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A Demografia ea Estratégia: uma prospectiva para o Século XXI* Tensente-Coronel Jo2o Jorge B. Vieira Borgest™ Nao existe maior riqueza, nem maior (forga do gite os homens,” Jean Bodin A- Introducdo A -Onlem de Yalta’, caracterizada peia Guerra Fria entre as duas superpoténcias. EUA e URSS, pela “guerra :mproviivel e paz impossivel” de Raymond ron, foi o periodo de exceléncia da Pattégia da Dissuasio, em que esta buscava essenciaimente as melhores formas da jo-guerra © a gestio das situagdes de cnse. Era, apesar de tudo, uma Ordem estavel. pois conheciam-se as amezcas, avaliavam-se os iscos, mediam-se as forcas e previam-se as reaccées. A populag20, como factor de poder, perdeu entio a sua importincia zncestral, devido a0 “equilt brio de terror" proporcionado pela bombs nuclear. * Versio adapiada da ligio inaugural proferida na lecivo de 1998,99 da Academia Militar (2: conferéncia sobre © mesmo tema na Sociedade ce Geografa de Lisboa ‘Da Arma de Anuharia, com Curso de Esado-Maior (AEM, 1993/94) e Mestrado em Estatégi (ICSP. 1996). £ Professor da Academia lta, sendo regente das eadeiras se Relayde> Intemacionais, Elementos de Estatéza e Geografia Miltare coordenador do Grupo Discipinar de Comando e Estrategia Miiar. 1 Ver em Raymond Aron, Paz c Gusta entie 2s Nats, Editora Universidade de Brasilia, 2 Ed, 1983. -ménia de abertura solene do ano 8). Em_O%Mar99 fol proferida 628 Revista Militar ‘A queda do Muro de Berlim, ocorrid= em SNov19R9, marcou simbolicamente o fim dessa Ordem, e passimos, desde entdo, a viver num perfodo acelerado de transi¢io, para aquilo que poderd vir a ser uma Nova Ordem Internacional, mas que. entretanto, nao é mais do que uma “Desordem Mundial" ou, como Ihe chama Gérard Chaliand, uma “Seiva das Nagées"®. Em termos da natureza e concep- ‘sho politica dos Estados, passimos a viver num “sistema homogéneo", em que a maioria éas unidades politicas “cultiva” a democracia tipo ocidental e a economia de mercado, num sistema politico interna- cional “unipolar de hegemonia nao arrogante"?, protagonizado pelos UA, 2 caminho de um sistema multipolar, mas com um peso substan- cialmente maior dos restantes actores internacionais, com destaque para as Organizagées Internacionais, para as Pessoas Colectivas nao Estaduais e para as Pessoas Singulares*, Nesta transi¢io, caracterizavel como da idade das redes, onde tudo se criza, destacamos alguns slementos geradores de tensio’ a grande velocidade e complexidade das mudancas, as tensdes sociais € conflitos regionais de média e baixa intensidade (motivados por raz6es de ordem territorial, étnica, politica € religiosa) especiaimente nas instaveis zonas do Sul; © crescimento em ntimero e importincia das operacées de apoio a paz; o crescimento das ameagas globais, como o terrorismo internacional e a proliferacao de armas de destruicao maciga, ou outras no essencialmente militares como a droga, ¢ a degradagao do ambiente; 2 expansio dos meios de comunicagao de massas, com a ruptura do monopélio estatal da informagio € a penetraglo das fronteiras nacionais € pessoais; a globalizacio das relagdes, dos acontecimentos € dos problemas; 0 aparecimento de tendéncias supranacionais que podem condizir @ formagao de novas unidades politicas mais vastas (grandes espacos); 2 Gérard, Chaliand, aac Suategique, Editions Complexe. Pats, 1994, p.1. 3 Depoimento do General Cabral Couto as suas ligdes do Mesttado em Estrategia no 1scsP, 4 Aeste respetto, recordemos a “let da complexidade crescente da vida interna Clonal’, enunciada pelo Prof. Doutor Adriano Moreira. na linha do pensamento de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), a qual comporta dois prinetpios fessenciais: © principio da dispersio, que dit espero a muliplicagao dos een- {tos de decisto, publicos e privados; eo principio da convergencia, que corres onde ao aumento qualitative © quantitavo das relagdes entre aqueles centros (Chr, Adriano Moreira, Cigncia Politica, relmp., Coimbra, Livraria Almedina, 1992, p. 405). A Demografia e a Estratégia 4 crise das ideologias e o renascer dos fundamentalismos; ¢ a explosio demogrifica, com a consequente urbanizagio e o acentuar das dife- rengas entre os mais ricos € os mais pobres. Na pritica, os novos fluxos ttansnacionais — econémicos, culturais, humanos e tecnol6gicos — que escapam, em maior ou menor grau, 20 controlo dos Estados, contri buem para volatilidade, incerteza e inseguranga do actual Sistema Politico Internacional, e para a necessidade de repensar novas nodes, como as de Fronteira, Nagao e Soberania, e novos valores, como o de Familia, Seguranca e Etica, ¢ para aquilo que Poirier designa de “crise dos fundamentos” da Estratégia e mesmo da Politica, Com este enquadramento do Sistema Politico Internacional, toma-se dificil prospectivar® o século XX1, 0 qual seri fundamen- talmente analisado até ao ano 2025. enquadramento importante numa Prospectiva da relagao entre a Demografia e a Estratégia, Entre os Varios cendrios do futuro Sistema Internacional optimos pelo equi- librio das poténcias, defendido como mais provivel por Henry Kissinger: ~O sistema internacional do século XXI serd caracterizado Por uma aparente contradicao: por um lado, fragmentagio; por outro, Blobalizagio crescemte, Ao nivel das relagdes entre Estados, anova Ale XIX do que do modelo rigido da Guerra Fria, Incluirs. pelo menos. seis poténcias: os EUA. a Europa, a China, o Japio, a Russia ¢, provavelmente, a India, bem como uma multiplicidade de paises de tamanho médio € mais pequenos...~. O crescimento populacional que se tem desenvolvido nos iltimos anos, dle 1,6 para © 0 que se Prevé para os prximos anos, cerca de 9.4 bilides em 2050°, a um ritmo diferente nas grandes regides do globo, criari uma heterogeneidade demogrifica tal, que poder alterar. durante o século XXI, as relagées 5 Segundo Michael Godet, consiste em nio encarar 0 futuro apenas como o proionga- mento do passado, dado que ¢ cada vex mais miltiplo ¢ indeterminado, Tudo age sobre tudo, nada mats igual em parte nenhuma e impde-se uma visto global. A Drospectiva milita a favor dessa previsio slobal, quanttativa © mulipla em futuro 6 Ver Luis Mota, “Evolicio do Sistema Internacional” in Janus $8, suplemento especial, p.18-19. 7 Henry Kissinger Diplomas, p17. 8 Nagdes Unidas, Simacio da Pepulacto Mundial = 1998, FNUAP, Nova York, 25411998, 630 Revista Militar de poder ao nivel das relagoes internacionats € as posig0es relativas dos paises. A preocupacio com este crescimento da populagao mun- dial, que tem como referéncia hist6rica 0 “Ensaio sobre o Principio da Populacio", de Thomas Robert Malthus’. voltou a renascer neste século, como atestam as diferentes conferéncias mundiais sobre populacio, realizadas sobre os auspicios da ONU, em Bucareste (974), no México (1984), no Rio de Janeiro (1992) € no Cairo (1994). © objectivo final destas conferéncias centrou-se invariavelmente na "busca do equilibrio entre a populacio e os recursos ¢ entre a proteccio do ambiente ¢ o desenvolvimento econémico". Quest6es como 0 envelhecimento médio da popula¢io dos paises desenvolvi dos, 0 aumento “explosivo" da populacio em paises subdesenvolvi- dos, a degradacao do ambiente e a alteragi0 do equilfbrio da dependéncia. a crescente concentragio da populaco mundial em reas urbanas e a nova geopolitica demogrifica’®, que divide a “Cidade Global"! em duas partes distintas. serio origem provavel de novos factores de conflito no século XX1 Segundo Hervé Le Bris™, “ fico substitu Deménio Atémico” apés a queda do muro de Berlim, Nao tendo uma Postura to drdstica ou redutora, abordaremos, de seguida, as ‘consequéncias para a Estratégia da evolucio demogrifica prevista pelas NU para o século XXI, nas seguintes perspectivas: ~ A Demografia como “Instrumento” da Estratégi; ~ A Demografia como “Objecto” da Estratégia; ~ A Demografia como “Explosor” da Estratégia; ~ Da importincia do estudo da “Estratégia Demogrifica” > Publicado em 1995, ert manMestameme Conu 2 vendéncis mullipicavs da rs Inumana, com 2 base de que 2 terra, 20 contrinio das pessoas, nio se podla ‘muliplicar. Condit que a divergénciaireconcilivel entre as bocas« © alimento 86 pode ter um resultado: a maionia da humanidade viveria sempre presa 3 miséna, 10 Ver Oscar Soares Barata, “A nova Geopolitica Demogrific", in Anais do ISNG. Nov, p. 11 11 Onde todos se preocupam (teorcamente) com todos, mas onde poucos assumem uma postura actva na resolugto dos problemas. 