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STJ-Petição Eletrônica recebida em 03/04/2023 15:50:20 (e-STJ Fl.

3)

ROBERTO PODVAL MARCELO GASPAR GOMES RAFFAINI LUIS FERNANDO BERALDO


DANIEL ROMEIRO VIVIANE S. JACOB RAFFAINI MARIANA CALVELO GRAÇA
ISABELA P. C. GUARITÁ SABINO GISELA SILVA TELLES JANAINA FERREIRA
MARINA BOTELHO ANDRADE MIGUEL LUIZA BRAGA C. DE MIRANDA

EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Urgente – Paciente preso

ROBERTO PODVAL, DANIEL ROMEIRO e LUIZA BRAGA C. DE

MIRANDA, advogados infra-assinados, inscritos na Ordem dos Advogados do


Brasil, Secção São Paulo, respectivamente, sob os números 101.458 e 234.983,
com exceção desta última, inscrita na Seccional de Brasília sob o número 56.646,
todos com escritório no endereço abaixo, estampado, vêm à presença de Vossa
Excelência, com fulcro no artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal, bem
como nos artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar ordem de

Habeas Corpus, com pedido liminar,

em favor de CAIO CÉSAR TOKARSKI, brasileiro, Vice-Prefeito Municipal de Tubarão-


SC, inscrito no CPF sob o nº 022.470.789-23, residente e domiciliado na rua Luiz
Martins Collaço, n. 418, Apto. 204, Bairro Centro, Tubarão-SC, pelo ato coator
consubstanciado na decisão (doc. 1 – ato coator) proferida pela MM.
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

Desembargadora Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt Schaefer, nos autos da


Petição Criminal nº 5004699-03.2023.8.24.0000/SC, que decretou a prisão
preventiva do paciente.

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I. DA SÍNTESE DO CASO.

Em 10 de fevereiro de 2023, nos autos da Petição


Criminal nº 5004699-03.2023.8.24.0000/SC, foi decretada a prisão preventiva do
paciente, com fundamento nos artigos 311, 312 e 313, I, do Código de Processo
Penal, para a garantia da ordem pública, econômica e por conveniência da
instrução criminal.

Na mesma ocasião, deferiu-se medida de busca e


apreensão no endereço residencial do paciente, além da quebra de sigilo de seus
dados telefônicos e telemáticos, ocasião em que não foram apreendidos
quaisquer valores em espécie.

Incialmente, é imperioso destacar que o paciente ocupa o


cargo de Vice-Prefeito do Município de Tubarão-SC, eleito democraticamente para
os mandatos de 2017-2020 e 2021-2024.

Nesse contexto, a segregação cautelar foi decretada no


âmbito das investigações originadas da Operação Mensageiro e tem como alvo
supostos delitos praticados no município de Tubarão-SC, envolvendo o Grupo
Serrana, que compreende empresas prestadoras de serviços de coleta e
destinação de resíduos sólidos, e agentes públicos.

É preciso frisar que a investigação em comento deriva da


Operação Et Pater Filium, no âmbito da qual Adelmo Alberti, ex-Prefeito de Bela
Vista do Toldo-SC, firmou acordo de colaboração premiada, delatando, ente
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outros delitos, suposto esquema criminoso envolvendo as empresas do Grupo


Serrana em diversos municípios de Santa Catarina.

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A terceira fase da Operação Mensageiro, por sua vez, foi


deflagrada com base unicamente em acordos de colaboração premiada firmados
com membros do Grupo Serrana, entre eles Odair José Mannrich, proprietário e
diretor executivo do grupo, e Altevir Seidel, apontado como operador financeiro
das empresas, presos preventivamente na primeira fase da operação.

Nesse contexto, o parquet estadual representou pela


prisão preventiva do paciente, Vice-prefeito de Tubarão-SC, com base
unicamente nas declarações de colaboradores do referido grupo econômico (doc.
2). Vejamos.

Inicialmente, alicerçado exclusivamente nas


declarações do colaborador Odair José Mannrich, o parquet narra que as
tratativas entre o Grupo Serrana e o paciente teriam se iniciado em 2016,
ou seja, antes mesmo da sua eleição para o primeiro mandato no cargo de Vice-
prefeito. Veja-se as declarações do delator:

Odair José Mannrich: Tubarão. Tubarão nós temos contrato lá desde


2003, quando a gente montou o aterro sanitário lá em Pescaria Brava.
Todos aqueles municípios, a gente trabalha já com destinação final há
muito tempo. Tubarão é uma cidade, a maior cidade que nós temos de
cliente lá para destinação final de resíduos. É uma cidade pólo, né, da
região toda, então a Serrana tem muito grande interesse em manter aqueles
contratos lá, receber em dia, atualizar os valores é de acordo com a inflação
corretamente, para que a gente tenha sempre um contrato contínuo,
receber de forma assídua, né, em dia, e reajustar também conforme a
inflação para recuperar esses valores. Me procurou, em setembro de
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2016, um cidadão chamado Caio, que pelo jornal, eu sabia que era vice-
prefeito do... era vice-candidato, era candidato a vice-prefeito do é ....do
prefeito lá que é..... Como é que era o nome do prefeito?

