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A expansdo imperialista
0 luxo da Belle Epoque
A expressao Belle Epoque ("bela época’) sur-
giv no final da Primeira Guerra Mundial, mas
designava o periodo da virada do século XIX
para 0 XX. Para aqueles que atravessaram
2 guerra e assistiram & destruigao e as mor
tes provocadas pelo conflitos, a passagem do
século fora 0 periodo dureo, repleto de festas,
auge dos cafés, da moda e da efusividade bur-
guesa em Paris, Londres ou Nova York.
Grande parte do luxo da Belle Epoque era
resultado do imperiatismo europeu. Com a
expansao das relagies comerciais e a interde-
pendéncia econémica, a Europa podia receber
tecidos da Australia, cura e came da Argentina,
cha e porcelana da China, café da Colémbia edo
Brasil, madeiras da Birmania, algodao do Egito
e tapetes da India e do Paquistao. Todos esses
produtos custavam pouco, em comparaczo com
(0 precos dos industrializados, e chegavam 20
continente europeu de forma répida e dgil, nos
navios mercantes inglesese franceses
Lody Curzon, William Logsdai
6teo sobre tela, 1873.
Capitulo 6 0 imperialismo
como o Louvre, em Paris, ou o Museu Briténico, em
Londres, deparam-se com milhares de pecas pro-
cedentes da Africa ou da Asia: mémias, sarc6fagos, pedras
preciosas, escilturas, fragmentos de estatuas monumen-
tais. Por outro lado, quem visitasse, anos atras, o Museu da
Réplica, em Bagda (no Iraque), encontrava exatamente o
‘que o nome do museu prometia: replicas. As pecas originais
haviam sido retiradas do local pelos exploradores europeus
no séciilo XIX e XX.
Nos dois casos, trata-se de uma decorréncia do expan:
sionismo das principais poténcias europeias, entre 1870
1914. A economia do continente vivia, no periode, uma
situagio bastante complexa. De um lado, a inddstria e
a siderurgia expandiam-se. As fabricas aceleravam seu
ritmo, a produgao de carvao crescia e havia necessidade
de mais matérias-primas e de outras fontes de energia. Por
outro lado, as mercadorias produzidas em série dependiam
de mais ¢ maiores mercados consumidores. Economis-
tas e empresarios temiam a teducao dos luctos e a amea-
cade uma depressdo financeita. Entre as décadas de 1860
€ 1890, por exemplo, o preco da trigo caira bastante e os
vinhedos da Franca, atacados por fungos, haviam reduzt
do drasticamente sua capacidade produtiva. Em varias par-
tes, ocorriam temporadas de fome ea nova organizagao dos
campos gerava desemprego de trabalhadares rurais, que
buscavam as cidades e, muitas vezes, acabavam por emi-
agrar para a América.
Lideres politicos e empresarios passaram a enxergar
uma safda na expansio da economia europeia para outras
partes do planeta. Iniciava-se uma corrida por terras, maté-
rias-primas, fontes de energia ¢ mercados consumidores.
Em poucos anos, o Norte, 0 centro ¢ 0 Sul da Africa, assim
como amplos territérios no Sul e Sudeste asiaticos, foram
dominados e divididos pelos paises da Europa. Nas novas
colbnias, eles estabeleciam protetorados, impunham regras
protecionistas e controlavam mercados. Em alguns casos,
associavam-se is elites dirigentes locais eestabeleciam seu
dominio por meio da acao delas. Em outros, impunham-se
diretamente pela forca das armas e do capital. No inicio do
séeulo XX, um britanico chamado John Hobson dew nome
& expansio e ao neocolonialismo europeus: imperialismo,
O s frequentadores dos grandes museus europeus,