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Histé6rico-CULTURAL DO Novo TESTAMENTO Lawrence O. Richards a 7 f el Historico-CuLTuRAL Do Novo TESTAMENTO Perri Ta eee a et see ce Se eran rE en eee ee Em 77 capitulos, Dr. Larry Richards percorre odo 0 Novo Testamento ajudando 0 leitor a ver as Escrituras com os olhos do primeiro século, Cada capitulo contém: ee een fio das Escrituras. do do vocibulo — termos-chave encontrados na passagem, € porque eles foram signi- etree Seed a Creer er Oem ROR Ore mor Mme Ce une Rmron OC Omi main) is para desvendar eer ea) Cee ee Lea Cultural do Novo Testamento tornecerd uma profusio de informagies— para seu prdprio entiquecimento, ¢ para benteficio daqueles que perguntam: Na tae tem eno Pena eee ence nan Dallas Theological Seminary, ¢ dontor pelo Garrett Biblival Se Facreveu cerca de 200 livros, incluindo textos de educagio crista, obras teols pee) Ser Reese Re eeeo ts Perera ene ie cs rer er ee ene nae a e pel on ae ce comentirios, Lamba Pee rues Lambém atuou come colaborador ¢ editor geral de numierosay outras obras. en ce Jangou dezenas de livros devocionais ¢ edi COMENTARIO HistOrico-CuLTURAL Do Novo TESTAMENTO 3! Edicio Rio de Janeiro 2008 Lawrence O. Richards “Tadas os direitos reservados. Copyright © 2007 para a lingua portuguesa da Casa Publicadora das Assemblélas de Devs. Aprovada pelo Conselho de Doutrina, Titulo do origiual erm inglés: New Testament Life Times Cook Communications. Colorado Springs. CO, EUA Primeiraedigio em inglés: 1994 “Fraduyao: egmar Ribas Jenior Preparacio dos originals: Miriam Anna Liborio Revisias César Moisés Carvalho Capa, Adapragio do projet grifico ¢ editoragéo: Alexandre Soares CDP: 220 - Comentitio Biblico ISBN: 978-85-263-0874.9 1s foram extrafdas da versio Almeida Revista e Corrigida, edicio de 1995, da Sociedade Biblica do Brasil, As citagbes bil salvo indicagso Para maiores informagées sobre livros, revistas, periédicos ¢ os tiltimes langamentos da CPAD, visite nosso site: hisp-flvwwepad.com.br SAC— Servigo de Arendimento ao Cliente: 0800-21-7373 Casa Publivadova dus Assembléias de Deus Caixa Poseal 331 2001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil 38 edigao/2008 Introdugao MATEUS 1-2 MATEUS 3-4 MATEUS 5 MATEUS 6-7 MATEUS 8-11 MATEUS 12-15 MATEUS 16-17 MATEUS 18-20 MATEUS 21-23 MATEUS 24-25 MATEUS 26-27 MATEUS 28 MARCOS 1-5 MARCOS 6.1-8.30 MARCOS 8.31-10.52 MARCOS 11-13 MARCOS 14-16 LUCAS 1.1-3.22 LUCAS 3.23-4.44 LUCAS 5.1-7.17 LUCAS 7.18-10.24 LUCAS 10.25-12.3 LUCAS 12.4-16.31 LUCAS 17.1-19.44 LUCAS 19.45-24.53 JOAO L.1-18 O Nascimento de Jesus A Preparagio de Jesus ‘As Bem-Aventuranga O Bitilo de Vide do Reino A Autoridade do Rei A Oposigiio Crescente O Momento Decisivo O Caminho para a Grandeza Confroncagiio O Futuro do Reino O Julgamento ¢ a Morte de Jesus Vivo, para sempre O Auténtico Slvador Os Conflites de Jesus Ensinando seus Discipulos A Ultima Semana Morte ¢ Ressurveigao de Jesus O Renascimento da Experanca Vencendo a Tentagio A escotha E Tempo de Decisioo Desvios Expiritnais Musies de Vide Crt Somente O Prego A Divindade de Jesus Sumario 105 112 119 126 133 140 148 157 161 169 V7 185 192 JOAO 1.19-4.42 JOAO 4.43-6.71 JOAO 7-9 JOAO 10-12 JOAO 13.1-15.17 JOAO 15.18-17.26 JOAO 18-21 ATOS 1-4 ATOS 5.1-11.18 ATOS 11,19-15.35 ATOS 15.36-19.41 ATOS 20-28 ROMANOS 1-3 ROMANOS 4-6 ROMANOS 7-8 ROMANOS 9-11 ROMANOS 12-16 1 CORINTIOS 1-4 1 CORINTIOS 5-6 1 CORINTIOS 8-10 1 CORINTIOS 12-14 1 CORINTIOS 7, 11, 14 LCORINTIOS 15-16 2 CORINTIOS 1-3 2 CORINTIOS 4-7 2 CORINTIOS 8-9 2 CORINLIUS (0-13 GALATAS 1-2 GALATAS 3-4 GALATAS 5-6 ERESIOS 1-2 EKESIOS 3-4 EFESIOS 5 6 FILIPENSES COLOSSENSES 1-2 COLOSSENSES 3-4 O Novo Chegow O Poder do Novo Luz e trevas A Excolba As Ultimas Palavras de Jesus As Ultimas Palavras de Jesus (Continuagio) Graca e Gloria Comega a Aventura A Pxpansiin A Era da Evangelizagito A leveja Genatlica A Prisio de Paulo A Busca dee Justiga A Justificacti pela Fé Justiga Agora Justos na Histéria? Una Tgreja Justa e Amorosa Uma Paria Unidee - A Igrejut A Disciplina da Familia da lereje Controvérsias na Comunidade da lereja Dons Expirituais da Comunidade da igreja As Mulberes na Comunidade da lerga Ressurveigio: Essa Familia é Eterna O Homem Inadequado O Ministério da Reconciliagiio Os Prineipios da Caridade do Novo Testamento A Autoridade Espiritual O Bvangello As Boas Novas da Fé As Boas Novas da Liberdade Um Povo Uma Familia, Um Corpo Aguele que Ama Chamados Para a Alegria Uma Nova Humanidade Uma Nova Vida Para Viver 197 206 214 221 228 235 243 251 258 265 273 281 287 295 302 309 316 324 331 338 345 353 360 366 373 381 395 402 409 415 423 429 436 442 449 1 TESSALONICENSES 2. TESSALONICENSES 1 TIMOTFO 2TIMOTEO TITO FILEMOM HEBREUS 1.1-4.13 HEBREUS 4.14-8.13 HEBREUS 9-13 TIAGO 1 PEDRO. 2 PEDRO e JUDAS 1,2e3JOAO APOCALIPSE 1-20 APOCALIPSE 21-22 A Palavia: Ouvida e Vivida O Diu dle Grisw A Vida ea Videranga na Igreja Um Obhar & Frente Ensinando para ter Resultados Um Bithete para um Gompanheiro de Trabalho Jesus, a Palavra Viva Jesus, o Nosso Sumo Sacerdote Jesus, a Nossa Santificagao A Vida Pela Fé Submnissio e Softimento Perigo! Perigo! Andando com Deus O Apocalipse A Nova Jerusalém 454 461 467 474 481 485 490 497 504 SH 519 526 533 540 546 MATEUS 1-2 O Nascimento de Jesus EXPOSIGAO Mareus tem uma historia para contar. E a histéria de Jesus, uma historia que nao comeca com “Era uma vez...” mas com “Agora, por fim...” Esta compreensao é chave para o entendimento da estrutura do Evangelho de Mateus ¢ chave para o significado destes dois primeiros capitulos da sua obra. Mateus, que tinha sido um desprezado coleror de imposwws, as ainda assim um judeu, escreve para mostrar ao scu proprio povo que Jesus de Nazaré verdadeiramente era o Mesias prometido pelos proferas do ‘Antigo Testamento. Mateus também escreve para responder a uma pergunta que deve ter queimado 0 coragio de todos os judeus do século I: se Jesus era o Messias, 0 que aconteceu com 0 reino glotioso profetizado nas Escrituras? A resposta, como também a evidéncia da racteristica messianica de Jesus, ¢ revelada gradualmente 4 medida que Mateus conta sua histéria. Mas desde o inicio Mateus entende 0 que ele deve fazer para atingir a comunidade judaica, De modo que cle olha para trds c, ao comegar, cnrafra a sua narraciva na gloriosa histéria do antigo ¢ amado povo de Deus. Mateus comega com uma resposta a primeira pergunta que qualquer judeu normal, bem como um rabino, faria. Que bases existem para defender a reivindicagao da natureza messianica de Jesus? A primeira evidéncia que Mateus apresenta é a genealogia de Jesus: Jesus € descen- dente de Abrada e descendente de Davi (1.1-17). A seguir, Mateus conta a histéria da concep- do de Jesus, combinando diversas linhas adicionais de evidéncias (1.18-25): 0 nascimento de Cristo foi miraculoso, o cumprimento de uma profecia feita 700 anos antes por Isafas. E seu nascimento foi anunciado pelo Anjo do Senhor, uma manifestagio divina do envolvimento pessoal de Yahweh (Jeovi) nos eventos que ocorreram com pouca freqiiéncia na histéria de Israel (cf. Gn 16.7-14; 22.9-18; Ex 3.14.17). O peso total do pasado, desta maneira, confir- ma o direito de Jesus ao trono de Davi, ¢ uma aura sobrenatural brilha ao redor de seu nase! mento. Isto realmente é uma evidéncial Mas ainda hd mais. Magos do oriente viram e reconheceram um sinal sobrenatural nos céus, ¢ vieram procurando o “Rei dos judeus” (2.1-12). Aqui, mais uma vez, elementos misticos si mesclados & histéria, juntamente com referencias & profecia do Antigo Testamento. Surpreen- dentemente, o contexto de cada profecia mencionada neste capitulo enifatiza a missio 0 destino reais do Messias (cf. 2.2 com Jeremias 23.5; 2.6 com Miqueias 5.2; 2.23 com Oséias 11.1). Uma vez mais, uma combinagdo de profecia com o misterioso cria uma aura sobrenatural e fundamen tao argumento de Mateus de que desde o inicio Jesus foi marcado como sendo especial, identi- ficado por Deus como Aquele escolhido para ser 0 seu Mesias. 9 Comentivio Hicthrieo Culsural da Novo Tastamenta A medida que Mateus prossegue, ele responde a ourras perguntas que cerramente sero feitas por lideres judeus. Se Jesus era o herdeiro de Davi, nascido em Belém. por que Ele nao foi criado ali? A resposta sid uo fate de que a fandlia fagin para o Bgito, para escapar & inveja assassina de Herodes (2.13-18) — e ao fazer isto, cumpriu a Palavra de Deus: “Do Egito chamei o meu Filho” (2.15). E, quando a familia retornou, Deus orientou José para que se estabelecesse em Nazaré (2.19-23) ~ ¢, fazendo isso, cumpriu outra palavra de Deus: “Ble serd chamado Nazareno” (2.23). Desta maneira, Deus deisa sua propria marca nestes acontecimentos, orientando a familia de Jesus a realizar aros que cumpritam profecias ¢ cujo significado somente foi revelado posteriormente. Assim, Mateus estabelece a base do seu argumento. A histéria que ele vai contar sobre Jesus nao éahisusria de um omen comun, nem mesmo de uin rabine judeu excepcional. Ea histéria do Messias de Istacl, que também ¢ 0 Filho de Deus, que se tornou 0 Salvador do mundo. ESTUDO DA PALAVRA Livro dat geragaa de Jesus Cristo, Filho de Davis Iho de Abraao (1.1). lim grego. biblos geneseos signi flea “registro das origens”. Esta expresso grega ¢ usada na Septuaginta, uma tradugio grega da Antigo Tes- tamento, em Genesis 6.9¢ 10.1: 1140 @ 11.27. (A. versio NIV apresenta “Este & 0 registco”.) No Anci- go lestamenco. a expreisio freqiientemente indica Uma nova reviravolta no plano de Deus, um novo comego. De modo que Marcus nos alerta: O nasci- mento de Jesus assinalz um novo comeso, nao ape- nas pata Istacl, mas para a toda raga humana! Joxé, marida de Maria, da qual nasceu Jesus (1.16). ‘Matcus propositadamente deixa de definis 0 relaciona- mento entre Jose ¢ Jesus, Legalmente, Jesus cra filo: de José, ¢ assim sua teivindicagio do ono de Davi solidamente estabelevida, Biologicameate, Jesus nasceu de Masia. Jost, como Mateus continua explicando, nfo Joi pai deste que seria © Messias, Jesus nao € somente Dau, o Filho, mas também o Filho de Deus. Gerou a (1.2 etc.). A palavra grega egennesen, tradzida como “grote” tits versOes mais anciggas ¢ ‘como “foi pai de” nas mais recentes néo indica pa- sntesco imediaco, may firma a descendéncia direra. Jesus estd firmemente colocado na linhager dos gran- des homens da hiscésia sagrada. Este éum lembrete importante para nds. Nds nao podemos separar 0 Novo Testamento do Antigo Testamento, o cumpri- mento da promessa, a era do Novo Concerto da era do Antigo Concerto, © Jesus que adoramos € aquele descendente de Davi que veio como o Messias de Isracl. Em Jesus, © Antigo ¢ 0 Novo, 0 Judeu eo tio, estio unidos de modo insepardvel. [veja quadro, pagina U1.) Catorze geracoes... (1.17). E. bastante conhecido o fato de quie as genealogias hebraicas nao incluem to- dos 08 antepassados, mas séo altamente seletivas por hatureza, Entio, por que Mateus seleciona e organiza sua genealogia em tés grupos de catorze? A melhor resposta é que ele utiliza um esquema rabinice farnili- ars chamado de gemamria, que constréi um argumento com o valor numérica das letras hebraicas que for- mam uma palavra. As letras do nome de Davi somam 14 (Dawid", D = 4, W = 6, D = 4), Assim, a organi- aagio de Mazeus pode perfeitamente refletir uma ma neira farniliar, na epoca, de sutilmente enfatizar a des- cendéncia de Jesus como cendo de Davi. José, sou marido, como cra justo ¢ a nfo queria infamar (1.19). Este texto nos proporciona uma com- pecnsio matavilhosa sobce o que significa see “justo” Idikaios]. De acordo com os costumes jucaicos, Ma- ria estava ligada a José come uma esposa, embora cles do tivessem tido rclagdes sexuais. O noivado sepre- sentava uma ligasdo legal, A descoberta de que Maria estava gravida dava a José uma base para romper 0 contiato de casamenco ¢ recuperar o prego que cle j& havia pago pela noiva. Muitos homens, ao descobrira oiva gedviea, vcriam exigido a eaposisao publica, ago apenas para clenciar qualquer mexericosobrete, mas cainbéin para ecupera o seu dinkeire. Eve fazer isso, tera eonsiderado esa plenamente jusiicado e, por. amo, justo} José, embora pudesse ter se semtide trate do, sinha Maria em alta consideragzo. e fer. uma esco- tha compleamente diferente, De acordo com a lei, dle poderia ter dado uma carta de divércio a Maria, sem nenhum julgamento publica, mas cambém teria que devolver qualquer dote que tivesse recebido, como mutta, José escolheu esta opgia, apesar do custo f- rnanceiro, além do emocional, Nao se deve confundir “aver a outra pessoa pagar” com justiga, Ao fazer 0 que & certo, devemios mostrar compaixao, mesmo para com aqueles que nos five mal. E the pords 0 nome de Jesus (1.21). E signiticativo que 0 anjo tenha dito isso a José, Era privilégio do pai dar o nome a um bebe, € ao dar o nome ao bebe 0 pai reconhecia formalmente o filho como sendo sets. Assim, o Anjo do Senhor estava instruindo José no somente a cumprie 0 contrato de casamento com Maria, mas também @ criar Jesus como sendo seu proprio filho, Sem diivida, os vizinhos de Nazaré 10 Mateus 1-2 nunca suspeitaram da verdade a respeito do aasci- mento de Jesus. Ele serd chamado pelo nome de Emanuel (1.23). O