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Ossetivos Compreender como as filosofias morais se aplicam a tomada de decisoes individuais e coletivas nos negocios Comparar e contrastar filosofias morais empregadas no ambiente empresarial Analisar a teleologia, a deontologia as perspectivas relativistas Estudar a ética da virtude como filosofia para compreender a ética nos negécios Discutir o impacto das filosofias de Jjustica sobre a ética empresarial APLICANDO FILOSOFIAS MORAIS A ETICA NOS NEGOCIOS TOpicos Definigao de filosofia moral, 49 Perspectivas da filosofia moral, 51 Teleologia, 52 Deomtologia, 55 A perspectiva relativista, 57 Etica da virtude, 57 Determinagio do que & justo, 59 48 Aplicando Filosofias Morais a Etica nos Negécios Un dilema ético* Um dos problemas que Lael Matthews tem que enfrentar enquanto ascende na carreira cor- porativa é a delicada questao relativa a minorias e mulheres. No cargo que ocupa, Lael precisa decidir, entre trés gerentes, qual promovido. Seu superior deixou claro que tomar a decisao erra~ da nao seria bom, tanto interna quanto externa- mente. Os trés candidatos sto os seguintes: Liz (negra, 34 anos, divorciada, uma filha), que se formou na faculdade entre os 50% com notas mais baixas de sua turma. Esté na empre- sa hd quatro anos ¢ ha oito no setor, com avalia- gio de desempenho medfocre mas alto nivel de energia. Enfrenta algumas dificuldades para di- rigir seu pessoal. A filha tem problemas de sati- | de, e um aumento de salario viria justamente a calhar, Se fosse promovida, Liz seria a primeira gerente negra nesse nivel. Lael a conhece hi pouco tempo, mas desde o inicio elas se deram bem. Na verdade, Lael ajudou uma vez como | baby-sitter de Janeen, a filha de Liz, em uma | emergéncia. O aspecto negativo da promogao de Liz, porém, poderia ser a impressio de que Lael s6 promove favoritos. Roy (branco, 57 anos, casado, trés filhos), formado em uma universidade particular, entre os 50% da turma com notas mais altas. Esta na empresa hé 20 anos e no setor hé 30. Sempre | teve bom desempenho no trabalho, na maior parte das vezes com avaliagao média, O motivo por que fora preterido antes era a recusa a tra- balhar em outra cidade, mas isso nao é mais pro- blema. O nivel de energia de Roy varia de médio abaixo. No passado, porém, foi responsavel pelo treinamento de muitos dos melhores vendedo- res da empresa, Essa promogio seria para ele a Ultima antes da aposentadoria, e muita gente na empresa acha que ele merece. Na verdade, um executivo graduado, ao encontrar Lael no cor- redor, disse: “Como vocé sabe, Lael, Roy esté conosco ha muito tempo. Ele fez. muitas coisas boas para a empresa, sacrificando nao s6 a si ‘mesmo, mas também a familia, Tenho realmente esperanga de que vocé descubra uma maneira de promové-lo, Isso seria um favor a mim, que eu no esqueceria.” Quang Yeh (mulher, asidtica, 27 anos de ida- de, solteira), formada em uma universidade es- tadual entre os 3% de notas mais altas da turma, faz parte da firma hd trés anos. E conhecida por trabalhar 60 horas por semana e por um estilo de geréncia sumamente minucioso, 0 que provoca algumas criticas do seu pessoal de vendas. Na ‘iltima drea que administrou, obteve recordes de vendas, a despeito da perda de algumas con- tas antigas cujos clientes, por alguma razo, nao gostavam de tratar com Quang. Um dos fatos a seu respeito é que processou a tiltima empresa em que trabalhou, alegando discriminagio, e ganhou a causa, Um comentario que Lael ouvi- ra daquela companhia foi sobre a energia de Quang e a opiniio de que coisa alguma a impe- diria de alcangar suas metas. Enquanto Lael passava em revista algumas notas, outro cole- ga graduado na empresa entrou na sala e disse: “Sabe de uma coisa, Lael, Quang esta noiva do meu filho. Andei lendo o hist6rico profissional dela, ¢ ela me parece muito competente. Me daa impresso de uma estrela em ascensiio, ¢ isso indica que ela deve ser promovida com a maior rapidez possivel. Sei que vocé nao estd na mi- nha divisio, mas nunca se sabe por que uma pessoa é transferida. Eu gostaria realmente de que Quang ganhasse essa promog: Por titimo, o superior imediato de Lael yeio Ihe falar sobre Liz. “Sabe de uma coisa, Lael? Liz uma das poucas pessoas na companhia que & negra e qualificada para esse cargo. Andei pas- sando 0s olhos pelas estatisticas de contratagao promogdio da empresa ¢ seria muito bom para mim, ¢ para a companhia, se ela fosse promovi- da, Andei conversando com pessoas das dreas de contratagdo e promogio de pessoal ¢ eles acreditam que isso seria um tremendo reforgo na imagem da nossa empresa.” Enquanto pensava na decisao a tomar, Lael folheou mentalmente as pastas de cada candi- dato e descobriu vantagens ¢ desvantagens em todos eles. Enquanto remofa o problema, 0 tele- fone tocou: “Desculpe incomodé-la assim to tarde, mas preciso que vocé venha até o hospi- tal. Janeen (a filha de Liz) sofreu um acidente e cu nao sei a quem procurar. Vocé pode vir?”, foi a pergunta frenética de Liz. “Posso, ja estou indo”, respondeu Lael. Ao chegar ao hospital, foi informada que os ferimentos de Janeen eram muito graves e que Liz teria que afastar-se do trabalho durante algum tempo para ajudar na recuperagao da filha. Percebeu, também, que 0 acidente criaria um problema financeiro para Liz, | que uma promogao poderia resolver. dia seguinte parecia nunca terminar, e foi mareado pelo antincio piblico de que o filho de Roy ia casar-se com a filha do vice-presidente. O casamento estava marcado para junho e, a0 que parecia, seria uma festa para toda a compa- nhia. Por yolta de 16h30min, Lael jé havia toma- s filosofias morais tratam de idéias sobre o que é certo e 0 que é errado. Ajudam a exp! car por que uma pessoa acredita que um ato é certo ¢, outro, errado. Sao freqiientemente ci- tadas para justificar decisoes ou explicar ages. Para entender como as pessoas tomam deci- ses éticas, portanto, sera titil ter um bom co- nhecimento dos principais tipos de filosofias morais. Neste capitulo, vamos analisar vérios aspec- tos da filosofia moral. Em primeiro lugar, defi- niremos 0 que é filosofia moral e discutiremos as maneiras como ela se aplica ao mundo dos negocios. Em seguida, descreveremos duas grandes classificagées da filosofia moral: a teleologia e a deontologia. Estudaremos, entao, a perspectiva relativista, a qual se recorre para justificar numerosas decisées éticas e antiéticas Definigdo de Filosofia Moral 49 do quatro aspirinas e dois antiacidos, Teria que tomar a decisiio dentro de dois dias. que Lael deve fazer? Questées/Exercicios 1. Discuta as vantagens e desvantagens de cada candidato. 2. Quais as consideraedes éticas e legais que Lael tem que levar em conta? 