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1. ESTIGMA e IDENTIDADE SOCIAL Os gregos, que tinham bastante conhecimento de Tecursos visuais, criaram 0 termo estigma para se refe- rirem a sinais'corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa ce extraordindrio ou mau sobre © status moral de quem os apresentava, Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que 0 portador era um escravo, um criminoso ou traidor — uma pessoa marcada, ritialmente poluida, que devia ser evitada; especialmente em lugares ptiblicos. Mais tarde, na Era Cristi, dois niveis de metdfora foram acrescen- tados ao termo: o primeiro deles teferiase a sinais corporais de graca divina que tomavam a forma de flores em erupgéo sobre a pele; o segundo, uma alusio médica a essa alusio religiosa, referia-se a sinais corpo- rais de disttirbio fisico. Atualmente, o termo é ampla- mente usado de maneira um tanto semelhante ao sentido literal original, porém 6 mais aplicado & prépria des- graca do que & sua evidéncia corporal, Além disso, houve alteragdes nos tipos de desgragas que causam preocupa- Go. Os estudiosos, entretanto, no fizeram muito esforco Para descrever as precondigdes estruturais do estigma, ou mesmo para fornecer uma definigéo do prdprio con- ceito, Parece necessdrio, portanto, tentar inicialmente resumir algumas afirmativas e definigdes muito gerais. Nogées Preliminares A sociedade estabelece os meios de categorizar as pessoas e 0 total de atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma dessas cate- gorias: Os ambientes sociais estabelecem as categorias de 2 EsticMa pessoas que tém probabilidade de serem neles encon- tradas. AS rotinas de relacio social em ambientes esta- “belecidos nos permitem um relacionamento com “outras pessoas” previstas sem atencéo ou reflexdo particular. Entéo, quando um estranho nos € apresentado, os pri meiros aspectos nos permitem prever a sua categoria e os seus atributos, a sua “identidade social” — para usar um termo melhor do que “status social”, j4 que nele se incluem atributos como “honestidade”, da mesma forma que atributos estruturais, como “ocupacao” Baseando-nos nessas preconcepgdes, nds as transfor- mamos em expectativas normativas, em exigéncias apre- sentadas de modo rigoroso. Caracteristicamente, ignoramos que fizemos tais exi- géncias ou o que elas significam até que surge uma questo efetiva. Essas exigéncias sio preenchidas? # nesse Ponto, provavelmente, que percebemios que durante todo © tempo estivemos fazendo algumas afirmativas em re- lagéo Aquilo que o individuo que esté & nossa frente deveria ser. Assim, as exigéncias que fazemos poderiam ser mais adequadamente denominadas de demandas feitas “efetivamente”, e 0 caréter que imputamos ao individuo poderia ser encarado mais como uma imputacio feita Por um retrospecto em potencial — uma caracterizagio “efetiva”, uma identidade social virtual. A categoria e os atributos que ele, na realidade, prova possuir, sero cha- mados de sua identidade social real. Enquanto o estranho esté & nossa frente, podem surgir evidénoias de que ele tem um atributo que o torna diferente de outros que se encontram numa categoria em que pudesse ser: incluido, sendo, até, de uma espécie menos desejével — num caso extremo, uma pessoa com- pletamente mé, perigosa ou fraca. Assim, deixamos de consideré-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma pessoa estragada e diminufda. Tal ‘caracteristica é um estigma, especialmente quando 0 seu efeito de descrédito € muito grande — algumas vezes ele também é conside- rado um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem — constitui uma discrepancia especifica entre a identidade social virtual e a identidade social real. Observe-se que hd outros tipos de discrepancia entre a identidade sociat real e a virtual.como, por exemplo, a que nos leva a Teclassificar um individuo antes situado numa categoria socialmente prevista, colocando-o numa categoria dife- EstioMa & IneNipanz Soctat B rente mas igualmente prevista e que nos faz alterar posi- tivamente a nossa avaliacéo. Observe-se, também, que nem todos os atributos indesejdveis estio em questao, ™as somente os que so incongruentes com o esteredtipo que criamos para um determinado tipo de individuo. termo estigma, portanto, sera usado em referéncia a um atributo profundamente depreciativo, mas o que é preciso, na realidade, é uma linguagem de relacdes e nao de atributos. Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de outrem, portanto ele nao 6, em si mesmo, nem honroso nem desonroso. Por exemplo, alguns cargos na América obrigam os seus ocupantes que ‘ndo tenham a educacdo universitaria esperada a esconde- ‘rem isso; outros cargos, entretanto, podem levar os que ©s ocupam e que possuem uma educacéo superior a manter isso em segredo para ndo serem considerados fra- cassados ou estranhos. De modo semelhante, um garoto de classe média pode no ter escripulos de ser visto entrando numa, biblioteca; entretanto, um criminoso pro- fissional escreve: “Lembro-me de que, mais de uma ver, por exemplo, 20 entrar numa biblioteca pibliea perto de onde ex morava, olhel em’ torno duas ‘vewes antes de realmente entrar, para me certificar que nenhum de meus conhecidos estava me vendo.”> Assim, também, um individuo que deseja lutar por seu pais pode esconder um defeito fisico por recear que © seu estado fisico seja desacreditado. Posteriormente, ele mesmo, amargurado e tentando sair do Exército, pode conseguir admisséo no hospital militar, onde se exporia a0 descrédito se descobrissem que néo tem realmente qualquer doenca grave? Um estigma 6, entéo, na rea- lidade, um tipo especial de relacZo entre atributo e esteredtipo, embora eu proponha a modificagio desse conceito, em parte porque hé importantes atributos que em quase toda a nossa sociedade levam ao descrédito. 1 _T, Parker e R, Allerton, The Courage of Hie Convictions (Lon- dres, Hutchinson & Co, 1962), p. 109. ’2 “Em relagdo a ease ponto, ver a critica feita por M. Meltzer, “Countermanipulation through ‘Melingering”, em A. Biderman ¢ HL. Zimmer, eds, The Manipulation of Humon Behaviour (Nova ‘York: John Wiley & Sons, 1961), pp. 277-804. 4 Esnioma © termo estigma e seus sindnimos ocultam uma dupla perspectiva: Assume o estigmatizado que a sua caracteristica distintiva ja ¢ conhecida ou é imediata- mente evidente ou entio que ela no é nem conhecida pelos presentes e nem imediatamente perceptivel por eles? No primeiro’caso, esté-se lidando com a condicéo do desacreditado, no segundo com a do desacreditdvel. Esta 6 uma diferenca importante, mesmo que um individuo estigmatizado em particular tenha, provavelmente, experi- mentado ambas as situagées. Comecarei com a situacéo do desacreditado e passarei, em seguida, & do desacredi- tdvel, mas nem sempre separarei as duas. Podem-se mencionar trés tipos de estigma nitidamen- te diferente. Em primeiro lugar, ha as abominacdes do corpo — as virias deformidades fisicas. Em segundo, as culpas de caniter individual, percebidas como vontade fraca, paixdes tirfnices ou ndo naturais, crengas falsas e rigidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distuirbio mental, priso, vicio, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicidio e comportamento politico radical. inalmente, hé os estigmas tribais de raga, nagSo e rell- gidio, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma familia Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusi- ve aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas caracteristicas sociolégicas: um individuo que poderia ter sido facilmente recebido na relagéo social uotidiana possui um traco que pode-se impor A atencso © afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibi- lidade de atencdo para outros: atributos seus. Ele possui um estigma, uma caracterfstica diferente da que havia- mos previsto. Nos e os que ndo se afastam negativamente das expectativas particulares em questio serdo por mim. chamados de normais. As atitudes que nés, normais, temos com uma pessoa com um estigma, e os alos que empreendemos em relacio a ela sio bem conhecidos na medida em que so as 3 Na Histéria recente, especialmente na Inglaterra, 0 status de classe" pats fonsionave! comma "um importants estima, tribal © pecado des pais, ou pelo menos seu ambiente, eram ‘pages pelt cuit se cla srapauanvn, Jo'manire Inedequndn, «aun condigao foci inicial.” A manipulagio do enigma de. casas é aaturalmete, tm tema central do. romance, ingles ae Esrigma & IpeNTiDADE SocIAT, 15 respostas que a agio social benevolente tenta suavizar € melhorar. Por definicéo, é claro, acreditamos que alguém com um estigma nao seja completamente humano. Com ‘base nisso, fazemos varios tipos de discriminagdes, atra- vés das quais efetivamente, e muitas vezes sem pensar, reduzimos suas chances de vida. Construimos uma teoria do estigma, uma ideologia para explicar a sua inferiori- dade e dar conta do perigo que ela representa, raciona- Yizando elgumas vezes uma animosidade baseada em outras diferencas, tais como as de classe social Utiliza- mos termos especificos de estigma como aleijado, bas- tardo, retardado, em nosso discurso dirio como fonte de metéfora e representagio, de maneira caracteristica, sem pensar no seu significado original.