You are on page 1of 7
Traduzido do original Bewahrung der Freiheit. Das Thema des Dekalogs in sozialgeschichtlicher Perspektive, © 1983 Chr. Kaiser Verlag, Munique, Republica Federal da Alemanha. Os direitos para a lingua portuguesa pertencem a Editora Sinodal, 1993 Co-editora: Rua Amadeo Rossi, 467 Centro de Estudos Biblicos 93030-220 Sao Leopoldo/RS Rua Jodio Batista de Freitas, 558 ~ Scharlau Tel. (51) 3590-2366 93121-970 Sao Leopoldo/RS Fax: (51) 3590-2664 Tel.: (51) 3568-2560 — Fax: (51) 3568-1113 editora@editorasinodal.com.br __cebi@cebi.org.br www.editorasinodal,com.br www.cebi.org. br Tradugdo; Haroldo Reimer Revisdo da tradugao: Hans A. Trein, Nelson Kilpp ¢ Luis M. Sander Capa: Editora Sinodal Arte-finalizacio e impressdo: Con-Texto Grafica e Editora Coordenagao editorial: Luis M. Sander Série: Estudos Biblico-Teolégicos AT-8 Publicado sob a coordenagéio do Fundo de Publicacées Teolégicas/Instituto Ecuménico de Pés-Graduagao da Escola Superior de Teologia da Igreja Evangélica de Confis- sdo Luterana no Brasil CIB-BRASIL CATALOGAGAO NA PUBLICACAO Bibliotecaria responsdvel: Rosemarie B. dos Santos CRB 10/797 C957p ——_Criisemann, Frank Preservacao da liberdade / Frank Criisemann; tradugao de Haroldo Reimer. — Sao Leopoldo: Sinodal: Centro de Estudos Biblicos, 1995. 85 p. — (Série Estudos Biblico-Teoldgicos, AT-8). ‘Tradugao de: Bewahrung der Freiheit. Das Thema des Dekalogs in sozialgeschichtlicher Perspektive. I. Titulo. II. Série. ISBN 85-233-0400-2 CDU 241.6 Indice Alfabético para Catalogo Sistematico: Decélogo dos Mandamentos da Lei de Deus 241.6 Relagdo dos Mandamentos com o Prélogo e invocavel em Israel — e ainda assim permanece uma estreita vincula- co. Esta teologia aperfeicoada ainda no esta presente no Decdlogo. Mas o nome jamais é algo apenas impalpavel e volatil. E a revelacdo do nome de Javé (cf. especialmente Ex 3.14) esta vinculada com isto: com seu nome, ele dé a conhecer a si mesmo, sua esséncia. Se, pois, 0 nome de Javé desvela o lado de Deus voltado para as pessoas, por elas conhecido e, por isso, também utilizdvel, ent&o 0 3° mandamento trata do seguinte: proibe todo e qualquer mau uso imagi- navel de Deus e de seu poder. Se Javé é definido como aquele que liber- tou os destinatarios do Decdlogo, ent&o proibem-se aqui todas as possi- bilidades concebiveis de perverter o poder da liberdade. E proibida toda forma de recorrer a Deus e envolvé-lo para shaw’, i. 6, para fins danosos e fraudulentos. Tudo 0 que nao corresponde a liberdade comunicativa é interdito. A fundamentagao deste mandamento reporta-se exatamente a seu contetido. Também ela permanece genérica, mas expressa o essencial: Deus nao deixara de castigar aquele que abusar assim de seu nome. Assim 6 explicitada a conseqiiéncia do uso da relac&io com Deus como instrumento para ages negativas: Deus mesmo intervém. f evidente que com isso esté ameagada a relacdo constitutiva com Deus e, em con- seqiiéncia, também a liberdade dos destinatarios, baseada nessa relagio. Os trés primeiros mandamentos estéio, pois, claramente direciona- dos no sentido de assegurar a relacdo com Deus mencionada no prolo- go. Esta relagao concede a liberdade aos destinatarios. E interditada qual- quer possibilidade de rejeicao, de desvalorizag4o, bem como de mau uso dessa relagdo. A partir da relacdo jé existente, a formulaciio negativa do mandamento é adequada e justificada. “Lembra-te do dia do sdbado, para santifica-lo...” O mandamento referente ao sébado ocupa uma posiciio intermedia- ria entre os primeiros mandamentos que esto relacionados com Deus e os mandamentos que dizem respeito somente ao relacionamento com outras pessoas. Qual é sua fungdo neste lugar? 44 Preservacao da Liberdade Nas duas verses do Decdlogo, o mandamento do sabado é 0 mais extenso, 0 que mais foi ampliado por explicagdes e acréscimos. Isso sublinha sua posic¢do central. Essas ampliagdes certamente esto relacio- nadas com a crescente importancia da instituigao do sabado na época exilica e mais tarde!!. Aqui nao é possivel tentar fazer uma exata re- construcao historico-redacional do surgimento e da expansdo das duas versdes que agora temos. Independentemente do resultado a que se che- gasse, tal reconstruco seria, em todo caso, bastante hipotética. Para entender o mandamento, porém, nao podemos deixar de tratar da ques- tao da historia da tradigao. O proprio mandamento (Ex 20.8/Dt 5.12a) é 0 tinico que utiliza um termo técnico. Somente o