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POLICY PAPER A crise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental Izabella Teixeira Ana Toni Resumo: () texto aborda a crise ambiental-climatica a partir da perspectiva do debate internacional sobre 0 meio ambiente ¢ os desalios atuais para a politica ambiental brasileira, com especial atengao & Amazénia ¢ as perdas recentes na sua politica de conservac4o. Além disso, o texto também discute os desafios as formas locais ¢ internacionais de governanga climatica, em um contexto politico global que favorece 0 multilateralismo. Palavras-chave: meio ambiente; AmazOnia; gov tak-climéticas multilateralismo. nanga climatica; crise ambien- The environmental-climatic crisis and the challenges of contemporaneity: Brazil and its environmental policy Abstract: The text approaches the environmental-climatic crisis from the perspective of the international debate and the current challenges for Brazilian policy, with special attention to the Amazon and the recent losses in its conservation. In addition, the text also discusses the challenges to local and international forms of climate governance, in a global political context that favors multilateralism. Keywords: environment; Amazon; climate governance; environmental-climatic crisis; multilateralism, ‘Ano 1/N21/ Jan-Mar 2022 + 71 Teixeira & Toni Uma perspectiva do debate internacional ode parecer que a humanidade sempre tenha vivido cm um estado perma- nente de transigao e que isto é desejavel e positivo. Ja passamos por grandes transform: cnolégicas, gucrras, revolugées culturais ¢ educacionais, profiundas reorganizacées geopoliticas ¢ pandemias. Sem diivida todas essas mudan- cas nos afetaram direta ou indiretamente, Entretanto, é a primeira vez que vivemos uma “transigao” induzida por desafios de uma crise planetaria, imposta pela nossa deshalanceada relagio com a natur Uma transi¢aio em que 0 tansgressor ea vitima sio a prépria humanidade, Apandemia da Govid-19 ¢ ilustrativa dos d ‘io somente global. A viv .afios impostos por uma crise pla~ netaria, 1 cia da crise climatica (com eventos extremos cada vez mais frequentes ¢ espraiados pelo mundo) ¢ 0 potencial colapso de processos ecol6gicos que sustentam nossas sociedades (como a perda de biodiversidade ou o sur- gimento de novas doengas fatais) evidenciam situagdes de incerteza ¢ vulnerabilidade criadas pelo ser humano e que colocam em tisco existencial a propria humani dade ou, no m A crise ambiental planetaria, imo, que trazem so! mento absurdo, incabivel moralmente, materralizada pelas mudangas de milhares ¢ milhares de pessoas. climaticas, evidencia também A. crise ambiental planetéria, de forma conereta nossas materializada pelas mudangas climat : . ~ cas, evidencia também de forma c incapacidades, desatengao e creta_nossas incapacidades, desaten- até arrogdncia na relagdo do gio ¢ até arrogincia na relagio do ser ser humano com a natureza. humano com a natureza. Ja sabemos que nao ha como controlar o elima ou to pouco retroceder no tempo ¢ ter de volta ne ‘ondigies existentes anteriormente do plancta determina que os esforcos possiveis ¢ urgentes sito de mitigagio das emissdes as a algum grau de seguranga climatica no futuro e de adapta- Gao as novas inevitaveis realidades ambientais, 4 consolidado aumento da temperatura em 1,1 °C da super de carbono, com v Izabella Teéxeira é PhD em Planejamenio Enereétio pela UFR ex-minstra do Meio Ambiente do Brasil (2010-2016) ¢ Conseleira do CEBRL Ana Toni ¢ Doutora em Giéncias Poitcas pela UERG, Mestre em Relagies Internacional pela Louden School of Exonomics ¢ Graduada em Economia ¢ Desenvolvimento pela Universidade de Wales. E:dirtora executiva do Instituto Clima e Sociedade (iC). 72 + CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental Essas novas realidades ambientais convivem com mudangas no campo poli- ico, modeladas por transformagdes sociais ¢ cconémicas, pelo medo e a inseguranga ¢ pelo impacto das inovagées tecnolégicas. A humanidade ¢ o planeta esto expostos a uma mutacio de miltiplas dimensdes, com processos disruptivos ¢ impactantes nos modelos de percepgao ¢ de analise do mundo contemporinco. Uma metamor fase do mundo mais do que se insinua, se anuncia. Na perspeetiva de um mundo em transigho, é findamental deter um olhar mais atento sobre a inserc&o da temdtica ambicntal-climatica na compreensio das dinamicas politicas ¢ econémicas contemporaneas internacionais! ¢ na expressio do balanceamento global de poder. A vida social organizada que se conhece est exposta a possiveis colapsos pelas incertezas e vulnerabilidades impostas pela tripla crise ambiental global: as mudangas do clima, o colapso da biodiversidade c a poluigao ambiental, As trajetérias de desenvolvimento consolidadas até hoje nao afiangam um futuro seguro ¢ sustentavel c, ainda, determinam imensas incertezas no presente. Um aspecto-chave halizador dos desafios impostos pela crise ambiental-climatica deveria ser a rejeicdo de “balas de prata” para lidar com a complexidade do desafio e a pro- cura por solugées duradouras ¢ verdadeiramente inclusivas ¢ globais. Se 0 século passado consolidou o reconhecimento dos problemas ambient: globais (¢ nao mais a perspectiva dos impactos ambientais locais ou transfronteiri- 0s) ¢ a defesa de uma ordem muhilateral, as primeiras duas décadas do século XXI terminam moldadas pela necessidade de agir, orientando-se por solugdes de produ= G40, consumo ¢ de investimentos que possibilitem uma urgente descarbonizacio da economia mundial, ao mesmo tempo em que assegurem resiliéncia de longo prazo. Observa-se que 0 didlogo internacional contemporaineo ja visa a essas solu des duradouras, mais permanentes, adaptaveis ¢ inclusivas de desenvolvimento (sustentavel), Tais solugdes devem traduzir acées afirmativas em relagao aos medos cas vulnerabilidades resultantes da perda de referéncias que a crise com a natureza {ja determina 4 humanidade. Sociedades desestabilizadas ¢ acuadas buscam incessantemente pelo novo, por caminhos alternativos ¢ roteiros distintos, por outras liderancas ¢ pela vontade de vol- tar a acreditar. Porém, a arquitetura politico-ccondmica de busca dessas solugdes no curto prazo revela-se complexa ¢ com reduzidas possbilidades de abrangéncia/res- posta global, Infelizmente, na disputa por poder, este é também um ambiente fértil Cate ciara cusgronsdrancae soc creroznns reasons aver zetaodel eat renasirl (ota 2018) ce que sero ecrertae ambem pas roca terpas polos dara donrapocena toe oertancim=nto Ga versed da aindades hurarce eo eben atte de ave o Aepeceo enor um undo dena Go rte ov Sea em sustuss ests tarconectac smn qunsuarcennces ena naman sus apg mmaaes)a0-unso nal meer se vetapormuss ‘epecaletas como um conoata abate em construe, aida Geum Era do rtepocana pomeve os camps geopaice,atrosterea © ncaa Kal 2019), ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 - 78 Teixeira & Toni para negacionistas, populistas nacionalistas, vendedores de “balas de prata” ¢ ice riders, Os desafios impostos & humanidade pela crise ambiental-climatica deman- dam, entretanto, numa velocidade sem precedentes, roteiros