* ‘Tendemos 2 inferir uma série de imperfeigdes a partir da imperfeicéo original® e, ao mesmo tempo, o imputar ao interessado alguns attibutos desejaveis mas no desejados, freqilentemente de aspecto sobrenatural, tais como “sexto sentido” ou “percepcao” “Alguns podem hesitar em tocar ou gular o cego, enquanto que outros generalizam a deficigncia de visto sob a forma de uma gestalt de ineapacidade, de tal modo que o individuo grita com o cego como ‘se cle fosce surdo ou tenta ergaé-q como se ele fosze aleijado. Aqueles gue esto diante de um cego podem ter uma gama enorme Tigadas ao esteredtipo. Por exemplo, podem pensar que est um tipo ‘inieo de avaliaglo, eapondo que o individuo cago recorre feanais especificos de informagio nio disponiveis para os outros.”® Além disso podemos perceber a sua resposta defen- siva a tal situacio como uma expresséo direta de seu defeito e, entdio, considerar os dois, defeito e resposta, 4 Da Bitgman Some Observations Concerning Marginal”, PIE" 9 cSen em relagho aos Tadienies mentais & apreseniado por 'T, J. Scheff num trabalho a sc langado. ‘s "Em relagdo aos cegos, ver E. Henrich © L. Kriegel, eds. Buporimente. in Survival (Nova York: “Association for the Aid of Grippled, Children, 1961), pp. 162 e186; © H. Chevigny, My Eyer Have a Cold Nose (New Have, Conn.: Yale University Press, paper- bound, 1962), p. 201. 1” Segundo uma mulher cega, “fui solictada a examinar um perfume, presumivelmente pordue, sendo cogs, met olfato cra super Bgucado®, Ver T, Keltien (com N. Lobsenz), Farewell to Pear (Nova ‘York: Avon, 1962), p. 10. A © ALG! Gowman, The War Blind in American Social Structure (Nova York: Americon Foundation for the Blind, 1957), p- 198. 16 Esticma apenas como retribuigéo de algo que ele, seus pais ou sua tribo fizeram, e, conseqiientemente, uma justificativa da maneira como o tratamos. Agora passemos do normal & pessoa em relacio & qual ele 6 normal. Parece, em geral, verdade que os membros de uma categoria social podem dar muito apoio a um padrao de julgamento que, eles e outros concor- dam, nao se aplica diretamente a eles. Assim, um homem de negécios pode exigir das mulheres um comportamento feminino ou_um procedimento ascético por parte dos ™onges, e nio conceber a si préprio como pessoa que devesse seguir qualquer um desses estilos de conduta, A distingdo reside entre o cumprir uma norma e o sim- Plesmente apoié-la. A questéo do estigma néo surge aqui, mas s6 onde ha alguma expectativa, de todos os lados, de que aqueles que se encontram numa certa categoria néo deveriam apenas apoiar uma norma, mas também cumpri-la. Parece também possivel que um individuo nfo con- siga viver de acordo com o que foi efetivamente exigido dele e, ainda assim, permanecer relativamente indiferente ao seu fracasso; isolado por sua alienagio, protegido por crengas de identidade prdprias, ele sente que é um ser ‘hhumano completamente normal e que nés 6 que nfio somos suficientemente humanos. Ele carrega um estigma, mas no parece impressionado ou arrependido por fazé-lo. Essa possibilidade € celebrada em lendas exemplares sobre os menonitas, os ciganos, os canalhas impunes e os judeus muito ortodoxos. Na América atual, entretanto, os sistemas de honra ‘Separados parecem estar decadentes. O individuo estigma- tizado tende a ter as mesmas crencas sobre identidade que nds temos; isso é um fato central. Seus sentimentos mais profundos sobre 6 que ele 6 podem confundir a sua sensagio de ser uma “pessoa normal”, um ser hu- ™mano como qualquer outro, uma criatura, portanto, que ™merece um cestino agraddvel e uma oportunidade legi- tima.” (Na realidade, no obstante a forma em que se tog batt eamPloe, ver Macgregor © outros, op. cit, do cor-ego 30" A nogio de “sér humano normal” pode ter sua origem na sbordagem médica da humanidade, ou nas tendéncias das orza- ‘nizagies burocréticas em grande escala, como a Nagio-Estado, de tratar todos 08 seus membros como ‘iguais em alguns aspectos, Quaisquer que sejam suas origens, ela parece fornccer a repre- Esrigma r ipewmape Sociat, 7 expresse, ele basela suas relvindicages nfo no que acre- dita seja devido a todas as pessoas, mas apenas a todas as pessoas de uma categoria social escolhida dentro da qual ele inquestionavelmente esté inclufdo, como, por exemplo, qualquer individuo de sua idade, ‘sexo, profis- so etc.). Além disso ainda pode perceber geralmente de maneira bastante correta que, ndo importa o que os outros admitam, eles na verdade nfo o aceitam e nio estdo dispostos a manter com ele um contato em “bases iguais”.1 Ademais, os padrées que ele incorporou da sociedade maior tornam-no intimamente suscetivel ao que os outros véem como seu defeito, levando-o inevitavel- mente, mesmo que em alguns poucos momentos, a con- cordar que, na verdade, ele ficou abaixo do que real- mente deveria ser. A vergonha se torna uma possibili- dade central, que surge quando o individuo percebe que um de seus proprios atributcs é impuro e pode imagi- nar-se como um néo-portador dele. A presenca_prdxima de normais provavelmente re- forgaré a revisio entre autoexigéncias e ego, mas na verdade 0 auto-ddio e a autodepreciagio podem ocorrer ‘quando somente ele e um espelho esto frente a frente: “Quando finalmente me levantel ... ¢ aprendi a eaminhar nova ‘mente, apanhei um espelho e me dirigi um outro maior, fixo, para me olhar, sozinha. Eu nao queria que ninguém soubesse como me sontia ac mo ver pela primeira ver, Mas nfo houve barulho nem choro; nao gritel de raiva quando me vi. Simplesmente fiquel estar- recida. Aquela pessoa no espelho co poderia ser eu. Eu me sentia por dentro como uma pessoa comum, feliz, sauddvel — nfo como ‘aguela que eu vial Ainda assim, quendo virei o rosto para o eepelho, 1é estavam meus préprios olhos olhando para trés, ardentes do ver- gonha... quando no chorei nem tampoueo fiz qualquer baralho, ‘Yornou-se impossivel para mim falar sobre isto com alguém, © & confusio e o panico provoeados por minha deseoberta foram trancados dentro de mim para encaré-los aozinha, durante muito tompo ainda.” 12 Sentagio bésiea por meio da qual of leigos usualmente se concebem, De mancira interessante, parece ter surgido uma convengio na li- ‘teratura popular segundo 2 qual uma pessoa de reputagio duvidosa proclamao seu direito de normalidade eitando 0 fato de ter-se casado e ter filhos o, muito estranho, declarando ter passado o Natal c 2 Agdo de Gragas com eles. 3” Uma perspectiva de um criminoso sobre este nio-aceitagio 6 apresentada em Parker ¢ Allerton, op. cit, pp. 110-111. 32K B, Hathaway, The Little Lookemith (Nova. Yorks: Coward- ‘McCann, 1948) p. 41, em Wright, op. cit, -p. 157. 18 Esnicma “Aos pouco: esquest o que havia visto no espe'ho. Aquilo podia penetrar 10 interior de minha mente e converter-me em parte Integral de mim. Sentia-me como se nfo houvesse nada comigo; era apenas um disfares. Mas néo era o tipo de disfaree que 6 voluntaria- mente colocado pela pessoa que a usa com o objetivo de confundir os outros sobre sua identidade. Meu disfarce fol posto em mim sem 0 ‘meu consentimento ou conhecimento, como ocorre nos contos de fadas ¢ foi a mim mesma que cle confundiu quanto a minha propria iden- fidade. Eu me bhava no espelho © era tomada de horror porque nio me reconhecia. No lugar em que me encontrava, com aquela exaltagio Tomantica persistente em mim, como se eu fosse uma pessoa favore- ida e afortunaia para quem’ tudo era possivel, eu via uma figura estranha, pequena, lastimavel, horrenda e um rosto que so tornava, quando eu o olhava fixamente, doloroso e vermelho de vergonha, Era 56 um disfarce mas estava em mim para o resto da vida. Estava ld, estava I4, era real. Cada um desses encontros era como uma espécie de explosio na eabecs. Eles deixavam-me sempre entorpecida, muda fe insensivel até que, aos poucos, obstinadamente, a forte ilusio de dem-estar e belera pessoal voltava a me invadir: ‘eu esquecia a irre- levante realidade e ficava despreparada ¢ vulnerdvel novamente.” A caracteristica central da situagéo de vida do indi- viduo estigmatizado pode, agora, ser explicada, & uma questéo do que é com freqliéncia, embora vagamente, chamado de “aceitagio”. Aqueles que tém relagdes com ele ndo conseguem Ihe dar o respeito e a consideragio que os aspectos no contaminados de sua identidade social os haviam levado a prever e que ele havia previsto