You are on page 1of 17
I NUMeEros REAIS O objetivo deste capitulo é a apresentagZo das principais propriedades dos ntimeros re- ais. Nao nos preocuparemos aqui com a definigao de ntimero real, que é deixada para 0 Apéndice 6. No que segue, admitiremos a familiaridade do leitor com as propriedades dos nuimeros naturais, inteiros e racionais. Mesmo admitindo tal familiaridade, gostariamos de falar rapidamente sobre os ntimeros racionais. E 0 que faremos a seguir. 1.1. OS NUMEROS RACIONAIS a Os mimeros racionais so os ntimeros da forma 7 sendo a e b inteiros eb # 0; 0 con- junto dos nimeros racionais é indicado por @, assim: a= {Ziqbez.640} onde Z indica o conjunto dos ntimeros inteiros: Z = (0.73, -2, -1,0,12.3, Indicamos, ainda, por N o conjunto dos nimeros naturais: N = {0, 1,2 } Observamos que N € subconjunto de Z, que, por sua vez, € subconjunto de Q; isto 6, todo nimero natural é também néimero inteiro, ¢ todo inteiro é também ntimero racional. Sejam 4 e © dois racionais quaisquer. A soma e 0 produto destes racionais sao obtidos bd da seguinte forma: ad + be a oo bod la z ols Alo = & a 2 Um Curso de Calculo — Vol. 1 A operagdo que a cada par de ntimeros racion: do, € a que asso s associa © produto denomina-se multiplicacao. sua soma denomina-se adi- O mimero racional & se diz positivo se a+ b EN; sea-b E Nea #0, entao © se diz estritamente posttivo. ” Sejam re s dois racionais; dizemos que r 6 estritamente menor que s (ou que s 6 estrita- ‘mente maior que r) e escrevemos r < s (respectivamente s > r) se existe um racional 1 es. tritamente positivo tal que s = r+ f. A notagio r< s (leia: r menor ou igual a s ou simples. mente r menor que s) € usada para indicar a afirmagio “r < 5 ou r = s”. A notagao r > (leia: r maior ou igual as ou simplesmente r maior que s) é equivalente as < r. Observe que r positivo equivale ar = 0. Se r <0, dizemos que r é negativo. A quédrupla (Q, +, -, <) satisfaz.as seguintes propriedades (x, y, z so racionais quaisquer); Ass ociativa (Al) @t+y)+z=xt+O+2 (M1) Gy) z = x Oz) Comutativa (A2) x+y=ytx (M2) xy = yx Existéncia de elemento neutro (A3) x+0=x (M3)x-1=x (#0) Existéncia de oposto (A4) Para todo racional x existe um tinico racional y tal que.x + y = 0. Tal y denomina-se oposto de x ¢ indica-se por —x. Assim, x + (—x) = 0. Existéncia de inverso (M4) Para todo racional x # 0 existe um tinico racional y tal que x y = 1. Tal y denomina- " = 1 * = se inverso de xe indica-se por x ' ou —. Assim, x+x7! = 1. te Distributiva da multiplicagdo em relagdo a adigdo (@) xy + 2) = ay + 2xz. Reflexiva (Ob xSx Anti-simétrica (02) asye yexmxay (leia-se: sex < yey xtz xzsyz (Multiplicando-se ambos os membros de uma desigualdade por um mesmo niimero positivo, o sentido da desigualdade se mantém.) Observagao. Seja IK um conjunto qualquer com pelo menos dois elementos e suponhamos que em K estejam definidas duas operacdes indicadas por + e; se a terna (IK, +, -) satisfizer as propriedades (A) a (A4), (M1) a (M4) e (D), diremos que (IK, +, -) é um corpo. Se, além disso, em I estiver definida uma