3. Identifique as pressdes que transformaram esse caso em uma questio ética e legal 4. Discuta as implicagdes de cada deciso que Lael poderia toma. * Este caso 6 rigorosamente hipotético. Qualquer semelhanga com pessoas, companhias ou situagdes reais é mera coincidéncia. que se tomam na vida didria. Discutiremos a chamada filosofia da virtude e como ela pode ser aplicada ao atual ambiente empresarial globalizado. Na secio final, trataremos da ava- liagdo de critérios de justiga. Definigao de filosofia moral Quando conversam sobre filosofia, as pes- soas geralmente tém em mente o sistema de valores que orienta a sua vida. Filosofia mo- ral refere-se em particular aos princfpios ou regras que o individuo emprega para decidir 0 que € certo ou errado. Um gerente de produ- io, por exemplo, pode ser orientado por uma filosofia geral de administragio que enfatiza estimular os operdrios a conhecer tanto quanto possivel sobre o produto que Ihes sai das mos. A filosofia moral entra em jogo quando o ge- rente tem que decidir se deve ou nado informar antecipadamente os funciondrios sobre futuras dispensas. Embora os trabalhadores prefiram um aviso prévio, os efeitos secundarios dessa 50 comunicagdo antecipada poderiam afetar pre- judicialmente a qualidade ¢ a produtividade. Decisdes desse tipo exigem que o individuo avalie a “justeza” ou a moralidade das opgdes quanto aos prinefpios e valores que ele adota como norma de vida As filosofias morais fornecem diretrizes para “determinar como conilitos em interesses hu- manos devem ser resolvidos e como otimizar beneficios miituos de pessoas que vivem em grupos”.' Orientam o profissional de negécios quando formula estratégias empresariais e so- luciona questées éticas especificas. Nao ha, contudo, uma filosofia moral que seja aceita por todos. Alguns executives consideram 0 lucro uma meta final da empresa e, por conseguinte, talvez pouco se importem com o impacto da firma sobre a sociedade. O fortalecimento do capitalismo como sistema econémico dominan- te e mais amplamente aceito criou uma socie- dade comercial. Ha provas de que os sistemas econémicos niio sé criam meios para a alocagao de bens ¢ recursos, mas também afetam as re- lagées na forga de trabalho. Em conseqiiéncia, ‘© sucesso de um sistema econdmico depende tanto da sua estrutura filoséfica quanto da pre- senga de individuos que acreditem em filosofias morais que aproximam pessoas em um merca- do cooperativo, eficiente e produtivo. H4 uma longa tradicio no Ocidente, retroagindo a Arist6teles, de questionar se a economia de mercado e a conduta moral do individuo sao compativeis. Na verdade, na sociedade moder~ na, 0 individuo existe, queira ou nfo queira, na estrutura de instituigdes sociais, politicas ¢ eco- némicas. As filosofias morais so perspectivas mo- rais ideais que proporcionam prinefpios abstra- tos para orientar a vida social do individuo. A justiga distributiva, por exemplo, é uma filosofia moral que afirma que decisdes éticas levam a uma distribuiga0 equitativa de produtos. Quan- do vendeu trés lentes de contato idénticas, usan- do trés diferentes nomes de marca, a precos que variavam de aproximadamente 10 délares 70 délares, a Baush & Lomb violou a filosofia Aplicando Filosofias Morais @ Etica nos Negécios moral da justica distributiva? A companhia con- cordou em pagar uma indenizacdo de 68 mi- Ihdes de délares em uma ago judicial coletiva, embora declarasse que nada fizera de errado? Portanto, a tentativa de implementar a filosofia moral individual no ambiente complexo da em- presa muitas vezes é dificil. Por outro lado, o funcionamento do nosso sistema econémico depende de que os individuos se retinam e com- partilhem filosofias que criem valores morais, confianga e expectativas que permitam que 0 sistema funcione. Nas empresas, a maioria dos funciondrios nao pensa em que filosofia moral particular usa quando enfrenta uma questdo moral. Os individuos aprendem métodos ou fi- losofias de tomadas de decisio por meio do desenvolvimento cultural e social. H4 provas consistentes de que os individuos mudam de fi- losofias morais, dependendo de estarem toman- do uma decisao pessoal, fora ou dentro do am- biente de trabalho.’ Ao analisar filosofias mo- rais, temos que lembrar que cada uma delas defende uma perspectiva ideall e que a maioria dos individuos aparentemente adapta muitas delas, & medida que interpreta dilemas éticos. Em outras palavras, implementar filosofias mo- rais do ponto de vista do individuo nao é uma ciéncia exata. E preciso que 0 individuo recor- ra.ao sistema de valores que aceita e tente apli- car a sua filosofia em situagdes do mundo real. Os individuos formam juizos sobre 0 que acre- ditam que é certo ou 0 que é errado. Da pers- pectiva empresarial, porém, eles podem tomar decisdes relacionadas com ages que talvez se baseiem no principio de produzir os maiores beneficios com os menores danos possiveis. Essas decisdes devem respeitar direitos morais fundamentais, bem como as opinides sobre eqili- dade, justiga e o bem comum. A abordagem das virtudes na ética empre- sarial, da maneira como é discutida neste capi- tulo, pressupde certos ideais e valores que to- dos devem se esforgar por atingir, a fim de al- cangar 0 maximo de bem-estar e de felicidade para toda a sociedade.* Varios aspectos des- ses valores so expressos por filosofias morais especificas. Todos os dias, no local de trabalho, 08 individuos tém que decidir 0 que é certo ou cerrado, ¢ agir em conformidade com isso. En- tretanto, eles nao podem ser parte de uma gran- de empresa ¢ ainda impor sua opinio pessoal, especialmente se adotarem como aceitével uma nica filosofia moral.' No ambiente de traba- Iho, os individuos nao tém liberdade de impor suas prdprias opgées. Embora sejam responsé- veis por seus proprios atos, raramente dispdem do poder necessério para impor aos demais a sua propria perspectiva moral. Além do mais, a maioria das empresas formula uma declaragao de misao; desenvolve uma cultura propria estabelece um grupo de valores biisicos que devem reger 0 relacionamento com os stakehol- ders, inclufdos af clientes, empregados, 0 go- verno e seu sistema legal, e a sociedade. A Hershey Foods Corp., por exemplo, declara em seu Relatério Anual de 1997 que a empresa proporciona uma estrutura empresarial que mantém os emprega- dos concentrados na qualidade, na boa presta- gio de servigos e na eficécia dos custos. Os funcionérios devem ser adequadamente qualifi- cados, nos cargos certos, agregando valor, me- thorando a qualidade dos produtos e dos servi- {¢08 que fornecemos. H4 mais de um ano, esta- mos passando pelo processo de reorganizar a maneira como coduzimos os negécios da em- presa em que vocé trabalha... Esperamos que, quando estiver inteiramente implementada, essa nova organizagao gere valor agregado aos nos- sos negécios e maximize o retorno para os nos- sos acionistas.