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-6N-agerams- A Contribuig3o das Histérias em Quadrinhos de supererdis para a Formaco de Leitores Criticos Rafael Laytynher Silva’ RESUMO As histérias em quadrinhos surgiram entre o final do século XIX e comego do século XX, Elas passaram a ser chamadas assim, quando foram introduzidos balées com falas de personagens nos desenhos. Por serem um produto de grande circulagdo, muitas mensagens ideol6gicas foram inseridas nas hist6rias € na composigio dos personagens. Assim, esse artigo busca estudar o género textual “histérias em quadrinhos”: sua origem, importincia e simbolismo na hist6ria contemporanea; entender o conceito de heréi, super-herdi ¢ anti- herdi, exemplificando a partir da composigdo dos personagens Batman, Superman e O Justiceiro; pesquisar sobre ideologias nas histérias em quadrinhos © nos personagens citados e observar como o leitor pode ser estimulado a pratica da leitura critica por meio do conhecimento de tais ideologias. Palauras-chave: historias em quadrinhos; ideologias; super-heréi; formagio de leitores criticos InTRODUGAO A arte sequencial, que significa contar hist6rias por meio de figuras, € comum ao homem desde a antiguidade. Ssse tipo de narragdo aparecia em tapegarias, vitrais, mosaicos etc. A propria Igreja, na Idade Média, utilizava de tal arte para expor os episédios da vida dos homens santos em imagens, numa época onde ler era privilégio de poucos. Com o passar do tempo, mais precisamente no século XIX, a arte sequencial se consolidou como uma forma de produgdo cultural que visava se tornar um bem de consumo de uma grande quantidade de leitores: a cultura de massa, Isso porque antes a ideia de cultura e educagao era associada & classe alta da sociedade. Assim, no contexto * Graduado em Letras ¢ Artes pela Universidade Estadual de Santa Cruz ~ UESC. evista raprama evista ientfic nerdisciplinar da Graduaco no fdieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 ‘Rueda Professor cia Martins Roigus, ‘3, Cidade Universiti, Sa Paulo CE: (3508-900 ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 2 onde 0 capitalismo se firmou como modo de produgdo dominante, surgiram as “Histérias em quadrinhos”. O termo “histéria em quadrinhos” s6 foi utilizado a partir do infeio do século XX, quando foram inseridos baldes nos desenhos com as falas dos personagens. A partir daf, as HQs se tornaram fendmeno em todo o mundo, consolidando o seu consumo entre criangas ¢ jovens, principalmente, com o surgimento dos super-herdis, sobretudo 0 Superman em 1938. Isso marcou o comego da conhecida era de ouro dos gibis. sucesso dos quadrinhos esté na propria sedugo que as imagens tm, Sua leitura muitas vezes pode ser feita inclusive por analfabetos ou até mesmo quando escritas em outto idioma, apenas interpretando a sequéncia de imagens. Assim, os quadrinhos se constituem uma ferramenta de incentivo a leitura, pois até mesmo pessoas nao afeigoadas & Ieitura de obras densas, so leitores de gibis, por sua ordem linear ¢ sua linguagem clara ¢ objetiva, Contudo, as HQs nao sao inocentes, Elas trazem ideologias inseridas nas hist6rias ¢ na composigao dos personagens. O Superman, por exemplo, que surgiu alguns anos apés a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, ndo sé era um simbolo de esperanga para um povo que ainda sofria os efeitos da crise, como também foi utilizado para combater a ideia de Super-Homem disseminada pela Alemanha n: ‘Mundial. sta no perfodo precedente a II Guerra Assim, sabendo da importancia das histérias em quadrinhos na sociedade e de sua sedugio em criangas ¢ jovens, esta andlise busca influenciar no aprimoramento da formagao critica dos leitores por meio do estudo do género “Histérias em quadrinhos de super-her6is”. Para isso, ser apresentado 0 conceito de heréi, super-heréi € anti-heréi, exemplificados a partir dos personagens