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Arthur Azevedo e o Teatro de revista O teatro de revista foi uma forma de teatro musicado que chegou ao Brasil, especialmente ao Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX. Uma das suas caracteristicas mais marcantes era mostrar os modos e os costumes da sociedade por meio da ironia. Era alegre e estimulava o riso usando falas de duplo sentido, cancoes‘apimentadas’, cenarios exagerados e atrizes quase sem roupa, agindo como se o pouco figurino fosse natural na época. Entre os principais escritores dessa forma teatral estava Arthur Azevedo. Em uma de suas revistas de 1896, com 0 nome A Fantasia, ele apresentava a seguinte definicao para o teatro de revista: Pimenta sim, muita pimenta E quatro, ou cinco, ou seis lundus, oz) Chalacas velhas, bolorentas, - ‘ Pernas & mostra e seios nus. Arthur Azevedo, dramaturgo e escritorbrasieo, ninscvaonsanaps gal ca heat } LB Borie corns PARA SABER MAIS Alguns estudiosos afirmam que oteatro de revista era vazio, sem propésito e uma arte menor, se comparado as pecas de teatro de outros estilos. O proprio Arthur Azevedo, que ganhou fama com 0 teatro de revista, fez algumas criticas em uma carta a um amigo. Leia um trecho dessa carta: .ntodas as vezes que tentei fazer teatro sério, em paga s6 recebi censuras, apodos, injus- tigas e tudo isso a seco; ao passo que, enveredado pela bambochata, ndo me faltaram nunca elogios, festas, aplausos e proventos. Relevem-me citar esta ultima formula de gloria, mas—que diabo! - ela é essencial para um pai de familia que vive da sua pena! BOERO, Simone Aparecida AL Um palimpsesto em andamento: formas ereformas de uma personagem azevediana. Orentador Sylva Helena Telarol de Almeida Lite, 2013.228p, Tse (Doutorado em Letras) Faculdade de ‘lencias Letras da Unesp, Universidade Estadual Paulista So Paulo, 2013. Disponivel em: htps/repostoriounesp, broitstrearvhancle/t 1448/103487 /boero_saal_dr_arafelpdMsequence=1aisAlowedey,Acesso em: 25 jul 2019 iS eels ‘Adefinicao de Arthur Azevedo apresenta algumas express6es interessantes, como apimentado, lundu e chalaca. Pesquise o conceito desses termos e transcreva a definicao dada pelo autor com uma linguagem mais atual. + Agora, crie uma definicdo para teatro de revista, baseando-se nas infor- magées do livro. Historia do Teatro de revista Acomicidade esta presente no teatro desdea sua criagao, nas comédias da Grécia Antiga. Na Roma Antiga, ganharam mais destaque e se popularizaram, Muitos anos depois, as transformacées culturais controladas pela Igreja Catdlica fizeram com que 0 teatro bufo (cémico) e as manifestacées culturais populares fossem desconsideradas e censuradas. Entretanto, o povo nunca deixou de se expressar. Mesmo escondide, sua arte continuava viva e esse tipo de encenacéo cémica permaneceu no Carnaval, nas festas rurais e pastoris, nos jogos e em rituais religiosos nao catélicos. Os vaudevilles Usar a ironia sempre foi uma estra~ tégia para que as classes populares crit ‘cassem e questionassem o dominio das. elites. Assim surgiu o teatro de revista, na Franca, no final do século XVII, como parte do vaudeville, que era uma apresentacao artistica que misturava diversas atracées, como cang¢ées, literatura, circo de horro- res, entre outras. O objetivo do teatro de revista nos vaudevilles eta satirizar os acontecimen- tos mais marcantes do ano, por meio de cenas breves com canto, danga e declamacao. A partir do século XVill, 0s vaudevilles se popularizaram como grandes atracdes nos bairros ope- rarios franceses e no Teatro de Bouffes Parisiens, fundado por Jacques Offenbach. Esses teatros eram frequentados por muitos artistas boémios, dancarinas, poetas e pintores, como Charles Baudelaire, Vincent van Gogh e Toulouse-Lautrec. Os textos dos vaudevilles mostravam, deforma irdnica, a burguesia, seus modos e a hipocrisia da sociedade capitalista. Na sua estrutura basica, 0 es- petaéculo possuia uma histéria simples, com muitos imprevistos que aconteciam rapidamente, mas no final ‘tudo dava certo’. ‘Aencenacao era intercalada por pequenas cangées satiricas que reforcavam o texto. A sen- sualidade era ressaltada, e o corpo da mulher, muito valorizado, so, Passando em revista ‘Onome da forma teatral teatro de revista, de acordo com a Enciclopédia da Musica Brasileira, vem da ideia de “passar em revista’, que significa ‘examinar, revistar todos os fatos acontecidos no ano, encenando-os. A sucessao de quadros, nos quais os fatos eram revividos com humor, era acompanhada de dangas e musicas. No teatro de revista, todo o aspecto visual era destacado, pois ajudava a manter o cardter descon- traido e alegre do espetaculo, ao mesmo tempo que a histéria mostrava a hipocrisia da sociedade. Para i880, 05 cendrios criados eram fantasiados e muito coloridos, mostrando uma realidade exagerada, 0 acompanhamento musical era imprescin- “3. 