografia brasileira nos séclon XIX e XX", ler tae Ahir Brat! (1940-2989), em doin ‘valuines publicados em 1992 ¢ 19% por Carlos Fico e Ronald Polit, (N-E.) utnoauehe __Deixando de lado as muitas tentativas i feitas, parece posst- ‘vel tentar uma periodizagio da historiografia brasileira, Nesse sentido pode-se falar em trés grandes momentos, Convémm tentar 9 esquema, ainda que se force por vezes a nota, como ¢ comum ‘em todas as tentativas de tal natureza, cometendo talver certa “arbitrariedade, com vistas a um modelo diditieo ou funcional, © esquema seria: 1) de 1500 a 1838, ou seja, dos primeiros dias até a cria- ‘Gio do Instituto Histérico © Geogrifico Brasileiro, que vai exer- ‘cer papel notivel na vida do pais. Compreende 0 periodo colo- ‘nial ¢ © principio do nacional, marcado, quanto a historiografia, por certo niimero de livros que sio mais crénicas histéricas que historia, mais fontes que obras elaboradas, Mesmo ai ja apare- ‘cem alguns titulos de apreciivel consisténcia, como se veri. 2) De 1838 4 1931, com influéncia exereida pelo Institu- ‘to, organizado de acordo com o modelo francés, em época de erta cbuligio na Europa, com a busca de documentos de todo tipo, devidamente valorizados. A consciéncia nacional, no sécu- Jo também chamado de liberal, ¢ das nacionalidades, leva 4 ela borage de séries 4 mancira da Monumenta germantae historica, ins: Aante significativo no desenvolvimento de um conceito de histéria, ‘Q Instituto exercera influéncia por suas reunides ¢ iniciativas ¢, sobretudo, pela sua Rerista. O:primeiro sinal evidente, nesse sen- tido, ¢ a Mistéria geral do Bravil, de Francisco Adolfo de Varnhagen, em dois volumes, em 1854 ¢ 57. 3) De 1931 a nossos dias. A data inicial é a da reforma do ‘ensino de Francisco Campos, sobretudo no grau superior, cria, dora das faculdaces de educagio, ciéncias ¢ letras, depois multi- plicadas com as faculdades de filosnfia e de economia, que con- tam, entre outros, com um curso de histéria. Essa reforma do ‘ensino tem profundo significado, pois até ai a drea se ¢ sempre cultivada, o ¢ mais como sentimento patridtico ou simples exer- ciclo por pessoas que percebem sua importincia © querem preservisla, descrevendo a trajetoria da terra em que vivem, Seu estudo era feito com algum realee em algumas escolas, como as faculdades de direito de Sio Paulo e Olinda, criadas em 1828, de medicina e engenharia, com tum natural viés juridico, cientifico ‘ou tecnoligico, como se di, por exemplo, nos textos de econo: mia — ainda raros — ou no plano das preocupagBes de nossos primeiros cultores de ciéncias sociais. PRIMEIRO MOMENTO. 1500-1838 | Aponta-se como 0 provivel iniciador da especialidade o historiador portugués Joiio de Barros, que teria redigido jsério da provincia de Santa Crux. Se 0 fer, a obra se perdeu, é para ser lamentado, pois a ctonista, além dedons de or © escritor, ocupou cargos eminentes na administra de seu pais como feitor ¢ tesoureira da Casa da India, 0 que - permitia acesso 4 melhor documentasio, Demais, fo! con- do com uma capitania no Brasil — a do Rio Grande (Nor- -associando-se ainda ao donatirio da capitania do Maranhao. as explorou convenientemente e clas deram muito prejui- ‘ratando de suax Décadas, com referencia as da Asia, que ou, anunciava o intento de fazer ainda as da Europa, da Afri- 4 em quarta parte, as de Santa Cruz; Possivelmente no as ‘ow, caso positiva, perderam-se, como se terio perdido ou- eseritos, cuja falta se deplora, com o titulo de Mistéria do |, como se vé no prestimoso A historiografia portuguesa, de m Verissimo Serrio (1972), no qual alguns sao citados. © primeiro a ser referido como do géncro é 0 de Pero de " Magalhies Gindavo, que escreveu em 1573 ¢ publicou em 1576 a Histéria da provincia de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos “frasil, © autor nfo conheceu bem o pais, questionando-se mes- mo se 0 visitou ow aqui viveu — hi mais indicios positivos que " negativos. Para esciever como fer era desnecessaria a visita, Teli " vivido algum tempo, mas o conheceu mais de referéncia. Nao ‘era de longas raizes portuguesas, pois procedia de flamengos (seu ‘nome lembraa cidade de Gand), Sua obra ¢ pouco historiografica, pparecendo mais um texto de propaganda da nova terra, lowvan- doolhe as vantagens, para atrair imigrantes. Nao tinha sentido propriamente didatico, sendo antes um texto precursor dos atuais, produzidos por agentes de publicidade, Capistrano de Abreu, com agudeza, sintetizou-o na formula; “a sua historia é antes natural que civil”, De fato, ai no tem estrutura explicativa © proceso brasileiro ou portugués, sendo mais um conjunto de informagdes sobre a nova terra. O pais apenas comegava, era mal ‘conhecido © nao despertava maiores atengdes, O livro € pouco de historia, mas é crOnica cujo valor esti nas descriges da natureza ‘ou dox homens, Cabe a Gindavo o mérito de ter escrito a pri- meira obra com © titulo. ambicioso de Histéria local, embora 0 cantetido nio respondesse com rigor a promessa do titulo. Ami- go de Camées, 0 pocta escreveu sobre cle, Deve-se lembrar que outros portugueses dissertaram so- bre a terra, fixando-a melhor, como se dé em_crémicas de jesul- tas. Caso de Fernio Cardim, que escreveu pouco depais de Gin: davo; Cardim viveu quarenta anos no Brasil, descrevendo suas coisas, sobretudo terra © gente, Teve divulgagio em inglés, no principio do século XVH (1625), na colegio de viagens de Samuel Purchas, aparecida em 1625, sem a correta identificagio. Seus textos mais significativos s6 apareceram no século passado, em edigdes fragmentirias. O principal esti no volume publicado ‘em 1925 com o titulo Tracados da terra ¢ gente do Brasil, com intro- dugio € notas de Capistrano de Abreu, Batista Caetano ¢ Rodolfo Garcia. Caso, sobretudo, de Gabriel Soares de Sousa, portugues que se fixou na Bahia, produzindo notivel texto, que permane- ceu inédito, s6 publicado no século XIX, de modo precirio, por virias iniclativas, até: sua melhor edigio. Esta foi feita por Francis- £0 Adolfo de Varnhagen, em 1851, com o titulo Tratado deericivo do Bratil em 1587, pelo qual ficou conhecida. Residiu no Brasil durante 17 anos, como afirma na dedicatéria do escrito, que deve ter sido elaborado depois de sua volta a Portugal. Teve pouca influéncia, pois © ineditismo the tirou a possivel efichcia, O tex Gabriel Soares de Sousa & visto hoje como 0 que de melhor wriu sobre a nova terra no primeiro século da colonizagio. m outro o iguala ou esta préximo de seu valor. Nio é, labor historiografico, Como Gindavo, & mais rico em Ges da natureza que em reconstituigao.histérica, No inicio do Seiscentos escreveu-se; por brasileiro, a pri- Histéria do Brasil, Trata-se da obra de frei Vicente do Salva- concluida em 1627. Baiano, esteve algum tempo em Per- . na Paraiba © no Rio de Janeiro, permanecendo mais Bahia, Foi a Portugal por breves meses, entre 1618¢ 21, De ‘na Bahia, caiu prisioneiro dos holandeses, durante o sitio & . Frei Vicente era homem culto, versado em direito, teo- ‘Togia, historia, flosofia ¢ literatura. Tinha amplos estudos, feitos “no Brasil e em Portugal. © historiador portugués Manuel Severim Faria peditclhe um tratado sobre o Brasil ¢ ele escreveu a stia " Histéria. Possivelmente inspirou-se em outras textos: Joaquim: Yerissimo Serrio apontou como uma de suas fontes a Histéria do Brasil, de Anténio Salema, cujos originais se perderam — fato Jamentivel, pois Salema ocupara lugares importantes na admi- ‘nistragio portuguesa, inclusive no Brasil, onde viveu alguns anos ‘e foi governador da parte sul, de 1574 a 1578. Frei Vicente € ‘marco significativo, além de valer pelo pionetrismo, im- poe-se pela composi¢io da obra, marcada pelo significado de quanto dliz, bem como pela forma, leve © agradivel, e bem como pelo esforgo, revelador do gosto literirio em época de estilo drido © convencional. O livro é simples, direto, com o miximo de naturalidade, quando a histéria, notadamente em Portugal, era traiada conf ‘clogiigncia ¢ retdrica. O autor coheceu