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MP: Do candidato, ou.


Odair José Mannrich: D candidato é... candidato a prefeito na época, era
o.....
MP: Lembra o sobrenome?
Odair José Mannrich: Me deu um branco aqui agora, daqui a pouco eu
lembro. Mas eu sabia que era do Joares Ponticelli, exatamente. Sabia que
ele era candidato a vice? Me interessei muito, digo, olha, eu quero falar com
você e tal, né, no telefone, ele ligou direto para mim. Eu disse, olha, vamos
se encontrar então em Florianópolis, no shopping Itaguaçu, em
Florianópolis. Aí eu marquei uma reunião com ele lá num café, café ali em
cima, no próprio shopping, na parte de cima do shopping, no café que tem a
direita assim, eu acho que era o café mais próximo que tinha. Aí fiquei
esperando lá, ele veio, sentou comigo e disse, olha, eu sou candidato à
vice-prefeito, junto com o Joares, e vim te pedir um valor financeiro aí
para mim, eu queria que você me arrumasse, eu disse tá bom, que você
me arrumasse uns 30 mil. Eu até falei 30 mil, pode ser 30 mil reais, ele
falou que sim. Como eu tenho interesse em manter os contratos lá, e
eles estavam bem na frente, pelo jeito, eu tinha quase medo, medo,
não, eu sabia que eles podiam se eleger, eu dei os 30 mil para ele e ele
disse OK, pra mim tá bom, e ele foi embora, né? Depois disso, eu não falei
mais com ele. [...] (grifo nosso)

Observa-se, assim, que o colaborador Odair relata ter


entregado R$ 30 mil ao paciente no período de campanha, as vésperas das
eleições municipais, em setembro de 2016.

Sequencialmente, amparada integralmente, mais uma


vez, no depoimento do colaborador, a narrativa acusatória aponta que, em janeiro
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de 2017, em reunião na sede da Prefeitura de Tubarão, Odair teria sido


interceptado pelo Secretário de Administração do município, Darlan Mendes
Silva, que teria solicitado vantagem indevida correspondente a 10% do valor do

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contrato da Serrana com a municipalidade, em nome de um “pessoal”, como se


evidencia abaixo:

Odair José Mannrich: Bom, daí, depois, eles assumiram em janeiro, né,
primeiro de janeiro assumiram e em janeiro mesmo, já conversei com o Caio
novamente, aí já na presença do Darlan, me apresentou o Darlan, que ia ser
o secretário de administração do município e conversamos mais uma vez:
Olha, o meu o meu contrato, tenho uns valores aí que parece que tinha
ficado atrasado da gestão do prefeito anterior, que era o Olavio, né, não sei se
lembra do Olavio. Era o Olívio, Olavio, né, Não sei, assim, parece que ficou
uma coisa atrasada. Eles disseram que ia ver para pagar e tal, por conta de
que eu tinha dado esse valor e também esperava que eles me ajudassem
nessa questão. Logo em seguida. Eu fiz um ... o Darlan me chamou lá, oh,
eu quero falar com você.
MP: Pra lá onde?
Odair José Mannrich: Lá na Prefeitura. Depois dizendo ó, quando é que você
vem para cá? Aquela conversa, né? Chamou que eu digo, eu abreviei, mas
ele: quando é que vem pra cá, vem aqui para conversar. Eu fui lá, conversei
sozinho com ele, na sala dele, né. É uma sala, não, uma casa do lado do
gabinete do prefeito.
MP: Uma sala no lado ou uma casa?
Odair José Mannrich: Uma casa, do lado, dentro dessa casa tinha uma
salinha, que é a gente fechou lá, ele fechou a porta, Nós conversamos,
olha, o pessoal aí, quer 10% do contrato como repasse pra eles.
MP: O pessoal aí?
Odair José Mannrich: Pessoal aí. Eu entendi que era o prefeito e o vice,
né?
MP: Mas o senhor entendeu, ele falou. O prefeito e o vice.
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Odair José Mannrich: É. [hesitação] Ele falou prefeito e vice, querem, o


prefeito e o vice querem um 10% do contrato. É, mas inicialmente falou,
pessoal, né ... assim, mas o pessoal era a maneira de falar que era o era,

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o prefeito e o vice. Eu entendi isso.


MP: Tá, mas no decorrer da conversa ele expressou o prefeito, o vice.
Odair José Mannrich: Sim, o decorrer da conversa ele expressou o prefeito e
o vice, não lembro direito isso aí, mas deve ter sido isso aí, tá?
MP: O senhor que sabe. Pode continuar
Odair José Mannrich: Eu entendi dessa forma. E aí eu disse, puta mas não
dá para ser menos Darlan, porque também é bastante aí, né, pra nós. Queria
ver se puxava isso por 5%, alguma coisa assim. O Darlan falou, não, tem que
ser isso aí e eles não abrem mão disso aí, né. Eu disse tudo bem, então eu
vou cumprir esse compromisso com vocês e vou pedir pro Altevir passar [...]

