You are on page 1of 161
textoyegrafia Tilo original: mae def Tadugio: Maree Fle Revs: Gabinete Editorial Tete & Graf (Grafsmo: Crane Leal Pagina: Vor Pedro © Armand Colts, 2008, 34 elise Tados os tees deta edigso eserndos pare Eigdos Testo 8 Graf, Lda Cakada do Tito, N°28, Lo Esq, 1200-455 Lisbon Telelone 21797 7066 Femail text grafacggmailcom hupstexto-ga Bogspr.om Limprssio asbareno: Papelmande, SMG, Li Junho de 2013 ISBN: 978-989-8285-77-5, Deptsio Lega n.* $60645/13 sca ob es proegida pela le Nao pode ser reprodida navel ns em pate, gunlgeer que ajo mo seal fem sauorizasio de Edior (Qualquertamggresie 3 da Dnsio de Autor verdpussel de procedinenn jada A Raymond Bellowr Introdugio ‘A anilisefilmica nio € uma actividade absolutamente nova longe disso. Quase poderfamos dizer, forgando um poucoa nora, que ela nasceu ao mesmo tempo que o cinema: & sua maneira, os eonistas aque relatavam as primes sessées do Cincmatigrafo, ao comentar pormenorizadamente as «vista cnimadas» que descobriam, jéeram tum tanto analistas (As vezes precisos, nem Sempre muito exactos). Desde entéo oscrticosespocalzados substintram-nos em alguns, aatengo que presam ao filme én aguda que se torn verdadeiramente analitica (no &0 bom critic decinema aquele que sabe dissociar a forma filmica da hstévia contada). Ainda mais recentemente, com a integragio cada vez mais marcada do cinema na insituigao cultural (pelo prisma dos cinechubes, das alas de repertéro, das cinematecas) eprincipalmente no ensino, na escola, endéncia acentwou-se. Hoje 0 cinema pertence a0 patriménio cultural; a televiso, a rédio € 0s jomais discurem-no em pé de igualdade com as aces tradicionais; a Universidade, héalgumas décadas,acabou por descobr-lo. Em suma, ‘nunca o cinema foi to comentado eestudado, reside a principal razio do desenvolvimento sistematico, sobrerudo no Ambiro dessas insttuig6es, de uma pritica da andlise do filme. (Com efeito, se tivéssemas permanecido ao nivel ds fichas flmogré- ficas do IDHEC’, como eram esfita por ola de 1950, ou mesmo nas (xcelertes) riticasredigidas por André Bazin para “Peuple et Culture’, sem éivida este lio nao ceria ratio de ser. © que nos permite tentat uma teorizagio da andlise do me € antes do mais 0 aparecimento, entre 1905 1970, de um contexio unlversTaTi ou pare-universtl7O, cm estictaligacio com os primérdios de uma teorla moderna nema, deam dpa de andl z i Yiu des baues dudes cinématographigus,(N. do) AANALISE DO FILME as vezes se chamou algo abusivamente “andl estrutural”, A andlise, «sirtural é ape sumpont pati ig capsids portadas ‘os lados, como, hoje desempenha © papel de tina epee de mio cond filmica em geral (reso {que s6 por tobrigado os analstas a utilizar, a propésito do filme, os conceitose mécodos das chamadas ciéncias humana). Em Franga, mais globalmente na Europa ena América do Norte, existe actualmente, nos departamentos universitérios de ensino do cinema e nas instiuigées de investigagéo um bom aamero de listas“profisionais" 0 seu trabalho ¢ publicado em Francés ¢ mas também em Italiano ou Expanhol, em revistas expecializadss, ‘para um piblico principalmente universitério. Esce livro surge num momento em que, amplamente institu- cionalizada, a anise do filme parece contudo procurat-, hestar entre diversos suportes merodoligicos, ¢ interrogat-se quanto aos seus objectivos. A.dtzadade70,quesonieonsodeeaalimens «em todos os plano mito ripdo, dos estudos cine coe cscila mundlal suede hej ui pafodo em que ees es SOFTER ras ainda 2 pssacupayéo de legcimarse plenamenve.gualendo vezes aspirando sem rodeios & ciéncia). Nesta preocupacio de legitiriagib, 0 gesto mais BabUETE pedir emprestadosc étodos ¢ campos tei frequemte, a outtas ccorias, constiraidas a propésito_de outros objects (em especial, mas nfo unicamente,o object literatura). liticas, 5 acoformalinae. deidanas. «ae board (© problema, como é evidence, & que a anilise do filme nio ddevoria ser considerada uma verdadcirs drciplina, mas antes, on forme os cases (¢2istovoltaremos durante olivro), como aplicagéo, desenvolvimento ¢ invengio de teorias e disciplinas. Ou sea, fal ‘ ITRODUGAC ome nfo existe uma teoria unificada do cinema, também néo iste gual “sal deanalise do filmefApear dasa fo ter em mente este enunciader é mda casoaele que mana (parte, se basa demand desie Hitt Com fo, comeyamspor nunca aconsinir am TSI (uma “grelha", como As vezes