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su oionane® 107 A ALTERIDADE COMO EXPERIENCIA ORIGINARIA: O DESAMPARO! 1990), Sacqueline de Oliveira Morcina® x epor Resuwo presente artigo visa contrapor as leturas que preconizam uma perspectivaidentitria no Prjeto para noma priclogiacentifica((1895] 1974) ‘com uma dimensto altriéria. Acreditamos que a alteridade apresenta-se no texto freudiano como experiéncia origina. Palavtas-chave:aleridade; dentidade; desamparo. Ansrract [ALTERITY AS ORIGINARY EXPERIENCE: THE HELPLESSNESS penpectve in Project for a Sciemtfic Pychology ({1895] 1974) as an alterity dimension. We believe that alteriy ie prevented inthe feudian tec as oiginary Keyword ns helpleanes Tia, fila comigo, estou com medo,~ Mas de que t Quando alguém fale, flea mais cl Algumas leituras consagradas sobre 0 Prajeto revelam que as his, Fotha primeiras formulagées freudianas acerca do aparelho psiquico ¢ do k + Psicdloga; Mestre em Filosofia (UFMG); Doutora em Psicologia (PUC-SP)) de 2004 de 2004 Professora da PUC-MG/Betim. 108 eduautne 9 Cuvee Morena processo de recordasto privileg xfo que relaciona a impossiblida memsria teprodutiva, meméria g m a petspectiva identitétia. A refle ade do ato criativo com a teoria da que visa identidade entre lembranga ¢ realidad, representa um exemplodess tipo de leita, No Proj, ecordar equivale a reproduzir uma expetincia vivenciada; x6 sere. corda aquilo que de fato existiu, Hé uma i ntidade entre recorda- Si0 eealidade; em termos freudianos, o processo de recordagdo visa Perceptiva. O pensamento a da excitagao através do reconhecimen to da identidade perceptiva com a vivéncia 9 reconhecimento da identidade eprodutivo aspira & descarg portanto, 0 pensamento reprodutivo encontra-se sob a é fio. Esse primeiro movimento do aparetho psiquico em diregdo 20 reinvestimento, a catexia da lembranga do objeto, Freud como desejo. Todavi ide do processo primé- Cn €nomeado por la, a fixaglo nesse modo de funcionamen: to preconiza a morte do aparelho ps{quico, Serd necessdria do ego como um dispositivo inibid aparelho p acriagio dor do processo de alucinagio. iquico deve buscar uma indicagao da qualidad dew para diferenciar a percepsio da lembran xia de dese realidade proveniente d jo que investe a lembranga, conduzindo 3 alucinagio, visa a identidade percep: va € escoa.a energia livremente no interior do aparelho; enquanto que as catexias provenientes do cu buscam as indicagves de realidade, visando uma identidade de Pensamento, e esse Fi pelo eu Processo é designado como secunditio. Para td, os processos de pensamento sio processos cle deseo inibidos icamente guiados visando 0 stabelecimento de um estado de identidade “O pensamento cognitivo ou judicativo rocura uma identidad om uma catexia corporal, 20 passo que 0 Pensamento reprodutivo procura uma identidade com a catexia pst. quica do proprio sujeito” (Freud, [1895] 19; 49). O ponto de ergéncia entre pensamento reprodutivo e pensamento judicative a busca pela identidade; portanto, o pensamento es encontro com a identidade. Freud enfati a servigo do no Projeto a finalidade dentitéria do pen: i le do pensamento, 0 igncia zar a passagen reprodutiva, p dutiva’, Além as no nivel da tum proceso d parece ser 0 po de uma pritica que trabalha ni Ocu surg tira vivencia de ria como respo objetivo tleimo podemos negar realizar outras b Um estu freudismo parec mite repensar 0 cologia cien ceridade A sity (1997), éa processo alucina defesa & presenc eclipsada pelo d rantir sua indepe defend via alucinagio. £ horizonte da fil pretacio, a auro; fechada Prbranga bProjeto, ‘A nciaoe ow ore oxcaden: 0 sswartoe 109 var a passagem da teoria do trauma real, da teoria da meméri reprodutiva, para a hipdtese da fantasia ea teoria da meméria pro dutiva?, Além