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A fares om UR cer Ree RN SC eee Race) Core Oe ok ee ee Cee) CuO ce Mc ere EEE SEC eT Cet Ce eC cer fildsofos de diversas estirpes e épocas, Sua proposta de uma ética voltada para os funcionamentos basicos, além de resgatar o que hé de melhor na ética filosdfica, se constitui ae ee rete) CEM Re neo eon) Tec Ca CMC nc ec Senne Tae Mea Maria Cecilia Maringoni de Carvalho T fee RRC ETO toc r conn icl een ene ee Ce Ra og SC eS Cee ee Men Cy apresentando e expondo estas discusses de um modo OS ener ee SnCu ee nee a et Co mee Cg Ee ce ToL en aa Coe ee en Oe a Cee a CM mr MC Te MMe ei erected brasileira, mas que a autora soube fazer com maestria e leary enn 'SOBRE NOS Expandindo as fronteiras da moralidade MARIA CLARA DIAS Sobre nés Expandindo as fronteiras da moralidade 2° EDICAO. Com comentérios e respostas A PIRILAMPO. Rio de Janeiro 2016 ©Maria Clara Dias, Rio de Janeiro, 2016 Todos os direitos reservados a Editora Pirilampo. Produgio grafiea: Editora Piri po Revisio: Aline M: ae Mario Carvio Diagramagdo: Luciana Figueiredo Capa: Luiz Ricardo Moreira Foto da capa: Quadro “Nés", de Francisco Rezende Editora Pirilampo: wwweditorapirilampo.com br CATALOGACAO NA PUBLICACAO a Dsate Dias, Maria Clara Sobre nds: expandindo as fronteras da moralidade / Maria Clara Dias 2° edicio. - Rio de Janciro : Prilampo, 2016 236 p. 21am Inui bibliografia ISBN 978-85.80664.22-6 1. fica, 2. Condigoes moras. cp 170 cou 17 2 Sumario \GA0 de nossos animais no humanos.. dios e respostas sald ew 2 39 7 aon B 107 119 151 167 183 189 Prefacio a segunda edicao Quando lance’ a primeira edigao deste livro, minha proposta inal era discuti-lo com meus alunos e alguns colegas. A id fentar checar meus argumentos, minha colocagao € af le apresentadas e, conforme o resultado, ree € 0 resultado deste processo. Nela, ha substancialmente reformulados: 0 capi- “cepgio de Justiga de Nancy Fraser. Jé 0 ay “animais nao humanos como concernidos ‘si com Singer ¢ incluf exerpl ‘aaplicacéo da perspectiva dos funcionamentos. Estas, € outras pe- ‘quenas alteragdes e correcdes realizadas na presente versao, Nao feriam sido possiveis sem a leiture cuidadosa de meus colegas ¢ amigos Nelson Gomes e Marcelo Araijo, ¢ de meus dedicados frientandos Suane Soares e Pedro Lippmann. A eles agradeco de odo caracéo. Na pare final do livro, acrescentei um anexo onde respondo 08 comentarios e pergunias de meus colegas e de alguns alunos que participaram do primeiro curso dado com base em meu liv. Sinto-me honrada com seus come! atengio e generosidade com que dispensaram parte de seu tempo ara enriquecer esta nova versio de Sobre Nos: expandindo as ronteiras da moralidade. Maria Clara Dias 1 As caracteristicas do discurso moral ‘¢/ou Moral: uma introducio terminolégica ‘uvirmos falar de ética e moral ocorre-nos muitas ve- acerca das semelhancas ou ndo de ambos os termos. a sua origem ,, élica e moral podem ser conside- sindnimos, Et traducao latina vem a ser moralis, da qual derivames 0 termo ral. O radical grego ethos possui basicamente dois sentidos. sua primeira acepcio, éthos (longo) diz respeito as faculdades: ‘cariter. Etica seria assim 0 estudo das faculdades do carster. ‘Em sua segunda acepcio, éthos (curto} diz respeito aos costumes. A tradugio de éthikos por moralis faz jus a esta segunda acepcio, Sendo 0 radical mos também uma referéncia aos usos ou costu- ‘mes. A traducio latina deixaria, portanto, 3 margem da discuss0 ‘tica questOes direiamente relativas a constituicio do carat ‘A ética na tradigao grega deve fornecer as diretrizes para que possamos desfrutar de uma vida plena. Ela prescreve uma dietética do bem viver. Neste sentido, deverd ditar as regras que estabelecem 1 relagdo do cidadio para consigo mesmo e para com os demais. A prdtica ideal de esportes, a iniciagao musical, a alimentagao, bem ‘como a vida sexual e afetiva de cada cidadao, deveriam estar cui dadosamente relacionados dentre as prescrigdes éticas. A moral, tal como se impée anés na modernidade, deve ser compreendida, antes de mais nada, como o conjunto das regras ou principios que otientam a vida social, ou melhor, que prescrevem o nosso modo de agir frente aos demais. Com isso de aplicagio, deixando de lado a esfera da vida jvamente a proje! ‘comum ou nos deveres relat ngo perience a algada da moral. Esta distingdo faré ‘com que alguns autores modernos, tal como Hegel, ou contempo- como, por exemplo, Habermas, optem por retomar um uso diferenciado dos dois termos, em que a ética estaria relacionada ‘a0 "mundo da vida" em geral ¢ a moral aos sistemas que prescrevem a conduta de ur individuo frente aos demais. A distingao entre ética e moral mais presente no ambito expecifice da Filosofia, diz respeito a “Etica’ enquanto disciplina filos6tica que discute quest6es praticas, ou seja, sistemas norma vos e ages deles derivadas, FEtica, ou seja, a moral enquanto correspondendo a um conjunto de regras que prescreve nossos deveres mais fundamentais para com os demats individuos Aqui falarei o tempo todo do contetido da Etica, ou seja, da moral. Sendo assim, pretendo usar os termos ética e moral indiscriminadamente, obedecendo tao somente a uma adequacao ica. Meu pi6ximo paso seré exaiamenie analisar as prin- Cipais caracteristicas deste discurso com 0 qual estamos cotidia- namente t3o fa ados, mas que na prética nao conseguiimos muito bem discernir e do qual nos apropriamos de forma muitas veres aleatéria. eas do discurso moral ‘Cotidianamente vemos pessoas acusarem umas as outras dé ilude ndo ética ou exigitem que alguns individuos, partidos u governantes que se comportem de forma ética. Es- tio far ne perguntar de que indo. Geralmente, apenas concordamos ¢ reforgamos a | Nestes momentos, podemos dizer, usamos a expressio {60m um jargio que expressa a consura a algum tipo de la, Evidentemente nao estamos errados a0 fazé-lo, mas tal- _possamos nos expressar com mais propriedade e, sobretudo, pudermos compreender, em linhas gerais, as demandas cada. BE comum; por exemplo, sermos revidados com palavras do tenho minha ética pessoal i ta, muitos simplesmente se calam, Ouso dizer que se ca- ido possuem também clareza suficiente sobre que sig- culor pode ter ideias prdprias e desejos is, mas uma ética pr com que esperemos, nos 0 nos quais a movalidade se aplica, que os mais, s da lingua possam se colocar de acordo conosco #¢ 0 que seja ou niio uma tomada de decisio moral. Podemos, ‘claro, discordar sobre o que, em cada contexto, seria mais ético, ‘mas s6 podemos fazer isso se nos servimos de portanto compartithados, que respaldam nosso hase nestes mesmos critérios, acteditamos poder convencer os Dito isso, temos jé destacada discurso moral: uma pretensio de ou nao capazes de respatar, ou seja, de fundamentar ou just tal pretensdo, & um outro problema. Fu diria mesmo o principal pr detalh cocupou desta qu senso comum e serd, neste €aso, suficiente