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g = Q S Loewy Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - IDEAU G9 , REVISTA DE EDUCACAO DO IDEAU Vol. 7—N° 15 - Janeiro - Junho 2012 ‘Semestral ISSN: 1809-6220 Artigo: OS SUPER-HEROIS E ESTA TAL DE FILOSOFIA Autor: Gelson Vanderlei Weschenfelder’ " Graduado em Filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2007), Mestre em Educagio pelo Centro Universitario La Salle (2011) e Aluno especial do Doutorado em educagdo UFRGS. REI rersuoetoeayono.et OS SUPER-HEROIS E ESTA TAL DE FILOSOFIA Resumo: Um dos grandes cones da cultura POP da atualidade & forte ressurgimento dos super-herdis das historias em quadrinhos, muito desse sucesso se deve as adaptagdes feitas dos quadrinhos para 0 cinema, Os supet-herdis dos quadrinhos trazem de forma perspicaz questies referentes a tema que os seres humanos cenirentam em seu dia-a-dia, tais como: ética, justiga, amizades, moral, familia, ete. Por trazerem tais temas, estes personagens trazem grandes diseussdes filoséficas para o universo infanto-juvenil, algo pouco visto fora dos citculos filoséticos. Palavras chav. \uper-herdis; historias em quadrinhos, éticae filosofia Abstract: One of the biggest icons in pop culture today is strong resurgence of the superhero comic book, much of this success is the adaptations of comics made into movies. The superheroes of comies bear so insightful questions about the theme that human begins face in their day to day, such as: ethics, justice, friendship, morality, family, ete. By bringing these issues, these characters bring great philosophical discussions to the universe juvenile, something rarely seen outside of philosophical circles. Key words: Super-heroes - Comics ~ ethics and philosophy. Introdugio Otha aquele cara de collant colorido ali!!! Olhe, outro pulando de prédios em prédios! Nossa!!! Aquele esta lutando com um monstro... Bom, para quem nao conhece se espanta com 0 universo dos Super-Herdis, ligico que é algo ficticio, mas muitos esto aprendendo o segredo que era mantido vivo hé anos por um grupo de fas de histérias em quadrinhos, as histérias cléssicas dos super-heréis, que continuam ainda hoje sendo apreciadas por um piiblico cada vez mais interessado nestas histérias; ainda mais com a invasio desses super- heréis nas telas. A cada filme langado, ¢ uma multidao lotando as salas de cinema; as baneas lotadas de HQ’s (historias em quadrinhos); e varios produtos sendo comercializados, com estampas destes super-herdis. Mas 0 que fazem estes caras fantasiados para se tornarem to populares? O que eles fazem para tornarem tao atraentes? Um dos mais notiveis desenvolvimentos na cultura pop da atualidade & © forte ressurgimento dos super-herdis como icone cultural e de entretenimento, mas estas histérias nao sdo tao inocentes como parecem; elas nao trazem s6 o divertimento; se expde de uma forma perspicaz as questdes referentes a ética € moral, que todo ‘ser normal’ enfrenta em seu dia. dia. Estas histérias introduzem e abordam de forma vivida as questdes de suma importincia enfientadas pelos seres humanos, as questdes referentes a ética, a responsabilidade pessoal € social, a justiga, ao crime € ao castigo, a mente e as emogdes REI rersuoetoeayono.et humanas, 4 identidade pessoal, 4 alma, 4 nogio de destino, ao sentido de nossa vida, ao que pensamos da ciéncia ¢ da natureza, ao papel da fé na aspereza deste mundo, a importancia da amizade, a0 significado do amor, & natureza de uma familia, as virtudes cléssicas como coragem € muitos outros temas. Por isso que muitos se prendem ao universo dos super-herdis e dio grande audiéncia a este tema. Foram os gregos que foram os