de cooperacio interna- cional ainda mais profizndos. ‘Tais processos envolvem movimentos politicos abran- gentes, moldados agora por novos atores € valores balizados pela inclusio e a justiga social e que estejam alinhados com as ambigSes politicas das novas geragées (futuro) Esses aspectos associados & busca por uma nova relagio do homem com a natureza, na qual os processos de desenvolvimento sio pensados com ¢ em harmonia com a natureza ¢ nao contra cla ou saqueandoa, delinciam a demanda por uma revolugao verde no mundo. Novas dindmicas de cooperagao internacional comecam a emergir, transcen- dendo 0s modos tradicionais de cooperagao entre paises ¢ explicitando os interesses/ comprometimentos dos sctores privado ¢ financeiro ¢ da filantropia internacional. O sistema politico internacional no seu modo analdgico nao tem como acompanhar ou até mesmo lidar com essas emergentes transformagées politicas de produgio e de repactuagao social no mundo, Neste sentido, a transicao verde nao é s6 tecnolégica, é muito mais transigio e transformagao politicas. Nunea fomos colocados a teste, mas parece que o mundo nao esta preparado para lidar com as crises provocadas por processos to disruptivos da natureza, ¢ to pouico com crises que transcendem os aspectos globais ow internacionais. O spoiler que a pandemia da Covid-19 nos oferece evidencia as insuficiéncias das instituigdes internacionais ¢ nacionais, além de explicitar a necessidade de construgao de novas premissas politicas para a mobilizacio, 0 engajamento ¢ © comprometimento de sociedades ¢ de governos. © documento Ou Common Agenda, do secretrio-geral das Nagies Unidas, langado em 2021, evidencia 0 ponto de inflexdio na historia da humanidade que experimentamas nos tempos atuais. Além de expressar 0 momento critico ¢ a com- plexidade que se impdem as (urgentes) escolhas do mundo no presente, indica que a necessaria mudanga de rumos determina nao apenas a reconstrucao do mundo em que vivemos, mas também a retomada da solidariedade ¢ da confianga entre pessoas, sociedades e paises. reconhecimento de que os desafios da humanidade neste século esto cada vez mais interconectados ¢ que transcendem fronteiras, governos e sociedades pauta essa visio politica, além de orientar as discusses da renovagao c da busca de novos 2 Agen (Nace Unidas 2021) tem ae proposes cave exrutwadee em 12 comacoiseosaliohades coma corse doe Obitvo do sS temos como Uma nova visio politica tera que se orientar por scis pilares que definiram os neces (08 (novos) espacos de ampliagio do multilateralismo ¢ da cooperagio inter- nacional: (a) 0 enfrentamento a tripla crise ambiental como central; (b a renovagao do contrato social entre governos nacionais ¢ sociedades na atuagio em espagos de governanga internacional; (c) o fim da inodemic e 0 balizamento de acordos inter- nacionais orientados por fatos, ciéncia e conhecimento; (d) a necessaria mudanca na radicalizagao da transparéncia em torno da mensuracao da implementagio dos compromissos, ¢ seus impactos no progresso ¢ na prosperidade econdmica ¢ social como balizadores dos investimentos de longo prazo; (c) a superagio do curtoprazismo ca valorizago das entregas de longo prazo e da perspectiva intergeracional; ¢ (f) um novo sistema multilateral inclusivo € networked c centrado numa ONU mais efetiva € mais dgil A inexoravel nova relagio do homem com a natureza (imposta pela crise ambiental-climatica) exigird também mudangas deliberadas ¢ conscientes nos valo- res sociais: um redirecionamento de toda a economia transformando a produgio, a distribuig2o c 0 consumo em qualquer um dos setores (Mazzucato 2020). As trajet6~ as possiveis sio diversas e distintas em fungo das realidades democratica, ambien- tal, social ¢ econémica de cada pais ¢ da vontade politica de mudanga. Mas todas orientadas por serem convergentes com as perspectivas de longo prazo ¢ o futuro do planeta ¢ da humanidade, como comegamos a ver nos Green Deals curopeu ¢ ame- ricano, na proposta chinesa de Civilizagio Ecolégica, ou nas propostas verdes de retomada de crescimento econémico mundial pés-pandemia da Covid-19. Esses pontos de partida estao referenciados pelos Objetivosdo Desenvolvimento uustentavel (ODS), o Acordo de Paris ¢ pela arquitetura P6s-2020 da Convencio sobre Diversidade Biolégica (CBD), Com os ODS, definides em 2015 ¢ monitorados anualmente, as regras do jogo climatico finalmente acordadas no Pacote de Glasgow, na Conferéncia das Partes, a COP 26, ¢ a esperada conclusto das novas metas de Biodiversidade que vir na COP 15 da CBD oferecem um arcabougo pactuado ¢ élido para o alinhamento de visdes, dos roteiros econémicos ¢ de financiamento, As responsabilidades sio compartilhadas, com papéis ¢ regras definidos para todos. A perspectiva temporal determina, com metas para 2030 ¢ com 0 compro- metimento de neutralizacao de emissdcs até 2050, a recomposigao de uma positiva do homem com a natureza, Onde entio residem os impedimentos p: avangos to urgentes ¢ necessirios? ‘Ano 1//NP1 / Jan-Mar 2022 + 75 Teixeira & Toni Infelizmente, 0 imatica & como agir” no enfrentamento da crise ambicntal-c refém de pelo menos cinco aspectos relevantes: a. as incertezas determinadas pela pressio © a predominancia de interesses poderosos ¢ arcaicos consolidados, ¢ de suas visdes de curto prazo diigidas pela disputa de espagos para solugées do passado que naio mais cabem no futuro; b, asambiguidades de natureza politica ¢ econdmica decorrentes de ambigao de mitigacdo vis-a-vis os desafios impostos por trajetérias de descarboni- zacao e solugdes resilientes ¢ duradouras, ¢ as limitacdes impostas pela sobreposigao dos interesses de curto prazo; ©. as ambiguidades decorrentes de ambigao de mitigagio derivadas da meta- limite de aumento de até 1,3 °G da temperatura da superficie do planeta até 2050 em face da viabilidade de lidar/superar os interesses de curto prazo ¢ ensejar na transi¢io climética a adoco cocrente de solugdes resi- licntes e duradouras; d, a nao consideracao do jA constatado aumento de 1,1 °C da temperatura do planeta como ponto de referéncia para a transicao elimatica e para as alternativas de curto prazo; as ainda incipientes discusses sobre as mudangas culturais, politicas ¢ sociais, ¢ a disputa entre modelos de governanga politica mais ou menos democraticos ¢ eficientes para lidar com os novos desalios sociai A nao abordagem objetiva ¢ transparente destes aspectos favorece que consti~ wencies politicas © econdmicas “com prazos de validade vencidos” busquem “com- prar tempo” na tansicio ambicntal-climatica. Estatégias para o phasing out de pro- cessos econdmicos causadores do problema ambiental-climatico se contrapdem aos imteresses expressos nas propostas de phasing down, caracterizando tensdes politicas que encerram ou atrasam os processos de decisio. Com a adogio do Acordo de Paris, em 2015, 0 driver climdtico na agenda politica internacional consolidou- © como um dos mais importantes temas contemporancos, O reconhecimento politico do problema foi afirmado globalmente na Conferéneia Rio 92, com a adog&o da Conveng%io-Quadro das Nagdes Unidas sobre Mudanga do Clima (UNFCCG) ¢ 0 