apenas nos colocartmos de acordo acerca desta pretensao. Se eu, meus leltores € grande parte dos falantes que pelo moral concordam sentir um estranhamenio quando vem su: cconfrontadas e seus julzos morais mais basicos negados isso como um sintoma de que, na prética, ainda que mos na ampla, universal, pretensdo de val ‘odiscurso moral. Ainda que ao final deste livro vacés tar convencidos de que a moralidade é ume ficgao © moral nunca passou de uma vestimenta ideolé- icada, peco agora que me concedam, para efeito desia pretensio a universa~ gica mai de argumentagao, o reconhe: lidade como uma das marcas di da que, mais tarde, venhamos a compartilhar a crenga de que ‘a universalidade nunca passou de um delirio de saber e poder loséfico e que, ne mundo concreio, universal 6, quando muito, © predicado que s caras generalizagoes. Como veremos m: idade na pritica € uma aspiragao a sermos o mais abrangente que pudermos e a incluir- ‘mos, sob a guarda da moralidade, todos os seres sobre os quai depositamos alguim val Passemos agora @ outa caracteristica mareante do discurso mona, a saber, sou cariter presc Por tor um caréter prescritivo, o discurso moral se distingue do chamado discurso assertivo, © discurso assertive & aquele que cergue pretensio a verdade. Através da linguagem descrevemos “ estados de coisa e reclamamos para tais enunciados uma lo de veracidade. Posso dizer, por exemplo, que hoje, dia 21 de setembro de y da cidade do Rio de Janeiro idade do mesmo indo até a Berlim faz sol, mas que nio possa por uma observacao direta das cor nha janela, simplesmente porque nao estou em B ‘no caso do enunciado anterior, também aqui estaremos ide uma descrigao verdadeira ou falsa. 1850 significa que este Jenunciado é sempre verdadeiro ou falso, independente das de quem o profere ou de sua eventual forma de vert re 0 tempo em Berlim, se de minha afirmagao, mas a auséncia de tats elementos: a 0 caréter assertive de meu enunciado, apenas o torna Jimo de uma afirmagao falsa. iciados deste tipo sio sempre verdadeiros ou falsos, ain- sob 0 ponto de vista filos6iico, nao tenha sido uma tarefa @ pouco polémica explicar em que condicées podemos ga- in verdade ou falsidade. A drea da Filosofa que se dedica & \Gio e comprovacao de enunciados deste tipo & a chama- stomologia. Trata-se aqui de uma investigacio sobre a nossa de conhecer 0 mundo e de nos pronuns de forma i sobre as distintas teorias da verdade e suas respectivas formas reensio e justificacao da mesma. Teotias da verdade como correspondéncia, teorias coeren- f teorias pragmatistas da verdade vém da antiguidade até atuais adquirindo novos adeptos e novas roupagens, mais linguagem e crencas de cada época, Hé sobre 6 este tema cerca de vinte e cinco séculos de filosofia e eviden- temente nao pretendo percorré-los aqui. Para 0 nosso pprop os capazes de ideniificar este uso especifico pretendemos conferir aos nossos enunciados m as condigdes cli yma a promover certos valores”. Enunciados deste tipo, a 1, no descrevem fatos ou estados de coisas no mundo, ‘mas determinam, prescrevem, como devemos agit. Néo se trata, portanto, de verificar se uma determinada descrigio é falsa ou verdadeira, mas sim de determinar como devemos agir diante de determinados fatos ou circunstncias. Vejamos um exemplo. Lim enunciado descritivo do tipo “animais nao humanos sentem dor” tem a pretensio de relatar um ato © pode ser verdadeiro ou falso. Nos contexios relevantes, aqueles que acreditam na veracidade desta iniormagao, passario a contal 20 refletire determinar Associada a crenga moral de que nao deverios | informagaa ira Exemplos deste tipo indicam a relagao entre enunciados des- titivos © enunciados presctitivos. Enunciados descritivos ofere- ccem a base informacional sobre a qual atuam nossos enunciados prescritivos. Sem que possamos conhecer o mundo ou adotar uma atitude com relacao ao modo como as coisas s0, nio poderiamos tomar decisées acerca de como devemos agir, para tornar o mundo famos que fosse, Contudo, a simples ino humanos sentem dor” ou de que “Maria tem fome” nao prescreve nenhuma agao, a menos que ja esteja associada a jutzos morais especificos, con: vez, a partir de uma conjungao de crencas e desejos previamente definides. 16 -contririo do discurso assertiva que nos reporta A questi je, 0 discurso moral exprime, por assim dizer, regres de a, Mas que tipo exatamente de regras seriam as que nos aqui? No ambito do discurso prescritivo podemos iden- tuma grande vai jagilo basiante ‘of diversos discursos de cardter prescri ntos. Nosso ponto seré agora distinguir primeiro tipo eminentermente presc Ament 6 0 disc Fle determina o que podermos fazer sob o ponto de vista das leis que vigoram em nosso Formas de unido marital, jornadas de trabalho, acesso a bens ,impostos etc, sio algumas das prescrigées contidas neste que, por sua vez, define as formas de puni¢ao daqueles [por ventura, nao agirem conforme as regras prescritas. As re lecidas poderdo divergir de pats para pats, assim como as formas ¢ graus de punicio aos que ndo as cumprem. forma que podemos olhar com estranhamento para patses {a jomada de trabalho é superior a 8 horas; ond. stivas, Viver em um pais significa se submeter & sua legislacio, seja como nativo ou como estrangeiro, Frequentemente, os 3 16m também regras distintas para os dois casos, Hi, contudo, contextos em que nosso mero olhar de estra nto se transformam em um olhar de censura e reprovacao ica. Esta é, por exemplo, a forma que reagimos quando um pune furtos com a extirpacdo das maos ou mulheres addlte- ‘com apedrejamento puiblico. Este € também 0 modo como Amos diante das leis do nosso proprio pais, quando ela nega cidaddos a decisio sobre o fim da prépria vida @ impoe as mulheres 0 Onus de leva onde vém a Nos dois pi jena ou estranhamento por recurso @ iscernir até onde pode i 6 preconceito, mas casos, como nos tiltimos, estamos diante de um mesmo fendmer Um fenomeno que aponia para o limite entre o legal e o moral. Nosso olhar de censura e reprovagao sob as leis vigentes ‘em nosso préprio vem nossa cond: que estd para além da legislagao, das fronteiras nacionais e que acreditamos poder ser endossado por todos que partilham conosco certos valores. € neste espago do desconforto e da indignagao para com as regras que ordenam uma realidade sociopol lidade se tevela, com toda sua pretensao a universalidade, Ha no Coniraste com as normas legais, um “nao podemos/néo devemos” sem fronteiras, aspirado desde os primérdios da Filosofia, quicd da humanidade. Como jé mencionei, talvez jamais sejamos ca- pazes de explicar adequadamente a fonte de tal aspiracao. Talvez cla seja mais um dos indmeres artificios filosdficos criados para assegurar nossa integridade psicolégica. Neste ponto e, arriscaria dizer, talvez também na nossa vida concreta, iss0 pouco importa. O que importa 6 saber se termos ou nao esta sensagao, se estes sen- timentos si0 ou nio gerados em nés, diante de alguns contextos. Se a resposta for positiva, terei aicangado meu obj 04 mesmo uma Epoce, que a moa junto das regras legais, Em todas as sociedades, h4 comportamentos que obedecem a um padrao direta ou indiretamente herdado pela tradigao. As regras que os determinam nao so muitas vezes expl quando nao cumpridas, desperiam um certo estranhamento social. 