Batman, Superman e O Justiceiro, buscando identificar ideologias presente na caracterizagao de tais personagens. CONCEITUANDO HERGI, SUPER-HERGI € ANTI-HERGI O termo “her6i” nas histérias em quadrinhos é utilizado para definir aquele que se diferencia dos demais personagens por seus valores morais e suas agdes extraordinarias. Segundo Campbell citado por Paiva “o herdi é aquele que deu a vida por algo maior que ele proprio. O her6i se sacrifica por algo maior” (Paiva, 2003). Ele se dedica a lutar por uma causa nobre, f dotado de qualidades como forga, inteligéncia e ética. Segue um Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 3 cédigo de conduta exemplar ¢ ¢ incorruptivel. Liberdade, fraternidade, justiga, coragem, sacrificio etc., sio alguns dos ideais dignos que guiam o herdi em sua jomada com motivagdes sempre moralmente ¢ eticamente justas. A diferenga entre Herdi e Super-heréi € que este possui habilidades incomuns para ‘os humanos, a pesar de que, para muitos te6ricos, um personagem nao precisa necessariamente possuir poderes sobre-humanos para ser um super-heréi. Esses dois termos podem ser considerados sinénimos que definem um personagem altruista que dedica sua vida na defesa dos fracos e oprimidos, lutando pela paz ¢ justiga do mundo. Sobre essa diferenciagao, a presente andlise concorda com a ideia de Viana citado por Xavier que diz: “... o her6i possui habilidades excepcionais, mas humanamente possfveis, enquanto o super-heréi possui habilidades sobre-humanas (...) € s6 pode existir havendo um mundo habitado por esses super-poderosos.” (Xavier, 2008). © nascimento da definigdo “super-herdi” se confunde com o langamento das HQs do Superman, pois este foi o primeiro her6i dotado de habilidades especiais como: super forca, velocidade, visio de calor entre outros. Hé rumores de que a palavra “super-herdi” tenha sido derivada do préprio nome do personagem: super de Superman. Anti-heréi, por sua vez, é 0 termo que define aquele que contraria a concepgdo do her6i tradicional. Ele até pode defender uma causa justa em favor de outros, mas suas intengdes ou motivagdes no sio nobres. Age por motivos muitas vezes egofstas € no seguem um cédigo de conduta. Alguns optam por matar seus inimigos intencionalmente ao contrétio dos herdis que no matam, Para os anti-herdis justia e vinganga sio palavras que se confundem. Vale ressaltar que anti-heréi nao € vildo, ele sé ndo possui os mesmo atributos, principalmente éticos, que os herdis. FRIMAN OCRUALEIRO DAS TREUAS Um ser da noite. Como um ser da noite, Ele se move. Ele plana. Suavemente para um homem tdo grande. Silencioso. Os pés firmes, os olhos agugados. Eu sinto suas botas mal focando a parede. De baixo, & apenas uma sombra... Passando sobre a fachada de um. prédio, Ele tem um destino. Ele foi convocado. Mais uma vez. Sim venha. Nés estamos juntos. Esté comegando de novo. J4 comegou. Vocé é o Batman... E cu sou Gotham! (MILLIGAN apud NETO, 1999) © personagem Batman surgiu na década de 30 e sua histéria passou por algumas alteragdes durante o século XX, mas em suma, manteve-se fiel a original. Nela, conta-se a Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 4 histéria do jovem Bruce Wayne, a identidade secreta do Batman, que foi criado por seus pais em um ambiente de amor e afeto. Um dia o jovem observou um uniforme de morcego que seu pai usaria numa festa, mas 0 valor dessa observagao s6 seria notado alguns anos mais tarde. ‘Uma noite quando voltava do cinema com seus pais, 0 jovem Bruce, que tinha apenas oito anos de idade, testemunhou seu pais serem assaltados por um homem que assassinou casal a sangue frio quando seu pai tentou reagir. Orfao, Bruce Wayne ficou aos cuidados do mordomo da familia Alfred Pennyworth. Bruce fez uma promessa de justiga diante do sepulero de seus pais, jurando combater todos os criminosos. Nos anos seguintes, ele viajou pelo mundo