receber; ele faz eco a essa negativa descobrindo que alguns de seus atributos a garantem. Como a pessoa estigmatizada responde a tal situagéo? Em alguns casos Ihe seria possfvel tentar corrigir direta- mente o que considera a base objetiva de seu defeito, tal como quando uma pessoa fisicamente deformada se submete a uma cirurgia plastica, uma pessoa cega a um tratamento ocular, um analfabeto corrige sua educacéo e um homossexual faz psicoterapia. (Onde tal conserto é Possivel, 0 que freatientemente ocorre nao é a aquisicéo de um status completamente normal, mas uma transfor- macao do ego: alguém que tinha um defeito particular se transforma em alguém que tem provas de télo corri- 18 Ibid, pp. 46-47. Para tratamentos gerais dos sentimentos do euto-rejeicao, ver K. Lewin, Resolving Social Confliete, parte TIT ‘& Row, 1948); A. Kardiner ¢ L, Ovesey, The Mark of Oppression: A ‘Psychosocial Study of the American W. W. Norton & C., 1951); e E. H. Erikson, Childhood and Society (Nova York, W. W. Norton & €0, 1950) EsmigMa E IDeNTIDADE SOCIAL 9 gido.) Aqui, deve-se mencionar a predisposicio & “viti- mizagéo” como um resultado da exposicéo da pessoa estigmatizada a servidores que vendem meios para corri- gir a fala, para clarear a cor da pele, para esticar 0 corpo, para resiaurar a juventude (como no rejuvenescimento através do tratamento com gema de ovo fertilizada), curas pela f6 ¢ meios para se obter fluéncia na conver: sagéo. Quer se trate de uma técnica pratica ou de fraude, a pesquisa, freqiientemente secreta, dela resultante, reve- la, de maneira especifica, os extremos a que os estigma- tizados esto dispostos a chegar e, portanto, a angtstia da situagio que os leva a tais extremos. Pode'se citar um exemplo: “Miss Peck (uma assistente social de Nova York, pionelra de ‘trabalhos em beneticio de pessoas com dificuldades auditivas) disse ‘que outrora eram muitos os eurandeircs e charlaties que, desejosos de enriquecer rapidamento, viam na Lige (para os que tinhain difieu- Gades de audigio) um frutifere campo de aga, ideal para promogao de gorros magnéticos, vibradores mirseulosos,, timpanos sopradores, inaladores, ‘massageadores, leos | mAgicos, outros remédios que euram tudo, garantidos incéndio, e parmanentes para a eurdez incurével. Antincios de tais artificios (até a década de 20, quando a Associagio Médica Americans decid/u promover uma eampanha de investigagdo) atacavam os que tinkam difieuldades de audieéo, pelas paginas da imprensa: didria, inclusive revistas bem eonceituadas." 14 O individuo estigmatizado pode, também, tentar cor- rigir a sua condicéo de maneira indireta, dedicando um grande esforgo individual ao dominio de’ éreas de ativi- Gade consideradas, geralmente, como fechadas, por mo- tivos fisicos e circunstanciais, a pessoas com 0 seu de- feito. Isso € ilustrado pelo aleijado que aprende ou rea- prende a nadar, montar, jogar ténis ou pilotar avides, ou pelo cego que se tora perito em esquiar ou em escalar montanhas." O aprendizado torturado pode estar associado, € claro, com o mau desempenho do que se aprendeu, como quando um individuo, confinado a uma cadeira de rodas, consegue levar uma jovem ao salio, HRW SwalHs Eo ind cle rae Vay ee sas, rege a Hatten Mos Yoh, TheVine Ero Hilo ies Soe loi ace Ea ae Stee eiCe: de, Canam Gree JP) 0h ‘Ver também Chevigny, op. cit., pp. 85-88. her 20 ‘ESTIMA numa espécie de arremedo de danga."* Finalmente, a pes- soa com um atributo diferencial vergonhoso pode romper com aquilo que é chamacio de realidade, e tentar obst nadamente empregar uma interpretagdo no convencional do carater de sua identidade social, A criatura estigmatizada usaré, provavelmente, 0 seu estigma para “ganhos secundédrios”, como desculpa pelo fracasso a que chegou por outras raz6es “Durante anos, a cieatriz, © Iébio leporino ou o nariz_disforme foram considerados como uma desvantagom, © sua importincia nos justamentos social ¢ emocionsl inconscientemente abarcava tudo. Essa desvantazem era o “eabide” no qual o paciente pendurava todas inguficiéneias, todas as insatisfacies, todas as protelagGes e todas as obrigagées desagradavels da vida social, e do qual velo a depender ilo somente como forma de likertagio ‘racional da competiglo mas ‘ainda como forma de protecio contra a responsabilidade social. “Quando esse fator 6 removido por cirurgia, 0 paciente perde a protegio' emocional mais ou menos accitével quo cle oferecia © logo ‘descobre, para sua surpresa e inquietagdo, que a vida nfo é facil de ser levada, mesmo elas pessoas que tém rostos “comuns”, sem miéculas, Ele’ esté despreparado para lidar com. essa situagio ser © apoio de uma “desvantagem”, © pode-se voltar para a protes menos: simples, mas semelhante, do padrées de comportamento de neurastenia, conversio histérica, hipocondria ou estados de ansiedade © estigmatizado pode, também, ver as privagdes que sofreu como uma béngdo secreta, especialmente devido & crenca de que o sofrimento muito pode ensinar a uma pessoa sobre a vida e sobre as outras pessoas: “Mas agora, distante da experiéneia do hospital, posso avaliar 0 que aprendi, (Bscreve uma mie permanentemente invalida devido & poliomiclite.) Porque aquilo nfo foi somente sofrimento: foi também lum aprendizad» através dele. Sei que a minha consclénela das pessoas aumentou e se aprofundou, que todos os que estio perto de mim podem contar com minha mente, meu coragio e minha atengia para ‘0s seus problemas, Ey néo poderia ter descoberto iseo correndo: numa quadra de ténis."18 36 Henrich e Kriegel, op. cit, p. 49. i W.Y. Baker e L. H. Smith, “Feciel Disfigurement and Personality”, Journal of the American Medical Association, CXIL (1999), 303. Macgregor et al, op. cit, pp. BT © segs, nos fornece uum exémplo de um homem qué usava vomo polo seu ‘grande narit 18 Henrich’ e Kriegel, op. cit, p. 19. Esnigma & Ipenrmape Soctat a De maneira semelhante, ele pode vir a reafirmar as limitagdes dos normais, como sugere um esclerdtico mul- tiplo: “Tanto as mentes quanto ot cores, saudévaia podem estar alei- jados. 0 fato de que pestoas “normais” possam andar, ver ¢ ouvir indo significa que elas estejam realmente vendo ou ouvindo. Elas po- ‘dem estar completamente cegas para as coisas que estragam sua feli- ‘cidade, totalmente surdas aos apelos de bondade de outras pessoas; ‘quando penso nelas no me sinto mais aleijado ou ineapacitado do Gue elas. Talvez, uum certo sentido, cu possa ser um meio de abrir ‘0s seus olhos para as belezas que esto & nossa volta: coisas como ‘um aperto de mao. afetuoso, tuma Vor que esté ansiosa por conforto, ‘uma brisa de primavera, corta misies, uma saudagio amistora. Essas pessoas sio importantes para mim © ou gosto de sentir que posto ajudé-las.” 29 E um cego escreve: “Isso levaria imediatamente a se pensar que hé muitos acontect mentos que Potem diminuir a satisfacéo de viver de mancira muito fnais efetiva do que a cogueira, Esso pensamento 6 inteiramente sau- Gavel. Desse porto de vista, podemos peresber, por exemplo, que um Gefeito como a incapaeidade de aceitar amor humano, que pode dimi- ir o prazer de viver até quase esgoté-lo, € muito mais tragico do ‘Guo a cogucira. Mas 6 pouco comum que o homem com tal docnea chegue a aperceber-se dela ¢, portanto, a ter pena de si mesmo, Escreve um aleijado: A. proporgio que a vide continuava, eu soube de muitos, maitos tipos diferentes de desvantagens, no apenas fisicas, e comeeci a per ceber que as palavras da garota aleijada no exeerto acima (palavras Ge amargura) bem poderiam ter sico pronunciadas por ‘Jovens mu- Theres que se sentiam inferiores e diferentes por sua feitra, incspact- dade de ter filhos, impossibilidade de relacionamento com outras ‘pessoas, ou muftas outras razdes,” 2 As respostas dos normais e dos estigmatizados que foram consideradas até aqui sio as que podem ocorrer em perfodos prolongados de tempo e quando néo.hé um contato corrente entre eles# Este livro, entretanto, = j, OP. city D. a BPR SE BE an amen mins: Ont & weeny oh: et ve ou, Aes te Rar oP pac Si bal 22 Esrigma ocupa-se especificamente com a questéio dos “contatos mistos” — os momentos em que os estigmatizados e os normais estio na mesma “situagSo social”, ou seja, na presenga fisica imédiata um do outro, quer durante ‘uma conversa, quer na mera presenga simultanea em uma reuniao informal, A simples previsdo de tais contatos pode, é claro, levar os normais € os estigmatizados a esquematizar a vida de forma a evité-los. Presumivelmente, isso terd maiores conseqiiéncias para os estigmatizados, & medida que uma esquematizagao maior de sua parte seré sempre necesséria: de, yu destiguramento (amputagSo da metade inferior de seu navi), Mrs. Dover, que’ vivia com wa de sone dane ihe five de’ vnjay tases compra arate ceetamms camera gue om, desfiguramento de. seu rosto, entretanto, teVe. como rerltade ume Mieranio detiatva de set tao de ila "Nos hoe suas oa Troe ance a Tarhenta dtzcva'a ace de aa tine tee eES Ferenc ‘om oon ary ou senate mca, “EY ae ae lane ay “abo"Havia tris Korantes Sor aang det Faltando o feedback saudavel do intercambio social quotidiano com os outros, a pessoa que se auto-isola Possivelmente torna-se desconfiada, deprimida, hostil, an- siosa e confusa. Podese citar uma versio de Sullivan. at pce tera sein om pn no ode ates oe tipo de inseguranga que conduz A ansiedade e, talvez SS ce 2 Se mangos sores teins Sit te Pm Ot tes nhc or rnin es rt enemy meee Sgn de rutin ¢ om pte dna ona ede are spt eh eas Ge ee eee cera guns faa le Se nau ea Bla que ds "Ea son inferior’ arta ne aaasrny formula, def Iai Sc, oe ake, et se ae % Macgregor ot al, op. city pp. 91-92. 