primeiros a entender o gera audi éncia, Segundo 0 filésofo grego Aristételes (384-322 a.C.), ao experimentar (a trama nas telas ou lendo um HQ's), sentimentos fortes ¢ acontecimentos tragicos, esperava-se que as pessoas purificassem as proprias emogdes; assim faz 0 espectador/leitor refletir sobre os problemas centrais da condigo humana, como a natureza do destino ou conflitos entre compaixio e a justiga. A teia ética do Homem-Aranha Considerados por alguns especialistas, um dos mais famosos Super — Herdis das histérias em quadrinhos, 0 Homem ~ Aranha, é a figura ficticia carimbada na vida de muitas criangas e adolescentes. Quem nunca ouviu falar neste super — herdi? Quem nunca viu algum produto com sua estampa e logo marca? As adaptagdes de sua historia para animagdes da Televisio e principalmente para o cinema sio um sucesso, no cinema os ter filmes, foram recordes de bilheterias, extraordindrio sucesso. Mas 0 que faz. este super — her6i atrair tantas pessoas, bom este aracnideo nos oferece um super-heréi com quem podemos nos identificar. Peter Parker (0 Homem — Aranha sem a mascara) é um jovem que luta contra as tentagdes humanas comuns, bem como os entraves da adolescéncia, Logo apés ser picado por uma aranha radioativa (no filme uma aranha geneticamente modificada’), dando a Peter Parker os super — poderes de escalar paredes, atirar teias e ter super — sentidos, que assim Ihe toma - o em 0 Homem — Aranha. Mas o que faz, um adolescente, se tornar um her6i, salvando vidas, e colocando a sua em risco, € ndo usando seus poderes para beneficios proprios’ Peter Parker, foi adota pelos tios, os simpaticos ¢ adoriveis Ben e May Parker, pois seus pais morreram em um terrivel acidente de transito. Apés de ser picado pela aranha, na qual recebeu seus poderes; seu tio Ben, sentindo que ha algo de diferente no sobrinho Ihe di um conselho que, “com grande poder, vem grandes responsabilidades”. Apos a morte de seu ? Homem — Arana (Spiderman) Diresio: Sam Raimi, Columbia Picture e Sony Picture Entertainment, 2002, 1 DVD (121 min), color REI rersuoetoeayono.et tio Ben, assassinado, essa frase, Peter Parker o levara para o resto de sua vida como tornando assim no super — heréi Homem ~ Arana Partes do herofsmo do Homem — Aranha, ele no precisaria fazer 0 que faz. Peter Parker tem a permissdo para viver uma vida comum, © fato de escolher outro caminho, 0 de sero Homem — Aranha, € que faz suas ages serem dignas de louvor. A grande responsabilidade que vem com o grande poder ndo é o dever de usar esse poder como O Homem — Aranha (um super ~ herdi), é no maximo, uma obrigagdio de nao prejudicar os outros usando — 0 de modo errado. Isso é um ato nobre. Escolher e cumprir o dever, combater © crime, ajudar os indefesos e proteger estes das perversas maquinagdes dos vildes. Isso sim tora em um super — her6i Peter Parker, assim como outros super — herdis jd citados, tem na filosofia da ética das virtude de Aristételes, sua motivagdo herdica, © Homem — aranha um ser corajoso, que pratica a mediania, A coragem é a mediania tocante ao medo e & autoconfianga. Ora, fica claro que as coisas de que temos medo slo coisas temiveis, o que significa dizer de uma maneira geral, sio males, de modo que 0 medo €, as vezes, definido como a antecipagdo do mal. E verdadeito, portanto, que temos medo de todas as coisas mas, Entretanto, nio se pensa que a coragem esicja relacionada com todas essas coisas, uma vez que hi alguns males que & certo ¢ nobre temer ¢ vil no temer, do que & exemplo a desonra ou ignominia, Aquele que teme a desonra é um homem honrado, detentor dde um devido senso de pudor.” Assim como 0 super ~ herdi Batman, ele é um exemplo a cidadios