estabelecimento do regime climatico global. Em 2015, © reconhecimento politico envolven a corresponsabilidade de paises ¢ de socieda- des na construgao de solugdes permanentes de enfrentamento ¢ de adaptagao as 76 + CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental mudangas do clima, num alinhamento com as dinamicas e ulo XXL se tecnoldgicas de emissoes de gases de efeito estufa no sé O fiacasso das solugdes preconizadas pelo Protocolo de Quioto quanto as r ponsabilidades histéricas dos paises desenvolvidos ¢ o agravamento da crise climatica por conta do aumento de emissdes evielenciadas na primeira década do atual século levaram ao quadro politico de construcio c de negociagio do Acordo de Paris, Em 2021 a Conferéncia das Partes em Glasgow, a COP 26, definiu as regras necessirias para “implementar Paris” ¢ revelou a dimensio ¢ a envergadura politica © econdmica que a agenda climatica ganhou nos tiltimos seis anos. Os processos politicos evidenciados por Glasgow foram bem além das salas ¢ dos textos de nego- ciacao. As vozes das sociedades do mundo li estiveram ¢ nao somente nas ruas, Tomaram as arenas da Conferéncia e influenciaram diretamente as negociacbes ofi- ciais por intermédio das declaragées voluntarias assinadas, que mobilizaram paises/ governos, sociedades, a academia ¢ 0 mundo dos negécios ¢ das finangas As decisdes que compéem o Pacate de Glasgow foram adotadas pelo sistema mul- lateral do regime climatico, como Paris preconiza. No entanto, cabe observar que os en ‘cos ¢ assustadores alertas dos cientistas ¢ as “demandas politicas das ruas” pressionaram ¢ influenciaram os processos de tomada de decisio, Expuseram as fra- gilidades do jogo politico do sistema de governanga climatica, bem como as incon- sisténcias/incoeréncias dos players importantes num contexto multipolar internacional. A polarizagio geopolitica entre as duas superpoténcias globais, os Estados Unidos ¢ a China, nao teve 0 palco esperado em Glasgow. A Declaragao Conjunta Estados Unidos-China sobre clima, la assinada, deu um sinal promissor de que, a es, a porta para a cooperagao Washington-Beijing permanece aberta. O representante americano, John Kerry, chegou a comparar esta declaragio com 0 Acordo de 1986, entre Reagan ¢ Gorbachev, res (Amaral 2021) despeito das ameagas ¢ das fr obre armas nuclea- ACOP 26 expés outras dindmicas politicas traduzidas nos interesses da Unido Europeia, india, Africa do Sul, Japao, Indonésia, Golémbia, Chile ¢ Australia, pai- ses produtores de combustiveis fosseis, além do proprio anfitriao, o Reino Unido. Os fios desencapados foram expostos ¢ vao demandar esfor% truco da confianca nas relagdes entre paises desenvolvide Ou, ainda, para lid cooperagio Leste-Oeeste, além das tradicionais rotas da cooperacao Norte-Sul os adicionais para a recons- s ¢ em desenvolvimento. com outras rota de interesse internacional que envolvem a As contradigdes © as ambiguidades c lidade ¢ a confianga no sistema multilateral de governanga ambiental-climatico ¢ denunciam a complexidade da implementacao do Acordo de Paris. A perspectiva io expostas, comprometem a credibi= ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 - 77 Teixeira & Toni de resultados transformadores efetivos no contexto da década de transic&o elimatica (2020-2030) revela-se frdgil, no minimo, Pela ciéncia, o desafio imposto ¢ de corte de até 2030. Os efeitos das mudangas climaticas ja so senti- dos pela humanidade expressos pelo aumento da frequéncia de eventos extremos climaticos ¢ por vulnerabilidades aos sistemas econdmicos, seja, no é preciso esperar pelo futuro (do ambiguo 1,5 °C de aumento de tempera- tura), pois os efeitos do aumento de 1,1 °C ja 5% das emissies globa inanceiros € sociais, ou (0 sentidos no presente. cis ou de O papel (ainda) preponderante de dependéncia de combustiveis fs interesses geopoliticos de paises produtores de petréleo ¢ gas determina passos m: Ientos para a transicao energética ¢ climatica. Eos retrocessos obscrvados na agenda de uso da terra em paises em desenvolvimento, notadamente com 0 aumento do desmatamento ¢ da vulnerabilidade dos territérios protegidos — indigenas, de popu- lagdes tradicionais de conservagio ~ revelam as contradigdes da aco politica glo- bal para enfrentamento das mudangas do clima. As promessas politicas anunciadas esto aquém do que é importante ¢ nec sitio, O Acordo de Paris tem 0 scu coragao no artigo 4, que trata da progressividade da ambigio climatica ¢ da consecugdo dos caminhos convergentes para um mundo de baixo carbono. A tese predominante do momento deveria estar pautada por doi importantes pontos: a. a busca de compromissos adicionais de aumento de am| por pai temper igho de mitigagao, °C de aumento de ede governos, orientados pela meta de até 1 atura; b. a visio estratégica de neutralizagao de emissies de gases de efeito estufa em 2050, Entretanto, as de ambigio se acumulam sem uma avalia~ cao estratégica de viabilidad nacionais ¢ da adogao de mecanismos que proporcionem a inclusao de todos os pai- ses signatarios do Acordo de Paris. Se, por um lado as dindmicas politicas de mobili- acio ¢ de engajamento sio fragmentadas, parciais ¢ no inclusivas, por outro, nao Jevam em consideragiio a ambiguidade politica do presente: a predominancia do olhar para o futuro (1,5 °C) ¢ 0 nao destaque para as possiveis wansformagées, j4 em curso, resultantes do aumento de 1,1 °C que a superficie da ‘Terra ja experimenta em fungio do aquecimento global. e, sem considerar © real engajamento das sociedade: Revela-se relevante, assim, uma melhor compreensio do papel da crise ambiental-climatica nos novos arranjos geopoliticos globais ¢ a manutengio do 7B - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental equilibrio de poder entre paises. Na Era do Antropoceno, a dependéncia da huma- nidade de recursos natu que se mantenha 0 seu processo evolutivo natural) em relagdio ao homem também © € para manter suas dindmicas evolutivas. A interconectividade homem-natureza que © antropocentrismo anuncia determina 4 humanidade a responsabilidade de r 0 cquilibrio entre os sistemas de demanda e de oferta de atives ambienta ais 6 evidente, assim como a dependéncia da natureza (para assegura © a integridade de processos ecolégicos (Klabin 2019). No conjunto dos desafios de realinhamento da humanidade com a contem- porancidade, um outro debate importante ¢ emerg humana no mundo ¢ para onde iremos. Imaginar futuros possiveis, planejar ¢ eseo- her sobre eles esto na base das nossas visdes conflitantes sobre o futuro da rel nte reside no lugar da espécie cdo do homem com o resto da natureza. A perspectiva de auséneia de limites que se insinua com os avangos da ciéncia e da tecnologia configura possibilicades de rede- senhar a biologia ¢ a natureza humana como desejamos, numa sclecio volitiva ¢ nao mais natural (Wilson 2018) Bidlogos conservacionistas concordam que intimeras espécies sero extintas sem serem sequer reveladas. E 0 impacto da espécic humana sobre a diversidade biolégica se mostrara cada ve mais devastador. Segundo Edward Wilson, em pou- cas palavras, 0 impacto humano sobre a biodiversidade 6 um ataque a nés