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e Sonia Aparecida Lopes Benites : Peery di Estudos do Texto € do Discurso Materialidades Diversas Copyright © dos autores arantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida ou Todos os direitos g: desde que levados em conta os direitos do autor transmitida ou arquivada, POSSENTI, Sirio & BENITES, Sénia Aparecida Lopes [Organizadores} Estudos do texto e do discurso: materialidades diversas. $i0 Carlos; Pedro & Joao Editores, 2011. 228p. ; ISBN 978-85-7993-058-4 1. Estudos de linguagem. 2. Anélise do Discurso. 3. Materialidades di- versas. 4. Autores. | Titulo. CDD - 410 Capa: Marcos Antonio Bessa-Oliveira Editores: Pedro Amaro de Moura Brito & Joo Rodrigo de Moura Brito & Valdemir Miotello Conselho Cientifico da Pedro & Joao Editores: Augusto Ponzio (Bari/Italia); Joao Wanderley Geraldi (Unicamp/Brasil); Roberto Leiser Baronas (UFSCar/Brasil); Nair F. Gurgel do Amaral (UNIR/Brasil) Maria Isabel de Moura (UFSCar/Brasil); Dominique Maingueneau (Universidade de Paris XII); Maria da Piedade Resende da Costa (UFSCar/Brasil). & Pedro & Joao Editores Rua Tadao Kamikado, 296 Parque Belvedere www pedroejoaoeditores.com.br 13568-878 - Sao Carlos — SP 2011 Digitalizado com CamScanner SUMARIO Apresentagio 7 OS DISCURSOS SOBRE FAMILIA NO FANTASTICO: A 9 PROPOSITO DO CONCEITO DE DESTACABILIDADE Sonia Aparecida Lopes BENITES Maria Danielle MENDES SOBREASSEVERAGAO EINTERPRETAGAO — 37 Sirio POSSENTI SOBRE O CONCEITO DE FORMACAO DISCURSIVA EM 53 FOUCAULT E O TRATAMENTO DE OBJETOS DA MIDIA Jefferson VOSS Pedro NAVARRO. FRONTEIRAS DO SOCIAL NA ICONOGRAFIA 83, PORTINARIANA: IDENTIDADE E REPRESENTAGAO DO CORPO NEGRO FEMININO EM (CON)TRADICOES Ismara Eliane Vidal de Souza TASSO Jefferson Gustavo dos Santos CAMPOS APOLITICA E O POLITICO NA LITERATURA DE 105 CORDEL Fernanda Moraes D’OLIVO POLEMICA E NEGAGAO EM DOIS DISCURSOS DE 125 EDUCAGAO SEXUAL Marcela Franco FOSSEY Digitalizado com CamScanner Digitalizado com CamScanner SOBRE O CONCEITO DE FORMAGAO DISCURSIVA EM FOUCAULT E O TRATAMENTO DE OBJETOS DA MIDIA Jefferson VOSS (PPG-UEM) Pedro NAVARRO (UEM) Inserido no tema geral que retine o conjunto de artigos des- te livro, cuja proposta é apresentar possibilidades de anilise de materialidades diversas, este texto esboca um caminho para a abordagem de discursos que conjugam signos heterogéneos, tendo como norte o método arqueolégico de andlise de discur- sos formulado por Michel Foucault, em sua A Arquealogia do Saber (2008a). Em linhas gerais, como anuncia 0 titulo deste ar- tigo, a finalidade é pontuar a operacionalidade do conceito de formacao discursiva 4 andlise de discursos da midia contempo- ranea, e isso nos leva a um itinerario tedrico que busca compre- ender como se constituem as regras de formacio e as condicées de possibilidade de um dado saber, ainda que esse saber fuja as extensdes definidas pelo préprio método de Foucault. Encerra- da essa etapa, esse mesmo itinerario enseja estender as formu- lagdes de Foucault a objetos por ele nao contemplados. Assim, elementos que formam o quadro conceitual exposto na Arqueo- logia sao resgatados para compreender os saberes que formam e fazem circular a ideia de “responsabilidade social” em propa- 53 Digitalizado com CamScanner gandas governamentais e em campanhas publicitdrias da midia impressa brasileira. De saida, adiantamos que o carater semio- Iégico que Foucault confere ao seu conceito de enunciado é um dos aspectos que permitem advogar a favor desse modo de fa- zer andlise de diferentes materialidades discursivas, oe cault. plando objetivos diversos daqueles que moviam Fou Pode parecer tedioso, entretanto, outro