8 ‘chamar a este grupo de regras, regras de etiquota. Temos, ‘exemplo, certas expectativas sobre como individuos adultos, jais, devam se comportar 3 mesa. Sabemos que de cultura para cultura, tais expectativas poder F € estamos sempre dispostos a rever nossos julgamentos me- confirmagio de que seu infrator, pertence a outra ymos algum tempo para nos farmiliarizarmos com certas regras Jeomporiamento social de culturas diferentes da nossa. Podemos interpretd-Ias e nos sentirmos ofendidos diante de determinados Mentos, mas o mal entendidlo se dissipa quando percebe- ‘estar apenas diante de regras de interagao social distintas. dominio de certos habitos sociais é, muitas vezes, compre- ‘como uma condigio para que um individuo possa ser visto pertencendo ao grupo ou a sociedad em questo, Compor- 10s ndo significa simplesmen- im, ndo compreender as relagdes simboticas {como, por exemph de terceira pessoa. A formalidade, aqui, indicaria um certo \ciamento respeitoso e seria interprotada como signo de urna boa educacio. Em outros pafses, esta mesma formalidade & 0 \ciamento a ela inorente poderiam ser vistos como expresso superioridade e pedantismo. Em qualquer dos casos, contudo, hhaveria nenhum constrangimento que um contato maior entre partes nio pudesse diluir ou mesmo eliminar. Em geral, esta 6 earacterstica das regras de 1as podem ser aprendi- assimiladas conforme 0 interesse dos atores.. 19 ‘Adotar uma nova regra de etiqueta, ndo parece agredir ou -de eliqueta nada indar, a saber, as regs confundir entao com regras Dissemos que um desacordo com em nés um certo sentimento de repil 0 seja, muito mais do ‘que um mero esiranhamento. Como poderfamos nos desvencilhar deste sentimento por um mero processo de aprendizado ou reedu- cago? O falo 6 que podemos localizar ¢ identificar as causas do desacordo quando podemos reports-lo a diferencas culturais, mas talvez no possamos fazé-lo quando tudo 0 que nos resia como evidencia sao sentimentos como os de repulsa e indignacao. Introduzi aqui as regras de etiqueta porque elas sao geradas na mesma fonte de todas as demais regras sociais, a saber, nos ontextos de interacao socioculturais. Nos mesmos contextos em que foram também geradas as regras legais. A diferenga entre am- tinguem das demais regras sociais é 0 que nos cabe invest Poderiamos dizer que, tal como as regras legais, elas também se dlistinguem das regras de etiqueta pelos mecanismos através dos ‘quais punimos seus infraiores? Concretamente € evidente que sim. No aspiramos ao mesmo tipo de punicao para quem nos cumpri= menta de forma inadequada e para quem viola nossa integridade 2» © problema, no entanto, & que por mais que nos indig- {Com cerias atitudes e por mais que nos parega evidente que to esi4 agindo de forma inaptopriada, no 105 claros de punigao. Esse fato reforcga a indignagio e faz com que aspi do de regras morais ras de etiqueta, mas ndo 0 que as Mio radicalmente diferentes. ‘Tentemos um navo caminho. Regras legais, regras de etiqueta determinam a con- A existéncia de um a adequagio de uma condu- que exatamente explica efou ‘a existincia de regras morais? “Se supusermos que regras morais se justificam a partir de slacio, estaremos subsumindo a moralidade a legalidade ando de sua pretensio de validade universal. Se supuser- je demandas morais se explicam por recurso ao habito ou igo, estaremos mais uma vez relativizando valor antes fais demandas. Ou seja, em ambos os razio pela rac3o de tipo moral. 40 terdo que ser conside- de nosso estranhamento. significa que este nao seja iio passe de uma invenc3o nossa para dar conta de um imento de estranhamento que ndo conseguimos conter Para problema que quero destacar aqui ndo esta lade seja uma invengio humana, pois a problema esté tas das dem: saida serd entao investigar se € poss e como isso restabelecer a gléria abalada do nosso discurso moral. LEITURAS RECOMENDADAS DEWEY, J. Natureze humana e conduta {19221 (Introdugio 3 psi- cologia social), traducdo de Eugénio Marcondes Rocha, Sao Paulo: 1956. *, Sa0 . Teoria da Vida Moral (1932). Colegao “Os Pensadore Paulo: Abril Cultural, 1980, HARE, R. M. A Linguagem da Moral. Lisboa: Mastins Fontes, 1996. RACHELS, J. Flementos de filosofia moral. Lisboa: Gradiva, 2004. TUGENDHAT, E, Ligdes sobre ética. Petrépolis: Editora Vozes, 1997, Nerpretagies da nocio parte constitutiva da 2 Sobre a justificagio de nossos juizos morais capitulo anterior analisamos dois grapos distintos de enun- ‘enunciados asse i tum determinado estado de coisas no mundo e, neste a verdade. Para fundamentar tal pre- a verdade que geralmente associamos a tal pretensaio um método de io do modo como o mundo se apresenta ands. Neste seni domas, adgua ferve a 100 graus cen- 6 porque |é realizamos intimeras vezes um tal experimento hoje observamos uma regularidade entre 0 aquecimento da 1e seu processo de ebulicao. Ao afirmamos que dois mais dois fa quatro ou que a soma dos quatro Angulos de um quadra- vale a 360 graus, estamos expressando um conhecimento Telagdes matematicas. Enquanto certos fenémenos puderem ser s e/ou tas relacces estiverem valendo, teremos uma base nt para resgatar a pretensio de validade de tais crencas. ‘© segundo grupo de enunciades s80 aqueles dltos prescri tivos, ou seja, enunciadlos que nao se reportam ao modo como as coisas so, mas ao modo como deveriam ser. Tais enunciados ditam 0 modo como devemos agir e erguem, portanto, uma pre- tensio de validade distinia. Eles sordo validos no quando expres- sarem a verdade ou falsidade sobre algo, mes quando expressa © modo certo ou correto de agit. Mas de outra, tinhamos © “mundo” como parametro, a que deve nos reportar, agora, quando queremes verificar a validade de um enunciado prescritivoz Mencicnamos no capitulo anterior alguns casos de enunciados prescritivos. No primeiro caso, o das regras legais, parece ica de uma sociedace julgamos correto, Neste si se temos alguma divida sobre a adequacio de uma regra legal ica, basta que recorramos & ordenacao juridica em questio €everificarmos se tal regra € ou nd uma expressio ou derivagiio da Se, por exemplo, uma determinada empresa exige de seus ionitios uma jormada de trabalho de 12 hors, poderfamos ‘ca308 mais complexos, nos quais uma hermenéutica da propria legislagio pode ser exigida, a fim de comprovar que a agdo espe- cifica 6 ov nijo uma derivagao do compo juridica da sociedade em questao. Ha também, no ambito do Di cos que nio seriam deri da mesma. Por ndo 4 1 de regras legais nao esta- de principio, mas sim 20 (0 positivos, ou seja, aqueles