As Implicacg6ées
Praticas do
Calvinismo
A. N. Martin EDITORA
Paro Fela a
Baptist Church,
Essex Fells, New JerseyCopyrght @ 1979 - The Banner of Truth Trust
Originalmente publicado em Inglés sob titulo - “Pratical
Implications of Calvinism” pela Banner of Truth Trust,
Edimburg EH12 6EL, UK
Traduzido e impresso com permissa&o da Baneer of Truth
Trust
Todos os direitos reservados
As Implicagdes Praticas do Calvinismo
Autor: A. N. Martin
Primeira Edig&o — Janeiro de 2001
E proibida a reprodugao total ou parcial desta publicago,
sem autorizagao por escrito dos editores, exceto citagdes
em resenhas.
Editor Responsavel: Manoel Sales Canuto
Revisao: Solano Portela
Tradugao: Luciana Heyse
Projeto Grafico: Heraldo F. de Almeida
Impress@o e Distribuigdo: Facioli Grafica e Editora Ltda.
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inal da década de sessenta. Um jovem
brasileiro, de vinte e dois anos, cursa-
va uma universidade cristé nos Esta-
dos Unidos e ia solidificando suas convicgées
doutrinarias.
Criado em igrejas Presbiterianas, foi se
interessando pela teologia reformada apenas
no final de sua adolescéncia. Rendeu-se as
evidéncias da Palavra de Deus sobre a predes-
tinagéo lendo o Evangelho de Joao: “As mi-
nhas ovelhas ouvem a minha voz...”; “Vés nao
escolhestes a mim, mas eu a Vé6s...”; e assim
ia marcando, em sua Biblia, todas as referén-
cias 4 agdo soberana de Deus na salvagao do
seu povo, encontradas nesse Evangelho.
Muitos colegas de classe eram ar-
minianos. Varios desses desprezavam e
caricaturizavam o calvinismo. Outros,
calvinistas, nao recomendavam muito a dou-
trina professada, pela arrogancia e falta de
trato cristéo em seus contatos. Uns poucos,
entretanto, eram também sinceros pesquisa-
dores das verdades das Escrituras sobre as
Doutrinas da Graga e viviam, juntamente com
o jovem, avidamente lendo trabalhos e pro-
curando ouvir palestras relacionadas com a
fé reformada.O jovem era eu. Foi nesse contexto que
travei conhecimento, pela primeira vez, com
o Pastor Albert N. Martin. Nao foi um conta-
to pessoal; apenas umas trés fitas cassetes que
me foram emprestadas por um colega de es-
cola, contendo a esséncia da exposig4o que
esta sendo agora apresentada neste livreto:
‘As Implicagées Praticas do Calvinismo”.
Como me ajudaram! As fitas eram de baixa
qualidade de som, com ruidos provocados
pelas mitltiplas c6pias de um original distan-
te. Achavamo-nos, na realidade, numa épo-
ca da pré-historia eletrénica, hé poucos anos
da invengado da fita cassete. Logo, além de
ouvi-las, consegui reduplica-las e enviei cé-
pias para outros amigos e para aquele que
seria 0 meu sogro, o qual foi igualmente e
grandemente abengoado com esses sermées,
ouvindo-os repetidamente em diversas oca-
sides.
Alguns meses apés, viajei duas horas
com mais alguns colegas até uma igreja onde
o Pastor Martin pregaria. Na cidade de Ocean
City, New Jersey, conheci sua poderosa ora-
téria e impressionei-me com a sua doutrina
e com a profundidade e sinceridade de suas
palavras. Conhecendo um pouco mais de sua
pessoa, algumas surpresas: “Mas batista?”; “E
os batistas nao sao contra a teologia reforma-
da?” E assim, minha falta de conhecimento
ia sendo esclarecida; ia aprendendo que osbatistas hist6ricos eram todos reformados;
que o abandono das Doutrinas da Graga era
algo recente em sua hist6éria — ocorria ha me-
nos de cem anos; que um dos maiores prega-
dores reformados da histéria - Charles
Spurgeon, era batista; que a confissdo de fé
dos batistas antigos — a Confissao de Fé de
Londres (1689), era praticamente idéntica a
Confissao de Fé de Westminster; e assim por
diante.
Quatro anos depois, j4 casado com
aquela que também compartilhara das pri-
meiras escutas das fitas de Al Martin, mo-
rando desta feita no estado da Pennsylvania,
nos deslocamos alguns domingos para Essex
Fells, New Jersey, uma viagem de quase trés
horas, para ouvir suas pregag6es. Nesse tem-
po o Rev. Albert Martin ja era um colabora-
dor constante da revista The Banner of Truth.
Jd possuia, também, alguns trabalhos publi-
cados e jé era bastante conhecido como con-
ferencista reformado. Sua igreja era um tem-
plo situado fora do burburinho do centro da
cidade. A nave lotava e a pregagao era trans-
mitida por circuito interno de TV para aque-
les que nao conseguiam lugar e se acomoda-
vam no porao. Chamava-nos a atengao algu-
mas Garacteristicas do verdadeiro calvinismo
presentes naquela igreja: o envolvimento de
varios lideres nas atividades e na liturgia; a
preocupagao com missées; 0 apelo para agdesde beneficéncia; a importancia e a cen-
tralidade da proclamagao da Palavra; o
envolvimento alegre e emotivo, mas com so-
lenidade, respeito e aprego pelo aprendiza-
do da doutrina sa, da parte dos membros.
Agora, mais de vinte e cinco anos de-
pois desses fatos, tenho o prazer de ver mais
um trabalho do Rev. Albert N. Martin vertido
para o portugués e o privilégio de revisar a
tradugao e de apresentd-lo. Dele jé existem
outros livretos em nossa lingua que vém in-
fluenciando vidas e provocando uma maior
precisdo de andlise nas coisas do Reino. Con-
juntamente com “As Implicagées Praticas do
Calvinismo” confiamos que esses livros con-
tinuarao a despertar servos de Deus para uma
vida mais comprometida com Ele, fundamen-
tada na doutrina reformada. Vamos penetrar
nessas implicagées praticas e, pela graga de
Deus, viver coerentemente com a nossa pro-
fisséo, para a honra e gléria de Cristo Jesus!
Sao Paulo, agosto de 2000
Solano PortelaAs Implicacées
Praticas do
Calvinismo
A.N. Martin
A Experiéncia de Deus
tedlogo norte-americano B.B. War-
field, descreve o Calvinismo como
sendo “a visdo da majestade de Deus
que permeia a vida e a experiéncia como um
todo”. Ao se referir especificamente 4 doutri-
na da salvagao, a sua feliz confisséo se resu-
me em trés palavras significativas: Deus sal-
va pecadores. Sempre que somos confronta-
dos com grandes declaragées doutrinarias nas
Sagradas Escrituras, Deus nao nos deixa me-
ramente com a afirmagao da doutrina. O pro-
posito da verdade de Deus colocada nas men-
tes do Seu povo é que, ao compreendé-las,
eles venham a conhecer o seu efeito na sua
propria experiéncia pessoal. Assim sendo, os
grandes temas doutrinarios de Efésios capi-
tulos 1, 2 e 3 sao seguidos pela aplicagao de
tais doutrinas 4 vida pratica e 4 experiéncia,
em Efésios capitulos 4, 5 e 6. O fim para o
qual Deus deu a Sua verdade nao foi somen-
te para a instrugdo de nossas mentes, mas
muito mais para a transformagéo de nossas10 |r rere
vidas. No entanto, uma pessoa nao pode ater-
rissar diretamente na vida e na experiéncia;
a compreensao deve vir através da mente.
