You are on page 1of 16
JOSE CARLOS BARBOSA MOREIRA Professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Desembargador (aposentado) do Tribunal de Justiga do Estado do Rio de Janeiro TEMAS DE DIREITO PROCESSUAL (Nona Série) 2007 (AD Saraiva SUMULA, JURISPRUDENCIA, PRECEDENTE: UMA ESCALADA E SEUS RISCOS* 1. Introdugio. 2. O moderno direito brasileiro. 3. Eficdcia vinculante na Constituigdo da Repiiblica e na Emenda Constitucional n* 45, de 2004. 4. Os novos projetos de reforma do Cédigo de Processo Civil. 5. Uma visdo panordmica. 6. Observagoes finais. Tem variado bastante entre nds, ao longo dos anos, o peso da juris- prudéncia sobre o sentido em que deve julgar o juiz. O velho direito lusi- tano conheceu a figura dos “assentos”: um colegiado de Desembargadores (a “Mesa grande”) fixava 0 entendimento que se devia dar a determinada ordenagiio, e que se inscrevia no “livro da Relagao”, “para depois nao vir em divida”. Daf em diante, o magistrado que deixasse de observar aque- Ie entendimento sujeitava-se até a ser suspenso’. O instituto subsistiu por muito tempo: consoante o art. 2° do Cédigo Civil portugués, “nos casos declarados na lei”, poderiam os tribunais “fixar, por meio de assentos, doutrina com forca obrigat6ria geral”. Esse dispositivo, contudo, foi revo- gado pelo Decreto-lei n® 329-A, de 12-12-1995. No Brasil imperial, o Supremo Tribunal de Justiga tinha competéncia para “tomar assentos para a inteligéncia das leis civis, comerciais e crimi nais”, quando na respectiva aplicagao ocorressem “dtividas manifestadas por julgamentos divergentes”. A Reptiblica nao recolheu esse legado; em * Publicado em Rev. Dialética de Dir. Proc.,n® 27, Rev. de Dir. Renovar, n® 31, Rev. Sintese de Dir. Civ. e Proc. Civ., n° 35, Rev. de Dir. do TIRJ, v. 64, Juris Plenum, n® 4, 1. Ord. Fil.,L. I, T.V, § 5°. Sobre a forga dos assentos da Casa de Suplicagio, vide 08 Decretos de 4-2-1684 e de 20-6-1703, bem como 0 § 6° da Lei de 18-8-1769. Na dou- trina patria, cuida extensamente do assunto Ropotro pe Camaro MANcuso, Divergéncia jurisprudencial e stimula vinculante, 2 ed., S. Paulo, 2001, p. 206 ¢ s. 2. Consolidacdo das Disposigdes Legislativas e Regulamentares concernentes a0 processo civil, de Risas, aprovada pela Resolucdo de 21-12-1876, art. 156, § 3%, cuja parte final remete aos Decretos n® 2.684, de 23-10-1875, e n® 6.142, de 10-3-1876, 299 todo caso, na Constituigiio de 1891, 0 art. 59, § 22, determinava que a justiga federal consultasse a jurisprudéncia dos tribunais locais, quando houvesse de aplicar leis dos Estados, e vice-versa: as justigas estaduais deveriam consultar a jurisprudéncia dos tribunais federais, quando Ihes coubesse interpretar leis da Unido. Na verdade, a jurisprudéncia nunca perdeu por completo o valor de guia para os julgamentos. Ainda onde se repeliu, em teoria, a vinculagio dos juizes aos precedentes, estes continuaram na pratica a funcionar como pontos de referéncia, sobretudo quando emanados dos mais altos érgaos da Justica. Em nosso pafs, quem examinar os acérdiios proferidos, inclu- sive pelos tribunais superiores, verificard que, na grande maioria, a funda- mentagao da singular realce & existéncia de decis6es anteriores que hajam resolvido as questées de direito atinentes & espécie sub iudice. Nao raro, a motivagdio reduz-se & enumeracao de precedentes: o tribunal dispensa-se de analisar as regras legais e os princfpios juridicos pertinentes — opera- do a que estaria obrigado, a bem da verdade, nos termos do art. 458, n° IL, do Cédigo de Processo Civil, aplicavel aos ac6rdaios nos termos do art. 158 —e substitui o seu proprio raciocinio pela mera invocacao de julgados anteriores. 2. O MODERNO DIREITO BRASILEIRO A evolugao recente do direito brasileiro, no particular, teve marco importante na criag3o, em 1963, da Siimula da Jurisprudéncia Predomi- nante do Supremo Tribunal Federal. Inspirava-se ela no propésito de atenuar 0 cronico problema da sobrecarga de trabalho da Corte Suprema —e, indiretamente, do Judiciério como um todo. Normas regimentais atribufram efeitos relevantes & incluso de uma tese juridica na Stimula; ela chegou a influir na questo do cabimento do recurso extraordinério, na época em que o Supremo Tribunal Federal se viu constitucionalmente autorizado a regular a matéria: assim, as restrigdes a que se submetia o cabimento nao prevaleciam nos casos de divergéncia entre a decisao im- pugnada e a Stimula’. Embora nenhuma disposigao legal conferisse eficécia vinculativa as proposigdes insertas na Siimula, ela veio a exercer, na prética, enorme 3. Vide, por exemplo, o art. 325, n° Il, do Regimento Interno, na redagao da Emen- dan? 2, de 1985. 