documentos, leu quanto pode © teve conhecimento de muita tradigio oral, ouvinds pes- soas de todas as categorias sobre tudo, Objetivo na exposicio, era narrador pitoresco, nao s pelo sentido do humor como pela simplicidade, que ix vezes o levava ao tom ingénuo We aceitar -como verdadeiras algumas coisas absurdas, Essa linguagem talvez tenha sido obsticulo para sua publicac30, como foi também para Outro —a Histéria do castédia do Brasil, O portugués Severim de Faria, com quem frei Vicente se dew em Portugal e em cuja casa -comogara a redagio do seu livro importante, tinha o culto da lin {guagem pura e solene. Assim, nio promoveu a publicagio da ‘Hiséra da enstddia do Brasil (que afinal se perdeu) nem da Histéria dg Brasil (esta Ihe era dedicada). A narrativa ¢ limpida ¢ prende a aatenglo até hoje. Talvez esteja ai, no culto do pitoresco, a ori- gem do enorme mimero de casos que aparecem no texto, “uma ‘colegio de documentos, antes reduridos que redigidos”, Capistrano de Abrew chegou a falar que o livro era “mais histérias do Brasil ‘que Histéria do Brasil” (hoje fillaria, usando palavra ainda nio de todo abondvel, ‘mais estérias que Histéria do Brasil"), frei fate desorigdes da realidade e trata da trajetéria dos Primeiros 125 anos, em cinco livros, dos quais 96 se conhocem partes, pois muito do texto se perdeu. Chega a falar da histéria lox seus dias, em boa pritica da historiografia de todos os tem- Pos, por uma sensibilidade aguda de sua problematica: fala do descobrimento.da terra até a tentativa de conquista da Bahia pe- fox holandeses. Ao longo das partes vé-se 0 que foram os gover- nos, Com realce excessive & ago dos governantes, Seu conceito de histéria ¢ de sew ensinamento para que ox estudiosos enfren- ‘tem ax situagdcs; “os livros histéricos siio luz da verdade, vida da memaria © mestres da vida", escreve no comego da obra, Chega @exacerbar o pragmatism desse tipo de estudo, vendd-0 como ligdo a ser sempre aproveitada. © certo & que’o frei percebe o eirencial do processo: trata das lutas entre os indios € 0 coloni- sailor, com certa simpatia pelos dominados. Aponta os defeitos ‘dh colonizagin, no mau trato aos nativos, na subjugacio dos bra- sileiros, nay praticas administrativas desonestas como o furto, o ‘ahuso do poder. O negro nao era ainda presenga marcante, mas Ji 6 considerado pelo autor, que tem o senso da realidade da a0 embora niio 0 aprofunde, por preferir a narrativa fluen- quial, Denuncia a falta de iniciativa do portugués, que pelo interior, permanecendo ao longo do lito 0 como carangucjo", de acordo com a sua pas- Tks. A.scu yer, cuidam s6 de espoliar o pais, le- 0 que podem, sem pensar na criagio de riquezas. "Ji. se pereebe um “nacionalismo” timido, mal esbogado ¢ explicito, mas real no autor, Nessa “atitude franca para | Metrépole”, frei Venincio Willeke, bidgrafo do historia: ‘viu com justeza, cm 1975, um dos possiveis motivos para a 0 publicagio do livro, De fato, fret Vicente é 0 primeira cen- do portugues, © primeiro a fazer critica fundada ¢ direta a0 Essa interpretagio do siléncio em torno do texto 1¢ em Portugal ji fora dada e de modo enfitico por Manoel nfim, em 0 Brasil na histéric, em 1931. O autor exalta a obra ) baiang, na qual vé a semente do nacionalismo ¢ da verdadeira ‘compréensio de nossa trajetoria, Acertou ao lamentar sua falta edligio imediata: “serviria de modelo”, em uma linha de amor ‘A terra ¢ sua gente, de condenagio dos maus governos que a prejudicaram ¢ até arruinaram. Frei Vicente ¢ otimista, acredita ‘ho potencial de'sua terra, embora nio chegue ao ufanismo dle uma Jiteratura triunfalista, como se di em certos cronistas possuidos de “entusiasmo, antes ¢ depois do texto de 1627, como se vé em Pero Vaz dle Caminha © Gindavo, até mesmo em nossos dias, A obra permaneceu inédita, sendo pouco consultada: des- ‘conhecida, poucos a leram nos originais cm arquivos portugue ‘ses, Lida por alguns no século XIX, permancceu inédita até 1886, quando Capistrano de Abreu a apresentou no Didrio Oficial. S# eve alguinas partes ou livros entio edlitados. A Biblioteca Nacio- nal a publicaria nos seus Anais, em 1888, integralmente, A histe- ria do livro, seu ocultamento, revelagio de trechos ¢ do que ficou — sabe-se que muitos capitulos se perdcram — tem alga de romanesco ou suspeito. A edigio exigida s6 ¢ feita em 1918, ainda por Capistrano, em um dos trabalhos cxemplares de apre- sentagio de textos no pals. E claro que nao se pode pretender 0 encontro de uma versio da trajetéria brasileira em 1627, pois a colonizagio mal chegava a cem anos. Demais, 0 frei nio tinha propésitos tio ambi- cciosos, se nto chegara ainda a vez dos historiadores que se preten. dem com a missio de rédimir 0 Brasil, colocando-o no devido lugar que, supdem, deve ter. O certo é que para a época © o meio baiano ¢ admiravel © revela-se um historiador com a lucidex do seu tempo, da sua terra e da Fungi@ de quem se propde a escrever © que escreveu. Ainda nio chegara a hora da andlise global. Do mesmo século sio outras obras, sobre aspectos particu: {ares da conquista. Nao fiquem sem referencia os Didlogos das gran- eras do Brasil, de Ambrésio Fernandes Brandio, de 1618, um dos principais livros de entio. E um debate vivo & bem informado sobre a realidade da nova terra, seu potencial, Estudo erudito ¢ de alto poder informativo, ¢ fonte notivel, mas nio é histéria do Bra- sil. Também esse texto teve edigio acidentada, 36 aparecendo, parcial ¢ precariamente, em 1849, por iniciativa de José Feliciano de Castilho, que trouxe uma cépia de Portugal; depois, entre 1883 ‘¢ 1887, edigao mais completa, baseada sobretudo em copia de ‘Varnhagen, trazida de Leiden. A primeira edigao condligna é feita Por Capistrano de Abreu, em 1900; no sévapresenta texto limpido, ‘como esclarece a autoria, entio controvertida © hoje definitiva- mente fixada, como de Ambrosio Femandes Brando, © steulo XVIII nao alteraria fundamentalmente © quadro. Continua a elaboragio de obras historicas, tratando'de aspectos Particulares, sem nenhuma incursio séria no plano global, Hi ‘muitos textos de genealogia ou descrevendo entradas pelo inte- rior ¢ caminhos, Sio intimeros os que tratam dé Sio Vicente ou de Sio Paulo, descrevendo principalmente as entradas em busca de indios, metais © pedras preciosas, Pode-se falar, nio:caso, em ‘uma visio bandefrante do pais, em choque com a visio jesuitica. a a aparece em titulo como o de frei Gaspar da Madre de exprimindo-se nas Memérias da capitanta de Sao Vicente ja Sdo Paulo do Ewado do Brasil, de 1797; escrita, como lo © movimento entradista terminars, Frei Gaspar a velhos troncos paulistas, largamente pesquisados em , que dao fart material a histéria social, politica e Ficou da época imensa documentagio, ja publicada € revistas, que alimentam uma das vertentes da histo: fia —.a das bandeiras. A falta de tentativa de estudo geral & eivel, uma vex que nao havia consciéncia de Brasil, mas de brasileiras. 