entenderemos se soubermos o que é um shabbat/sabado. Em ambas as versGes, as explicagdes esclarecem do que se trata em termos de contetido: trata-se de um dia sem trabalho num periodo regular de sete dias. Em todo o mandamento, um sentido especificamente cultual ou religioso desta institui¢éo transparece, no maximo, na palavra “santificar”. De modo algum, porém, sao exigidas ou pressupostas quaisquer a¢Ges cultuais ou algo parecido. Trata-se do descanso do trabalho, de santificar 0 sétimo dia nao fazendo nada. Ora, em ambos os cédigos legais de Israel que sio claramente mais antigos do que o Decdlogo, i. 6, no Cédigo da Alianga e em Ex 34, também se exige tal descanso sabatico regular, sem que, contudo, seja utilizado o termo “sdbado’ “Durante seis dias fards 0 teu trabalho, mas no sétimo dia deverds parar (shbi), para que descansem 0 teu boi € o teu jumento e tomem alento o filho de tua escrava e o estrangeiro.” (Ex 23.12.) “Seis dias trabalhar4s, mas no sétimo dia deverds parar (shbt). Tanto na aradura quanto na colheita do cereal, deveras parar.” (shbt; Ex 34.21.) Jé antes do Decdlogo, portanto, est4 documentado um dia regular de descanso, que, quanto a seu contetido, é idéntico ao do Decdlogo. Este é o cerne que devera ser averiguado. O descansar € expresso com 0 verbo hebraico shbt, que no restante do Antigo Testamento significa “parar, terminar”, em sentido bem profano’®. Aqui nao podemos deixar de tratar brevemente da questao muito discutida e controvertida da origem do sdbado. A dificuldade especial reside no fato de que esse ritmo de sete dias acontece desvinculado de 45 Relaga@o dos Mandamentos com o Prélogo qualquer acontecimento da natureza, como, p. ex., das fases da lua. Isto constitui algo singular no mundo de entao. E a diferenga é tao grande que parece impossivel querer derivar o sabado de tais ritmos naturais'**. Ha muito tempo, porém, ja foi observado que o substantivo “sdbado” aparece junto com “lua nova” em textos claramente pré-exilicos. Numa leitura sem preconceitos, entao, tudo nos leva a ver nele um dia da fase . da lua, provavelmente um dia de lua cheia, em todo caso um dia que se repete em periodos regulares e que é cultualmente importante (cf. em especial Am 8.5; Os 2.13; Is 1.13; 2 Rs 4.23)5. A isso se acrescenta 0 fato de que, em 2 Rs 16.17s., este “sdbado” esta vinculado com uma construc&o no ambito do templo de Jerusalém. A meu ver, o trabalho de Gnana Robinson conseguiu juntar estas indicages, a primeira vista tio contraditérias, numa tese convincente'’’. De forma muito resumida, sua tese é a seguinte: o dia de descanso, a cada sétimo dia, e 0 antigo dia de lua cheia, chamado “sabado”, tornaram-se uma unidade somente na época exilica. A primeira instituic&o assumiu 0 nome da segunda. Em todo caso, esta certo que a partir dessa época passou a existir 0 “sdbado” como dia de descanso semanal. Mas parece improvavel que tal dia regu- lar de nio-trabalhar somente tenha sido criado nesta época'?’. Independentemente de querermos ou nao seguir a tese de Robin- son, pode-se afirmar que 0 Decdlogo tematiza apenas o dia regular de descanso. Se a tese estivesse correta, deveriamos assumir como conse- qiiéncia que a formulagdo do mandamento é mais recente do que a épo- ca do surgimento do Decdlogo acima postulada. Mas isso néio significa- ria muito para 0 contetido, que aqui mais nos interessa. Podemos, pois, concluir que o mandamento do sabado no Decalogo tematiza unicamen- te um dia regular de descanso, e no uma celebraco cultual ou algo parecido. Desse “fazer nada” deve participar todo o grupo que compée a casa. Escravos, estrangeiros e 0 gado sio expressamente mencionados. Devemos tentar imaginar o que deve ter significado cumprir este man- damento no estagio da técnica e da economia da época, bem como no “nivel de vida” dele decorrente. Ex 34.21 acentua explicitamente a vali- dade do mandamento para as principais estagdes agricolas da semeadu- rae da colheita. Até ja se postulou que, em sua origem, este mandamen- to foi concebido justamente para esses periodos especificos. Do ponto 46 Preservasdio da Liberdade de vista puramente econdmico, esse sébado implicava renunciar a uma parte ndo-desprezivel da receita familiar. As fundamentacdes dadas para este mandamento no Decdlogo e em outras partes do Antigo Testamento sao claramente secundarias. Por isso s6 podemos, na melhor das hipéteses, fazer conjeturas sobre seu sentido original. Robinson's e