300 influéncia nos julgamentos, quer de jufzos de primeiro grau, quer de tri- bunais. Nao foram freqiientes as sentengas € acérdaos que se animaram a discrepar de alguma tese constante da Stimula. Juizes havia, e ndo s6 na primeira instancia, que se limitavam a aludir & Svimula como fundamento de suas decisdes, se bem que a rigor, insista-se, semelhante referéncia nao satisfizesse 0 requisito legal (e depois constitucional) da motivagao. Epena que nao se haja tomado a iniciativa de colher dados e elaborar estatisticas, a cuja luz se pudesse medir objetivamente o impacto produzido pela ins- tituicdo da Svimula na quantidade de processos e na respectiva duragio: como séi acontecer entre nds, e sem embargo do juizo favordvel que pre- dominou nos meios judiciais, ficamos imersos na penumbra do impressio- nismo — ignorantes, v. g., do niimero de recursos extraordinérios arqui- vados por decisao do relator, porque contrdria & Svimula a tese do recor- rente, ou da diminuigéo do tempo empregado pelo Supremo Tribunal Federal para julgar os recursos que remanesciam. O anteprojeto do Cédigo de Processo Civil, de autoria de ALFREDO Buzaip, intentou ressuscitar o mecanismo dos antigos assentos. Resolvido © incidente da uniformizagao da jurisprudéncia, a decistio sobre a tese juridica tomada pela maioria absoluta dos membros efetivos do tribunal — do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal de Justiga, conforme se tratasse, respectivamente, de norma jurfdica federal ou estadual —, seria obrigatria enquanto nfo modificada por outro acérdao proferido na mes- ma forma. Caberia ao presidente do tribunal, em obediéncia ao decidido, baixar assento, que teria forga de lei 45 dias apés a publicacdo oficial (arts. 518, 519 e 520, pardgrafo tinico). Tal sistemética foi criticada em sede doutrinéria, antes de mais nada por inconstitucional. O projeto abandonow a solugdo dos assentos com forga de lei e deu & matéria nova feigao, ins- pirada na Srimula do Supremo Tribunal Federal e conservada, com altera- ges de pormenor, pelo Congreso Nacional. Todavia, o expediente da uniformizagio de jurisprudéncia, regulado nos arts. 476 e s. do Cédigo, jamais alcancou a desejada eficiéncia; e outro tanto se pode afirmar, j4 ‘agora & luz da experiéncia de alguns anos, do mecanismo introduzido no art. 555, § 1°, pela Lei n® 10.352, de 27-12-2001, Reformas sucessivas, levadas a cabo por diversas leis, foram acentu- ando, com intensidade crescente, o valor da jurisprudéncia, paralelamen- te alargando — registre-se a latere — a competéncia do relator para apreciar, sozinho, a matéria sub iudice. A Lei n® 8.038, de 28-5-1990, tornou-o competente, no Supremo Tribunal Federal ¢ no Superior Tribunal 301 de Justica, para negar seguimento a pedido ou recurso que contrariasse, “nas questdes predominantemente de direito, Stimula do respectivo tribu- nal”. Sobreveio a Lei n®9.139, de 30-11-1995, que, mediante alteracao do art, 557 do Cédigo, estendeu aos tribunais em geral a atribuiciio de com- peténcia ao relator para negar seguimento a qualquer recurso “contrério & stimula do respectivo tribunal ou de tribunal superior”. Novos e largos passos daria no mesmo sentido a Lei n® 9.756, de 17-12-1998. Fez ela competente o relator, em certos casos, no apenas para “negar seguimen- to” a recurso, quando “em confronto com stimula ou com jurisprudéncia predominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal ou de Tribunal Superior”, sendo para dar-lhe provimento, por deciséo monocra- tica, sempre que a recorrida se achasse “em manifesto confronto com stimula ou jurisprudéncia dominante do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior” (arts. 544, § 3%, e 557, caput e § 1*-A, na redagao dada pelo citado diploma legal)'. Também autorizou o relator do conflito de competéncia a decidi-lo de plano, sempre que exista “jurisprudéncia do- minante do tribunal sobre a questo suscitada” (pardgrafo tinico acrescen- tado ao art. 120 do CPC). 3, EFICACIA VINCULANTE NA CONSTITUICAO DA REPUBLI- CAE NA EMENDA CONSTITUCIONAL N° 45, DE 2004 Compreensivelmente, sobe de ponto a preocupacio com a uniformi- dade em se tratando de matéria constitucional. Jd ndo representa novidade a atribuicdo de eficdcia erga omnes e vinculante as decisées do Supremo Tribunal Federal, proferidas em aco direta de declaragao de constitucio- nalidade ou inconstitucionalidade de lei ou de outro ato normativo®. A 4, Sobre toda essa evolucdo, Baknosa Moxeiks, Algumas inovagdes da Lei n® 9.756 ‘em matéria de recursos civis, in Temas de Direito Processual (Sétima Série), 8. Paulo, 2001, p. 71 e s., espec. 