em busca de treinamento e amadurecimento fisico € mental. J4 um pouco mais velho, em sua primeira tentativa de atuar como vigilante, Bruce retomna ferido para sua casa. Decepcionado, ele implora ao seu falecido pai que Ihe envie um sinal. Neste momento, por coincidéncia ou destino, um enorme morcego atravessa a vidraga do escritério em que estava. Bruce entio se recorda da fantasia de morcego que vit quando era crianga e, acreditando que os bandidos séo supersticiosos, decide confeccionar uma fantasia semelhante, porém absolutamente assustadora. Ha outra versio dessa parte da hist6ria que diz. que Bruce caiu em uma caverna quando crianga € que muitos morcegos 0 atacaram, criando assim nele um pavor por morcegos. EntZo ele decide compartilhar esse medo com seus inimigos criando o uniforme de morcego e se tornando o Batman. A mais famosa hist6ria do Batman € a série “O Cavaleiro das Trevas”, langada em 1987. Nela, dez anos apés uma aposentadoria voluntiria, Bruce se vé diante de uma Gotham City dominada pelo crime. Os noticidrios de TV mostram dezenas de assassinatos ¢ crimes hediondos cometidos por uma gangue que se alto denomina “os mutantes”. A pol vigilante para novamente limpar as ruas de sua Metr6pole. Porém, ele j é um homem com. ia ndo € capaz de conter os crimi 1050s, entéo Bruce decide retornar a sua vida de mais de cinquenta anos de idade, ¢ sua agilidade nao é a mesma de sua juventude. Mesmo assim, Batman regressa com muita raiva e combate a gangue com violéncia ¢ brutalidade, porém, em um embate que vai além do fisico, como se pode notar em sua fala: “Esse selvagens nao podem ser presos! Eles tém que ser derrotados... humilhados!” (Batman - Miller, 1987). Algumas paginas depois um dos integrantes da gangue declara que “Os mutantes estéo mortos! Sao coisa do passado! Esta é a marca do futuro! Gotham City Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 5 pertence ao Batman!” (MILLER, 1987). Vé-se aqui que a intengio ideolégica do herdi é humilhar o lider dos mutantes de tal forma que ele néo tivesse mais seguidores O regresso do Batman foi marcado por seus métodos agressivos ¢ violentos na caga aos criminosos, es ‘udo largamente divulgado pela midia que nao cessava de criar discu com autoridades em torno dos atos do cavaleiro. Isso causou um alvorogo na populagdo que via a figura do Batman como representante do seu levante contra 0 governo dominador, Para acabar com isso, 0 presidente americano envia o Superman, que nessa hist6ria é cegamente submisso ao governo, para tentar parar 0 Batman. Isso marca um fato “épico” para os fas: 0 duelo entre Batman ¢ 0 Superman. Para Melo, 0 Cavaleiro das Trevas no uta somente contra o crime em Gotham, mas também contra o decadente sistema social americano. Assim, Batman é combatido pelo governo, representado pela figura do Superman. A aparente dicotomia, bem como o embate entre os Herdis deve ser percebido dentro do contexto do “American Way of Life”, j& que ambos defendem-no, porém, com um deles (Super-Homem) representando claramente a posigio oficial do governo, apontado pelo Batman, como impositor e manipulador; jé o Cavaleiro das Trevas representaria o levante do cidadio, sendo ele © ndo © governo, o sujcito ativo de transformagao da realidade, (MELO, 2006) O “Estilo de Vida Americano” citado por Melo, foi amplamente divulgado no perfodo posterior & Segunda Guerra mundial. Faz referéncia a um suposto estilo dos americanos de viverem bem. O que esté por trés é uma ideia de que esse estilo de vida € superior e de que seja referéncia para outras sociedades. E por causa dessa ideologia muitas pessoas emigraram para os Estados Unidos na esperanga de terem uma vida melhor, isto é, 0 que chamam de “conquistar 0 sonho americano”, Tanto o Batman quanto o Superman sao defensores do American Way of Live, mas eles seguiram caminhos diferentes. SUPERMAN Nascido no ficticio planeta Krypton, o pequeno Kal-el foi colocado em uma espagonave ainda bebé por seus pais Jor-el Lara e enviado & Terra momentos antes da explosio e destrui¢o daquele mundo. O bebé foi enviado primeiro por protegio de sua vida, segundo, com a missdo de impedir que a Terra tivesse 0 mesmo destino que seu planeta natal. Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 6 A nave aterrissou na cidade de Smallville, no Kansas, estado dos Estados Unidos da América, onde a crianga foi encontrada pelo casal de fazendeiros Jonathan Kent e Marta Kent que a adotaram e batizaram-lhe com 0 nome humano Clark Kent A medida que ia crescendo, o jovem Clark foi desenvolvendo habilidades incomuns para os humanos como super forga, velocidade, resisténcia, invulnerabilidade, sopro congelante e super sopro, super audico, poderes extra-sensoriais € visuais, longevidade, capacidade de voar, inteligéncia e regeneragao. Tais habilidades Ihe eram concedidas pela exposigao & luz do sol. ‘Ao chegar a fase adulta, Clark vai morar na cidade de Metrépoles onde passou a trabalhar como repérter no jornal Planeta Diario. Decidiu entao usar seus poderes em prol da paz e justica do mundo. Adotou um uniforme colante azul e vermelho com um enorme “S” no peito, botas ¢ capa. Assim, péde aparecer em piblico sem ser reconhecido, Apés sua primeira apari¢do a repérter Lois Lane, sua futura esposa, 0 chama por Superman. A primeira histéria do Superman foi publicada em 1938 e consagrou o infcio da Era de Ouro das HQs. E o super-heréi mais importante e popular porque € o marco de diversas peculiaridades como o primeiro heréi a possuir uma identidade secreta ¢ o primeiro a ser chamado de super-her6i. $6 por curiosidade, ele nao foi o primeiro super-heréi a voar, pois no inicio ele apenas saltava muito alto. Esse feito ficou por conta de outro super-herdi, que se tomnaria o principal concorrente do Superman nas bancas, chamado de Shazam. Dois grandes fatos histéricos contextualizam o surgimento das HQs do Superman primeiro é a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, sendo que nove anos depois a populagao americana ainda sentia os efeitos da crise econémica. O segundo, e talvez mais importante influenciador do surgimento do super-herdi, é a Segunda Guerra Mundial que {eve seu inicio apenas um ano depois, em 1939. Ou seja, as histérias do Superman foram langadas no periodo pré-guerra, onde j4 se ouvia os rumores € se conhecia as ideologias disseminadas por Adolf Hitler. Jarcem (2007) afirma que os nazistas se apropriaram de conceitos do filésofo alemao Friedrich Withelm Nietzsche, inclusive sobre iibermensch, que traduzida & uma defini préxima de super-homem. Coelho (2006) diz que Nietzsche acreditava haver uma maneira do ser humano atingir a perfeigao, ou buscé-la fisica e mentalmente, e que 0 cristianismo é justamente o oposto de suas ideias. Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 2 De acordo com o filésofo prussiano, a humanidade parou de evoluir quando comegamos a adotar conceitos como compaixio, que ndo nos deixam permitir que tombem os mais fracos para que os mais fortes se elevem. Nietzsche acusa o cristianismo de ter gerado uma cultura de mal que impede 0 progresso e a evolugdo humana. De acordo com ele, o poder €0 destino do homem, e a busca por ser o mais forte é natural e respeitavel. Esse conceito de maldade criado pelo cristianismo acaba por estigmatizar essa busca de evolugio, usando ‘culpa como instrumento de controle. (COELHO, 2006) Assim, Hitler teria usado a filosofia de Nietzsche para propagar a superioridade ariana justificando o holocausto em busca de uma tinica raga superior e evoluida, Superman & exatamente 0 contrério do super-homem de Nietzsche, pois ele € dotado dos valores do cristianismo que o fildsofo tanto desprezava como a compaixio € a humildade. Talvez af esteja justificada a hist6ria de Clark ser andloga a