nome de Jesus, como diz o texto. significa “Deus conosco”. Aqui, “cle serd chamado” no significa tan- to chamar” maesimreconhecee’, Je afrmava que quem O visse teria visto Pai (Jo 14.9). Somente aque- les quie recnahecessem Jestis como [eus, nascido para estar conosco e por nds, teriam compreendido a ver- dade que Mareus rem a inruito de transmit Belém (2.6). A palaera significa “aca de pyin”. Nos compos da Biblia, “pao” significava “comida”, essen- cial para manter a vida biclégica. Came o “pan do eu", nascido nesta “casa de pao”, Jesus sustenta 2 vida espiricual exerna, Vimos a sua estecla 10 Oriente (2.7). A estrela ngo estava no oriente. Os magos estavam no ori- ente quando viram a estrela ¢, seguindo-a, viaja- ram para © oeste. Indagava deles onde 0 Cristo deveria nascer (2.4, versio RA). © tempo imperteito (epunthaneto) su- gore perguntas repetidas. Herodes estava frenético por saber onde este, que ele encarava como um rival, nas- ceria, ¢ atormentava quem pudesse saber. Fle sera chamado Nazareno (2.23). O versiculo € enigmético, porque nenhum versiculo prediz que 0 Messias erescerd em Nazaré. A referéncia pode ter 0 ‘objetiva de conectar o fato de que Nazaré era conten plada com desprezo no século I por ser um lugar atra~ sado (Jo 7.42.52) com as muitas profecias do Antigo Tesramento de que 0 Messias seria desprezado (Sl 22.6- 4: Is 49.7: $3.2,3). Sendo este 0 caso, certamente so- ‘mos lembrados de que lesus muda completamente 0 ponte de vista dos homens, Nazaré, ances desprezada. é hontada hoje como a terra da infincia do Salvador. PENSAMENTO JUDEU A RESPEITO DE JESUS Hoje em dia é normal que os estudiosos judeus argumentem que Jesiis asta no centro da tradigZo dos rabinos e sdbios do século I. Eles sugerem que os cristéos estao enganados sobre supostas diferencas entre os ensinos de Jesus e os erisinartenlos: de seus contemporaneos. Em uma carta a Bible Review (junho de 1991, p.9), um notavel estudioso judeu, Jacob Neusner, que é Professor Graduado de Investigagdes em Estudos Religiosos na Universidade do Sul da Fiérida, escreve: O que faz um cristdo é 0 fato de que ele ou ela acredita que Jesus é Cristo, unico, Deus, Filho de Deus, ressuscitado dos mortos. A estas crengas cristas profundas, 0 assunto: Jesus ensinava ou nao Isto ou aquilo que v judaismo também ensinava - é simplesmente e monumentalmente irrelevante... Isto nao quer dizer que nado possamos ser amigos, trabalhar juntos, respeitar e admirar 6 até mesmo amar-nos uns aos outros. Isto quer dizer que temos um problema teoldgico importante para resolver, uma vez que os dois — 0 judais- mo e 0 cristianismo — nao podem estar corretos, e se (como eu acredito) estivermos corretos, entdo os cristaéos estao errados, e se (como a maioria dos cristéos acredita) 0 cristianismo esta correto sobre Jesus Cristo, entao nos, judeus, eslamos errados. Caracterizar Jesus como um carismatico galileu nao é meramente infantil e trivial, mas acima de tudo ¢ irrelevante para aque- le que possui uma fé viva, tanto no cristianismo quanto no judaismo; e carac- terizar Jesus como um tipo de rabino, ou como um judeu entre judeus (como se nada tivesse acontecido depois da primeira Pascoa) é simplesmente uma tuga e uma irrelevancia. Mateus, que tao clararnente compreendeu este problema, deixa claro, desde o inicio do seu evangelho, que este é 0 problema que o seu proprio povo deve en- frentar. Quem é Jesus? E Cristo, Unico, Filho de Deus, ressuscitado dos mortos? A resposta de Mateus 6 um inequivoco e inconfundivel “Sim!” 1 Comentirio Histivico-Cultusal da Nova lestamento Abrindo 05 seus sesoniras (2.11). A expresso groga rhesaurous auton e se refere aos recipientes onde esta- ‘vam guardadas tais coisas waliosas. O Faro de que tres coisas valiosas sejam mencionacas levou & suposigio Injustificads de que havia “trés reis” ne gtupo que en- controu Jesus O TEXTO EM PROFUNDIDADE A genealogia (1.1-17). Vein a passagem correspon dente em Lucas 3,23-38 para um debate das dife- rentgas entre a8 dua listas genealégicas. As quatro mulheres da gencalogia (1.3.5.6). Uma das caractcristicas distintivas da genealogia de Mateus, é a inclusio especifica de quatro mulheres. A per- gunta critica é: Por qué? Contexts. A cultura hebraica era pactiarcal, ¢ as genealogias normalmente relacionavam, somente os amens, Na encanto, havia duas razées bisicas no oti- ente para incluie uma mulher ov duas. (1) A mulher era mute ad ida, ¢ sua inclusio ressaltava a repu- tugio da familia, (2) O marido inha mais de uma esposae, neste essa. nome da muther é basicamente mencionado com 0 nome do seu filho. Este costume é freqiicatemente seguida no Antigo Testamento quan- do se mencionam os reis de Israel e de Jud. No enranto, nie pademos apelar a nenhum des ces costumes para explicar porque Mareus inclutia as quacco mulheres gue ele decidins mencionar. Flas no cram admiradas. Tampouco existe qualquer confiu- sao no Antigo Testamenco a cespeito de quem erarn seus fillios, Assim, somos levados a procurar alguma outta razio pars o fato de Macous mencianar estas quatro mulheres em particular. Inerpretagio. & elucidagio depende da que s- bemos sobre elas, Tamar, ama mulher de Canaa, sedwiziu o sogro que lhe tinha prejudicado, ¢ dew a cle dois filhos (Gn 38). Raabe, também de Canaa, ganhava.a vida como uma prostituta antes de dedi- car a sua lealdade so Senhor ¢ ajudar os espias israclitas a eseapar de Jericé (Js 2.6). Rare, embora pura moraimente, era moabita, caga cuja origem deu-se a partir de um incesto (Gn 19.30-37) ¢ que, de acordo com Deureronémio 23.3, tinha a entra- da proibida na congregagao do Senhor. Bate-Seba ¢ mais conhecida pelo seu adulrério (forgado?