2 De Clntal Stadiee tn Payehistey, HS. Perry, M. Le Gav ¢-M Gibbon, ds, (Nowa York: W. W. Novton & Gvinpany” 1800), Esricma £ Ioenripxne Soctar. 23 Quando normais e ¢stigmatizados realmente se en- contram na presenca imediata uns dos outros, especial- mente quando tentam manter uma conversagao, ocorte uma das cenas fundamentais ca sociologia porque, em muitos casos, esses momentos serio aqueles em que ambos os lados enfrentardo diretamente as causas e efei- tos do estigma. © individuo estigmatizado pode descobrrir que se sente inseguro em relagio & maneira como os normais © identificarao e 0 receberao.** Pode-se citar um exemplo extraido de um pesquisador da incapacidade fisica: pass peeon ine, a ier guanto a slat, soma a tanagurargd em reazio ae emprogy, provlece sobre ma. amplt + ee eragios sols. 0 cogo, © doenia, 0 surdo, 0. aleljado ama deci ealar seguro sobre qu) ser4 a atliude de ‘um nove co nanan, Pee ig eapive au no, ae que se eatabelega 0 coats herd wee conn a penguin do ndcescanta, do negro de pele clara sa iligrane do segunda erapio, dn pens em sitangho do, mebil seamibia'e da nur que enttos nuns ocupasto predominantemente Shasoutina 56 ‘Essa incerteza 6 ocasionada nao s6 porque o indivi: duo néo sabe em qual das virias categorias ele serd colocado mas também, quando a colocacao é favordvel,, pelo fato de que, intimamente, os outros possam defini-lo em termos de seu estigma: "B ou sempre sinto isso em relagiio a pessoas direitas: embora ‘elas sejam boas e gentis, para mim, realmente, no intimo, o tempo Yodo, estio apenas me vendo como um eriminoso e nada mais. Agora € muito tarde para que eu seja diferente do que sou, mas ainda sinto sso profundamente: que esse é 0 sea ‘inico modo de se aproximar de mim e que eles so absolutamente ineapazes de me actitar como ‘que'qusr outra coisa.” 2 Assim, surge no estigmatizado a sensagio de nao saber aquilo qué os outros estio “realmente” pensando dele. 2 R Barker, “The Social Psychology of Physical Disability”, Journal of Social fesse, TV (1948), 24, sugzere que as pessoas estig~ Inatizadas “vivem numa frontoira so:iopsicolégica”, encarando cons- tantemente novas situages. Ver também Maegregor et al, op. cit ‘p. 87, onde se sugere que os mais visivelmente deformados’ precisam fer menos divides sobre stia reeepede na interagdo do que 0s menos visivelmente deformados. 30” Barker, op. cit. p. 33. = Parker’ e Allerton, op. cit, p. 111. a, Esnigma Além disso, durante os contatos mistos, é provavel que 0 individuo estigmatizado sinta que esta “em exibi- go”, e leve sua autoconsciéncia e controle sobre a im- Pressio que esti causando a extremos e dreas de con- uta que supde que os demais nfo alcangam. Ele também pode sentir que o esquema usual que utilizava para a, interpretagéo de acontecimentos didrios est enfraquecido. Seus menores atos, ele sente, podem ser avaliados como sinais de capacidades notaveis ¢ extra- ordindrias nessas circunstancias. Um criminoso profissio- nal fornece um exemplo: “Sabo, 6 realmente impressionante que vot leia livros como este, estou surpreso, Pensel que voce esse novelas em brochuray coisas om tapas sensacionalistas, livros assim. B af esta voed com Claud: bur, Hugh Klare, ‘Simone de Beauvoir ¢ Lawrence, Durval” ‘Blo nfo acheva que esta observagio era um insulto. na verdade, acho que pensava. que eslava sendo honesto ao me dizer o quanto ele fsiava enganado, 6 exatamento esse tipo de condeseendéntia que se ‘eate de pessoas honestas quando se @ tm criminos>. “Imagine 8 « Gizem clas, “Em ‘eerton aspector vocé & igual a um ser humane!” N&O ‘stow Brincando, ine dh vontade de acaba tom slant 2" Uma pessoa cega nos fornece um outro exemplo: “Seus atos mais usuais de outrora — andar indiferentemente na rua, colocar ervilhas no prato, acender um cigarro — no sio mais comiuns. Ele torna-se uma pessoa diferente. So cle os desempenha com destreza e seguranga, provocam o mesmo tipo de admiragio inspi- rado por um mégico que’ tira eoelhos de cartolas.” 90 Ao’ mesmo’ tempo, erros menores ou enganos inci dentais podem, sente ele, ser interpretados como uma, expresso direta de seu atributo diferencial estigmatizado. Expacientes mentais, por exemplo, &s vezes receiam uma discusséo acalorada com a esposa ou o empregador por medo da interpretagéo errdnea de suas emogdes. Pes- soas com deficiéncias mentais enfrentam situagdes se- melhantes: ‘BS Esse tiz0 especial de autoconseiénela 6 analisedo em S. Mes- singer ot al, "Life as Theater: Some Notes on the Dramaturgie Approach to’ Social Reality”, Soviometry, XXV (1962), 98-110. 48° Parker e Allerton, op. eit, p. 111. % Chevigny, op. cit, p. 146. EsmigMa E IDENTIDADE SOCIAL 25 sptacgy nate en dae te Gana ‘Uma garota que s6 tinha uma perna, relembrando sua ‘experiéncia nos esportes, fornece outros exemplos: ioe coe uae pe tee ity aes indo 0 defeito da pessoa estigmatizada pode ser Serco 6 ao se Ihe dirigir a atencao (geralmente yisual) — quando, em resumo, ¢ uma pessoa desacredi- tada, © desacreditével — 6 provavel que ela sinta que estar presente entre normais a expée cruamente a invases de privacidade,* mais agudamente experimen: tadas, talvez, quando criangas a observam fixamente.* Esse desagrado em se expor pode ser aumentado por estranhos que se sentem livres para entabular converses. nas quais expressam 0 que ela considéra uma curiosidade SEL. Deven sok, Pros of Mish Dating” cial i DPS se SNS PEE Re gate ere ois ama Mel Be Gieney and Their Action Implications”, Peychiatry, XVII (1964), se, Sake, Ont one Bind (Moe. Tork: MeOawt Bock oneal Om Br 2 wats on BX, Wh, Bh ete enna aks emitted ae: Belen oh Danie Siity mlond secel Pa Boon avery ere eer 26 Esrigma mérbida sobre a sua condigio, ou i su , Ou quando eles o uma ajuda que aio 6 nocesséria, ou nao" desea. ode-se acrescentar que hd certas fOrmulas classieas para esses tipos de conversas: “Minha querida, como voeé con- -seguiti seu aparelho de surdez”; “Meu tio-avo tinha um, vento acho que sei tudo sobre o seu problema”; “Sabe, eu sempre disse, que esses aparelhos sto amigos’ excelentes 2, solicitos"; “Digame, como voce consegue tomar banho ‘con "Por isso se infere que o indivi sestigmatizado pode ser abordado & vontade por estranhos, ie que eles sejam simpéticos & sua situagio. : ‘ando © que pode enfrentar ao entrar numa sitaso social mista, '9"ndviao ‘estigmatizado pode ras. ente através de uma Isso pode ser ilustrado por um igo jobrecinns P tudo antigo sobre all valemies desempregad re 80. Conta’ um Sslemfes desompregados durante a Depresséo. Conta um pregudo! Quando ai, baixo os ollee porque ‘me sin” totalment Ie! at adhe ic RENE, Mest, Semele ayia come grees a ee eda tiferde'mlbereatgacas ‘nhovsio Tate ido case “Guasde aes seus olhos parece dizer ‘Voce ndo tem valor, vocé nao Uma garota aleijada fornece uma anilise ilustrativa: “Quando ... comecei a andar sozinha nas ruas de nossa cida “deeb a inv que passava por tra ou unto eringae junta ‘evade dan gaa part ity Alga veel Sepa que en MAb sabia eihettar, next perience oe ES . Por algum tempo esses encontros na rua me encherar trio een de todas as criancas destonhecidas. .. cecal 10 Goda snitament,dacobrt gue ak anta contin de img ane ed dy ny eranen decoeclise tn animais, elas sabiam disso, de modo que mesmo a mais melgs ¢ amavel ‘era levada ao escarnio por meu proprio retraimente e melt at Fe ihn oa atin ee Aina hatte reap 4 ont lath Piette aa Papeete atnNaY, oP. city pe, 165-157, om 8. Bichatdson, “The Socal ado, apreaintado na Convenglo da, ‘Amocagio ‘occdeiee, Aimer SENS ees a ee ete EsTiGMA & IDeNTIDADE SOCIAL, 27 Em vez de se retrair, 0 individuo estigmatizado pode ‘tentar aproximar-se de contatos mistos com agressivida- de, mas isso pode provocar nos outros uma série de respostas desagradaveis. Pode-se acrescentar que @ pessoa estigmatizada algumas vezes vacila entre o retraimento @ a agressividade, correndo, de um para a outra, tornando Snanifesta, assim, uma modalidade fundamental na qual ‘a interacdo face-to-face pode tornar-se muito