texto que trate do conceito de formagio discursiva. No Brasil, além da tradugao a tese de Courtine (2009), que trabalha a perspectiva de Foucattl no interior da Andlise de Discurso francesa e passa, Herta, mente, pelo conceito de formag4o discursiva, ha ainda sail ganizago de textos feita por Baronas (2007), que aborda cae sem esse conceito problematico da Andlise de Discurso, 2 mencionar artigos, dissertagdes e teses que também J devida atengao a ele. Embora admitamos que muito 5 ito de sobre esse conceito e talvez seja até desnecessario © eon poet mais um texto sobre ele, entendemos que nossa abOre eT ig o sa contribuir pela maneira um pouco mais detalhada 40 do trata e também pela forma como problematiza a ner método arqueolégico a dominios nao abordados por Fou’ Em vista disso, temos por finalidade: 1) refletir sobre °°", to de formasio discursiva no método arqueolégico © taser © diregées de andlise; 2) problematizar a relagao entre praticas © cursivas e a descrigao de objetos midiatizados; e 3) ensaiar U7” possibilidade de articulagao entre o método arqueolégico & 4 a7 lise de dominios estritamente nao discursivos, tendo como bas? para a organizagao do corpus 0 conceito de enunciado reitor!, 0 I4° As discusses aqui apresentadas encontram-se mais bem desenvolvidas 74 dissertagao de mestrado Reoperacionalizando 0 conceito de formagio discursiva de Michel Foucault para 0 tratamento de objetos midiatizados: sobre a responsabili- dade social na midia impressa brasileira, de autoria de Jefferson Voss, sob a orien- taco do Prof. Dr. Pedro Navarro, do Programa de P6s-Graduacao em Letras da Universidade Estadual de Maringé. 54 Digitalizado com CamScanner nos leva a versar, rapidamente, sobre os elementos formadores de um objeto do discurso. Sobre o conceito de formacio discursiva no método arqueolégico Em A Arqueologia do Saber, Foucault (2008a) oferece as linhas metodolégicas gerais que tencionam organizar um método de descricgao de “enunciados”. De antem4o, é necessario advertir que n4o se trata do mesmo “enunciado” de Bakhtin, de Benve- niste ou de Ducrot, nem de um “enunciado” prioritariamente linguistico®. Também nao quer, Foucault, oferecer métodos de andlise linguistica e, muito menos, fazer aquela andlise de discur- so disciplinar inaugurada por Michel Pécheux — isso malgrado a recorréncia constante ao termo “discurso” e sua variante adno- minal “(inter)discursivo(a)”, como em “configuragao interdiscur- siva” (FOUCAULT, 2008a, p.178), em “campo discursivo” (Ibi- dem, p.175) e também na proposta de “analisar o discurso” (Ibi- dem, p.171). SAo semelhangas terminoldgicas, mas isso nao nos autoriza concluir que o método é uma proposta de fazer andlise de discursos, tal como formulado por Pécheux e colaboradores. Foucault, em trés trabalhos anteriores 4 Arqueologia (Histéria da Loucura [2008c], O Nascimento da Clinica [2008d] e As Palavras e As Coisas [2007]), trabalha em torno dos saberes e das praticas discursivas. O que o filésofo quer mostrar é que, na articulacio entre o homem, a vida, a linguagem e o trabalho, ha certas re- gularidades naquilo que ajusta o olhar sobre as coisas. Dentre tudo aquilo que invade a existéncia humana, sempre ha algo que se mantém regular, apesar de nao unitdrio ou homogéneo. Em Historia da Loucura, o trabalho de Foucault (2008c) con- siste em descrever os saberes que, na Idade Classica, permitem 2 A respeito dos equivocos na leitura feita pela Anilise de Discurso do concei- to de enunciado em Foucault, sugerimos a leitura de Courtine (2010). 