mesmos, Assim, um poss crise ambiental-climatica ¢ revela um paradoxo: quanto mais espécies a humani= dade extermina, mais novas espécies sio descobertas pela ciéncia (Wilson 2018). A velocidade desse exterminio nos tempos atuais é sem precedentes, O debate politico que se segue é no sentido de conter esse processo de aniquilacio da diversidade bioldgica ¢ de fazer predominar uma relacio positiva do homem com a natureza. Portanto, o enfrentamento da crise ambiental-climatica demanda solugdes baseadas na natureza, com impactos positivos ¢ orientadas pela resiliéncia ¢ a conservagao dos ativos ambicntais. el colapso da biodiversidade esta também sob o guarda-chuva da O tema da governanga ambiemtal-climética imernacional &, desta forma, um, tema de sobrevivencia humana e, por isso, implica novos olhares ¢ ousadias. Nao somente porque as estruturas institucionais internacionais existentes estiio desenha- das para operar em dindmicas analégicas, enquanto as sociedades ja operam e rei- vindicam dindmicas digitais-teenolagicas, mas também porque, para lidar com os desafios ¢ a urgéncia da transicao ambiental-climatiea, ha que se rever a motivagio que leva os paises para a mesa de negociacio multilateral. A esse respeito vale observar que a negociagao elimatica internacional expli- citou ainda mais as assimetrias de realidades ¢ de possibilidades de escolhas pelas ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 - 79 Teixeira & Toni sociedades de paises desenvolvides ¢ em desenvolvimento. Aprofundou também 0 ice de confianca ¢ de credibilidade politica no que concerne aos governos de paises desenvolvidos, particularmente na alocagao de recursos financeiros ¢ tec- nol6gicos para o mundo em desenvolvimento, ¢ seu genuino interesse em viabilizar solugées verdadeiramente de ambito global e resilicntes baixo in Num ambiente politico conturbado ¢ com convicgdes politicas envelhecidas, o debate sobre este tema se movimenta através de interlocugdes predominantemente improvisadas, nio planejadas. Nao se wata da descrenga do s, para que o muhilateralismo se torne essencial na solugao reativas, muitas veze: jismo. Ma da cr ntal-climatica, cle precisa de reforgos extraordinarios, muito além dos ja consolidades ritos diplomaticos, que acabam transferindo ao proceso mul- tilateral os problemas individuais dos Estados-nagio ou interesses vinculados ‘Tempos extremos exigem a relagées bilatcrais ou regionais estabe- did a lecidas. A presente coreografia do pro- medidas extremas, ¢ isto ndo cesso multilateral na resolugio da crise significa que estas medidas planctiria ambicntal-climatica nao precisem ‘ser autoritdrias ou pode ser sequestrada por uma dindmica ae fortemente liderada por democracias excludentes. Este nao é 0 iliberais, regimes autoritirios, paraisos ‘momento para uma linguagem fiscais, ou ditaduras populistas vulgares € outros Estados-nago semelhantes. acordada, mas para © atual sistema de criagdo de iniciativas transnacionas, consensos globais nao tem conseguido comportamentos insurgentes emanar a confianga que as sociedades. urge. Apesar do importante ¢ relevante legado esta- belecido até 0 século passado, a governanca global construida através de processos multilaterais analégicos c progressistas é limitada para lidar com o presente, para nao falar do futuro que se aproxima, multilate ¢ ambi e inovacoes ousadas. demandam e que acié E preciso dar atengo ao futuro agora, para ajudar na reconfiguracio do presente. © velho modo de agir multilateralmente esta morto ¢ um novo ainda nao é visivel no horizonte, O mundbo se encontra entre um passaco que desaparece eum futuro nebuloso (Gactani & Teixeira 2020). E hora de experimentagdes mais ousa- das, £ hora de radicalizar na escolha de processos ainda mais transparentes, cola- borativos, diversos Hlexiveis que respeitem a inclusio de todos, mas que também respeitem a necessidade de uma transi¢ao répida ¢ transformadora. O lidar com a crise ambiental-climatica determina isso. E a urgéncia do presente. 80 - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental Tempos extremos exigem medidas extremas, ¢ isto no significa que estas medidas precisem ser autoritarias ou excludentes. Este nao é 0 momento para uma linguagem acordada, mas para iniciativas transnacionais, comportamentos insur- gentes e inovagdes ousadas. A situacdo atual é mais grave. Nao superaremos a crise ambiental-climatica sem 0 engajamento pleno, sério ¢ inovador de todos os que se preocupam com o futuro, E hora de se concentrar no “como” tanto quanto no “o qué” eno “quem”. E de nés que estamos tratando ¢ daqueles que virio no futuro. £ tempo de cuidar do legado combinado das geracdes atuais e que tém a natureza como uma aliada c nao como inimiga, que precisa ser dominada ou controlada. E preciso colocar em prati aleitura simples daquilo que as novas geracoes ja adotam para si: “em relagio & crise ambiental-climatica, se vocé nao é parte da solugao, voce é parte do problema” a Brasil: a singularidade do presente e as escolhas ainda possiveis Crises globais usualmente impéem custos para todas as nagBes e suas socieda- des. A pandemia tem sido um teste duro, dilieil para todos, mas nao de forma homo- génea. O avango descontrolado da doenga impés medos ¢ incertezas para todos. Mas 0 sofrimento mais agudo foi sentido por paises com governantes minoritarios, despreparades, incapazes de equilibrar 0 proceso politico ¢ agir prontamente em crises (Abranches 2020). Lideres que desprezaram os alertas da ciéncia em nome dos seus planos politicos. O Brasil sequéncias ¢ efeitos dessas escolhas que no devem ficar circunscr menor, infelizmente, foi um desses paises ¢ experimenta con= asa um tempo al situagao nao se limita a crise global da satide. Em um movimento politico claramente patrocinado pelo governo federal ¢ apoiado por sua base parlamen- tar, o Brasil promove retrocessos que avangam cm outras areas, notadamente nos segmentos das politicas sociais, ambicntal-climatica, na ciéncia, na diplomacia, nos dircitos humanos, na inclusio politica, na cidadania ¢ no campo democratico, O Brasil do presente é um pais ultrapassado, dlistante da contemporaneidade, menor em relaco ao seu passado e que vem progressivamente abrindo mio do seu lugar no mundo, Declaradas como uma das areas-alvo de desconstrucio pelo governo federal copiada a partir de um template trampista que veio até a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris ~ as politicas ambientais e climaticas, bem como o sistema federal a foram submetidos a um i de gestio ambiental piibli fragilizacao, desmonte ¢ aniquilamento. Os retrocessos promovidos orientaram-se por linhas de ago descritas a seguir: {tenso € continuo proceso de ‘Ano 1//NP1 / Jan-Mar 2022 - 81 Teixeira & Toni a. Esvaziamento da estrutura organizacional do Sistema Federal de Meio Ambiente, agilizacao das capacidades institucionais dos érgaos federais ambientais ¢ afrouxamento das normas ambicntais ¢ climéticas; b, Eliminagao dos espagos politico-institucionais de formulagio de politicas plblicas de participaciio da sociedade civil; c. Desmonte dos dominios da diplomacia e da ciéncia dedicada as politicas