* A cultura da Hershey € hé muito conhecida por seus altos padrdes éticos e sua preocupa- 40 com os melhores interesses dos seus prin- cipais stakeholders. Os problemas surgem quando os emprega- dos deparam com situagdes que niio conseguem resolver. As vezes, uma melhor compreensao da premissa basica dos fundamentos ldgicos da decisdio que terfio que tomar poderd ajudé-los a escolher a solugao “certa”. Para decidir se de- vem ou nao oferecer suborno a um cliente, na esperanga de conseguir um grande contrato, Perspectivas da Filosofia Moral 51 por exemplo, os vendedores precisam compre- ender os valores basicos da empresa, assim como a sua prépria filosofia moral pessoal. Se ir ao encontro da politica da companhia ou do cumprimento de disposigdes legais for uma motivagao importante, é menos provavel que eles oferegam propina. Por outro lado, se seu objetivo final for uma carreira bem-sucedida e se oferecer vantagens resulta na probabilidade de conseguir uma promogio, ent&o o suborno talvez. nao seja incompativel com a filosofia moral da pessoa, no que interessa 4 conduta empresarial aceitavel." Perspectivas da filosofia moral Ha muitas filosofias morais, e todas sio com- plexas. Como o estudo detalhado de todas elas iria além do Ambito deste livro, limitaremos a discussiio Aquelas que mais se aplicam a ética nos negécios. Focalizaremos os conceitos fun- damentais necessarios para ajudar vocé a com- preender o processo de tomada de decisdes éticas no mundo das empresas. Nao recomen- daremos a utilizagao de qualquer uma delas em particular. Para ajudar o leitor a compreender como as filosofias aqui discutidas podem ser aplicadas a0 proceso decisério, utilizaremos como ilus- tracdo uma situago-problema hipotética. Su- ponhamos que Sam Colt, representante de ven- das, esteja preparando uma apresentagao de vendas de produtos de sua firma, a Midwest Hardware, fabricante de porcas e parafusos. Colt tem esperanga de fazer uma grande ven- da a uma firma de engenharia civil que esté construindo uma ponte sobre o rio Missouri, nas proximidades de St. Louis. Os parafusos fabri- cados pela Midwest Hardware apresentam um indice de defeitos de 3%, 0 qual, embora acei- tvel no setor, torna-os impr6prios para uso em determinados projetos, tais como os que podem ser submetidos a forte e inesperada tensio. A nova ponte seré construfda perto da linha de falha geolégica New Madrid, que deu origem a0 maior terremoto ocorrido nos Estados Uni- 52 dos, em 1811. O epicentro do sismo, que cau- sou extensos danos e alterou 0 curso do Missouri, fica a menos de 300km da nova pon- te. Os gedlogos acreditam que haja uma possi- bilidade de 50% de que um terremoto de mag- nitude 7 na escala Richter possa ocorrer na re- gido, até o ano 2010. A construgdo de pontes nessa drea, porém, nao é regulamentada pelos cédigos de terremotos. Se fechar a venda, Colt ganhar4 uma comissdo de 25.000 délares, além do seu salirio regular. Mas, se falar ao emprei- teiro sobre 0 indice de defeitos, a Midwest po- derd perder a venda para um concorrente, cujos parafusos sfio mais confidveis. O problema é co de Colt, portanto, é se deve ou nao dizer a empreiteira que, na eventualidade de um terre- moto, os parafusos da Midwest poderiam ce- der, resultando possivelmente no desabamento da ponte ¢ na morte de quem estiver passando por ela no momento. Voltaremos a esse exemplo quando discu- tirmos as diferentes filosofias morais, pergun- tando como Colt poderia aplicé-las para resol- ver tal questiio ética. Nao julgaremos a quali- dade da decisao de Colt nem defenderemos uma filosofia especffica como sendo a melhor. Na verdade, 0 exemplo ¢ os fundamentos lgicos da decisao de Colt sao necessariamente Aplicando Filosofias Morais & Etica nos Negocios simplistas e hipotéticos, e o individuo que vai tomar a decisio provavelmente ter que levar em conta muitos outros fatores antes de se de- cidir; portanto, poderia tomar uma decisio di- ferente. Com esse tipo de cautela em mente, vamos estudar sete tipos de filosofia moral: teleologia, egofsmo, utilitarismo, deontologia, a perspectiva relativista, a ética da virtude e os critérios de justiga (ver Tabela 3.1). TELEOLOGIA Teleologia refere-se as filosofias morais nas quais um ato é considerado moralmente certo ou aceitével se produzir algum resultado dese- jado, como, por exemplo, prazer, conhecimen- to, progresso profissional, realizacao de interesse proprio ou utilidade. Em outras palavras, as fi- losofias teleolégicas estudam o valor moral do comportamento examinando suas conseqiién- cias. Atualmente, os filésofos morais denomi- nam essas teorias conseqiiencialismo. Duas importantes filosofias desse tipo que, com fre- qiiéncia, orientam a tomada de decisao de uma pessoa na empresa sdo 0 egoismo e 0 utilita- rismo. Egofsmo. O egofsmo define um comporta- mento certo ou aceitiivel em termos das suas conseqtiéncias para 0 individuo. Os egoistas Abela 3.1 Comparacio das filosofias aplicadas em decisdes empresariais. ‘Teleologia Afirma que 0s atos s&io moralmente certos ou aceitéveis se produzirem um resultado desejado, como a realizaeao de interesse proprio ou utilidade. Fgofsmo Define como ages certas ou aceitéveis aquelas que maximizam o interesse particular do individuo, da maneira por ele definida. Utilitarismo, Define agdes certas ou aceitéveis como aquelas que maximizam a utilidade total ou 0 maior bem para o maior ntimero de pessoas. Deontologia Concentra-se na preservagio dos direitos do individuo e nas intengdes associadas a um comportamento particular, e nao em suas conseqiiéncias. Relativismo Avalia subjetivamente a natureza ética, com base nas experiéncias do individuo e do grupo. Btica da virtude Pressupde que 0 que € moral em uma dada situagdo nao ¢ apenas o que a moralidade convencional exige, mas também o que a pessoa amadut ., de “bom” cardter moral, consideraria apropriado. Justiga Avalia a natureza ética com base na eqtiidade: distributiva, processual, e no que interessa ainter-relagdes. acreditam que devem tomar decisées que maximizem seu auto-interesse, 0 qual cada in- dividuo define de maneira diferente. Dependen- do de cada um, 0 interesse proprio pode ser interpretado como bem-estar fisico, poder, pra- zer, fama, uma carreira de sucesso, boa vida familiar, riqueza ou qualquer outra coisa. Na situagdo de tomada de decisio ética, o indivi duo provavelmente escolherd a alternativa que mais contribuir para o seu interesse particular, O credo do egofsta pode ser definido como “Pra- tique © ato que promova o maior bem para si mesmo.” Muitas pessoas acreditam que os ego- istas sejam inerentemente antiéticos, que indi- viduos e empresas desse tipo sejam orientados para o curto prazo e que procurarao tirar van- tagem do consumidor, ou de qualquer oportuni- dade. As firmas e as pessoas que vendem por meio de telemarketing, por exemplo, demons- tram essa tendéncia egoista negativa quando exploram os consumidores idosos, talvez mais vulneraveis devido a vida freqtientemente