0 desconhecimento de uma parte relativamen- @outra ou a outras era total. Os estudos feitos 56 de vex em am publicados; quando cram, tinham divulgagio reduzi- ingindo a.um minimo de leitores Nese século, escreve-se © publica-se a Histéria da América guena, de Sebastiio da Rocha Pita, em 1730, O titulo longo ainda: desde o anv de mil e quinhentor de seu descobrimente até 0 de mil setecentos ¢ vince quatro, Rocha Pita era baiano, dedicado & nagistratura, Teve importincia social e politica, prestigio junto jadministradores. Projetou-se na Academia dos Esquecidos, sm 1724, Versado em linguas, mitologia, historia, literatura clis- fartamente esses conhecimentos em scus escritos. prime bem o que cram a literatura e a historiografia no: come: do século: visio académica, deseambando para 0 preciosis- 0, retbrica, discurso grandiloqiiente. Enquanto seu conterrinco lantecessor frei Vicente era simples e coloquial, este baiano ¢ “oratério, afetado, solene. As tio procuradas galas do estilo aca- " baram por perdé-lo, seja pela prosa intoleravel hoje, seja mesmo pela linha que dew a seu discurso, consumindo-se na oratéria que chega & logomaquia. Foi pena, pois deve ter feito longas ‘pesquisas em fontes originals e tinha capacidade de trabalho. As- sim, a exposigio se perde no hino de louvores i terra: a tendén- ‘cia vinha do primeiro séeulo © continuard nox seguintes, Mesmo | hoje hi o canto triunfalista das belezas naturais, superiores a quais: quer outras do mundo — até a aurora, © céu, © sol so aqui privilegiados. Para Rocha Pita, o Brasil ¢ “terrenal paraiso: des coberto”, A falta de objetividade ¢ mesmo certa insensater per- deram o autor, Lembre-se, contudo, que a obra nio se esgota af: cla pro CuFou ver o que foi a trajetéria nativa dos primetros anos até a vinda dos holandeses para a sua Bahia, Queria exprimir a verdade, pesquisando, lendo, atento 4 tradigao oral ¢ aos depoimentos de quantos conheceu, Concentrowse sobretudo na exterioridade politica, falando dos governos, suas lutas © vitérias, Seguidor da cronologia, arrolava governantes ¢ seus feitos. Citou as rebe- lides de todo tipo, mas nao as aprofundou. Foi, por exemplo, dos primeiros a falar nas chamadas guerras dos mascates © dos emboabas, episddios tio importantes ¢ eujos significados nie captou, Aliis, como censuri-lo pelo fato, se ainda hoje, mais de 250 anos depois, continuam a ser indevidamente vistos? De um homem oficioso, convencional, conservador e dulico, nio se pode esperar entendimento das lutas que atravessam toda a histéria nativa, Era naturalmente contririo a elas, pelo-empedernido conservadorismo, E dificil a um reacionitio escrever sobre a trajetéria brasileira, pois cla ¢ feita de contestagses da ordem estabelecida. Eo autor baiano era exaltadamente favoravel 4 si- tuagio. Consideraya desejivel 0 dominio metropolitano. O:pré: prio titulo do livre ilustra o servilismo de quem o escreveu: & uma Histéria da América portuguesa, no do Brasil, para convenci mento do colonizadar, nio do eolone, Como escreveu José Hondrio Rodrigues, na primeira par- te de sua Hiseéria da histérta do Brasil (1979), 0 texto de Rocha Pita “é antigentio, discriminatdrlo, preconceituoso”. Mais: “anti- {ndio, antinegro, prd-escravidio, antijudeu, antipaulista, antiBra: sil, pré-Portugal”. Foi possivel, no entanto, a Américo Jacobina Lacombe, em sua Introdugdo aw estudo da histérie: do Brasil (1973), rnb: sonmrey yam-n0oe ode Rocha Pita, apontando duas formas de 0, pelos louvores delirantes a tuido que se segundo lugar, a insisténcia do colonizador sa fazer um apéndice com a lista das “pessoas natu jes ¢ governos ¢clesiisticos riae fora dela", que Lacombe realga, mas apon: incompleta”. Nio se trata, na verdade, de na- de manifestacio da eonsciéncia ingénua, desti- © autor nio diz, uma 86 palayra de simpatia a0 o.que sofre do colonizador. Esti sempre do ‘mandam, jamais na perspectiva do povo. (A obra de 17730 vem sendo sempre julgada. E natural, pois anto-de nossa historiografia, Or julgamentos #30 qus- contririos, como se vé ainda no século XVII. 56 os Juizos, feitos por portugueses, eram favoraveis, Se a ‘Academia Real da Historia Portuguesa, entende-se 0 p de seus membros por escrito que via mais Portugal {1 ( autor chegou mesmo a dedicar pardgrafor a hist6- jortugal, sem qualquer vinculo com o Brasil, como, alits, de outros assuntos que lhe eram estranhos, relativos 4 ‘ou a0 passado, por falta de rigor na estruturasio do “Frei Gaspar da Madre de Deus 0 censura, bem como 0 Taques, no que sio secundados por Taunay em nossos ‘como lembra José Hondrio Rodrigues em seu estudo cita- yacrescentando ainda os juizos severos de Capistrano de Abreu, f énsaios criticos « cartas, Tentam por vezes alguns autores wscitar © historiador, atribuindo:the qualidades que nao tert. o seu livro tem importincla historia; como empreendi ‘mento, tem de ser citado e estudado, mas nio merece realce ‘especial pela. qualidade. Seo julgamento é severo, note-se que, do ingulo de nas ‘so interesse — ou soja, 0 esquema oficial hoje © sua evolugio—, « obra.de Rocha Pita conta bastante, E que ele di para esse esque- ma ponderivel contribuicio. Seu conservadorismo chega & reagio mais enérgica, tornando- um representante eminente da linha antipopular, Sé aceita 0 estabelecido, a ordem vigente, refratirio aqualquer inovasio. Ora, a historiografia brasileira oficial ¢ entra nhadamente conservadora © so recua mesmo do reacionarismo ante a ameaga a qualquer dos privilégios do grupo dominante. Podler-se-ia dizer, assim, que Rocha Pita é 0 seu primeiro repre: sentante, com uma obra cocrente, sem concessdes, ortodoxa na defesa do status quo, Tem pretensio de ser global, Se no formula tum esquema, quando se lembra que ela se baseia na linha dos go- vernos, na cronologia das administragdes, tudo marcado pela apo: logis do autoritarismo © da negagio de qualquer direito popular, pode-se-clizer que a Histiria da América portuguew ¢ sew primeira momento de conformagio severa, cerrado, logico. Tem-se pois, que a obra c-seu autor merecem destaque na estruturagio de um ‘modelo que tem sido o mais cultivado na bistoriografia brasileira © principal livro do Setecentos nio foi © de Rocha Pita, maso de Antonil, como 0 do Quinhentas nfo foi ode Ginda ‘yo, mas o de Gabriel Soares de Sousa, A historiografia 86 ganhow 4 palma no Seiscentos, com frei Vicente, tio bom ow até melhor que o de Fernandes Brando. André Joo Antoni era. nome com © qual se apresentou Joo Anténio Andreoni em Cultara ¢ opuléncia ddo Brasil por suas drogas e minas, ere 1711. Andreoni era jesuita da Toscana € vein parao Brasil codo, onde desempenhou cargos de relevo junto aos jesuitas, possuidores de um importante engenho — odo Sergipe do Conde. Lidow com o ensina, em colégios ‘Velo para o Brasil em 1681 ¢ aqui ficou até morrer, emi 1716. Fino observador, notadamente da economia, escreveu com profundidade c crudigio sobre a realidade econémica, Obser vou o essencial cm matéria de prostugaio de agticar, tabaco, mi- neragio (nesta, contou apenas com informagdes) ¢ criagia de gado, abordando a tecnologia usada, as condigées de trabalho, as p niimeros das atividades. Ao lado das ob- teve sonsibilidade para o problema social ¢ de predominio da retérica, apresentava exem- mo cientista social, atendo-se apenas ao bisi- u titulo sugerir ufanismo, cra eminentemente de rara capacidade de anilise econémica, ja cobservador que fez dele um autor de historia ‘observa Alice P. Canabrava —um de seus 1," umn empirico que se desvela na descri da dos fatos. (.,.) Por exe motive, nenhum das téenicas coloniais”. kos esses atributos, Antonil énome privilegiado para que tem em seu livro.um dos titulos iy, Poueds outrox ensinam tanto, A obra apareceu Jiengas necessirias, mas logo o governo foi adver- | Janeiro. Depots, muitas outras edigises, al- bon quali ‘dle Taunay, em 1923; a cle Ali- -Aneleé Mansuy, com a tradugio jo © amplas © importantes notas, em faccsimite do original e posticio de de Melo Neto, em 1969, Sendo uma todo 0 periodo colonial — alguns de u tomaram clissices, de tio citados —, até a deck iy0 da atitoria foi um feito admirivel: Capistrano de Abreu, 1886, dava mais um exemplo de finura critica, esclarecendo “que Anidré Joo Antonil era Joao Antnio Andreoni. ‘Outro nome do Setecentos a ser lembrado é 0 de Cliudio Manuel da Costa. Aparece no primeiro’ plano na poesia, como tum dos dois grandes da chamada Escola Mineira, ao lado do por- tugués Tomis Antinio, Gonzaga — que vivou alguns anos em Minas —, seguido por poeta carioca — Alvarenga Peixoto —, Cliudio foi estudar em Portugal em 1749 ¢ yoltaw em 1754, fixando-se na capitania do Ouro, que era entio, apesar da fase de decadéncia em que se cncontrava, 0 cixo nio #9 da vida brasilei- ra, mas do Império portugués, Cliudio editou em Coimbra, em 1768, 0 seu livro intitulado Obras — antes publicars: dois poe- ‘mas, em optisculos, também em Coimbra —, que Ihe garante tum lugar na poesia de sta lingua, Escreveu aincla um poema épi- co, Fila Rica, datado de 1773, inédito até 1839, tendo. depots algumas edigdes, mesmo