de Jesus Cristo, pois, assim como Jesus, ele, filho nico, foi enviado & Tera com a missio de ser 0 salvador da humanidade. Nota-se também como outra referéncia 0 nome Cryptoniano de Clark, Kal-el, ¢ de seu pai, Jor-el, onde a terminagao “el” € usada em varios nomes cristos significando Deus, como em Emanuel, nome biblico de Jesus, que significa Deus conosco. O JUSTICEIRO 0 Justiceiro foi criado em 1974 e sua composicao difere de tudo o que se costuma atribuir a um heréi de HQ. A principal diferenga ¢ que os outros herdis se preocupam sempre em poupar vidas, mas, para o Justiceiro, os criminosos devem ser mortos para nao causarem mais nenhum mal a sociedade. Por isso o termo her6i nao the cabe, trata-se de um anti-hersi, Frank Castle, alte-ego do Justiceiro, decidiu toma -se vigilante quando sua familia foi assassinada por mafiosos ao terem testemunhado um homicidio. Frank foi hospitalisado ¢, ao sair, esperava que a policia fiz. justiga, 0 que nao aconteceu, pois corruptos do governo ordenaram o arguivamento do caso. Depois ele procurou ajuda da impressa, porém, mais uma vez, se viu frustrado ao ver seu amigo reporter assassinado, Ele ento desistiu de esperar pela justiga. Perito tético ¢ altamente treinado em combate armado e desarmado, Frank utiliza toda sua experiéncia adquirida em carreira militar para combater 0 os criminosos, utilizando-se de sequestro, tortura e assassinato como forma de punicéo. O Justiceiro acredita que se um criminoso representa uma ameaca A sociedade o mais justo seria que o mesmo deveria ser privado de sua vida, 0 que consquentemente protegeria a sociedade. Para ele, injusto seria deixar que uma pessoa perigosa andasse solto pelas ruas ameagando Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 8 a vida das pessoas de bem, Mesmo que eventualmente fosse preso, poderia ser solto © voltar a cometer crimes. Frank Castle é procurado pela policia por seus diversos assassinatos, mas outros super-herdis concordam que a sociedade precisa de um homem como 0 Justiceiro. A concepgao do Justiceiro faz jus A definigao de Carbone para os justiceiros da sociedade, que diz: “O bandido nobre nio é um criminoso qualquer, muitas vezes nao é sequer considerado um criminoso, faz-se bandido por circunstancias vividas e por atos de valentia” (Carbone, 2000). Ela defende a ideia que os justiceiros se tornam uma espécie de marginal diferente por meio de uma injustiga e nao pela via do crime. E que sé matam em legitima defesa ou por “vinganga justa”. Vinganga e justiga sfo palavras que se confundem. Tem-se entZo, uma ideia de que & possivel ao cidadio comum lutar contra criminosos da sociedade, desde que tenha atributos para fazé-lo. A sociedade anseia por ‘um heréi que proteja os cidadios. O Justiceiro seria uma possibilidade de heréi de HQ fora da ficgao. A MECESSIDADE DE SE FORMAR LEITORES COMPETENTES NAS ESCOLAS Para Ferreira, “o saber-ler nao se confunde com o saber-codificar, pois o acesso a0 cédigo por si s6 ndo garante o “mergulho” nas malhas de significado do texto e nem 0 desenvolvimento da capacidade de ver além do que € visivel aos olhos” (Ferreira, 2002) Assim, compreende-se que ler, além de entender os c6digos textuais, pois a decodificagao nao garante a reflexao, ¢ a capacidade de fazer inferéncias no texto, a auséncia dessa competéncia ¢ um dos fatores que gera o desinteresse pela leitura na sociedade, Diante disso, a escola tem a responsabilidade de formar leitores competentes. Entretanto, o ensino da leitura nao pode esté vinculado a velhos moldes, como na época da industrializagdo, em que a alfabetizagao foi implantada com o objetivo, apenas, de “favorecer 0 acesso dos trabalhadores aos procedimentos e técnicas de Ieitura e escrita, com vistas ao aperfeigoamento em massa desta ferramenta de producio para atender as exigéncias do desenvolvimento do mundo do trabalho” (FERREIRA, 2002). e tipo de