Dessa forma, a partir desse suposto acordo firmado com


Darlan Mendes, o operador financeiro do Grupo Serrana e colaborador premiado,
Altevir Seidel, teria passado a se encontrar com o servidor público por diversas
vezes, até setembro de 2022, para realizar os pagamentos, que, conforme
narrativa ministerial, seriam repassados ao Prefeito e ao Vice-Prefeito.

Ocorre que, como bem sublinhado acima, o depoimento


revela que o diretor e proprietário do Grupo Serrana apenas inferiu que a
solicitação de vantagem indevida teria partido do Prefeito e do paciente, a partir
de conversa com Darlan Mendes.

Ainda assim, a prisão preventiva do paciente foi


decretada com base unicamente na narrativa do colaborador Odair José
Mannrich, sob os fundamentos de (i) garantia à ordem pública em razão da
gravidade concreta da conduta e risco de reiteração delitiva, (ii) risco à ordem
econômica e (iii) conveniência da instrução criminal.
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Além disso, em 28 de fevereiro, o paciente foi denunciado


como incurso nas sanções dos delitos de integrar organização criminosa e de

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corrupção passiva (art. 2º, caput e § 4º, inciso II, da Lei n. 12.850/13; e do art.
317, § 1º, do Código Penal, c/c art. 327, § 2º, do Código Penal) pelos mesmos
fatos narrados na representação ministerial (doc. 3).

Como se passa a demonstrar, a prisão preventiva


configura evidente coação ilegal do paciente, sendo necessária a intervenção deste
E. Superior Tribunal de Justiça para cessá-la por meio da concessão da ordem
pleiteada no presente writ.

II. DA FLAGRANTE ILEGALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA

II.1. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO:

DESCRIÇÃO DE SUPOSTO DELITO DE CAIXA DOIS ELEITORAL. CONEXÃO DOS FATOS.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL.

De início, como relatado acima, a decisão guerreada,


reiterando a narrativa acusatória, atribui ao paciente o contato inicial com o
Grupo Serrana, por meio do colaborador Odair, na época da campanha eleitoral
municipal de 2016.

Consoante o depoimento do colaborador colacionado no


tópico anterior, o encontro teria ocorrido em setembro de 2016, oportunidade
em que o paciente supostamente teria dito, nas palavras de Odair Mannrich: “sou
candidato à vice-prefeito, junto com o Joares, e vim te pedir um valor
financeiro aí para mim, eu queria que você me arrumasse (...) que você me
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arrumasse uns 30 mil”,

Essa suposta solicitação teria sido prontamente

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cumprida pelo colaborador, que assim justificou o pagamento: “como eu tenho


interesse em manter os contratos lá, e eles estavam bem na frente, pelo
jeito, eu tinha quase medo, medo, não, eu sabia que eles podiam se eleger,
eu dei os 30 mil para ele”.

Ora, do exame inicial dessas declarações prestadas pelo


colaborador, tem-se que o suposto fato imputado ao paciente, em verdade, se
amoldaria na prática do delito de falsidade ideológica eleitoral, o caixa dois,
descrito no art. 350 do Código Eleitoral.

Isso porque a suposta solicitação e pagamento do valor


teriam ocorrido durante a campanha eleitoral de 2016, visto que, somente no
ano de 2017 o paciente tomou posse para exercer o cargo público em primeiro
mandato, como demonstra trecho do decisum guerreado:

“Conforme Odair José Mannrich, ainda antes do primeiro mandato dos


representados, o investigado Caio César Tokarski lhe procurou, tendo
havido um encontro no Shopping Itaguaçu em São José/SC, no qual o
agente político pediu R$ 30.000,00 (trinta mil reais) os quais, segundo o
colaborador premiado, devido ao interesse em manterem contratos com
Tubarão, foram efetivamente pagos.
Sequencialmente, ainda no final de 2016, Odair José Mannrich, Caio
César Tokarski e Joares Carlos Ponticelli teriam se encontrado rapidamente
em um shopping na cidade de Tubarão, no qual os dois últimos
interlocutores agradeceram o valor repassado à título de propina.” (grifo
nosso)
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Ou seja, o relato do colaborador, replicado pela acusação,


indica que teria havido o pagamento de um valor às vésperas do pleito eleitoral
como forma de selar apoio político mútuo, fato que se enquadraria como crime

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eleitoral, “caixa dois”, e não como corrupção passiva, como entende este e. STJ:

“No caso em exame, a descrição dos fatos narrados na denúncia sinaliza


para a prática do delito de falsidade ideológica eleitoral, descrito no art. 350
do Código Eleitoral, consistente na prática conhecida por "caixa dois", ou
seja, o emprego de valores, fruto de práticas delitivas, na campanha ao
Governo Estadual, não declarados à Justiça Eleitoral, e utilizados para
a compra de apoio político e para o pagamento de dívidas a ela
relacionadas.”
(RHC n. 115.054/RN, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro, Sexta
Turma, julgado em 28/9/2021, DJe de 6/10/2021.) (grifo nosso)

No entanto, como se extrai do trecho da decisão acima


transcrito, a narrativa construída trata do primeiro contato entre o delator e
delatado acerca do suposto recebimento de valores durante a campanha eleitoral,
contato esse a partir do qual teriam derivado todas as demais supostas
negociações de vantagens indevidas.

