You are on page 1of 10
£ HABITAT ANDANGAS PELA PRAIA DE AMAR A LINA £ facil reconhecer a beleza e a grandeza das exposgbes realizadas por Lina Bo Bar- Gi(1914-1992), ao tempo em que ¢ dificil sceitar as formulagdes que supostamente as swstentam. Verdade que uma observa~ docomo estando deira de ser um truismo, ANDANCAS PELA PRAIA DE AMAR A LINA itdlica, marcada entdo pela atengéo para as formas culturais populares, tanto antes quanto depois da Segunda Guerra, sob o influxo de Antonio Gramsci (1891-1937) (© "nacional-popular’), das preocupagées artesanais de Gio Ponti (1891-1979) e sempre que nos aventuramos pelo campo do Giiema neorrealisla, por exemiplo, No" das ciagdes estéticas. Mas quero ir além Brasil, Lina aprimorou e aprofundou esse da banaidade genérica, para verificar em olhar. ‘Lina Bardi evoluiu para uma pes dose reading, dante da obra de Lina, a quisa aprofundada da realidade brasileira, maifestagdo de ambiguidades, equivocos « contradigdes no plano teérico ou refle~ tivo, que em nada diminuem o resultado estétco de suas realizagbes. Antes de ce- desde os aspectos fisicos aos antropolé- gicos’, escreveu Rogério Duarte (1939- -2016) em meados da década de 1960. E foi por esse caminho que ela afirmou sua lebrar 0s fetos da arquiteta, vou, por isso _leitura da nossa criagao popular no como ream, dressed prblomes da. “llores coo cura Aa, sua a” présis inabobardiana: 0 equivoco antropo- gem foi *o Nordeste”. Mas, se 6 verdade légico e 0 equivoco ideolégico - digamos ‘que devemos saudar 0 “olhar antropolégi- assim, esquematicamente. A aposta utd-. co" de Lina, também é certo que ele pede. picovideoligica ¢ visivel em sua obsessdo__para ser relativizado. Que é correto apontar, para fazer do artesanato popular nordesti- as lmitag6es de suas leituras, sublinhando “po_uma plalaforma de langamento do que_ que ela incorporou lendas ecolgica e an- “Gevera serum desenho industrial brasilei- tropologicamente insustentaveis. E 0 Nor- _t0.Jéa derrapada antropolégica acontece deste foi, sem duvida, a principal delas. 2m dois planos: na fantasia nordestina e, dentro desta, na incapacidade ou indispo- siglo para reconhecer objetivamente — € adiante tentar superar, multiplicando-as — a diferengas internas que caracterizam © entendimento meramente dualista daquela tealidade regional | Atormula “oharantropolégico" virou cliché ‘escritos acerca do sentir-pensar-tazer da arquiteta. Lina vinha da lala a prepara para isso, diamos. Sua vocacao antro- Polégica se desenhou ainda na peninsula Certamente, a definic&o do que seja o Nor- deste & muito mais poltico-administrativa do que qualquer outra coisa. De uma pers- pectiva geografico-ambiental, por exemplo, ~ 6 uma definigéo que carece de critérios. Que nao prima pela clareza, nem pelo ri- gor. Aqui, 28 configuragbes ecossistémicas podem ser simplesmente ignoradas. Eclip- . sadas por determinagées polticas. Basta refletir um pouco para reconhecer esas violagoes da geografia e das realidades ambientais. Em horizonte ecolégico, ecos- IMG. 53 Lina Bo Bardi durante as fima- ‘gens de A compadecide, 1968 ‘sistémico, a Mata Atlantica nao se interrom- pe bruscamente na regido de Porto Seguro, Ponta de Areia ou Mucur. Nao estaciona na fronteira da Bahia com o Espirito Santo. Pelo contrério, desce em dirego ao Rio de Janeiro e segue adiante. Se deste angulo é dificil aceitar a classiticagao do Recéncavo Baiano no Nordeste, mais complicada ain- da 6 a inclusdo ai da regido de Trancoso e Arraial Ajuda. Da mesma maneira, 0 cer- rado conecta 0 oeste da Bahia ndo a0 Re~ cconcavo, mas ao Planalto Central do pais. E a mesma a paisagem que hoje cobre fa- tias de Goids e a zona atualmente também conhecida pela sigla Mapito, agregando 0 sul do Maranhao, 0 sul do Piaui ¢ 0 norte do Tocantins, fazendas onde viceja a soja. Em outro extremo, as terras frescas do Maranhio, antes que se vincular ecologi- camente ao Raso da Catarina ou ao agres- te pernambucano, por exemplo, ligam-se naturalmente ao mundo amazénico. E enquanto 6 literal é reino de arvores fron- dosas, a caatinga, com seus cactos, toma conta de vastas extensdes interioranas. Mas passemos do ecolégico ao antropo- 60, Ficou célebre a contraposigao feita “por Euclides da Cunha (1866-1909) em Os sertées,* livvo onde, por sinal, nunca encontramos a expresso “o Nordeste": de um lado, o sertanejorantes-de-tudo-um-for- te — de outro, 08 mesticos neurasténicos do litoral,vivendo parastariamente a beira do Atlantico. Euclides via a autenticidade ‘como uma espécie de marca registrada do sertéo, a0 paso que teriamos um Brasil (© HABITAT DE LINA BO BAROI ANTONIO RISERIO. 1. Vina das edges mais recentes ese cdsico da iteratura basi leis € CUNHA, Bulides da. Or sens. Eig eae oganizaston

You might also like