outros apontam para o sagrado descanso da terra que o Cédigo da Alianca exige para cada sétimo ano: “Seis anos semeards a tua terra, e recolherds os seus frutos; porém no sétimo ano a deixards descansar e no a cultivards, para que os pobres do teu povo achem o que comer, e do que sobrar comam os animais do campo. As- sim fards com a tua vinha e com o teu olival.” (Ex 23.10-11.) Assim como nos textos mais antigos, também aqui nao se da explicitamente uma fundamentagSo para o dia de descanso semanal. Na melhor das hipoteses, ela pode ser reconstruida em seus tracos mais rudimentares. O verbo aqui empregado (sme) significa, bem profanamente, “largar, deixar a seu proprio cuidado””’. E, de modo semelhante como em shbt/ “parar”, indica-se somente a acdo, mas nao o significado. Ha indicios de que a fundamentag&o social, i. 6, a alimentagio dos pobres, constitua uma camada literaria posterior, da mesma época do Cédigo da Alianga. E possivel que, no inicio, tenha havido concepcées religiosas ligadas ao doador da terra, Javé'°. Tais concepgées dificilmente podem ainda ser reconstituidas. A terra da qual se vive deve ser largada, deve ser entre- gue a seus prdprios cuidados, deve estar entregue apenas a Deus, num ritmo regular de sete dias e sete anos. Isso é muito vago, mas cada passo além disso seria mera especulacio. Tais idéias de natureza teo-ecologi- ca certamente ndo foram decisivas para a histéria do sdbado e do ano sabatico. Nao se pode constatar mais do que uma faisca inicial da tradi- co oral anterior 4s mais antigas fixagdes por escrito da lei. E também isso s6 pode ser feito em tragos gerais. Na luz clara dos textos e, por conseguinte, da histéria encontram-se as fundamentacGes sociais. No Decdlogo, em todo caso, percebe-se neste mandamento, mais do que em qualquer outro, uma referéncia, também lingitistica, ao pré- logo: “Seis dias trabalhards...” (Ex 20.9). O verbo que aqui deve ser traduzido por “trabalhar” (‘bd) € o mesmo que se encontra na expresso “casa de serviddo” no inicio do prélogo. Além do mais, sé ainda no décimo e ultimo mandamento os escravos sfio mencionados explicita- 47 Relagito dos Mandamentos com 0 Prélogo mente. Nao s6 os escravos, mas também agricultores livres como estes a que se destina o Decalogo precisam trabalhar. E também devem fazé-lo (Ex 20.9). Aqui, contudo, nao se deve introjetar no texto uma ética pro- fissional positiva (luterana) ou algo similar. O trabalho agricola na Pa- lestina dessa época era duro, penoso, sofrido e suado. Com referéncia a avaliagdo do trabalho agricola, a narrativa da expulsao do paraiso certa- mente afirma coisas corriqueiras para as pessoas de ent&o, sobretudo os agricultores, quando, em Gn 3.17ss., amaldigoa o campo e formula: “(...) em fadiga obterds da terra o sustento durante os dias da tua vida. Ela produziré para si cardos e abrolhos, e tu comeras a erva do campo. No suor do teu rosto comers 0 teu pio...”', Isso descreve o dia-a-dia do agricultor. O trabalho sob estas condigdes quase nao difere do trabalho escravo. Libertagao da casa de servidao, assim como é pressuposta no pr6- logo, nao significa libertag&o do trabalho penoso na roga amaldigoada. Mas dessa libertactio faz parte a observancia do dia de descanso sema- nal. O descanso exigido no mandamento é, na pratica, o oposto do tra- balho escravo. Portanto, lido a partir do prélogo, este mandamento visa A percepgdo e 4 pratica exemplares do status de liberdade no qual se encontram os destinatarios. Esse status é uma doagao de Javé. E dessa pratica da liberdade concedida no dia de descanso sema- nal tomam parte todos, também as pessoas que nao pertencem do mes- mo modo ao grupo dos libertos mencionados no prélogo. Aquilo que, de resto, s6 entra no Decdlogo como um pressuposto, i. é, 0 poder liberta- dor de Javé, perpassa aqui tudo de forma exemplar e simbdlica, atingin- do até aqueles que, de outra forma, no tém parte neste poder. Aqui quero apenas mencionar ainda que a versdo do Decdlogo de Dt 5 acen- tua ainda mais essa referéncia ao prologo (v. 15). A partir do prologo e de seu tema, niio é casualidade que o manda- mento do sdbado seja 0 centro do Decélogo e tenha sido formulado po- sitivamente (mesmo que a forma lingiiistica em ultima andlise n&o pos- sa ser 0 argumento decisivo). Nos mandamentos precedentes (e de ma- neira modificada também nos seguintes) esté em pauta a preservacao da liberdade concedida — aqui, sua pratica. 48

You might also like