hoje, Deixou muitos inéditos, que vem sendo publicados, aumentando-lhe a obra, Se 0 épico nao tem o vigor do lirico, deve ser lembrado nio 86 na literatura come na historiografia, pois o pocma trata da cria. sao da vila-crn 1711 © é precedido pelo Fundamento histrico, edita- lo em jornal em 1813, pega significativa pelo que revela de co- nhecimento, abtido. pelo muito que sabia de sua regio © pelas relagBes pessoais com outros cultores da historia de-entio — ‘notadamente de S80 Paulo, como frei Gaspar da Madre de Deus. Vila Rica € obra literixia com sélida base na historia, expressa niio #6 ‘na poesia como no texto do Fundamento, Se este & referica, & menos por seu valor como pesquisa ¢ mais pelo fato de ter sido escrito por uum grande poeta © que teve papel na administrasio © na politica. Infelizmente para Claudio, seu nome & mais lembrado como prota- gonista da célebre Inconfidéncia, Mincira, um. dos mais fortes. pre- ‘mineios da independéncia nacional, que teria lugar pouco :mais de trinta anos depois, Sua morte na prisio tem suseitado. intermind- vel debate que nunca seri esclarecido: suicidlio au astassinic, viti- sma da repressio. Preso no dia 25 de junho de 1789, é encontrado morto na Casa dos Contos, na mesma Vila Rica, no dia 4 de jutho, Ainda no século XVIII aparece uma obra de género a ser muito cultivade na primeira metade clo seguinte: 0 dos anais, mtn momento s9ooinn8 to de quanto sucedeu em certa area, As~ boa em 1749 0 longo e paciente texto de le Berredo, Anais histaricos do Estado do Mara- ‘notiela de sew deseobrimento, « tudo 0 mais que nele -0 ano em que foi descoberto até o de 1718, em 710 ide matéria importante, pots 0 chamado Estado @ foi instituido no principio do Seiscentos, amplo nazinia até o Ceari, com administragio. propria, sda Bahia, sede do Estado do Brasil. & a crdnica porme- da vida politica, religiosa, militar. O econdmico © 0 de todo ausentes, A linguagem & afetada, 0 texto: e pela dade. Contém matéria substanciosa, tray incase expulsio dos holandeses © ow eas relevantes. “Nadministragdo portuguesa recomendava is suas autorida- Fo Brasil que fizessem relatérios de suas atividades, ates fap passar 0 posto a sucessores. As cSmaras municipais de quanto rs tra koe lions bs cargos recebiam As vetes instrugSes minucioramente for- das de seus deveres. Conhecem-se dezenas de documentos género. Se met todas as Cimaras cumpriam a determinagio © an todas as autoridades prestavam as contas que thes cram pe- _mentos dessa espécie de alto interesse para a histé que eas eae atingem seins aie historiografia, fazendo a reconstituigio a anilise de periodos © ds veres até etrospectos histdricos. Por certo, o mais notdvel de todos é o de José Joao Teixelra “Coelho, instrugdo para 0 governo da capitania de Minas Gerais, que & citado aqui como paradigma. Tendo vivido em Minas durante 11 anos coma funcionario:da Coroa, ao afastar-se, dé volta a i Portugal, mostra a0 sucemor 0 que deve ser feito, Minucioso, erudito, competente, analisa com profundidade o que é a vida ‘na regio, notadamente nos aspectos administrativos, Sua critica é certelra c aguda, atingindo 0 imago das questdes. Ea Epoca da decadéncia do labor minciro; José Joo aponta com sabedaria suas ‘causas, no se atendo a aspectos superficiais, Pode-se dizer que sua anilise nio foi ainda superada, O que se escreve de melhor hoje, mais de duzentos anos depois — seu texto ¢ de 1780 —, &, em grande parte, repeticio do que disse. Para nosso: interesse no momento, lembre-se de que © ample manuscrito faz uma reconstituicio histérica preciosa, pela lucider do autor ¢ pelo {to de ter ocupado cargos que exigiam conhecimento do qua- ddro em sua plenitude, Demais, conheceu virias autoridades, pro- sidentes da capitania de Minas cam os quais trabalhou, ‘A Insteupdo terd sido muito consultada ¢ lida. Nao foi escri- ta como livro, permanccendo inédita até 1852, quando a Revista do Instituto Histérico © Geogrifico a divulgou, & vista de um manus- crito que recebeu em 1841. A Revista do Anyuivo Puiblico Mineiro reeditou-a em 1903, Sibe-se da existéncia de indimeras cidices do documento, © Arquivo Piblico Mineiro possi um, adqui- rido em Lisboa, em 1896, no leilio da Livraria do Conde de Linhares, Apesar de ter um’ cédice, © Arquivo pisblicou o texto em sua Revista em 1903 usando a edicio feita em 1852 por outra revista, sem 0 necessirio confronto. Pior ainda, suprimiu algu- ‘mas partes, 0 que tora sua edigio menas valiosa. A nova publi- cago, como aquela, aparece sem notas. Trata-se de documento fundamental, n3o sé de histéria, mas de historiografia, & espera de merecida edigio, com introdugio, notas e uin texto limpido, resultado da colagio dos virios cédices conhecidos, Varnhagen usou-o bastante em sua obra, citando-6 com elogios — pritica a que era pouco dado. A mais recente edig#o ¢ a da Colegio Mi- neiriana, da Fundagio Joko Pinheiro (1994), Chega-se ao século XIX, conhecido como o século da his téria, Ela & renovada enriquecida fundamentalmente na Euro: pa, devido, sobretudo, & constituigio sistematica das chamadas liares da histéria, que vio dar a0 trabalho 0 ne- ntal para rigor ¢ éxito na pesquisa, Entre clas | a paleografia'¢ a diptomatica, Se vinham de antes, ‘do século XVI, com a Renascenga © a Reforma, ,, através dedocumentos, propricdades contestadas os ¢ castelos, de ordens religiosas ow de senhores su- rictirios, sio téenicas que se aprimoram prea jor cada vex mais seguranga. Tenta-se reunir o maior .. nea seja de produgao atual seja de go, com a recuperagao de papéis perdidos ou cesgastados . Sua feitura ¢ decifragio se impdem. E firmam-se disciplinas, como a filologia, a arqueologia, a carto- “a genealogia (so cuidados universais ¢ tém passado remo- ‘recebem agora atencio especial), maisa epigrafia, a siglo ‘a numismitica, a herdldica. £ 0 esplendor da erudigao: elam-se documentos até ai desconhecides de todos, a mes- ‘tempo que se apericigoa o moda de trati-los ¢ aproveiti-los parecen Ses especializadas, os me despertam aten- ‘ordens religiosas ot dos poderes piiblicos. a mia he gor dia de eho sierkicn ds tes, Certas nagics adquirem técnicas eficazes, eriam uma es- “cola de pesquisa, com historiografia fundada cm documentos, “gomprovagio de quanto se afirma e diniea base para especulagdes explicativas ou interpretativas. Distinguem-se no esforgo os ale- mies, entre os quais Niebuhr ¢ Ranke. Cogita-se de apresentar ‘Mooumenca germaniae hiscorica, um. marco na historiografia ¢ cru - dicio.! Como decorréncia, supervaloriza-se 0 fato, para rigor na « Tém 1819, por iniciativa do bardo Von Stein, fot constitulda a Sociedade para o ‘Conlecimerto da Antga Histéria Alem, em Frankfar, que tertacomo objetivo ceditar toda as antiga fontes da hist da Aleman, © primetro diretor da fstitucho, GH. Prete (1795-1876), formulow plano, em 1824, divlindo a ‘temitica em cinco partes, send primeira publica em 1826. (N.E. tarefa: impunha evitar qualquer acento pessoal ma exposigio: esta devia ser conduzida sine ira ct studio, com o ideal da imparcialida- de, neutralidade, Problema de dificil encaminhamento, uma vez que se sabe, sobretudo hoje, que nao ha neutralidade cientifica, principalmente nas ciéncias humanas, © objetivo de Ranke ¢ sua escola'era assegurar a pesquisa, 0 uso das fontes, a prova docu- ‘mental, para crigir um monumento clentifico. Dai a explanagio objetiva, sem partidarismo, que levou ao. chamado positivismo, 4s vewes confundiclo com o factualismo. O propésito era justill- civel na épora e hoje, pela idéia de que o conhecimento histéri- ‘co deve ser cientifico, a histéria precisa ser vista. como ciéncia. O anscio de narrar 0 pasado tal como ele foi & a base do pensamento de Ranke, que trabalhou como pesquisador ¢ historia- lor. Com o tempo, a escrla caminha e constitui 0 que se chamou de historicime, de florescimento sobretudo nos Estados alemies, terra cm que se desenvolve, desde o prineipio do Oltocentos, a escola histérica de direito, depois, a escola histérica de econo- mia, duas