5c divel. A mensagem dada por meio da musica era mais agradavel e eficiente, O texto, cujo contetdo eraa critica dos costumes do periodo, era em verso, Algumas manifestacdes folcléricas estavam presentes, como o pastoril e 0 fandango. teatro de revista tornou famosos muitos compositores e mUisicos, em uma época em que o principal mercado de trabalho para os artistas era o teatro, os cabarés e os cafés dancantes. ‘Além disso, com a ampliacao e a consolidago da classe média, o teatro de revista passou a ser um tipo de divertimento que atingia diversas camadas da sociedade. 3 4 Ae Nos bastidores do teatro de revista Homem que revolucionou 0 teatro de revista dos anos 40 aos anos 60, Walter Pinto rece- beu, durante quatro anos, trés deles seguidos, o prémio de melhor produtor de teatro musicado da Associagao Brasileira de Criticos Teatrais (ABCT) na década de 50. Suas producées suntuosas ‘ocupavam 0 Teatro Recreio, no Rio de Janeiro, e contavam com elenco de estrelas nacionais internacionais. As laranjas da Sabina Um grande sucesso de Arthur Azevedo foi a musica As laranjas da Sabina, inspirada em um caso policial que aconteceu, no dia 25 de julho de 1889, no Rio de Janeiro, Durante muitos anos, Sabina, uma vendedora de laranjas, manteve séu comercio proximo a Faculdade de Medicina. Porém, um dia, um subdelegado proibiu Sabrina de vender frutas naquele local. Diante desse fato, os estudantes sairam em passeata da faculdade com laranjas fincadas nas pontas de suas bengalas e quarda-sbis. A passeata acabou como um grande evento, e Arthur Azevedo, em sua revista A Republica (escrita em parceria com seu itmao, 0 romancista Aluizio Azevedo), imortalizou a historia de Sabina em um tango que se tornou um dos maiores sucessos musicais daquele ano. ‘As laranjas da Sabina Sou a Sabina Sou encontrada Todos os dias Lana carcada Da academia De medicina Um senhor subdelegado Home muito restingueiro Me mandou por dois sordado Retiré meu tabuleito, a Sem banana macaco se arranja E bem passa monarca sem canj Mas estudante de medicina Nunca pode Passar sem laranja da Sabinal Os rapazes arranjaram ; Uma grande passeata E, deste modo mostraram. Como o ridiculo mata, ai! 'F ASLARANIAS DA SABINA. Compositor: Arthur Azevedo. Intérprete Pepa Delgado Rio de Janeiro: asa Edison, 190, CD A historia de Sabina e suas laranjas ¢ bastante inspiradora para uma producao teatral no es- tilo teatro de revista, ndo? Entdo, retina-se com mais oito colegas para criar uma encenacdo desse episédio em quadros. 11 quadro: Sabina vendendo suas frutas para os estudantes normalmente, como deveria ser no diaa dia. ‘Como serd esse quadro? Registrem a seguir como sera a cena. 22 quadro: A proibicao da venda pelo subdelegado. Como serd esse quadro? Registrem a seguir como sera a cena. 3° quadro: A passeata dos estudantes. ‘Como ser esse quadro? Registrem a seguir como sera a cena. ‘Atengao para alguns detalhes: + ocenério deve ser colorido e bastante divertido; + amiisica As laranjas da Sabina deve ser cantada pelos participantes (se vocés no conseguirem a musica, inventem um ritmo para a letra); + entre no clima do teatro de revista, que fazia uma critica aos costumes e aos fatos ocorridos no periodo. Opereta Operetas séo obras cénicas musicais, com cangdes e dangas intercaladas com didlogos. Podemos considerar a opereta 0 “outro lado da moeda" da grande 6pera dos franceses. As grandes dperas possuem elencos numerosos, cenérios e corais esplendorosos, e seus libretos séo totalmente musicados, sem a presenca de didlogos ou recitativos, isto é, to- dos os didlogos so cantados. Na opereta, a musica é mais leve e ligeira, o enredo é comico, alguns dilogos sao falados, e a danca é bastante utilizada durante o espetéculo, Muitos criticos de musica ou estudiosos da musica erudita consideram a opereta uma miisica menos importante e de mé qualidade, alegando que a épera é a verdadeira obra musical consagrada. Por ser vista em teatros e casas de espetaculo frequentadas por pessoas menos favorecidas economicamente, a opereta, assim como 0 teatro de revista, muitas vezes é citada como uma forma musical do povo, de uma maneira pejorativa Noel Rosa, compositor de samba brasileiro do inicio do século XX, escreveu uma opereta, em 1935, chamada Anoiva do condutor. A opereta conta uma histéria de amor no Rio de Janeiro, satirizando a moral e os bons costumes do periodo. Na histéria, um homem apaixonado e pobre tenta conquistar 