de New York’; também vive em exceléncia como Super — Homem; ¢ conhece o bem, assim pode pratic4- lo, como os X-men, Mas Peter Parker, diferente a estes super — herdis citados, é um adolescente, e para Atistételes, Para que o individuo possa, julgar um assunto particular, é preciso que o individuo tenha sido instruido nesse assunto, (..) € necessirio que tenha recebido uma educago completa. Os jovens nio estio aptos para o estudos da politica, porque carecem de experiéncia de vida c de conduta.” Mesmo Peter Parker sendo um jovem, ele passou por diversos enfrentamentos em sua vida, a perda acidentalmente dos pais, quando ainda crianga, ¢ uma destas. Mas, foi instruido 9 ARISTOTELES. Fticaa Nicdmaco. 2 edigdo. Tradugdo Fdson Bini, Bauru, SP: Edipro,2007. 1, 1115 al, 5-15, ‘Cidade onde se base sew histria do HTomem ~ Aranha ° ARISTOTELES. Ftica a Nicémaco, edigio. Tradugdo Edson Bini, Bauru, SP: Edipro,2007.1, 1098 al, 1-04, REI rersuoetoeayono.et desde crianga, dentro de uma vida moralmente virtuosa, tendo como exemplo os seus tios, Ben e May Parker. ara que alguém possa se tornar um individuo bom é prociso que haja educagiio © ‘reinamento aptopriados, ¢ que se passe cm seguida a viver segundo hébitos virtuosos e nada fazer de vil seja voluntiria ou involuntariamente.* Peter Parker tem, em sua familia, o exemplo de uma educagio para a virtude, ¢ adquirindo seus super — poderes, tomando — se em Homem — Aranha, comegou a colocar em pritica (principalmente apés a morte trigica de seu tio Bem), tudo que aprendeu, Talvez.ai esteja 0 motivo, pela qual o super — herdi Homem — Aranha é tdo popular, cle passa pelas mesmas necessidades que qualquer jovem enfrenta em seu dia — a dia, desde problemas financeiros, as questées morais. Seja qual fora situasio seja qual foro confito que tivermos dentro de n6s sempre temas uma escolha, pois sdo as nossas escolhas que fazem de nds o que somos e sempre podemos escolher aquilo que & certo.” A felicidade de Aristételes vem de Kripton O seu planeta estava condenado; pouco antes da destruigdo um bebé chamado Kal-EL, © ltimo filho de Kripton foi mandado para a salvagdo. Caindo no planeta Terra, foi encontrado por um simpatico casal, os Kent. Foi batizado de Clark, e foi criado como um filho. J4 em sua infancia mostrava-se diferente, e com seu erescimento descobriu que poderia desafiar a gravidade, que tinha uma forga descomunal, era mais répido que qualquer coisa criada na Tetra; com muito amor ¢ carinho, seus pais adotivos o ensinaram a usar ¢ compreender seus dons. Ele jurou proteger 0 mundo que 0 adotou, usando seus dons, para defender a justiga e a paz deste mundo, se tornando assim no ‘Super — Homem’, Esta é a historia do maior ~— popular~ Super. — ~—-Herdis dos quadrinhos. Indago-me, sobre a vida deste herdi, Por que ele faz 0 que faz? Quais so os seus motivos? © que leva a assumir o papel de protetor e defensor de todos? Por que ele procura sempre fazer a coisa certa? Bom esta histéria nao passa de algo ficticio, mas pode nos trazer grandes reflexdes, para 0 nosso dia—a-dia, © que um individuo especial, como Clark Kent /Super-Homem, estar fazendo em salvar vidas, ao invés de usar seus poderes a seu beneficio, como por exemplo: usar sua © ARISTOTELES. fica a NicOmaco. 2* edigdo. Tradugdo Fason Bini. Bauru, SP: Fdipro,2007. X, 1180 al, 1 * THomez- Aranha 3 (Spiderman 3), Diregio: Sam Raimi Columbia Picture e Sony Sony Pieture Entertainment , 2007. 