ambientais-climatic as; d, Amazénia exposta ao crime ambiental, ao desmatamento sem controle ¢ A fragilizagdo dos territories protegidos, notadamente as terras indigenas, territ6rios quilombolas e Areas de conservacao; ©. Revisio/afrouxamento da legislagdo ambiental com o apoio da sua base parlamentars Ne g Ruptura c desmonte da agenda brasileira de cooperagao ¢ da interlocugao internacional multilateral ¢ bilateral, egacionismo climatico como diretriz politica de governo: Isto ocorre no momento-chave da emergéncia da temética ambiental-clima- tica para a centralidade da agenda internacional contemporanea, deslocando o Br sil de um lugar ambicionado, no qual 0 pais ¢ lideranga. Os argumentos politicos adotados pelo governo sio débeis, equivoca- até recentemente tinha protagonismo dos, estreitos ¢ revelam a magnitude da ignorancia de seus defensores. O pais esta exposto ao que ha de mais retrégrado, deslocado do tempo, ¢ © alcance do dano ainda é pouco conhecido por sua sociedade. O proceso de recuperacio nao sera trivial e no pode ser orientado pelo pa sado, pelo que tivemos ou ja fomos. Assim como na agenda de governanga global ¢ multilateral, a reconstrugio da governanga ambicntal-climatica nacional deman- dara ousad , criatividade ¢, por que nao, também sera disruptiva, Uma premissa importante é assegurar que a tematica ambiental-climatica permeie a sociedade brasileira como um dos alicerces da ambicao de qualidade de vida, equidade, bem-estar ¢ do seu crescimento econdmico, Um dos desafios-chave é estar no dia a dia das pessoas ¢ das empresas como uma agenda tangivel, mode- Jada por valores que promovam a convergéncia de perspectivas ¢ incluso politica, econémica ¢ social num pa extremamente desigual, O processo politico nao deve ser balizado pela reacao as perdas ¢ aos retro- cessos, ¢ sim por viabilizar alternativas, solugées ¢ acesso aos problemas sociais ¢ 82 - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental econdmicos estruturais que enfrentamos como nagiio. A pactuagiio do que seremos como sociedade em 2050, ou seja, na segunda metade deste século, deve ence complexidade das nossas realidades ¢ ter clareza sobre o que fazer. © Brasil precisa saber mais da importincia do Brasil no mundo, ¢ a agenda ambiental-climatica pode conferir algum protagonismo. ara Nesse proceso € fundamental o Brasil valorizar e proteger sua biodiversidade, seus biomas, suas populacdes tradicionais como as estruturas fundantes de nossa iden- mo uma nagio soberana “Verde” tidade nacional, fortalecendo assim o Brasil No curto prazo precisaremos agir em duas diregde &. conter 0s retrocessos ¢ reparar os clanos associados (no que couber); & b. estar realinhados com a contemporaneidade com base em interesses nacionais. Para isso, é preciso que o Brasil defina 0 que que a agenda ambiental-climatica nessa visio, segundo as suas perspectivas estratégicas ‘0s seus interesses € repactue © 08 valores orientadore requer vontade politica de mudar, O que deve ser preservado tem que se contrapor ao que precisa ser deixado para tris. E importante entender as novas realidades globais ¢ as locais, que esti em processo de metamorfose, ¢ ser sibio na alocagio de energia para o dia seguinte. E, obviamente, entender os erros do passado ¢ (re) pactuar com a sociedade os novos rumos, lidando com os seus passives que vém de Jonge. Nao pode haver mais espagos para a miopia politica que promove aventurci- ros ou para o achismo ambiental que esvazia o peso politico da agenda, de sua democracia. O desafio demanda mais que ousadia; Como sinalizado anteriormente, até 2030 0 proceso politico da agenda ambiental-climatica retine fatores que insinuam uma profunda e rpida transforma- co civilizatori compreender a velocidade das transformagdes em curso orientadas pela neutraliza- cdo ¢ a descarbonizacio da economia global. a, Nas eras do Antropoceno e da inovacao tecnolégica, ¢ importante A adogao do Acordo de Paris estabeleceu globalmente a mudanga de rumos. © expectativas sobre a descarbonizaga » € a emergéncia de uma nova sociedade con= temporanea, O Brasil foi um dos protagonistas dessa formulacdo, ndo somente pelo engajamento politico de seus governos e sociedade e pela competéncia da sua diplo- macia ambiental, mas também por aprese mitigagiio em 2015, quando foi afirmativo, consistente ¢ transparente em relagio a ‘és fundamentos importantes: taro seu compromisso de ambigio de ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 - 83 Teixeira & Toni alinhamento da agenda climatica com as desenvolvimento; suas perspectivas de b. a ciéncia climatica e a diplomacia como fiadores da sua interlocugao e credibilidade internacional; ©. a progressividade de suas politicas ambientais e sociais ¢ da sua democra~ cia como balizadores dos seus compromissos, além das capacidades insti- tucionais para a consecugiio dos objetivos propostes. Nos iiltimos trés anos, o que o governo federal protagonizou, no ambito do sistema ambicntal-climético internacional, foi o reverso do que constituia o prota- gonismo, a lideranca, a credibilidade ¢ a expresso de softpewer em politica externa brasileira. Apequenou-se por incompeténcias, fake news, comportamentos eq dos, mesquinhos em relagio ao mundo e ao sistema muhilateral e por posturas poli- ticas que provocaram desconfianga ¢ distanciamento de parceitos. O Brasil perdeu progressivamente relevancia ¢ espagos, além de ocasionar um dano A sua imagem internacional sem precedentes. oca- “Trés processos, ilustrativos desses descaminhos, tiveram grande impacto inter- nacional — a retomada do desmatamento na Amazénia e no Cerrado e 0 de: con trole no seu combate, a infundada interrupgio do Funde Amazénia ¢ 0 wagico processo de revisio da Contribuicdo Nacionalmente Determinada (NDC) do Bra- sil, no Ambito do movimento internacional de ampliagao de ambicao de mitigagio de cmissies pelos paises signatarios de Paris. Essas “flagships” do governo Bolso- 1m a paciéncia do mundo com o Bra As tes posigdes poem em xeque-mate a seguranga climatica do Brasil ¢ do pla- neta, ¢ desdizem quaisquer promessas de alinhamento do pais com a comunidade ambiental-climatica. E aos governos internacionais, mas envolve também a sociedade civil global, os non-state actors definidos no Acordo de Paris. O movimento é de crescente pressio contra 0 pais, afctando outros interesses guardados por politicas econdmicas ¢ comerciais. E, perdido por conta das suas opgiees equivocadas ¢ da sua baixa capacidade de compreender o mundo, o governo federal se posiciona orientado por velhas teses, nao dando conta da magnitude de suas fragilidades ¢ da exposigio do pais. naro esgota il, além de acirrar desconfiangas. se desalinhamento nio se circunscrev A reagio que se observa envolve diferentes frentes: do ativismo resistente ¢ resiliente, do posicionamento de novas constiluencies com diferentes pertis politicos, do posicionamento de atores até agora silenciosos sobre esta agenda — como os gover- nos subnacionais ¢ os membros do Congreso ~ até a mobilizagio e a visibilidade de 84 ~ CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental outros em, de atores na busca de construcio de