soli- téria que levam, ou por medo de perderem a independéncia financeira. Milhares de idosos sao vitimas, todos os anos, de televendedores inescrupulosos. Em muitos casos, perdem to- das as suas economias e, as vezes, até suas casas. Mas ha também o egoismo esclarecido. Os egoistas esclarecidos adotam uma perspec- tiva de longo prazo e levam em conta o bem- estar dos demais, embora seu interesse proprio continue em primeiro plano. Essas pessoas po- dem cumprir os c6digos de ética de sua profis- sio, combater a poluicao, evitar a sonegacao de impostos, ajudar a criar empregos e apoiar Pprojetos comunitdrios. Fazem isso nao porque seus atos beneficiem outras pessoas, mas por- que podem ajudé-los a alcancar algum objetivo maior, como promogao na carreira dentro da ‘empresa. O egofsta esclarecido pode chamar a atengao da alta administragao da empresa para um colega que esté roubando ou enganando os clientes, mas apenas para defender a reputa- cio da companhia e, conseqiientemente, a se- guranga egofsta do seu proprio emprego. Perspectivas da Filosofia Moral 53 Quando as empresas doam dinheiro, recur- sos Ou tempo a causas ¢ instituigdes especifi- cas, seus motivos talvez. nao sejam meramente altruistas. A International Business Machines (IBM), porexemplo, adota a politica de doar ou reduzir o prego de computadores para institui- ‘ges educacionais. A companhia recebe bene- ficios fiscais pelos donativos feitos em equipa- mentos, 0 que reduz os custos de tal politica. Além disso, ao instalar seus produtos em uni- versidades, a empresa tem esperanca de reali- zar vendas no futuro. Quando se juntarem a forca de trabalho, os estudantes de hoje talvez recomendem produtos IBM, que j4 conhecem bem, a suas empresas. Embora beneficiem a sociedade em geral, a longo prazo as agdes da IBM beneficiam a ela propria, também. Voltamos agora ao caso hipotético do ven- dedor que tem de decidir se avisa ou nao & empreiteira da ponte que os parafusos da Midwest Hardware apresentam um indice de 3% de defeitos. Se for um egoista, Sam Colt escolherd provavelmente a alternativa que maximiza o seu pr6prio interesse. Se definir in- teresse prdprio como riqueza pessoal, a filoso- fia moral que adota poderd levé-lo a considerar uma comissao de 25.000 délares mais impor- tante do que a possibilidade de reduzir o risco de desabamento da ponte. Um Colt egoista, portanto, poderd resolver seu dilema ético man- tendo-se calado quanto ao indice de defeitos dos parafusos, na esperanga de fechar a venda abocanhar a comissao de 25.000 délares. Sam racionalizaria no sentido de que é pequena a probabilidade de que ocorra um terremoto, e de que os parafusos nao teriam tanta importéncia assim em um sismo violento. Além do mais, nin- guém ficaria sabendo que os parafusos defei- tuosos podem causar 0 desmoronamento da ponte, Utilitarismo. Tal como o egofsmo, 0 utilita- rismo diz respeito a conseqiiéncias. O utilita- rista, no entanto, visa ao maior bem para o maior numero possivel de pessoas. Acredita que deve tomar decis6es que resultem na maior utilidade social, isto €, produza 0 maior be- 54 neficio para todos os que serao afetados pela decisao. A decisao utilitarista confia em uma com- paragio sistematica de custos e beneficios no tocante a todas as partes afetadas. Usando anéilise de custo ¢ beneficio, o utilitarista calcu- Jaa utilidade das conseqiiéncias de todas as al- ternativas possiveis e, em seguida, escolhe a que produz a maior utilidade. A Suprema Corte" dos BUA, por exemplo, decidiu que os empre- gadores sao responséveis pela ma conduta se- xual de supervisores, mesmo que as empresas nada saibam sobre tal comportamento, Com essa medida, estabeleceu-se um padrao rigoro- so de caracterizagao de assédio sexual no tra- balho. ° Aparentemente, os juizes decidiram que haverd maior utilidade e mais beneficios para a sociedade se as empresas forem forgadas a coibir o assédio sexual. Um dos ministros do Supremo, justificando seu voto na sentenga, declarou que o énus do empregador para impe- dir 0 assédio é “um custo inerente A atividade de fazer negécios”.? Quando avaliam as conseqiiéncias de uma ago, muitos utilitaristas levam em conta os efei- tos sobre os animais, e nao s6 sobre os seres humanos, Essa tendéncia é significativa nacon- trovérsia em torno de pesquisas feitas com ani- mais por companhias de cosméticos e farma- céuticas. Os defensores dos direitos dos at mais protestam, dizendo que esses testes so antiéticos porque fazem mal, as vezes matam, e privamos animais de seus direitos. Contudo, 0s pesquisadores que trabalham para as indtis- trias de cosméticos ¢ medicamentos, como a Maybelline, defendem os experimentos com animais alegando razdes utilitaristas. Argumen- tam que as conseqiiéncias da pesquisa (medi- camentos novos ou aprimorados ¢ cosméticos mais seguros) criam mais beneficios para a so- ciedade do que se fossem suspensos os testes para preservar os direitos dos animais, Nao obstante, muitas empresas de cosméticos rea- giram a controvérsia concordando em suspen- der tais pesquisas, Aplicando Filosofias Morais a Etica nos Negécios Suponhamos agora que Sam Colt, o vende- dor de parafusos, seja um utilitarista. Antes de tomar a decisao, ele faria uma anilise de cus- to-beneficio para descobrir que alternativa cria- ria a utilidade maxima. Por um lado, a constru- gio da ponte melhoraria a circulagdo nas es- tradas € permitiria que um nimero maior de pessoas cruzasse 0 Missouri para ir trabalhar em Saint Louis. O projeto criaria centenas de postos de trabalho, estimularia a economia lo- cal ¢ uniria as comunidades de ambos os lados do rio. Além disso, aumentaria a receita da Midwest Hardware, permitindo a firma investir mais em pesquisa para reduzir, no futuro, o in- dice de defeitos dos parafusos. Por outro lado, © desmoronamenta da ponte provocaria a mor- te ou ferimentos ern centenas de pessoas. Os parafusos, porém, tem uva margem de defei- tos de apenas 3% e $6 hi uma probabilidade de 50% de que o¢orta uri terremoto em algum lugar na regiao de falha. Na ocasiaio do desas- tre, talvez apenas alguns carros estivessem cru- zando a ponte. ‘Apés analisar os custos e os beneficios da situago, Colt poderia concluir que a constru- ¢ao da ponte com parafusos da Midwest cria- ria mais utilidade (empregos, unificagao de co- munidades, crescimento econdmico, expansio da companhia) do que resultaria se ele dissesse a empreiteira que os parafusos podem ceder em um terremoto. Se assim agisse, 0 utilitarist Colt provavelmente nao falaria 4 empreiteira sobre 0 indice de defeitos. Os utilitaristas empregam varios critérios para verificar a moralidade de um ato. Alguns filésofos dessa corrente argumentaram que devem ser seguidas regras gerais para decidir qual ago é a melhor.’ Esses “utilitaristas ao pé da letra” escolhem um comportamento com base em prineipios, ou regras, destinados a pro- mover a maior utilidade, e nao baseados no exa- me de cada situagao particular. Uma dessas regras poderia ser “subornar € errado”. Se as pessoas tivessem liberdade para oferecer propinas em todos os casos em que estas pudessem ser titeis, o mundo se tornaria cadtico; portanto, uma regra que proibisse 0 suborno aumentaria a utilidade. Os utilitaristas “ao pé da letra” nao subornariam um funciona- rio do governo s6 para preservar seus empre- gos, mas para cumprir exatamente a regra. Con- tudo, eles no aceitam auitomaticamente regras morais convencionais. Se uma regra alternati- va promovesse maior utilidade, eles defende- riam a mudanga da convengiio. Outros fildsofos dessa corrente argumentam que a justeza de cada ato individual tem que ser avaliada para se verificar se ele produz a maior utilidade para o maior numero de individuos.” Esses utilitaristas “da acdo” examinam o ato em si, ¢ ndo as regras que pautam a acdo, para descobrir se ela resultara em maior utilidade. As regras, tal como “subornar é errado”, ser- vem aesses utilitaristas apenas como diretrizes gerais. Eles concordariam em que o suborno em geral é errado nfo porque haja alguma coi- sa inerentemente errada nesse ato, mas porque volume total de utilidade diminui quando 0s i teresses do individuo sao postos 2 frente dos interesses da sociedade.! Em um caso parti- cular, no entanto, o utilitarista “da ago” pode- ria argumentar que 0 suborno ¢ aceitdvel. Um gerente de vendas, por exemplo, poderia acre ditar que sua firma s6 conseguir um contrato com uma empreiteira se um funcionario da pre- feitura local receber uma propina. Além do mais, se nfio conseguir 0 contrato, a empresa terd que dispensar centenas de operdrios. O gerente, portanto, poderia argumentar que 0 suborno se justifica, porque salvar 100 postos de trabalho cria mais utilidade do que obedecer 8 lei. DEONTOLOGIA A deontologia é um aspecto das filosofias morais que se concentra nos direitos do indivi- duo ¢ nas intengdes associadas a um dado com- portamento, e nao em suas conseqiiéncias. Para a teoria deontolégica é fundamental a idéia de que todas as pessoas devem ser tratadas com igual respeito. Ao contrario dos utilitaristas, os deontologistas argumentam que hé certas coi- sas que ndo devemos fazer, nem mesmo para Perspectivas da Filosofia Moral 55 maximizar a utilidade. Eles considerariam erra- do, por exemplo, matar uma pessoa inocente ou cometer uma grave injustiga contra ela, por maior que fosse a utilidade resultante desses atos, porquanto agir assim, infrigiria os direitos da pessoa como individuo. O utilitarista, contu- do, poderia considerar aceitavel um ato que re- sultasse na morte de uma pessoa se isso crias- se uma utilidade maior. As filosofias deontolégicas consideram de- terminados comportamentos inerentemente cer- tos, e 0 critério de justeza focaliza o agente in- dividual, nao a sociedade. Por isso mesmo, es- sas idéias sio as vezes chamadas de nao- conseqiiencialismo, formalismo ético ¢ éti- ca de respeito pelo indivtduo. A deontologia moderna foi muito influencia- da pelo fildsofo alemao Immanuel Kant, que formulou 0 chamado imperativo categérico: “Age de tal modo que a norma da tua conduta possa ser tomada como lei universal.”!' Em palavras simples, se vocé se sentir 4 vontade permitindo que todos o vejam cometer um ato, € se seus fundamentos l6gicos para agir de tal maneira sao apropriados para se tormarem um, prinefpio universal orientador do comportamento, entdo praticar esse ato é ético. Se uma pessoa toma dinheiro emprestado, por exemplo, pro- metendo pagar o empréstimo, mas sem inten- Go de assim agir, ela nao pode “universalizar” pedidos de empréstimo sem qualquer intengao de restituir 0 dinheiro. Se todos tomassem em- préstimos sem intengao de resgaté-lo, ninguém levaria a sério essas promessas.!” Por conse- guinte, os fundamentos I6gicos da ago nao se- riam um prinefpio universal apropriado ¢ 0 ato tampouco poderia ser considerado ético. O termo natureza € de importancia funda- mental para os deontologistas. De modo geral, eles consideram a natureza dos principios mo- rais permanente e estdvel e acredifam que observé-los define 0 que é ético, Acreditam também que o individuo tenha certos direitos absolutos: * liberdade de consciéncia; * liberdade de consentimento; 56 * liberdade de ter privacidade: * liberdade de expresso; * processo legal justo.'* Para determinar se uma conduta é ética, os deontologistas procuram identificar sua confor- midade com principios morais. Se um operério de fabrica, por exemplo, adoece ou morre por causa das condigdes do local de trabalho, o deontologista poderia dizer que os métodos de produgao precisam ser modificados, qualquer que seja 0 custo — mesmo que isso signifique levar a companhia a faléncia e, dessa maneira, fazer com que todos os operdrios peream seus empregos. Em contraste, o utilitarista analisa- ria todos os custos e beneficios da mudanga do processo de produgio ¢ decidiria sob tal pri ma. Esse exemplo, reconhecemos, é simpli cado demais, mas ajuda a esclarecer a diferen- ga entre teleologia e deontologia. Em suma, as filosofias teleolégicas consideram os fins asso- ciados ao ato, ao passo que as deontologistas levam em conta os meios. Voltando ao vendedor de parafusos, pense- ‘mos um pouco em Sam Colt como deontologista. Ele provavelmente se sentiria compelido a alertar a empreiteira sobre a margem de defei- to, devido a potencial perda de vidas resultante do desabamento da ponte causado por um ter- remoto, Mesmo que a obra beneficiasse os moradores das margens do rio e Ihe rendesse uma polpuda comissao, o rompimento dos pa- rafusos em um terremoto constituiria uma in- frago dos direitos de todos os que cruzassem a ponte no momento do desastre. Sendo assim, Colt, o deontologista, informaria a empreiteira sobre 0 defeito e chamaria a atengao para o isco de terremoto, mesmo que isso significas- se perder a venda, Tal como no utilitarismo, os deontologistas podem dividir-se entre os que dao primazia aos Ppreceitos morais e os que se concentram na natureza proprios atos. Os chamados deontologistas “ao pé da le- tra” acreditam que a conformidade com prinef- pios morais gerais determina o cardter ético do Aplicando Filosofias Morais a Etica nos Negécios que quer que seja. As filosofias deontolégicas usam a razo e a légica para formular regras de comportamento. Os exemplos nesse parti- cular incluem o imperativo categérico de Kant ea Regra de Ouro da tradicao judaico-cristi: Faz aos outros o que queres que eles te facam. Essas regras, ou princfpios, orientando a con- duta ética anulam os imperativos decorrentes de um contexto especffico. Os direitos basicos do individuo, juntamente com os preceitos de conduta, constituem a deontologia “ao pé da letra”. Por exemplo, o dono de uma loja loca- dora de fitas de video, acusado de distribuir material pornografico, poderia argumentar a partir de uma perspectiva deontol6gica “ao pé da letra”, dizendo que 0 direito basico de liber- dade de expresso se sobrepde a quaisquer outros aspectos da situagdo. Com efeito, 0 ar- gumento da livre expresso foi acolhido por muitas cortes de Justica. Os deontologistas “da acao”, em contrapar- tida, afirmam que os atos constituem a base apropriada sobre a qual julgar a moralidade ou aqualidade ética. A deontologia desse tipo exi- ge que o individuo use de eqiiidade, justeza e imparcialidade ao tomar decisdes e fazer com que elas sejam cumpridas.'