das implicagdes tedricas que circundam a distingio entre meméria produtiva e reprodutiva, temos, ainda, conseqiiénci 25 no nivel da pritica, pois podemos pensar a interpretacdo como tum processo de criagio ou de desvelamento. O que esté em jogo Parece ser o posicionamento quanto ao trabalho analitico: a defesa de uma pritica identitéria reprodutiva ou de uma prética alteritiria que trabalha na diregio das cons ge para inibir o processo de alucinagio, que visa repe tira vivéncia de satisfagio através da estimulagao do trago de memé. tia como resposta ao desprazer provocado pela fome, sendo que 0 objetivo tltimo é a identidade. Essa é uma leitura possivel, mas nao podemos negar a riqueza do texto freudiano e a possibilidade de iar outras leituras aparentemente contraditérias, Um estudo sobre as figuras de alteridade no interior de freudismo parece-nos bastante pertinente. O “Outro” no é um tema ntte Outros, mas um operador de leitura, um dispositive 4) mite repensar o texto freudiano a partir de uma estrutura dialégica Assim, encontramos no préprio texto do Projeto para tema psi cologia cientifica as primeiras formulacbes freudianas sobre a alteridade. A situagio primordial do desamparo revelao apelo origi nitio a0 outro. Apelo que, segundo a interpretacéo de Schneider (1997), é amordagado e silenciado pelo objeto de satisfagao e pelo processo alucinat6rio que ocorre no interior do aparelho, como tn defesa a presenga do outro. A intuigéo ficudiana do desampato seria eclipsada pelo desejo de garanti ao sujeito independéncia. Para g rancirsua independéncia, 0 psiquismo, visto como uma interioridade fechada, defende-se do Nebenmensch, buscando uma saida solipssta via alucinagao. Schneider propoe uma leitura do Prajeto a partir do horizonte da filosofia de Lévinas, mas patece-nos que, em sua inter- Pretaséo, a autora nao permitiu que o horizonte evinasiano produ zisse no interior do texto freudiano um movimento que petmitisse revelat outros sentidos, outras possibilidades de leitura A autora, 140 eStcausne 06 Ouse Moning em sua interpretacio, parece-nos prisioneira da concepeio hussedin de conscincia intencional e, a partir dessa perspectiva, visaia vin cular 0 texto do Projeto &s problemdticas identicérias da filosai moderna cléssica No entanto, na nossa perspectiva, mesmo quando buscaa sl da alucinatéria, 0 apatelho jé foi tocado pela dimensio da aleridade Esse aparelho psiquico que, como interioridade fechada, tenta,¢ Principio, via alucinagao, responder aos seus desejos deve confton ‘arse com a experiéncia constitutivae traumatizante da presengady outro. E 0 outro-pessoa que se oferece como outro-objeto para re ponder ao mal-estar, sendo que 0 desejo aparece como a busca dese objeto mediatizado pelo outro, mesmo no processo alucinatsra, Freud, no Projeto para uma psicologia cientifica, 20 tratar da vivencia de satisfagio, revela-nos que o enchimento dos neurbniog nucleares em y ter como conseqiiéncia um esforco de eliminacig instaurando, pois, um verdadciro estado de urgéncia. O grto, o chor © a agitacdo motora constituem a primeira via de descarga desas uurgéncias; no entanco, essa alteragio interna no é suficiente par reduzir a tensio. As urgéncias de vida s6 desaparecem mediante uma asio espectfica. Todavia, 0 recém-nascido nio tem condigées motors, nem de linguagem, para realizar a agio especifica, anunciando, a sim, a dependéncia de um outro. Freud chama de individuo expeti ente a ajuda externa que surge a partir da percepeo das alteragbes internas do recém-nascido © ponto de partida da experiéncia de satisfagdo & 0 mal-esta interno provocado pelo enchimento dos neurdnios, ou, em uma lin- guagem menos neuroldgica, as urgéncias de vida. A idéia de enchi mento dos neurdnios e necessidade de eliminagio desse quantum energético revela-nos a filiagio freudiana a fisica energética de sua época. O desejo de aceitasao, que conduz Freud na diregio da cién cia, dos preceitos cientificos ¢ metodolégicos, determina o modelo metapsicoldgico. A problematica energética, dindmica e t6pica e assentada nos moldes positivistas’ e em um modelo de observacio herdeiro da gue ele foi servagio equi século XIX.