respostas que expres © as contradigGes da sociedade brasileira sobre essa agenda, como o sctor privado ¢ 10, as posigdes 6 sector financeiro, Emhora ainda carentes de cfetividade politica mais estruturada € de agdes mais concretas na implementacio de acdes, essas importantes reagdes, 68 novos atores ¢ as novas iniciativas revelam a capacidade de mobilizacao social, a consisténcia téenico-cientifica das criticas ¢ da busca por alternativas coneretas ¢ s, além da qualificagio para interlocugées diversas ¢ em diferentes contextos, sejam cles nacionais ou internacionais. A sociedade brasileira se mostra, ainda, mais preparada do que antes para o didlogo contemporaneo com o mundo, do amadurecimento das instituigdes ¢ da nossa demo mais estrutu numa expresso ch facia. Depois de trés anos de desconstrugao de seus ativos e legados no campo ambien- takclimatico, a tentativa de retomada do Brasil teve como paleo a COP 26. A rea- lidade politica nacional se impés ¢ 0 mundo percebeu, com clareza, a existéncia de dois Bras o do passado e o do presente pedindo futuro, liderado por sua sociedade. As posigées do governo brasileiro guiaram-se por trés drivers e no por uma nova visio da agenda: os interesses do sctor privado (notadamente pela regulagao do mercado global de emissdes), 0 controle de dano a imagem do pais ¢ os interesses de assegurar espacos politicos que possibilitem a interlocucio diplomatic: némica no futuro prosimo, Orientado por estas perspectivas, 0 Brasil apresentou uma revisio de sua NDC (uma corregio aritmética de metas para rever 0 desastroso processo de 2020, que explicitou as posigdes fake green do pais), sem qualquer ambi- ao adicional, sem planos concretos ¢ mimeros sem lastro, com a adesio ao grupo de neutralidade das emissdes em 2050 ¢ a meta de fim do desmatamento ilegal, até © eco- 2028, também sem planos. A fragilidade desse novo posicionamento se evidencia pela realidade que se impde. O negacionismo elimatico ainda tem dominios de poder quer no governo, quer na sua base politica no Congreso Nacional. A interlocugio com a sociedade se mantém esvaziada, enviesada no sctor privado retrdgrado ¢ rentista ¢ menor quanto & recuperagio dos retrocessos. A fragilidade do contetido técnico-cientifico da intencio de fim do desmatamento ilegal 6 denunciada pelos recorrentes resulta- dos de aumento descontrolado do desmatamento na Amazonia ¢ pela constatagio de perda de 50% do Cerrado, A adesio as Declaragées de Floresta ¢ de redugiio de metano sio percebidas como intengdes marqueteira uma vez que nada dialogam com as atuais politi- cas publicas. O desmatamento nos trés anos do atual governo federal (2019-2021) aumentou em 79% quando comparado ao perfodo de 2016-2018, sendo que 0 aumento do desmatamento em territérios indigenas foi de 138% (Oviedo et al 2021). ‘Ano 1/1NP1 / Jan-Mar 2022 + 85 Teixeira & Toni ‘As circunstancias conjunturais do “Brasil oficial” sugerem que $6 sera tratada, como contetido es a agenda ratégico de projetos nacionais, no futuro ¢ por outros governos. Assim, a esperanca de muitos de ter © pais de volta aos trilhos da cooperagio global na questo ambiental-climatica se dilui. As incapacidades da instincia federal do poder piblico, a visio de que tudo se resolve no curto prazo pela regulaciio de mercados, o desmonte das politicas publicas ¢ a inexistente eredi- bilidade internacional dos atuais interlocutores definem um quadro sensivel e ‘inico. Os esforgos de conter o retrocesso, que nomeia o atual governo, se contrapoem a realidade politica da Esplanada, que consolida os avangos no desmatamento ¢ no garimpo ilegal na Amaz6nia, que promove a reserva de mercado do carvao mine- ral na matriz energética brasileira ¢ que acclera a fragilizaco dos dircitos de povos tradicionais e indigenas. No lado B dessa prosa, emergem os movimentos da sociedade civil organi- zada— a Concertagio pela Amazénia, 0 Plano Amazénia 2030, 0 movimento dos empresarios pelo clima, 0 Consércio de Governadores do Clima, o Consércio de Governadores da Amazénia, a Iniciativa Clima ¢ Desenvolvimento: Visdes para 6 Brasil 2030, o Brazil Climate Action Hub, os movimentos de justica ambiental ¢ climatica ¢ os movimentos associados s novas liderangas indigenas, quilombolas ¢ outras populagdes tradicionais, dentre outros — que revelam realidades, disputas solugées concretas, que permitem dotar de eredibilidade a ambigao de ter o pais de volta ao cenario da diplomacia ambicntal-climatica. A sociedade brasileira diversa ¢ plural juntou-se “As ruas ¢ as vores do pla- neta” para afirmar no somente 0 compromisso de enlentamento & crise ambien- talclimatica, mas também a consciéncia da corresponsabilidade de todos para lidar com cla, O desmatamento da Amazdnia ameaga a estabilidade do clima do planeta. Torna vulneravel as condigées que favorecem o desenvolvimento do Brasil. A fra- gilizagdo imposta ao pais por conta do descontrole do desmatamento da Amazé- nia e do Cerrado impacta a seguranga alimentar, hidrica e social, a biodiversidade, além de favorecer o surgimento de novas pa Numa ontra perspectiva, permite a explosio da violéncia no campo nas cidades em fungio do acirramento dos conilitos decorrentes da grilagem, da extragao ilegal de ouro, diamantes ¢ madeira ¢ do twafico de drogas. Na tica internacional, além do impacto no cendrio global, impde custos politicos para a nagio no exercici importante papel de lideranga regional na América do Sul, na Pan-Amaznia ¢ na Goopcragao Sub-Sul. ndemias ¢ acelerar as desigualdades io do O desmatamento da Amaz6nia denuncia uma condik io ‘nica que coloca 0 Brasil sob uma nuvem no quadro geopolitico ¢ ccondmico da crise ambiental clima- tica, O desmatamento nao € motivado por interesses econdmico: . A sua pritica 86 - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental criminosa, ilegal c lesa os interesses do Estado e de sua sociedade nos termos de sua Constituicao Federal e de sua democracia. Ao queimar ¢ ao desmatar a floresta, 0 pais queima dinheiro, poder politico ¢ ameaca a sua soberania (ao nao proteger o meio ambiente, o Brasil de hoje nao zela pelo bem pablico e pelos direitos constitucionais do povo brasileiro ¢ nao exerce a sua soberania em relagao aos seus proprios interes- ses). Deixa para tras 0 seu ativo na geopolitica do clima: floresta de pé, Brasil de pé. E, ainda, deixa escapar (mais uma vez) a oportunidade de promover, de fato, uma agenda para o desenvolvimento sustentavel da Amaz6nia, que ocupa quase 60% do territério nacional e detém uma populagio de cerca de 27 milhdes de habitantes. Uma das condigies estratégicas que a ciéncia assinala para 0 ent da crise ambiental-climatica ¢ a protecdo/restauracao dos ecossistemas florestais. © Brasil queima florestas e emite carbono acolhendo o crime ambiental ¢ compro- metendo 0 seu desenvolvimento, além da estabilidade climética da ‘Terra, Nao é solidario com o planeta ¢ agrava as incertezas associadas as emissdes de carbono. O desmatamento ilegal da Amazénia responde por cerca de 50% das emissées brasi- leiras de gases de efvito estula (em 2015, cram 15° das emissdes totais) ¢ coloca 0 rentamento Brasil entre os maiores emissores do