idica de um pais e a legislacdo. [portanto, me reportando a este ti ‘no Direito denominamos idos, pela ordenacio j a por recurso A prs Em seguida, mencionei o que denominei regias de etiqueta sentido amplo, ou seja, as regras de interacao s i s5 de forma explicita ou ndo no cere de det ‘cultura. Tais regras so vilidas simplesmente quando pude- | efetivamente ser ee como expressio da cultura ou simplesmente oferecer exemplos de cul fato. Antes de irmos a um pais estrangeito, podemos nos da forma adequada de cumprimentar outros individues no fazenclo uma pesquisa sobre os habitos culturais do pats. Tal fara com que possamos evitar certos constrangimentos e, 1, com que possamos agir da forma correta, segundo a local. ‘Contudo, é importante ressaltar que no cerne decada cultura ha imoortincias variadas. A falta de adequacio ‘com que sex infrator , por exemplo, em um ja im pogar a comida com as mos ou comecar a comer des ydamente antes que todos tenham sido servidos, imo iatamente que tal pessoa nao possui o habito de p: ‘como esta € que, portanto, no sabe como se comportar tadamente. O mesmo pode ocorrer quando vemos jovens nao do conhecem a regra de etiqueta adotada nestes casos ou 25 que passaram por um processo de educagio bastante de Mas se nestes casos a pessoa idosa, por exemplo, comecar a com 0 jovem, exigir a forga que ele levante e Ihe di de impropérios, certamente ficaremos chocados, ou me! dignados, Nossa reagao natural seria a de indagar por que fem quesido nao pode apenas pedir ao jovem que se levantasse, de forma rispida e regra soci ‘que parece estar na base da consti ber, a de mantermos um tratamento Mas serd que ndo acreditamos, ao mesmo tempo, que regras deste tipo devam estar na hase de toda e qualquer sociedade? Particular- meni, acredito que sim e exatamente por isso acredito que nestes casos estamos diante de uma regra moral. Uma regra com preten- so a universalidade, ou seja, que posse ser considerada valida independente dos atores e do contexto sociocultural em questio. Com isso, quero indicar mais um problema para nossa in- vestigagio, a saber, 0 fato de que talvez no sejamos muito bem ie claro entre simples regras de i quando mas quanto mais, fas que constituem o niicleo duro de uma Certa sociedade e/ou cultura, mais dificil se tora apostar na sua relatividade © descrevermos a nossa reago 2 violago como um mero estranhamento. A infragalo as regras mais profundas da nossa cultura parece ter como correlalo nossa mais profunda indigna¢ao. Mas a que recorrer nestes casos? Como podemos validade de regras que nao supomos estar restitas a uma l ou a uma cultura especifica? Em outvas palavras, a que devemos recorrer quando estamos tratando de regras ditas morais? Ha aqui validade de nossas demandas morais, estaremos correndo © isco 2% econhecer que, no fundo, 0 que supomos ser a mor: passa de um sistema no qual alocamos as regras sociais portantes de cada sociedade ou de cada cultura de fundamentagio: da autoridade 3 natureza humana fquelas deterninadas por entidades esp is. © fato de serem superior garantiria 0 seu poder mandal 4 ta do senso comum. ico, este seria, iplo, 0 caso das regras criadas por um governante déspota, Ino. Se quisermos regredir a nossa plo, 0 caso de como somos ide par nossos pais ou cuidadores, O certo, o inquestio- ‘que eles nos dilam, ao menos até que passemos a refletir amos jé bem menos stidjugados a0 ‘como bastante semelhantes a nés ¢, por conseguinte, falhas nnatureza demasiado humana, 0 mesmo parece nio ocor- smos que a vontade dos deuses é um mandamento para ‘mortais. Eles possuem, assim, um poder mandatério e inques- el sobre nds, ainda que alguns deuses, tal como os deuses ou como as entidades do candomblé, possam se parecer, ‘nossos proprios olhos, bem mais como criangas brincando ‘nossos destinos De alguma forma, as religides monoteistas tentaram afastar ppossivel macula de seus respectivos deuses e aproximé-los & 7 ia de perfeigio. Desta forma, passamos a contar com uma en- lade transcendente, onipotente ¢ onisciente, atributo que, para 05 mais criticos ou exigentes, ja fomeceria uma boa razdo para hos adequarmos a seus mandamentos. Pois bem mais sibio é 0 humano que, tendo consciéncia dos limites do seu saber, epoia suas ages em um sor que 6 todo suposto saber Assim pensamos e astim tentamos adequaras nossas vidas na -ctista do Ocidente aié que o fogo de Héstia®fosse, ibado, agora pelas maos prenhes de dividas ¢ tas. Orfaos de deuses ou se langaram 1s do humano, Este movimento impat, do qual até hoje se espalhou pelas diversos pontos da Europa continental e insular, demarcando duas grandes correntes filoséficas, 0 empirismo € o racionalismo. Estando, portanto, 0 ser humano no centro gravitacional de qualquer esfera do conhecimento, tanto a investigagao acerca do que podemos saber, quanto a questao ética acerca do como de- vemos agit, passa agora a se pautar pela investigacdo acerca da nossa prépria natureza, ou seja, uma investigac3o sobre a natureza humana. E neste ponto que empiristas ¢ racionalistas se separam « passam a tragar caminhos ¢ respostas bastante diversas para as mesmas questées, outrora resguardadas sob maos dlivinas. ‘A recusa da transcendencia e com ela de qualquer tipo de fundamento de autoridade eo retorno ao ser humano como centro ¢ fonte ultima de tudo o que podernos saber e querer ¢ a principal marea da modernidade. Por esia mesma rario, a filosofia produ- rida nesie periodo é ciéncia, € no ser humano e em uma investigacao acerca de sua, nossa, propria natureza que devernos buscar a chave dos enigmas que assolam a humanidade, Deixando mais uma vez de lado 0 TReleréncia § mitologia segundo a qual Prometeu rouba o fogo dos deu- se para da aos seres humans. m 1a da verdade, passemos agora dirctamente & questio da lidade: por que devemos entao aceitar um principio moral? Temos, assim, uma mesma questéo, para a qual podemos, resposta, bastante geri lipos de respostas que, por sua vez, se basei ja 0 ndicleo da propria natureza hurmana, isemos, entao, estas duas alternatives, ‘Aprimeira delas apela para a nossa natureza enquanto seres Js, capazes, portanto, de se pelo sofrimento alheio, Dentro desta perspectiva, a inv fio acerca do modo como devemos agir deve ser compreendida ‘uma investigagio acerca das ages ou normas que ‘obern-estar ou a satisfacSo dos individuos e da coletividade. lagbes serdo eno ditas virtuosas,justas ou ainda corretas. En posicHo, serZo consideradas injustas ou incortetas as agbes mas que promovemn sofrimento, devendo, portanto, ser evi Fsia perspectiva, adoiada pelos principais representantes do smo, como, por exemplo, 0 fil6sofo escocés David Hume, tizada mais tarde sob o titulo de Ltilitarismo. Vejamos separadamente, como Hume e, posteriormente, seus am 0 fendmeno da moralidade. Para Hume, uma investigacao sobre 0 modo como devemos deveria estar baseada em uma verificagi ‘e/ou coletivo, sendo, portanto, atraentes 