Assim, a verdade de Deus é dirigida ao en-
tendimento e o Espirito de Deus age no en-
tendimento como Espirito de sabedoria e co-
nhecimento. Ele nao ilumina a mente sim-
plesmente para que as gavetas dos arquivos
do estudo mental sejam preenchidos com
informagées. O fim com que Deus instrui a
mente é para que Ele, assim, possa transfor-
mar a vida.
Quais sao entao as implicagG6es pesso-
ais do pensamento e das verdades calvinistas,
tanto na vida do individuo, como no ministé-
rio exercitado pelo individuo? O que quero
dizer, com implicag6es pessoais, sao as impli-
cagées do seu relacionamento com Deus, sem
nenhuma referéncia consciente ao seu minis-
tério. Eu sei que essas coisas néo podem ser
separadas num sentido absoluto, pois como
ja foi muito bem dito, “a vida de um ministro
é a vida do seu ministério”. Vocé nao pode
separar o que vocé é daquilo que vocé faz; vocé
nao pode separar o efeito da verdade sobre o
seu relacionamento com Deus, do efeito da
verdade através do seu ministério. A fim de
termos o foco bem centrado nesses principios
eu os estou separando, mas de maneira ne-
nhuma quero dar a impresséo de que esses
dois aspectos estao separados.As Implicagdes Praticas do Calvinismo
AN. Martin,
i
Entao pergunto: Quais so as implica-
goes do pensamento calvinista, desta visdo
da majestade de Deus e da verdade salvadora
das Escrituras no que diz respeito a nés como
individuos? Como resposta voltemos aquele
principio geral que B.B.Warfield chama de
“principio formativo do Calvinismo”. Eu cito
as palavras de Warfield: “Este principio se
encontra entao, deixe-me repetir, numa apre-
ensdo profunda de Deus, na Sua Majestade,
com a pungente compreensdo que inevitavel-
mente acompanha esta apreensao, da relagao
mantida com Deus, pela propria criatura, e,
em particular, pela criatura em pecado. O
calvinista 6 o homem que vai a Deus, e que,
tendo-O visto na Sua gloria, por um lado esta
cheio do senso de sua prépria indignidade
de estar na presenga de Deus como criatura,
e muito mais ainda como pecador; e por ou-
tro lado, acha-se em atitude de adoragao e
admiragao a Sua pessoa, com base no fato de
que este Deus é um Deus que recebe pecado-
res. Aquele que cré em Deus sem reservas e
est4 determinado que Deus sera Deus para
ele em todo 0 seu pensamento, sentimento e
vontade — em todo ambito das atividades de
sua vida: intelectual, moral e espiritual —,
em todas as suas relagées individuais, soci-
ais e religiosas — nao importa como ele se
intitule, o que ele pensa de si mesmo ou como
vé a si mesmo, essa pessoa 6, pela forga da
légica, um calvinista”.?12 [aimee
Note que quando B.B. Warfield define
calvinismo e o calvinista ele usa palavras de
forte natureza experimental. As palavras
“apreensao” e “compreensaéo” tratam prima-
riamente do entendimento, apesar do seu sig-
nificado ir além disso. Mas quando chegamos
a palavras tais como “ter visto a Deus”, “estar
cheio, por um lado, por um senso de sua pré-
pria indignidade”, “admiragaéo e adoragao”,
“pensamento, sentimento e vontade”, sao
palavras que tratam de experiéncia. Warfield
esta realmente dizendo que ninguém é
calvinista, nenhuma pessoa é realmente bi-
blica no seu pensamento a respeito de Deus,
nenhum homem é verdadeiramente religio-
so, nenhum homem é verdadeiramente evan-
gélico até que esses conceitos tenham impreg-
nado as fibras nervosas da sua experiéncia.
Em outras palavras, Warfield diria que um
calvinista académico é uma contradigéo de
termos; a mesma coisa que se falar do termo
contraditério: um “cadaver ambulante”.
Quando a alma e o corpo estao separados é
porque a morte se fez presente, e Warfield nos
ensinaria que quando a alma do pensamento
calvinista esté morta ou ausente, tudo que
sobra 6 uma carcassa e o mau cheiro nas na-
rinas de Deus, e, muitas vezes, o odor desa-
gradavel na igreja quando este se acha pre-
sente no ministro.As Implicagées Praticas do Calvinismo
ALN. Martin
13
I
Com este pano de fundo quanto as im-
plicagées pessoais, eu gostaria que conside-
rassemos uma passagem das Escrituras, na
qual temos um relato histérico de como Deus
faz um calvinista. Veja Isafas 6: “No ano da
morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado
sobre um alto e sublime trono”. Isaias, que co-
nhecia o rei Uzias muito bem, e o tinha visto
no seu trono, diz que, no ano em que aquele
rei morrera, ele viu o verdadeiro Rei. Ele O
menciona de novo no final do versiculo 5: “e
os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exér-
citos!”. E ele O viu essencialmente como um
Rei entronizado:
“Bu vi o Senhor assentado sobre um
alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo. Serafins estavam por cima
dele; cada um tinha seis asas: com duas co-
bria o rosto, com duas cobria os seus pés e
com duas voava. E clamavam uns para os
outros dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor
dos Exércitos; toda a terra esté cheia da Sua
gloria. As bases do limiar se moveram 4 voz
do que clamava, e a casa se encheu de fuma-
¢a.. EntGo disse eu: ai de mim! Estou perdido!
Porque sou homem de Idbios impuros, habito
no meio de um povo de impuros Idbios, e os
meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exérci-14 Axperiéncia de Deus
ANN. Martin
tos! Entao um dos serafins voou para mim,
trazendo na mao uma brasa viva, que tirava
do altar com uma tenaz; com a brasa tocou a
minha boca e disse: Eis que ela tocou os teus
idbios; a tua iniquidade foi tirada, e perdoa-
do o teu pecado. Depois disto, ouvi a voz do
Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem
hé de ir por nés? Disse eu: eis-me aqui, envia-
me a mim. Entéo disse ele: Vai e dize a este
povo: Ouvi, ouvi e nao entendais; vede, vede,
mas ndéo percebais. Torna insensivel o cora-
¢Go deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fe-
cha-lhe os olhos, para que ndo venha ele a
ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a
entender com o coragao, e se converta e seja
salvo. Entdo, disse eu: até quando, Senhor?
Ele respondeu: Até que sejam desoladas as
cidades e fiquem sem habitantes, as casa fi-
quem sem moradores, e a terra seja de todo
assolada”.