Dessa forma, os demais fatos delituosos atribuídos ao


paciente, já na condição de Vice-Prefeito, e o suposto crime de caixa dois relatado
estão completamente imiscuídos no mesmo contexto.

Essa afirmação pode ser corroborada pelo fato de não ser


possível precisar, inclusive, se haveria outras condutas que se enquadrariam
como crime eleitoral, considerando que, no intervalo temporal apontado pela
acusação como de suposto recebimento de propina (outubro de 2018 a setembro
de 2022), houve novas eleições municipais, em 2020, em que o Prefeito Joares
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Ponticelli e o paciente foram reeleitos.

Assim, como sedimentou o E. STF no Inquérito nº

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4.435/DF1, é competência da Justiça Eleitoral decidir sobre quaisquer questões


relacionadas à conexão entre crimes eleitorais e crimes comuns.

Perfilha do mesmo entendimento este E. STJ, que


entende pela competência da Justiça Especializada nas situações em que há
indicação, nos fatos relatados pela acusação, de crime eleitoral, mesmo que não
haja imputação expressa pela acusação, in verbis:

“2. O Plenário do STF, no julgamento do INQ n. 4.435/DF, confirmou sua


jurisprudência no sentido de que compete à Justiça Eleitoral julgar os
crimes comuns que sejam conexos com os crimes eleitorais, cabendo à
Justiça Especializada analisar, de acordo com o caso concreto, a efetiva
existência de conexão.
3. Embora não sejam narrados crimes eleitorais na exordial acusatória,
não há como afirmar a inexistência destes, muito pelo contrário. O
próprio MP esclarece na denúncia que, "As investigações revelaram um
amplo domínio do Prefeito de Cabedelo/PB sobre os parlamentares dessa
cidade, de modo mais patente a partir das eleições que sucederam a sua
investidura no primeiro mandato, na medida em que patrocinou
(financeiramente) a eleição de diversos partícipes (e futuros membros da
ORCRIM) para o legislativo mirim", bem como, "A gênese de tudo isso
remonta ao financiamento da campanha de eleição do então prefeito
LUCENINHA que, como praxe, recorreu ao "caixa dois", contraindo
inúmeras dívidas. Logo após as eleições, como esperado, começaram as
pressões por parte dos empresários responsáveis pelos aportes
financeiros e aquele gestor passou a ficar "sufocado", pois não possuía
lastro patrimonial para honrar seus compromissos." (...)
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

1 Ementa: COMPETÊNCIA – JUSTIÇA ELEITORAL – CRIMES CONEXOS. Compete à Justiça


Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos – inteligência dos artigos
109, inciso IV, e 121 da Constituição Federal, 35, inciso II, do Código Eleitoral e 78, inciso IV, do
Código de Processo Penal. (Inq 4435 AgR-quarto, Relator(a): Marco Aurélio, Tribunal Pleno,
julgado em 14/03/2019)

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5. Verificada a competência da Justiça Eleitoral para conhecer do


contexto apresentado nos presentes autos, haja vista a conexão com
crime de "Caixa 2", devem ser considerados nulos os atos decisórios,
nos termos do art. 567 do CPP, ressalvando-se a possibilidade de
ratificação dos demais atos pelo Juízo competente. Tema enfrentado
pela 5ª Turma no AgRg no RHC-143.364/PB.
6. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para
reconhecer a competência da Justiça Eleitoral para analisar os fatos
narrados na Ação Penal nº 0000264-03.2019.815.0731 (1ª Vara Mista de
Cabedelo/PB). Reconhecida a incompetência da Justiça Estadual, devem
ser considerados nulos os atos decisórios, ressalvada a possibilidade de
ratificação pelo juízo competente.”
(HC n. 700.727/PB, relator Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta
Turma, julgado em 13/12/2021, DJe de 16/12/2021.) (grifo nosso)

Desse modo, como são nulos os atos decisórios


praticados pelo juízo incompetente (art. 567, CPP), é evidente que a prisão
preventiva decretada em face do paciente é nula, uma vez que, entre os fatos
que embasaram a decisão de segregação cautelar, há a descrição de crime
eleitoral, que desloca a competência para processamento e julgamento do feito à
Justiça Eleitoral.