violenta. Sugiro, entao, que 0 individuo estigmatizado — pelo menos 0 “visivelmente” estigmatizado — tera motivos especiais para sentir que as situagdes sociais mistas provam uma interagio angustiada. Assim, deve-se suspei- far que nds, normais, também acharemos essas situagSes angustiantes. Sentiremos que 0 individuo estigmatizado ou & muito agressivo ou é muito timido e que, em ambos os casos, esté pronto a ler significados nio intencionais fem nossas acdes. Nés proprios podemos sentir que, se mostramos sensibilidade e interesse diretos por sua situa Go, estamos nos excedendo, ou que se, na realidade, esquecemos que ele tem um defeito, farlheemos, pro- Yavelmente, exigéncias impossiveis de serem cumpridas ou, inadvertidamente, depreciaremos seus companheiros de’sofrimento. ‘Sentimos que o estigmatizado percebe cada fonte potencial de malestar na interagio, que sabe que n6s também a percebemos e, inclusive, que néo ignoramos que ele a percebe. Esto dadas, portanto, as condicbes para o eterno retorno da consideracéo mutua que @ Psicologia social de Mead nos diz como comegar mas no como terminar. ‘Uma vez que tanto o estigmatizado quanto nds, os normais, nos introduzimos nas situagdes sociais mistas, € compreensivel que nem todas as coisas caminhem sua- ‘Yemente. Provavelmente tentaremos proceder como se, de fato, esse individuo correspondesse inteiramente a um dos tipos de pessoas que nos s4o raturalmente acessiveis em tal situagdo, quer isso signifique tratélo como se ele fosse alguem melhor do que achamos que seja, ou alguém pior do que achamos que ele provavelmente é. Se no- Jhhuma dessas condutas for possivel, tentaremos, entao, agir como se ele fosse uma “nio-pessoa” @ néo existisse, para nds, como um individuo digno de atencdo ritual. Ble, por sua vez, provavelmente continuaré com os mes- mos artificios, pelo menos no infcio. 2B Esmigma Conseqiientemente, a atengio seré furtiv: ss ramente di viada de seus alvos obrigatérios, dando lugar & conscién- cia do “eu” e & “consciéncia do outro”, expressa na pato- Joga a teres Inquietagio No caso dos indivi ncias fisi duos icas, ela pode ser expressa. say COUT saa abertament © a aa an + derenagen cae 2 condigaobasiea de intensiicache e Henteese ds pects eee fncragt a cace eCite ai, earae angle 8 stare de ora, demasadaneteercaniv, mat lentonio scompenhado por tow nts doe sacs tmnt Se feroplrn sent ar eienc cetnnys pen te lana que de opente at oaaioratane anaes vago, ireza al ‘a loquaci iy ‘odade gia tse ati" lguadnde canes cede % provivel que, em situagdes sociais onde hé um. individuo cujo estigma conhecemos ou percebemos, em- Preguemos categorizagdes inadequadas e que tanto nds como ele nos sintamos pouco a vontade. Ha, 6 claro, freqlientemente, mudangas significativas a partir dessa situaco iniclal. E, como’ a pessoa estigmatizada tem mais probabilidades do que nds de se defrontar com tais situa- s¥es ¢ provivel que ela tenha mais habllidade para lidar O Igual e 0 “Informado” Sugeriuse inicialmente que poderia haver uma dis. crepncia entre a identidade virtual e a identidade real de um individuo. Quando conhecida ou manifesta, essa iscrepancia estraga a sua identidade social; ela tem'como efeito afasta: o individuo da sociedade e de si mesmo de tal modo que ele acaba por ser uma pessoa desacreditada frente a um mundo nao receptivo. Em alguns casos, como no do individuo que nasceu sem nariz, ele pode continuar, durante o resto da sua vida, a achar que 6 0 tinico de Speed eonecs geo ny acne Sad crane Ae Ey ag “Aten Iepenaen de Pan iam Te Mere Sr |. Ver também White, Wright e Dembo, op. cit, pp. 26-27.” EsriMa & IbenTipape SociAL, 29 sua espécie e que o mundo inteiro esté contra ele. Na ‘maioria dos casos, entretanto, ele descobriré que ha pes- ‘soas compassivas, dispostas @ adotar seu ponto de vista no mundo e a comipartilhar o sentimento de que ele humano e “essencialmente” normal apesar das aparéncias ea despeito de suas proprias diividas. Nesse caso, de- yemse considerar duas categorias. O primeiro grupo de pessoas benévolas é, 6 claro, 0 daquelas que compartilham © seu estigma. Sabendo por experiéncia prépria o que se sente quando se tem este estigma em particular, algu- mas delas podem instru{lo quanto aos artificios da re- Jago e fornecerlhe um circulo de lamentacgéo no qual ‘ele possa refugiar-se em busce de apoio moral e do conforto de sentirse em sua casa, em seu ambiente, faceito como uma criatura que realmente é igual a qual- quer outra normal. Podese citar um exemplo extraido de um estudo sobre analfabetos: sncia de um sistema de valores freqiientes entre estas fenciads pelo eariter cominitario do comportamento dos Zhalfabetos entre si. Bles nio s6 passam de individuos inexpressivos artonfusos, como freqlentemente aparecem na sociedade mais ampla, ‘2 pessoas expressivas e inteligentes dentro de seu proprio grupo mas, ‘tlém disso, expressam-se em termos institucionais, Tem, entre si, um inverse de respostas, Formam e reconhecem simbolos de prestigio e desonra; avatiam situagies relevantes em termos de suas. préprias hormas ¢ seu proprio idioma e, em suas relagdes mutuas, deixam cair a mascara de ajuste acomodativo.” Outro exemplo, o daqueles que tém dificuldades de audicao: “Lembrava-me de como era trangiilizador, na Escola Nitchie, ‘estar com pessoas que admitiam a existencia de dificuldades auditivas. Gostaria de conhecer pessoas que accitassem os aparelhos de audiglo. Como gostaria de poder ajustar o controle de meu transmissor sem ime preocupar com alguém que esteja me olhando. Poder deixar dé por um iomente, s¢.o cordac que passa atrés de meu_pe coco est A mostra. Que delicia gritar para Entre seus iguais, 0 individuo estigmatizado pode, ‘utilizar sua desvantagem como uma base para organizar A_H. Freeman e G. Kasenbaum, “The Illiterate in America”, Social Forces, XXXIV (1956), p. 374. “2 Warfield, op. cit, p. 60. 30 Estioma sua vida, mas para consegui-lo deve S ese resignar a vi sa Ea, ‘Saas Ses n a triste historia que relata a possesséi go tclamd” tena eile Bas eS Sa ig¢éo correspondente forne- ema send iene ae ea, On i es ateste Tuga” (2) "Ohh, eu po Ueverin tay ag Sou “eplleptico, Tso" feh nods ver can en gee” "@) "aft pale ne ofan HEE BSG Tae GBs oP arian ie Por outro lado, ele pode descobrir seus comporhelros de setrimanso 0 aborrocem @ mdo © que implique centrar-se em histérias de atrocidades, na superioridade do grupo, ou em bistérias de embusteiros om sume, no “problema”, é um dos matores castigos por r um estigma. Por tras dessa focalizagio do problema hd, 6 claro, uma perspectiva nfo muito diferente da dos normais & medida que est especielizada em um setor: "cerns gue pera nis io importants, ou que conseramos como >. Roosovelt, a resposta provavelmente sera que ele fol 0 tigésimo se~ que sofria de poliomielite, embore muitas pessoas, é claro, pudé cao mencionar a poliomielite como informa: eme s considerando provavelmente pensard na poliomielite do Se. Roosevelt logo que cuvit No estudo sociolégico das igmati: pessoas est © interesse esté geralmente voltado pera 0 ‘to ae vide , quando esta existe, que levam aqueles 7 tencem 'a uma categoria particular. Aqui, certamente, se SE am ot stay 7 Sab Bion 1 stn Pram Mersey aren sera cate ee Ba Cee Be re relatos tristes, ver E. Goffman, “The M x of the Mental Patient", Peyehiairy, BAIL (1850), waeasan eee MH Canletep che mec aeiese ee oe Esrioaa © TDENTIDADE SOCIAL 31 encontra um catélogo completo dos tipos de formagao de grupo e de funcdo de grupo. Hii pessoas que possuem Geticiéncias de fala cuja peculiaridadé aparentemente Gesencoraja qualquer tentativa de formagao grupal ow igo semelhante.* Nos limites do desejo de se unir esto expacientes mentais — apenas um niimero reletivamente pequeno deles esté, em geral, disposto a sustentar clubes Fe satide, apesar dos rdtulos indeuos que permitem que Seus membros se agrupem sob um titulo comum.‘* Além Sisco hé os clubes de ajuda mutya para os divorciados, Ge velhos, os obesos, 0S que se encontram em situacdo de Gesvantagem fisica,* os que sofreram uma ileostomia ow Gran colostomia.