Aqui esta o registro de como Deus faz
um calvinista; como Deus levou um homem
a ter uma visdo da Sua majestade que afetou
tanto a Isafas, que sua vida jamais foi a mes-
ma. A primeira coisa que 0 impressionou
nesta ocasiao foi esta visio de Deus em
posicionamento Alto e Sublime, assentado no
trono. Qualquer outra coisa introduzida na
visdo — a santidade de Deus, a graga de Deus,
o perdéo de Deus — estd compreendida no
brilho de Deus entronizado — “Eu vi o Se-As Implicagées Praticas do Calvnismo
AN. Martin
15
nhor assentado sobre um alto e sublime tro-
no”. Estaria correto, portanto, dizermos que
foi ali exercida uma santidade soberana as-
sim como uma soberania santa. Ali visua-
lizava-se uma graga soberana assim como a
soberania cheia de graga. Esta exposigao ao
Senhor, como Rei, trouxe consigo varios re-
sultados especificos na vida do profeta.
Em primeiro lugar, esse contato com
Deus trouxe a ele um conhecimento da sua
propria pecaminosidade. ‘Ai de mim! Estou
perdido! Estou em choque. Desfalego!” Quem
era ele? Seria ele um andarilho qualquer ar-
rancado das estradas e que costumava falar
palavrées para aqueles que nao gostavam das
coisas que lhe interessavam? Era ele algum
tipo de estudante sem rumo, sob a cobertura
das proposigées vazias da nova moralidade,
dando vazao as suas paixdes animalescas?
Nao! Essa pessoa era Isaias e, conforme to-
das as indicagées das Escrituras, tratava-se
de um homem santo, um homem de Deus, o
que chamariamos de um cristéo dedicado.
Mas ele ainda teria de ter uma visao do Se-
nhor que o quebrantasse e o sacudisse, no
sentido de expor a corrupgao inerente ao seu
proprio coragao e 4 sua propria vida. Eu creio
que Deus jamais faz calvinistas, ao apresen-
tar-lhes Sua gloria e majestade, sem também
trazer consigo esta exposigao mensuravel ao
pecado a luz da Sua soberania e da Sua san-16 [ance
tidade. Essa visio também trouxe consigo um
vislumbre profundo do seu estado natural e
de sua geracao. Note que na sua propria con-
fisséo ele nao apenas diz “Sou homem de Id-
bios impuros”, mas também diz, “habito no
meio de um povo de impuros Idbios”. Nos re-
gistros em que descreve o estado em que 0
povo se encontrava, como por exemplo em
Isaias 58, vemos que eles eram extremamen-
te religiosos; eles vinham diariamente ao tem-
plo e ofereciam sacrificios. Leia Isafas 1, e
vocé vera os contemporaneos dos profetas
trazendo os seus sacrificios e observando os
seus dias de festa. No entanto Deus disse:
“Estou farto de tudo isso. Nao continueis a tra-
zer ofertas vas; ...quando multiplicais as vos-
sas oragées, nao as ougo”. E se eu e vocé ti-
véssemos estado 14 como espectadores, teri-
amos dito que a religiéo em Israel ia muito
bem, obrigado. Mas quando este homem teve
uma viséo e um senso da majestade de Deus,
a visdo trouxe consigo nao s6 um vislumbre
da sua propria pecaminosidade, mas também
uma percepgao completa do seu estado na-
tural, de sua geragao.
Em segundo lugar, esse contato com
Deus trouxe um conhecimento experimental
da graga e do perddo. Quando Isafas sentiu a
sua impureza, a sua ruina na presenga do Se-
nhor, o serafim toma uma brasa viva do altar
do sacrificio, uma brasa que se torna o sim-As Implicagdes Praticas do Calvinismo
AN, Martin
17
bolo da base sobre a qual Deus perdoa peca-
dores. Essa brasa toca os labios do profeta, e
apesar de sentir dor no seu intimo, ha tam-
bém uma maravilhosa palavra de graga: “A
tua iniquidade foi retirada e limpo o teu pe-
cado”. Eis ai um homem que foi trazido a uma
viséo do seu proprio pecado, de maneira tal
que ele se pergunta quem pode habitar na pre-
senca de alguém como o Senhor. E para esse
tipo de pessoa que a palavra de perdao pro-
voca humildade, tem um peso e é cativante.
A razaéo porque a graga é tao pouco apreciada
nos nossos dias 6 porque a majestade trans-
cendente e a soberania e a santidade de Deus
sao tao pouco estimadas. Nés enxergamos pou-
co mais do que meio palmo entre Deus e nos-
so ego pecaminoso. Todavia, Isaias viu essa
questao como ela é de fato, como um abismo
profundo, e quando o Senhor soberanamente
estendeu Sua misericérdia por cima daquele
abismo e o tocou, entao, ele se tornou um ho-
mem que evidenciou o fruto da graga.
Em terceiro lugar, esse contato com
Deus fala de um homem que foi trazido 4 com-
pleta resignagdo perante Deus. Tendo sido
purificado, em seguida Isafas nos diz: “Ouvi
a voz do Senhor que dizia: A quem enviarei, e
quem hd de ir por nés?”. Note a reagao do
profeta. Tendo visto o Senhor na Sua sobera-
nia e santidade, e a si mesmo na sua imundi-
cia, e tendo ouvido a palavra de graga e per-ig|senar
dao, o que pode um homem fazer quando o
Senhor fala e ele ouve a Sua voz, sendo dizer
“Bis-me aqui!”? Nada existe aqui do missio-
nario que conta histérias “Agua com agiicar”
sobre o pecado humano e sobre a necessida-
de humana, na tentativa de arrancar jovens
dos bancos da auto-indulgéncia em que se
assentam, e de extrai-los de sua rebeliao para
com a vontade revelada de Deus, no sentido
de fazer com que eles profiram um “Eis-me
aqui!” Temos aqui apenas o reflexo de um
homem que viu o Senhor e ouviu a Sua voz,
e diz, “Eis-me aqui Senhor, envia-me a mim!”.
E entao, no seu papel, o Senhor testa a pro-
fundidade de tal confissao e nés vemos uma
total resignagao a vontade e aos caminhos do
Senhor, nao importa quao estranhos possam
parecer, pois se torna imediatamente claro ao
profeta que ele vai ter um ministério prima-
riamente de julgamento: “Vai e dize a este
povo: ouvi, ouvi e nao entendais; vede, vede,
mas ndo percebais. Torna insensivel o cora-
¢ao deste povo!”. “Isaias, eu te comissiono a
um ministério de endurecimento e de julga-
mento”. E agora, o que faz o profeta? Ele re-
cua e diz: “Ah Senhor, mas isso nao é justo.
Nao me chames a um trabalho como esse!”?
Nao, de modo algum! Ele simplesmente diz,
“Até quando, Senhor?”. Em outras palavras,
“Senhor, Tu tens todo direito de me enviar
para um ministério que vai ser basicamente
um ministério de endurecimento e julgamen-As Implicagdes Praticas do Calvinismo { 9
AN. Martin
to. Tu és Deus. Eu sou pecador. O que eu pos-
so fazer sendo ser cativo 4 expressao da tua
vontade, nado importa quais sejam as impli-
cagées?”