# da ciensifidd ‘exigéncia de} peitada. Aco, cia depender| no modelo ¢ uma ciéncia mensuriveis amente, a «re psicologia solucionanda ca do projet interdico kan ‘uma forte inf atquanetlal i: filosofia Bo choro mp dessas ral-estar lin- Kec enchi- guanrsem A arene como reba ous: 0 ston 111 herdeiro da fisiologia, da neurologia ¢ da anatomia, disciplinas em que ele foi cientificamente formado. Os procedimentos como ob- servasio e quantificagio constituem a fonte do sucesso da ciéncia do século XIX. A psicologia, no anseio de conseguir o selo de garantia da cientificidade, deveria integrar a dimenséo quantitativa assim, a exighncia de quantificasio deveria ser, ainda que formalmente, res peitada. A conquista da cientificidade, por parte da psicologia, pare cia depender da neutralizacio da objecio kantiana que, apoiando no modelo da matemitica, afirma que a psicologia néo pode ser tuma ciéncia explicativa, Os fendmenos psicoldgicos no sio mensuriveis, nfo possuem extensio espacial, desenrolam-se inter namente, sfo submetidos, portanto, apenas ao tempo. A alianga en- tre psicologia efisiclogia visaria responder’ exigencia de mensuracio, solucionando, assim, a contestagio kantiana. A dimensio econémi- «ado projeto metapsicolégico freudiano parece estar vinculada 20 interdito kantiano de uma psicologia cientifica. Fechner representa uma forte influéncia em Freud, 0 que denuncia a preocupagio com a quantidade, com a economia da energética psiquica. Segundo Laplanche e Pontalis (1970), as frmulas energéticas presentes no texto freudiano respondem as exigéncias do meio cientifico do sécu- lo XIX de estender & psicologia e3 psicofisiologia os principios mais gerais da fisica, No Projeo, 0 principio energético apresentado é 0 da inércia neurdnica; os neurdnios tendem a esvaziar-se,livrar-se da quantidade de excitagio, sendo que 0 modelo de inspiragéo é 0 do arco reflexo. Mais tarde, por imposigao das urgencias da vida, Freud que conceber uma modificagio do prine{pio de inércia e desen- volver a idéia de um princfpio de constincia. O prinefpio de inércia neur6nica‘ilustra o modo de funcionamento do processo primério, Jesignando a circulasio da energia livre, ¢ 0 principio de constincia refere-se a0 processo secundério, 20 funcionamento por energia li- gada. A idéia de descarga aponta indubitavelmente para a influéncia dos modelos fisicalistas na formagio de Freud, Os neurdnios tendem a se desembaragar das quantidades, aquilo que Freud designa como “Prine(pio de inércia neurénica” rato wxcaaltnco, Ro 08 Jae, v.36, 107-123, 200 112 eacouasneo¢ Oxia Mone, ip der Neuronentritgh tou Thgheitsprinzip), optando pelo te mo Tragheit, que significa inércia e que evidencia a influéncia fisicalista, Entreranto, no podemos deixar de mencionar que aidéia dei ia conflita com a perspectiva da biologia e que por isso, em Freud, teremos uma variagéo desse principio geral da fsica. F neces. sério que 0 aparelho acumule um capital energético para ser utiliza 4 do no processo de administragao das urgéncias de vida, E essa leitue '@ consagrada, que denuncia a presenga do cientificismo fisicalista no pensamento freudiano, esconde uma aura especulativa, Assoun (1983) revela-nos que Fechner, referéncia explicita de Freud, formu {a 0 programa da psicofisica a partir da leitura do Zendavesta. Pode ‘mos acrescentar a esse clemento 0 fato de que o antecedente do con ceito de energia é