55 Digitalizado com CamScanner a constituicgdo do objeto loucura e, mais tarde, as bases episte- moldgicas da Psiquiatria. Em O Nascimento da Clinica, Foucault (2008d) se detém nos saberes que assentam o olhar do homem sobre o corpo humano e que engendram o surgimento da Me- dicina. Finalmente, em As Palavras e As Coisas, obra mais impor- tante de descrigdo arqueoldégica, Foucault (2007) descreve os saberes que organizaram a andlise das riquezas, a historia natu- ral e a gramatica e, posteriormente, ocasionaram oO surgimento da Economia, da Biologia e da Linguistica. Menos atentamente, poderiamos até admitir que 0 esforgo de Foucault, nesses seus primeiros trabalhos, se deu em tomo da descrigao de “disciplinas” (Psiquiatria, Medicina, Biologia etc). Contudo, é em sua tese metodolégica, A Arqueologia do Saber, que Foucault (2008b) deixa clara sua aversao a historia disciplinar e, consequentemente, a histéria das continuidades. Se partirmos do pressuposto de que Foucault, ao tratar dos “discursos”, est falando prioritariamente dos enunciados desempenham algum tipo de regimento na sociedade e so pos” tos em circulagdo pela vontade de verdade, entenderemos que cada uma das “disciplinas” tratadas por Foucault esta entrecor tada por discursos e é, na verdade, uma formagao discursiva. Oo autor quer mostrar que a circulagdo dos saberes nao se restringe a uma ordem causal absoluta e também que os saberes estao estreitamente ligados as outras diversas instituigdes da socie- dade, formando um grande feixe de relagoes. A proposta ar- queoldgica consiste justamente em escavar as camadas d nunciados que se desempenham em uma rede em meio a um arquivo e tentar depreender dai um funcionamento regular que dé visibilidade a existéncia de uma formagao discursiva. Entre os usos terminoldgicos de Foucault em A Arqueologia do Saber, hd recorréncia aos termos “enunciado”, “pratica dis- cursiva”, “discurso”, “formacao discursiva” e “arquivo”. e a relagao entre esses conceitos requer a descrigao, no de : que le e- 56 Digitalizado com CamScanner da funcgao de um conjunto de enunciados, de uma pratica dis- cursiva que remeta, entao, a um discurso e que, por sua regula- ridade, esteja vinculada a uma formacao discursiva. O arquivo, em sua completude, é impossivel de ser descrito, ja que se trata do grupo de todos os enunciados ja desempe- nhados. Em um nivel abaixo daquele do arquivo, ha, entao, as formagées discursivas, ou seja, conjuntos de enunciados regidos pelas mesmas regras anénimas de existéncia — pelas mesmas praticas discursivas. Em uma visao panoramica, a obra A Ar- queologia do Saber é um método de descrigao de formagées dis- cursivas, mesmo que Foucault acabe adentrando outras temati- cas que sao subjacentes ao método. Em termos de especificida- des, opera-se o desmembramento do conceito de formagao dis- cursiva em algumas direcdes de andlise, o que gera uma mulli- plicidade de outros conceitos e de outras nogées. Primeiramente, em A Arqueologia do Saber, Foucault (2008a) se ope as mais variadas nogdes que articulam os discursos em a- grupamentos unitdrios e continuos, como as nogées de tradi¢io, de influéncia, de desenvolvimento, de evolucao, de mentalidade e de espirito de uma época, e também de tipos de discurso, de livro, de obra e de ja-dito. Estas sAo, para Foucault, nogdes que, cada uma a sua maneira, tém a tendéncia de agrupar em conjun- tos unitdrios os discursos dos homens e, por isso, se constituem como unidades do discurso. Nas palavras de Foucault, [...] a supressao sistematica [...] [dessas] unidades inteiramente acei- tas permite, inicialmente, restituir ao enunciado sua singularidade de acontecimento e mostrar que a descontinuidade nio é somente um desses grandes acidentes que produzem uma falha na geologia da histéria, mas ja no simples fato do enunciado; faz-se, assim, com que ele surja em sua irrupcao histérica; o que se tenta observar é essa in- cisio que ele constitui, essa irredutivel - e muito frequentemente mi- nuscula — emergéncia (2008a, p.31). 