E isso o que Deus faz, quando torna
uma pessoa Calvinista. De uma forma ou de
outra, Ele lhe dé uma visaéo da Sua prdépria
majestade, soberania e santidade como sen-
do o Alto e Sublime, que acaba trazendo con-
sigo um senso experimental profundo e pes-
soal da pecaminosidade humana e em termos
da nossa propria natureza. Esse encontro traz
um conhecimento intimo da voz de Deus,
uma total resignagao a vontade e aos cami-
nhos de Deus.
I
Para aplicarmos isso, eu quero dizer
que nao fale em ser um calvinista simples-
mente porque o seu apetite por consisténcia
légica foi saciado por meio do sistema teolé-
gico calvinista. Vocé “viu” a Deus? Vocé foi
trazido para perto dEle? Essa é a questao. Eu
vou relembra-lo das palavras de B.B. Warfield:
“Um calvinista 6 um homem que ‘viu’ a
Deus”. A express4o “um calvinista orgulho-
so” 6 uma contradigéo de termos. Se um
calvinista é um homem que viu a Deus assim
como Ele é, alto e elevado, entronizado, en-z0|cssse
tao ele 6 um homem que foi trazido ao
quebrantamento perante aquele trono assim
como foi Isaias. Um calvinista carnal? Outra
contradigéo de termos! O Entronizado é o
Santo, e Ele habita em comunhao consciente
com aqueles que se relacionam corretamen-
te com Ele como sendo o Enironizado e o
Santo. Estas duas coisas séo colocadas jun-
tas de maneira belissima em Isaias 57:15 onde
o profeta diz: “Porque assim diz 0 Alto, o Su-
blime, que habita a eternidade, o qual tem o
nome de Santo: Habito no alto e santo lugar,
mas habito também com o contrito e abatido
de espirito”. O que é contrigdo? E a reacdo de
um pecador na presenga de um Deus Santo.
Eo que é humildade? E a reagao de um sidi-
to na presenga de um soberano. Isafas jamais
esqueceu esta visdo, e ele diz: “Este grande
Deus habita naquele alto e sublime lugar. Com
ele, também, aquele de espirito abatido e
contrito, para reviver o espirito humilde, e
reavivar o coragao dos contritos”.
Se o entendimento que vocé tem do
pensamento calvinista o levou ao ponto
onde vocé pode, por assim dizer, se glori-
ar em sua liberdade e usd-la como pre-
texto para licenciosidade, entaéo vocé ja-
mais se tornou um calvinista biblico.
Deus faz calvinistas hoje da mesma for-
ma que Ele os fazia nos dias do profeta
Isafas.As Implicacées Praticas do Calvinismo
AN. Martin
21
A meu ver, eu creio que um homem
nao tem o direito de falar em ser um calvinista
s6 porque pode repetir como um papagaio as
frases que chegaram até ele por meio da gran-
de heranga da literatura reformada. Ele tem
que perguntar a si mesmo, se foi o Espirito
Santo que o trouxe a este profundo senso de
que foi Deus que operou nele, pelo menos em
alguma medida, a graga da humildade. Fui
eu dotado de dons e habilidades? Se assim
for, que tenho eu que nao tenha recebido?
Quem me faz sobressair? Se Deus me dotou
de dons e habilidades sejam intelectuais ou
doutra ordem, eu reconhego que os tenho
porque o Soberano entronizado se agradou
em dispensé-los a mim, e a tinica diferenga
entre mim e aquela pobre crianga retardada
que me comove 0 coragao, é que Ele se agra-
dou em me fazer diferente. “Quem te faz so-
bressair?”. O homem que esta na presenga de
um Deus entronizado, e que teve esta visdo e
senso da majestade de Deus, reconhece que
tudo que ele tem lhe foi dado. Humildade nao
é timidez. Humildade é aquela disposigao de
reconhecimento honesto. Ele é Deus, e eu nao
passo de uma criatura. Tudo o que eu tenho
vem dEle e lhe é devido em adoracgéo e em
honra. Ele traraé consigo a submissao que nds
vemos em Isajas. Ele est4 assentado sobre o
trono; eu néo tenho direito algum de defesa,
no entanto tenho o indizivel privilégio de
conhecer e fazer a Sua vontade. Nao foi esse22
AExperiéncia de Deus
ALN. Martin:
o reflexo que levou Isaias a agir? O Senhor
esta sobre o trono; eu sou a criatura. Que mais
posso fazer senao dizer “Eis-me aqui?”.
O, o prazer indizivel de conhecer e fa-
zer a vontade de Deus! Nao so traz humilda-
de e submissao, mas contrigéo verdadeira,
porque eu, entao, vejo que todo pecado tem
sido um espirito violentamente anarquista
exercido contra os direitos de Deus. Tenho
falhado em ama-Lo com todo meu coragaéo?
Entao isso tem sido anarquia. Ele exige e é
digno da minha afeigdo integral. Tenho falha-
do em amar meu préximo como a mim mes-
mo e tenho expressado esse pecado ao des-
respeitar meus pais, desrespeitar os direitos
e a vida de outros, a pureza e a santidade de
outros, a reputagéo de outros? Va aos dez
mandamentos e aprenda que quebrar qual-
quer um deles 6, no seu 4mago, uma anar-
quia violenta contra os direitos entronizados
de Deus. E tudo orgulho — nao passa de uma
tentativa de partilhar da gloria que pertence
ao trono, e ao Deus sobre aquele trono, e di-
zer na realidade, “O Deus, por favor me dei-
xe entrar em cena e levar um pouquinho da
gléria também?”. Nao seria isso orgulho? —
é uma tentativa impia de compartilhar o lou-
vor do Deus entronizado!
E assim, esta visao de Deus nao pode
sendo produzir humildade, submiss4o eAs Implicages Praticas do Calvinismo
AN. Martin
23
contrigaéo. Olhando o outro lado mais positi-
vo, ela deve produzir gratidao, na expectati-
va de que Deus, exercitando os Seus direitos
soberanos, me abengoe com sanidade, satide
corporal, clareza de mente e, acima de tudo,
com a Sua graga, produzindo a confianga de
que Deus est4 no Seu trono e que nada no
passado, no presente ou no futuro fez aquele
trono se abalar um milésimo de centimetro
sequer de sua posigao. Jeova reina! Trema a
terra. Confianga, confianga inabalavel, ale-
gria, independentemente do que se passe na
minha esfera de visaéo! Tudo esta bem onde
Ele esta assentado.
Deus fez de vocé um calvinista? Eu nao
estou perguntando se vocé leu um livro de
Boettner, de Kuyper ou de Warfield e vocé se
tornou calvinista. Estou perguntando se Deus
lhe deu uma “visao” dEle? Ele lhe quebran-
tou? E lhe trouxe aquele lugar, por Sua graga,
de humildade, submissdo, contrigao, grati-
dao, confianga e alegria? Isso 6 o que faz de
alguém um calvinista. Se nés sabemos isso,
diremos:
Meu Deus, Tu és grandioso!
Como a Tua majestade reluz!
Quéo maravilhoso, Teu trono
misericordioso,
Que arde em profunda luz!2 4 A Experiéncia de Deus
ALN. Martin
O, eu te temo. Deus vivente,
Eum profundo e terno temor,
E com ldgrima penitente!
Te adoro em esperanga e tremor!