12 De letura obrign ra 2 sua obra jutulada Os Limites do Planeta: Mios da Natureza ‘ Mundo vivem em Cidades. £ 0 caso de 60% dos habitantes de Caleuti e de 64% dos de Guater (50.000 em Londres e 10.000 em Pars, 38 Ver Teoria das Relacdes Intemnacionais. 39, Ver Desafios para o Século XX1, p42. A Demografia e a Estratégia favorecimento da utilizagao de armas quimicas, as “armas nucleares dos bres" : Assim. as grandes cidades continuarao a ser o palco preferido das minorias (fruto da contradicdo entre a actual solidariedade e 0 nao reco- nhecimento dos povos a um territério), para, mais protegidas, usarem 4s aceio terrorista Como tiltimo recurso no sentido de manifestarem o seu desagrado, em local onde sabem que a probabilidade de serem detec- tadas é muito mais baixa. crescendo das policias ¢ a redefinicto das suas missdes, sera um facto nos préximos anos, do mesmo modo que imperara uma idgica de cooperacio internacional, que diminuira necessariamente a soberania dos Estados e contribuiri para novos conceitos de fronteira, a bem da comunidade internacional. IDADES ] POPULACAO POPULAGAO, 1995 (ailhdes) Toquio 26959 | =Squio 25887 México 16382 _| 2ombaim 26.218 Sto Paulo 164 30 Paul Now York 16332 | ohaka 19.26 Bombaim 15.138 | Sarachi 19.377 Osska 14.060 | stexico 19.180 Nangai 1348 | Rode janeiro | 19 tos Angeles | 134 Sang 17969) cated 2 Nowa York 17.602 Buenos aires] 11.802 | cuteust 6 Lisboa 1,863 | Lsboa 2271 Figura 2~ As 10 maiorescidades do rund em 1995-2015 (Fonte: ONC? As politicas demogrificas que foram aconselhadas no Cairo visa- vam que os Estados motivassem as suas populagdes para as cidades ‘menores ou para. campo. Aqui, o papel da Estratégia -preventiva’ € ‘mais ao nivel da luta contra as consequéncias, no dmbito da coopera¢ao Revista Militar enre as policias dos diferentes Estados e, em especis no reforco das acces anti-terrorstas. (© crescimento global, por nao ser uniforme, orgina, por outro jado, crescimentos diferenciados em diferentes regides do globc, que levam, inevitavelmente, a disputas pelo espaco neios bens, num Desequilibrio Demogrifico perfeitamente materiiizivel entie os paises industralizados, em geral do Norte, e os paises em desenvolv mento ou menos desenvolvidos®®, em geral do Sul, Os paises do Sul que. de 1998 2 2025, serio resporsiveis porcerca, de 95% do aumento populacional, passario para uma relacto de 8/1, fem 2025, relativamente aos paises ricos do Norte. Continente jricano, que em 1950 correspondia metade da popuiacdo europeia, jgualou a deste Continente em 1985 (cerca de 480 milhdes), prevendo-se ue, por volta do ano 2025. seja duas vezes superior 1.15 bilies para ~01 milhoes", alterando significativamente o mapa demogrifico mun- dial, com naturais consequéncias em termos das relache: de poderentre ‘continentes ¢ paises (figura 3). Por outro lado, 0 IDH™ coloca de novo nos dez tiumos paises do Mundo, 10 paises africanos. © nos 10 primeitos, outros tantos paises industializados do None. situacio que agravari, pelo menos no inicio do préximo século. os fluxos demogrificos Sul-Nore, dado que 1/3 dos of Este cenério, de uma explosio populacional num dos lados do giobo € uma explosio tecnolégica no outro (figura 4), nao constitu: uma boa receita para 2 estabilidade da ordem internacional do século XI Esperemos que as palavras do presidente Bournedienne. quando, a este propésito, afirmava que “um dia, milhdes de homens originirios das regides pobres do Sul avancario pelos espacos acessiveis do Norte, 4 procura da sobrevivéncia... e estes milhdes de homens 440. Reconhecidos pelas WU como paises de rendimento baixo e que defrontam obsticulos de longo prazo ao crescimento econdmico, em panicularniveis baxos de rerunsos ‘humanos para o desenvolvimento humano e fraquezas estraturas graves. E nao fora a implosio da URSS e os dads reais corresponderiam 20 trplo (Europa ‘com pouco mais de 500 milhdes). Ver Nacbes Unidas, A Siuncio ds Papalacio ‘Munim 1995, pg 67 274 42 Indicador do desenvolvimento humano, medido através da esperanca de vida, nivel educacional e rendimento ajustado 43 Bassma, Kodmani-Darwish, Au-Deld de Io Conférence do Cairs.p. 633, 4 A Demografia e a Estratégia nao iro como amigos”, nao se venham a concretizar, pelo menos no que concerne & conflitualidade®. ecko | r800%) [1900 | 1950 [seem | 202500 _| 2100 EUROPA re ee | = Oe oe ara [ano | wn) AMERICA Nowe sos | 9 [6 | sons | 3655) 0 ‘AERA ta [190 [| w9s89 | censor 05 is G6 [3 [ar | ssmemsy | oeinca | ore “arnica ren |e zasasn [sean [a5 (OCEANA 202) 6 9505 | a705) a TorAL v4 [ess [iste [59298 | aosga | ante Figura 3~ Exolugdo da Populagdo ( e %) por Continents entre 1800 ¢ 2100 (Powe: ENUAP 98 ¢ José Nazareth, iuredusao a Demograjia. p40) Para este € para os restantes problemas globais decorrentes da evolucio demogrifica 0 século XXI teri de encontrar solugdes globais, como tem sabido fazer neste final do século XX. No entanto, e tendo por base os dados das NU, ¢ de prever que as migracdes aumentem durante o século XXI, 20 longo de uma linha, que passaremos a denominar do Desequilibrio Demografico, entre o Nonte, rico mas velho, € 0 Sul, pobre mas jovem*”, materializada®: “44 Jeun Claude Chesnais. “Histoite et venir de mouvemente dee populations" P18 45 Virios autores entendem que a acwal pressdo migratéra dos palses subdesenvol- idos do Sul em relagio ao Norte & comparivel 3s invests ealizadas pelos povos birbaros contra o Império Romano, desde o xéculo Ill dc. até a0 séeulo Ve Aste respeito, é aconselhivel a leitura do Wvro L-Empire gt les nouveau bathatrs, de Jean-Crixophe Rufin 46 A panic de 1998, os Estados que sucederam & URSS estio agrupados nas resides existentes.O Leste Europeu inclui o Belarus, a Federagao Russa, Moldavia e a Ucrinia. Asia incluia Arménia, o Azerbali2oe a Geérgia. Asia Centro-Meridional inclut o Caraquistao, o Quirguizisto, 0 Tajiqustio, o Turcomenistio e 0 Uzbe- ‘quisto. Enire paréntesis mantém-se os valores da Federagio Russa, como rele 47 No esquecendo, apesar da sua menor dimensio, os flxos Norte-Nore (ex: Europa e Leste-Europa Ocidenta, bem como os fuxos Su-Sul (ex pales pobres da Aiea ‘Austral-Afriea do Su. 48 Jean Claude Chesnais. Op, Cit, p. 652 oa! Revista Militar = Na fronteira natural do Rio Grande, que separa a América do Norte, mais rica, da América Latina, relativamente pobre e com taxas de natalidade elevadas; ~Na zona do Pacifico, 0 Japao, a Austrilia € a Nova Zelandia, contrastando com os vastos territ6rios superpovoados da India € dos paises asidticos a Sul da China e da Federagao Russa (menos acentuado pela insularidade do Japio); - No Mediterraneo, que separa a Europa rica, com as suas popu- lagbes envelhecidas, do Norte de Africa, do Médio Orierte e da Asia, com a sua instabilidade politica ¢ econémica e a sua ex- plosio demografica, de longe 0 desequilibrio mais acentuado. is | 265 [won | pms | Pop | op |rmices| soo | aoe | tor 1958_| ams ‘Toul Mundial x» [es [os [ever [so] oon [ir Fries mais Docwvoios | uss | un? | 9 | mere | um] ian | me egies pono decits [25 | 5 | @ [ous [inal saw [om epics mens desemnoies | 26 | s | mo | soon fos pus | as ‘Figura 4 ~ Desequilorios Demogrdficos entre Sul ¢ 0 Norte (Fontes: LE1at du Monde 1998; Relatério FRUAP 98) 2. © Sul — Pobre mas Jovem Os Paises em desenvolvimento, que representam cerca de 80% da populacio mundial, continuam a apresentar taxas de crescimento anual médio de 2% (no Ruanda a taxa de fecundidade € de 85 filhos por mulher), valores elevados da taxa de mortalidade infantil (superiores a 62/1000), elevados indices de analfabetismo, 40 % de jovens, 3% de idosos e um PIB per capita, que raramente ultrapassa os 1000 délares. A percentage elevadissima de jovens, € derivada 2 elevada fecundidade dos tltimos 25 anos, prevendo-se, para as proximas duas -décadas, um “fluxo" temporirio de populagao em idade de trabalhar, ‘que aumentaré muito mais do que os grupos constituidos pelos dependentes idosos ¢ jovens. Este “bénus demogrifico", segundo as INU, dé aos pafses a oportunidade de acumularem capital humano incentivarem o desenvolvimento a longo prazo, se investirem na edu- A Demografia e a Estraiégia casio, no emprego € nos servigos de satide (tal como no Leste Asid- tico até meados de 1990 - com os Dragdes do Oriente ~ agora Ga- tinhos!y®, Se associarmos 0 “excesso populacional" (em relagio aos recursos ¢ 2 capacidade tecnol6gica) aos baixos IDH, constatamos que, no século XXI, a Demografia continuard a provocar disputas pelos recursos, o exacerbar de tensdes étnicas ¢ a instabilidade social, factos que levario a continuidade da explosto demografica em direcci0 a0 Norte. Estes conflitos e guerras, salvo melhor opinido, nao serio necessariamente