ensino nao leva em consideragao a interagdo social ¢ o desenvolvimento da capacidade de reflexo e de critica. Para que isso ocorra, € necessério ensinar a leitura a partir de textos Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD.. 9 que fazem parte do cotidiano dos alunos, ¢ nao por textos isolados ¢ descontextualizados. Isso pressupée o ensino de Lingua Portuguesa por meio de géneros textuais. Entretanto, para que esse processo de ensino seja bem sucedido, & necessério que professores ¢ alunos tenham consciéncia plena da diferenga entre tipos ¢ géneros textuais, uma vez que a errdnea definigéo de sindnimos é muitas vezes utilizada. Marcuschi (2004) faz uso da seguinte definigao: Tipos Textuais Constratos tedricos definidos por propriedades lingiiisticas intrinsecas; Constituem seqiéncias Tingiisticas ou seqiiéncia de enunciados no interior dos géneros ¢ nao so textos empiricos; ‘Sua nomeago abrange um conjunto tedricas limitado de categorias determinadas por aspectos Iéxicos, Géneros Discursivos Realizagdes lingiisticas _ coneretas definidas por propriedades _s6cio- comunicativas; Constituem textos empiricamente realizados cumprindo fungdes em situagdes sociais; ‘Sua nomeagio abrange um conjunto aberto € praticamente ilimitado de designagdes concretas ¢ determinadas sintéticos, relagdes légicas, tempo | pelo canal, estilo, _contetido, verbal; composi Designagao dos tipos: [Exemplos de géneros: _telefonema, narragao descrigao ete. sermao, miisica, sinopse ete. A abordagem discursiva, em sala de aula, deve reconhecer os tipos textuais, as caracterfsticas prdprias de cada um, o contexto em que sio utilizados ¢ as diversidades de géneros textuais, pois, se a comunicagio se dé por meio de textos, os alunos precisam produzi-los e compreende-los de forma adequada e interativa, Essa € uma preocupagdo que aparece nos Parametros Curriculares Nacionais (1997): “O dominio da lingua tem estreita relago com a possibilidade de plena participagéo social, pois € por meio dela que o homem se comunica, tem acesso a informagao, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constréi visdes de mundo, produz conhecimento”. Os PCNs consideram que a escola tem a responsabilidade de desenyolver projetos educativos que permitam aos alunos o acesso ao dominio lingufstico Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD... 10 necessério pa a interagao social e cultural. E essa responsabilidade é ainda maior quando ‘as competéncias linguisticas dos estudantes forem em menor proporgao. Tais competéncias podem ser amadurecidas na escola por meio da ampliagdo do conhecimento ¢ do acesso a diferentes textos que fazem parte do cotidiano dos cidadaos, o que levaria o aluno a se tornar capaz de interpretar, criticar, inferir ¢ produzir textos competentes em diversas situagdes. A CONTRIBUICAIO DAS Hs PARA A FORMACAO DE LEITORES CRITICOS Muitos criticos tém afirmado que os textos audiovisuais, e também as histérias em quadrinhos, so responsiveis pelo desinteresse pela leitura. Acreditam que eles geram preguiga na hora de ler um texto escrito ou com um contetido mais denso. Entretanto, essa ideia ¢ tida como equivocada por alguns autores No caso especifico do Brasil, hé diversos processos que desencadeiam o desinteresse pela leitura, sejam de ordem econémico-social (a parcela mais pobre da populagio nao tem poder aquisitivo para adquirir livros, jornais ¢ revistas), sejam de ordem politica (o Estado é responsavel pela situago calamitosa, crdnica e persistente do ensino piiblico que, além de do incentivar 0 aluno a criar o habito da leitura, ainda é ineficiente) (SANTOS, 2001) No que tange ao incentivo a leitura, Santos diz: “A Hist6ria em Quadrinhos, a0 falar diretamente ao imaginério da crianga, preenche suas expectativas e a prepara para a leitura de outras obras” (Santos, 2001). Para ele, as hist6rias em quadrinhos tém um grande valor no