* Hé clubes residenciais, subvencionados por contribuicdes voluntérias de civersos graus, formados Pera exaleodlatras e exviclados, Ha associagbes nacio Pas como a AA* que fornecem a seus membros uma Qoutrina completa e quase que um estilo de vida. Essas Gssociages sdo, quase sempre, o ponto maximo de anos Ge esforgo por parte de pessoas e grupos situados em Giversas posigdes e constituem um objeto de estudc exert plar enguanto movimentos sociais.” Existem redes de EE Lemert, Sociat Pathology (Nova York, MeGraw-Hill Book Company), 1951, p. 151. REMY) Gvechiler nos fornece um exame geral, em “The Expatien: Organizations A Survey”, Journal of Sociat Iasuss, XVI, 159, Qreanization: foo incluen: Recuperagio Ine, Buses, Clube 105, Fardagde Casa da Fonte, Clube de Confraternizacio Sto Frances Eandagto CaP Para um’ estado de um desses clube, ver D, Tandy ee cnet luphe Social, Organization and Culture of a Club for See Gfental Patients”, Humen Relations, XIV (1961), 91-81 Former ental eR. Palmer, “Social Rehabilitation for Mental Patients”, Mental Hygiene, XLIL (1958), 24-28. Ver Baker, op, cit., pp. 158-159. fe Don White: “Tenho uma ileostomia.... Quisera no 1a. Mas aprendl 2 Aceité-lae Viver uma Vida Normal ¢ Complets’, wee ean Journal of Nursing, LXI (1961), 52: “Nesse ‘momento America Shee de ileostomia e eslostomia em 16 estados e no Distrito GeColumbin, assim como na Austrélia, Canadé, Inglaterra e, Afri ea do Sal”. (#),_AleoSlatras AnOnimos. (N. do T.) DWM a ep. cit, pp. 185-188, descreve uma comemoracio realizada em 1960, em Nova York, pelo movimento das pessoas Tom ificuldades ‘auditivas, mo qual estavam presentes todas 4° Cemeses cuccssivas de dirigentes, assim como representantes | de EGhe™uma das organizagses originalmente separadas. Uma, Pitulagdo completa da histéria do movimento pode, assim, Pee coragdes) sobre a histéria internacional do movimento, ver cea Estioma ajuda mutua formadas por ex-presididrios de um mesmo xeformatério ou prisio, das quais um exemplo é a socie- dade tacita de foragidos do sistema penal francés da Guiana Francesa que se diz existir na América do Sul; ® mais tradicionalmente, hé redes de relagdes, compostas de individuos que se conhecem (ou que esto indireta- mente relacionados), a que parecem pertencer alguns ‘criminosos ® homossexuais. Ha também meios urbanos que possuem um nticleo de instituigdes de servico que fornecem base territorial para prostitutas, viciados, ho- m™ossexuais, alcodlatras e outros grupos desacreditados, sendo esses estabelecimentos, algumas vezes, comparti- Thados por varias classes de proscritos e, outras vezes, no. Finalmente, dentro da cidade, existem comunidades residenciais desenvolvidas, étnicas, raciais ou religiosas, com uma alta concentracéo de pessoas tribalmente estig: matizadas e (diferentemente de muitas outras formagées de grupos entre os estigmatizados) tendo a familia, e nao ‘0 individuo, como unidade basica de organizacio. Aqui, é claro, h4 uma confusdo conceitual muito comum. 0 termo “categoria” é perfeitamente abstrato @ pode ser aplicado a qualquer agregado, nesse caso a ‘pessoas com um estigma particular. Grande parte daque- Jes que se incluem em determinada categoria de estigma podem-se referir & totalidade dos membros pelo termo “grupo” ou um equivalente, como “nds” ou “nossa gente”. Da mesma forma, os que estao fora da categoria podem Gesignar os que estéo dentro dela em termos grupais. Em tais casos, entretanto, é muito comum que o con- junto total de membros ndo constitua parte de um tinico grupo em sentido estrito, ja que ndo tem capacidade para & acio coletiva nem um Dadrio estdvel e totalizador de interacdo mitua. O que se sabe é que os membros de uma categoria de estigma particular tendem a reunir-se em pequenos grupos socials cujos membros derivam todos da mesma categoria, estando esses prdprios grupos Sujeitos a uma organizagéio que os engloba em maior ou menor medica. E observa-se também que quando ocorre que um membro da categoria entra em contato com K.W. Hodgson The Deaf and their Problems (Nova York: Philo- Sophia! Era, 18),"p. 32 St” Ralatad> em” Pol, Gentlemen Conviots (Londres: Rupert ‘Hart-Davis, 1960). 6 — EsvigMa & IbENTIDADE SOCIAL 33, ro, ambos podem dispor-se a modificar o seu trato imutud, devido a crenca de que periencem a0 mesmo “grupo”. Além disso, fazendo parte da categoria um individuo pode ter uma probabilidsde cada vez mafor de entrar em contato com qualquer outro membro e, mesmo, de entrar em relacio com ele, como resultado. Uma ca- tegoria, ontdo, pode funcionar no sentido de favorecer entre seus membros as relacdes e formacdo de grupo mas sem que seu conjunto total de membros constitua um grupo — sutileza conceitual que dagui em diante nem sempre seré observada neste livro. ei Quer as pessoas que tém um estigma particular for necam ou néo a base de recrutamento para uma comu- nidade ecologicamente consolidada de alguma maneira, elas provavelmente subvencionardo agentes © agéncias que as apresentem. (i interessante que nao tenhamos uma palavra para designar, de maneira precisa, os componen- tes, seguidores, partidérios, subordinados ou defensores de tais representantes.) Os membros podem, por exem- plo, ter um escritério ou uma antecamara da qual pro- move seus casos frente ao governo ou & imprensa; a diferenga 6 estabelecida pelo individuo colocado & frente da mesma: uma pessoa igual a eles, um “nativo que esta realmente a par das co'sas, como ocorre com ‘0s cegos, os surdos, os alcodlatras e os judeus, ou alguém ue pertence ao outro lado, como fazem os presididrios ‘ou 08 deficientes mentais. (Os grupos de acto que ser ‘vem & mesma categoria de pessoas estigmatizadas podem, as vezes, estar em ligeira oposicio uns em relacéo 80s Outros © essa oposicao freqiientemente reflete uma dife, renga entre a dizegio a cargo dos “nativos” © @ diregiio 2 cargo dos normais.) Uma tarefa caracteristica desse Tepresentantes 6 convencer o publico a usar um rotulo social mais flexivel & categoria em questio: 2 membros da. Lige Aatuando segundo essa erenea, 0 corpo dem ig i inn para as Pesooas. com’ Difienldades de Audiedo) Gisn Noveclongoina Petzioe termes, como esson com fieatisde Ge audio, com audigto refuse. 08 com perda do Gullo, 6 em Sliminar’a‘palavra susdo de suas conversas, correnpondéncia« ou ‘escritos, de'seu ‘trabalho de ensino e de seus discursox em publ ° "1 Por exemplo, ver Chovigny, op. cit, Cap. 5, onde a situagio € apresentada em referencia aos cegos ia Esvioma rocodimonto dou resultado. A cidade de Nova York em geral come- sou gradualmente a usar o novo vocabuldrio, Uma apreciagao objetiva estava a caminho, 82 Outra de suas tarefas usuais 6 a de aparecerem como “oradores” perante diversas platéias de normais e estigmatizados; elas apresentam o caso em nome dos estigmatizados e, quando elas prdprias séo “nativas” do grupo, fornecem um modelo vivido de uma realizacio plenamente normal; séo herdis da adaptacdo, sujeitos a Tecompensas piiblicas por provar que um individuo desse tipo pode ser uma boa pessoa. Freqiientemente, as pessoas que tém um estigma par. ticular patrocinam algum tipo de publicagiio que expressa sentimentos compartilhados, consolidando e estabilizando para 0 leitor a sensagéo da existéncia real de “seu” grupo © sua vinculacao a ele. Nestas publicacdes a ideologia dos membros é formulada — suas queixes, suas aspira- g6es, sua politica. Séo citados os nomes ‘de amigos ¢ inimigos conhecidos do grupo, junto com informagoes que confirmam a bondade ou @ maldade dessas pessoas. Publicam-se histdrias de sucesso, lendas de herdis de assi- milagio que penetraram em novas dreas de aceitacio dos normais. Séo recordados contos de horror, antigos e modernos, que mostram a que extremos podem chegar os abusos cometidos pelos normais. Sio publicados, como exemplo, historias de fundo moral sob a forma de bio- grafias Ou autobiografias que ilustram um cédigo desej vel de conduta para os estigmatizados. A publicagdo serve ainda como um tribunal onde se apresentam opinides Givergentes quanto & maneira mais adequada de se mani- pular a situacio dos estigmatizados. Se o defeito do individuo requer um equipamento especial, é aqui que ele 6 anunciado e analisado. Os leitores de tais publica- g6es constituem um mercado para livros ¢ panfletos que apresentam linha semelhante. % importante enfatizar que, na América pelo menos, no importa se uma categoria particular de estigmatiza- dos 6 pequena ou esté em md situagio: 0 ponto de vista de seus membros teré provavelmente algum tipo de representacao publica. Pode-se, entio, afirmar que os americanos estigmatizados tendem a viver num mundo @ Warfield, op. cit, p. 78. EsvioMA £ Ipewnpapr Soctat 35, definido literariamente por menos cultos que sejam. Se eles ndo Iéem livros sobre a situagao de pessoas como ‘eles préprios, pelo menos léem revistas e véem filmes; e, quando nao podem fazé-lo, escutam os membros do grupo, porta-vozes do probi2ma, em sua localidade. Uma Yersao intelectualmente elaborada de sua perspectiva €, assim, acessivel & maioria das pessoas estigmatizadas. % necesséria aqui uma explics’.io sobre aqueles que vem 2 atuiar como representantes | » uma categoria estig- Tatizada. Sdo pessoas com estigma que tém, de ‘nicio, um pouco mais de oportunidades de se expressar, S40 uum pouco mais conhecidas ou mais relacionadas do que os seus companheiros de sofrimento e que, depois de um certo tempo, podem descobrir que o “movimento” absor- ve todo 0 seu dia e que se converteram em profissionals Esse ponto 6 exemplifieado