8 vida em Tamm caracteizado na filosofia ca, inaugurada por Desca in de Kant a chamada filesofia ds 2 © comprometimento com 0 ber pelo sentimento nat tar do outro seria garantide de compaixao para com os demas. A compaixao, como o proprio nome indica, é enten ‘como a disponibilidade para sentir com 0 outro suas diversas afec: {Goes da alma, Neste sentido, um individuo tem compaixao por alguém quando, diante de seu sofrimento, é também capaz de 0 frere, diante de suas alegrias, de se alegrat. Um sentimento deste tipo 6 © que observamos ocorrer, com frequéncia, entre pessoas {que esto intimamente ligadas. Esse é 0 caso da relacao entre pais prdéximos, A extonso deste sen luos que nao possuem um al parece um pasto {rculo daqueles para com os quais nutrimos um natural de compaixao, © outro da justiga, em Hume, todo e qualquer ser humano” da moral universalista na modemnidade. £ através do conceito de justiga que Hume procura nosso sentimento de dever para com os demais e garantir tude da pretensio de validade erguida polos jufzos morais. Hume, 0 autor que outrora se revelara eético diante da nos- sa pretensio de acessarmos a verdade sobre © mundo, ou seja, de professarmos um conhecimento de tipo universal, irmutivel ¢ cede na moralidade a uma solucao intermediaria, A mo- ide 6, sim, contingente, porém tio contingente como a exis, do modo como vivernos @ nos organizamos em sociedade. lidade nao nos transcende, mas é uma condigao necessaria Fa. a nossa existéncia em sociedade, ainda que a nossa existén- Cia seja em si contingente, las serd que ¢ realmente isso que a experi@ncia nos reve- tando como ponto de pi PPoderfamos dizer que o olhar de Hume sobre a hun ttimista. Ao nosso lado vemos diariamente pessoas procu- 4¢ impor uns aos outros sem qualquer preocupagio com os ue 0 problema parece aja outras formas de estar no mundo que nada possuem de le nfo temnos argumentos capazes de convencer quem adota atitude nao moral frente & vida de que € necessario mudar a de vida. Talvez, 0 agit moral nao seja realmente necessé- ws apenas, pelo menos sob o nosso ponto de vista, o desejavel. € mais desojavel, o que produz maior satisfacao, a sociedade como um todo. Mais uma vez isfacio para 1¢30 de outros 10 do valor moral de nossas aco ‘Nossa capacidade de sentir com o outro, em outras pa- de nos colocarmos no lugar do outro. lagi do carster pres necessirio provar que de jt, que buscamos o prazer e evitamos a dor e, sobre suimos um tal sentimento que faz com que, a0 agi 0 possuimos uma tal natureza, ido, uismo [1861]. Coimbra: Atlantida, 1961 a nao levemos em consideragdo apenas nossa propria satisiagao, mas a de todos os demais. Caso isto possa ser feito, restaria ainda moniante de satisfacao ‘ou uma de suas variantes contempordneas, como, da igual consideracdo dos interesses pre- como aquele que melhor andlise mais detalhada do capttulos. Aqui pretendo apenas ressaltar as dificuldades das por aqueles que, baseados em uma interpretagio da naturera humana, pretendem fundamentar de forma absoluta a moralidade. A andlise da segunda altern: aquela na seres ditos pro racionalidade, que nos define desde a amtiguidade, € retomada na modernidade e rompe as barreiras do tempo, sem grandes obsté- culos, chegando aos dias atua's com igual orga e pujanga. € des te modo que fundamentar © carster prescritivo da moralidade no ‘conceito de ser racional, tem se destacado, até i ‘engenhosa tentativa de fundamentacdo da moral. © autor dest facanha, de cujo legado se serve, na atualidade, voliados para a ética como filésofos dedicados a filosofia politica, 6 Emmanuel Kant, Em Kant a razdo, ora dita pura, ora redefinir 0s limites do conhecimento possivel e romper de forma categoria com a especulagao metaffsica acerca da existéncia ou ‘no de entidades transcendentes. £ 0 ser humano, que, assumindo ‘como guia a razio, desperta, finalmente, do sono metafisico. A razio kantiana ergue, assim, as prelensdes que 0 aut cOmputo de sua obra, teniard fundamentar. A como a filosofia de Kant, tem como principal antagonisia 0 cético filosotico, herdeiro da correr tenso de universalidas de nossos juizos assertivos, autores, como Hume, se langam a um 2 ido objetivo, ira na sua Critica da Razéo Pr ‘90 mesmo desafio, agora tentando garant juizos morals. Na Critica da Razéo Prdtica, a argumentayao kantiana seguirs seguintes passos. Fr primeiro lugar, devemos reconhecer que ‘eonscientes do nosso significa: somos capazes de ir sobre © mesmo. Mas se somos. capazes de refletir sobre © ‘agis, devemos ser igualmente capazes de justificé-lo. Uma deve ser ia com base em normas. Normas, por ‘vez, 36 podem ser justificadas com base em um princt 0 Principio de Universalizacao das Maximas. Com s¢ que, ao aceitar a capacidade de agir de forma re “comprometemo-nos igualmente com 0 agir de acordo com jos morais, ou seja, normas que possam ser reconhecidas vvilidas por ods. Se quisermos, por exemplo, avaliar se nossa decisao de nto pa impostos devidos 20 governo & ou ndo moralmente acetivel, jamos perguntar se podemos iguaimente querer uri wduta, ou soja, querer que todos os demais ajam da mesma ‘Ora, o pagamento de imposios visa & garentia de certos ;mos de abrir mao. Ainda que 0 arios excluidos de tal obri- ha para todos os etando a supressio ieresse puramen- sem que bbeneficio desejado dos mesmos, benelicio este que para nds if \cia dos impostos, seja por sua vez supri- | Desejat a universalizacdo de nossa conduta poderia, assim, {nterpretada como uma forma de autocontradigao relativa a0 3 ‘nosso set motivacional, ou seja, ao conjunto de crengas e d pedir que elementos externos in Herir no curso da argumentacdo, Mas po a Jucidar as regras pressupostas por todo e qualquer dis- jf conter em si 0 compromet al, Habermas pretende mostrar coma adogao de um ponto de visia imp: das regras de determinacao de nossa cond sequéncias de sua aplicag: tiana parece estar compior consequentemente, compromete sua {uma regra basica ou um pri Assim sendo, todos aqueles apitulo 5 pretendo acompanhar de pe hhabermasiana. No momento, co vontade, sera substituido pelo conceito de razdo comuni Nossa capacidade de refletir acerca de nossas agoes ceder ’ capacidade de integrar um discurso de fundamentagao raciona Os principios subjacentes 20 mesmo serao os chamados Pri da Etica do Discurso. h questionar a racionalidade de Hitler, seu pod we sobre a escolha de meios adequados ‘imoral que tenham sido suas aces? Habermas caracteriza 0 agir comunicacional como sendi tuma forma de interacao na qual 0s participantes se comprom 4 que ha iniimerasatitudes que consideramos repugnan- provocam intensa indignagdo, mas que parecem em nada a raconalidade de ses atores. Ao contario, uanio mais 0 sucesso obtido por seus (20 estaria ameagada. Sua antitese seria 0 chamado agir est Co, em que qualquer procedimento é avaliado tendo em vista ape- ‘nas sua eficicia para o alcance dos fins almejados. As regra