mundo. O argumento de que emitimos histori- s explica a trajetéria do passado. A realidade é que como signatarios do Acordo de Paris estamos sujeitos as atuais regras internacional camente 3% das emissdes globa de mitigagao ¢ de adaptagao climatica. O pais pratica hoje 0 jogo dos (muitos) erros ¢ da ilusio de “comprar tempo” com base nos ativos ambientais resultantes das poli- ticas adotadas por governos anteriores. lronicamente, parece no se dar conta de que a crise ambiental-climatica ja movimenta interesses em outras constituencies politicas ¢ econdmicas. O debate inter- nacional, que tradicionalmente foi conduzido pela agenda de energia ¢ a vilania dos combustiveis fésseis como principais causas do aquecimento global, ganhou novos contornos em Glasgow. A agenda de uso da terra entrou no clenco das prioridades de enfrentamento da crise ambiental-climatica. E no ficou restrita ao combate ao desmatamento, avancando para os segmentos da agrope ‘al. Impor= tante saber lidar com os interesses da agricultura tropical brasileira no horizonte de 2050 ¢ 0s seus compromissos reais de produzir alimentos com bais alinhado com a protegao da natureza. Nao se trata somente do que ainda esta pro- tegido no Brasil, mas 0 que teremos protegido em 2050 ¢ o papel da mentar nesses resultados, Embora novamente o pais tenha o dominio das solugées, falta a ambicao politica de mudar ¢ de agir de forma proativa. O Brasil insiste em ser menor em relaco ao seu futuro. udria € flore: s emissdes € eguranga all Em 2020, as cmissdes brasileiras de gases de efeito estufa cresccram 9.5%, enquanto no mundo inteiro elas despencaram em quase 7% devido & pandemia ‘Ano 1/1N®1 / Jan-Mar 2022 - 87 Teixeira & Toni (IEMA 2021). Os setores que respondem por esse aumento so os da agropec residuos ¢ as mudangas de uso da terra, com o protagonismo do desmatamento na Amazénia ¢ no Cerrado (que somados perfazem 90% das emissdes do setor). Ma de uso da terra desponta como a principal fonte de emis do Brasil, com cerca de metade do total de emissdes do pais. O descontrole sobre z com que a curva de emissdes ainda seja dominada por uma bui para o PIB ou para a via, uma vez, a mudanga o desmatamento [a atividade que é majoritariamente ilegal que no contr geracio de cmpregos (IEMA 2021) Ao nica no mundo: o seu desafio de Tal cenario confere ao Brasil uma situag mitigacao climatica nao esta somente assaciado & mudanga de processos econdmi- cos € sociais ¢ de desenvolvimento. Quase a metade do desafio reside no combate ao crime ambiental ¢ ao crime organizado. O desmatamento na Amazonia ¢ no Cerrado tem de voltar a ser controlado ¢ climinado, nao somente pelo papel de se que a maior floresta tropical do mundo assegura, mas tamhém pelo compromisso do Brasil de viabilizar ¢ promover o desenvolvimento sustentavel da Amazonia, aranca climatica ¢ hidrica, das novas economias verdes ¢ de servigos ambient esse contexto, os temas ambientais-climaticos sempre estiveram ausentes das cleigdes majoritarias brasileiras, Em 2022, isto certamente mudara, pois este tema, que inelui a protegao da AmazOnia, transbordou para a agenda politica partida- a. A destruigdo das estruturas ambientais-climaticas ¢ suas te s cis consequénci aram a midia nacional ¢ internacional nos tiltimos trés anos, como também j4 mobilizam os eleitores ¢, consequentemente, os candidatos presiden- iais, assim como governadores, deputados e senadores. As declaragdes pablicas dos pré=candidatos presidenciais ¢ a massiva presenga de governadores, deputados ¢ senadores, na sua maioria de oposicao, na COP 26 de Glasgow ja sto um indicio da politizagao do tema na disputa politica de 2022 no s6 mobili O gov gestiio © como uma das areas-alvo de desconstrucio pelo governo federal, tentando reproduzir a politica de Donald ‘Irump de transformar este tema num instrumento de polarizagao ideolégica. O resultado das eleigdes municipais de 2020 e todas as pesquisas de opiniio feitas no dltimo ano sobre a visio dos eleitores acerca da per- formance do governo neste Ambito comprovam que, independente do perfil politico- -partidario, a sociedade brasileira demanda colocar a tematica ambiental-climatica como um pilar central no projeto de desenvolvimento do pais ¢ no Brasil do futuro, no federal elegeu o tema ambiental-climatico como “inimigo” de sua Consideracées finais Em tempos de mudancas ¢ na busca de uma outra relagio da humanidade 88 - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental com a natureza, evidencia-se o imperativo de avangar em novas dindmicas de coo- peraco internacional, O escopo de mudangas é mais amplo do que se admite ou se pratica nos tempos atuais. A carbonizacao do plancta é uma consequéncia sisté- mica da complexa nao harmonizacao na relago humana com a natureza. Por isto, 0s desafios politicos impostos pela crise ambiental-climatica determinam nao so a necessidade de agirmos rapidamente ¢ de acordo com os presentes féruns de decisio multilateral, como o Acordo de Pari nos impae pensar em novos arranjos de governanga global ¢ certamente em como incluir os outros “adultos na sala”. mas - acima de tudo - a complexidade da crise Mesmo jé experimentando uma metamorfose planetaria, que jA insinua con- sequéncias terriveis ¢ incontrolaveis, as presentes “liderangas” politicas do mundo expressam interesses ¢ praticam contradigées que retardam os avangos necessi a humanidade lidar, de forma menos assimétrica ¢ talvez mais efi- ios © urgentes p: ciente, com os desafios da seguranca climatica ¢ suas derivacées. Problemas planc- tarios com o potencial de mexer com os limites da natureza deveriam provocar que tipo de reagao politica e em que tempo? Os atrasos associados ao arranjo politico internacional existente para lidar com a crise ambiental-climatica rev proposigao de um sistema de governanga internacional mais dedicado as solugdes demandadas para ocupar-se com o futuro ¢ com solugdes duradouras. Nao se trata de ignorar as circunstancias politicas vigentes, mas talvez nao ser tio refém de rela- des politicas ja estahelecidas que levaram aos passivos atuais (que vém de longe). O quadro é de enfrentamento de desafios diversos e de enorme aleance e de ir além do am a necessicade de uma tarefa prioritaria: a enfrentamento do retrocesso ¢ experimentar ousadias nos aparatos politico-institu- cionais de re Apesar de essencial, desafio da governanga global nao é somente fortalecer ura, cujo mandato se restringe a “fixing the carbon problem”. Tem que assegurar que toda esta estrutura priorize as diversas dimensies da crise ambien= tak-climatica ¢ que considere os desafios da reconciliagao da relagio humanidade € natureza; ¢ atuar além dos foruns vistos como “ambientais”, como a UNFCCC, a Convengio da Biodiversidade ou os ODS. O desafio urgente que outros féruns como OMG, Conselho de Seguranca ou G20 possam contribuir nesta urgente questio, mas como assegurar uma participagio real das verdadeiras “liderangas” planetarias nestes foruns, valorizando as diversas estruturas de repre- sentatividade politica ja existentes nas nossas sociedades fio s6 assegurar t Esta parece ser uma condigo importante para que a humanidade esteja