* Os deontologistas “da agdo”, tal como os utilitaristas “da acio”, acham que os preceitos servem apenas como diretrizes, e que as experiéncias passadas tém, no processo de tomada de decisdo, peso muito maior do que as regras. Na verdade, os deon- tologistas “da ag3o” sugerem que as pessoas simplesmente sabem que certos atos sio cer- tos ou errados, pouco se importando com as conseqiiéncias ou qualquer invocagao de regras. Além disso, acham que o ato particular ou 0 momento no tempo tém precedéncia sobre qual- quer regra. t Conforme vimos, as questdes éticas podem ser analisadas de diferentes perspectivas. To- dos os tipos de filosofia aqui discutidos teriam uma base diferente para decidir se uma ago particular é certa ou errada. Adeptos das dife- rentes filosofias morais pessoais podem discor- dar em suas avaliagdes de uma dada ago, mas todos estariam se comportando eticamente, se- gundo seus proprios padrées. Todos concor- dariam em que nao ha uma tnica “maneira” certa de tomar decises éticas nem filosofia moral melhor do que a sua. A perspectiva relativista pode ser titil para compreendermos como, na pratica, pessoas tomam essas deci- sdes. A PERSPECTIVA RELATIVISTA As definigdes de conduta ética, conforme a perspectiva relativista, sao derivadas subje- tivamente das experiéncias de individuos e gru- pos. Os relativistas usam a si mesmos e a pes- soas em volta como base para definir padroes éticos. O relativista observa as agdes dos membros de algum grupo relevante e tenta determinar 0 consenso existente no tocante a um dado com- portamento, Consenso positivo significa que a ago é considerada certa ou ética. Tais juizos, no entanto, nado permanecem validos para sem- pre. A medida que evolui ou muda a constitui: ¢ao do grupo, um comportamento antes aceito talvez passe a ser considerado antiético ou er- rado. Por exemplo, na profiss%o contabil, con- forme professada nos EUA, sempre foi consi: derado antiético fazer propaganda de si mes- mo. Recentemente, contudo, conforme mostra- mos no Cap/tulo 2, a propaganda vem ganhan- do aceitago entre os contadores. Essa mu- danga de critérios pode ter acontecido devido ao aumento ininterrupto do ntimero de conta- dores, 0 que resultou em maior concorréncia entre eles. Além disso, 0 governo americano tem investigado as restrigdes que as associa- des de classe impuseram a seus membros e coneluiu que elas inibem a livre concorréncia. Em conseqiiéncia, emergiu na profissao um consenso informal de que a autopropaganda agora é aceitével. No caso do vendedor da Midwest Hardware, o relativista tentaria verificar qual 0 consenso do grupo, antes de decidir se falaria ao cliente potencial sobre o indice de defeitos dos parafu- sos. Com esse fim em vista, Sam Colt exami- Perspectivas da Filosofia Moral 57 naria a politica da sua prépria companhia e a pritica observada pela indtistria em geral. Ele poderia ainda, informalmente, consultar colegas e superiores, as revistas especializadas do ramo e codigos de ética. Investigagdes desse tipo o ajudariam.a determinar 0 consenso do grupo, que deveria refletir uma grande variedade de filosofias morais. Se descobrisse que a politica geral da companhia ¢ a pratica do setor fossem a discussao com os clientes sobre os indices de defeitos de parafusos, e que poderiam ter gra- ves problemas se os comprassem, Sam poderia inferir que ha consenso nesse assunto. Como relativista, ele provavelmente diria 4 empreiteira que alguns parafusos poderiam ceder, talvez resultando na queda da ponte na eventualidade de um terremoto, De modo oposto, se apurasse que a pratica normal em sua companhia e na industria é nada dizer aos clientes sobre os indi- ces de defeito, ele provavelmente se absteria de comentar 0 assunto com a construtora. relativismo reconhece que vivemos em uma sociedade na qual as pessoas tém opinides diferentes e usam critérios diversos para justi- ficar suas decisdes como certas ou erradas. O relativista examina a maneira como os grupos interagem e tenta descobrir provaveis solugdes com base no consenso entre eles. Ao formular estratégias e planos para a empresa, por exem- plo, ele tenta prever os conflitos que surgirio entre as diferentes filosofias adotadas pelos membros da empresa, fornecedores, clientes ¢ a comunidade em geral. Erica DA VIRTUDE A virtude moral é uma disposig&o adquirida e valorizada como uma parte do carater do in- dividuo. A medida que se desenvolve social- mente, 0 individuo pode resolver comportar-se habitualmente da mesma maneirae com razoes, sentimentos e desejos que sao caracteristicos do que pode ser considerado uma pessoa preo- cupada com a moral.'* 0 individuo que tem um traco de cardter de honestidade teré inclinagao de dizer a verdade, porque isso é considerado certo ¢ 0 deixa bem consigo mesmo. Esse indi- 58 viduo tentara sempre falar a verdade por causa da importéncia desse comportamento na comu- nicago humana. A virtude é considerada dig- na de elogios porque se trata de uma postura que o individuo desenvolve por meio da pratica e do compromisso.'* Essa filosofia, denominada étiea da virtu- de, diz que aquilo que é moral em uma dada situagao nao representa apenas o que a morali- dade convencional ou os preceitos morais (de- finigdes societais atuais) exigem, por mais jus- tificados que sejam, mas também o que uma pessoa madura, com um “bom” cardter moral, consideraria apropriado. A ética da virtude pres- supde que aquilo que as regras morais corren- tes na sociedade requerem pode, na verdade, ser a moral minima para o inicio da virtude. Muitos que acreditam na ética da virtude acei- tam uma série de constantes transcendentais que permeiam a equagdo moral. Essas cons- tantes sdo definidas como eternas, sem qual- quer especificidade cultural. Além do mais, a virtude pode ser reforgada pela crenga, pelo conhecimento e pelo comportamento subse- qiiente. A viabilidade de nossos sistemas politicos, sociais ¢ econdmicos depende da presenga, entre os cidadaos, de certas virtudes vitais para o funcionamento correto de uma economia de mercado.” Alguns acreditam que, para existir uma eco- nomia de mercado bem-sucedida, a sociedade deve ser capaz de criar santuérios, como a fa- milia, a escola, a igreja e a comunidade, nos quais as virtudes possam ser cultivadas. Estas virtudes desempenhariam papel importante no funcionamento da economia individualista, con- tratual. Virtudes como a veracidade, a confian- ga, a tolerancia e o autocontrole criam obriga- es que tormam possfvel a cooperaciio social. O funcionamento da economia de mercado ba- seada em virtudes proporciona uma existéncia tradicional, na qual individuos no sistema eco- némico recebem estimulos poderosos para se conformar com os padres de comportamento predominantes. Conquanto alguns filésofos Aplicando Filosofias Morais Etica nos Negocios acreditem que as virtudes possam ser enfra- quecidas pela operagdo do mercado, outros pensam que instituigdes e sociedade devem manter um equilibrio ¢ constantemente expan- dir seu conjunto de virtudes."