provocados para eliminar 0 excesso de populacdo, mas derivam do mesmo, em associagio com outros factores, tais como as divisoes étnicas, religiosas ¢ racials ¢ a itracionalidade das lutas pelo poder. Se a nova geracio de jovens do Sul nao for orientada nos moldes Preconizados pelas NU, pode tornar-se numa forga perturbadora a nivel interno ¢ externo: ~ A nivel interno, pela conflitualidade social que pode degenerar em guerras internas, em funcao do desequilfbrio econémico, do desemprego, da fome © da miséria ~A nivel externo, pelo eventual aproveitamento dos governos para satisfazerem politicas expansionistas, ou decorrentes de fluxos demograficos, na busca de uma vida melhor em direcg30 0 Norte ou aos paises mais ricos ou mais estaveis politicamente, quer como refugiados (constituem ~ 27,4 milhoes em 1995 ~ um fisco real da extensio de crises locais, desestabilizando os paises de acolhimento, e contorando involuntariamente as Estratégias de limitago dos conflitos que os ocidentais tentam impor)*®, quer como emigrantes. 49 Ver NU, x a. 30 Ceves de 20.000 Chutas ou Curdosfcaram afastados das suas temas apés 2 guerta o Golfo; em Africa, 250.000 refugiads do Ruands, sobre um total de ? mihoes de Pessoa, passaram a fonteira da Tanzinia num dia e milhsres de outros frem pars © Burundi; um milo de pessossfugiram da Somilia, em consequénca da guers ivi, Todas estas stuages aumentam a frogilidade das fronteras nacionais. 0 que a2 com que os confitas regionais possim estender-se rapidamente ¢ sem eontela o Estado, Dai o empenhamento de todos, desde os Exados, A Organizaydes lemacionais, as organizagbes privadas, até a0 nilcleo bisico da sovedade, a familia. fee Revista Militar ‘As migragdes, que apresentam pera os paises de partida mais van- tagens do que desvantagens, levam a cue a maioria destes paises sejam coniventes com as acgdes da populagic, As consequéncias traduuzem-se na melhoria da sua situagio econémica. seduzindo a relagio populagao/ /tecursos e recebendo elevados dividenéas econémicos (poupanca, inves- timento e divisas) dos seus emigrantes. na maior facilidade de comércio om 0 exterior. na ctiagio de grupos de pressio nos paises economica. mente desenvolvidos e em mais pontos de apoio de relages entre os dois paises. A desorganizacio do tecido econdmico, © desperdicio de capital econdmico, a perda de capacidade de trabalho e a transferéncia de ideias, de competéncias € de tecnologia em favor dos paises de panida, sic, ormalmente, descuradas pelas consequéncias a médio e longo prazo, No eentanto, € necessirio ter em atengio 0 fezémeno transnacional em si, pois, ‘elativamente aos imigrantes ilegais que atravessam regularmente © Me terrineo “1 ‘i vidos a0s paises paisa is : Segundo Bouthoul, mais jovens sanifica mais delinquéncia_ mais ‘dade de haver guerra. Estas comunidades, na sua lta pela sobrevivencia, Rormalmente sem classe média e em equilfbrio politico precio, sto ‘muito vulneriveis & acco de messianismos politicos e religiosos, base fundamental para politicas expansionisas, para guerras civis © pars as uerras civilizacionais de Huntington. Assim, pensamos que o crescendo das Forcas Armadas, ea manutengao do sistema de conscriglo, continwart 8 constiuir a solucio da maioria dos govemnos do Sul, no’ sentido de colmatarem as lacunas do desemprego © da instabilidade social, e para atingirem objectivos e aspiragdes politicas de cardcter expansionista, A Estratégia directa e ofensiva continuari a ser a alternativa para os problemas internos, encoberta por crescentes sofismas religiosos®"~ Das palavras aos actos, a distinciz tem sido grande, como retrata ‘magistralmente José Saramago: “A Africe, onde a humanidade nasceu — desfaz-se em sangue e visceras espezinhadas, mirra-se de fome ¢ de miséria extrema, apodrece ao abandono, perante a impaciéncia mal dis. fargada do mundo que continuamos a chamar de “culto e civilizado’®? 