} com Davi. Embora nascida om uma familia judia (1 Cr 3.5), cla pode ter sido ciassificada como uma hetéia devido ao sett casamento com o heten Urias (2 Sm 14.35 23.39) ‘As quant mulheres pasccem ter duas coisas em comum, Elas eram mosalmente corrompidas e esta 1 exclufdas cha comunidade da alianga do Antigo: Testamento, nao tendo nenhum diceito native de rei- vinJicar un vidke vom Deus, nem de esperar que Ele lidasse com elas em Sua grag, Entdo, © que le- Mandan matar todos vs meninos que havia em Belém (2.16). Investigagées arqueclégicas nas cui- nas de steulo [ sugerem, com base na populagao da regio, que provavelmente aproximadamente 15 a 18 meninos foram assassinados pelos soldados de Herodes. ‘you Mateus a ineluir estas quatro mulheres na linha- gem de Jesus, o Messias? Uma das possibilidades ¢ que, como caletor de impostos, encarado com desprezo por seus viri- nhos, Mateus sabia o que significava ser um peca- dor ¢ depois um cedimido. Mateus ident com estas quatro mulheres e as inclui como exem- plos do poder transformador de Deus, que agora enviou © Messias para “salvar seu pove dos seus pecados” (1.21). Uma outra possibilidade & que Mateus poderia estar pensando na universalidade da missio de Jesus. O concerto de Deus com Abraio incluia = promes- “Bm ti serie beaditas todas as familias da terra’ (Go 12.3), As quatro mulheres demonstram 0 com promisso de Deus em cumprir aquela promessa, que rem © seu cumprimento definitive no convice do evangelho cristo para que todos creiam em Jesus ¢ sejam salvos. Uma terccira possibilidade ¢ que Mareus esteja sutilmente fembrando os seus leitores, que prociita- vam por um Messias que apareceria em gléria e po- der. que a histéria mostra que Deus trabalha de ma- nitas estranhas ¢ misteriosas. Nao podemos dizer como Deus agit. ou como deve agit. Tudo © que podemas fazer € reconhecer a sua criagao ¢ adoro. Aplicasia. Nao existe razio para descartar nenhu- rma das interpretagies acima. Na verdade, elas se com- binam de nina mancira maravilhosa. Nosso Deus € 0 Deus do inesperado. Ele permanece preacupado com aqueles “evehiidas”, tanto quanto com voce ¢ eu. Como cada uma das quatro mulheres exemplificam, Deus alcanga o perador com graga e. por seu poder transfocmador, purifica pecadores os torna membros vrais e contribuintes da comunidade de Fé O Nascimento de Jesus Crista (1.18-25). Contexto, Talves, as primeiras coisas que alguém devesse observar nesta passagen foscem tos miraculosos. O bebe sendo filho do Espirito San- to. A visita do anjo para anunciar 9 nascimenta a José. A promessa de ancigas profecias que seriain cum- pridas. Tudo isto corrobora a tese de Mateus de que Jesus € realmente o Mesias de Israel € 0 Filho do Deus vivo. Mas precisamos observar algo mais. Deus, cuida- dosamente, graciosamente, conservou o amor de José por Matia ¢ preparou-o para amar o seu filho, 12 Mateus I-2 Qs costumes de casamento na culeura judaica exam muito diferentes dos costumes atuais, O casa- mento era negociado pelos pais da jovem ¢ envolvi- am um prego de compra que o futuro marido teria que pagar pela furura esposa quando se chegasse a um acordo. A esta altura, a jovem estava “compro- merida” (on “despasada’, 1.18), estava noiva, ¢ era considerada a esposa do seu futuro marido, mesmo aqne ainda morasce na casa dos seus pais € nfo tivesse telagbes, maritais com ele. No era incamum que hamens mais velhos ar- ranjassem casamentos com garotas de nove ou dez anos de idade, freqiientemence para proreger os di- teitos de propriedade quando o pai desta morresse, ou. porque, no antigo Oriente Médio, garntas érfis nao tinham nenhum meio de sustento. Em tais ca~ sos, a noiva ira morar na casa de seu maride, mas petmaneceria virgem até atingir uma idade adequa- da para o casamento. Naturalmente, se na casio da consumacio do casamento, se descobrisse que ela nao. era mais virgem, 0 marido podia obter uma anula- (a0 ¢ 0 dinheito da compra deveria ser devolvido. Interpretacao. Talvez. seja significativo que uma tradigao antiga sugira que José era um homem mais velho ¢ Macia uma moga muito jovem. Se este era 0 caso, & possivel que, como uma noiva muito jovem, Maria vivesse na casa de Jose e que ele tivesse desen- volvido uma profunda afeigao por ela, Podemosima- ginar a tristeza de Joaé quando descobriu: que Maria estava gravida ~ uma descoberta que ele dificilmente teria feito se Maria ainda morasse na casa de seus pais, Aquela afeicio, e seu proprio cardter justo leva- rat José a considerar um passo de sacrificio proprio. Ele nio queria expé-la & desgraca publica. Em lugar disso, cle se divorciaria sem escéndalo e sofreria a perda do dinheiro da compra que havia pago. Sé podcmos imaginar a ira ¢ a magoa que José deve ter sentido. Mas podemos certamente admirar este ho- mem de cardter ¢ compaixdo, que, cmbosa aparcnte- mente traido, ainda colocou as necessidades € a re- putagao de Maria acima das suas préprias. Foi somente encio, depois da decisio tomada, que Deus invet ycio, Somente encio Deus revelou o mila- gre da gravidez de Maria ¢ 0 que aquele milagre sig- iicava. A cianga tint sido couvebida pelo Espisi- to Santo. Ela seria “Deus conosco”. E era Aquele que Deus pretendia usar para “salvar sew povo dos seus pecados”. José nao deve hesitar consumar o relacto- namento depois que a crianga teulia nascido. Observe: a tradugio NIV parece descartar esta possibilidade traduzinde paralabe no versicule 20 como “levar Maria para casa’. Mas a palavea sim- plesmence significa “acolher consigo” ¢ nao deve implicar qute Maria jé nao estivesse vivendo com José como uma noiva virgem, e de pouca idade. Aplicigdo. Como ¢ fascinante que 0 anjo de Deus aparecesse a José somente depois que ele tinha des- coberto que Maria estava grivida. Deus podia ter poupado muita dor a José contando a ele de ante- mio—como ele contou a Maria de antemo (Lc 1.26- 31). Mas a dor serviu para um bonito propésito. wand submetido 3 prova, José exibiu 0 seu cariter “justo”. Com essa exibicie de justica, José nos ensi na. E importante fazer 0 que € moralimente correto.. Mas ao fazer isso. ¢ igualmente importante agir com compaixio ¢ cuidado. O incidente também nos lembra de algo mais Deus estava profirdamente preocupado com o rela- cionamento que devia existir entre Maria ¢ José. Nao apenas pelo bem deles, mas também pelo bem de Jesus # dos demais filhos quc cles teriam. O anjo vi Sirante remove qualquer suspeita que pudesse ter manchado a relacianamento ¢ restanzou mio somente a afeigao, mas também a confianga, tio vital para o erescimento em qtialqner casamento. Sim, o milagre nesta histéria elemento vital. Mas, quase to maravilhoso ¢ aquele toque comum qne nos lembra de que Deus preocupa-se com nossas vi- das comuns — em preservar « amar «te remos pelas ‘ourros, ¢ em formar um lar onde o afeto e a confian- gactiem aquele ambiente cm que as criangas possam crescer. A Visita dos Magos (2.1-12). Contexso. Os magos. na época do Antigo Testa mento, eram uma classe de estudiosos ¢ sacerdores, que trabalhavam como conselheiros para os governantes babildnios e persas. Esta classe sobrevi- Yeu na Pérsia ¢ influenciou o império parto na época do Novo Testamento, No entanto, pouco se sabe do papel especifico ou da historia dester visirantes do oriente a pequena Judéia, Foi sugeride por alguns que estes homenc reco- heceram a estrela porque estavam familiarizados com a passagem em Nuimeros 24.17: “Uma estrela procederd de Jacd, ¢ um cecro subiré de Israel”. Cer- tamente, havia significativa populaggo judia no ort