73/5, ¢ Reformas do CPC em matéria de recursos, in Temas (Oi- tava Série), 8. Paulo, 2004, p. 143 e s., espec. 150/1, trabalhos aos quais remetemos 0 leitor, inclusive para a critica da terminologia imprépria e, em geral, da deficiente técnica legislativa empregada nesses diplomas. 5, Vide o att, 102, § 28, da Constituigao da Republica, acrescentado pela Emenda Constitucional n® 3, de 17-3-1993, o art. 28, pardgrafo tinico, da Lei n® 9.868, de 10-11- 1999, eo art. 10, § 38, da Lei n® 9.882, de 3-12-1999. Mesmo antes, quanto & ago direta de declaragao de inconstitucionalidade, que preexistia, sempre se entendeu que a decisio do Supremo Tribunal Federal produzia aqueles efeitos. Cf., agora, 0 art. 102, § 2°, da Carta Federal, na redagaio dada pela Emenda Constitucional n® 45, de 8-12-2004. 302 Emenda Constitucional n® 45, de 8-12-2004, engendrou novo mecanismo vinculativo, por meio de acréscimo & Carta da Reptblica, da qual se toou o art. 103-A. De acordo com o texto, poderd o Supremo Tribunal Federal, mediante decisio de dois tergos de seus membros, “apés reiteradas decisGes sobre a matéria, aprovar stimula que, a partir de sua publicagdo na impren- sa oficial, teré efeito vinculante em relacio aos demais érgaos do Poder Judiciério e A administragdo publica direta e indireta, nas esferas federal, estadual ¢ municipal”. Constitui pressuposto desse ato a existéncia de “controvérsia atual entre 6rgos judicidrios ou entre esses e a administra- go publica”, acerca da validade, interpretagao e eficdcia “de normas de- terminadas”, a qual “acarrete grave inseguranga juridica e relevante mul- tiplicagdo de processos sobre questo idéntica”. A criagdo da impropriamente chamada “simula vinculante"’, como 6 not6rio, provocou (e continua a provocar) fortes controvérsias; ha quem a defenda com veeméncia e quem a critique apaixonadamente — com argumentos, de uma e de outra banda, diga-se de passagem, nem sempre consistentes. Chegou-se a propor a alternativa de configurar diversamente a eficdcia vinculante: em vez de compelir-se 0 érgao judicial a adotar a tese consagrada — o que, ao ver de muitos, atentaria contra a independén- cia do juiz —, tornar-se-ia inadmissfvel 0 recurso porventura interposto contra decisaio que aquela tese se afeicoasse; a isso se chamou “stimula impeditiva de recurso”. Semelhante providéncia, conjugada com o poder, atribuido ao relator pelo art. 557, § 1°-A, do Cédigo de Processo Civil, de dar provimento a recurso interposto contra decisao divergente de simula ou de jurisprudéncia dominante do Supremo Tribunal Federal ou de Tri- bunal Superior, bastaria — argumenta-se — para atingir os objetivos que se tém em vista, ¢ seria até mais eficiente, em tal perspectiva, do que a “stimula vinculante””. A proposta foi acolhida no Senado, com relagao a0 6. Justifica-se 0 “impropriamente” pelo fato de que a palavra “stimula”, inclusive em documentos oficiais (como o Regimento Interno do STF, arts, 102 e 103), nao é em- pregada com referéncia a cada uma das proposigdes ou teses jurfdicas consagradas pela Corte (ou, ajunte-se, por qualquer tribunal), seno para designar 0 respectivo conjunto, aque Ihe resume a jurisprudéncia: essa, alids, a acepgao abonada pela etimologia e acolhi- da pelos dicionérios: vide, por exemplo, o verbete pertinente do Novo Aurélio, que define “simula” como “pequena suma; breve resumo; epitome, sinopse”. 7. Nesse sentido, por exemplo, ALEXANDRE Nery DE OLIVEIRA, Stimula: efeito impe~ ditivo de recursos versus efeito vinculante, no volume Reforma do Judicidrio (coletainea de propostas encaminhadas aos senadores pela Associacdo dos Magistrados Brasileiros), p.59es. 3 Superior Tribunal de Justiga (art. 105-A) e ao Tribunal Superior do Tra- balho (art. 112-A); mas nesses pontos, que representam inovagdes em relagdo ao que a Camara dos Deputados aprovara, 0 projeto de emenda constitucional teve de voltar aquela casa do Congreso’. Seja como for, a eficdcia vinculante, no texto da Carta da Reptblica, tal como resultou da Emenda n° 45, est4 rigorosamente limitada as hip6- teses previstas no art. 103-A e subordinada ao concurso (que 0 Supremo Tribunal Federal no pode dispensar) dos pressupostos ali enumerados. A incluso de qualquer proposigao sem observancia de tais limites e pressupostos violaré a Constituigdo. As proposicdes que j4 constavam da Stimula da Corte s6 adquirirao eficécia vinculante se e quando forem confirmadas por dois tergos, no minimo, dos Ministros (art. 8° da Emen- da n® 45) — confirmagao que terd de levar em conta os requisitos do art. 103-A, exigiveis com relagfo Aquelas no menos que as proposigdes supervenientes. 