* Algumas virtu- des que poderiam lubrificar a sociedade de mercado sao listadas na Tabela 3.2. A lista, embora nao seja exaustiva, fornece exemplos dos tipos de virtudes que dio suporte a0 am- biente empresarial. Efitre as virtudes importantes para as tran- sacGes empresariais, foram mencionadas acon- fianga, o autocontrole, a empatia, a eqitidade e a veracidade. Os opostos delas seriam a menti- ra, 0 logro, a fraude e a corrupgao. Em seu sen- tido mais amplo, parece que esses termos sio aceitos em todas as culturas. O problema da ética da virtude surge com sua implementagao dentro ¢ entre culturas. Os que a praticam vao além das normas sociais. Se uma empresa apro- va tacitamente a corrupeao, por exemplo, o empregado que pratica as virtudes da confian- cae da veracidade consideraria errado vender pecas sobressalentes desnecessarias, a despeito da aprovagdo desse procedimento pela empre- sa, Alguns poderiam considerar esses indivi- duos como de alta ética e, a fim de racionalizar seu proprio comportamento, julgar a pratica da mesma como indo além do que o seu cargo ou a sociedade esperam. Talvez argumentem que a virtude é um alvo inatingfvel e que, portanto, ninguém deve ser obrigado a viver & altura des- ses padres. Jé para aqueles que aceitam a éti ca da virtude, tal argumento é destituido de sen- tido, porquanto acreditam na realidade dos ele- mentos que embasam a virtude. No caso de Sam Colt, ele provavelmente levaria em conta os elementos da virtude e fa- laria ao cliente potencial a respeito do indice de defeitos e sua preocupagdo quanto a ponte € a0 risco de ferimentos, morte e destruigao. Evitaria subterfiigios para explicar o produto ou seus riscos e, na verdade, poderia mesmo sugerir produtos ou companhias alternativas, que reduziriam a probabilidade de queda da ponte. Perspectivas da Filosofia Moral 59 Arbela 3.2 Virtudes que ajudam as interagées na empresa. Confianga A predisposicao de ter confianga no comportamento de terceiros, ao mesmo tempo assumindo o risco de que a esperada conduta nao se realize. A confianga evita idades que fiscalizem 0 cumprimento de acordos, contratos e compromissos reciprocos e economiza os custos a elas associados. Hé a expectativa de que a promessa ou o acordo serio cumpridos. Autocontrole A disposigdo de evitar vantagem ou prazer imediatos. Indica capacidade de evitar explorar uma oportunidade conhecida de satisfazer 0 auto-interesse. Troca compen- sat6ria entre auto-interesse a curto prazo e beneficios a longo prazo. Empatia a ‘Capacidade de compartilhar sentimentos ou emogdes com as demais pessoas. Promove vilidade, porque o sucesso no mercado depende de tratamento cortés de pessoas que tém a opeao de procurar concorrentes. A capacidade de prever necessidades € satisfazer clientes e empregados contribui para o sucesso econdmico da firma. Equidade Veracidade Disposi¢ao baseada no desejo de sanar injustigas sofridas por outras pessoas. A eqjiidade freqiientemente implica fazer a coisa certa no tocante a pequenas coisas, com vistas a cultivar telagdes empresari a longo prazo Disposigiio de fornecer os fatos ou as informagdes corretas a0 individuo. Dizer a verdade envolve evitar a fraude e contribui para a confianga nas relagdes empresariais. Fonte: Adaptado de lan Maitland, “Virtuous Markets: The Market as Schoo! of Virtues,” Business Ethics Quarterly (janeiro de 1997): 97. DETERMINAGAO DO QUE £ JUSTO. As avaliagdes da determinagdo do que é jus- to na ética empresarial dizem respeito a eqiti- dade, ou a disposigao de remediar injustigas cometidas. Justiga significa tratamento eqii tivo ¢ recompensa apropriada de acordo com padrdes éticos ou legais. No mundo dos neg6- Cios, isso significa que as regras de decisiio usa- das para averiguar 0 que é justo poderiam ba- sear-se nos direitos reconhecidos do individuo € nas intengdes associadas a uma transacio empresarial. Por conseguinte, ha maior proba- bilidade, de que a justiga tenha por fundamento as filosofias morais deontolégicas, do que a teleologia ou o utilitarismo. A justiga diz mais respeito Aquilo que os individuos sentem que Ihes € devido, com base em seus direitos e no seu desempenho no local de trabalho. A U.S. Equal Employment Opportunity Comission [Comissao de Oportunidades Iguais no Trabalho, dos Es- tados Unidos], por exemplo, foi criada para ajudar os empregados que suspeitam de dis- criminagao no local de trabalho. A National Labor Review Board orienta os empregados que se julgam injustigados a consultar o site wwwnnlrb.gov para identificarem 0 érgao pu- blico correto em que possam buscar informa- ies sobre seus direitos. Trés tipos de justiga fornecem um marco de referéncia para se avaliar a eqiiidade em dife- rentes situagdes (ver Tabela 3.3). A justica distributiva baseia-se na avaliagdo das con- seqiiéncias ou dos resultados de transagdes empresariais. Se alguns empregados acham que estéio recebendo menos do que os colegas pelo mesmo trabalho, eles tém preocupagdes com a justiga distributiva. A justiga processual trata dos processos e atividades que geram conse- giiéncias ou resultados, Preocupagées dessa natureza sobre salarios seriam ocasionadas pela convicgao de que os processos sao inconsis tentes. Avaliages de desempenho que no so formuladas uniformemente nem aplicadas da mesma maneira podem provocar problemas de justiga processual. A justiga inter-relacional cuida da avaliagdo dos processos de comuni- cagio usados nas relagées entre empresas. E dificil implementar a justica distributiva quando um membro da interagao entre empre- sas tenciona tirar proveito de tal relagao. A 60 General Electric Capital Corporation e sua subsididria, a Montgomery Ward Credit Corporation, por exemplo, concordaram em fa- zer restituigdes no valor de 60 milhdes de déla- res a clientes, por té-los induzidos a pagar divi- das pelas quais nao eram legalmente responsé- veis.!” Nesse caso, 0 delito foi a manipulagao dos clientes nas atividades de cobranga de dfvi- das da empresa. Este exemplo mostra que, com freqiiéncia, empresas tém que fazer restituigées quando a sociedade determina que 0 resultado envolveu falta de eqiiidade