1 DVD (139 min.) color. REI rersuoetoeayono.et grandiosa forga, espremendo um carvao até conseguir um diamante. Por que ele se toma um repérter do jornal, o ‘Planeta Diério’? Bom Clark Kent/Super-Homem, desejaria nfo se mostrar muito, pois qual seria a reagZo das pessoas em saber que ele ¢ um extraterrestre, € que poderia derreter um carro com um olhar de raiva. Com certeza a populagdo ficaria amedrontada com este tipo de ser. Por isso Kal-EL se esconde atris de seus dculos, se escondendo na identidade de Clark Kent, sendo um cidaddo comum, mundo, Foi criado entre os Kal-EL, sabe que ele nao é daqui, ndo pertence a humanos; mas, na verdade, no é um de nés. Kal-EL (Super-Homem) é 0 inico sobrevivente de sua raga. Ele é um extraterrestre, € se sente muito sozinho neste mundo, segurando este grande fardo, o seu grandioso segredo. E ai estd a chave de suas atitudes herdicas. O desejo basico de pertencer, de fazer parte, € um aspecto fundamental da natureza humana, nossa necessidade de nos ligarmos aos outros é vital para 0 nosso bem-estar. Mesmo sendo um extraterrestre, Kal-EL sente a mesma necessidade basica de comunidade. Mas Kal-EL, nio dé as costas & sua heranga alienigena, ele sabe que, s6 quando usa seus dons naturais da raga kriptoriana, é que se sente vivo e engajado. S6 quando ele age em seu pleno potencial, em vez de se esconder por tras de um par de éculos, ele participa de verdade do mundo a sua volta, S6 quando ele é abertamente kriptoniano (Super-Homem), ele pode ser também um homem da Terra, com exuberdncia e exceléncia. Quando ele vive como a pessoa que realmente é, ¢ aplica suas distintas forgas a servigo dos outros, ele assume seu lugar justo na comunidade, da qual agora ele faz parte e na qual se sente realizado, Nao foi por coincidéncia que, quando o Aristételes pretendia descobrir a raiz da felicidade, ele -obriu a comegou a explorar o que é viver com exceléneia, O Super-Homem, a seu modo, d mesma relagio. Mas se a felicidade consiste na atividade de acordo com a virtude, & razodvel que sejaatividade de acordo com a virtude maior (exceléncia), e esta serd a virtude da melhor parte de nés.* Super-Homem ajuda quem esté em perigo porque ele sente um dever moral superior, faz isso porque seus instintos induzem-no a atos de moralidade. Ha uma quantidade saudavel de interesse proprio nestes atos; ao ajudar os outros, Super-Homem ajuda a si mesmo, pois cumpre seu destino ¢ sua natureza. O Super-Homem 6, na verdade, o individuo auténtico que aceita quem ele & de fato, celebrando esse verdadeiro eu e usando todos os seus poderes para © bem dos outros ¢ de si mesmo, Um ser moralmente virtuosos segundo Aristételes. ® ARISTOTELES. fitica a Nictmaco, 2 edigéo. Tradugio Edson Bini, Bauru, SP: Edipro,2007, X, 1177 at, 10-14 REI rersuoetoeayono.et (© Super — Homem ajuda quem esta em perigo porque ele sente um dever moral superior, e sim, fiz isso porque seus instintos nafurais e sua formagio no centro — ‘este americano (Smallville, Kansas), induzem ~ no a atos de moralidade mas, junto a esse genuino altruismo, hé uma quantidade saudavel de interesse proprio © uma qualidade invejével de sua parte de cquilibrar as suas necessidades pessoais com os outros, de um modo que beneficie a todos, Ao ajudar os outros, © super — Homem ajuda a si mesmo. Quando ele vai ao socorro de alguém, esti exercendo seus poderes distintos e cumprindo seu verdadeiro destino. E isso, claro, o beneticia Super — Homem, segue os passos de Aristételes, e age de acordo com a justa razao, Em primeiro hugar, temos que observar que as qualidades morais sio de tal modo consttuidas que sio destruidas pelo excesso e pela deficincia,(..) Aquele que foge de tuto tomado pelo medo e jamais suporta qualquer coisa se toma um covarde; aquele que ndo experimenta medo diante de coisa alguma e tudo enfrenta se toma temeréri. (..) Assim, @ temperanga e a coragem sio destruiéas pelo excesso e pela