57 Digitalizado com CamScanner enunciado um acontecimento Cho que impie descontinuidade ) historia, as formagdes discursivas estig sem. a incisdes profundas © permanentes em suas Brades . Elas nao devem, portanto, ser tratadas como Unida. des do discurso, no sentido de que arbitrariamente organizam og saberes em pontos de origem ou em evolucdes ininterruptas, Defendendo a suspensdo sistematica das unidades despoti. cas de discurso, aquelas da histéria global, Foucault entende que hd modos mais controlados de se descrever os discursos ¢ suas relagdes em formagoes di cursivas. Para isso, designa qua- tro direcdes de andlise de uma formagao discursiva: a andlise da formagéo dos objetos, da formagao das modalidades enunciati- vas, da formagao dos conceitos e da formagao das estratégias. Cada uma dessas diregdes de andlise ¢ ainda subdividida em intmeras outras divisdes. Conferimos atengao especial a essa subdivisao elencada por Foucault, pois, no que condiz a nossa posigdo sobre o manejo dos conceitos foucaultianos, a descrigao de uma formagao discursiva deveria obedecer, em seu alcance maximo, a ordem metodolégica designada pelo filésofo — pelo menos em trabalhos que assumam estar empenhados em traba- Ihar a perspectiva foucaultiana no interior da Andlise de Discur- so. Comecemos pela primeira direcao de andlise, a da formagao dos objetos do discurso. Ao caracterizar a formagio dos objetos, Foucault avanga em sua discussao sobre a relagdo entre as palavras e as coisas. Ao discutir sobre as forma ist ses discursivas (As Formacées Discursi s es Discursi- vas [2008a, p.35-44]), o autor adverte . Sendo 0 pre sujeita de relagées. ou 08 deixam em suspenso, No cap magio dos Objetos (2008a, ; 1 p.45-55), Foucaul , ee, D It pa i Sse regime de existéncia dos objetos e, a fim ide oo emplificar 58 " Digitalizado com CamScanner suas analises € consideragées, trata do objeto “loucura” (doen- as psicopatologicas), flagrado em suas pesquisas precedentes (A Historia da Loucura). Ear a analise da formacao dos objetos, Foucault propoe que sejam verificadas as superficies de emergén- cia, as instancias de delimitagao e as grades de especificagao dos obje- tos. E um trabalho que procura entender onde os objetos do discurso sao instaurados (familia, grupo social préximo, meio de trabalho etc.), com 0 que eles mantém relacées (justiga penal, autoridades religiosas, critica literdria e artistica etc.) e como eles se diferenciam uns dos outros. Foucault enfatiza que esses trés procedimentos de descrigao dos objetos do discurso devem ser seguidos de modo a poder estabelecer miltiplas relag6es entre eles e também de modo a nao assumir a existéncia de ob- jetos ja-dados, anteriores ao discurso. A segunda hipdotese sobre a qual se aventa a possibilidade de determinar 0 funcionamento de uma formagao discursiva é para Foucault, aquela em que se descreve a formacao das mo- dalidades enunciativas, “[--] fazendo aparecer a permanéncia de certos tipos de enunciados, certos modos fundamentais de (DREYFUS & RABINOW, 1995, p.75)- de um estatuto para as mais diversas (“L...] descrig6es qualitativas, narragées biograficas, demarca- cdo, interpretacao e recorte dos signos, raciocinios por analogia, dedugao, estimativas estatisticas, verificagdes experimentais” (FOUCAULT, 2008a, p.56)), © objetivo elencado no capitulo A (Ibidem, p.56-61) de A Formagao das Modalidades Enunciativas trar a lei de todas essas Arqueologia do Saber é0 de “[...] encon d