correntes: geradoras de amplo debate, contribuindo rio 46 para obras sgnifieativas de dieito © economia como para amadurecimento do debate metodolégico. O historicismo com. bina bem com o sentimento caracteristico dos varios Estados alemies e da Alemanka, cle modo geral. Entre os grandes historia- dores da época, os alemies tm lugar procminente, como se poderia demonstrar cam os nomes de autores © obras — ponto alto da historiografla universal, __ Sua relativa superagio pelo debate cientificg ou estritamen- te historiogrifico tem lugar em varias partes, Cite-se 0 instaurado na Franga do fim do século, entre uma historia factual © outra interpretativa ou explicativa — a hisoire historisante, de Charles Seignobos, © a synthe historique, de Henri Berr. Hi outro debate ‘mais alto, no plano floséfico, que no éalcangado por esses fran: ceses interessados na questio banica do método, O debate francés Prossegue e atinge © pice com a criagio da escola dos Annales, ia datar de depois da primeira grande guerra, prin- ‘com 0s trabalhos notaveis de Mare Bloch © Lucien “A revista Annales, de 1929, & 0 marco mais visivel do gru- “A pregagiio da interdisciplinaridade das ciéncias sociais, com jpritica cla historiografia, chegaria a extremos, acabando ati: omprometer a historia, ameagando-Ihe a identidadle, com o outras ciéncias socials, das quais a histéria seria uma es- de auxiliar, invocada s6 para ilustrar com exemplos, Cria-se ¢ na ciéncta social hoje, sobretudo na historia: ja se fala o, ainda na Franga, na volta do fato ("Ie retour de I'érenement 0. prega Pierre Nora ém capitulo notivel da metodologia de ra), Ea velha dialética, a alternincia de orientagdes, umas cor- ndo os excessos das outras: fica sempre dessa instabilidade um ilo admirivel, que representa o progresso do conceito ¢ da pri ‘da historia, como das ciéncias sociais genericamente, Yoltando & proeminéncia concedtida 20 documento, que Teva. Monumenta germaniae bistorica, tem-se que impulso dado ‘05 documentos na Prissia, desde 1819, tem repercussio em ‘outros centros. Na Franga, o ministro-historiador Frangois Guizot “eomega a colegio de Documents inédits relatifi a I'histoire de France. O-'mesmo se verifica na Bélgica © no Piemonte, com a Hisoriae _pltriae monumentar. Ou na Rassia, com a Coletéinea completa das anais ‘russes, comecada em 1841. Instituigdes oficiais ow oficiosas, como -academias, centros de estudo, entregam-se & pesquisa, & busca de fontes, Portugal nio fica atras: a antiga Academia Real das Giéncias trata de editar Portugaliae monumenta historica, a contar de 1856, gracas an empenho de Alexandre Herculano, talyer © principal conhecedor das fontes portuguesas, como comprdva “sia Histéria de Porvugal. Sabe-se que também a Polbnia promavett Morwmenta polonive histortea, entre 1864 ¢93, Essas referéncias visaram apenas a explicar 0 quadra reno: vador do século XIX na historiografia do mundo europeu, a0 qual o Brasil se vinculaya, © pais nio podia ficar indiferente a ‘esse purto. Repercussdes aqui se dariam com a criagio do Insti: tuto Histérico © Geogrifico Brasileira, em 1838, bem como a figura de um pesquitador e escritor incansivel, que foi Francisco Adolfo de Varnhagen. © Instituto ¢ a obra do historiador soro. cabano so marcos na produgo nacional, como se veri, =}; Entende-se melhor o quanto representaram ¢om a lem branca do que era'a produgao:nativa antes. © século XIX tem inicio com o término da elaboragio de uma obra admirivel, em 1802, cscrita na maior parte do’xéculo anterior: Recopilagao de noticias soteropolitanas ¢ brasilicas em vinte cartas, por Lasis dos San- tos Vilhena; portugués, professor de grego na Bahia, era homem extremamente culto, agudo observadar da realidade. Desereve- ade modo licido, em uma série de 24 cartas (algumas além das anunciadas no titulo), em que Amador Verissimo de Aleteya‘es- creve a Filipono © Patrifilo, correspondéncia’ imaginéria, retra- tando 0 Brasil no fim do século anterior ¢ inicio do XIX. Eram, coisi comum na época, dedicadas ¢ oferecidas "ao soberano ¢ Augustissimo Principe Regente 0 Muito Alto © Muito Poderoso Senhor dom Joo”, pelo “mais humilde dos seus servos”, Redigidas no fim do Setecentos ¢ comego do Oitécentos, 66 foram edita das em 1921, por Bris do Amaral, que as copiou de um manuseri- to oxistente:na Biblioteca Nacional, © mesmo editor completou o trabalho em 1935, com o que chamou a 21* carta, com o titulo Recopilacio de noticias da capitania de Sao Paulo, oferecida ¢ dedicada ad. Rodrigo de Sousa Coutinho (as trés outras, além das vinte anunciadas, foram publicadas junto com aquelas em 1921). Note-se, como se lembrou, que no referido’ Nociclas sotero- politanas ¢ brasilcar aparecer mais quatro eartas: na dirigida a Patrifilo, fala das vintes que constituem 6 corpo da obra, segura: mente escritas até 1798, quando vai do Bras para Portugal. As tres dirigidas a d. Rodrigo encaminhamélhe as. vinte’ carta, para que as apresente ao: principe d. Joi, a quem aio dedicadas. As trés dltimas falam de Pernambuco, de Gols ea recopilagio de os politicos aplicados em parte is colénias por- Fb Estado do Brasl",.em uma espécie de simula, fo. publicada quando redigida, a obra ampla, erudita wi influéncia que poderia ter exercido. Contu- finda, como se vé pelo seu 1s0 por muito da fia-atual, Vilhena, cuja vida ¢ quase completa- prada (viveu entre 1744 © 1814), era hamem hicido sua época. A anilise correta de seu pensamento foi Carlos Guilherme Mota cm Méia de revolugdo no Brasil -4 edigio em 1971, com outro titulo), estudo a politico de 1789 a 1801 — época de crise no siste- rundo o historiador, o portugués, escrevendo da Bahia, presenta como revolucionsrio ou exaltado, nem como djstada a6 sistema € a consenso do periodo: “suas idéias ‘eolonizagio. © que vale dizer: colonizagio em crise,” "Fra instante privilegiado, pois 0 sistema colonial agoniza- tinha’os dias contados, como se veri logo com.o surto eman- ionista americano, a contar da segunda década. Vilhena 0 4 perfeigao, com inteligéncia ¢ cautela, Erudito, leu nto encontrou, em manuscritos. Nada ingénuo, tinha alta pelo critica. Trata sobrettido da Bahia, mas desereve tam- ‘embora de-forma bem menos convincente, as outras éreas, ‘Conhecia bem aquela, no conhecia estas. O retrato social do fim da Colbnia esté vivo em suas piginas: quem deseja saber como era ‘© pais entio deve recorrer a elas, como fez Calo Prado Jéinior para -elaborar Formariio do Brasil contempordneo (Colétta), de 1942, ante Williena é invocado $1 vezes © muito mais vezes sada, © profes- sor via além de seus contemporineos, captava a socicdade em ‘mudlinga. E dava amplas informagdes que seriam muito usadas depois. Bisico para a historia © entendimenta do pensar da época, ‘fio é ainda historiografia, mas ¢ das que mais servigos Ihe prestam. Parece que Vilhena tinha em alta: conta os seus escritos, no que estava certo. Nio os via como historiogrificos, mas de material para o futuro estudioso, como se dé em algumas passagens, Entre ‘otras, lembre-se 0 que diz no envio das trésdltimas cartas a0 minis- trod, Rodrigo de Sousa Coutinho, Na primeira: “feita [a recopi: Jago nas vinte primeiras cartas] € ordenada para servir na parte que convier de Elementos para a Histéria Brasilica”. Na segunda, permuado-me que uma ¢ outras sero indispensdveis a quem Vosta Enceléneia ve digne de incumbir a composicio de urna nova Hist ea Brasilia, pois que nas minhas carts (,..) achar$ tanto elemen: tos, quantos no encontrar juntos em alguma outra parte (...). Nao ‘me consta que se tenha aberto uma porta mais ampla para penctrar até uma grande parte dou sertées da nossa América (...). Meus es «itor, fotos x6 para que dees se excatha o que convier para a His- téria do Brasil Nao era jactincia, pois Luis dos Santos Vilhena estaya certo. Autor considerivel no principio do steulo é Diogo Perei- ra Ribeito de Vasconcelos, com dois. preciosos textos, © pri- meiro & a Breve deserisio geogrifica, fisica ¢ politica da capitania de Minas Gerals. Datado de 