relagdo (<) de modo que a quddrupla (K, +, , <) satisfaca todas as 15 propriedades anteriormente listadas, entio diremos que (K, +, -, <) € um corpo ordenado. Segue que (Q, +, +, <) 6 um corpo ordenado; entretanto, (Z, +,-, <) no é corpo ordenado, pois (M4) nao se verifica. Os mimeros racionais podem ser representados geometricamente por pontos de uma reta.. Para isto, escolhem-se dois pontos distintos da mesma, um representando 0 0 0 outro o 1. Tomando-se o segmento de extremidades 0 e 1 como unidade de medida, marcam-se os representantes dos demais ntimeros racionais. Se 0 ponto P for o representante do ntimero racional r, diremos que r € a abscissa de P. Na figura anterior, ib €a abscissa de A; 5 é a abscissa de B. Todo mimero racional r é abscissa de um ponto da reta; entretanto, nem todo ponto da reta tem abscissa racional. Antes de construir um ponto da reta que nao tem abscissa racio- nal, vejamos os seguintes exemplos. EXEMPLO 1. Seja a um mimero inteiro. Prove: (j) se a for fmpar, entdo a” também seré impar; (ii) se a for par, entao a também ser par. Solugaio () Como a ¢ impar, a é da forma a = 2k + 1, k inteiro. Entdo: (2k + 1)? = 42 + 4k + 1 = 22K + 2k +1; a como 2k? + 2k é inteiro, resulta a” impar. (ii) Por hipétese, a” é par; se a fosse {mpar, por (i), terfamos a” também impar, que contra- tia a hip6tese, Assim, a? par = a par. = ali ae 4 Um Curso de Céleulo— Vol. 1 EXEMPLO 2. A equacio x” = 2 nao admite solugdo em Q. Solugao 2 De fato, suponhamos, por absurdo, que exista uma fracdo irredutivel : tal que (2) entdo: Fe ae esa oe 4 Be a’ pi @ par, sendo a par, ser da forma a = 2p, p inteiro; a? = 252 eh oe teat waa fae 2b? = 2p? = b. Assim, 6? € par e, portanto, b também o é; sendo a e b pares, a fragao A é redutivel, contradigao. ‘Vejamos, agora, como construir um ponto da reta que no tenha abscissa racional. (P € a imersecgio do eixo x com a circunferéncia de centro 0 € raio d.) 0 er = Pelo teorema de Pitdgoras, d” = 1? + 17 = 2 (veja figura anterior); assim a abscissa de P deveria ser d que nao € ntimero racional (Exemplo 2). Admitiremos que todo ponto da reta tem uma abscissa x; se x nao for racional, diremos que x € irracional. O conjunto formado por todos os mimeros racionais e irracionais é 0 conjunto dos ntimeros reais que sera indicado por R. 1.2. Os NUMEROS REAIS Como dissemos na segao anterior, o conjunto dos ntimeros reais sera indicado por R. R contém Q, isto é, todo mimero racional € um ntimero real. Os mimeros reais que niio si0 racionais denominam-se irracionais. Em R esto definidas duas operagdes, adigiio (+) e multiplicagao (-) e uma relago (<)- A adigdo associa a cada par (x, y) de niimeros reais um sinico méimero real indicado por x + Ys a multiplicacdo, um tinico real indicado por x - y. As operagdes de adigdo e multiplicagi0 definidas em R, quando restritas a Q, coincidem com as operagdes de adigzio e de multipli- cagiio de ©; 0 mesmo acontece com a relagdo (=). Admitiremos que a quddrupla (R, +, -, <) € um corpo ordenado, isto €, satisfaz todas 8S 15 propriedades listadas na seco