51 Caso de paises como o tro (513,000 militares), o Vietname (572.000), a Coreia do Nome (1.054.000) e o Paquistio (387.000), 52 in Revista Visi, “Afia", 1349098, p98, A Demografiae a Estratégia Se devidamente controladas, estas migracées podem também mi i tensdes, tal como aconteceu enquanto a Europa foi um Continente de emigrantes, como que num sistema de vasos comunicentes, mas desde que nao s¢ corra o risco de tum choque de civilizagdes do tipo descrito por Samuel Hugtinton’3. Uma solucdo passa pelo apoio da comunidade internacional aos paises menos desenvolvidos no sentido de os ajudar 2 explorar 0 *bnus demogrifico", incentivanco o desenvolvimento a longo prazo na educacdo, no emprego e nos servicos de satide™. Outra solugio passa pelo assumir das entradas de emigrantes, por vezes necessirias, com estabelecimento de cotas ¢ 0 incremento de accbes dle cooperaca0 Nonte-Sul. E cada vez mais imponante prevenir estas situagées, pelo Que, a Estratégia tem aqui especial acuidade 3. O Norte = Ric Os paises industrializados representam cerca de 2 3 mundial, um crescimento natural igual a zero, uma mortalidade infantil reduzida (inferior a 9: 1000), uma baixa percentagem de jovens (menos que 18%) ¢ elevada de idosos (aumentou de 8 para 14 %, desde 1950, € espera-se que alcance os 25% até 2050) e um PNB/capita quase vinte Xezes superior ao dos paises menos desenvolvidos. De acordo com os liltimos dados do FNUAP, nos paises desenvolvidos. e nos proximos 35 a a Wdlia®>, Este envelhecimentoda populacio ¢ as taxas de crescimento negativas, sindnimo de desenvolvimento, colocam os Estados em situagdo de relativa fraqueza’S, pois perdem mao de obra e talentos, 53 “Os principais conflitos futuros resultirio do confromio entre as civilizagdes" Considers ainda que. a semelanca di Europa, os EUA esto perante uma seis ameaga & sua identidade polis. representads pelos imigrantes “hispnicos © n80 brancos’. Ver. “The Clash of Gviliztions, Foreign Affais. vol 72. a3, py 22-9, 54 ASIDA que no ano 2000 ters cerca de 40 mies de infectdos, a maloris dos quais fem Africa e na india e Tailindia, poder afectar a esperanea de vida nessas tegibes, fem valores globais que podem stingie os 2.2 3%. 55 NU, pe 11-13, 36 Aste propdsto, Hitler. em 1924, no seu “Mein Kamp’, reforcou a imponincia do avelhecimento da populacio francesa e a baixa considerivel do seu peso relative ‘92 Buropa, destacando que a Nacio francesa estava em vias de se tomar "mega" saz Revista Militar sendo obrigados a investir em satide e seguranga social, com con- sequéncias a0 nivel do crescimento econémico a médio € longo prazo, (Os primeiros efeitos do envelhecimento da populacto fazem-se j sentir no dominio da protec¢ao social, principalmente no que respeita as pensdes de reforma, mas também no sector da satide. Outra questio diz respeito ao previsivel futuro desequilfbrio entre pessoas activas (que de acordo com a UE poderd diminuir entre 2005 ¢ 2015 em cerca de 2,15 milhdes de pessoas) e nio activas, pela consequente afectag4o a0 financiamento, a organiza¢ao da protec¢ao social, € a0 funcionamento do préprio mercado de trabalho, passando a solugio por uma maior qualificagao. da populagio activa, por um maior investimento na tecnologia, por uma maior divisio do trabalho, pelo investimento em politicas de natalidade, pelo aumento da idade de reforma, por um maior empenhamento da mulher na sociedade ou mesmo por fazer apelo & imigraclo organizada. E imperioso investir na satide e na seguranca social, sob risco de ‘se agudizarem, no futuro préximo, conflitos sociais que para além dos idosos atingirio aqueles que prospectivam uma fase final da vida, longa, € “cor-de-rosa’, apesar dos encargos fiscais e outros sacificios que vio fazendo. (© problema dos fluxos demogeificos do Sul tem suscitado e conti- nuaré a suscitar durante 0 século XXI, tenses acrescidas, derivadas das diferengas culturais, 20 nivel do racismo e da xenofobia, identificiveis nos guetos das areas urbanas (verdadeiras linhas de desequilibrio demogrifico a nivel interno), onde proliferam as disfuncdes sociais ‘como a droga e a criminalidade, e também da luta pelo emprego, que levam a que 0s imigrantes sejam vistos como usurpadores dos postos de trabalho dos nativos. E 0 aumento dessas disfuncdes poderd estar 3 espreita de uma crise financeira, da recessio econdmica, do aumento do desemprego, ou de uma maior adesio aos valores nacionalistas, em funcdo do cansago das politicas liberais cada vez mais monétonas no seu discurso (vide nivel de abstengao nas eleigdes dos paises desenvol- vidos). "As migragdes em larga escala levantam a questi da falia de controlo das fronteiras nacionais e da soberania, do medo da alterago €inica, do medo de novos habitos culturais, de novas formas de vida, de normas religiosas que invadem o patrim6nio, do sistema educacional € 08 beneficios sociais pertencentes e pagos pelos nativos, no fundo, © A Demografia ¢ a Estratégia medo da maioria se tomar numa minoria, Estes receios, crescentes na Europa, tém relacio directa com valores de estrangeiros, ji elevados em alguns paises (caso da Alemanha com 8 milhdes de estrangeiros — 10% do total), que constituem verdadeiras “col6nias interiores" e que podem actuar como contra-sociedades. Poderdo ainda levar a que as minorias possam influenciar a prépria decisio politica. E 0 caso da possibilidade do voto dos emigrantes, que podera criar guetos oficiais, e da decisio relativa a intervencoes militares no estrangeiro, por parte de paises com ‘0 peso significativo de emigrantes oriundos de um povo, etnia,religiio ‘ou raga (caso da Franca na Argélia ou da Alemanha na Turquia) No caso da Europa, que ja foi o “distribuidor’ de emigrantes para tedo 0 Mundo, € fruto dos niveis elevados de imigragio dos tihimos anos, 0 Islio é jd a religiao de 2/3 dos emigrantes no comunitirios, tendo-se tornado na 2 religito da Franga (7 milhoes de fiéis) & frente dos protestantes e dos judeus, tal como em Itilia, em Espanha, no Reino Unido, na Belgica (Bruxelas € a capital da UE e do Islao europeu) e nos EUA. Esta alteragio do mapa religioso, em funcio dos fluxos demograficos, poderd vir a ter repercussdes imprevisiveis ji no prOximo século. Tal como os europeus europeizaram © Mundo nos séculos XV a. XX, poderemos assistir no século XXL através da “revolucsiodemogrifica". ‘ag “islamizar* do Mundo. No entanto, € importante que os ocidentais io busquem rapidamente na ameaca islimica um substituto para a ameaga soviética sob pena de passar a ser de imediato explorada por extremistas nacionalistas que procurem colher dividendos politicos com discursos hostis & imigragio, tal como temos assistido na Africa do Sul, nos EUA, na Alemanha e em Franca. Portugal, como Pais mais periférico do centro, com cerca de 9.8 milhoes de habitantes e uma didspora de cerca de 4 milhees, viveu uma grande aceleragio demogrifica nas tltimas décadss, de modo que apresenta, neste final de século, valores normais para um pais desen- volvido (com excepgio da baixa urbanizacio e da elevada taxa de alfabetizagao), Para além de um envelhecimento ripido da populacio, Portugal sente as efeitos dos fluxos demogrificos, pois desde 1993 que passou de pais de emigrantes para um pais de imigrantes (a maioria de Africa ~ e dos PALOP). Com uma populacio agricola abaixo dos 10% e quase 60% da populagio a trabalhar nos servigos, a tendéncia natural sera para a aproximacio As grandes cidades do litoral, na linha Setuibal- -Braga, onde jf se sente o desemprego, a violencia, a inseguranga, a dro- 2,2 doenca, os sem abrigo, os guetos, a fome ea solidio, com destaque B Revista Militar osu para Lisboa € Porto, cujas areas metropolitanas concentram cerca de 40% da populacio total. Por outro lado, em face das taxas de crescimento negativas dos ultimos anos, dos cerca de 110.000 cidadaos recrutaveis (recenseados masculinos) anualmente para as Forgas Arma- das, nos anos 70 € 80, nao temos hoje mais do que 80.000 jovens, o que, em parte, teri também contribuido para a evolugao para um tipo de servigo militar semi-profissional e profissional e para 2 opcdo pelas mulheres. E a situaglo agravar-se-A nos prOximos anos, pois 2s pre- visbes para 2008 apontam para valores da ordem dos 60.000 cidados recenseaveis masculinos™ e para um envelhecimento de tal maneira rapido da populagao portuguesa, que estaremos entre cs paises mais envelhecidos do Mundo, dentro de dez a quinze anos®®. Torna-se assim, importante para Portugal, a realizagio de estudos de ambito local, regional e global, no sentido de melhor defender os seus interesses © objectivos politicos. Da fronteira dos servicos, destacamos 0 Mediterraneo, onde o crescimento demogrifico regional ‘até 2025 (Figura 5), da actual vantagem dos paises europeus rela- tivamente aos do Norte de Africa. de cerca de 23,2 milhdes actuais, passard a uma desvantagem de 56,5 milhdes, em apenas 27 anos. SO este dado quantitative indicia desde logo a necessidade de Portugal, sm-conjunto coma UE. equacionar Politica « Esuaiégias demogrificas, i a ambit frontciras da seguranca, em que a UEO ea OTAN serio umbém papel sslevante, © controlo dos conflitos decorrentes dos fluxos demogrificos crescentes no século XXI passari pela diversidade dos fluxos ¢ pela adapcio de uma politica generalizada e concertada de cats, no sentido de se controlar a evolugio da populagto em cada uma das regides Gonte € Sul) € 0s respectivos conflitos. Aqui, © papel das politicas demograficas € fundamental, do mesmo modo que se toma crescente a necessidade de Estratégias demograficas, em face da oposi¢io de Posturas ¢ independentemente do objectivo global que constitui o equi- liprio entre a populacio e os recursos ¢ entre a protecciia do ambiente © 0 desenvolvimento ecandmico, do Pélo Norte a0 Polo Sul, 57 De acordo com dados da DRisboa, os valores de cidadios recenseados(ves) ‘masculinos ho: 1977-104,360; 980-111 180; 1984-112.540; 1985-99550; 1990-96.000; 1998; 87.617; 2000-77.599; 2008-60.104 50 Antonio Barret, Tempo de Mudanca, p37. A Demografia e a Estratégia E importante ter em atengao que a conflitualidade no Mediterrineo no 56 no sentido norte-sul, mas também no sentido sul-sul e mesmo leste-oeste (especialmente apés a implosio da URSS)®, Em termos tericos uma sociedade com pouca populacio ¢ muitos ‘dosos tem menor probabilidade de apresentar disfuncdes sociais ¢ menor propensio_pam_a_guera, em face do menor niimero de potenciais ‘conscrtos para as Forgas Armadas ¢ de uma menor capacidade laboral para alimentar a guerra. No final da Guerra Fria, a RFA, em fungio da previsio dda reducio em 30% dos cidadaos, em 1990, equacionou a alteragio do sistema de recrutamento ¢ do tempo de servico militar, no sentido de fanrantir a eficiénein da Estratégia da “defesa avangada” da OTAN. Paises ‘Sap Pop Terese Pop | DHOS)| cui Kmz)_|__ca998)__ | (1995-2000) | (2025) Mundo_ 149000__|_ 5929.8 14 8039.1 AFRICA 30335 | 778.5 26 1453.9 Marrocos rae eee 399 | 125, Maun 130 | 25 26 61 | 9 Argélia a ae 23 473 a2 Tunisia i | 95 19) oe 83 Libia 1759 | 6 33 wo | Egipto oes 2 958 [uz | sig 215.5 EUROPA 10498, 294 ° 701.1 Feng 547 03, oa 2 ea 3011 372 e si7 | 21 Espanha 5048 398 mn 375 | Portugal ga_| 98 2a 94 33 [3655 159 Figura 5% — Valores demegrdficas para os paives do Mediterineo 1998-2025 (Fonte EVUAPOR 6 Bat di Mondo 99) 59 Ver Alvaro Vasconcelos, “As culturas no debate Weologico'.in Janus 9, cuplemento especial, p.20-21, 60 Adaptado de la Violence cui Vient, de Erie de La Maisonnewve, p. 9. Revista Militar Esta situagao tem dado, e dard origem, no século XX1, a alteragoes Profundas no sistema de recrutamento das forgas armadas dos paises Gesenvolvidos, no tempo de prestacio do servigo militar e no aumente 2 percentagem das mulheres na instituigio militar. A solugao tem Passado por es, por uma profissionalizacio Ponnale. pelo maior niimero de mulheres nas Forcas Ammadas, a que Portugal ndo se pode alhear. Fara 0s Paises do Norte, 0 “explosor”€ de alguma forma indirecto, ado que se cria um “vazio de populasio", explorivel pelos paises Contiguos com excesso populacional e com menores condigdes de vida, Por outro lado, pode constituir também um “explosor” directo, na ‘medida em que estes paises, no sentido de equilibrarem o seu poder, tomam, normalmente, outro tipo de 6 tas, como a 2 RO Ambito de uma postura ‘estratégica normalmente defensiva e indirecta, E ~Da importancia do Estudo ou “Estratégia Demogrifica” Jf Alfred Sauvy escrevia, repetidamente, nos seus artigos de opiniio em varios didrios franceses que, para os politicos, a temilica das Politicas demogrificas s6 levava perda de votos, pelo que, © sea esudo reflexto continuaria a ser obra de poucos, especisimente quando a Histéria nos diz que Malthus foi o homem mais odisdo de século XVIII, mesmo mais do que Napoleio. No ‘entanto, contra factos no ha argumentos, pelo que a evalugdo demogrifica prevista pelas NU constitui um desafio a somu. nidade internacional e 2s estruturas tradicionais do poder, no sentido de lidarem com os grandes fluxos demogrificos, as taxss de fersly ade abaixo do nivel de substtuicio, as ameagas globais, ete. Assim, r fificas ao nivel da montalidade, da natalidade ¢ dos movimentos demogréficos, v ti fincia, como 0 prova o relat6rio da Ultima

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