1806, repete passagens de memérias anteriores, como ade Jost Joaquim da Rocha, Meméria historica da captanta de Minas Gerais, talvez de 1797, como seri copiado depois pelo mediocre cronista oficial portugués frei Claudio. da Coneeigao, na desimportante coletinea Gabinete histérico, de 17 volumes, entre 1818 ¢ 1831 (0. capitulo sobre Minas esti no vo- lume X), © procedimento era comum na época, quando mal contava 0 conceite- de pligio. Diogo era portugues, mas viveu muito em Minas, participando de suas coisas. Culto, era bastan- te voltado para a histéria, na qual produziu dois textos. Ocupou cargos ¢ foi pai de 11 filhos — entre eles o-estadista Bernardo Pereira dle Vasconcelos, Conservador exaltado, amigo de Cliu- dio Manuel «le Gonzaga (de quem era alilhado de casamento), bem como de outros conjurados, acabou suspeito de participar dio libertador. Prestou dois depoimentas perante a De §, sem neles se comprometer © scm envolver ninguém. ‘foi o orador oficial da festa puiblica de 22 de maio de b, Te Deum pelo malogro da conjuragio ¢ suplicio de Tira- ies. Afinal, cra portugués e conservador. Contudo, nie era iso exagerar tanto no aulicismo. principal trabalho do velho Diogo ¢ uni dos primeiros ea historiografia, Trata-se de Minas ¢ quintor do ouro, plar monografia de histéria cconémica, Revelou-a Capis- ; vide Abreu, cm 1892, em vinte partes, no Didrio Oficial: @ fraca, sem nome do autor © sem nota introdutéria. Foi vida ma Revista do Arquivo Publico Mineiro em 1901, sem ito superior, com supressdes e mutilagdes injustificiveis, edigio convenientemente anotad, pois ¢ magnifica, dos es textos do periodo colonial. De aspecto drido, mas in- nsivel, foi com justeza julgada por Capistrano de Abreu “a mais completa que até hoje se escreveu do regime tribu- colonial”. Poder-se-ia apresenté-la como a fundadora da a financeira. Absolutista, nio ¢ s6 conservador, de- mdia toda a politica da Coroa, Por certo, € admirivel como quisa, informagio, critica, além da teorizagio desenvolvida. 0 tema ¢ bisico para entender a capitania ¢ quanto rendew ‘fouro no xéculo XVIII, objeto permanente de especulagio. Deve ter usado, muito o texto de José Joao Teixeira Coelho — do qual “jhe falou —, certamente o mais valioso para Minas, O de Diogo Pereira Ribeiro de Vasconcelos & marco na historiografia minei- #4 ena econdmica, tio pobres na época-¢ que com slescomess ¢ consisténcia. Sone Diogo deixou ainda estudo mais dilatado — a Breve | descrigao geogrifica, fisea e politica da copwtanta de Minas Gerais, de 1806. Valiosa pelas muitas informagées, pois a viveu quase sem- pre em Minas onde ocupou cargos administrativos. Nascido em 1758, veio para Minas Gerais as nove anos ¢ s6 saiu para estudar €m Coimbra, em cuja universidade se formou em 1783, Aulico, deixa em suas piginay cxaltada admirag3o pelo colonizador, elo- glando até governos como ox do conde de Agsumar, Luis da Cunha Menezes (0 Fanfarrio Minésio das Cartas chilenas), visconde de Bar- bacena, Defendia 0 poder constituide, 0 branco, 0 senhor (se fala do negro, considera o indio um animal), Raramente alguém reve low tanta subserviencia, A Breve descrigdo teve algumas edigdes, sen do a miais digna de nota a recente — 1994 —, na Colegio Minei riana da Fundagio Joio Pinheiro. ___ Nacomego do século XIX, um historiador inglés excreve ria primeira histéria do Brasil verdadciramente monumental trata-se do pocta Robert Southey, que editou entre 1810 © 1819. sua History of Brazil, em trés volumes (1810, 1817 © 1819). ‘Antes, em 1809, outro inglés fizera uma History of Brazil, mas de nivel inferior: Andrew Grant. E pouco depois, em 1821, apare- ‘seria um terceiro, James Henderson, ainda sem a qualidade do ‘segundo, Southey, escritor de prestigio em sua época (secundi- io em telagio a outros rominticos mais notérios, como Byron ‘ot Coleridge, seu concunhado), nio visitou o Brasil, mal conhe- ia Portugal de duas visitas, max pelo fato de ter um tio que ai vivia, possuicor de ampla biblioteca © de muitos documentos sobre-o pais-e seu Império, pensou em escrever uma histéria do miutido portugués. Fez amplas pesquisas © chegow a escrever vi- ‘rio capituloy alentados da. Histéria de Portugal, sem conchiir a projetada obra, pela exigéncia de mais aprofundamento nas fon- tos, Nela trabalhou até morrer. Fer apenas » do Brasil, de modo superior, tanto que foi Por muitos considerada como a principal Hixdria do Brasil, seja (pelt informagio e correcio como pela superior forma artistica Weve tem elogios da critica contemporinea, como em Capis. -exemplo, Quem mais carinhosamente o estudou foi ‘Vin, cm conferéncia publicada em 1907: viu sua His- “emais conscienciova, detalhada ¢ exata antes de ‘a mais literdria, formosa c cativante mesmo depois ". Eata deve-lhe muito, apesar de criticas ao tex- , nem sempre justas, Southey, sea esereveu ¢ pul obra maior, pensada e parcialmente eserita, mas ia, fos por ter acesso sobretudo a paptis referentes bem: como pela notoriedade da Colénia, com a vinda ‘et 1808, Impas-se assim o interesse pela parte ameri- Império. Demais, devia despertar a atengac do autor 2 m de terra distante, na comum idealizagio roméntica, da ‘é uma das principais expresses. Curiosamente, amou o Brasil, prevendo sua breve eman- @ de Portugal, pois a Coldnia:era mais rica ¢ dotada, nie ficar presa & Metripole fragile desgastada, Faia sérias re jas 4 colonizacao portuguesa, apontando-Ihe defeitos. Denun- {6 péssimo estado da Colénia, em regime de miséria, fome, ncas. O escravo contribuia para piorar © quadro, impedindo , melhor, de outros elementos. Compreendeu bem a fsagem ¢ ohomem, percebeu 0 processo de revelagio ¢ ocupa- gio do territdrio, O privatismo da sociedade levava 86 3 busca “do Juero, gerando faltas de todo tipo. Destaca o fortalecimento do Estado desde 0 comego do século XVIII, com as minas de ouro. “Pombal dari passo mais firme nesse sentido. A presenga ingles “parecia-lhe a favorivel co pais, vendo o caso do iingulo de sua pitria, Em narrativa minuciosa até demais, descreve a trajetéria bbrasilcira em miltiplos aspectos, com a apreensio de seu senti- do ¢ inegivel simpatia pelos mativos: Pela formagio pessoal, re- Jpugnava-lhe a pritica espoliativa, devejoso de ver no coloniza- dor o aspecto cultural e civilizador, néo a espoliagio ou @ ¢omércio que encontra, Romintico, de corte tradicionalista, preferia ver aqui tragos nio encontriveis, Nota barbaridade nas ppriticas indigenas, agravadas pelo comportamento bruto do por tugués. Tem entusiasmo pelos exforgos dos jesuitas, apesar da perspectiva de protestante, condenadora dos catblicos. Esereveu © editou, de modo que teve alguma eficicia, E nao ‘eustou a ser traduzido ao portugués: em 1862 aparecia aqui o tex 0, ¢m seis volumes, superando as dificuldades la época ¢ 0 wulto do empreendimento, Nao fot muito lida, entretanto, tal como se eee sr no. se percebe sua influéncia nos brasileiros de en: » preferiam seguir Varnhagen, quando Southey abria algumas perspectivas bem interessanics« nip era to conscevador, Corea prolixidade Perturbou a obra do inglés. Entretanto, ele merece Inals atengo © culto do que teve até agora. Inicia magnificamente 8 producio. dos hoje chamadlos-brazifianists — estrangeiros preo- ‘cupaddos com o estudo de nossa terra, Se nio foi cronologicamen te @ ptimeiro, foi-o por certo pela qualidade de sew escrito, “3 Em carta de 1819, estava seguro da falta de repercussio: ‘algumas vinte pessoas na Inglaterra ¢ uma meia ddzia em Por- tugal ¢ Brasil o lerio (referia-se a0 terceiro volume, a ser logo Publicacla) com avide2:e deleite. Talvee uns cingjienta 0 com Prario por causa do assunto (...)". Contudo, estava certo de sua importinicia: “minha obra, daqui a largos tempos, se en- contrard entre as que nao sio destinadas a perecer (...)". Na época, o livto teve detratores; Byron, constante desafeto, con siderava. sua leitura como a melhor remédio contra vinsdeua, J4 Walter Scotto exaltou. Na verdade, trés sélidas volumes sobre uma coldnia americana pareciam