ente nessa época, ¢ monumental obra dos estudio sas conhecida como o Talmude da Babildnia locali zayaese ali, E altamente possivel que os magos tives- sem) accss0 ho somente as Escrituras do Antigo Tes tamento, mas também A ampla literatura judaica a tespeixo delas. ‘A naturcza da estrela registrada por Mateus tem side discutida, ¢ intimeras explicagdes naturais cém sido oferecidas. Mas todas deixam de perceber que a usiae da apariséo da eserela cra sobrenatwral Os outros detalhes eram muito naturais. Por exciniply, wus paises deséiticos os némades orien- tam-se em sua caminhada seguindo as estrelas. “Tome quel esticlt na uu” € uma mancica co mum de dar orientagaes. Nao seria incomum que Deus guiasse os magos até 0 meniay Crisco, basi- camence, dizendo a eles “tome aquela estrela na mao ¢ siga-a até chegar Aquele que nasceu Rei dos judeus” 13 Comennirio Histérice-Cultural da Novo Testamenca © Que o Profeta Escreveu (2.658). Conzexto, “citacio” de Mareus nfo segue nem 0 sexto massorético (hebraico) aem a Sepruaginta (gre- go) de Miqueias 5.2. Apesar do furora respeito deste faco, exicte uma explicagao simples. Maceusy orien- tado por Deus, nos dé uma interpretacio inspirada do texto original, modificado somente ligeiramente para enfatizar o seu tema original, Ele cambém conecta a citagio de Miquéies com 2 Samuel 5.2. O mais significative € 0 exemplo do grande cui- dado de Mateus em conectar Jesus & profecia do An tigo Tesramento. Em seu evangelho, Mateus cita 0 Antigo Testamento 53 vezes, com citagies extraidas de 25 dos 39 livros, ¢ faz alusio a muitas passagens adicionais do Antigo Testamento. Mateus esta de- terminado a explicar Jesus ~ sua Pessoa, seu ministe- tie, scu destino — dentro de ume estructura ja estabelecida pelas Escrituras judaicas. E particularmence fascinanee explorar estas civagScs para ver 0 que fica implicado pelo uso de Mareus. Suipreencentemente, o comento do Antigo Testanica- to enfatiza 0 papel soherano do Messias que viria. Embora Jesus deixsse Ue satisfiver estas expeciativars de Sua geracio, Jesus ¢ 0 Rei Messias promezido. O zador soliedor, & » gloiiuse Govern da prafe- cia do Antigo Testamento s40 um 56, S30. 6 mesmo. Observagao. Para semir esta énfase, examinareros © contexto de duas passagens mencionadas em Mares 2: I Base para Mateus 2.2, Jesemias 23.5,6: “Eis que vém dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; sendo rei, reinard, ¢ prosperars, ¢ pra- ticard o juian e a justiga na terra, Nos seus dias, Juda set salvo, e Israel habicard seguro; e este serd 0 nome com que © nomearao: O Senhor, Justiga Nossa. WE Base para Mareus 2.6, Miquéias 5.2.4: °E ru, Belem Efrata, posto que pequena entre milhares de Judi, de ti me sais o que sera Senhor em Israel, © cujas origens sa0 desde as tempos ancigas, desde os dias da eternidade.... I ele permanecerd e apascenta- 10 povo na forca do Senhor, na exceiencia do nome do Senhor, seu Deus; ¢ eles permanecerio, porque agora sera ele engrandecido até aos Fins da terra Aplicasito. © uso que Mateus faz das citagtes & indubitavelmente evangelistico, porque o seu inten- ro é mostrar aor seus irmios judeus que Jesus ¢ 0 Cristo. Mas esse uso é um lembrete vital para os cris- dos de hoje, Nossa compreensio de quem ¢ Jesus, sobre sua missao e sobre o futuro que Deus planejava para o governo de Cristo na terra, deve formar-se somente depois de cuidadoso estudo do Antigo Tes- tamento, hem como do Novo Testamento. A fuga ao Egito (2.13 23). Adequadamente, muita arengao foi dedicada ao carater de Herodes, tao cru- clmente exibido na perseguigio a Jesus © a0 aasis ato das criangas inocentes em Belém. Mas este nfo deve ser 0 enfoque da nossa cxposigio. Comentaristas ficaram perplexos com a relevin- cia do uso que Matcus faz. de Jeremias 31.45, A me Ihor esposta & que a mensagem de Jeremias sobre 0 novo concerto foi dada no momento de maior sofri- mento de Juclé: a queda de Jerusalém ea deportagio dos jutleus sobsevivences & Babilénia, Ainda assim, naquele mesmo momento da histéria, a palavea de Deus, strives de Jereinias, fe nascct usta esperanga, Da mesma maneira, 0 momento em que as maes de Beléar sentiain a sux peste mais sugusciame, a tervencfo de Deus salvou o menino Cristo, que 0 Cumprizacnto de nove concerto ea verdadeira espe- tanga do mundo. Estes remas estio presentes no texto, ¢ ainda ha outro tema que os supera — 0 tema da providéncia ‘Os magos trouxeram presentes ~ ¢ assim financi- aram a viagem de Jesus, Maria ¢ José a0 Egito no momento exato em que eles precisavam escapar Herodes morre, e José leva a sux familia para casa, ‘mas no ultimo momento afasta-se de Belém para es- tabelecer~se em Nazaré, Cada aconcecimento é mar- cado como uma instrugao de Deus: pelo sonho que 6 orientou, € por uma palavra das Escrituras que, inesperadamente, prova set profética. ‘Assim, toda a seqiiéncia de eventos éevidentemente guiada e dirigida por Deus, e somos lembrados de que ‘9 Senhor nunca retira sua mao de seu Filho. Nés somos incentivados. Nés somos filhos desse mesmo Senhor. F File no rearara sua mao de vocé nem de mum. 14 Mateus 3-4 MATEUS 3-4 A Preparagao de Jesus EXPOSICAO, ‘Mateus tem a intengao de revelar Jesus como o Messias de Israel, Aquele que ¢ Salvador e Rei. A medida que Matcus continua a expor o seu caso, ele passa agora para duas cottentes importantes de evidéncia, e habilmente as combina com a sua narrativa, Jesus satisfazia as condigées estabelecidas no Antigo Testamento (3.1-12), E Jesus pessoalmente estava qualificado para servir como 0 Messias de Israel (3.13-4.25). ‘Tanto as pessoas comuns como os rabinos criam que havia algumas condigdes que o Messias deveria satisfazer. Antes do Mesias, ¢ preciso que venha Elias. A aparicao de Elias, segundo o que se acreditava no Israel do século I, marcaria o final dos tempos e precipitaria a vinda do Mesias. Aquela condigao foi satisfeita por Joao Batista, um homem cujas roupas toscas e caréter impetu- 080, cujo chamado estridente para 0 arrependimento, claramente exibiam o ministério de Elias. Examinando 0 ministério de Joao, os leitores de Mateus devem reconhecer que Deus realmente enviou um Elias (3.1-12; 11.1-19). Mateus entdo mostra que o préprio Jesus estava pessoalmente qualificado para o papel do Messias. Deus reconheceu Jesus como “Meu Filho amado”, ¢ disse “em quem me comprazo” (B.13-17). Jesus também estava qualificada em sua humanidade, pois como um homem Fle triunfou sobre as tentagées de Satands (4.1-11). Sendo assim, em sua pessoa, a divindade se unia a humanidade sem pecados, qualificando de uma mancira dinica a Jesus para scrvir como o ‘Mesias de Israel. Mas ainda hé mais. Jesus estava qualificado por poder. Ele pregou, sua palavra transformava as pessoas comuns, que se toravam seguidoras de Jesus (4.12-22). Ele falava, € com sua palavra as enfermidades desapareciam € os deménios acovardavam-se. Todos os atos demonstram que Jesus nao apenas satisfaz as condigdes impostas pela profecia do Antigo ‘Testa- mento, mas que Ele estava plenamente qualificado por um cardter ¢ um poder exclusives para reivindicar 0 trono de Israel. E reivindicar 0 trono de todos os coragées. ESTUDO DA PALAVRA Arrependei-vas (3.2). A palavra cm portugués infe- _ énfase de Joao: “Produzi. pois. frutos dignos de ar- lizmente sugere que 0 artependimento € tristeza rependimento” (3.8). pelo pecada. Ista abscurece a énfase do original em Com muita freqiiéncia cometemas o engano de nos gtego. Ali, merunoeite pede uma mudanga radical _concentrarmos nos sentimentas. Jodo no fxzia isso. dle coragin @ mente; uma mudanca que resultard sen chamado para o arrependimento nio era um con em um estilo de vida radicalmente diferente. Dai,a vive as ligrimas, mas a exigéncia dle uma decisio. 15 Comunrvio Histévico-Cultural do Novo Testamento COMENTARIO DE F. B. MEYER SOBRE © CHAMADO AO ARREPENDIMENTO Jodo Batista é tristemente necessdrio hoje em dia. Muito do que chamamos de cristianismo nao é nada além de paganismo cristianizado. Ele encobre a avareza, a auto-indulgéncia exuberante, a submissao 4 moda e ao mundanismo; ele admi- te, nas suas altas posigoes, a homens que prosperam com a opressdo dos pobres; ele fecha os olhos & opressao das racas nativas, a venda de dpio e alcool, e do trafico vergonhoso da impudicicia; ele cultiva os ideais do mundo em lugar da cruz imutavel do Cristo morto com sua divina tristeza e 0 seu sanguc. Ah, nés precisa- mos de que Joao Batista venha com as suas palavras severas a respeito do ma- chado, a pa, a eira e 0 fogo. Somente isto poderd ser util para preparar o caminho para uma nova vinda de Cristo Cada época tem o seu Joao Batista. Agora, Sao Bernardo; agora, Savonarola; agora, John Knox, Como uma voz sonora € relurnbante o arauto preparou 0 cami- nho para o Rei: “ele veio para julgar o mundo!” — Da obra: Grandes Versiculos da Biblia “Arrependei-vos, porque & chegado 0 Reino dos céus" (3.2). Nas liscricuras, um “reine” nde ¢ canio uum lugas; mas sim wena esfera de influéncia, am cam- po no qual a vontade do rei tem forge dintmica. O “reino dos céus", consequentemente, representa a forga dinamica da vontade de Deus invadindo o mundo ¢ operando suas poderosas transformagoes.. Embora muitos, no século [, esperassem que as for gasdinimicas de Deus rivessem forma politica ¢ liber- tassem os judeus do poder de Roma, devemos nos fem- bar de que o reino de Deus assume muitas formas. Esta € a chave para cntcnder @ cvangelho de Mateus. E.o mais importante, €a chave para o nosso pr velacionamente atual com Deus. Nés aos contamos no teino de Deus quando nos compro- metenias com Jesus, o Rei. Em Jesus, a forga dina- ica de Deus assume a forma espiricual ¢ nos liberta lo poder du pecado. E nés senimes continuamente aquels forca dindmiea em nossa vide quando ofere- is, diatianucuwe, a nussa Gdelidade a Ele come respondendo alegremente 4 Sua vontade, Rei, Arrependei-vos, porque & chegado 0 Reino dos eéus 3.2). Alguns argumentaran subse un difevensa entre o “reino de Deus” em outros evangethos © 0 “reimo dos céus” no de Mateus, Uma explicagéo muito provavel & que Mateus esteja sendo cuidadoso para nao ofender os judeus que ele ‘esti tentando alcangar. Era uma pritica judaica comum, usar uma perifrase como “céus” para referir-se a Deus, Aquele que vem apés mim ¢ mais poderoso do que cu; nia son digno de levar as suas sandalias (3.11) texto em aramaico apresenta “remover”, ¢ desta forma concorda com Marcos 1.7 e Lucas 3.16, No. oriente, 05 sapatos sig removides quando se entra em uma casa, A maioria dos visitantes na época de Joao removia os seus préprios sapatos; as servos te- zmoviam os sapatos dos seus senhores ou de wm co: vidado importante. © prdprio anfitciao inclinava-se para remover og sapatos somene de um visitante verdadeiramente ilustre, Joao, que alguns especula- vam ser 0 priprio Mevsias, negou esta afirmagao & exaltou a Jesus, insistindo que nem mesmo era dig- no de manuiscar as sandatias do Senhor. Que exemplo para nds, Que possamos ter um cntendimente to claro da importancia de Jesus, ¢ assim, com fervor, levarmos a atengio dos outros a Ele, ¢ jamais a nds mesenos. Ele vos batizarié com 0 Expirite Sunto ¢ com foga G.11,12). Jodo batiza somente com Agua para {por cause do) aitepenclimenco. O Messias que virs batizars com o Espirito Santo (1 Co 12.13; também Ex 36.25- 27; J1.2.28) c wom fogo. Alguns encendem “fogo” aqui como um simbolo de julgamento (como Is 34.10; 66.245 Ju 7.20), av pros que vutros v vécn come UM simbolo de purificacao (como Is 1.25; Ze 13.9; MI] 3.2.3). Comp unig 6 Espirito quanto « fogu sav eon- ttrolados pela mesma preposigao. en, que no ¢ repeti- da no rexto, a segunda incerpreagio & preferive As palavras nos lembram a superioridade de Je- sus. Joao pregava o arrependimento; mas, seu batismo com agua nada mais poderia fazer do que reconhecer a intengao expressa de mudar, por parre de um homem ou de uma mulher, Jesus pregava 0 16 Mateus 34 arrependimento: mas. seu batismo com o Espirito verdadeiramente prové o fogo santificador que pu- rifica ¢ teansforma Nio fiquemos satisfeitos com a 4gua. Nés preci- samos € do foge da Fspirico, Foi conduzido Jesus pelo Espirito ao deserto, para ser tentado pelo diabo (4.1).A palavra prega ¢ peirazn, que significa tanto “tentar” quanto “colocar & pro- va’, Seja qual for a palavra que usemos para traduzir agrega, ¢ isso pode variar de acordo com 0 contexto, fica claro que a tentagao ou a prova nos coloca em situacdes que produzem tenséo intensa. Sob esta ten- sto, freqtientemente chegamos 4 conclusio de que @ nossa tentacdo ou as nossas provas sfo punicao divi 1a, ou pela menos sio “ruins”. Mateus corrige esta nossa impressio. Deus acabou de afirmar sci amar por seu Filho (3.17). Ainda assim, Mateus imediara- mente diz que Jesus foi “eonduvido” ao lngar de ten tagio “pelo Espirito”. Estd claro, 0 amos estava mamenre envalvide na prova da Fithe de Deus! ‘Como ¢ importante, em nossos prépries momen- os de tensin, lembyrar que somos amadlos por Deus. Quando lile nos *permte ser tentados" —alguma coi- sa que nds sabemas qne nan devemns decejar— nao é evidéncia de abandono, mas simplesmente ums prova a mais de seu amor. Ao Senhor, teu Deus. adoraris e sé a ele servirds (4.10). A palavea grepa aqui ¢ latrewo, A obsa The Expository Dictionary of Bible Words (Zondervan) ob- serva que “cada ocorréncia do grupo latreuo no Novo Testamento transmite 0 sentido religioso de ador Go, 0 de servigo a Deus”. (As palavras deste grupo So encontradas em Mr 4.10: Te 1.74; 2.37; 485 Jo 16.2; At 7.7, 42; 24.14; 26.7; 27.23: Rm 1.9; 9: 12.1; Fp 3.3; 2 Tm 1.3: Hh & 5:9 1,6, 9, 14; 10. 