a idéia de forsa presente no romantismo ¢ filosofia schopenhaueriana. Em Schopenhauer (s/d), a “Vontade’ é © principio dltimo de todas as coisas. A *Vontade” nio pode ser uma ‘coisa”, uma “res”, pois & 0, uma pulsfo, uma energia vital, A Vontade”, gundo Schopenhauer, se manifesta em graus lidade ou de bjetivacao distintos, que vio do reino inorganico, das forcas primitivas da natureza, forcas fisicas e quimicas, até o mais alto grau de objetivacéo, que ¢ 0 homem, passando pelas plantas e animais. Cada grau de objetivacao da “Vontad supera o anterior, ido suas caracteristicas essenciais. Assim, encontramos no homem graus infimos de objetivasio da “Vontade”, como as for 2 fisicas ¢ quimicas (Moreira, 1996: 30). A fontade” seria o prin lpio energético de todas as coisas n, as teses schopenhauer fornam-se convenientes ¢facilmente assimilaveis para o pensamen to fisicalista do meio cientifico do século XIX Essa Icitura sobrea influéncia do modelo fisicalista na dé freudiana ¢ verdadeira e pertinente, mas contemplaro texto apenas na sua objetividade ¢ privilegiar uma leicura explicativa que pode talizar as proposig6es e, assim, perder 0 seu significado atual. A perspectiva compreensiva contempla o texto como um “movimento vivo” que reatualiza problemeticas vireuais, Desta forma, pretendemos refletir sobre as figuras de alteridade convocadas pelo A express uma forma de quanto quea i Mas seri com a faz sua entrada freudiana sobre dimensio fisica do texto, prevale concebido como rece com a idéia como resposta necessidade. Mai um meio de con vivencia de satis psicolégico dessa Ogrito, 0 ses do prinelpio do proprio aparel de escoar a energi tratade uma miq © principio de ir preender os proce Vida exigem uma mesmo, de produ: e simbélica. O ree realizar uma agiot dade neurolégica alimento. Além di indefinida do mal; 0s para tradwireiy Kinfluencia esa leitu fsicalisea 0 prin. ‘sme cove erences 0 woes 133 oor emus elo “rio” daquele que vive uma situagzo de urgencia, ivy e7mos neutolégicos, um enchimento dos neurduiae A expressio “enchimento dos neurdnios contin © leitor a * Jorma de pensamento percencente 20 univer da fisica, en. de necessidade o aproxima do munde biolégico. seri com a concepeio = urgtncias de vida que problematica faz sua entrada no terreno Psicol6gico. Assim, na formulacso freudiana sobre a vivéncia de satsfigto, oc Zo imbricadas tanto a dimensio fisica e biolégica quanto Psicolégica. Na escruturacso do texto, prevalece a problemdtica frien, ois 0 aparelho psiquico é modo de subjetivacdo de Nadir se inscreve atta sa da ang A morte é sempre prematura, anterior a toda linguagem, des | Wvincia da dor invoca, acidentalmente, 0 outro, que vem resta jetividade humana Etico (Lévinas, [19 afirmacao levinasia ecessitio respond €m meu socorro p; 11989) 1997; 194), impossibilidade de. Movimento de respg elementos implicade pectiva da moi ilimitada. Nas palav decisio, & eleico para (Lévinas, [1968] 199; © horizonte ley compreensio da afirm set humano é a fonte [1895] 1974: 32). Par ressa um naturalismo tir a acio especitica BEncia biolégica, surge Que nessa vivéncia estac €2. O outro responde a U1 s¢ja, 0 outro-pessoa téncia do outro-abstrato da solidio que 0 assomt enda 0 choro e 0 grito ¢ mano. Essa trama existe anterioridade logics. O 5 sibilidade pelo outro pre to me socorre, oferecend © no seu auxilio, produz laperiente Aquele [A srouaoe como arena ous: © aesnrnce 119 uum socorro curativo. Segundo Lévinas, 0 sofrimento é 0 né da sub: jevividade humana € 0 ponto mais clevado do supremo principio ico (Lévinas, [1982] 1997: 133). Nesse sentido, compreendemos a afirmacdo levinasiana: antes de se constituir uma identidade, faz-se necessirio responder pela falta e morte do outro, quando ele vem ‘em meu socorro para apaziguar a