uma situagao de agentes puramente racianais, em condi: qual nao precisamos encontrar exemplos na hi mecem a garantia de que apenas 0 re dos demais. Enfim, se a racionalidade € 0 aspecto que define imento do poder coercitivo de “bons argumentos" seja res no somos, por naiuteza, morais. A moralidade parece pelo menos nao de fora absoluta. jonsével pelo alcance de um acordo enire opiniGes dissonantes. “ 38 Repensando a moralidade: 0 retorno a Aristoteles Reconhecidas as dificuldades de fundamentarmos 0 ca de principios morais que muitas vezes aceitamos trivi lagdo entre normas e valores. da Elca das s Para Aristételes, tal como na tradiglo grega em geral, a ética deveria fomecer as dit uma vida plena, uma era, contudo, sindnimo de s izacio de certas cisposicée ir para a realizagio plena da polis era antes de tudo um cidadio da polis ¢ a sua felicidade era com- preendida a partir da realizagao de sua fungao na mesma, Dentio desta perspectiva, 0s valores da polis determinavam que aces de- ser consagradas co mem grego nao h. um € 0 bem dao paradigma de uma vida ética. Fara 0 ho- 2 qualquer oposicio entre o bem de cada dade, buscam hoje estreitar os lagos entre os valo- ais por eles defendi Neo-aristot ais, eles contestariam: 56 podemos respondé-la. como parte integrante da questio acerca da vida que ‘elegernos viver, a vida que julgamos digna de ser vivida, em outras palavras, a questo acerca do que signifique para nés uma vida feliz. da perspectiva aristotdlica sera objeto do sexto ca- pitulo deste livro, Com base no debate entre Plaido e Aristételes pretendo descrever as principais caracterfsticas da ética aristatélica 6 seguida, indicar algurnas de suas pri ise mais detathada do diversos de esclarecer alguns aspectos algo acerca da razio \et6ria na modemidade para somente, a0 fin: lara Arist5teles, recusa a uma fundamentacao absoluta a justificagaio do cariter vo dos enunciados morais jonadas a boa vida e 3s nos lade hoje € percebida como heterGnomo, algo imposto a nds e que, trequentemente, ia nossos interesses ou desejos mais imediatos. Por que en- ‘devemos considerar necessirio fazer jus a seus mandamentos? sonde vem a autoridade reclamada pelos principios morais? Desvinculada das questies Para responder a esta questio, percorremos, rapidamente, a ymentacao foram de algum modo insatislatorias, nao de- . abandonar tal pretensio? Minha resposta 6 negativa, abandonar a pretensio de ju ivo de enunciados moreis, ‘Associando ao projeto de justificagao do nosso discurso mo- principais elementos da perspectiva aris ar defender a relagio entre (i) a adogao de uma perspectiva morale (i a realizagio de uma concepgio de bem, atentativa de agir de modo a tonar a nossa vida digna de ser vivida, ou ainda, a busca por ume ‘ou “ustificar” algo? € pos devemos compreender por No plano da justificagao estarei elegendo uma perspectiva renga nao repousa em sua autoevidéncia, com outras crengas supostamenie autoevid correlago com uma rede de crengas adotadas. Quanto mais abrangente for a rede, ou seja, quanto mais luz puder langar sobre o nosso universo de crencas, mais coerente sera, consequentemente, portanto, com base em tal perspectiva que proponha que as teses aqui defendidas sejam avaliadas. Uma ver que estamos sempre revendo nosso sistema de crengas & luz de novas informagGes, a decisao acerca do que seja norativamente correto, tomando como base uma perspectiva co- poderd reclamar um caréter definitivo. Assim, a de sua correlacio com uma série de outros elementos constitutivos das nossas relacbes sociais e, mais especificamente, com as cren- {gas que implementam a nossa demanda pela moralidade, LEITURAS RECOMENDADAS HUME, D. [1751]. lavestigagées sobre os principios da moral Campinas: Ecitora da Unicamp, 1995. KANT, |. [1785]. Fundamentacao da metalisica dos costumes. Edi- goes, 10a, 2007. TUGENDHAT, E. LicGes sobre ética. Petr6polis: Editora Vozes, 1997. Fa ham e Mill: 0 utilitarismo classico Uma das princip: d4 com Jeremy Bentham, na segunda metade do século XVItL . de Hume acerca da natureza humana © 10 racionalista vigente no losofia ps adotar a senciéncia, idade ao prazer e & dor, como foco da moralidade, De forma que a muitos pode ter passado despercebida, temos ui um deslacamento central do eixo da moralidade. Se desde ,, que Bentham prope 6 que dei icas e nos voltemos para a capacidade A questao nao € “eles pensam?” ou “eles falam?", 2 questo é “eles fem?” 4, Benthan). le novidade 6 assim, a percepgdo de que temos $80 moral no apenas para com seres racionais e li vres, mas para com todos aquel. sas agdes podem este compromisso, 0 principio moral por exceléncia serd des- ‘como aquele capaz de maximizar a satisfagao e mi do principio da utilidade’: “Por principio da utilidade, entendemos. © principio segundo 0 qual toda.a ago, qualquer que seja, deve ser aprovada ou reje o da sua tendéncia de aumen- tar ou reduzir o bem: margem os atributos da racionalidade e liberda- 0s seres humanos do trono ocupado ha pelo nos! F, fiel a0 seu projeto de no junto as entidades para as quais 0 ird promover uma avaliacao meramente quaniita- tiva? da satisfagaio. Quanto mais bem-estar para © maior nimero de afetados uma acao for capaz de promaver, melhor serd ela, = © ponto vista moral. A filosofia de Bentham rompe, assim, i caros & humanidade. © primeiro deles, ser humano e os animais no humanos, talvez fosse aos olhos de sua época ido radical que seu rompimento nao tenha sido sequer percebido, Em da pela luta politica por igualdade em varias esferas da vida social 6A expresso fora cunhada anteriormente por Francis Hutcheson para ind- ‘car quea melhor agio deveria ser considerada aquela eue promove a Felicidade para o maior ndimero de pessoas. Hutcheson chega a propor bbém uma “aiitéica mora” para célculo da melhor consequencla poss !008a (1789). An Inirodlucton to the Principles of Morals and Legislation. Nova Yor duragao, centeza, extensao etc. ao rdpidae, e juanto sua imagem e suas palavras cobrem, até ho nos, nos quatro cantos do mundo. dos seres humanos mo. Foi deste I avanga a inicio do século XIX, John Stuart jsmo ressaltando nada mais nada menos do que a | reconhece como principio moral o mesmo jor Bentham, mas fara @ ressalva de ‘se satisfizesse apenas com 0 bem-estar sfazer apenas svas necessidades corporais ou senstves fac. Por possuir capa s de tipo superior, izagao de um ser humano esta yetida também com a realizacao destas capacidades. Um assim dizer, deve poder alimentar seu compo € sua femplar do ut 10 a melhor expressio de uma moral que se quer universal € imparcialidade de suas agées. O individuo e seus se veem diluidos na coletividade, cujo bem-estar Ver [. PARRA: La receptién de Bentham en la Nueva Granada, em Colombia: 2014. hiyp/ovisias. Coimbra: Atlantida, 1961, buscamos otimizar. Mas como sabemos o que seria 0 melh « coletividade e por que abrit mao de nossos proprios deseo: nome de uma coletividade