II.2. PRISÃO DECRETADA COM BASE EXCLUSIVAMENTE NAS DECLARAÇÕES DO

COLABORADOR PREMIADO. NÃO APRENDEMOS NADA?!

Como adiantado previamente, a terceira fase da Operação


Mensageiro, no âmbito da qual foi decretada a prisão preventiva do paciente, foi
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

deflagrada com base nas declarações prestadas por sete membros do Grupo
Serrana em acordo de colaboração premiada.

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Nesse contexto, como será detalhado abaixo, a prisão do


paciente foi decretada com suporte unicamente nas declarações de Odair José
Mannrich, diretor e proprietário do Grupo Serrana, que, segundo a decisão
guerreada, “detalhou pormenorizadamente um suposto esquema de corrupção
milionário, ocorrido no município de Tubarão”, constituindo, por isso, “uma das
peças-chaves” dos acontecimentos.

Isso porque os fatos delituosos atribuídos ao paciente,


isto é, a solicitação de valores ao Grupo Serrana, teriam se dado por intermédio
do próprio Odair Mannrich, em encontros presenciais, sobre os quais não há
quaisquer elementos probatórios de corroboração independentes das
palavras do delator.

Sendo assim, toda a dinâmica do suposto ajuste de


propina entre a Prefeitura e o Grupo Serrana foi erigida somente a partir da
narrativa do colaborador, cujas declarações são a única fonte dos seguintes fatos
descritos no decisum atacado:

1) Conforme Odair José Mannrich, ainda antes do primeiro mandato dos


representados, o investigado Caio César Tokarski lhe procurou, tendo
havido um encontro no Shopping Itaguaçu em São José/SC, no qual o
agente político pediu R$ 30.000,00 (trinta mil reais) os quais, segundo o
colaborador premiado, devido ao interesse em manterem contratos com
Tubarão, foram efetivamente pagos.
2) Sequencialmente, ainda no final de 2016, Odair José Mannrich, Caio
César Tokarski e Joares Carlos Ponticelli teriam se encontrado
rapidamente em um shopping na cidade de Tubarão, no qual os dois
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

últimos interlocutores agradeceram o valor repassado à título de propina.


3) Após, em janeiro de 2017, em tese, Odair José Mannrich se encontrou
com Caio César Tokarski e Darlan Mendes da Silva, para tratarem do

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contrato vigente do Grupo Serrana com o município de Tubarão,


notadamente valores até então atrasados.
4) Sequencialmente, em posterior oportunidade, Darlan Mendes da Silva
teria solicitado que Odair José Mannrich fosse até sua sala na
Prefeitura Municipal de Tubarão, momento em que solicitou um
repasse mensal de propina para Caio César Tokarski e Joares Carlos
Ponticelli no montante de 10% (dez por cento) dos valores dos contratos do
Grupo Serrana com Tubarão.

Observa-se que toda a narrativa do suposto esquema


de corrupção foi fornecida exclusivamente pelo colaborador Odair José
Mannrich, não tendo sido entregue por esse qualquer elemento que corrobore
suas acusações.

É certo que o relato de delator não pode ser tomado como


elemento probatório per si, senão como mero indício, meio de obtenção de provas
verdadeiras, sem as quais não se pode decretar medidas cautelares diversas,
quanto menos a prisão preventiva.

Essa é a dicção da Lei nº 12.850, em seu art. 4º, §16:

§ 16. Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com


fundamento apenas nas declarações do colaborador:
I - medidas cautelares reais ou pessoais;
II - recebimento de denúncia ou queixa-crime;
III - sentença condenatória.
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

Veja-se que a alteração da Lei n° 12.850, em 2019, deu-


se justamente porque, àquela altura, crescia a percepção que o instituto da
colaboração premiada estava sendo banalizado e que a palavra de delatores, as

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mais das vezes delinquentes contumazes e confessos, era tida como verdade
absoluta.

A alteração legal surgiu, então, como espécie de “freio de


arrumação”, servindo para corrigir imperfeições do texto original e evitar que
acusações despidas de provas fossem utilizadas para a decretação de medidas
drásticas.

Despiciendo lembrar, aqui, todas as dezenas de pessoas


que, no âmbito da operação Lava-Jato, sofreram as agruras do processo penal,
tiveram a vida devassada, o nome enxovalhado e a liberdade cerceada para depois
serem exoneradas justamente em razão da ausência de prova de corroboração da
acusação feita pelo delator.

O que se verifica, porém, no caso concreto, é que a D.


Desembargadora Relatora, em sua decisão, parece ignorar tudo isso, ou seja,
tudo aquilo que se viu na história recente do país, à medida que seus critérios e
parâmetros seguem o modelo ultrapassado pela jurisprudência e pela própria lei.

Com o devido respeito, a D. Desembargadora Relatora


parece ter passado os últimos anos alheia aos acontecimentos, vivendo em uma
realidade já há muito superada; superada, aliás, precisamente pelo fato de
pessoas terem sido destruídas pela leviandade de delatores desesperados!