dexprapésito. Hoje tem boa acolhida pela critica brasileira, quase toca sua entusiasta, Continua a ser editado, embora lido s Para consulta, Quem melhor o estudou e esereveu sobre ele fol’ Maria Odila da Silva Dian: em 0 fardo do homem braneo, de 1974, além de outros escritos nos quaiy é focalizado, Ainda na primeira metade do século, o Brasil: é objeto de variantes da historiografia, Em_geral ¢ uma obra fragmentaria, escrita sobre aspectos do pais, datas ou épocas, eventos. Alguns dos autores cram datos 4 pesquisa © tragaram quadros vilidos em_seus livros. A maior parte se consunaia eta transcrever docu- se 4 narrar certa trajetoria, sem visio articulada do pro nal, alheios ao conjunto. exemplo de historiografia do principio do século ser referidos: José da Silva Lisboa, depois visconde politico © publicista, que tem importante obra de eco- Principics de economia politica, de 1804 —, a coloci-to yorigao de realce como cientista social. Deixou ainda vasta dircito, notadamente de direito comercial, Como histo- é beth menos expressive, mas niko menos fecundo — mada aalgi-lo além de cronista, Textos como Meméria dos politicos do governo de el-rei nosso senhor d. Jodo VI, de 1818, dos principais sucess politicos do Império do Brasil, de 1830, pouco mais que aulicismo © certa operosidade, justifica- de consulta pelos expecialistas. José da Silva Lisboa foi um do pelos governos € pela sistema, por ele defenclide até ite, E expressive de convervadorisme e até reaciona — marcas pouco recomendaveis de historiografia desde ‘A outra obra, supostamente de historia, de entiio é a de Luis Goncalves dos Santos, Memérias pura serve & historia do Reino Brasil, divididas em srés épocas de felicidade, honra ¢ gliria —o ulo ji diz da falta de visio critica —, escritas no Rio, em 1821, “© publicadas cm Lisboa em 1825, Perde-se no factual, no anedoti~ “eo, na petite histoire: a seu favor, lembre-se o titulo de Memértar, Da muitas informagées, sem qualquer método. E quase a crénica did tia, arrolando tudo. Conhecido como padre Perereca, a cle recor ‘rem muito os estudiosos da fase da independéncia ¢ das figuras de d, Joto Vie do principe d. Pedro. ‘ O mais comum foi o género de Anais, que se multiplicaram ‘no periodo, em nota de extremado acento conservador — marca ‘freqiente na historiografia do pais, la qual Cairu é um paradigma, Citem-se alguns exemplos do géncro tie cultivado, o dos Anais ou memérias de certas areas, Raimundo José de Sousa Gaioso publicou, em Paris, Compéndio histérico-potittco dox prin- ipios da tavours do Maranhao, em 1818. Embora anuncie tratar apenas de lavoura, quase s6 do algodio, di algo mais sobre a rea, que passava por breve periado de prosperidade, Os nii meros fornecidos, de produgio ¢ exportagio, enriquecem-Ihe © contetido, José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de Sio Leo- poldo, escreveu e editou em dois tomos os Anais da copitania de Sao Pedro, em 1819 © 1822, cm 1839 reeditados com o titulo de Anats da provincia de Sdo Pedro. Grande pesquisador, 0 livro é enor. Dai continuar a ser editado © valorizado ainda je pelos criticos. Nao tentou a visio global. Em 181 font Miguel de Beto, um miltar, atordadeno govero de Sona Catarina, escreveu no Rio de Janeiro a Meméria politica sobre a copitania de Sanea Catarina, edlitacla em Lisboa pela Academia Real das Cigncias, em 1829. Pizarro © Araijo, eclesilstico dedicado i Pesquisa, escreveu € editou em nove tomos as Memérias histiricas to Rio de Janeiro ¢ das provincias anexas.& juriudigGo do vice-rel do Estado do Brasil, em 1820-22. Era carioca. Conheceu documen: tos € aproveitou-os, mas:nao tinha nogdo do conjunto, niio sabia exploré-los, Nio € original nem consistente, mas deixow obra Liason Varnhagen foi sever demais em seu julgamento a Pizarro © Araijo, a de i toe Bilis de Acumeerccepatcioas ve tho de outros, produzindo “uma obra confusa, difusa ¢ as vezes até obtusi”, E correto ao criticar © escrito por falta de ordem © consisténcia — 0 que poderla dizer de todos ou quase todos os outros cronistas do género. O ¢erto, porém, apesar do julzo extremado de Varnhagen, ¢ que Pizarro forma entre o# melho- res autores daquela linha de trabalho, Baltazar da Silva Lisboa deixou Anais do Rio de Janeiro, emacte volumes, entre 1834¢ 35. Nao ultrapassou a categoria de catalogador le nomes, datas ¢ eventos, preso $6 a0 regional, “Acioli Cerqueira ¢ Silva escreveu as Memérias histérl- da provincia da Babta, em seis volumes, entre 1835 € ués, velo cedo para a Bahia, reunindo a documenta~ de, sem fazer a claboragio caracteristica da historia. fm regional ¢ Anténio Ladislau Monteiro de Baena, com 9 das eras da provincia do Pard, em 1838. Sem muito p critica, nio ultrapassa a catalogario, Obras do géncro de @ Memérias cronologicas de provincia continuariam a ser waidas mesmo depois. ‘Outros nomes poderiam ser referidos, em espécie de ea ou arrolamento de certo modo sem interesse, pois um juco é mancira dos cronistas antes citados, sem elaboragao cri | das informagiies. O que se quis destacar é que nenhum déles ow i verdadeira historiografis, Foram cronistas, ni mais iw se distinguiram como pesquisadores, apresentando, de correto, 0 fruto de investigagSes, Dai serem uiteis, Ow os, pelo empenho no trabalho, deram a primeira nota para 0 senvolvimento da histér no o Brasil, Alguns foram pobres mesmo como cronistas. ota-se, pois, que a joven nagao nio tivera ainda quem a estu- idasse c a pensasse, colocando uma problemitica sobre a forma- “gio € os rumos do pais que em 1822 inicfaria sua vida livre, com ‘uma experiéncia politica rica ¢ original no mundo americano. Nenhum deles, partanto, contribuiu para um esquema da historia do Brasil, distinguindo-se apenas pelo labor erudito rea izado ou pelo tom predominantemente conservador de seus esctitos — marca freqiiente na historiografia nacional, repita se. £0 julgamento que da produgio do primeiro momento fat ‘zem 0s seus conhecedares mais seguros, £ 0 que se vé, por exem- plo, em José Hondrio Rodrigues, em sua importante Histéria da Iistéria do Brasil, primeira parte, Historiografia colonial, de 1979, na distingio entre documento historico ¢ documento historio- grafico, ou na consideragio das “diferengas entre a Cronica © a regional, importante em drea ampla Histéria” (prefiicio), decerto estude mais completo do assun to. Ou Amérioo Jacobina Lacombe, em Intraduydo go estado da Inixéria do Brasil, de 1974, tratando de quanto se esereveu nos ‘rés primeiros séculos: “Os nomes (.,.) pertencem a uma fase uultrapassada na historiografia brasileira, Contribuiram valiosa mente para a claboracio da historia, sio hoje utilizados como fontes de informagio, mas no suficientes para a compreensio dos fendimenos. Sio mais objetos da historia do. que historiado- es” — afirmativa a ser relativizada, parece-nos, pois alguns de les, por vezes, chegaram ao verdadeiro entendimento. Na atmosfera moma da primeira metade do século, como produgio historiogrifica, £6 se destaca um valioso estudo — 0 do viajante e cientista alemio Martius, ‘A nova orientagio, representada por essa iniciativa ¢ ou- tras, ja pertence a fase seguinte — a segunda de nossa divisio —, cujo estado passa a ser feito agora, SEGUNDO MOMENTO 1838-1931 $e no inicio do século o inglés Robert Southey escreveu a ra Histéria do Brasil realmente importante, como estrutu- estilo, antes que qualquer brasileiro o fizesse — a de gen vers de 1854-57, bem mais pesquisada ¢ rica como 0, mas inferior como plano e sobretudo forma —, na de 1830 outro inglés escreveri outra historia digna de Jolin Armitage, jovem de 21 anos que vive no Rio de Janeiro @ comerciante desde 1828, ou como adido da legacio briti , freqgienta circulo de pessoas eminentes, entre as quais © lista:e politico Evaristo da Veiga, que foi calxeiro como ele pais se estabelece como livreiro. Como livreira, Evaristo a.com © pai, depots com o irmao; em 1827 tem sua casa {ypria na rua dos Pescadores, a ser freqtientada por quem pro- livro ou boa conversa, al reunindo-se