se diz. de maneira assaz enganadora), elo contririo, inventariar, classifi a fentar, andlises mais importantes realizadas até hoje, a fim de lhes destacar os avangos metodoldgicos, ¢ esbogar a possibilidade de uma apli- agio desses avaicos para alémdo scu abjectoiniial. [sso implica demos muitos cxemplon alguns dels longamcatemavurados, tviarmoso mais pontelofertcer ects demasiado genéias No fandoe principio dex liv éprocurar maneroequlfioenrea singularidade das andlises ea preocupacio da reflesto metodol6gica, ‘mesmo epistemologica, necessariamente mais geral. ‘Cotrelativamente, o plano que adoptimos, embora se esforce por respeitar uma ceta progressio de capinio para capitulo, néo pretende ins ouastvdade esstrmricdade bck. De facto, stenmos capitulos gerais (2: Os “Instrementos” da Anise; 5: A Andlise da Imagem e Som; 7: Andlisee Histria) com outros em que se desceve rune pormenor com cxrplsos icp erp de metodo ue alimentaram a anilise do filme desde o seu surgimento (3: A Questio da Anilise “Textual”; 4: Os Métodes da Narratologia Aplicados ao Cinema 6 Pisnaliee Anis do Filme). © lo sbese par alm disso com um capicule que tentadelimitar melhor a questo daandlise Gobretudo contrapondo-a.a outros discursos sobre o filme), enquanto cote kimo capicuo lhe examina os principais objectives. engontraré aqui (nem em lado nenhum) -y RENEE nincloamets pomitiaa guage quali Fle Acedeamos prem ge, alm dos ementosde exo raluecirtém, eel peice quanioa mutasquestes slarecet Ecole poses subline st peesugte indipeniven deere sugetie abordagens exequiveis, em termos sufcientemente coneretas para ser proveitoso em andlisesefectivas. Por fim, esse objectivo 1 A ANALISE DO FILME principal da nossa obra unc-se um outro (que ndo nos parece menos portant): esperamos, com esta amostragem das melhores andises filmicas,inspirar 0 gosto de er esas andlises — is vezes longas, muitas ‘vezes diffcels, mas & quas o leitor teri sempee imteresse em regressar. Esperamos assim que este livo — antes do mais destinado a rodos os _que estudam cinema (ou que o ensinam, o que vai dar ao mesmo) poss satisfirer também leitorsimplesmente curiso em aprofundara sua eflexio sobre os filmes, tornando-a mais acional e documentada. ‘Os aurores dest livro colaboraram também, com Alain Bergala ¢ Mare Verner, na redacgéo de uma obra anterior, Fshétique di Film, que complementa o presente volume, Em diversas ocasiées permitimo-nos, para questées tebricas ‘que ndo podiamos reapresentar em pormenor,remeter em note de rodapé a essa obra, Queremos agradecer, pela ajuda amigével que nos prestaram durante a redacgao do nosso manuscrto, especialmente pelas suas criticas as versGes anteriores, a André Gaudreault, Ratiba Hadj- -Moussa, Roger Odin, Dana Polan, Francis Vanoye ¢ Marc Vernet. Por fim, temos de prestar uma homenagem particular 2 Raymond Bellour, ujos trabalhos, decsivos para o reconbecimenro da andlise ‘mica como parte inzegrante da actividade tebrica permitirara & prdpria ideia deste liveo; 0 nosso titulo, deliberadamente préximo do seu Analyse du film, pretende também traduzir essa homenagem. N.B. Procurmos, tanco quanto possivel, comentar as andlises cscrtas por ouerosinvestigadores; contudo, aconteceu-nos em certos ppontos particulares,¢ principalmente no capitulo 5, rsumir asanslises ‘escritas por um de nés. “Nés"remete para o autor bicéfalo desta obra; ‘conome de um ou do outro para andlisesindividuais anteriores CAPITULO 1 Para uma definicgao daanilise do filme 1, AANALISE E OUTROS DISCURSOS SOBRE O FILME LiL. Os diversos tipos de discurso sobre o filme stelivr ¢ dedicado & apresentardo.e ao exame de um certo tipo de discurso sobre os filmes. sso néo significa que iremos pdr de lado (0s aspectos puramente “cinemacogrificos”. Os filmes sio também produtos que se vendem num mercado espectfico; as condigées matetais, e sobretudo psicoldgicas, da sua apresentagéo ao pablico, eaccada espectador em particular, sio modeladas pela existencia de uma insituigio,socialmente aceite ¢economicamenteviével, ainda sais perceptivel por se encontrar actualmente em plena mutagao; 6 no proprio dispositivo da sala escura se determina, até certo onto, a sua recepsao ca sua cxisténcia. Teremos oportunidade de regressaraessas condigées limitagées anteriores ao filme, que Ihe so externas, mas que se inscrevem com maior ou menor nitidez no seu prbprio corpo. ‘Contudo, devemos