12.28; 13.10; Ap 7.15; 22. Dificilmente pademos afirmar que adoramos a Deus sem oferecermas a Ele o nosso servigo sincera. Vinde apds mim (4.19). Segui « fesus envolve mais do ela is dels embora os due, cers mente, tenham feito isto. O mais imporcance: seguira Cristo significava, naquela época, como agora, matri- cular-se em sua escola como aprendizes, para que uma compreensio dos ensinamentos dele, ¢ de seu estilo de vida, possam inspitar a personalidade do discfpulo, O TEXTO EM PROFUNDIDADE Joao Batista prepara o Caminho (3.1-12). Uma dis cussio profunda deste tema é encontrada na passa gem correspondente, Lucas 3.1-20. Veja ramhém Marcos 1.1-8, © batismo de Jesus (3.13-17). O batismo de Jesus tem sido o faco de muitos debates. Par que, se Jesus nfo tinha pecado, escolheu ser batizado por Joao “para arrependimenra?” Por que Josia procura impe- dir Jesus? E © que Jesus quis dizer quanda mencio- not que “cenwinha”.. para “cumprir toda a justiga”? A resposta a estas perguuntas sugere diversas verdades fascinanres e importantes Contecto. © batismo de Joao Batista era uma ver- dadeiva innwagio veligioss. Q munda judeu conhe- Gia dois tipos de batismos, ou purificagdes, com dgua, Havia a batismo exigido aos prosélitos na sua con- versio, ¢ havia os banhos mais freqlientes de purifi- cacao que dinham suas raizes em tradigdes biblicas. Textos rabjnicos indicam trés coisas necessdrias 2 um homem gentio do século I que desejasse tornar-se um judeu: a circuncisio, o sactificio e 0 batismo. Na sua obra clissica, The Lif and Times of Jesus the Messiah, Edlersheim escreve: “O batismo deveria realizar-se na presenga de trés testemunhas, normalmente pessoas do Sinédrio (Yebam. 47b), mas em caso de nec de, poderiam cer outras pessoas. A pessoa que seria batizada, depois de cortar 0 cabelo ¢ as unhas, despia~ se completamente, fazia uma completa profissio de f&, diante dos que eram designadas os ‘pais do batismo’, € entio mergulhava campleramente, para que todas as partes do seu corpo fossemn tocadas pela agua” (pp. 745-46). Fica clany que nao hé nenhuma correspon déncia direta com o batismo piblico que Joao fazia ans, nin como iim rita de converse, mas come um sinal de arrependimento, De maneira similar, nao existe uma correspon- déncia direta com os rituais de purificagao judai- cos. A obra The Revell Bible Dictionary diz. a res- peito de tais aos: “Na época de Jesus, 0 povo ju- dew usava os banhos rituais para purificacéo pes- soal. Arquedlogos encontraram tais banhas nio somente no Monee do cemplo, mas cambém nos restos de casas abastadas em Jerusalém, e até mes- mo em Khirher Qumran, o centro da seita dos Per- gaminhos do Mar Morto. Cada banha, ou nkotb, tinha uma piscina reservada que se enchia de agua da chuva, porque a lei rabinica exigia dgua cor- rence (“viva”) para o uso na purificagao” (pp. 126 27). Novamente, aqui nio existe uma correspon- déncia direta entre este ritual privado ¢ 0 chama- do de Joao para um ato puiblico de barismo como um sinal de asrependimenco ¢ compromerimento renovade a Deus. O que Joio fee, entio, foi criar um nove simbo- Jo a partir de elementos do antigo: um batismo em Agua viva (corrence), que nio prometia renovagio, mas que em lugar disto simbolizava 6 comprometi- mento com uma renovagio intcrior que someate poderia ser obtida com uma dedicagéo completa a 7 Comensitria Hiseérico Cultural do Nove Testamento Deus, como uma pieparayao pessoal para @ reine esearoldgica iminente. Inrerprevagao. © nossa inerpretagao desta curea passagem depende da compreensio da relutdncia de Joao € da insisténcia de Jesus Em primeiro lugar, nfo podemos explicar a re lucdncia de Joao supondo que o Batista recouliccen Jesus como sendo © Messias. As palavras de Joao, encontradas em Joao 1.31,33, deicam isto claro. Ali se diz que Joao Batista disse aos seus seguidores: “Eu nao 0 conhecia....” ¢"eu nao o conhecia, mas © que me mandou a batizar com dgua, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espivito e sobre cle repousar, esse &..." De modo que Joao nao perce- beu que Jesus era o Messias até depois de seu hhatismo! Por que, entio, Joao estava relurante em batizar a Jesus: ‘A conclusio a que devemos chegar é surpreen- dente. Jodo escava convencido de que Jesus nao pre- cisava ser batizado. [sto sugere que Jodo conhecia pessoaimente a Jesus. Na verdade, isto nao € com- pletamente improvavel. Maria e Isabel, mac de Joao, ‘ram muito intimas (cf. Le 2.39ss.). Certamente as duas familias teriam se reunido. especialmente na- sclas festas quando José ¢ Maria viajavam da 4 Galiléia até a Judéia, Os dois meninos, de idades tio prdximas € com compromissos espusituais des- de cio tenra idade, ceriam brincado junios ¢ con~ versace, Sem duivida, o discernimento espuritual que Jesus mostrava aos doze anos quando maravilhou 05 dontores do judaismo, que ministravam nos dias santos, nos ptios do cemplo (cf. Le 2.41-51), teria representado um grande apelo para o ascético Joa0, jd comado pelo zelo pelo Senhor Assim. quando JoXo insistiu: "Eu careco de ser batizado por ti” —€ ho texto grego os pronomes “eu” ¢ “ti” sia muito enfiticos ~ ele estava expressando uma opiniio for- mada de que Jesus, certamente, nao tinha necessi- dade de arrepender-se! Mas Cristo insistiu. Alguns sugerem que a pa- lavra “agora” ¢ imporcante ¢ que o ato de Jesus tinha @ intengao de confirmar o elemento escatoldgico to evidente na pregagio de Joao a respeito de um reino messidnico préximo, Mas talver seja melhor enfatizar 0 que Jesus enfatizow: que ert adequado que Ele o fizesse para “cumpri toda a justiga’. Uma sugestao recente propor que, uma ver que a vontade de Deus era que fests fosse batizado, era conveniente para Joso ¢ para Jesus (“nos do versiculo) cumprir aquela vontade. Mas isto nao explica por que era a vontade de Deus que Cristo se submetesse ao tito. Talvez uma solugio simples seja satisfatéria, Talver, Jesus tenhs: escolhido set batizado, mesmo que Ele pessoalmente nto tivesse necessidade de arrepencler- se para identificar-se publicamente com o ministério de Joao. Desta mancira, Jesus acrescentou 0 “Armém!” do Messias a mdo a gue Joie ensinaya ¢ fazia. 