por um individuo com difi- culdade de audicéo wpm 1042 en passava quase todos os dias na Liga, As sogun- dan so, a2 oe tate, Pnidedo dn Cros Vermeha. As tenga, a te ae ake s Rand ra ater nice quando nese, Nas terse do G0” SEE ee een dalo nn Gina de prevenge 8 snd tacelea eu sipdar® © Fecpital de ‘lion ¢ Owvidos de Manhattan, portance 8 Ligh m0 He pataiarments” tratyarse de erever aaa aree oe ee ava a renin, oan nfs ¢ eatierng ss CTS Sidin ponterres era potencment jails para g audica oa taogleas, o gue Ines permitira jot or cits croser som algodses nos ouvides, Nag tardes de qin rmvelmenta pein som Ss tama Inlal para eo aaulog, © {ars Se oxavanins batalko ¢ tomdvamon cht. AS sexes, Se che eh Ota ote: aoe saben fala cheat © Sandwiches de salada de ovo. Uma ves por més eu assistia a0 encont genic: ele cee um groyo, vountaioopgungado om 102, dat Sco onl Php auton egeay geben nee ela Senhora, Wendel Fo maniar oromera de 2600s © : roe nye Tose ov Sonios para te Lire sogininante, Oren a arts a camo Die de_Agho de Gingus dos Veteranos., Ne éyoca de Natal sdigin pedidos de contr Dragie doe, Veberaane Ne 0% Cavelons ot eser op slo. Cao Due, auger or steve o wna mee de pinguepoDgues Sart sora ores pated Sao Valentin ¢fcava encarverai geompanhave of ovens Joa urente s Pera ca Pasone Victory in My Hands (Nova York, Creative Age Press, 1949). 36 Esnioma Pode-se acrescentar que desde que uma pessoa com um estigma particular alcanca uma alta posicao finan- ceira, politica ou ocupacional — dependendo a sua impor- taneia do grupo estigmatizado em questio — 6 possivel que a ela seja confiada uma nova carreira: a de repre- sentar a sua categoria. Ela encontrase numa posigio mui- to eminente para evitar ser apresentada por seus iguais como um exemplo deles prdprios. (A fraqueza de um estigma pode, assim, ser medida pela forma pela qual um membro da categoria, por mais importante que seja, consegue evitar estas pressOes.) Sobre esse tipo de profissionalizagdo so, em geral, formuladas cuas observagées. Em primeiro lugar, ao fazer de seu estigma uma profissio, os lideres “nativos” sio obrigados a lidar com representantes de outras catego- rias, descobrindo, assim, que esiao rompendo o circulo fechado de seus iguais. Em vez de se apoiar em suas muletas, utilizammnas ‘para jogar golfe, deixando de ser, em termos de participacio social, os agentes das pessoas que eles representam.* Em segundo lugar, os que apresentam profissional- mente a opiniio de sua categoria podem introduzir certas Parcialidades sistematicas em sua exposigéo apenas por- que estio demasiadamente envolvidos no problema para Poderem esorever sobre ele. Embora qualquer categoria Possa ter profissionais que seguem linhas diversas, e TMesmo subvencionar publicagées que defendem progra- mas diferentes, hé um acordo técito uniforme de que a situacio do individuo com esse estigma particular me- rece atengio, Quer um escritor leve um estigma muito a sério ou o considere néo muito importante, deve defi- nilo como algo sobre o que vale a pena escrever. Esse acordo minimo, mesmo quando nfo hd outros, serve para, consolidar a crenga no estigma como uma base para a autocompreensio. Nesse caso, novamente, os representan- tes no sao representativos, porque a representagao nunca vern dos que nao dao atencéo a seu estigma ou que sio relativamente analfabetos. 4 Desde o infcio tais Iideres podem ser recrutados entre os membros das estegorias quo ambicionam deixar de viver como seus iguais © que sio relativamente capazes de faztlo, dando lugar ao que Lewin (op. cit, pp. 196-195) chamou de “Lideranga da Pe ‘Estima 2 Inentmap? Soca. 37 Nao pretendo sugerir com isso que os profissionais so 0 nico recurso publico que os estigmatizados tém para denunciar a sua situagio de vida; hé outros re- cursos. Cada vez que alguma pessoa que tem um estigma particular alcanga notoriedade, seja por infringir a lei, ganhar um prémio ou ser o primeiro em sua categoria, pode-se tornar o principal motivo de tagarelice de uma comunidade local; esses acontecimentos podem até mes- mo ser noticia nos mefos de comunicagio da sociedade mais ampla, De qualquer forma, todos os que compart Tham o estigma da pessoa em questo tornam-se subiti mente avessiveis para os normais que estéo mais imedia- tamente préximos e tornamse sujeitos a uma ligeira transferéncia de crédito ou descrédito. Desa maneira, sua situagdo leva-os facilmente a viver num mundo de herdis e vilfos de sua prépria espécie, sendo a sua re- lagdo com esse mundo sublinhada por pessoas préximas, normais ou nfio, que Ihes trazem noticias do desempenho individuos de sua categoria. yi ae ionsiderel que hé um conjunto de individuos dos quais 0 estigmatizado pode esperar algum apoio: aque- Jes que compartilham seu estigma e, em virtude disto, so definidos e se definem como seus iguais. O segundo conjunto € composto — tomando de empréstimo um termo utilizado por homossexuais — pelos “informados”, ou seja, os que sdo normais mas cuja situagéo especial levou a privar intimamente da vida secreta do individuo estigmatizado © a simpatizar com ela, ¢ que gozam, 20 mesmo tempo, de uma certa aceitagio, uma certa perti- néneia cortés ao old. Os “informados” sao 6s homens marginais diante dos quais 0 individuo que tem um de- feito nao precisa se envergonhar nem se autocontrolar, porque sabe que seré considerado como uma pessoa comum. Podese citar um exemplo tomado do mundo das prostitutas: eh ar esc orden a alimbo' orm rraties 5 reat, perdotermete al aliments seni wee bemctaate sree ete en at eo eas mae siers¢ mente malas Nomen ode J, Stearn, Sistore of the Night (Nova York: Popular Li- brary, 1961), p. 181, 38 Esmioma Antes de adotar o ponto de vista daqueles pce i ree gem own sm vertendo em “informada” tem, primeiramonte, que passar por uma experiéncia pessoal de arrependimento sobre a qual existem mumerosos registros literdrios."* E depois que o simpatizante normal colocase & disposicéo dos estigmatizados deveré aguardar, com certa freqiiéncia, a sua validagio como membro aceito, A pessoa néo deve apenas se oferecer mas deve, também, ser aceita, Algumas vezes, 6 claro, @ iniciativa do wltimo passo parece ser tomada pelo normal; 0 que se segue é um exemplo deste nto, erie tunes ty oe ace me eles comecaram a brincar entre si e a chamar uns aos outros de Palavra “preto" quando brincavam, palavra que anterformente nem Partir desse momento, todos podiamos empregar a palavra “preto”, mas as velhas categorias haviam mudado totalmente. Nunca esque- ‘Um tipo de pessoa “informada” 6 aquele magio vem de seu trabalho num lugar que eulda ‘no 26 TW, Mater, “The Homowtratl Vila", em, Advertonent for Myself (Nova York, Signet Books, 1960) "pp. 200-2 i. fay Mase Nore aes LE at he ie Mt me rae acetate thainen’y aoa db arto seedings suaeer , PUMa gate eiaues Beasts Hine Moet Pte” pan na hte eosin a RIE Ge itt doer, i Menai on 6 ene “agro on ne rade seen po Se aE: gee ale aera aude" naetae Teen tecs ser ae Seat etaies veges hae ae a ee tata inde ONS feo, Whe to Se Silat Ss BsSaticr ole Coat Bre ‘Transactions of the Second (1955) Conference (Nova York: Josiah ROSS Podaibe Be), Ok. EsrigMa & IpeNtipapz SOCIAL 39 das necessidades daqueles que tém um estigma particular quanto das agdes empreendidas pela sociedade em re- Taco a eles. Por exemplo, as enfermeiras e os terapeuths podem ser “informados”; eles podem vir a saber mais ‘sobre um determinado tipo de equipamento de protese do que 0 paciente que deve utilizé-lo para minimizar sua deformacéo. Os empregados atenciosos de lojas de doces e balas freqtientemente sio “informados”, assim como 0 ‘sdo os garcons de bares de homossexuais e as empre- gadas das prostitutes de Mayfair.* A policia, devido ao fato de ter que lidar constantemente com criminosos, pode se tornar “informada” em relac&o a eles, levando uum profissional a declarar que “... de fato os policiais sio as tinicas pessoas que, além de outros criminosos, ‘© aceitam pelo que ele 6” ‘Um segundo tipo de pessoa “informada” é o indivi- duo que se relaciona com um individuo_ estigmatizado através da estrutura social — uma relagéo que leva @ Sociedade mais ampla a considerar ambos como uma s6 pessoa. Assim, a mulher flel do paciente mental, a filha Go ex-presididrio, 0 pai do aleijado, o amigo do cego, ‘a familia do carrasco,” todos estéo obrigados a com- partilhar um pouco 0 descrédito do estigmatizado com © qual eles se relacionam, Uma resposta a esse destino é ‘abrac&lo e viver dentro do mundo do familiar ou amigo do estigmatizado. Dever-seia acrescentar que as pessoas que adquirem desse modo um certo grau de estigma ‘podem, por sta vez, relacionar-se com outras que adqui- rem algo da enfermidade de mansira indireta. Os proble- mas enfrentados por uma pessoa estigmatizada espa- Yhamse em ondas de intensidade decrescente. Pode-se Yerificar isto por uma coluna de conselhos de um jornal: “Querida Ann Landers: Sou uma menina de 12 anos que § excluida de toda atividade social porque meu pai € um ex-presididrio, Tento ser amavel e sim- Patice "com todo mundo mas néo adianta. Minhas eolegas de escola wee disceram que suas maes ndo querem que elas andem comigo ‘pois isso nao seria bom para a sua reputagio. Os jornais fizeram publici- C,H. Rolph, ed., Women of the Streets (Londres, Secker & Warburg, 1955), pp. 78-9. ‘wo Parker © Allerton, op. oit, p. 150. © J. Atholl, The Reluctant’ Hangman (Londres: John Long Ltd, 1956), p. 61. 