Qudo maravilhosa, maravilhosa sim!
Da tua pessoa, deve ser a visdo,
Tua infinita sabedoria,
teu poder sem fim,
Tua tremenda pureza e exaltagao!O Poder da Religiao
Salvadora
gora voltaremos nossa atengd4o para
os aspectos especificos do calvi-
nismo relacionados com o plano da
salvagao, ou seja os aspectos soteriolégicos,
ou o que comumente chamamos de “as dou-
trinas da graga”. Eu j4 havia mencionado que
os aspectos salvificos das verdades biblicas
que denominamos de calvinismo seriam o
foco da nossa atengéo — a confisséo de que
Deus salva pecadores. Qual o efeito que isso
deveria ter sobre a vida de um individuo? Do
ponto de vista da soteriologia, seria o
calvinismo uma declaragéo da misericérdia
salvadora de Deus exercitada soberanamen-
te e poderosamente sobre pecadores eleitos?
Se é assim, entdo no préprio 4mago do pen-
samento biblico calvinista concernente a sal-
vagdo existe o credo de que Deus tomou a
iniciativa, de que Deus fez algo, de que Deus
estd (no presente do indicativo) fazendo algo.
Warfield tem o seguinte a dizer: “Nao ha nada
que o calvinismo enfrente com maior firme-
za do que toda forma e grau de auto-soterismo
— ou seja, qualquer modo de auto salvagao.
Acima de todas as coisas 0 calvinismo tem a
determinagao de demonstrar o reconheci-
mento obrigatério de Deus, na pessoa de Seu26 0 Poder da Religido Salvadora
AN. Martin
Filho Jesus Cristo, atuando através do Espiri-
to Santo, a quem Ele enviou, como nosso ver-
dadeiro Salvador”.
Aos olhos do calvinista, o pecador nao
carece de motivagao ou de assisténcia para
salvar-se a si mesmo, mas sim de salvagéo. O
calvinista sustenta que Jesus Cristo veio nao
para advertir, instar ou convidar, ou para aju-
dar um homem a salvar-se a si mesmo, mas
veio sim para salvad-lo, para salva-lo através
da obra prescedente do Espirito Santo nele.
Essa é a raiz da soteriologia calvinista.
Se isso é uma realidade, na raiz da
soteriologia calvinista esta a confissao de que
Deus salva pecadores, junto com o propésito
de nao diminuir em nada 0 significado inte-
gral de qualquer uma dessas palavras. Essa
compreensao deveria levar a duas coisas
muito prdticas na vida de cada pessoa.
I
Primeiro, deveria Jevar a um auto-exa-
me honesto baseado nas Escrituras. Eu nao
falei em introspecgao neurotica e nao bibli-
ca. Creio que o nosso medo de um auto-exa-
me obsessivo, manteve muitos de nés de cir-
culos reformados afastados de um auto exa-
me biblico honesto. O que eu quero dizer comAs Implicages Praticas do Calvinismo
ALN, Martin
27
auto exame biblico é uma obediéncia simples
atais passagens como 2 Cor. 13.5: “Examinai-
vos a v6s mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vés mesmos. Ou nao reconheceis
que Jesus Cristo esta em vos? Se nado é que ja
estais reprovados”. Obediéncia a exortacao de
II Pedro 1.10: “Procurai com diligéncia cada
vez maior, confirmar a vossa vocagéo e elei-
¢do; porquanto, procedendo assim, nado
trope¢areis em tempo algum”. Outras passa-
gens semelhantes podem ser encontradas
pelo Novo Testamento afora — “N&o vos
enganeis; néo vos deixeis enganar; nfo se
enganem”. Eu falo da pratica dessa obriga-
Gao biblica.
Fica é6bvio, portanto, como isso se en-
caixa na implicagao do conceito calvinista de
Salvagao. Visto que as Escrituras declaram que
todos aqueles que sao verdadeiramente salvos
sao feitura de Deus (Ef. 2;10), entéo a pergun-
ta que eu tenho de fazer é: “Sera que eu fui o
sujeito desta feitura?” A pergunta nao diz res-
peito 4 sinceridade da minha decisao, ou da
minha resolugao, ou seja 14 o que for que eu
queira chamé-la. A pergunta nao é: “O que é
que eu fiz com relagao a Cristo e a Sua salva-
¢4o?” A pergunta essencial 6 a seguinte: “Fez
Deus algo em mim?” A interrogagao no deve
ser, “Eu aceitei a Cristo?”, mas sim, “Cristo
aceitou-me?”. A questio nao é, “Encontrei ao
Senhor?”; mas antes, “Ele me achou?”28 Racer da Reiibo Salvadora
Um velho presbitero costumava fazer
duas perguntas aqueles que almejavam ser
admitidos 4 Santa Ceia do Senhor, ou ao rol
de membros da igreja. Primeiro: “O que fez
Cristo por vocé?” Ele queria ver se eles en-
tendiam a base objetiva sobre a qual Deus
recebe pecadores. Ele queria ver se eles ha-
viam entendido que os homens sao aceitos
perante Deus com base na obra de Jesus Cris-
to e mais nada. E, se ficasse claro para ele
que eles nao pensavam de nenhuma forma
diferente, que eram aceitos por suas virtu-
des, pelo seu arrependimento, suas lagrimas,
suas obras, porém somente com base nos mé-
ritos de Cristo, entao ele lhes fazia a segun-
da pergunta: “O que é que Cristo operou em
vocé?” Vocé sabe o que Ele fez por vocé,
agora a minha pergunta é, o que Ele operou
em vocé? Ele fazia esta pergunta porque en-
tendia a existéncia da terrivel possibilidade
de uma pessoa poder ter uma compreenséo
intelectual do que Cristo fez pelos pecado-
res, e ainda assim ser totalmente estranho a
obra poderosa que Ele realizou nos pecado-
res.
Eu gostaria de propor algumas pergun-
tas para que cada um avalie sua propria cons-
ciéncia. Primeiro: “Vocé foi trazido ao ponto
de enxergar sua propria corrupgao no peca-
do, de modo que as primeiras duas bem-
aventurangas so verdade para vocé?” AsAs Implicagées Praticas do Calvinismo
ALN. Martin
29
Unicas pessoas no mundo que sao verdadei-
ramente abengoadas sao aquelas que foram
trabalhadas pelo Espirito, de forma que es-
sas proposigdes nao lhe sao mais estranhas:
“Bem-aventurados sao os pobres de espirito,
pois deles é 0 reino dos céus. Bem-aventura-
dos os que choram, pois serao consolados”.
Como é que Deus faz as pessoas serem ver-
dadeiramente bem-aventuradas, verdadeira-
mente felizes? Em primeiro lugar, Ele faz com
que elas sintam tristeza ao terem um senso
de seu préprio empobrecimento num estado
de pecado. O que é pobreza de espirito? Se-
ria algum tipo de tentativa pseudo-pietista de
convencer a mim mesmo que eu sou um ver-
me miserdvel e um trapo? De jeito nenhum!