enunciagdes diversas € 0 lugar de onde vém’” (Ibidem, p-56). O problema que se impoe esta relacionado ao sujeito do discurso. A fim de responder a essa problematica, que ainda tem a ver com a enunciagao vista como processo, e nao somente com as relagdes que subsistem a formagao dos objetos, Foucault Janga trés questdes, as quais sao, cada uma delas, discutidas separa os expresso do sujeito” Destacando a existéncia 59 Digitalizado com CamScanner demente: uma sobre 0 estatuto do sujeito que fala, OUtra sop, os lugares institucionais de onde o sujeito fala ea Ultima sobre posigzo de sujeito ocupada pelo sujeito na a emeeh, Coma lembram Dreyfus e Rabinow, “{...] No caso ca medicina, Foy. cault teve que descrever, entre oulras coisas, como 08 médicos s30 reconhecides, os hospitais organizados, e@ como muda 4 posic3o do médico enquanto observador, interrogador, receptor de dados, pesquisador ete.” (1995, p-76). - Ja a tarefa de se descrever a formacao dos conceitos deye abranger a descrigao das formas de sucessio, das formas de coexis. téncia e dos procedimentos de interven¢ao. Para as formas de gu- cessio, Foucault propoe um estudo sobre as disposigdes das séries enunciatioas, dos tipos de correlagao dos enunciados e dos esquemas retoricos. Para as formas de coexisténcia, 0 método volta-se para ‘os campos de presen¢a, OS campos de concomitancia e os dominios de memoria. E, finalmente, no que diz respeito aos procedimentos de intervengao, o método realiza a descrigao das técnicas de rees- crita, dos métodos de transcrigao e dos modos de traducao, de apropri- acio, de delimitacao, de transferéncia e de sistematizac@o dos enuncia- dos, S40 todos mecanismos que se encontram no limiar da for- macao dos conceitos de determinada formaco discursiva. Finalmente, por formacao das estratégias, a ultima diregao de anélise de uma formagao discursiva, Foucault designa a forma- Zo dos temas e das teorias desempenhados pelos enunciados gue provém de certo dominio discursivo. Seu intento, ao falar da formagao das estratégias, é0 de definir como esses temas s¢ dis- tribuem na historia. De antem4o, Foucault anuncia certa dificul- dade no desenvolvimento dessa hipdtese de direcao de anilise, ja que ela nao havia sido detalhada em seus trabalhos anteriores: ‘Ainda assim, ele indica as diregdes para pesquisas ulteriores que venham a se debrucar especificamente sobre esse tema. Para tan to, oferece alguns outros mecanismos para a descrigao arqueol- gica: a andlise dos pontos de difraco, da economia da constelagio 60 REP I I i i Digitalizado com CamScanner discursiva e da fungdo do discurso para praticas néo-discursivas. En- quanto os pontos de difragio ainda sao divididos em pontos de incompatibilidade, pontos de equivaléncia e pontos de ligagiio de uma sistematizaga@o, a descrigao da fungao do discurso para praticas nio-discursivas aparece ligada aos regimes e processos de apropria- ¢ao do discurso e as posigdes do desejo em relagao ao discurso. Apés essa rapida passagem pelas quatro diregées de anilise de formagées discursivas, o problema que langamos incide, en- tao, sobre como descrever esse sistema disperso, a partir dessas quatro diregdes (os objetos, os tipos de enunciagao, os conceitos e os temas e opgées tedricas), e, mais que isso, como proceder na anilise de objetos da midia. Foucault esclarece que os feixes de diregées de anilise das formagées discursivas nao podem ser descritos sem que se es- tabelecam relagGes entre eles, uma vez que eles “nao sao inde- pendentes uns dos outros” (2008a, p.81). O Quadro 01, a seguir, permite uma abstragdo geral das subdivisdes que Foucault de- lineia para especificar cada um desses feixes de relagao ou dire- des de anilise. © que deve ser entendido, assim, é que a determinagao dos pontos de escolha e das especificidades de cada uma dessas divi- sdes e subdivisdes nao se dé de modo a desconsiderar a existén- cia de todo um quadro de relagdes operante. As relagées atraves- sam todo esse dominio das regras de formagcao. Foucault, duran- te suas explanagGes sobre as direcdes de analise, insiste em uma descrigado que priorize as relagdes entre todos os dominios das formacoées discursivas. 