gente que teré muito sso) na politica nacional, como Bernardo Pereira de Vascence- Jos, Diogo Antonio Feijé, o padre José Custidio Dias, Rodrigues Totres, Tedfilo Otoni, Sales Torres Homem, alguns jé ocupan- do postos no Legislative, outros ainda jovens, Armitage freqiien- tava a casa, vendo'e ouvindo esa gente. No fim do: mesmo ano de 1827, Evaristo funda o jornal ‘Aurora Fluminense, bem feito, liberal contido, sério em época de imprensa desabrida ¢ de enor me influéncia na politica, © inglés recém-chegado o livreiro, jornalista politico, tornam-se amigos. Das muitas conversas é do jornal sairt mufto de sua visio do pais em que se encontra, Quando publica sua Histéria do Brasil, em Londres, em 1836, Evaristo seré dos primetros a receber um exemplar. Mais ainda: no livro hi apenas dois retratos — um de José Bonificio, outro de Evaristo, © inglés atento ¢ curioso tem enorme interesse pelo nove pals, vé, ouve © 1é quanto pode, de modo a ser capaz de redigir O livro bisico. E curios que um estrangeiro consiga tal percep ‘Gio de periodo tio rico, de transformagées ripidas © profundas, quando. se supera o estatuto colonial com o estabelecimento de nagio livre, juridicamente organizada, acompanhando as vicissity- des do. Primeito Reinado. Diretamente, vendo ¢ owvinda prota gonistas, de 1828 a 31, obtém a informacio ¢ o entendimento, O texto fol publicado em 1836, em Londres, em dois volumes: The Histary of Brazil, from the period of the arrival of the Beaganza Family in 1808, to the abdication of Bon Pedro the First in 1831 Compiled from State documents and other original sources. Forming « ‘ontinuation to Southey's History of that Country. JA no ano seguinte (1837) aparece a tradugio brasileira — Historia do Beast! desde a chegada da real familia de Braganea em 1808, até a abdicagao do mperador d. Pedro l, em 1831, Foi traduzida do inglés por um brasileiro, como se declara no volume de 323 paginas, Estranhou-se © fato, havendo até quem duvidasse da exis. ‘éncia do autor, atribuindo © volume a Evaristo da Veiga, a quem ‘outros attibulam a tradugio. Armitage teve que afirmar em carta Ser 0 autor questionado, Apresentada no Catdlogo da Exposigao de Hiseénia do Brasil, de 1881, nos textos inglés © portugués (niimeros 5.369 © 5.370), Rami Galvio sugeriu ter sido traduzida por Jou- quim Teixeira de Macedo, o que deve ser certo. Demais, anotou; “excelente obra para a histéria do primeiro reinado”. Q joven inglés tem muito de romanesco: recebe incum- béneia da embaixada de seu pais para ir a0 sul, convulsionado por Iutas no Uruguai; nio é pessoa convencional, pois acusado. de levar vida livre, nio ter religito, ser republicano © revolucio. ‘nitio, falar mal das autoridades de seu pais © do que o abriga, O texto tornou-se imprescindivel, pois Armitage fala muita do que viu ou ouviu de protagonistas centrais, além de compilar documentos pubticos-c outras fontes originals, como declera no a original I é infor I inglés, Em, geral ¢ correto nas rmento das figuras, algumas das ae at i 4 mais nos fasights inteli- intuitivo, sua forga est acento erudito, que nko podia ter, pela falta de sco tempo na terra ¢ pela vida excessivamente oct tho, Nada tinha de scholar. Deve estar ai um clos eri i 1837 em portugues, teve escrito. Publicado em : es, em 1914 ¢ 1943, cantinuando agora em edigdes ides com interesse ¢ proveito. Um dos maiores co do period estudado — 1808 a 31, sobretudo 1828 aa {nio de Sousa usou abundantemente texto te sempre os méritos, ma vasta obra a que deu geral i Jnmpétio do Brasil. de Histéria dos fndadores do limp smeiras décadas do século XIX @ mundo ligado a0 te a vive 0 estigio mais avancado do sistema capt ‘ cca de acentuadla mudanga, por eausa de ti fm crescent Estar soe, 2 ccoomia pol —a ponto de falar-se em revolugio industrial, Além a quadro juridico, com os principios liberals esis : siglo Francesa de 1789, hi as inovagbes tecnoligicas, sobre poate inglesa, na chamada “revolugio industrial”, A burguc ‘ ee sista o poder politica, & aera do liberalisma e do ase Fismno, © Branil, como toda a América Latina, € parte desse mun i Ele é ‘acudiddo com a emancipacio das antigas colénias expanholas fe portuguesa, que s¢ beneficlam das dificuldades set enti Jes ante © avango de Napaledo na Europa, A contar ae pplicam-se os movimentos de independéncia: pelas alturas - isis nage latino-americanas tm liberdade politica, wert, Rios depois alguns ajustes entre clase me ‘outras nagées, en- -mancipara as da América Cent Ce ey yhen ve ites das com va da Corte portuguesa em 1808, que dao caso uma fisionomia esPe> aa ‘aenngaaniows 6 pracesso nacional des demas do continen te independ ¢o croameat de long ata que vem ds ‘alos atnors, no reid bevel do pric, col «ado pla ccunstncs ten ds aconecmentose bench Slo sao, como tannin ogra que cera, A nova nde dsingue se das demas, com a Gi experi ras ae mondrquico em terras americanas, O Brasil seers pepe administrativa da Colinia, reforgada com , COM seus preconceitos que tanto contribuem fara mater wth srtura, marc pel oie pelo ata ai Corpo, no entanto, a hostilidade ao: antigo dominador, mar 25 primeiros decénios com sua lusofobia. A pregagho di romano Erp, ite de vang mp peat cs ek : ii « ficcionistas romanticos, que, ma linha geral corrente ce teratura pensamento, canta anova pti, jografia continua a ser praticada, como se viu no item anterior, fixando o- merior Sando primcio periodo. Meso anes de 1838 alguns 0 assinalivels, como se vera, mas configuram tum = ce hem diverso do dominante na Coldnia (10 caso. como noe demas, ¢ sempre difisl — senso imposivel — det. far com rigor uma data), Dai certa preearicdade no descjo de ate intelectual de entdo é morna, embo: maces la fosse fase de intensa ebuligia: de 1831 a 40 Hare neste se das faves mais vibrantes da vida nacional, oe a ereccet popular cm movimentos ‘ los, nao igualadas nem mesmo em jenhum momento pasterior, ; Instituto Histérico e Geogréfico Brasileiro tna Regéncia que se assiste a0 primeiro estar . esse pela historiografia, de real eficicia, com a pried tituto Histérice © Geogrifico Brasil leiro, «m 1838, importante na vida intelectual, entio © depois. nei ; — . Dai o alto sig x data, que a impBe como wim marco de nossa pe historia da historingrafla que modestamente inten ‘e-uma fase © 0 inicio de outra, embora reconhe- cariedade e a relatividde de todo esquema do género. Wit da ‘entidade deveu-se ao cénego Januirio da Canha o brigadeiro Raimundo de Cunha Matos, que a apre- ‘Sociedacle Auxiliadors da Indistria Nacional — 0 ‘eriado cm 1828, com atuagiio no campo da econo: mente na propagancla do aprimoramente teenoligico tura, pois a palavra industria é usada em sentido multe o significado comum de hoje. A proposta & aprovada 0 teve instalagio no dia 2 de outubro, "A idéia & bem respaldada pelo clima intelectual da época rasil © mesmo nos centros internacionais aos quais o pais Jo, sob 0 signo do romantismo. Hi no Instituto, no inicio, Seu primeiro secretitio perpétuo, Januirio TCunha Barbosa, & nativista exaltado, como se compreende proximidade da independéncia, quando se busea toda ¢ aquer afirmacio. Em palavras daquele fundador ha vivas re niycéncias de Rocha Pita, com seu tfanismo ingénuo € até clirante: a mancira da, Hiseéeia da América portuguesa, Januari fala na “grandeza de seus rios © baias, variedade e pompa de seus ‘vegetais, abundancia e preciosidade de seus frutos (.} constants © benignidade cle um clima, que fiz Fecundos os engenhas de nos: sos patricios Como o solo abengoado que habitam'”, Exalta rio s6 ‘anatureza, mas também ox homens. Os tragos mais notaveis do Jegio, no entanto, si0 0 pragmatismo da histOria e © gosto de pesquisa, Pretende-se fazer uma histéria que tena fungao pes .gogica, orientadora dos novos para © patriotismo, com base no modelo dos antepassadas. f o velho conceito da histéria como a mestra da vida que se cultua; Dai certa insisténcia em biografias de valtos tidos como cxemplares.

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