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capitulo 2 Sociedade, Organizacées e Poder nizacionais como canais de exercicio da autoridade e reali- zacao do poder no estrito Ambito das organizac6es aceitam © poder como varidvel crucial. Entretanto, sua abordagem fun- cional do poder por intermédio dos elementos determinantes dissocia a organizacéo da dinamica politica e social da qual a organizacao faz parte. Outros autores ultrapassaram essa “barreira invisivel” e debru- caram-se sobre as relacGes indissociaveis entre as lutas de poder no campo social e nos espacos especificos, como sao as organizacGes. O edificio teérico de Bourdieu assenta-se no estudo da diferencia- Go social e dos modos de reprodugao da dominacao. Uma terceira corrente é formada pelo trabalho de autores que estudaram a ocorréncia de comportamentos que nao implica- vam obediéncia a qualquer tipo de autoridade (pelo menos nao conscientemente). Um dos maiores representantes dessa linha de Pensamento é Michel Foucault. : A: perspectivas de andlise que defendem as estruturas orga- Digitalizada com CamScanner © Poorer NAS ORGANZACOES AS ORGANIZAGOES COMO ESTRUTURAS DE AUTORIDADE A categoria assimétrica de poder, adotada por grande parte dos cientistas sociais, abrange trés enfoques: _cia ou controle, a relacao de dependéncia e a desigualdade. O poder interpretado sob 0 enfoque da desigualdade encerra “ama nogio que focaliza as capacidades diferenciais dos atores dentro de um sistema para assegurar as vantagens e os recur- sos valiosos, mas escassos” (Lukes, 1980, p. 828). Assim, por essa perspectiva, nao é necessario que o receptor do ato de poder seja dependente ou aquiesca para que o poder se exerga. O poder interpretado sob o enfoque da relag’o de depen- déncia é, por sua vez, aquele que potencializa as relacdes de dependéncia entre os atores sociais, ou, como escreve Lukes, em que “B se conforma com a vontade ou os interesses de A, nao em virtude de quaisquer ages ou ameacas discerniveis de A, mas em virtude das relacdes mesmas entre A e B”. Portanto, nesse enfoque se enfatizam, na anlise, os tipos e as formas de conquista e sustentacao das relagdes de dependéncia entre 0 sujeito e o objeto do ato de poder, e ainda por que e como este ultimo a ele se submete. O poder interpretado s controle enfatiza o predor tros. Nésse caso, 0 poder implica inevitavelmente resisténcia e conflito, sobre os quais predomina a vontade do detentor do po- der. O que varia, e o que é fundamental nessa anilise, é 0 grau no qual a existéncia do poder se faz sentir. Assim, por esse enfoque, © poder é visto como uma forma de controle social. Sua efetivi- dade é maior quanto mais se evita 0 conflito e mais aquiescéncia se obtém dos receptores do ato de poder. Para Maquiavel, por exemplo, que entendia 0 poder como controle social, esse mo- delo é mais efetivo porque evita 0 conflito e economiza o uso de medidas de coercao (Lukes, 1980). Digitalizada com CamScanner MICO = QnubncR= Brwvarhwea (Castm Axeua CanvalHo * Manco MLANo Fatcto VIERA O poder enquanto controle tem particular importancia para a anélise organizacional na medida em que, nas organizacoes buro- craticas, o controle é exercido por meio de regulamentos, normas € comunicagao formal, elementos-chave da estrutura de poder. Considerando a legitimidade como elemento central na ex- pressao de formas de dominacio em diferentes tipos de socieda- de, Weber criou sua tipologia de autoridade, o que significa dizer “tipologia de poder legitimo”. Assim, a legitimidade transforma o poder em autoridade, em algo aceito. * APRESSAO DO TRABALHO DETERMINANTES 4, (t)| de secretata a gerente em tes anos. EENORME GuTaS tL | Dobeimeu sat em us anos ® 1, eae ‘SOU PLENAMENTE FELIZ u 0 u ¥ (utersses colts dos trabatadores)\ | Eu me sinto aprisionada, Tred plamente nos grandes (Policas ds pases No tenho nesinumaIberdade | princpios da sociedad io mercado comum, de mudar de emprego, pols Els séoaplicados. os sindiatos ete.) = tenho tantas vantages, €fonmidvelv-os enunctats Sinto-me angustiada. Esta € uma das aes pala gis soul. LEGENDA > eeu — ) \ Casvaldade - —Casuaidadeocuita Contratigao lementos do campo no percebidos ‘(mconscientes) ‘As rases sto ctagbes ou resumos muito proximas do texto, com excego das frases ene parnteses. as desgnam elementos do campo do suet, ito €, seu funcionamento intemae de seu meio tal qual ele percebe. Fonte: Pagés et al, 1986. Grafico 2.1 Gréfico de um processo de mediagao externa. * Mediacao politica: técnicas de administracio garantem | 0 respeito as diretrizes centrais da empresa € incentivam a capacidade individual. Sao responsaveis por mediar # contradicao entre o desejo do individuo de ter autonomla eo respeito a politica controladora da empresa. ey ee eee lll Digitalizada com CamScanner Crista Avéiia CARVALHO * MARCELO MiLANo FaLcao VIEIRA Mediaco ideolégica: 0 individuo produz uma ideologia se- melhante a da empresa, necessariamente nao contraditéria. Mediacio psicolégica: os privilégios-restrigdes (coergées) transformam-se em prazer-angustia. O prazer vincula-sea con- quista e dominaco; a angiistia e onipresenca dos controles. Digitalizada com CamScanner Ideologia e dominagao Na dominacio ideolégica, o individuo produz uma ideologia se- melhante 4 da empresa e necessariamente nao contraditéria. A ideologia em uma organizacdo é um sistema de crengas e valores criados e que, em geral, transmite uma falsa realidade. 