4. OS NOVOS PROJETOS DE REFORMA DO CODIGO DE PRO- CESSO CIVIL Em fins de 2004, 0 Executivo federal encaminhou ao Congresso Nacional uma série de projetos de lei ordenados a reforma, em diversos pontos, do Cédigo de Processo Civil. Varios desses projetos reforgam, em termos enérgicos, a tendéncia a prestigiar ao m4ximo a jurisprudéncia e os precedentes. Um deles autoriza 0 6rgio judicial a suspender 0 processo “quando a controvérsia a ser decidida na sentenga versar matéria pendente de jul- gamento perante o Supremo Tribunal Federal ou Tribunal Superior, cum- prindo ao juiz comunicar a suspensio ao Presidente do tribunal onde esté em curso 0 processo anilogo” (inciso VI a ser acrescentado ao art. 265). No fica explicita a razao de ser de tal suspensao, que € facultativa (§ 6°). Segundo a conjectura mais plausivel, no entanto, espera-se do juiz que venha oportunamente a conformar a sentenga, na causa cujo andamento se suspendeu, tese abracada pelo acérdao do Supremo Tribunal Federal ou do Tribunal Superior. 8. Acerca dos debates que se travaram na matéria, e bem assim dos antecedentes da PEC n® 29 (de que se originou a Emenda n® 45), vide Ropotro De CAMARGO MANCUSO, ob. cit, p. 324e5., 354s, 304 Outro projeto visa a inserir no Cédigo um art. 543-A, para instituir mecanismo a que nfo cairé mal a denominagao de “recurso extraordinério por amostragem”. “Quando se verificar multiplicidade de recursos com fundamento em idéntica controvérsia”, reza o caput, “caberé ao Presiden- te do Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia, que sero encaminhados ao Supremo Tribunal Federal, ficando suspensos os demais processos até 0 pronunciamento definitivo dessa Corte” (§ 1°). Publicado que seja 0 acérdio do Supremo Tribunal Federal (que presumivelmente hé de julgar em conjunto 0s recursos-amos- tras, se mais de um houver), “os recursos sobrestados sero apreciados pelos Tribunais, Turma de Uniformizaco ou Turmas Recursais, que po- derdo exercer 0 juizo de retratagdo ou declaré-los prejudicados” (§ 6°). Entende-se que 0 “juizo de retratacio” ter4 lugar nos casos em que 0 6rgio haja adotado, na decisao extraordinariamente recorrida, tese diferente da esposada quando do julgamento dos “recursos-amostras”; se, a0 contrario, forem coincidentes as teses, os recursos sobrestados se haverdo por “pre- judicados” — transitando em julgado, conseqiientemente, os acérddos contra os quais tinham eles sido interpostos. Contempla o projeto, entre- tanto, a possibilidade de que, na primeira hipétese, 0 6rgao a quo, em vez de retratar-se, mantenha a decisdo. Diante disso, o Supremo Tribunal Fe- deral “poderé determinar sumariamente a cassagao das decisdes contrérias 2 orientagdo firmada no acérdao” (§ 7°); nao diz o projeto, em termos expressos, 0 que acontecerd com 0 processo suspenso em que se “cassarem” as decisGes, nem, em particular, 0 que as substituird. Sempre de acordo com 0 mesmo projeto, o relator do recurso extra- ordindrio, “verificada a plausibilidade do direito invocado ¢ havendo fundado receio da ocorréncia de dano de dificil reparacio, em especial quando a decisio recorrida contrariar stimula ou jurisprudéneia dominan- te do Supremo Tribunal Federal”, poderd “conceder, de oficio ou a reque- rimento do interessado, ad referendum do Plendtio, medida liminar para determinar a suspensio, na origem, dos processos nos quais a controvérsia esteja estabelecida, até o pronunciamento dessa Corte sobre a matéria” (§ 9), A premissa implicita é a de que os juizes desses processos terdo de observar depois, no momento de proferir a sentenga, a tese prestigiada pela stimula ou pela jurisprudéncia dominante do Supremo Tribunal Federal. Nao esclarece o texto que mecanismo se usaré para identificar, no pafs inteiro, os feitos em que esteja configurada a controvérsia. 