dk 1cia € preservadas pela observancia da mediania. ” Mutagao e 0 caminho para o bem Ja 0s X — men, que so adolescentes mutantes e, por isso mesmo, repugnantes aos humanos normais (como fizemos quando discriminamos alguém), que os temem e os odeiam, tratando — os como animais. Mas ao contrario dos humanos normais, estes jovens mutantes nao os odeiam pela discriminagao, pelo contrario, lutam em defesas destes. Aristoteles explica esta atitude dos X — men, através da ética das virtudes, onde colocam suas potencialidades para atingir um bem comum. Para que alguém possa se tomar um individuo bom que haja educagio e treinamento apropriados, © que se passe em seguida a viver segundo hibitos virtuosos e nada fazer de vil seja voluntéria ou involuntariamente,entio isso ser’ assegurado se as vidas humanas forem reguladas por uma certa inteligéncia e um sistema correto investido do poder de aplicar sangdes adequadas' Os X-men sio preparados para defender a humanidade dos ataques de outros mutantes, so preparados para defender aqueles que tanto os temem ¢ os odeiam. A escola de Charles Xavier é, digamos assim, uma cépia da escola de Aristételes, “IRWIN, Willian, Super ~ Herds ea filosfia. So Paulo Madras 2008, pig 2 “ ARISTOTELES. Etica a Nicémaco. 2 edigdo. Tradugdo Edson Bini. Bauru, SP: Edipro,2007. II, 1104 al, 10-27. ARISTOTELES, Erica a Nicdmaco, edigio, Tradugao Edson Bini. Baura, SP: Edipro,2007, X, 1180 al, 14- 8 REI rersuoetoeayono.et Por que os X-men respeitam tanto os seres humanos que, por sua vez os rejeitam? O que faz com que se engajem numa luta para a convivéncia pacifica entre humanos e mutantes? Enfim, por que os X-men sio bons? Uma possivel resposta é a hipétese de que eles esto convictos de que essa forma de conduta é melhor para garantir a tolerdincia ¢ a aceitago dos outros. Seu compromisso com o bem resultaria de um calculo estratégico quanto 4 politica mais til para garantir o fim desejado'’. Mas os seres humanos no reagem bem aos atos dos super-herdis X-men. Seus atos tornam-se infrutiferos. Mas mesmo que os X-men desejem e esperam ser aceitos na sociedade, © seu compromisso com o bem nao parece se basear na expectativa de que isso ocorra Temos, portanto, assegurar que 0 cariter tenha, desde 0 inicio, uma finalidade natural com a virtude, amando o que € nobre e abominando o que é vil. E é dificil obter uma educaedo correta na virtude a partir da juventude sem ser educado segundo leis corretas, pois viver de mancira moderada ¢ ardua nio é agradavel & ‘maioria dos homens, patticularmente quando sio joven", Mas no ha divida de que nio basta que as pessoas tenham a correta nutrigdo ea correta disciplina na juventude; é necessirio, também, que pratiquem as ligSes aprendidas e as ratifiquem através do hibito quando crescerem”, Mas os jovens mutantes sabem que nao podem desistir, pois o futuro dos mutantes depende somente deles, ¢ cles precisam colocar em pratica © que aprenderam no Instituto Xavier. Assim, esses mutantes internalizam os valores de seu mestre, Charles Xavier, ¢ tém uma motivagdo interior para fazer o que & certo bom, um impulso interno, emocional ou psicolégico que pode proporcionar um motivo para resistir & tentagdo de se voltar para os proprios interesses”’, ‘A pergunta acerca da bondade dos X-men, numa perspectiva aristotélica, esté na questo do exemplo. O professor Charles Xavier da um bom exemplo de amor ao bem para ios". seus pupilos. E segundo Aristételes, Bom é aquele que ouve 0s s: IRWIN, Willian. Super — Herdis e a Filosofta. So Paulo: Madras,2005. pag. 164-165, » ARISTOTELES, Fica a Nicmaco. 