61 Digitalizado com CamScanner - -Superficies de emerséncia fomucio —_seputenntcsimn® 7" DOS OBSETOS Grades de especificacio nit que (2 se refere a Excuarivas -Posigio sajeito Formas dee jos sis enunciavas Dispose’ aga dos enunciade’ FORMACAO Tes de corelagte dos enune! = Esquemas resiric pos coNCEnOS Sen a Campos de presenga = Cs de concomisincia “Dominos de meméria cats de intervens30 7 Frecedimeni® ip reesei, métodos de transrisde ect +e oucio, de apropriasio, de nade Te mansjeréncia ede sstematizapdo dos emunciados Pontos de difracio Pontos pontos de incompatiiidade “Pontos de equivaléncia “Pontos de ligagdo de uma sistemarizagao Economia da constelacio discursiva “Funeio do discurso para praticas nio-discursivas ~Regimes e processos de apropriago “Posicdes do desejo em relagao ao discurso_ ‘Quadro 01 — Diregdes de andlise e feixes de relagdes de uma formacao discur- siva. Ainda é preciso lembrar que essa configuragao de diregdes de andlise esta estreitamente vinculada aos objetivos de Foucault na andlise de saberes bem especificos, ou seja, aqueles relacionados as Giencias, os quais definem, para estas, as condigdes de possibilidades do surgimento de seus objetos, de seus modos de enunciagao, de seus conceitos e de suas op¢ies tedricas. Nas palavras de Foucault, A arqueologia define regras de formacao de um conjunto de enunci- ados, Manifesta, assim, como uma sucesso de acontecimentos pode, na Propria ordem em que se apresenta, tornar-se objeto de discurso, fe registrada, descrita, explicada, receber elaboragao em conceitos & ar oportunidade de uma escolha teérica (2008a, p-188-189). Digitalizado com CamScanner Considerando que esse autor empreende o método arqueo- jogico tencionando analisar a distribuicao dos saberes na produ- cao da verdade®, cabe as pesquisas que se voltam para as relacdes entre lingua, politica e midia refletir sobre a aplicabilidade dos pressupostos analiticos do método arqueoldgico para a analise de corpora. Admitimos, para tanto, que 0 método arqueoldgico é um método para a descricao de formagGes discursivas e que as formagoes discursivas estao relacionadas, de forma ténue, ao que Foucault (2008a) define como praticas discursivas e ao que ele insiste em diferenciar de praticas nao discursivas — tanto que uma das diregdes de andlise da formagao das estratégias é a analise da fungao do discurso para as praticas nao discursivas. Na andlise de objetos da midia, entendemos que essa discus- sao seja fundamental, uma vez que procura fixar certo rigor na aplicagao do método arqueolégico a objetos diferentes daqueles analisados pelo proprio filésofo. Na tentativa de requerer aten- co sobre a necessidade de que se proceda pelo aprofundamento da quest4o, na proxima secao discutimos rapidamente a dificul- dade de se analisar objetos da midia e, entao, descrever forma- cées discursivas, dadas as restricdes do método arqueologico. Sobre as praticas discursivas e os objetos da midia / midiati- zados Foucault descreve saberes, nao ciéncias ou disciplinas. Para ele, importam muito mais as relagoes heterogéneas que a siste- maticidade légica e causal que liga os acontecimentos a um mesmo fio condutor. > A respeito das dimensdes dos conceitos de verdade e saber no método arqueo- logico, cf. Possenti, 2009. Trata-se de um texto que nos garante uma reflexao peculiar sobre a aplicagao de tais conceitos de Foucault a objetos diferentes daqueles sobre os quais o fildsofo se debrugou em suas andlises. 