Pobreza de espirito é o resultado de apenas
se ter tido um vislumbre daquilo que vocé
realmente é, e ver que vocé nao é nada e nao
tem nada e nao pode fazer nada, sé isso pode
recomendé-lo 4 graga e ao poder salvador
de Deus; é 0 resultado da convicgao de que
Ele poderia fazer de vocé um monumento
eterno da Sua ira justa, e deixar vocé pere-
cer no fogo eterno. Vocé foi trazido a um
conhecimento experimental disso? Se nao
foi, eu duvido que vocé afirme ser Cristo o
seu Salvador, pois Ele disse que nao veio
para chamar o justo, mas sim pecadores ao
arrependimento. Os pobres de espirito fo-
ram feitos conscientes de sua depravagao e
pecado.30
0 Poder da Religiao Salvadora
ALN. Martin
E possivel ter a doutrina da deprava-
¢ao total como um conceito teolégico, e con-
tinuar sendo tao mau, orgulhoso e auto-justi-
ficado quanto o diabo. Vocé ja experimentou
um despojamento interior que 0 levou a po-
breza de espirito? Foi levado a um lamento
santo? A um reconhecimento de que o seu
pecado é contra o Deus soberano? Vocé ja foi
trazido ao ponto em que vocé odeia tanto o
seu pecado a ponto de largé-lo e juntar-se a
Cristo? Um antigo escritor colocou essa ques-
téo de uma forma muito bela: “Quando 0 es-
Pirito Santo inicia o acorde da graga na vida
de um homem, ele sempre inicia aquele acor-
de na nota mais baixa.” Ele comega com a
nota mais baixa da convicgao, a revelagao da
nossa necessidade do Salvador. Sera que eu
ja enxerguei que, a menos que Ele inicie a
obra, ela jamais sera feita?
A proxima pergunta que eu faria 6 a
seguinte: “Eu dou evidéncia do fruto da Sua
obra?” E qual seria a evidéncia positiva e ine-
gavel de que Deus tem trabalhado em mim?
Eu diria sem medo algum de contradigao, a
luz das Santas Escrituras, que essa evidéncia
é santidade biblica. O que conhecemos como
os Cinco Pontos do Calvinismo estao revesti-
dos de uma forma negativa e podem ser en-
ganosos de uma certa maneira. No entanto,
nos nao podemos mudar o curso da histéria,
e assim os Cinco Pontos do Calvinismo che-As Implicages Praticas do Calvinismo
AN. Martin
3
garam a nds e temos que aprender. a convi-
ver com eles. Tome como exemplo os quatro
ltimos pontos — eleigao incondicional, ex-
piagao limitada, chamada eficaz de Deus e a
perseveranga dos santos, de todos aqueles que
Ele chamou para se unirem ao Seu Filho: Qual
éo0 ponto focal de todos eles? Em ultima ana-
lise, o ponto focal de todos eles, evidentemen-
te, 6 a demonstragao da gléria de Deus, da
graga de Deus sobre a qual lemos em
Efésios 1; mas olhando o foco imediato, como
é que essa gléria 6 demonstrada? Por quais
meios? Quando Deus toma criaturas total-
mente depravadas e faz delas homens e mu-
lheres santas em cujas pessoas se pode ver a
exata semelhanga do Filho de Deus, qual é 0
alvo da eleig&éo? Efésios 1:4 nos diz:
“assim como nos escolheu, nele, antes da fun-
dagGo do mundo, para sermos santos ¢ irrepre-
ensiveis perante ele”.
Ele nos elegeu para que nos gloridsse-
mos em nossa eleigéo? Nao! Antes “... deve-
mos ser santos e irrepreensiveis perante Ele”.
E uma eleigdo para santidade! Qual é 0 alvo
da obra redentora de Cristo? Ouga 0 testemu-
nho de Tito 2:14: “o qual a si mesmo se deu
pornos, a fim de remir-nos de toda iniquidade
e purificar para si mesmo, um povo exclusi-
vamente seu, zeloso de boas obras”. Ele mor-
reu para ter um povo santo “zeloso de boas
obras”.32 Ponda Reto Saladora
Isso também ocorre com a chamada
eficaz de Deus, “Fiel 6 Deus, pelo qual fostes
chamados a comunhdo de Seu Filho Jesus
Cristo, nosso Senhor’” (I Cor. 1:9). “Chamados
a uma vida de compartilhar uma comunhao
viva e real com Cristo!” “Porquanto Deus nado
nos chamou para impureza e sim para
santificagao” (I Tess.4.7).
E ainda hd a preservagao e perseveran-
ca dos santos. E uma perseveranga nos cami-
nhos da santidade e obediéncia, pois as Es-
crituras dizem: “Segui a paz com todos e a
santificagdo, sem a qual ninguém verd o Se-
nhor” (Heb.12.14). “Se vés permanecerdes na
minha palavra, sois verdadeiramente meus
discfpulos; e conhecereis a verdade, e a ver-
dade vos libertaré” (Joao 8:31,32). Assim,
onde quer que toquemos qualquer parte da
estrutura da soteriologia calvinista, tocamos
na veia viva do propésito de Deus de ter um
povo santo.
Predestinados para qual fim? “Por-
quanto aos que de antemdo conheceu, tam-
bém os predestinou para serem conformes a
imagem de seu filho” (Romanos 8:29). Se é
assim, entao eu tenho que fazer uma pergun-
ta sobre mim mesmo: 0 propésito eletivo de
Deus esté sendo realizado em mim? Ele me
escolheu em Cristo a fim de que, tendo sido
comprado no tempo e chamado no tempo,As Implicagdes Praticas do Calvinismo
AN. Martin
3
possa comegar a ser santo no tempo, e ter esta
obra aperfeigoada na eternidade. A tinica cer-
teza que eu tenho de que fui comprado para
ser santo, e serei aperfeigoado em santidade,
é que eu esteja buscando a santidade, e a es-
teja buscando aqui e agora. Em esséncia, san-
tidade é conformidade 4 vontade revelada de
Deus em pensamento, palavra e agao, pelo
poder do Espirito Santo e através da uniao
com Jesus Cristo. Santidade, piedade, estas
sdo as evidéncias de que o Seu propésito
eletivo veio a existir e a frutificar e se expres-
sa na obediéncia. E por isso que Jodo pode
dizer em I Joao 2:5: “Aquele, entretanto, que
guarda a Sua Palavra, nele, verdadeiramente
tem sido aperfeigoado o amor de Deus”. O
proposito para o qual as pessoas foram de-
signadas é preenchido naquelas que guardam
a Palavra de Deus. Existe clara evidéncia de
que estou experimentando comunhao com Je-
sus Cristo através da Sua Palavra? Porque Ele
me chamou a comunhao com Ele, e se eu fui
chamado eficazmente ent&o ja nao sou estra-
nho a um conhecimento experimental do
Senhor.