2 edigio, Tradugio Edson Bini, Bauru, SP: Edipro,2007,X, 1179 bl, 30-35. “ ARISTOTELES, Erica a Niodmaco, 2 edigo, Traduyio Edson Bini. Bauru, SP: Edipro,2007, X, 1130 al, 5 * IRWIN, Willian. Super — Herdis e a Filosofia. Sio Paulo: Madras,2005. pag. 166. “ ARISTOTELES. Etica a Nicémaco, 2 edigio, Tradugio Edson Bini. Bauru, SP: Edipro,2007, 1095 bl, 10. Aristételes cita o poema Os trabalhos e os dias, do poeta grego Hesiodo. REI rersuoetoeayono.et Batman: O aristotélico Aqui esta o super —heréi que (a meu ver), & o simbolo da teoria da ética da virtude do filosofo Aristételes. Chamam de “super” heréi, mas este no possui nenhum tipo de “super - poder”. A sua historia com mais de 70 anos de existéncia, atrai cada vez. mais pessoas de todas ai um ddades. E uma destas razSes pela qual Batman atrai tantos fas é que ele ‘apena ser humano, Um homem igual a nés, mas com uma tnica diferenga (além que é um 40), personagem da fic ele devotou toda a vida a vingar a morte dos pais ¢ todas as outras vitimas de crimes, arriscando a propria vida para proteger sua cidade de Gothan City ¢ além, Esse homem dedicou anos e sacrificou tudo para treinar 0 corpo € mente até chegar A perfeigdo, E incaleulavelmente rico, mas nega a si mesmo todos os luxos ma busea de um objetivo que jamais sera aleangado. Bruce Wayne, ndo quer ver outras criangas perderem os pais assassinados, como ocorreu com ele préprio;sua cidade, Gothan City, esta nas maos dos criminosos e corruptos, € com o espitito de vinganga e justiga, pelo © que Ihe ocorreu quer dar um basta nesta situagao, “Quero mostrar ao povo que Gothan ndo pertence aos criminosos e corruptos’""*. Decidido a combater as injustigas, 0 drftio Bruce Wayne, viaja pelo mundo buscando recursos para combater a injustiga e amedrontar aqueles que semeiam 0 medo. A sua busca é inalcangavel, ele reconhece que sozinho, nao ter como alcangar tal objetivo. Para sair da apatia, as pessoas precisam de excmplos dramiticos. Mas nio posso fazer isso como Bruce Wayne, Como homem sou de came ¢ oss0, posso scr ignorado e destruldo, Mas como simbolo, posso ser incorruptivel, posso ser etemo."” Assim Bruce Wayne decide se tomar o justiceiro mascarado, libertando seu ego, se tomando em Batman. Mas por que um jovem érfao milionério, gastaria suas noites pulando em telhados, percorrendo becos para acabar com a injustiga © violéncia de sua cidade? Aristételes nos diz que, para vocé possa aprender a se tomar um ser humano bom e virtuoso, precisamos ter bons exemplos e imitando — os. IRWIN, Willian, Baoman ea Filosofia: O Cavaleiro das Trevas da Alma, Sio Paulo: Madtas,2008. pig. 13. "Batman Begins. Diteyi: Christopher Noilan, Wamer Bros Picture, 2008. 1 DVD (139 min), color Batman Begins. op, cit, REI rersuoetoeayono.et Quando # prudéneia (sabedoria pritica),¢ possivel chegarmos a sua definiglo pela consideragio das pessoas com as quais a creditamos. Ora, tem ~ se como caracteristca do homem prudente ser ele capaz de bem deliberar sobre o qu € proveitoso para si mesmo, nfo num ramo em particular (..), mas 0 que é vantajoso ou til como recurso para o bem — estar em geral.”* Bruce Wayne tinha na figura do pai o exemplo a seguir; na depressio, Thomas Wayne, quase fez sua empresa (Wayne Corporation), ir 4 faléncia, combatendo a pobreza, Pensava que, os ricos de Gothan City seguiriam seu exemplo e tentariam salvar a cidade, Mas com 0 seu assassinato, no pode cumprir este papel. Coube ao jovem Wayne esta tarefa, ser 0 exemplo para Gothan City e, Batman € este simbolo de mudanga, “..