mai preparada para lidar com as crises globais que se insinuam. Ou, ainda, um requisito ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 - 89 Teixeira & Toni estratégico A necessaria repactuagio do homem c ae com o futuro, que nao emergird como uma projecdo linear do passado, A crise ambiental-climatica € um fator limitante do passado ¢, se nao tivermos atengao, também do futuro, mn a nature: A cooperagao entre nagdes ¢ sociedades demanda outros caminhos mais ag ajustados as dindmieas de inovaco, transparéncia, coeréncia, comunicagio ¢ das novas cconomias verdes. E importante construir premissas que possibilitem superar a polarizagio entre o antropocentrismo ¢ o nacional desenvolvimentismo, Ou, ainda, saber melhor lidar com as assimetrias entre paises desenvolvidos ¢ em emai desenvolvimento, Para isso, é essencial operar cada vez mais com base no conheci= mento ¢ na ciéncia ¢ ter clareza das condigées necessdrias para superar o curtopra- zismo. Na era climatica, a conta do carbono sera paga de um jeito ou de outro, Nao ha como “esconder a fatura” ou empurréela para o futuro. As decisies de hoje ja esto submetidas & rastreabilidade ¢ contabilidade do carbono. A natureza, assim como a diplomacia, “toma nota”, ou scja, tem meméria, E desejavel que essas mudangas ocorram o quanto antes, ainda na década de transicao climatica, em particular na sua primeira metade, Nao hé muito tempo disponivel a venda. Portanto, é mais do que relevante que as maiores economias do mundo se movimentem, nao somente para dar conta de suas promessas (ambigdes) € compromissos ja acordados, mas para fazer andar internacionalmente a agenda de mitigagao ¢ resiliéne com a ambico ¢ urgéncia necessi dades mais engajadas estio atentas A cocréncia (ou & falta) de lideres mundiais ¢ esta perspectiva tende a ganhar forca com os jovens ¢ com scus pais. Afinal, como sto eles que vio lidar com o planeta no futuro, querem assim fazer com as solucBes € nao com os velhos problemas. a climatic: No contexto do regime climatico estabelecido em 1992, 0 enfrentamento da crise ambiental-climatica nos tempos atuais seguir as perspectivas politicas que levaram ao Acordo de Paris, A despeito das responsabilidades historicas de paises desenvolvidos, todos os paises signatarios de Paris tém de mitigar suas emissdes, bem (0. Os tempos de agir o delinidos, ¢ também as responsabilidades. Os desafios mais urgentes recaem como adotar as politicas necessirias & resiliéncia ¢ & adaptaga sobre as economias desenvolvidas ¢ as emergente: A reinsergao do Brasil no cenario internacional ¢ o seu realinhamento com a contemporancidade passam pelo equacionamento do desenvolvimento da Amazé- nia ¢ o fim da sua destruicéo. Um novo patamar de cooperagao com as Américas ¢ a Europa deve ser balizador para a retomada de dialogo ¢ de negociagées de inte- 10 das relacdes com a Africa ¢ o fundamentais para assegurar um reali« resses comuns, Um aprofundamento ¢ uma ampliag a Asia nos temas ambiental-climatico se 90 - CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental nhamento sobre as trajetdrias de desenvolvimento sustentavel junto aos paises emer- gentes ¢ em desenvolvimento. alios O equacionamento do desmatamento também deve propiciar novos de: ¢ favorecer a lideranga na cooperagio regional com a Pan-Amazénia ¢ na Goo- peragio Sul-Sul. A nuvem que o desmatamento na Amaz6nia promove nao se limita ao acirramento dos conflitos c da violéncia na regido, mas também abarca a exclusto dos amazénidas ¢ dos demais brasileiros do mundo contemporaneo. Nesse contexto, é essencial que o Brasil retome o Fundo Amaznia, um novo pata mar de dilogo ¢ de compromissos com 0s paises doadores, ¢ volte ao seu papel de protagonismo no Grupo BASIG ~ Brasil, Aftica do Sul, India ¢ China, como parte da sua interlocugdo diplomatica e cientifica ¢ da sua visio estratégica de acao no mbito do Acordo de Paris. As novas economias verdes demandam 0 uso eficiente dos recursos naturais. B no somente pela racionalidade de seus pressupostos, mas também pelo esgotamento da oferta de recursos naturais no mundo para dar conta de um planeta com cerca de 10 bilhdes de habitantes em 2050." A procura crescente por recursos naturais € © desperdicio associado esta relacionados a cerca de 56% das emissdes globais de gases de efeito estufa e a 90% do estresse hidrico e da perda da biodiversidade, Esta é uma agenda particularmente vocacionada para o Brasil seguir em frente (abun dante em recursos naturais ¢ em seu desperdicio), combinando resiliéncia ¢ descar- cio, além de conservagiio da biodiversidade. Ha também em pauta inovacio, grande interesse de investimentos, competitividade geragao de empregos ¢ novos modelos de negocios. E a receita para uma revolugio da industria brasileira boni: E importante observar ainda que as solugdes duradouras para a crise ambien- tal-climatica tém potencialmente nos mercadbos ¢ no setor privado importantes alia~ dos. Mas as trajetrias de descarbonizagao, assim como a conservagao da natureza e a emergéncia das novas economias verdes, como a bioeconomia, requerem politicas, regulacao, gestio publica c sistemas de governanga ambientais-climaticos cficientes, com transparéncia, aecountabiliy ¢ orientados pelo conhecimento ¢ pela ciéncia. A busca por novos espagos no sistema multilateral e no sistema internacional de financiamento do desenvolvimento econdmico ¢ social compreende mais do que -as de interesse, ¢ sim visio estratégica do papel que podemos exercer no equa- cionamento da seguranga climatica global, Nao seremos uma_poténcia ambiental- climatica sem muito wabalho e sem aliancas duradouras em todas as instancias, em. todos os cantos do mundo ¢ com pactos robustos com a sociedade brasileira, Bla é a -tesa mundo ecragio sual oe raters Coroustas ed, nant erate) er 160, cence crcem de pinces de tnsicae; er» 200, de 60 bihdes ce onelades © pojepio extrac pars 2050 # de 140 binbes de tonaidae (REIN 2018) ‘Ano 1/NP1 / Jan-Mar 2022 91 Teixeira & Toni fiadora de um futuro mais justo, inclusivo, wansparente e descarbonizado. A crise ambiental-climdtica é uma certeza e sera responsivel por parte das novas realidades no atual século. As suas solugdes precisam fazer parte do dia a dia das pessoas, dos debates democraticos, do engajamento inclusive ¢ diverso do Brasil r ¢ do mundo, Para voltar a ter protagonismo nessa agenda, 0 Brasil precisa dei para tras 0 retrocesso, reconhecendo os crros, entendendo peso da sua trajetoria nessa agenda, além de definir com clareza os seus interesses ¢ ambigdes. O fim do desmatamento no Brasil ¢ uma nova relac&o positiva com a natureza permitirio seguirmos em frente, democraticamente, lidando com as nossas ambiguidades, 1 ponsahilidadles ¢ com os nossos desafios. Sem ufanismo, sem apequenamento. O Brasil precisa ter os pés no presente, consciéncia do seu lugar em um mundo mar- cado pelas eras climatic 050. 2 tecnolégica ¢ com um olhar bem adiante para definir 0 que seremos em 92 + CEBRIRevista Acrise ambiental-climatica e os desafios da contemporaneidade: o Brasil e sua politica ambiental Referéncias bibliograficas 2020. 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