em pagamentos ou beneficios. A justiga processual resulta da avaliacao dos processos ou taticas usados nas operagées para conquistar clientes. A General Electric Capital Corporation utilizou téticas de cobranga que nao permitiam abertura e acesso A participagio no processo de tomada de decisao.” Por outro lado, o Wainwright Bank and Trust Corporation, de Boston, assumiu 0 compromisso de tratar com justiga “todos os seus stakeholders”, com um “sentido de inclusio e diversidade que se es- tende da sala da diretoria a sala da expedicao”.! Esse exemplo mostra que a justica processual procura delimitar relagdes, ao facilitar-Ihes a compreensiio ea inclusdo no proceso decisério. A justica nas inter-relagdes diz respeito a corregao na comunicagdo e freqiientemente implica relacionamento do individuo com a em- presa, baseado na veracidade das informagées. Abela 3.3 Tipos de Justica ‘Tipos de justiga Justiga distributiva: baseada na avaliago das conseqiéncias ou dos resultados da relagdo empresarial Justiga processual: baseada nos processos e nas atividades que geram conseqtiéncias ou resultados Justica nas inter-relagGes: baseada em uma avaliagio do processo de comunicagtio usado nas relagdes entre empresas Aplicando Filosofias Morais & Etica nos Negécios No caso da General Electric Capital Corporation, os consumidores foram informados de que a companhia havia requerido a propria faléncia quando, na verdade, isso no acontecera. Os consumidores, portanto, receberam informagdes erradas sobre 0 processo de cobranga de divi- das.” Os empregados também podem ser con- siderados culpados em casos que envolvam a justiga em inter-relagdes. O absenteismo, por exemplo, custa todos os anos milhdes de déla- res Ss empresas. Muitos empregados confes- sam que ficam em casa mesmo que nao este- jam doentes, simplesmente para dar uma esca- pada. Mentir sobre os motivos da falta ao tra- balho é um exemplo de uma questao de justiga em inter-relagées. Como mostrou 0 caso da General Electric Capital Corporation, todos os trés tipos de justi- ¢a podem ser usados para avaliar a mesma si- tuagio na empresa ¢ 0 espirito de justiga da empresa envolvida. Voltando a Sam Colt, sua reagdo ao implementar uma idéia de justiga se- ria idéntica a usar uma filosofia moral deontolégica. Ele se sentiria obrigado a alertar as partes interessadas sobre o indice de defei- tos nos parafusos as possfveis conseqiién- cias. De modo geral, as avaliagdes de justica resultam em pedidos de indenizagao, constru- ¢40 de bons relacionamentos e classificagao do espirito de eqilidade nas relagdes dentro e com a empresa. Avaliacdo da eqiiidade Beneficios obtidos Eqiiidade em recompensas Processo de tomada de deciso Nivel de acesso, abertura e participagdo Exatidao das informagoes Veracidade, respeito e cortesia no proceso Resumo do Capitulo 61 Resumo do capitulo A filosofia moral é um conjunto de prinef- pios ou regras que os individuos aplicam para decidir 0 que € certo ou errado. No contexto dos negécios, os gerentes freqiientemente tém que avaliar a “justeza”, ou a moralidade de agdes alternativas em termos de seus préprios princf- pios ¢ valores. As filosofias morais fornecem diretrizes para solucionar conflitos e para oti- mizar 0 beneficio muituo de pessoas que vivem em grupos. Nos negécios, os profissionais so orientados por filosofias morais quando formu- lam estratégias para a empresa e resolvem questdes éticas especificas, mas nem todos adotam a mesma filosofia moral, As filosofias teleolégicas afirmam que os atos sdo moralmente certos ou aceitaveis se produzirem alguma conseqiiéncia desejada, tal como a coneretizagdo de um interesse préprio, ou se resultarem titeis. O egoismo define o com- portamento certo ou aceitével em termos de suas consegii€ncias para o individuo. Numa si- tuacdo de tomada de decisao ética, o egofsta escolhe as alternativas cujas conseqiiéncias contribuem mais para seu interesse proprio. O utilitarismo preocupa-se em maximizar a utili- dade total, ou trazer o maior beneficio para 0 maior nimero de pessoas, Quando tomam de- cis6es éticas, os utilitaristas freqiientemente fa- zem uma anilise de custo-beneficio que leva em conta os custos e os beneficios para todas as partes interessadas. Os utilitaristas teéricos determinam o comportamento com base em regras destinadas a promover a maior utilidade, e nao examinando situagdes particulares, Os utilitaristas “da ago” examinam as proprias agées, € no as regras que norteiam as acées, a fim de verificar se elas resultarao na maior utilidade possivel, As filosofias deontoldgicas focalizam os di- reitos do individuo e a intengao associada a um dado comportamento, e no as suas conse- giiéncias, De modo geral, os deontologistas con- sideram a natureza dos principios morais per- manente eestiivel, e acreditam que agir de acor- do com esses principios define o que é ser éti- co. Acteditam também que o individuo tem cer- tos direitos absolutos, que devem ser respeita- dos. Os deontologistas tedricos dessa corrente acreditam que conformidade com princfpios morais gerais determina 0 que € ético. Os deontologistas “da agéio” sustentam que os atos constituem a base apropriada sobre a qual jul- gar a moral ou a ética e que as regras servem apenas como indicadores. De acordo com a perspectiva relativista, as definigdes de conduta ética podem originar-se subjetivamente das experiéncias de individuos € grupos. Como conseqiiéncia, os relativistas definem os padrées éticos usando a si préprios ‘ou as pessoas em volta como base para deci- io. Observam 0 comportamento no grupo re- levante e tentam determinar que consenso foi aleangado sobre o problema em questio. A ética da virtude estuda cada situagiio e define alternativas de acordo com um conjunto de constantes que permanecem as mesmas, quaisquer que sejam as normas culturais dind- micas, as regras ou outras pessoas. Os que pro- fessam a ética da virtude nao acreditam que o fim justique os meios em qualquer situacao. Embora possam considerar as normas ou re- gras culturais como o inicio da virtude, eles es- tao convencidos de que a virtude pode tran: cender tais limites. Essa ética abrange elemen- tos como confianga, autocontrole, empatia, e dade e veracidade, em contraste com mentir, enganar, fraudar e corromper. As avaliagGes de justica no mundo dos ne- gécios dizem respeito a avaliagdes de eqiiida- de, Justiga € o tratamento razodvel e adequa- do, e a devida recompensa, de acordo com pa- drdes éticos ou legais. A justica distributiva ba- seia-se na avaliagao das conseqiiéncias ou re- sultados de uma relagio de negécios. A justica processual tem como fundamento os proces- sos e as atividades que produzem as conse- qiiéncias ou resultados, A justica das inter-re- lagSes assenta-se na avaliagao do proceso de comunicagao na esfera dos negécios.

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