Não fosse isso, já suficiente para invalidar todas as


graves medidas decretadas, temos ainda que os próprios relatos do delatores são
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inservíveis para sustentar qualquer medida cautelar em face do paciente,


principalmente prisão.

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Ressalta-se, ainda, que, ao contrário do que a decisão


deixa transparecer no trecho abordado no tópico inicial, o relato do colaborador a
respeito do suposto ajuste de repasse mensal evidencia que o empresário não
sabia para quem Darlan Silva repassaria os valores.

O servidor público Darlan supostamente teria chamado


Odair Mannrich para conversar reservadamente e teria dito, nos exatos termos do
depoimento do colaborador, que “o pessoal aí quer 10% do contrato como
repasse pra eles”.

Quando questionado pelo parquet estadual se a


expressão “pessoal aí” se referia ao Prefeito e ao Vice, o colaborador reiterou que
“inicialmente falou pessoal, né... assim, mas o pessoal era a maneira de falar que
era o era, o prefeito e o vice. Eu entendi isso”.

Em outras palavras, Odair Mannrich deixa claro que


não houve qualquer referência ao nome ou cargo do Prefeito e do Vice por
Darlan Silva. O colaborador apenas inferiu, a partir da expressão “pessoal
aí”, que os valores seriam destinados aos agentes políticos.

Ademais, mais adiante em suas declarações, o


colaborador evidencia que nunca conversou sobre valores com o paciente após o
suposto acordo com o servidor público Darlan, conforme transcrição abaixo:

“falei algumas vezes com o Caio, foi diminuindo cada vez que eu ia lá falar
com o Darlan, eu aproveitava, dava um alô no Caio, mas por... mas já não
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

se falava mais em, é ...depois que eu acertei com o Darlan não falava
mais em valores nas conversas, tá, não tinha mais isso aí, a gente só
falava, cumprimentava, perguntava como é que tava a política e tal

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MARINA BOTELHO ANDRADE MIGUEL LUIZA BRAGA C. DE MIRANDA

(...)”

A prisão do paciente, portanto, foi também decretada com


base na distorção do próprio depoimento do colaborador Odair Mannrich, que
relatou, mais de uma vez, não ter sido informado por Darlan Silva para quem
seria a suposta propina acordada e que nunca conversou sobre o assunto com
o paciente.

Isto é, as declarações, além de não poderem ser utilizadas


sem corroboração externa para a decretação da prisão preventiva, foram
“adaptadas” para atender à narrativa ministerial de suposta corrupção sistêmica
em Tubarão.

Além das declarações do colaborador Odair Mannrich, a


decisão aponta outros elementos que supostamente corroborariam a prática de
delitos pelo paciente, nos termos abaixo aduzidos:

“Ex positis, por estes e muitos outros motivos, como quebra de dados
telefônicos e telemáticos, extração de conversas por aplicativos móveis,
apreensões de documentos, comparação de localização por meio de estações
rádio base, recuperação de planilhas sigilosas de propinas, colaborações
premiadas (sócio da empresa, contadora da propina e entregador), vídeos de
câmeras de monitoramento, comprovações de empenhos, etc., evidencia-se o
fumus comissi delicti em desfavor dos representados Joares Carlos Ponticelli
e Caio César Tokarski.”

Os elementos elencados pelo decisum, no entanto,


Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

também se mostram imprestáveis para a decretação da prisão, visto que todos


podem ser enquadrados em uma das seguintes categorias: i) elementos
produzidos unilateralmente por colaborador, ii) elementos extrínsecos que não

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corroboram as declarações do colaborador ou iii) elementos não relacionados ao


paciente.

Quanto ao primeiro ponto, a decisão afirma que “as


planilhas sigilosas recuperadas demonstram, em tese, os valores destinados em
Tubarão para o pagamento de propina”.

Todavia, tais planilhas foram elaboradas pela também


colaboradora Cristiane Ruon, gerente financeira do Grupo Serrana, que indicou
às autoridades a localização do pendrive contendo os documentos, ou seja, trata-
se de prova unilateralmente produzida pela delatora, inservível para a
decretação de prisão preventiva do paciente, pois não configura elemento de
corroboração das declarações dos colaboradores, como já há muito consolidado
pelo E. STF.2.

No segundo grupo se encontram os elementos que não


corroboram a narrativa dos colaboradores a respeito das condutas atribuídas ao
paciente, quais sejam as conversas por aplicativos móveis, comparação de
localização por meio de estações rádio base (geolocalização), vídeos de câmeras de
monitoramento e comprovações de empenhos.

Em relação às mensagens de aplicativo, a decisão cita


conversas obtidas do aparelho telefônico apreendido de Darlan Mendes, em que o
paciente enviava ao servidor informações “de um valor pago para o Grupo Serrana,
sem qualquer tipo de resposta, a qual, a priori, foi efetivamente pago conforme se
extrai do Portal da Transparência do Município de Tubarão”.
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

2Inq 4074, Relator(a): Edson Fachin, Relator(a) p/ Acórdão: Dias Toffoli, Segunda Turma, julgado
em 14/08/2018.