2 LESTIGMA dade negativa de meu. pale apesar de ele dade negative de meu pale apesar de ele ter eumprido sua penn algo due eu’ posta fazer? stow muito tri auvtg do ear sempre noth. Minha tke "precate' fat Sok, te com els, mas quero a com] la de pessc a) Por favor, dé-me algum conselho. mah eta ee, ea UMA PROSCRITA.” 6 ‘Em geral, a tendéncia para a difusio de gma do individuo mareado para as suas relagdes mais noe mas explica por que tais relagdes tondem a ser evitads ou a terminar, caso ja existam, ne ‘AS pessoas que iém um estigma aceito for ml a aera tne crn podem chegar os normais quando tratam uma pessoa estigmatizada como se ela fosse um igual. (A normali zagao deve ser diferengada da “normificaco”, ou seja, © esforgo, por parte de um individuo estigmatizado, om Se apresentar como uma pessoa comum, ainda que nzo esconda necessariamente 0 seu defeito.) Além disso, pode Coorrer um culto do estigmatizado, sendo a respasia estig- atobiea dos normais neutralizada pela resposta estigmd- fila dos *informados”. As pessoas que tém um estigma acelto podem colocar tanto 0 estigmatizado quanto 0 mal numa posicéo desconfortavel: estando sempre prontos a suportar a carga do que nao é “realmente seu", Podem colocar os demais frente a uma moralidade exces: Siva; tratando o estigma como uma questio neutra, que Gove ser encarada diretamente e sem rodeios, expéem 2 S| mesos @ aos estigmatizados uma interpretagao sividade neste conportamento.s OT Ume certa agres: relagdo entre o estigmatizado ¢ s ser dif. A pesson que tain‘ deftto pode sentir que momento pode haver uma. vol ielrat tit ade, os pendéncia aumenta. Nas palavras de uma prostituta: Bethel, Daily Gases, 28 de abril de 1061 wiante PMG e dive de CG. Schwan recive on De Peychintry, XX (1967), 275-291, Sat ot a et, Fara ‘un exemsio em relagSo aos cegos, ver A. Gowman, “Blindness ‘and the Role . Gaginagy ,and the Rolo of the Companion”, Social Problems, IV EsvigMa & IpenTIDADE SoctaL 4 “Bem, eu queria ver o que asonteceria se eu me adiantasse aos fatos. ‘Bapliquel a ele que se estivéssemos casados ¢ brigdssemos. ele colocaria a culpa em mim, Ele disse que no, mas 0s homens sto Por outro lado, o individuo que tem um estigma de cortesia pode descobrir que deve sofrer da mator parte das privagdes tipicas do grupo que assumiu e, ainda assim, que no pode desfrutar a auto-exaltagéo que é a defesa comum frente a tal tratamento. Além disso, de maneira semelhante & que ocorre com o estigmatizado em relacéo a ele, pode duvidar de que, em ultima and: lise, seja realmente “acelto” pelo grupo.* A Carreira Moral ‘As pessoas que tém um estigma particular tendem a ter experiéncias semelhant2s de aprendizagem relative & sua condiggo e a sofrer mudancas semelhantes na con- cepgéo do cu — uma “carreira moral” semelhante, que & nao s6 causa como efeito do compromisso com uma seqiiéncia semelhante de ajustamentos pessoais. (A histé- ria natural de uma categoria de pessoas com um estigma deve ser claramente diferencada da histdria natural do proprio estigma — a histdria das origens, difusio e de- clinio da capacidade de um atributo servir como estigma numa sociedade particular, por exemplo, 0 divorcio na classe média alta da sociedade americana.) Uma das fases desse processo de socializacdo é aquela na qual a pessoa estigmatizada aprende e incorpora o ponto de vista dos normais, adquirindo, portanto, as crencas da, sociedade mais ampla em relagao & identidade e uma idéia geral do que significa possuir um estigma particular. Uma outra fase é aquela na qual ela aprende que possui um estigma particular e,” dessa vez detalhadamente, as con seqiiéncias de possuflo. A sincronizagio e interagao dessas duas fases iniciais da carreira moral formam modelos importantes, estabelecendo as bases para um desenvolvi- mento posterior, e fornecendo meios de distinguir entre ‘Stearn, op. cit, p. 99. A gama de possibilidades 6 muitc bem explorada em C. Bros- |, “Plaint of @ Gentile Intellectual”, em Brossard, ed., The Scene Bejore You (Nova York: Holt, Rinehart & Winston, 1966), pp. 87-91. a2 ‘Estioma 4S carreiras morais disponiveis pura os estigmatizados. Podeni-se mencionar quatro desses modelos. ‘Um deles envolve os que possuem um estigma con- génito e que séo socializados dentro de sua situagio de ‘desvantagem, mesmo quando estéo aprendendo e incorpo- rando os padrées frente aos quais fracassam.*° Por exem- plo, um 6rfio aprende que € natural e normal que as criangas tenham pais e aprende, ao mesmo tempo, 0 que significa nao té1o. Depois de passar os primeiros 16.anos de sua vida na instituigao ele pode sentir ainda, mais tarde, que sabe a significagio de um pai para seu filho. ‘Um segindo modelo deriva da capacidade de uma familia e, em menor grau, da vizinhanga local, em se constituir numa capsula protetora para seu jovem mem- ‘ro. Dentro de tal cépsula, uma crianca estigmatizada desde 0 seu nascimento pode ser cuidadosamente prote- gida pelo controle de informacao. Nesse circulo encan- tado, impede-se que entrem definicdes que o diminuam, enquanto se dé amplo acesso a outras concepgdes da sociedade mais ampla, concepcdes que levam a crianga encapsulada a se cansiderar um ser humano inteiramente qualificado que possui uma identidade normal quanto a ‘questdes bésicas como sexo e idade. © momento critico na vida do’ individuo protegido, aquele em que 0 circulo doméstico néo pode mais prote. gélo, varia segundo a classe social, lugar de residéncia e tipo de estigma mas, em cada caso, a sua aparigio dard origem a uma experiéncia moral. Assim, freqllentemente se assinala 0 ingresso na escola piibli'a’ como a ocasiio para 2 aprendizagem do estigma, experiéncia que as vezes Se produz de maneira bastante’ precipitada no primeiro dia de aula, com insultos, cacoadas, ostracismo e brigas. interessante notar que, quanto maiores as “desvanta- gens” da crianga, mais provavel € que ela seja enviada Para uma escola de pessoas de sua espécie e que conheca mais rapidamente a opiniio que o ptblico em geral tem ‘8 Para uma discussie deste modelo, ver A. R. Lindeamith o A, L. Strauss, Social Peychology, ed. revista (Nova York: Holt, Rinehart, & Winston, 1958), pp. 180-188, et Podese encontrar um exemplo da ecperiéneia de uma pessoa cega em R. Criddle, Love Ie Not Blind (Nova York: W. W. Norton & Co 1958), p. 21; 'a experiéncia de uma pessoa ani 6 relatada em H. Viscardi, Jr., A Man's Stature (Nova York, The John Day Co. 1052), pp. 13-14 EsriGMA E IDENTIDADE SOCIAL 43 dela. Dirtheo que junto a “seus iguais” se sentiré me- hor, e assim aprenderé que aquilo que considerava como © universo de sous iguais estava errado e que 0 mundo ‘que € realmente o seu 6 bem menor. Devese acrescen- tar que quando, na infancia, o estigmatizado consegue atravessar seus anos de escola ainda com algurnas ilus6es, © estabelecimento de relagées ou a procure de trabalho 0 colocario, amiide, frente ao momento da verdade. Em alguns casos, o que ocorre é uma crescente probabilidade de revelagio’ incidental : 4 conta de minha creio que a primelra ves que realmente me de oo a situagio'¢ a primelra dor profnée que ela me cxusou foi sem di Eksucipento, quando eattva na Praia como mew grupo de, amigos 43 tics au ilectncie: ‘Ba atava tala fa aria echo Gus of inte mogan pensarare que eu estiveco dormindo, Um deles disse, {etios ts mlt do Domenie, ay men ei com wma gaat Siget’ Néo eonhego.enhuim precoacelto que rejelte Sraneira tao aboolata." © Em outros casos, 0 que esté envolvide é uma siste- anatica exposi¢io ao perigo, como sugere uma vitima de paralisia cerebral: oo SRS CS Soma Sagara ae fo ae ott cen yas te jnediévais do mundo dos negécios. Procurar trabalho era semelhant ‘Um terceiro modelo de socializagiio exemplificado pelos que se tornam estigmatizados numa fase avancada da vida ou aprendem muito tarde que sempre foram desacreditéveis — 0 primeiro caso nio envolve uma Teor ganizacio radical de visio de seu passado, mas o segundo sim, Tais individuos ouviram tudo sobre normais e estig- matizados muito antes de serem obrigados a considerar a si prdprios como deficiontes. © provavel que tenham um Henrich e Kriegel, op. cit, p. 186. © Ibid, p. 166.

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