amorfa? Seguindo os passos de Hume. Mill apela ao nosso s to de compaixao para com os demais Porque podemos companilhar os mesmos sentimentos, podemos do apenas saber o que é 0 melhor para o outro, mas também de. sejar 0 seu bem ou 0 bem da coletividade, Vi 3s em Hume, que o sentimento de compaixao, como os os em geral, tem um limite de atuacdo. Quanto maior a proximidade - ¢ isso pode significar tanto uma proximidede ‘quanto afetiva, valorativa, cul mais chances temos de compattilhar os sentimentos de alguém. Quanto maior a distancia, mai fica a tarefa de pensar no que seria melhor para 0 outro e de nos interessarmos efetivamente por seu bem-estar, A quantidade também parece desempenhar um papel importan: te quando falamos de sentimentos. Podemos sofrer pela morte dde uma crianca desconhecida, em um pais distante, cuja historia Jemos nos jomais. Mas quando lemos sobre uma catistrofe que mata todos os dias milhies de criangas no mundo 0, Como, por exemplo, a pobreza, a falta de comida, de medicamentos, de Condicdes de salubridlade, reagimos com um grau bem maior de indiferenga. Parece mais facil sofrer por um, do que compadecer- se de um milho, Enfim, nossos sentimentos reagem de forma as yezes muito estianha, to estranha que chegam as vezes a nos envergonhar, quando queremos adotar publicamente uma postura moral diante dos males que afrontem a humanidade, iments, como ja disseram os racionalistas, talvez ndo sejam bons indicadores do modo como devemos agir, embora pos- sam fornecer um bom critério para aferir nosso comprometimento Para com 0 universo das regras morais, Tal como vimos, nossa in- dignagao e repulsa diante de certos contextos parece indicar, sem grandes equivocos, que determinadas candutas violam regras mo- rais aceitas por nés. No utilitarisimo, contudo, hd pelo menos um sentimento, a compaixio ou simpatia, que desempenha um papel ‘muito maior, o papel de tomar possivel a propria moralidade, 2 ‘Mas nao seria demais exigir tudo isso de ur sentimentot Se Jrarmos que noscas regras moras erguem uma pretensio de supor qute possames -las em algo tao Ko! Talvez 0 uiliarismo possa prescindir de uma fundamen ima e simplesmente ser a postura adotada por individuos em aberto esta possibilidade até que ser a versio mais completa interesses proferenciais Peter Singer. Mas antes de chegar a es Jala na apresentagio das pe uma critica especifica a Mill. ‘Como podemas saber 0 que € exaiamente uma satisfacao de superior © por que devemos supor que gere mais satisfago pela frase “mais iz, do que um porco feliz’. Todas as vezes ‘uco esta frase, o que me vem a mente é sempre uma cera za por Mill, Uma sensagao de que ele talvez nunca tivesse idade que atribuiu ao porco. ci- fagio com as sensacées supostamente iis, como comet, com ou sem forne, ‘ol, dormir, banharse, ver o reflexo d grutho do mar. Sou uma destas pessoas que de fato também desfrutam de jo de capacidades supostamente super 10, por exemplo, " Bergman. Cantu, adito que esas és atvdades posam cer insuportéveis para Outros individuos, ou para mim mesma, endo do momento. Desrutar ou nfo delas no me toma rarquicamente distinta, para nao dizer superior 20s demais. Do modo, também ndo saberia dizer se a satisiagao que elas mie proporcionam é maior que a satisfagSo que sinto com o cheiro terra molhada. Tudo iss0 iré depender bem mais do momento, (que do objeto da satisfagio em si a SS = -osamente criticado, por nik ‘odo ou uma balanga que mento que discrimine e avalie a qualidade da 1¢40, Se nao pudermos provar que algumas capacidades e « em uma interpretag3o meramente quantitativa da n-estar. De outro modo, poderiamos estar apenas dando vazio aos nossos preconceitos. Singer: 0 utilitarismo de interesses preferenciais Peter Singer insere sua defesa do utilitarismo no Ambito da discussdo acerca da justiga. Seu trabalho esti voltado para duas questdes cent 10 na moralidade, entendido na sua forma mais radical possive|, e o modo como esse universalis- ‘A principal preocu aco que norteia toda sua filosofia seré a defesa de um conceito igualitario de justica, e a determinacio do foco dessa igualdade. Deste modo, ce uma resposta para dois temas centrais do debate moral e politico dos nossos dias, a saber, a questio da nossa relagao/responsabilidade (1) para com os animais e (2) para ‘com os demais seres humanos do planeta. Com ele, um fildsofo ©, mais uma vez, a perspectiva utiitarisia voltam a provocar polé- mica e, rompendo os limites do mundo académico, passam a ser encarados como uma ameaga as regras tacitamente estabelecidas nas sociedades contempordineas. No Ambito da justica, sua perspectiva ird eleger como o foco da igualdade a igual consideracio de interesses proferen- ciais. Iss0 © coloca em oposigdo a um grupo de autores que tém dominado o deba po ao qual lum sentido néo muito preciso, um defensor da perspectiva co- nhecida como "perspectiva do bem-estar”, e que se opde a uma ‘rientacao de justica distributiva voltada para a distribuigao de 44 F505, distribuicdo de bens primarios ou o reconhecimento da srdade de {uncionamentos. ‘concemidos peto conceito pelo nosso discurso mor todos aqueles indivicuos que possuem as qu drias para encerrar conosco um ci pprovidos de um certo grau de ra i indo falamos de uma igual consideragao de interesses e no esses que sdo caracteristicos de uma concepio de so as partes cont ‘Adotando uma tal perspectiva, somos levados a investigar e a rem consideracao os mais diversos tipos de interesses. Se pu- 3s reconhecer, em nds, 0 interesse de viver uma vida paz’ luma vida de bem-estar, onde minimizamos 0 nosso despraze -emos poder também reconhecer que este interesse, tio basi nao se reporta apenas aqueles aos quais attibuimos o con *pessoa’, como & o caso de todos ot que esto lendo es que € também parilhado por outros animais, no humanos. im, ao considerar como foco da moralidade, ou c ica, a igual consideragao de interesses €, ao néo esses de pessoas, au seja, 0 interesse de seres racionals, Peter inger necessati se compromete com a extensdo do univer dda justica, ou da mos ide, aos demais animais. Se consideramos que esse interesse de afastar a dor elou 0 azer ¢ viver uma vida prazerosa é basico, entdo devemos fat em consideraco todos 0s elementos que, de alguma forma, 6 individuos que podem conosco compa pios ou normas morais, mas rel nao podem participar conosco d mesma capacidade de desfrutar do pra Desse modo, esta perspectiva parece eyitar um dilema que abala até hoje as perspectivas contratualisias. Se por um lado, elas tentam circunscrever 0 mbito da moralidade as partes contratantes, Po outro lado, no querem excluir do Ambito da moralidade certos grupos de seres humanos,tais como criangas, adultos com deficiéncias imentais efsicas graves, ou idosos, que j perderam certas capacida- des. Como podemos defender a incluso destes seres humanos, mas a0 mesmo tempo negar a consideragio a outros seres que, apesar