anterior: (Al) a (A4), (M1) a (M4), (D), (Ol) a (04), (OA) e (OM). Reveja tais propriedades. cites, Os exemplos que damos a seguir mostram como obter outras propriedades a partir das mencionadas. J Niimeros Reais 5 EXEMPLO 1. Quaisquer que sejam os reais x,y, 2. y+w x0 a7! >0, o> 0 -2<0. d)sez>O0.xyz, (Multiplicando-se ambos os membros de uma desigualdade por um mesmo niimero negati- vo, 0 sentido da desigualdade muda.) D oexcy : © oercwh Be y, i) (Anulamento do produto.) 0. 0 & x=0o0u5 (Um produto é nulo se e somente se um dos fatores for nulo.) EXEMPLO 4. Suponha x > 0 y = 0. Prove: ax *° <)y?. (Veja item fdo Exemplo 3. a iplo 3.) b) Faga vocé. j me 6) Por (a), x < yoe< y°. Suponhamos, agora x2 < 7; se tivéssemos x > y, por (b) terfamos x > y’, contradigSo, Assim, x” 0.e y>0 x0 @& x>3 x-3=0 & x=3 x-3<0 & x<3. Assim, x — 3 > 0 parax > 3; x — 3 00x—2<0, dat, 2*? rs a Parax>2,x+3>00x—2>0,logo, =*3 > 0. = 3 + * a 5 = 0: para.x = 2, a expresso =~ 3 no esté definida, Para x = +3 a= 2 (4 = nfo existe.) Conclusao man S Gate 3 on eee x-2 bated fnaraid 9) x2 Eaoen ee as x2 : _ 2xt1 EXEMPLO 8. Resolva a inequagio << 0. Solucao ee : 2x +1 Inicialmente, estudaremos 0 sinal de" -. ee ee este oe 2x + | ———+—___ eZ 2 Set ee Sa + pee eee ee x—4 m8 4 2 Assim, {x ERI 5 5 (x + 2)!! A equivaléncia sera verdadeira para x > —2, pois, x >—2 = x +2> 0; multipli- cando, entdo, ambos os membros da desigualdade por x + 2, o sentido se mantera; assim, para x > —2, iad aes 35 o 3x-1>5(x+2). 10 Um Curso de Calculo — Vol. 1 Por outro lado, parax < —2, BENS 5 o 3x-1°S 5(x + 2). Por quer) 2 . Ber 6h 22 1, Resolva a inequagio. a) 3x+33x41 0)2x-1> 5x43 Dx+3<6x-2 e)1-3x>0 fx + 1> 3x 2. Estude o sinal da expressfio. @)3x-1 b3-x o)2 - 3x dsxtl jo A Qx + Ie 2) x-2 2-3x 2-x oe. h) 2D ara 8) Qx — NG — 2x) J xa — 3) Dx(x— Dx +3) ‘m) (x — 1)(1 + (2 ~ 3x) n) x? + 3) 0) (2x — 1)(x? + 1) Pp) ax + b, onde ae b sio reais dados, com a > 0. 9) ax + b, onde a < Oe b sao dois reais dados. 2 Resolva a inequagio. pees =O) 3x d) (2x — Yet 3)<0 AxQe-)20 Oe-Da+2H>0 eae x <3 ey Dare De oe DxQx—-Dae+hH>0 m) (2x — 1)(x-3)>0 n) Qx — 3x? + 1) <0 4. Divida x° — a’ por x ~ ae conelua que x3 ~ a3 = (x ~ a) (x2 + ax +22). 5. Verifique as identidades. ax -@ =(x—-axta) bye —@ = (e- alx + ax +a’) ox — at =(x- a + art xt a’) Nimeros Reais U1 5 2 dx ~ PaO aNtt ad +P? ar +a OP d= (a ale a2 4 BP 3 4g Peg onde n # 0 é um natural, 6. Simplifique. 2-1 a) ig) 25, 225 D (+h? m xth_ 7 eB or h G+ np-x3 (e+ hy? ~~ HP yj jae a h -7. Resolva a inequagio. axv-4>0 be-1<0 xr >4 de>. #9 x -4 >0 2 atl ao Ear #)Qx— Ne? 4) <0 hy 3x? > 48 ix? 0 é um real dado. D2? >? onde r > 06um real dado. 8. Considere 0 potindmio do 2° grau ax” + bx + c, onde a # 0, b ec sio reais dados. 4) Verifique que eer a? torte=a (+2) — Zz fronde A = 6 — dac, 2a 4a? te he a PA Um Curso de Céleulo — Vol. 1 ) Conclua de (a) que, se A > 0, as raizes de ax” + bx + ¢ so dadas pela formula -b+ VA z= ‘ 2a ©) Sejam x, -228 ex ae (A> 0) as ratzes de ax” + bx + c. Verifique que a x tx. =—— e 2 = a a 9. Considere 0 polindmio do 2° grau ax” + bx + ce sejam x ex» como no item (c) do Exercicio. Verifique que ax? + bx + ¢ = alx — x1) — %2)- 10. Utilizando 0 Exercicio 9, fatore o polinémio do 2.