18 Digitalizada com CamScanner juan Faucko Vieiwa Pages et al. (1986) recorrem ao artificio da comparagio para ilus- trar suas idéias. Eles afirmam que “uma nova religido” é elaborada dentro das empresas capitalistas modernas, que se consubstancia na adesao a um sistema de valores e crencas, que por sua vez incita as pessoas a se dedicarem “de corpo e alma” a seu trabalho. Esse é um elemento fundamental para o exercicio do poder da organizacao e para a alienagao do individuo. Ao oferecer satisfagées de natureza ideolégica e espiritual, a organizagio permite que os individuos se reconhegam nela, assim como Deus fez o homem a sua imagem e semelhanga. Estabelece-se, assim, o principio da fé na empresa ou na “nova igreja”. A fim de quea fé permaneca e seja revigorada constantemente, a organizagao explicita o conjunto de valores (0 credo) que estd sem- pre em sintonia com a ideologia de eficiéncia e competitividade da empresa capitalista moderna. Além desses, 0 discurso do respeito as pessoas (consideracao pelos empregados e servico aos clientes) e a exceléncia (do individuo e da organizacéo) funcionam como praticas ideolégicas eficazes. Esse conjunto de valores é repetido a exaustao, acabando por ser internalizado pelos individuos. Os mandamentos dessa nova igreja sao, portanto, as relagdes que a organizag3o mantém com os individuos que com ela in- teragem (empregados, fornecedores, acionistas etc.). Segundo e Pages et al. (1986, p. 84), poderia ser feito um paralelo entre o dominio ideol6gico da organizacao e os ritos religiosos da igreja, como segue, correspondendo a um processo de evangelizacao: Quadro 2.1 Paralelo entre o dominio ideolégico da organizagao e os ritos religiosos 0 dirt canto, - Os manuals Qe ge ONDE & Ye Aconfisséo > Entrevstas de avallagdo 0 we ‘Armissa 0s encontros toh OD Obatsmo Aadmisséo co 0 cateismo: ‘Aformagéo pure - ale ¢ : Ormdmnn0 Su Ulbrehy0-08 Digitalizada com CamScanner ron __ ‘Aoenunciar grandes principios, a organizacao atribui a si prop carater de entidade suprema e divina. E a deificacao da organizacio, As contradicées, elementos centrais Ro processo de media. cao, fazem-se presentes na dominagao ideoldgica Por meio da introducio de elementos de autopersuasao. A contradigao entre as pressées do trabalho e uma politica de pessoal vantajosa para os empregados, por exemplo, nao chega a ser elaborada pelo in. dividuo, uma vez que é resolvida por uma producio id do préprio sujeito. C Jividuc i ‘le tégia que costuma ser utilizada nesses casos é 0 reforco da ideologia an da pela organizacao para anulacao dos possiveis conflitos. Digitalizada com CamScanner gegen yw . x . ran Nr oi A dominagao psicolégica OP ; Nesse tipo de dominacio, os privilégios-restrices (coergdes) transformam-se em prazer-angustia. O prazer vincula-se A con- quista e a sensagao de dominacio. A angustia caracteri za-se pela presenca forte e constante dos mecanismos de controle sobre ° individuo, que esta ligado 4 organizacao Por lacos psicolégicos. Nessa perspectiva, assume-se qué os individuos criam vinculos emocionais com a organizagao._ Para descrever esse terceiro tipo de mediacio, Pages et al. 986) também utilizam o recurso da comparacio. Entretanto, esse caso, a imagem utilizada éa da escravidio ocasionada pelo (Core Lacorar bdrm CACOVADLDE> Oc ro. pelo alwoquar. * Digitalizada com CamScanner uso de drogas. Nesse sentido, a organizacao atua como fonte dg angustia e de prazer, exercendo influéncia sobre © inconsciente do individuo e, dessa forma, exercendo a dominacao. Forma-se uma estrutura psicolégica conflitante e fechada (binémio Organj- zacao-inconsciente individual), na qual o prazer e a angiistia se reforgam reciprocamente. Organizagdes sao freqiientemente descritas como sistemas abstratos e, quando grandes, e particularmente internacionaliza- das, tendem a se tornar andnimas. Nelas 0 individuo tem lugar secundario e deve ser compreendido como uma peca a mais na engrenagem que faz todo o sistema funcionar. Os individuos tém de se adaptar a sistemas de referéncia (crencas e valores) cons- trufdos fora deles e com os quais eles raramente tém ligacao. A “organizacao, entao, exerce influéncia sobre a estrutura psicold- fica dos individuos obrigando-os a se filiarem a ela, fazendo-a funcionar em direcdo 4 conquista dasmetas estipuladas. Isso, por sua vez, conduz ao exercicio de influéncias psicoldégicas so- .bre outros individuos e assim por diante. Pages et al. (1986, p. 151-153) apresentam ilustrag6es do que chamam de esquemas do sistema psicolégico inconsciente, como segue: % Digitalizada com CamScanner SS ter mais sofisticagao nos sistemas de planejamento de mater} maior controle da programacao e dos custos, criais @ © Pooen nas Onaanzacoes

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