de no serery humaros, possuem em grau ainda mais acentuado capa- cidades que alguns seres humanos nao possuern? Conc convicgoes a este respeito tem sido um dos pri Postos as perspectivas contratualistas. No momento em que muda mos 0 foco da igualdade para porque inclufmos como objeto de consideracao moral seres huma- 10s que ji nao satisfazem 0 nosso conceito de pessoa. Singer caracteriza "pessoa’ como seres autoconscientes, au- tonomes e capazes de definir projetos de vida, quer dizer, capazes de let uma percepcio de si mesmos, uma narrativa propria, no de. comer do tempo, Essa caracterizagao € assumida pela maior parte dos fildsofos que conhecemos. E evidente que muitos individuos que conhecemos nio satisfazem esta descrigao, Individuos que, ‘no entanto, gostariamos de considerar como participes de nossa comunidade m sofos que formulam © conceito de pes- soa de forma ainda mais inflacionada, ou seja, comprometida com ‘um niimero ainda maior de capacidades ou © que, consequentemente, torna suas persp cludentes. Fm contrapartida, se optamos p. foco de nossa considerag3o moral - os limites da comunidade moral 12 Perso aqui em fi6sofos como Kant, Ravls, Habermas, Frankurt et. 4% Jescopo da justica ~ nos inclviduos capazes de satisfazer 0 con- ‘de pessoa, conquistamos a possibilidadle de tomar 0s concemi- Jo nosso discurso um grupo muito maior de individuos e, por te, de tornar a nossa perspectiva muito mais abrangente, ‘Ampliado 0 escopo da justiga, poderiamos, a0 menos, belecer uma hierarquia de interesses? Lembrando a citada rovérsia entre Bertham e Mill, o que devemos efetivamente jmizar; quantidade ou qualidade de satisfaco ou bem-estar? temos uma hilanca que meca fruicéo de bem-estar, mas de mmo, podemos perceber que q jpecar das teniativas de Mill. Além disso, se conside- femos levados a i¢do imedieta de prazer a uma fruigio mais elevada, menos ata, e, muitas vezes, menos associada ao proprio prazer. Jemos, por exemplo, a histéria de multas pessoas que mor- ssas mesmas pessoas também foram am situag6es extremamente de estar lutando por um ideal, por uma causa te, faz dos seres humanos seres bastante complexos; ¢ faz ‘que, a0 considerarmos quais, eletivamente, so 0s interesses orteiam nossa vida moral, tenhamos que, entéo, contabilizar teresses basicos, preferenci ‘que deveriam, sob 0 ponto de vista moral ou d Tevados em consideracdo. No outro grupo estariam os demais esses que 05 individuos possam apresentar e que deveriam jjulgados como hierarquicamente inferiores numa escala de facio das demandas sociais. Estarfamos, assim, moralmente ago © 0 respeito dos interesses renciais de cada indivfduo. Dessa maneira, para seres huma- 0s, ou, mais especificamente, para “pessoas’, nds paderkamos até 7 ‘mesmo ordenar.o interesse por questées filos6licas, ovo eres, em nome de nossos interesses no-preferencizis. A moralidade ou a nossa concepcao tal forma que, antes de mais nad 3s de todos aqueles que comp5em o seu uni partir dat pod: brio entre os demais i atuasio com relagdo a outros seres humanos € a outros seres vos, deveriamos levar esse aspecto em consideragao. Surgem, as- sim, pelo menos tés problemas centa's para nossas reflexdes em filosofia politica e ética. O primeira deles 6 0 problema da nossa relagdo para com animais nao humanos. O segundo problema é © problema da nosse relacio para com os outros in do necessariamente fezem parte de nosso universo politica. Este 6 0 problema da expansio do Ambito de nossa consideracio moral ¢ politica, no apenas 20s noss0s conacionais, mas a humanidade, ou seja, é a defesa de um cosmop ro problema diz respeito & nossa relagio com 0 meio ambiente. Singer responde dle uma forma bastante precisa aos cois primeiros problemas. O ter- ero problema chega a sor também mencionado, mas, para ele, a propria perspectiva utltarisia parece ter se tornado incapaz de for- nnecer uma soluco satisfatéria, Esta serd uma das razdes pela quais proporei, ao final deste capitulo, a busca de uma perspectiva moral ainda mais inclusiva. Mas antes disto, pretendo seguir com Singer, na discussdo des duas questdes mencionacas inicialmente. Justica relativa aos animais nao humanos ‘A questio dos animais se impoe ands no momento em que J nao dispomos de argumentos satisfatorios que 48 ‘conceito de justica, Neste sentido, somos constrangidos es por nés adotedas, ¢ que i até que ponto certas altitudes p \ famos Come extremamente biviaisem nosso daa dia, ndo es morais. Até que ponto, por a vida de outros seres - idade estivesse de alguma forma limi- ‘amos como pessoas — € 0 objetivo de icio de prazer, Neste sentido, nossas facdo desses seres deveriam levar em conta pelo menos este nger possui uma tio da morte, ou jupgio da vida, de seres que, como ja Iclonei, 0 torna, talvez, o filésofo mais polémico dos éitimos © problema central que para aalar melhor a question morte, deveriamos pader compreender melhor o sig re la ¢, por conseguinte, se a pee da morte, em si, é algo remove sofrimento ou desprazer. £ claro que para os sores Fomprcendem a morte como uma supresao da possbila- ide realizagao dos seus projetos, a percepcio da morte passa ‘ser vivenciada imediatamente como algo desprazeroso ou que 49 Promove softimento. A morte sabita, no entanto, ndo vem acon: panhada de tals consideragies, ‘Se neste exato momento um raio ou uma bomba cai bre minha sala de aula © matasse todos aqueles que escutassem acerca da trag vidas se compadeceriam, também, do nosso proprio s ido nossos sonhos instantaneamente suprimidos. Mas “vocés estao sequestiados se alguém entrasse na sala e dissesse: para repassar aquele filme da nossa vida que tantas vezes imaginamos. Pensariamos em tudo que no realizamos © nes indimeras experléncias maravilhosas que nunca Vivenciamos.€ claro que para todos nés esta seria uma. experiéncie ‘extremamente dolorosa, pois ela nos colocaria diante do fim do nosso projeto, diante de tudo aquilo que nia vamos mais poder realizar. £, contudo, razoivel supor que muitos animais nfo passem seres humanos também Porque eles nio teriam a capacidade de refletir sobre suas vidas e seus préptics projetos. No momento em que nio temos capacidade de tefletir sobre esse procesto, ele automatica mente deixa de ser algo capaz de provocar em nds dr, desprazer ou sofrimento, 0 que o tornaria algo neutro sob 0 ponto de vista moral. O que, sim, nio € neutro sob o ponto de vista moral, sobrotudo com relagio aos animals, € 0 tipo de vida ao qual os submetemes, Neste sentido, 0 que ¢ basicamente criticado na perspectiva de Singer é 0 tratamento ao qual submetemos os animais, quando os tutilizamos para fins como os anteriormente mencionados. Aqui es- tamos diante de tratarhentos que negligenciam os interesses mais bdsicos dos animais em questao e onde geralmente levamos em considerac4o, apenas, a forma mais eficaz de realizar os nossos 5 4 permeada de exemplos

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