minha prépria morte (Lévinas, [1989] 1997: 194). A morte expressa concretamente para mim a impossibilidade de abandonar 0 outro na situagio de desamparo. O movimento de resposta ao desamparo do infens faz.com que os dois elementos implicados na relagio sejam ctimplices na propria pers- pectiva da morte. Esse temor de morte, que ameaga 0 cu, 0 Outro, € até mesmo 0 eu nao constituido, é o principio da responsabilidade ilimitada, Nas palavras de Lévinas, “o eu €aquele que, antes de tod: decisio, é eleito para carregar toda a responsabilidade do mundo” (Lévinas, [1968] 1997: 93), © horizonte levinasiano possibilita-nos uma nova forma de compreensio da afirmagio freudiana de que o “desamparo inicial do ser humano éa fonte origindria de todos os motivos morais” (Freud [1895] 1974: 32). Para Gabbi Jr. (1991), a colocagfo de Freud ex pressa um naturalismo ético. © recém-nascido é incapaz de produ- air a agio especifica que elimina a tensio interna, Diante dessa ur- géncia bioldgica, surge 0 ausilio do outro-pessoa. Mas percebemos que nessa vivencia estao em jogo outras dimensbes além da biologi ca, O outro responde a partir de sua posigao no mundo simbélico, ‘ou seja, 0 outro-pessoa tesponde a partir do conhecimento da exis téncia do outro-abstrato. Seu socorro revela a face oculta da morte e da solidio que 0 assombram, fazendo, assim, com que cle compre- enda o choro € 0 grito como expressbes da vulnerabilidade do hu: mano, Essa trama existencial coloca a problematica ética em uma anterioridade I6gica. O passado ¢ irredutivel ao presente, a respon sabilidade pelo outro precede a constituigao da identidade. O Ou tro me socorre, oferecendo tum outro-objeto, porque feme a morte ¢, no seu auxilio, produz um excedente de significincia, tendo em raneorsicataLmen, Rio Jato v.36, 07-123, 2006 120 dice v¢ Ouvens Moran vista que 0 eu ainda nio existe, € pura passividade, O excedene insere 0 eu no circuito da divida eterna, a sua responsabilidade pelo outro €anterior & deliberagio racional da consciéncia intencional A passividade como origindria revela que 0 para-outro é anterior a9 para-si. © ponto de partida no é a consci cia objetivada, mas sim a “relagio” entre a alteridade e a “ndo-consciéncia”, a pura passivida de. No cuidado com a crianca, 0 outro a constitu, inaugurando, pois, o campo da moralidade através da divida e do trauma. Aid constituigdo entre 0 eu € 0 outro remete-nos & posicio laplancheana ia de uma passividade originaria na relacio de cuidadoe acerca da teoria da seduca pois Laplancheafirma que A ‘generalizagio’ que propomos se coloca, portanto, eantes de sob a forma de um questionamento cedrico. 1 primeiro fund: mento é mesmo muito precisamente filoséfico: uma 1 gato passividade” (Laplanche, 1988: 117) A sedugio nio seria uma pura realidade factual (Rea! do binémio ativida ama efetividade (Wirklichtei) necesséria para a constieuicSo do sus jeito. A percepeo desse faro denuncia a pass sem da concepglo de tum pai factualmente seduror para a teoria da sedugdo generalizada, ‘operada pela fungio materna. “A sedugio € af veiculada pelos cuida aplanche (1988): 116). o sedutores porque veicu- dos & cian dos corporais prod os cuidados da me para com o infi Jam o enigma do desejo inconsciente do adulto, ou seja, a mae res ponde ao grito e socorre com seus sedutores cuidados, porque vé na crianga o espelho de si mesma. A pessoa experiente auxilia a crianga desamparada, pois escuta 0 choro no interior do seu préprio eu, na medida em que reconhece a castragio representada pela figura do coutro-abstrato. Nesse sentido, a mae reatualiza na experiéncia da crianga sua prépria infancia, introduzindo, pois, a figura do outro: narcfsico. © pequeno prematuro espelha 1.0 outro 0 duplo de si ‘mesmo, ou seja, sua prépria falta, Sera essa