° grau dado. a)? — 3x42 bx -x-2 ox -d+1 Dx - 6x49 e) 2x — 3x f%-3x+1 gr 25 W3v +x-2 4-9 ) 2x? - 5x 11. Resolva a inequagio. a2 -3x+2<0 bye —5x+ 620 ox -3x>0 ax -9<0 or -x-220 far tx-2>0 ge —4xt4>0 hy3r—x<0 Dae = 4x +1<0 ar -4x+1<0 12. Considere 0 polinémio do 2.° grau ax” + bx + ce suponha A < 0. Utilizando o item (a) do Exercicio 8, prove: a) se a > 0, entdo ax” + bx + c > 0 para todo x. b) se a <0, entio ax + bx + c <0 para todo x. 13, Resolva a inequagao. ar+3>0 bv tx4+1>0 Ox txt1s0 dv +5<0 e(e- 3) +5)>0 NOx + NO +x+1) <0 g) x0? +1) 0 hy (1 — a? + 2x +2) <0 23 50 +l 14. Prove: 14 Um Curso de Célculo— Vol. 1 1.3. MODULO DE UM NUMERO REAL Seja x um ntimero real; definimos 0 médulo (ou valor absoluto) de x por: lela {#8 420 WS ax se x<0. De acordo com a definigaio acima, para todo x, |x| > 0, isto é, o médulo de um nimero real é sempre positivo. EXEMPLO 1. @isi=5. Disa Gass, . EXEMPLO 2. Mostre que, para todo x real, Pe Solugao Sex 0,1x1=xedaflxP =x. Sex <0,lx1= —xedaflxl? = (—x? Assim, para todo x real, |x? = x7. Lembrando que a indica a raiz. quadrada positiva de a (a > 0), segue do exemplo an- terior que, para todo x real, vx? =I21 . EXEMPLO 3. Suponha a > 0. Resolva a equago J2lize Solug&o Comolx!>0ea>0, Ixl=aelxP =a, Mas |x? = x2, assim @ & (x-a)(x+.a)=0 @x=aoux Ixl=aex Portanto, Ixl =a @x=aoux=—a. Nimeros Reais. 15 EXEMPLO 4. Resolva a equagiio | 2x + 11 = 3. Solugao Qx+1=3 xe lax+1l=3 ou e dx+1=-3 Assim, lax + 11=3 x= loux=— Sejam x e y dois méimeros reais quaisquer. Definimos a distancia de x a y por 1x» I. Sends Pe Q 0s pontos do eixo Or de abscissas xe y,e u 0 segmento de extremidades 0 ¢ 1, |x — yl€a medida, com unidade u, do segmento PQ. ae ee ieee x y x — 01, segue que | x1 éa distancia dex a 0. Delxl= tancia de x a 0 é menor que Tse, € SO- Seja r > 0; 0 préximo exemplo nos diz que a dist mente se, x estiver compreendido entre =re r. EXEMPLO 5. Suponha r > 0. Mostre que Ixl0). 16 Um Curso de Céilculo — Vol. 1 Solugdo Ix-pl Oelxlly1> 0 resulta lay l=Ixllyl Antes de passarmos ao préximo exemplo, observamos que, para todo x real, xSIxle—x 0,Ixtyl=xty0, assim Ix- Tl +1x421=-@-14@42)= Parax > 1,x—-1>0ex+2>0, assim Ie 14124 21=@-1)4@4+2)=2r41, Conclusdéo >2x — 1. se x<—2 Ix-U+ix4+21=4 3 se-20 ADlala3 Ayix+31>1 DI2e-31>3 DI =1x mix—311 4. Suponha r > 0. Prove: Ixl>r x<-roux>r 5. Elimine 0 médulo. @ix+1l+ixt byix-21-Ix4+11 Oe — 1+ 1x—21 ADixttix-1+lx-21 6. Prove: Ixtyl=lxl+lyl @ ayo. 7. Prove: Y\x—yletxl-lyl bylx—yl>lyl—ixt OlxI=lyl 1x = Ue Oea oO reaia Hee ani ol dese rece nips Paeetey Conclusdo —2x-1 sex<-2 Ix-U+ix+2=1 3 se-2=x<1 2xt+1 sexel . Exercicios 1.3 1. Elimine 0 médulo, a)|-51+1-21 b)I-5 +81 : l-ala>0 Dlala3 Aix+31>1 D12x-31>3 Hilde t 4. Suponha r > 0. Prove: Ixl>rex<-roux>r 5. Elimine o médulo. let 11+ 1x1 Datel Dies 1 eee at ae La 2 6. Prove: Ixtylelxl+lyl oxy 20. 7. Prove: | @lx—yl>ixI-lyl 0 a ear OMxt—lyllstx—yl

You might also like