Eu confesso que estou sendo preser-
vado pelo poder mantenedor de Deus? En-
tao a Sua preservagao deve transparecer na
minha perseveranga. E a tinica prova que
eu tenho de que ele me preserva e que por
Sua graga eu sou capacitado a perseverar.34 | panera Religido Salvadora
Esta 6 a implicagao pratica da sote-
riologia calvinista. Ela coloca perguntas tais
que me trazem ao contexto inteiro de um
honesto auto-exame baseado na Palavra. John
Bunyan nao poderia estar mais certo quando
escreveu aquela parte na sua obra imortal, O
Peregrino, onde descreve como Cristdo e Fiel
entram em contato com um homem chama-
do Tagarela (Loquaz).” Eu fago um apelo in-
tenso para que leiam cuidadosamente aque-
le didlogo. Ele mostra 0 reconhecimento que
Bunyan possuia sobre a existéncia da con-
vicgao intelectual de que somente Deus pode
salvar pecadores, e que a salvagao 6 uma obra
em que Deus salva pecadores, mas a questao
real é a seguinte: Sera que houve uma aplica-
cdo experimental dessa verdade, com poder,
ao meu proprio coragaéo e 4 minha propria
vida?
Ha mais ou menos um ano, um jovem
formando de um Seminario veio conversar
comigo sobre algumas questdes que 0 esta-
vam perturbando a respeito do meu préprio
ministério. Ele me fez a seguinte pergunta:
“Sr. Martin, eu quero lhe fazer uma pergunta
simples. O Sr. cré que tem um chamado para
viajar ao redor do pais transtornando as pes-
soas?” Eu respondi: “O meu chamado nao é
para sair pelo pais afora transtornando as
pessoas, todavia eu sou chamado a declarar
todo conselho de Deus; um aspecto a ser con-As Implicacées Praticas do Calvinismo
AN, Martin
siderado é o principio de que nao é impossi-
vel ter forma de piedade no uso das palavras
corretas e ainda assim se estar perdido e ar-
ruinado e ser um estranho 4 graga; pois a Es-
critura diz: ‘Porque o reino de Deus nao con-
siste de palavras, mas de poder’. Paulo disse:
‘O nosso Evangelho nao foi pregado em pala-
vra somente, mas em poder e no Espirito San-
to e com muita ousadia’. Enquanto Mateus
7:21-23 estiver nas Sagradas Escrituras, e
enquanto eu tiver voz, eu continuarei a pro-
clamar aos ministros e aos ministros em po-
tencial, e a cristaos professos que muitos di-
rao naquele dia ‘Senhor, Senhor’, aos quais
Cristo dird, ‘Apartai-vos de mim. Nunca vos
conheci’”.
Eu jamais vou querer ser um instru-
mento inconsciente do diabo a fim de
desestabilizar a f6 de um verdadeiro filho de
Deus, que pode ser como os seguintes perso-
nagens de Bunyan: o Sr. Pronto a Parar, o Sr.
Timidez, ou o Sr. Consciéncia Fraca —- homens
que tém problemas com a certeza da salva-
cdo e que esto em duvida e tém falhado. Eu
jamais gostaria de ser um acusador de irmaéos,
para destruir ou ferir a f6 de um verdadeiro
cristéo. Mas eu também nao seria um cachor-
ro mudo, que se cala sobre a questéo de que
nao basta se ter herdado uma forma de dou-
trina, seja ela calvinista ou arminiana. A ques-
tao é a seguinte: Se a salvagao vem do Se-
3936 0 Poder da Religido Salvadora
AN. Martin
nhor, sera que Ele comegou uma obra em
mim? Eu afirmo que estas doutrinas aplica-
das ao coragao levarao a um auto-exame bi-
blico, honesto.
II
Em segundo lugar, estas doutrinas le-
varao a busca sadia e biblica da santidade
prdatica. Quero colocar, rapidamente, trés coi-
sas:
1) A vigilancia santa e desconfianga do
Eu. Sera que eu realmente creio que por na-
tureza sou tao perdido, que Deus 6 quem tem
que iniciar a obra, e que os residuos de
corrupgéo em mim, mesmo depois de ter sido
regenerado e unido a Jesus Cristo, sao tao
grandes, que se Deus retirasse a Sua mao de
sobre mim, por um momento sequer, esses
residuos me levariam de volta a toda sorte de
impiedade possivel a um ser humano? Se eu
acreditar nessa realidade, ela me levaré a uma
vigilancia santa e a um descrédito saudavel
de minha prépria pessoa. Se eu reconhecer
que a corrupc¢do que ainda resta dentro em
mim é como um isqueiro seco e que cada ten-
tagao 6 como um fluido que pode provocar
um incéndio, eu nao devo me atrever a brin-
car com o pecado. Se a minha origem é um
fundamentalismo estreito com sua “listinha”As Implicagdes Praticas do Calvinismo
AN. Martin
37
de regras morais para serem cumpridas, e eu
descubro a verdade gloriosa da liberdade em
Cristo, eu nao usarei da minha liberdade
como uma oportunidade para a licenciosida-
de. Eu vou reconhecer que sou livre em Jesus
Cristo, e ainda assim vou reconhecer que te-
nho este potencial terrivel de impiedade den-
tro em mim, e tanto vigiarei como orarei.
2) A Vida de oragdo consistente. A sal-
vagao é obra do Senhor do principio ao fim?
Entao Ele tem que ajudar, e prestar ajuda
aqueles que clamarem pelo Seu nome. Ele
tem que operar em mim o querer e 0 realizar
da Sua boa vontade, e eu tenho que pedir a
Ele que o faga. A Palavra mostra a bela fusao
dessas duas coisas: a promessa da alianga de
Deus de fazer poderosamente algo soberano
e juntamente com o Seu mandamento ao Seu
povo de pedir-Lhe exatamente por aquilo que
Ele prometeu fazer. Em Ezequiel 36, a exten-
sa afirmagao das béngaéos da Nova Alianga,
Deus faz grandes assertivas (vide versiculos
25 a 36) e ainda assim no versiculo 37 nés
lemos: “Assim diz o Senhor Deus: Ainda nisto
permitirei que seja eu solicitado pela casa de
Israel: que lhe multiplique eu os homens como
um rebanho”. “Eu o farei”. “Seja eu solicita-
do”. Na ordem moral da graga, Deus desper-
ta nos coragdes daqueles a quem lhe aprouver,
o desejo de ter as béngaos que Ele se compro-
mete em dispensar poderosa e soberanamen-38 Poder da Religiéo Salvadora
AN. Martin
te. Matthew Henry diz na sua maneira sim-
ples, familiar e gentil: “Quando Deus se dig-
na a abengoar o Seu povo, Ele os pée para
orar pela béngao que deseja lhes conceder”.
E entao, se eu creio na confissdo de que Deus
salva pecadores, Ele nao apenas os regenera
trazendo-os ao arrependimento e fé, mas Ele
os preserva e por fim os traz a Sua presenga
—- se isso 6 obra dEle entao ela vai produzir
uma vida de oragao consistente, nao somente
uma vigilancia santa e uma desconfianga de
si mesmo, mas um constante voltar-se a Ele,
de que Ele vai operar em mim aquilo que
Ele mesmo prometeu. Pois o que é oragao
em ultima andlise? E um derramar consci-
ente do meu desamparo perante Deus. O ver-
dadeiro calvinista 6 o homem que confessa
com os seus labios que a graga nao sé tem
de desperté-lo, regeneré-lo, mas também tem
de preserva-lo, e ele conclui sua confissao
com amém quando de joelhos ele clama:
“Nao me deixes cair em tentag4o, mas livra-
me do mal. Eu nem ao menos posso ganhar
o meu pao do dia de hoje, Senhor, a menos
que Tu sustentes a minha vida e abengoes o
trabalho de minhas m4os: O pao nosso de
cada dia dai-nos hoje”. A doutrina da con-
fissao de que “Deus salva pecadores” pro-
duzird no coragéo do verdadeiro cristéo a
busca sa e biblica da santidade, vigilancia
santa, vida de oragdo consistente e, em ter-
ceiro lugar:As Implicagdes Praticas do Calvinismo.