processo que leva a consolidagdo do habito e do prazer de ler, pois a experiéncia de folhear as paginas de uma HQ pode proporcionar © interesse pelo livro impresso, independente do seu teor. Sobre os beneficios do uso das histérias em quadrinhos na escola, Vergueiro citado por Paiva aponta uma série de vantagens para a educagao, Dentre elas destacam-se: Os estudantes querem ler os quadrinhos - HQs fazem parte do cotidiano de criangas ¢ Jjovens ¢ sua leitura é muito popular entre eles. Além de existir uma forte identificagao dos estudantes com os fcones da cultura de massa - entre os quais se destacam virios personagens dos quadrinhos. (Paiva, 2001) Existe um alto nivel de informagdes nos quadrinbos - as revistas de historia em quadrinhos. vversam sobre os mais diferentes temas (..)(Paiva, 2001) Os quadrinhos auxiliam no desenvolvimento do habito de leitura- (..) Hoje em dia sabe-se que, em geral, os leitores de historias em quadrinhos s20 também leitores de outros tipos de revistas, jornais e de livros. (Paiva, 2001) Reuistaraprama Revista inti nterdisciplinar da Gracuaco no Faieao 1 Setembo-Nouembro de 2011 Auesida Professor Locia Martins Rodtigues, M3, Cidade Universita Sao Paul, CEP: O5808-900, ‘agrama ausp br SILUA, R.L. ACONTRIBUICAD... 11 (Os quadrinhos enriquecem o vocabulério dos estudantes... Paiva, 2001) Por esses argumentos se percebe 0 quanto o autor acredita no valor didético das HQs além de demonstrar a grande aceitagao dos gibis entre os jovens. CONSIDERACGES FINAIS O uso de histérias em quadrinhos na escola pode proporcionar ndo sé o interesse pela leitura, mas também o aprimoramento da leitura critica. Uma das formas de se alcangar isso & por meio do conhecimento das ideologias presentes na composi¢o dos super-herdis dos gibis, o que despertaria nos estudantes a curiosidade de conhecer 0 texto por trds do texto em outros géneros. Em um contexto escolar de ndo-leitores, a abordagem didatica em tomo das ideologias presentes nas HQs € um dos instrumentos de incentivo e pritica da leitura ctitica, Se professores inserirem em seu planejamento essa aplicagiio das histérias em quadrinhos, uma grande porcentagem da aceitagdo da aula ja seria atribuida & propria sedugdo que as hist6rias possuem. Isso somado ao fascinio de descobrirem que gibi néo é coisa s6 de crianga e que suas histérias e personagens nao sio inocentes contribuiria significativamente ao éxito da aula e aleanco do objetivo final. Entretanto, evidentemente, essa abordagem é apenas uma das muitas maneiras de se incentivar a prética da leitura eritica dos alunos. Também, as histérias em quadrinhos tém muitas outtas aplicagdes didéticas que geram a criagao, a pesquisa e a reflexdo e podem ser exploradas por professores de todas as disciplinas. Temas das mais variadas reas podem ser discutidos a partir de uma determinada HQ. Os alunos teriam em maos um riquissimo material para debate € reflexdo. Tantas so as aplicagdes didéticas que é muito importante que sejam realizadas mais pesquisas em toro desse assunto, 0 que por sua vez, nao sé contribui, de modo expressivo, para a formagio do leitor, mas serve, sobretudo, na ica docente. elaboragdo de material de apoio para professores em sua pré Referéncias Bibliograficas COELHO, Vitor. O Ubermensch. Disponivel em: . Acesso em: 09 jun. 2010. MILLER, Frank. BATMAN: o cavaleiro das trevas. Sio Paulo: Abril Jovem, abr. 1989. FEUO, Mario. Quadrinhos em acao. 2 ediga0. Sao Paulo: Moderna, 1997. FERREIRA, Sandra Patricia Atafde; DIAS, Maria da Graca Bompastor Borges. A escola ¢ o ensino da leitura, Psicologia em estudos, Maringé, 2002. Disponivel em: -. Acesso em: 17 abr. 2010, JARCEM, René Gomes Rodrigues. Hist6ria das histérias em quadrinhos. Histéria, imagem ¢ narrativas. N° 5, ano 3, set. 2007. MARCUSCHI, L. A. Géneros textuais: definigao e funcionalidade. 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