305 Ainda outro projeto mira a dar ao art. 518 do estatuto processual um pardgrafo a cuja luz “o juiz nao receberé o recurso de apelagao quando a sentenga estiver em conformidade com stimula do Superior Tribunal de Justica ou do Supremo Tribunal Federal”. Fica evidente que se deseja antecipar, por via da legislago ordinéria, algo (ou muito) de proposta constante do projeto de reforma da Constituigao, na parte que pende da reapreciacao pela Camara dos Deputados, a saber, a denominada “stimula impeditiva de recurso” (supra, item 3). Nao deixa isso de ser curioso: ou a inovagdo prescinde de autorizagio constitucional, ¢ nfio se percebe 0 porqué de sua insergio naquele projeto, ou precisa dela, e simples lei or- dindria nfo pode consagré-la sem ferir a Carta da Repiblica. Last but not least, projeta-se novo acréscimo ao texto do Cédigo, sob a forma de um art. 285-A, com o seguinte teor: “Quando a matéria con- trovertida for unicamente de direito, em processos repetitivos sem qual- quer singularidade, e no juizo j& houver sentenga de total improcedéncia em caso andlogo, poderd ser dispensada a citagdo e proferida sentenga reproduzindo a anteriormente prolatada”. 5, UMA VISAO PANORAMICA © panorama espelhado nas anotacGes acima sugere que se tem exa- gerado em medida considerdvel o aleance da criagao da chamada “stimu- Ja vinculante” por meio da Emenda n° 45. Tanto os seus defensores quan- to os seus detratores dao a impresstio de enxergar nela uma carga de no- vidade bastante para justificar a idéia de auténtico divisor de 4guas: em matéria de eficdcia vinculante, a hist6ria do direito brasileiro estaré mar- cada por algo semelhante & deciso de Kili César de atravessar o Rubicon. Haverd o “antes da Emenda” ¢ 0 “depois da Emenda”: duas eras nitida- mente contrapostas. Essa impressio tende a desvanecer-se quando se olha mais de perto arealidade. Primeito, porque mesmo no perfodo anterior ja era fortissima, na prtica judiciéria, a propensio dos drgios judiciais de primeiro € se- gundo grau a conformar-se & jurisprudéncia dos tribunais mais altos —no- tadamente & do Supremo Tribunal Federal, e nZio apenas no campo deli- mitado pelo novo art. 103-A da Constituigao (supra, item 1). Se vier a ocorrer grande diferenga pratica, ela nao resultari do comportamento de juizes e tribunais, mas do efeito inibitorio a ser exercido pela “simula ‘vinculante” sobre os 6rgdos da Administragao Publica, obrigados a res- 306 peitar as proposicGes revestidas desse atributo, e em especial a abster-se de litigar em sentido contrério a elas. Em verdade, tem-se imputado aque- les érgaos a responsabilidade por boa parte do ingurgitamento das vias judiciais, & vista da obstinagao com que continuam a sustentar em juizo posigGes j4 muitas vezes rechacadas pela jurisprudéncia — embora nao necessariamente erréneas, convém ressalvar. A imputago nem sempre vem amparada, como seria de desejar, em dados estatfsticos merecedores de total confianca; mas esse nao € 0 nico terreno em que costuma ma- nifestar-se, no Brasil, aquilo a que um autor arguto designou como “the political tradition of making empirical arguments without empirical sup- port”, Por outro lado, no que tange aos érgaios judiciais, dose nada despre- zivel do que se quis inovar com a Emenda Constitucional n® 45 j4 vinha sendo paulatinamente inoculada, com mio de gato, por meio de leis ordi- nérias que reformaram o Cédigo de Processo Civil (vide supra, n® 2)", Em certos aspectos, até se foi mais longe: varias das leis reformadoras atribu- fram influéncia decisiva — bem pouco diversa, em perspectiva pratica, da eficdcia vinculante prevista no atual art. 103-A da Carta da Repiblica—a quaisquer proposig&es sumuladas e mesmo, em termos gerais, a jurispru- déncia “predominante” ou “dominante”, ainda quando ndo entronizada em Stimula, nem emanada do Supremo Tribunal Federal. Que pensar dos novos projetos, em tramitagdo no Congresso Nacio- nal? As referéncias feitas oportunamente (supra, n® 4) evidenciam que se tenciona ampliar o transbordamento; as margens fixadas pela Emenda Constitucional n® 45 afiguram-se estreitas demais aos reformadores. Ca- ricaturando um pouco (mas s6 um pouco), dia viré em que, a vingarem todas as propostas veiculadas — e outras que decerto estardo por vir, sempre no mesmo rumo—, teremos dificuldade em identificar algum caso 9, RusseLt HaRbin, Liberalism, Constitutionalism, and Democracy, Oxford, 2003, p. 123. 