ALN. Martin
39
3) A dependéncia confiante em Deus,
que iré cumprir todo o Seu propésito. Quan-
do eu peco, sou abandonado? Nao! A palavra
de Deus diz: “porque sete vezes caird o justo
e se levantard; mas os perversos sGo derruba-
dos pela calamidade” (Prov.24:16). E assim
eu venho reconhecendo que a minha obedi-
éncia nAo se trata da base para minha justifi-
cagao e nem do fundamento para minha apro-
ximagao de Deus como pecador que foi man-
chado pelo pecado, e assim eu corro nova-
mente para o Mediador da Nova Alianga.
Pedro coloca a questao de recorrer ao Senhor
no tempo presente, “A quem vimos (verbo
“vir”, no presente) ...” endo “a quem viemos”.
Freqiientemente hoje em dia nés ouvimos
dizer que “alguém veio a Cristo”. O Cristao é
alguém que esta sempre vindo. Nés lemos em
Hebreus 12.18: “Ora ndo tendes chegado...”,
e entao ele descreve um pouco dos arredores
fisicos que temos na Velha Alianga; mas diz,
“Mas tendes chegado...” (v.22) e menciona
todas as béngaos da Nova Alianga, e uma
delas é a seguinte: “Mas tendes chegado...e a
Jesus o Mediador da Nova Alianga” (v. 24).
“,.se alguém pecar, temos (tempo presente)
um advogado junto ao Pai, Jesus Cristo o Jus-
to” (IJo 2:1).
Nao é exatamente por isso que um cris-
tao verdadeiro nao se acovarda diante da ex-
posigao do seu pecado? Cada exposigéo ao49 0 Poder da Religiio Salvadora
AN. Martin
pecado na vida de um cristao verdadeiro o
leva de novo ao Salvador, e qualquer coisa
que o leve de novo ao seu Salvador faz com
que o Salvador seja mais precioso. Quando é
que o perfume na sua vida é mais intenso se
nao quando a sensagao do beijo do perdao
esta mais recente no seu rosto? O mesmo pe-
cado sentido e lamentado e que leva as lagri-
mas, leva o cristéo mais uma vez ao Media-
dor da Nova Alianga que tudo sabia a respei-
to das suas falhas quando o chamou, e na sua
graga e misericérdia, como Sumo Sacerdote
sofredor, para sempre advoga os méritos do
Seu sangue diante do Pai. Assim sendo, exis-
te uma dependéncia confiante de Deus; cer-
teza de que Ele ha de cumprir todos os Seus
propésitos. Quando eu sou fraco eu preciso
me lembrar que Ele intercede por mim. Ele
disse a Pedro, “Simdo, Simao, eis que Sata-
nds vos reclamou para vos peneirar como tri-
go! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé
ndéo desfalega” (Lc 22:31,32). Mesmo quando
Pedro negou a Jesus, a fé dele nao foi posta
de lado. Porque a obra que a bondade do Se-
nhor iniciou, o Seu brago poderoso ha de
completar. Ele ha de leva-la adiante até o dia
de Jesus Cristo (Fl 1:6).
Quando alguém diz que é um calvi-
nista, confessando o credo soteriolégico de
que Deus salva pecadores, sem esta vigilan-
cia santa, sem vida de oragdo em alguma me-As Implicagdes Praticas do Calvinismo
AN. Martin
41
dida, e sem uma dependéncia confiante de
Deus em Cristo para cumprir tudo 0 que Ele,
pela graga, prometeu, temos, nada mais nada
menos do que uma contradicdo de termos.
Um dos grandes clamores que se levanta hoje,
e que de certa forma tem justificativa, 6 que
as pessoas — e especialmente os jovens —
que se apegam ao calvinismo e que parecem
ver o calvinismo como um sistema filos6fico
irrefutavel, acabam se tornando orgulhosos.
Eles voltam as suas escolas seculares e em
dez minutos atiram contra as posigdes dos
seus Professores de Filosofia. Eles se tornam
orgulhosos e enamorados da nova posigao.
Isso, entretanto, 6 uma caricatura, nao é o
calvinismo real.
Qual é 0 efeito pratico e pessoal expe-
timentado por alguém que confessa o
calvinismo? Se essa pessoa vir a Deus, isso a
quebrantara, e se ela entender que Deus sal-
va pecadores, isso fara dela uma pessoa de
oragao, vigilante, que busca a santidade pra-
tica. FE isso o que essas doutrinas tém feito a
vocé, exatamente onde vocé se encontra ago-
ra? Alguns, talvez, para os quais estas idéias
sdo novidade, sentiram medo e disseram
“esse pensamento sé vai levar a uma vida es-
piritual infrutifera e estéril”. Nao é assim! Por-
que estas sao verdades da Palavra de Deus;
eu estou convencido de.que sao. Em sua to-
talidade, elas sao a verdade que esta de acor-42|
O Poder da Religiéo Salvadora
AN. Martin
do com a piedade; a verdade que nos santifi-
ca em resposta 4 oragao do nosso grande
Sumo Sacerdote. Que Deus conceda que a
verdade tenha esse efeito, na sua pessoa e na
minha!NOTAS:
' Calvin as a Theologian and Calvinism Today.
? Pilgrim’s Progress, pp 81-95, Banner of Truth Trust.As Implicagoes
_Praticas do
-Calvinismo
Oqueé Calvinism € que sdifercnica pode fuer
na forma de vivermos a vida crista? Albert N.
Martin responde queo verdadeiro Calvinismo
envolve a percepcao da majestade de Deus. ne
Neste convincente livreto o autor ave
como Isaias, ao encontrar-se com Deus como
o Rei entronizado, teve uma nova compre-_
ensdo da sua. prépria pecaminosidade e da_
profundeza do perdao de Deus. O resultado.
disso é que, ante avassaladora soberania do
seu santo Salvador, Isaias peepee
irrestritamente a vida, :
-: Da mesma: forma, escreve 0 atie 0 Calvi-
nismo nao é ter lido, ou nao, um livro de
Kuyper ou Warfield, mas enyolve examinar a
si mesmo, nao confiar em si mesmo, praticar a
santidade ¢ depender, em oragao, do Senhor..
"As Implicagdex Préticas da Calvinismo" &
muito mais que um apelo em favor do
Calvinismo; é, com efeito, um apaixonado
clamor em prol do cristianismo auténtico.
EDITORA
OS PURTIANOS,
26 Direiros Humanos À Bordas Do Abismo, Interlocuções Entre Direito, Filosofia e Artes - Marcus Vinícius Xavier de Oliveira, Leno Francisco Danner, Vitor Cei, Julie Dorrico e Fernando Danner