0 coracdo da amada, que é de uma familia rica. Por isso, ‘ohomem enfrenta um problema: a familia dela & contra o namoro. Com ironia e muito humor, Noel Rosa tece criticas a sociedade carioca do periodo. PARA SABER MAIS. Vocé sabe quem criou a opereta? Jacques Offenbach é considerado o criador da opereta. Muitos compositores 0 seguiram nesse novo estilo, como Gilbert € Sullivan, na Inglaterra, e Johann Strauss e Franz Léhar, na Austria. Jacques Offenbach tinha uma forte veia satirica em suas ‘composicées, muitas vezes elaborando parddias de grandes ‘Operas sérias e transformando-as em espetaculos bem-humo- rados, répidos e com cenas de danca Seu nome verdadeiro era Jacob Levy Eberst. Ele nasceu em Colénia, na Alemanha, em 1819, e aprendeu os primeiros elementos de miisica com seu pai. Com 12 anos, ja era um vir- tuoso cellista (instrumentista que toca violoncelo) e foi a Paris para receber uma melhor educacdo musical. La, comegoua tocar na Orquestra da Opera Cémica, adotou uma nova identidade e trocou seu sobrenome para Offenbach. Além das operetas, compés varias obras para violoncelo, par- ticipando de turnés de concertos nas principais capitais europeias. Em 1858, os espetéculos cénicos comecaram a explorar, com humor, 0 espirito boémio da vida parisiense. Foi nessa época que a primeira opereta de Offenbach, Orfeu nos Infernos, estreou. Nela, um de seus temas musicais, o canca, ficou muito famoso, e sua po- pulatidade atingiu o climax. Em dez anos, ele escreveu 90 operetas, a maioria de grande sucesso, como La Belle Hélene, La Vie Parisienne, La Grande-Duchesse de Gérolstein e La Princesse de Trébizonde. Pouco tempo antes de morter, produziu uma épera, Os Contos de Hoffmann, mas néo conseguiu assistir a sua montagem. Ele morreu em Paris, em 1880, e a estreia da obra ocorreu cinco meses depois, sendo considerado ‘© maior evento da temporada, atingindo grande sucesso e um recorde de 101 apresentagdes. j fo Pees Uma das obras de Offenbach é A Bella Helena (La Belle Héléne), inspirada na mitologia grega, na historia de Helena de Troia. Essa opereta, também considerada uma épera bufa (pera cOmica), foi aclamada por muitos € detestada por outros, que a consideraram indigna e indecente. Porém, mesmo assim, a obra conquistou grande parte do piblico e foi encenada muitas vezes. Leia um resumo dessa opereta. Ato I: Diante do altar de Jipiter, prepara-se uma festa em honra a Adénis. O povo deposita oferendas, que o sacerdote Calcas (baritono) considera muito escassas. Helena (soprano), mulher do rei Menelau, invoca Vénus:“Precisamos de mais amor’. Ela interroga Calcas a respeito do con- curso de beleza no monte ida, onde Vénus prometeu ao pastor Paris o amor da mais bela mulher do mundo. Helena, sabendo que se trata dela, inquieta-se um pouco por Menelau, mas se resigna diante da fatalidade" Orestes (soprano), 0 sobrinho de Helena, acompanhado de cortesis, entoa uma cangao. Paris (tenor), disfarcado de pastor, seduz imediatamente a rainha, Mas eis que se apresentam os reis: os dois Ajax, 0 “impetuoso Aquiles” (tenor), Menelau, “0 marido da rainha’ (tenor), Agamémnon,"o rei barbudo"(baritono). Eles organizam um concurso de ditos espirituosos que Paris,“o homem da maga vence facilmente. Helena, encantada, convida-o para jantar. Para que fiquem a sés, Calcas anuncia que, por ordem de Zeus, Menelau deve partir para Creta e la ficar um més. ‘Ato Il: Helena resiste ao assédio insistente de Paris. Os reis jogam “o jogo do ganso’, Calcas trapaceia. A rainha pede ao sacerdote um sonho agradavel: assim que ela adormece, Paris se introduz em seu quarto e a faz pensar que se trata apenas de um sonho. Eles esquecem a hora e Menelau os surpreende. Furioso, ele acusa os reis, que zombam dele e depois decidem expulsar Paris de Esparta. ‘Ato Ill: Numa estagdo balnedtia Orestes e suas amigas falam de Venus e esta para se vingar inflama de desejo todas as mulheres da Grécia. Menelau convoca 0 grande Augure de Vénus. Numa galera, com a bandeira de Citera, aparece Paris disfarcado. Ele anuncia que Venus perdoara Helena, se ela fizer uma peregrinagao a itera. Assim que Helena entra a bordo, Paris se desmascara e revela sua intencao de rapta-la SUHAMY, Jeanne, Guia da Opera: 60 operas célebresresumidas e comentadas. “Tradao: Paulo Neves Fonseca. Porto Alegre: LPM, 1985, p. 138. 1. Como Offenbach trata os deuses nessa opereta? 2. Como o autor da opereta mostra a sociedade grega? 3. E possivel perceber que ha trechos cantados na opereta? Por qué? ( A Era do Radio - Relacionando conceitos

caracterizava-se por apresentar caracteriza-se mmisturava porgBisiantad

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