10. Tivemos ocasido de dar relevo a0 ponto em escrito que ja data de mais de seis anos, conclufdo com estas palavras: “Emenda constitucional, para estabelecer que as Siimulas, sob certas condigdes, passardo a vincular os outros 6rgios judicidrios? Ora, mas se jé vamos além, ¢ ao custo — muito mais baixo — de meras leis ordindrias (ser que somente na acepeao técnica da palavra?). O mingau esté sendo comido pelas beiradas, € € duvidoso que a projetada emenda constitucional ainda encontre no prato o bastante para satisfazer seu apetite..” (BARBOSA MoeiRa, Algumas inovacdes da Lei n® 9.756... cit. em anota n® 4, supra, p. 86). 307 em que ndo haja vinculagao e se conceda a juizes e tribunais, por especial favor, a liberdade de julgar de acordo com seu préprio convencimento.. Proclama-se com énfase que, onde existam, os possiveis inconvenien- tes de tal evolugo (ou ser4 melhor dizer escalada?) so e serdo largamen- te compensados pelo ganho na celeridade do funcionamento da maquina judiciéria. Aqui também nos defrontamos com uma dificuldade de avalia- G40. J4 que s6 se podem comparar grandezas conhecidas, para chegarmos a conclusdo segura acerca da repercussao de uma reforma na duraco dos pleitos necessitarfamos de dois dados: um relativo ao periodo anterior & reforma, outro, ao perfodo posterior a ela. Quanto duravam os processos (ou 0s recursos) antes da reforma e quanto passaram a durar depois dela? Sem dispormos de respostas para semelhantes perguntas, poderemos cer- tamente colher impressdes da experiéncia vivida ou observada; mas nada mais do que isso. Qualquer afirmagao categérica ficaré exposta & censura a que se sujeita o “argumento empirico sem base empirica”. Ora, admitamos que se venha a tratar, no futuro, de coligir dados capazes de refletir fielmente a realidade forense, no que concerne ao tem- po consumido pela tramitagao de processos ou de recursos. Mesmo nessa panglossiana hipétese, a comparacdo esbarraré na falta de dados andlogos com referéncia ao passado. Com efeito: que sabemos ao certo, hoje, sobre oassunto? No Banco Nacional de Dados do Poder Judiciario, a que se tem acesso no site do Supremo Tribunal Federal, encontram-se ntimeros de processos e de recursos distribufdos e julgados, ano por ano; nada se des- cobre, contudo, no tocante & respectiva durago"". O entio presidente da Corte, em resolucao datada de 22-3-2004 e publicada no Didrio Oficial de 24 do mesmo més, instituiu nova sistemética, aumentando 0 elenco de itens a serem armazenados no Banco; entre eles figuram os chamados “indicadores judicidrios”, nos quais se incluem o “tempo médio para 0 julgamento final na instancia, contado do recebimento do processo” e 0 “tempo médio da data do julgamento até a publicacdo da sentenca ou acérdao”. Decorrido um ano, esses “indicadores judicirios” permanecem ausentes do Banco. Sem eles, como ser possivel, daqui a algum tempo, emitir juzo que nao se reduza a mero “palpite” acerca, digamos, do bene- ficio que a adogao da chamada “stimula vinculante” supostamente trard para o ritmo da Justiga? 11, Consulta feta em 25-3-2005. 308 E de desejar com fervor que se vejam concretizadas, a esse respeito, as réseas esperancas de muitos. Parece I6gico o raciocinio subjacente: atenta a improbabilidade (para ndo dizer a impossibilidade) de vit6ria, deixardo de ser ajuizadas quaisquer causas em que se faria necessério sustentar tese juridica incompativel com a “stimula vinculante”. O conse- qiiente alivio na carga de trabalho permitiré que jutzes e tribunais realizem mais depressa as tarefas que Ihes incumbem: menos processos, maior ra- pidez. ‘Sem nenhum intuito de desempenhar o antipatico papel de “desman- cha-prazeres”, tomamos a liberdade de registrar que a experiéncia dos Estados Unidos — vistos como o habitat por exceléncia dos “precedentes vinculantes” — nao confirma por inteiro, ao contratio do que as vezes se supée, téo otimisticas expectativas. Comecemos pelo suspirado “efeito dissuasério”: dois cientistas politicos norte-americanos, mercé de extensa ¢ cuidadosa pesquisa, verificaram que a Supreme Court, s6 entre 1946 e 1990 — ou seja, em menos de meio século —, repudiou (“overruled”) 115 vezes precedentes seus!”, Ora, reflitamos: a Corte nao se pronuncia ex officio, senao apenas diante de caso concreto, que chegue a seu conheci- mento. Para que ela haja tido a oportunidade de reexaminar sua posigao, 6 fora de divida que a isso tera sido provocada pela iniciativa de algum interessado. De outra parte, afigura-se extremamente provavel que 0 ni- mero de tentativas frustradas seja muito maior do que 0 das coroadas de axito; presumir 0 contrério seria imaginar um aberto reptidio do préprio sistema dos binding precedents. Logo, pode-se asseverar, sem temor de erro, que bem mais de 115 vezes se propuseram ages com fundamento em tese juridica oposta & de anterior decisao da Corte. Isto €: os interes- sados se recusaram, com freqliéncia digna de nota, a deixar-se inibir pela existéncia de precedente contrdrio, supostamente dotado de eficdcia vin- culante. Nao possuindo bola de cristal, temos de reservar o juizo sobre 0 que aconteceré no Brasil; em todo caso, porém, atrevemo-nos a sugerir que roca pela imprudéncia apostar muito alto no bom sucesso da mudan- ¢a—e isso, a supor-se que um dia venhamos a saber com exatidao 0 que dela tera resultado. 