18 Aplicaydo. Existem duas idéias aqui que podem set pronramente aplicadas a nds, ¢ Aqueles & quem Em primeiro lugar, embora Joao respeitasse a Je- sus profundamente, cle estava maravilhade de saber que o scu amigo de infincia era verdadeiramemte 0 Messias. De alguna mancira, ele nunca o teria espe raclo! Podecia aquele Jesus, que trabalhava arduamen- te, que gostava de diversio, aquela pessoa atraente © ainda assim “comum”, sero Messias de Deus? Ble inplesimente nao sc cncaisava na imagem. O Mes sias deveria ser impressionante— distante; alguém que estd acinn de nds, que ¢ irrsistivel — diferente. © fracasso de Jodo em suspeitar que Jests era 0 MMessias nos leva a te-examinar as nossas préprias nogées de espiritualidade. A pessoa verdadciramente expiricual cleve sev distant, iaesistivel, distante da vida normal? Ou seré o segredo da verdadeira espirituatidade o viver sinnplesmienze uma vida ¥er- dadeiramente humana, como fer Jesus, em unido com Deus? O tiso, 0 traballio duduo, ainizadle, 0 casi- ho, a diversao — todas extas coisas sao pelo menos tao proviiveis de caracterizar uma pessue espiricual quanto uma aparéncia severa, olhos fundos ¢ uma distancia auto-imposta dos outros. Jesus, 0 tinico homem verdadeiramemte espiricu- al da historia, era criticado por seus concemporaneos por “comer ¢ beber” e ser “amigo de publicanos pecadores” (Mr 11.19). Ele gostava de festas ¢ amv todos os tipos de pessoas. E mesmo seu amigo inti- mo, Joao, nao suspeicava quem Ele realmente ert. Nao devemos permitir que nogdes distorcidas sabre como uma pessoa “espiricual” comporta-se nos evem a deixar de perceber a dedicacéo a Deus da- queles que mio se encaixam nas nossas idgias pré- concebidas. E no devemos permitir que uma no- io distorcida da espiritualidade nos afaste daquela liberdade de aproveitar a vida e nos relacionarmos com 9s outros — algo que Jesus exibia de forma tao maravilhosa. Em segundo lugar, 0 faco de Jesus nao ter uma necessidade pessoal de atreponder-se e, portanto, no rccessitar ser batizado, deveria nos desafiar Jesus foi batizado porque eta a atitude certa para Fle, como tama pessoa justa, identiticar-se com Joao © a sua mensagem. E tio ficil para nds, hoje em dia, ficar- nos i margem c deixar que outros lutem as batalhas de Deus. Por exemple, pense na campanha que al- guns estZo promovendo para limitar a exibigio de cenas de sexo e violencia na TV. Talver.digamos, nto permitimos que esses programas sojam vistos na nossa casa. Entio, por que deveriamos nos envolver? Real- mente, por que? Talvez, simplesmente, porque aque- Jes que procurarn influenciar os anunciantes ¢ as re- des de relevisio estejam Fazendo a coisa certa. E, se for este o caso, entin deverfamos nos aliar a cles pu blicamente, Da mesma maneira que Jesus fez quan- do escolheu ser batizado por Jozo. Mateus 3-4 A Tentagao de Jesus (4.1-11). Veja também as pas- sayens paralelas em Marcos 1.12,13 ¢ Lucas 4.1-13, Contestn, Embora existam pastagens significari- vas sobte prova/tentacéo no Novo Testamento (veja comentarios sobre Hh 2.18; Tg 1-13-15), precisa- mos procurar entender 2 tentacio de Jesus no cend- rio do pensamento do Antigo Testamenta, O Espiri- to de Deus conduziu o Filho de Deus a0 desert, nan para puiniclo nem para expor suas fraquezas, mas para que na prova severa algumas qualidades essen- ciais pudessem ser demonsteadas e comprovadas como sendo genuinas. Prova ou tentagio é tema pouco freqitente no Antigo ‘Tesramento, Trés palavras hebraicas sto traduzidas como “prova” nas versdex NIV ¢ NASB. Nasah é encontrada 36 vezes no Antigo Testamento, € indica uma tentativa de provar a qualidade de al guém ou de alguma coisa (Ex 16.4, RA; De 8.16). Sarap, que significa Fandir ou refinas, sugere um pro cesso de purificagao, Sete vezes no Antigo Testamen- to esta palavea é wadurida comto “prova” (Sl 17.3, RA; 66.10; Jr 9.7). Bahan € uma prova que tem a intengio de demonstrat a existéncia de alguma qua- lidade. Esea palavra ¢ encontrada 29 vezes ino Antigo ‘estamenco (Gn 12.15,163 $1 7.93 Pv 17.3; Je 6.275 MI 3.10, 15). Admiravelmente, a palavea grega periaa, que € traduzida como prova e como tentacdo no Novo Tes- tamento, ¢ usada ma Septuagioca paca uaduit a hiebraica nash. Isto pode explicar por que Mateus, que escreve tendo em mente o leicor judeu, ecullieu poviazo para descrever a tentacao de Jesus em lugar da mais aproptiada, pata us giegus, dokimuas, pericasn indica claramence uma prova com a intengito de pro- var algo verdadeito era lugat de expur algo que ¢ false, Jnterpretagae. Uma vex que concordemos que a intengao da tentayau de Jesus era provar a existencia de qualidades essenciais i Sua missio como o Messi- a, observainos algumas coisas significativas sobre 0 texto de Mareus. WE Houve trés tentagées. Isto parece dbvio, mas ape- sar dista & significativo, Cada uma delas epresenta uma via diferente de ataque utilizada por Satanss. E também é claro que cada uma das trés revela alguma qualidade essencial que era uma qualificagdo neces- séria para o ministétio de Jesus. “Se", em 4.5, nado quer dizet “se”. Em porcugués, geralmente sugere diivida, A construcdo em gre- g0 {ei mais o indicative) supoe que Jesus € 0 Fitho de Deus. Assim, Sarands desafia jesus a agir no carter, como Deus, ¢ resolver o problema surgido nos 40 dias de jejum, realizando um milagre e transforman- do as pedras em pio. WB Jesus reage, em primeiro lugar, citando uma pas- sagem que enfatiza sua humanidade: “Nem s6 de pao viverd a homem” {ef Dr 8.3). Assim, Jessis anuincia, sua intengio de responder aos desafios de Satands om sia narureza humana, sem apelar para 2 prerro- gativa independente da divindade que Ele tinha vo- Tuntariamente deixada de lade na Enearnagio, MH Jesus reage a cada prova apelando as Escrituras. Em cada caso, a citagao é de Deurerondmio, que no co importance conzo a maneira como Ci as Escrituras, © que Ele fez, na realidade, foi extcair tum principio de cada passagem — e decidir de acor do com aquele principio. Assim, somos lembrados de que © poder libertador da Palavea de Deus nao & liberado simplesmente pelo nosso conhecimento dela, mas somence quando a aplicamos. Mi Exisce um significado na seqiiéncia em que as erés tencagdes so apresentadas. De maneira interessan- te, 0 cexco grego de Marcus indica uma seqiiéncia definida, usando os conectores cemporais “entao” {4.5} ¢“novamente” (4.8), Em contrastc, Lucas, que registra a seqiiéncia em uma ordem diferente, nio usa tais concctorcs ¢, portanto, ao exige que supo- nhamos nenhuma ordem especial. O que talvez seja mais significativo ¢ quc a oferta de “todos os r

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