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Nada obstante, o mero envio de valores por mensagem


que, como constatado pelo Portal da Transparência do Município, representam
pagamentos à prestação de serviços de coleta de resíduos por empresa contratada
para tal, não constitui elemento probatório de delito algum.

Veja-se que o destinatário das mensagens, Darlan, era


justamente o responsável pela gestão dos serviços prestados pelo Grupo Serrana.
Logo, havia pertinência em informar a tal funcionário acerca do regular
adimplemento dos valores pactuados.

A respeito da geolocalização de aparelhos móveis, o


decisum sustenta que “da análise das Estações Rádio Base (ERBs) é possível
aferir, nas épocas dos contatos, que houveram possíveis encontros de Odair com
Darlan e Caio, levando em consideração o deslocamento de Odair para Tubarão e
os dados fornecidos pela operadora de telefonia móvel. que aponta azimute da
localização no prédio da Prefeitura Municipal de Tubarão”.

Ora, o deslocamento do colaborador ao município de


Tubarão e supostamente à sede da Prefeitura não configura indício de quaisquer
delitos por parte do paciente, até mesmo porque a própria decisão afirma que “o
colaborador premiado Odair José Mannrich, uma das peças chaves do suposto
esquema premiado, relatou que Tubarão é a maior cidade que possuem como
clientes a destinação final de resíduos sólidos”.

Isso significa que o deslocamento do empresário ao


Município de Tubarão poderia ter como motivação a mera direção de seus
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

próprios negócios, vez que além de proprietário do Grupo Serrana, Odair


Mannrich era diretor e representante legal do conglomerado.

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Além disso, natural que houvesse eventuais


coincidências de localização, principalmente no prédio da prefeitura municipal,
haja vista que era esse o local de trabalho do paciente, do prefeito e de Darlan.

Obviamente, se o delator ingressasse na prefeitura, a fim


de tratar sobre o contrato da empresa com a municipalidade, sua localização
coincidiria com a do paciente, o que não quer dizer que mantiveram encontros e,
muito menos, que as acusações feitas pelo delator são verdadeiras.

Por fim, a decisão assinala como indício dos delitos


imputados ao paciente “a recuperação de imagens de câmeras de monitoramento,
que denotam possível encontro de Altevir Seidel para entregar propina para Darlan
Mendes da Silva”, além da apreensão, na casa deste último, de “uma nota
promissória no valor de R$ 52.020,00 (cinquenta e dois mil e vinte reais), datada
em 25 de agosto de 2021, em nome do emitente Joares Carlos Ponticelli, prefeito
municipal de Tubarão”.

Ora, os elementos indicados acima não têm qualquer


ligação com o paciente, mas, mesmo assim, foram usados pelo decisum para
fundamentar a prisão preventiva dos representados de maneira indiscriminada,
sem indicar de que maneira os elementos porventura se refeririam aos acusados
individualmente.

Sobre a necessidade de as provas de corroboração serem


específicas aos fatos atribuídos a cada um dos acusados, individualmente, são
essenciais as lições de Gustavo Badaró3:
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

3BADARÓ, Gustavo. O Valor Probatório Da Delação Premiada: sobre o § 16 do art. 4º da Lei nº


12.850/13, Consulex, n 443, fevereiro 2015, p. 26-29.

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“Por outro lado, quanto ao requisito extrínseco da corroboração, como bem


destaca Grevi, o objeto da confirmação exigida pela Lei, não podem ser
as declarações provenientes do delator ‘consideradas em seu
complexo’, mas devem ser ‘os fatos a que elas se referem, na parte em que
se pretende ter em conta para fins de decisão’, devendo se ter em conta
cada um dos sujeitos delatados e cada um dos fatos a eles atribuídos.
Se assim não fosse, o sentido dessa corroboração, se confundiria
simplesmente com uma confirmação genérica da atendibilidade do
declarante, e não com a corroboração externa das asserções fáticas da
declaração do delator.”

Quanto aos demais fundamentos, a decisão concluiu ser


necessária a decretação da prisão também para a conveniência da instrução
criminal e para se resguardar a ordem econômica, sem, entretanto, indicar
quaisquer elementos concretos de que o paciente, em liberdade, estaria
contribuindo danosamente para ambas, violando entendimento deste E. STJ4.

Ademais, com a delação dos principais membros do


Grupo Serrana, as atividades da empresa cessaram totalmente, não havendo
que se cogitar de risco de reiteração delitiva.