12. BRENNER-SrarTH, Stare Indecisis, Cambridge, 1995, p. 22. Como facilmente perceberé o leitor familiarizado com o assunto, o titulo da obra contém alusio irénica & tese (nela questionada) da fidelidade da Corte aos precedentes, a cujo respeito é corren- tia a expressao latina “stare decisis”, traduzivel como “permanecer fiel aquilo que se decidiu”. 309 Seja como for, ousamos acrescentar — decerto também para surpre- sa de muitos — que 0 processo nos Estados Unidos nao é exatamente um modelo de celeridade. Por esse prisma, a situagio deve ser bastante vari- 4vel de um Estado para outro, visto que cada qual tem nao apenas sua organizacao judicidria, mas igualmente sua legislacdo processual prépria. Todavia, nao so entusiasmantes os dados de que se dispde sobre a Justi- ga Federal: no ano de 2004, foi de 22,6 meses (isto é, quase 2 anos) a duragio média dos pleitos que, em primeiro grau de jurisdigdo, percorre- ram todo 0 itinerdrio previsto, até o trial; e 12,6% do total de processos pendiam hé mais de 3 anos"*. A crer-se em fontes autorizadas, conquanto menos recentes, aquela duraco poderia atingir, em muitos lugares, 3a 5 anos"*, Ressalve-se que a grande maioria dos pleitos termina sem trial, as mais das vezes por acordo das partes; mas a eficiéncia da méquina melhor se afere, a0 nosso ver, & luz. dos casos de que ela se incumbe do comego ao fim. Alids, nao faltam na doutrina norte-americana'® sugestdes de que a freqiiéncia das solugées consensuais se deve, em boa parte, & escassa disposicao dos litigantes para enfrentar os inconvenientes do trial — entre 08 quais, sem diivida, a demora. 6. OBSERVACOES FINAIS Abra-se um item para duas observagées criticas que nos parecem Particularmente importantes. A primeira diz respeito & vida da jurispru- déncia. Ninguém negaré que ¢ indispensdvel reservar a esta a margem de flexibilidade de que necesita para ajustar-se a realidade cambiante do mundo exterior. Ora, as incessantes mutagdes da sociedade so captadas mais depressa e mais intensamente pelos érgiios judiciais de nivel inferior, convocados a lidar antes dos outros com os conflitos de interesses que 13. Dados colhidos no sire www.uscourts.gov/egi-bin/emsd2004.pl, em 25-3- 2005. 14, Informagao coincidente encontrada em Cagr—Snpnam, Judicial Process in America, Washington, 1993, p. 207, ¢ Hazard—Tarurro, La giustizia civile negli Stati Uniti, Bolonha, 1993, p. 259 (desta obra, escrita em colaboragdo por um jurista norte- americano e outro italiano, que tem lecionado e pesquisado com frequéncia nos Estados Unidos, hd verso em inglés, publicada naquele pais). 15. V. g., Carp—Smpian, ob. cit., p. 208; Fricbenritat—Kane—Mee, Civil Procedure, 3*ed., 1 reimpr., St. Paul, 2001, p. 474; Teruix—Wurrten, Civil Procedure, 2 ed., Nova Jorque, 2000, p. 16; Notas—Hatey, Alternative Dispute Resolution, St. Paul, 1992, p. 4. 310 as novas condigées sociais, politicas, econdmicas, culturais vo dese- nhando. As grandes inflexGes jurisprudenciais da hist6ria de nosso direi- to —¥v. g., 0 abandono da exigéncia, literalmente formulada pelo art. 1.523 do antigo Cédigo Civil, da prova da culpa ou negligéncia do patro para acarretar-Ihe a responsabilidade pela reparaco dos danos que 0 empregado causasse; ou a protecao dispensada a concubina, sob as ves- tes técnicas da “sociedade de fato” — comegaram com certeza por deci- sdes dos jufzos de primeiro grau; s6 mais tarde é que receberam a chan- cela dos tribunais. Bloquear, de forma direta ou indireta, na produgo dos érgios situa- dos na base da pirdmide judicidria, os eventuais desvios das teses firmadas em grau superior significa, em certos casos, barrar precocemente um mo- vimento, talvez salutar, de renovacdo da jurisprudéncia. A chamada “sti- mula vinculante”, em si, nao se afigura muito perigosa por esse Angulo, gracas As prudentes limitages que a Emenda n® 45 estabeleceu ao intro- duzir 0 art. 103-A no texto constitucional. O mesmo nio