£u quero inspirar as soas de Gothan City, ela tem salvagao, ele ressurgiré™". pes Segundo Aristételes, Batman é um ser virtuoso, mas como chegou a ser esse ser? Para © filosofo grego saber o que é virtude somente ndo basta, tenhamos que praticd — la, Para Aristételes, tomamos seres humanos bons ¢ virtuosos pela pritica e repetigao. As virtudes, nés adquirimos por te - lis inicialmente e realmente praticado, tal como praticamos as artes. Aprendemos uma arte ou oficio fazendo as coisas que {etemos que fazer quando a (o) tivermos aprendido:homens se tornam construtores, construindo casas e se tormam tocadores de lira tocando lira, Analogamente, nos tomamos justos realizando atos justos, corajosos realizando atos corajosos.”” ‘Uma pessoa justa, 6 alguém que com regularidade ¢ confiabilidade pratica agdes justas, e Batman é esta pessoa. Treinou corpo ¢ mente para chegar & perfeicio, Batman parecer ser o exemplo de um bom ser humano, um ser virtuoso, do que Aristételes tinha em mente quando sugeriu para olhéssemos para as pessoas virtuosas para nos orientarmos sobre como tornamos moralmente melhores. Muitas pessoas consideram Batman um ser humane moralmente exemplar. Ele ¢ sem diivida corajoso e inteligente. Tem um forte senso de justiva, & capaz de se manter controlade mesmo em meio a uma luta e esti disposto a sactificar sua propria vida e felicidade para fazer do mundo um lugar melhor.” Herdis como Asa Noturna, Robin ¢ outros herdis mascarados junto com Comissirio Gordon, seguem a sugestio de Aristételes, escolheram Batman como o ideal, escolheram » ARISTOTELES. fica a Nicémaco. 2 edigio. Tradugdo Edson Bini, Bauru, SP: Edipeo 2007. VI, 1140 al, 25-28. 2 Batman: O eavaeiro das trevas (‘The Dark Knight) Dizeglo: Christopher Noilan, Warner Bros Pictre, 2008, 1 DVD (152 in), color ® ARISTOTELES. fica a NicOmaco. 2" edie. Tradugdo Eason Bini. Baur, SP: Fa IRWIN, Willian. Batman e a Filosofia: O Cavaleiro das Trevas da Alma, Paulo: Madras, 2008. pig. 229 2007. 1, 1103 1,25. REI rersuoetoeayono.et imitar as ages ¢ © comportamento de uma pessoas virtuosamente exemplar, a fim de tomar virtuosos como ele. Bruce Wayne sabe que, sozinho nio ter como alcangar seu objetivo, de tornar Gothan um lugar melhor para se viver, mas sabe que como Batman, pode vir a ser o exemplo para outros o seguir, se tormando assim no simbolo da virtude, do ser moralmente incorruptivel, © ser ético. Talvez todos nds devéssemos seguir o exemplo d e super —herdi, Batman, ou tentar ser um pouco mais parecidos com este ser ficticio e agir como ele, na esperanga de que possamos aos pouco adquirir algumas de suas virtudes. Este super — herdis é um grande exemplo pedagégico sobre o que é viver moralmente em sociedade, seguindo a ética da virtude de Aristétel Consideragies Finais Nao é porque Aristételes tenha dito que o fildsofo pode especular sobre todas as coisas que a gente se debruga sobre as histérias em quadrinhos de super-herdis © suas adaptagdes para as animagdes da TV e para o cinema. Elas podem ser objeto de investigacio para a filosofia e para muitas ciéncias, como a sociologia, a psicologia, a teologia, a literatura, dentre outras. Mas o que nos interessa mais de perto é o aspecto pedagégico que os Super-Herdis das HQ’s representam, especialmente na formagio do ideal de vida das criancas e dos adoles entes, mais especificamente, na formagdo da conseiéneia moral Se Piaget e Kohlberg tem alguma razo quanto aos estigios de desenvolvimento da consciéncia moral, as HQ's cumprem uma enorme importincia na génese e na formagio da consciéncia moral. © Super-Heréi inspira a internalizagdo da norma como algo bom, e em certa fase até como algo quase que sagrado. A autoridade de um principio vem daquele que 0 apresenta, De mais a mais, os Super-Herdis ensinam pelo exemplo, eles mostram pela agdo 0 que & bom € justo, E isso & muito mais elogiiente do que os conselhos em abstrato. E é também