comesar porsublinhar que o rip de diseurso que aqui escudaremos proocuparse anecs do mais com ox filmes considerados enquanto obras em simesmas, independentes infini- tamente singulares. Assim, é pela rlagSo com todas as varieddes 4 A ANALISE D0 FILME de discutsos sobre o filme assi die oda im compreendido que mais cémoda ¢ claramente se define agulo de que quremes flat Sérmuto acessriamenteabordaremos ce lscusos sobre oflme que o éncazamdeun onto de ister dora este mda aes, socioktgia, pkcligio sobre o ime tanta abordagens quaras «léncarhuanas isting aemos de endizedofime popramemte a Aaanilise do filme, na acepgio que lhe daremos ao longo de toda cae © cas un pent deo een ou linguistics. O objectivo da andlise¢ apreciar melhor a obra 20 sae melhor, Pode igualmente set um desejo de clarifi- cagio da linguagem cinematogrifca, sempre com um pressuposto de valorizasio desta. : ee ne ‘Os mérodos de andlise que estudaremos neste lio fazem parte esse conjunco. Consequentemente kamos consideraro filme coma obra artstica auténoma, susceptivel de engendrar um reaaaTaTise ccronD que fandomeneoeseuesgalicadas sm stuns na cba taal tticulac ne espectador (andlise tlt LE bia deve urbem ser ennnda rafistoe as an do ese das roi ropomos enrdo distinguir as andlises de filmes ineinsecos acu necessitam um conftonto da obra estudada com outras _manifestagessocias. Para dar um exemplo, a anise propriamente histérica de um filme deverd numa primeira fase proceder a0 estudo incermo da obra, decompondo principalmente os elementos de representagio sécio-histricaobservivcs nels, Mas serd um estudo selectivo; néo levard em conta elementos sem qualquer fungdo no mecanismo de representagio histérica; por exemplo, o facto de o filme sera cores, ou em cinemascépio. Além disso, deverd necessariamente cconfrontar os scus resultados com 0s outros tipos de representagio produzidos pela literatura, a imprensa, a publicidade, ec. 1. PARA UMA DEFINICAO DA ANALISE DO FILME Em Sociolgi du cinéma, obstoador Pert Sori, em Ossessone® (is ant, 192) a2 © levantamonco de todas unidades que respeitam 8 fepresentacéoda mulher imagem docampo ea sua oposgsoa cade, {alcomoo fine const Segundoa sunandives cidade temum eng drament, e 0 campo nic: “Os cneasts nao véem o campo, este N80 Ines e perceptive 3 he conseguem dicorircaractersticas prifériat ju trenstivas aqulo que passa por ee. E ess cequera que interess3 20 histriador dos soctedades, pelo que els he ensna do universo 6a produ cinematogrfca na te de 942 CContudo, analisar um filme, mesmo enquanto obra artista, é ‘0 fundo uma actvidade anal, pelo menos de mancira no sist miatica, que qualquer espectador, por pouco crftico, ¢ distante do ‘object, patica a dado momento da sta visiof© olhar com que se do filme para nos inceressar- ‘mos mais especialmente por tal_ momento. tal imagem 0 pate dda imagem, tal situacio,/Assim definida, de forma minimal mas ‘exacta, pela atengdo prestada ao pormenor, a anilise é uma atitude comum ao critico, ao cineasta ¢a todo espectador minimamente consciente, Em particular deve ficar claro que um bom critica é sempre, mais ou menos, um analista, mesmo que porencialmente, f que uma das suas qualidades € precisamente a atengéo para os ‘deralhes, associada a uma forte capacidade incerpreativa. Todavie, amiopia analiica pode transformar-scem cegueira ao dihuiro olhar na floresta dos pormenores. ‘Mas se a atitude analtica € ou deveria set a coisa mais comum no mundo, tal como 0 sentido extica, resta-nos definir 2 andlisesistemitica de um filme, enquanto discurso especifico. Para canto, convém confronté-la com o discurso que Ihe é mais préximo: o discurso eritico. Com efeiro, que o filme possa ser ‘objecto de uma grande diversidade de discursos € uma evidencia: ‘Osfilmes que no tverm este comercial porcugues emia surgi20 tno texto com 0 st to argial. Os delasoxiginais dos filmes esrendos podem ser consultadas no indice de les citades.(N. do T.) A ANALISE DO FILME ‘gualmente o € constatar que estes sio diferentes da anilise de filmes propriamente dita, 7 1.2. Andlise e crftica Dos principios e objectivos da actividade critica vamos fixar ape- nas as catacteristicas que permitem distingui-la da anilise do filme. Tal nos leva de imediaro a siruar 0 discutso critico relativamente 20 discurso “cinéfilo”. Este reflecte uma atitude baseada na efusio snort

You might also like