cena que possibilitard.ao infans uma im: gem integrada de si, colocando-o, pois, na trilha da relagio edipica rat #SIANAL IC, AO BE JMO, ¥.36, 7107-123, 2004 (CONSIDERAGOES FINA forinho”, diante do ench fo nada; tudo que visa « festado anterior de paz de pulsio de morte, que do organismo. A hips partir do conceito de sujeito fica condicionac outro, que oferece um: para além da descarga necessidade fundamen {0, modificando o prit constincia. O outro-f cendo-se como outto- mento do sujcito. No ional do de ere aravcssado pel ador da falta de ser. ? busque uma nova sali efeitos. E, por fim, ar dade como condicio para xctual para uma REFERENCIAS BIBL! Assoun, P-L Imago. __—. Freud, S.( Em Obra Gabbi Je, 0. (1991 andlise. (pp. ‘rons cono pbx ose: o eeswato® 124 ConsIDERAGOES FINAIS Na experiéncia de stisfacio, a méquina psiquica do ‘premaru- rozinho”, diante do enchimento dos neur6nios, busca o esvaziameno mada; tudo que visa & livar-se do excesso energético ¢ volar 20 sstado anterior de paz do nada. Esse processo preconiza 0 conceit te pulsio de morte, que€ reelado como a tendéncia mais prima do organism. A hipsteseinicial do desamparo é ressignificada 2 partir do conceito de pulsio de morte ¢, assim, 0 nasciment do vi ceo fica condicionado & presenca taumatizance eestrucurance do suero, que oferece uma sada alternativa para o excesso energetic, pata aém da descarga. O.conceito de pulsfo de morte aponsa para 2 prcessidade fundamental do outro a fim de garantir a vida do sujet fo, modificando o prine(pio de inércia em ditecio a0 principio de eisnrincia, © outro-pessoa aparece na cena do desamparo, ofere- ‘endo-se como outro-objeto ¢ possibilirando, desse modo, 0 nasci- mento do sujeito. No entanto, esse Outro-pessoa que socorTe 0 FTO vjo-intencional do desamparado s6 0 faz porque esti permanente mente atravessado pelo outro-abstrato ¢, assim, reconhece no choro dor da falta de ser. Mesmo que apés essa experiéncia 0 premaruro pusque uma nova sada soipsss, a presenga do outro jf produri afeitos. E, por fim, a mudanga da teoria da sedugio como uma rel dade factual para tima efetividade psiquica coloca a presengs do ourro como condigéo para a constituigdo do sujeito REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Assoun, P-L. (1983). Introdusio 2 epstemologa freudians. Rio de Janie Imago. ANS Freud, S. (1895/1974). Projeto para uma psicologia cientifica Em Obnas completa, ESB, . \ (pp. 303-410). Rio de Janeiro: Imago. Gabbi Jr, 0. F (1991). Meméria e desejo. Em Prado Jt, B. (0 da pricanie (pp. 165-179). S80 Paulo: Brasiliens 122 «rcouaveo€ Ouves Mousa, Laplanche, J. 8 Pontalis, J. B. (1970) Janeiro: Imago. Laplanche, J. (1988), Teoria da seducao generalizad Alegre: Artes Médicas Lévinas, E. 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Figura de de Doutorado, Departamento cia Universidade Catdlica de Séo Pau heridade no pensamento freudiano, Te Psicologia, Ponti * Sobre a mudanca na teoria da meméria ver: Gabbi Jr, 0. F. (1991) ‘Meméviae desea. Em Prado Jr, B. (org). Filasfia da pscandlive (pp, 165. Sio Paulo: Brasilense freudiana i ‘cassfo sob morte rp | fisdusio ‘A remo coma rte oad: 0 saree 123 * Remeto oeitoraolivro Assoun, P-L. (1983). Intraduto &epitemologia freudiana, Rio de Janeiro: Imago. Ness livro pode-se encontrar uma dis- cussio sobre a relagio do freudismo com os preceitos positivisas, O principio da inércia neurénica parece preconizar a idéia de pulsio de morte como busca do nada, do esvaziamento, Ness sentido, a pul de ‘morte representaria 0 modo de funcionamento primdrio. Poderfamos, assim, pensar na alucinagfo ¢ na sexualidade livre como expresses da pulsio de morte? Recebido em 29 de abril de 2004 Aceito para publicacéo em 26 de maio de 2004

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