se poder dizer, entretanto, da denominada “stimula impeditiva de recurso”, em qualquer dos formatos cogitados, nem de outras inovagées j4 consagradas em leis, ou previstas em projetos de reforma do estatuto processual, que nos ame- agam com uma espécie, nada promissora, de “imobilismo” jurisprudencial. Os mecanismos previstos para a revisto dos paradigmas, a0 nosso ver, no exorcizam suficientemente o risco, dada a not6ria relutancia dos tribunais em recuar de posigdes consolidadas. Restaria a questio — a que sé em termos esquemiticos, para no dizer perfunct6rios, nos € dado aludir aqui — de saber em que medida € realmente desejdvel que um 6rgio superior fixe 0 entendimento a ser adotado de maneira uniforme pelos outros 6rgdos judiciais na aplicacao deste ou daquele texto legal. De certas normas todos reconhecem com facilidade que devem ser aplicadas do mesmo modo em todo 0 territ6rio nacional; entre elas, sem diivida, em linha de principio, as normas cons- titucionais. J4 com relagio a outras pode mostrar-se mais aconselhavel dar espago a porgéio menor ou maior de flexibilidade interpretativa, capaz de levar em conta varidveis regionais ou locais, a cuja luz também se justifique uma variacao nas solugées. B 0 que sucede, por exemplo, com disposigdes legais que se valham de conceitos juridicos indeterminados — como “bons costumes”, “conduta desonrosa”, “elevado valor” ¢ outros cuja concretizagdo se sujeite A influéncia de fatores culturais dificilmente 311 redutiveis & uniformidade, sobretudo em pafs com as dimensGes e as de- sigualdades do nosso". Outro ponto digno de reparo especial € a autorizacdo, que se pre- tende dar ao juiz, para sentenciar de plano, reproduzindo decisao anterior, quando jé houver julgado improcedente 0 pedido em feito andlogo. Af nao é sequer de prestigiar a jurisprudéncia que se trata: pressuposto bastante € a existéncia de um tinico precedente, do mesmo jufzo. Difi- cilmente se concebe incentivo maior & preguica, ou, em termos menos severos, a0 comodismo do julgador, que poder valer-se da franquia para desvencilhar-se rapidamente do estorvo de novo processo, com a pura e simples baixa de um arquivo do computador, Dir-se-4 que 0 texto proje- tado restringe a possibilidade As hipsteses em que nao haja “qualquer singularidade” na causa agora ajuizada; mas a lei do menor esforgo quase fatalmente induzir4 o juiz menos consciencioso a enxergar iden- tidade onde talvez ndo exista mais que vaga semelhanga. A tentagao da facilidade seré forte demais, sobretudo quando grande a carga de traba- Iho que estiver assoberbando o magistrado. Em nao poucos casos, ante a primeira impressao do déja vu, a propria leitura da petigio inicial cor- re 0 perigo de ver-se truncada, ou reduzida a suméria olhadela, desaten- ta a argumentos porventura novos que autor suscite. Nao se poderé contar muito, por parte do juiz, com o empenho — tao desejavel — numa reflexio constantemente renovada sobre as questdes de direito que Ihe incumbe enfrentar. ‘Uma palavra final. Parece claro que a progressiva exaltagio do pre- cedente tende a tornar o funcionamento da Justica brasileira, em tema relevante, mais parecido com o da Justiga norte-americana, ou. quando nada com a imagem que desta se generalizou"”. A ser assim, alguns se 16. Mesmo na Alemanha, com fundamento em critérios teleolégicos, tem-se negado a Revision (recurso em principio ordenado, entre outros fins, a assegurar a uniformidade da jurisprudéncia: ZPO, § 543, 28 alinea, n® 2), quando se cuida de ques- tes de direito caracterizadas por forte particularismo, tal que exclui a idoneidade da solugio apropriada a um caso para servir de exemplo em outros feitos: vide, por todos, RoseNBERG—Scuwab—GorTWaLb, Zivilprozessrecht, 16% ed., Munique, 2004, p. 1011/2. 17. Vai a ressalva por conta da posicdo “heterodoxa” de autores que, nos préprios Estados Unidos, se inclinam a minimizar a importancia real do precedente na produgio jurisdicional da Supreme Court: assim, na literatura recente, Seacti—SEGAL, Majority Rule or Minority Will, Cambridge, 2000 (reimpressio), passim, espec. p. 314/5. 312 sentirdo tentados a perguntar a quem mais interessa a assemelhaco e se, Ievada as tiltimas conseqiiéncias, ela ndo poderd servir de instrumento Aquilo que em certos setores se tem designado por “neocolonialismo”. E assunto para ser discutido por cientistas politicos; sem autoridade na ma- téria, cingimo-nos a propé-lo & meditagAo dos leitores. Marco de 2005. 313

You might also like