aristotélico: aprende-se ao seguir 0 exemplo das pessoas mais virtuosas, mas a virtude se mostra nas ages do cotidiano. Entéo, além da finalidade explicita de proporcionar entretenimento, as historias em quadrinhos de super-herdis, apresentam as questdes relacionadas ao comportamento moral & dao exemplos de virtuosismo para os seres humanos enfrentarem os problemas morais do dia— a-dia. Elas mostram vivencialmente as questées a importancia enfrentamos no cotidiano, prineipalmente com relagdo 4 responsabilidade pessoal e social, justiga, ao crime © a0 castigo, 4 mente ¢ as emogdes humanas, a identidade pessoal, alma, & nogdo de destino, ao i REI rersuoetoeayono.et sentido de nossa vida, ao que pensamos da cigncia e da natureza, ao papel da #8 na aspereza deste mundo, & importancia da amizade, ao significado do amor, 4 natureza de uma familia, as virtudes cldssicas como coragem e muitos outros temas. Embora sejam produzidas para que 0 grande piblico as consuma como diversio, as H's podem receber esta forma de leitura mais criteriosa, filoséfica, que mostra o aspecto ético que as perpassa ¢, no caso especifico da nossa Ieitura, que essa perspectiva é a da ética das virtudes ou da phronesis de Aristételes. E 0 exemplificamos, apenas para retomar, com alguns Super-Herdis mais influentes quanto a este aspecto. Além desse aspecto pedagégico mais geral, também se poderia enfatizar ainda que as HQ’s ¢ sua transformagdo em desenhos e filmes para a TV e 0 Cinema podem servir de material didatico para facultar 0 aprendizado do pensar filoséfico mais geral, envolvendo assuntos como a sociedade, as questdes de género e diferenca, a questo do entendimento humane, ete Por outro lado, ainda que tenhamos mantido 0 nosso foco na perspectiva aristotélica, as HQ’s também abordam temas que se poderia muito bem relacionar com as teorias filos6ficas de muitos outros autores, como Kant, Rousseau, Kierkegaard, Nietzsche, dentre outros. Mas o que nés destacamos é a essa leitura aristotélica das histérias, para mostrar, por exemplo, que as os Super-Herdis praticam ages virtuosas, que podem servir de exemplo a ser seguido e isso pode ser didaticamente utilizado no trabatho de educadores que, querendo ou no, influem sobre a formagdo da consciéncia moral das criangas. Podem, entio, fazé-lo no intuito de refletir sobre a pritica do bem, da justiga, da prudéncia, e assim, ajudar os educandos a caminhar na diregdo de habitos virtuosos, que se mostram nas ages virtuosas, ou para lembrar Batman, ndo é quem eu sou por dentro, mais o que eu faco que me define”. Bibliografia ARISTOTELES. Etica a Nicémaco. 2" edic 2007. jo, Tradugdo Edson Bini, Bauru, SP: Edipro, IRWIN, Willian (org.). Super — Heréis e a Filosofia: Verdade, justiga e 0 caminho socritico Tradugao: Marcos Malvezzi Leal. Sao Paulo: Madras, 2005. IRWIN, Willian, Batman e a Filosofia: O Cavaleiro das Trevas da Alma. Sao Paulo: Madras,2008. KANT. Fumentagao da Metafica dos Costumes. Sao Paulo: Martin Claret, 2003. * Batman Begins. Diregio: Christopher Noilan, Warner Bros Picture, 2005. 1 DVD (139 min.}, color. REI rersuoetoeayono.et NOILAN, Crhistopher. Batman Begins. Diregdo: Christopher Noilan. Warner Bros Picture, 2005. 1 DVD (139 min.}, color. NOILAN, Cthistopher. Batman: O cavaleiro das trevas ( The Dark Knight). Dir Christopher Noilan. Warner Bros Picture, 2008. 1 DVD (152 min.), color. RAIMI, Sam, Homem-Aranha (Spiderman). Dirego: Sam Raimi, Columbia Picture, 2002. 1 DVD (121 min,), color. RAIMI, Sam. Homem - Aranha 3 (Spiderman 3). Diregao: Sam Raimi. Columbia Picture e Sony Sony Picture Entertainment , 2007. | DVD (139 min.), color.

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