Assim, veja-se que, no caso do paciente, a decretação da


prisão preventiva, sob os fundamentos aqui combatidos, ganha contornos ainda
mais dramáticos, haja vista que se trata de pessoa pública, Vice-Prefeito do
Município de Tubarão-SC, e que foi privado de sua liberdade sem que se tenha
encontrado qualquer prova contra si.
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

Na denominada operação Lava-Jato, assistimos réus


literalmente morrendo em audiência, famílias sendo dizimadas, políticos e suas

4 HC n. 484.586/RJ, relator Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 5/4/2022.

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reputações destruídos. Ao final, o grande representante desse movimento tornou-


se Senador; sua esposa, deputada federal por um Estado onde nem reside; isso
sem que nos esqueçamos do principal Procurador do caso, que também se elegeu.

Não obstante o sucesso pessoal atingido por alguns, o


preço pago pela utilização de um direito penal puramente vingativo e midiático,
com criminalização de políticos, desnecessárias prisões provisórias, baixíssimo
critério técnico ou mesmo baseado em falácias e puro “jogo de palavras”, foi
altíssimo, não só para os acusados, como também para a vida política e para a
própria reconstrução do Direito.

Importante ressaltar que o contraponto a este


punitivismo desenfreado e populista, onde o protagonista é o julgador, não é a
impunidade, mas sim, um direito penal efetivamente justo, onde as prisões sejam
aplicadas com critério, e não para dar exemplo ou numa demonstração banal de
força.

No caso concreto, como visto, a prisão está baseada


exclusivamente nas palavras soltas e descompromissadas de delatores, que em
busca da liberdade, se veem – até compreensivelmente – capazes de dizer o que a
acusação busca ouvir.

É grave, portanto, que, mesmo após a experiência


desastrosa da Lava-Jato, ainda sejam decretadas prisões preventivas de pessoas
com base apenas nas palavras de delatores.
Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

Em boa hora, tanto a jurisprudência como a própria lei


trataram de reposicionar o peso de delações premiadas, colocando-as como mero
meio para obtenção de provas, e não provas em si.

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Daí a infelicidade de se constatar que após essas duras


lições, auridas ao custo de vidas destroçadas, exista ainda no seio de Cortes
Estaduais pensamento alinhado com posições superadas.

Veja-se que se trata, ainda, do Poder Judiciário de Santa


Catarina, Estado esse que foi palco de uma das maiores tragédias que a
irresponsabilidade na persecução criminal já causou: o suicídio do Professor Luiz
Carlos Cancellier de Olivo, Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina,
preso, acusado e afastado do seu cargo sem provas.

Há que se superar esse tempo de escuridão e


irracionalidade no processo penal brasileiro, extraindo-se da prática jurídica
(porque já extraído da lei e da jurisprudência) arroubos punitivista como o de
atribuir valor e peso a palavra – nem um pouco desinteressada – do delator.

A prisão preventiva do paciente, portanto, está revestida


de flagrante ilegalidade, visto que decretada com base exclusivamente nas
declarações dos colaboradores e em elementos que não se prestam a corroborá-
las.

III. DOS PEDIDOS.

III.1. DO PEDIDO LIMINAR.

Dada a urgência do caso, há a imperiosa necessidade de


Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

concessão in limine da ordem pleiteada para revogação da prisão preventiva


decretada ao paciente em 10 de fevereiro último, uma vez preenchido o dúplice
requisito do periculum in mora e do fumus boni juris.

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O requisito do fumus boni iuris se comprova pela


demonstrada violação aos requisitos 311, 312 e 313, I, do Código de Processo
Penal em que se esteia a prisão preventiva sob análise.

Ressalta-se que já foram levadas a efeito medidas de


busca e apreensão e de afastamento do sigilo de dados telefônicos e
telemáticos em relação ao paciente, o que reforça a desnecessidade de sua
segregação cautelar.

No que diz respeito ao periculum in mora, não há


dúvidas do risco de perecimento do direito do paciente, que se encontra preso,
enfrentando as mazelas do cárcere em decorrência de prisão manifestamente
teratológica.

Posto isso, requerem os impetrantes a concessão da


ordem, em caráter liminar, para que a sua prisão preventiva seja convertida
em medidas cautelares alternativas, em especial o afastamento das funções
públicas, prevista no artigo 319, inciso VI, do Código de Processo Penal, até
o julgamento definitivo desta ordem de habeas corpus, ressaltando que, como
demonstrado na presente impetração, estas se mostraram aptas para o devido
acautelamento processual.

III.2 DO PEDIDO PRINCIPAL.

Ao final, requer-se, em caráter definitivo, a concessão da


Petição Eletrônica protocolada em 03/04/2023 16:32:54

ordem para que seja revogada a prisão preventiva do paciente, já que a sua
manutenção viola o que prevê o art. 312 do Código de Processo Penal, diante da

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ausência dos requisitos autorizadores da medida, ou, subsidiariamente, a


conversão da prisão nas medidas cautelares alternativas do art. 319 do CPP.

Brasília, 3 de abril de 2023.

ROBERTO PODVAL DANIEL ROMEIRO

OAB/SP 101.458 OAB/SP 234.983

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OAB/DF 56.646
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