63 Digitalizado com CamScanner a Como jd apontamos, essa peculiaridade da descrigao arqueo. logica faz com que os termos “discurso”, pratica discursiva’ “saber” ganhem dimensdes especificas na obra de Foucault Vale destacar que Foucault, a0 descrever discursos, nao con. templa, especificamente, a politica, religiao, seas oua mi. dia. Ele persegue a emergéncia dos saberes que definiram obje. tos préprios em torno das doengas psicopatolégicas, que delibe. raram os modos pelos quais os médicos attnarn diante das doengas e também que dispuseram 0 leque de conceitos que poderiam, em dada época, aparecer e se modificar a historia natural, na ané- lise das riquezas e nos estudos gramaticais. Nao € 0 caso, contudo, de afirmarmos que Foucault nao tra- tou da relagao entre os saberes e a politica, a religiao, as artes etc, Uma das marcas fundamentais da aplicagéo do método arqueolégico é a disposicéo do pesquisador para relacionar a produgao e a distribuigao dos saberes as mais diversas institui- ges que constituem a sociedade. Essas praticas institucionais nao pertencentes aos campos dos saberes e das formacées dis- cursivas sA0 as que Foucault chama de praticas nao discursivas. Atentemos para a seguinte passagem de A Arqueologia do Saber: A arqueologia faz também com que aparecam relagdes entre as for- magoes discursivas e dominios nao discursivos (instituigées, aconte- cimentos politicos, praticas e processos econémicos), Tais aproxima- gdes nao tém por finalidade revelar grandes continuidades culturais ou isolar mecanismos de causalidade. Dj tos enunciativos, lo (esta é uma iante de um conjunto de fa- 2 arqueologia nao se questiona o que péde motiva- Pesquisa dos contextos de formulagio); nao busca, encontrar © que neles se exprime (tarefa de uma herme- a ; discursivos: procura definir formas es- Pecificas de articulagao (FOUCAULT, 2008a, p-182-183). a Digitalizado com CamScanner ‘As praticas nao discurs ura, & politica, 4 religido, ds artes, a literatura, 4 economia, en- sio, portanto, aquelas ligadas a cull fim, as instituigoes em geral. As praticas discursivas, por outro Jado, S80 tratadas, durante toda A Arqueologia do Saber, como aque- Jas subjacentes 4 produgao de saberes e a vontade de verdade. Na tradigéo da Andlise de Discurso francesa, a utilizagao do termo discurso designa as relacdes entre qualquer produgao textual humana, a historia e a ideologia. A nogao de materiali- dades discursivas sintetiza a ideia de que o uso da linguagem, independentemente de sua formulagao, aponta para os modos de inscrigao dos sujeitos na ordem da lingua, da imagem (acres- centamos) e da historia. Em A Arqueologia do Saber, entretanto, 0s discursos sao, ao contrario, somente o conjunto de enuncia- dos regido por praticas discursivas que produzem, mantém ou transformam os saberes'. Cabe-nos questionar, entao, a valida- de do método arqueoldogico para a andlise daqueles discursos que, tomados sob 0 olhar do Foucault arquedlogo, nao seriam sequer chamados de discursos: os discursos da politica, da reli- giao, da literatura e da midia. Nao é tao calmamente que se po- de, stricto sensu, utilizar 0 método arqueolégico para a analise dos discursos provenientes desses dominios ou campos, pois se trata de discursos que, mesmo conservando relagées estreitas com as praticas discursivas, nao se definem como saberes. Meena Se aia “Nas palavras de Hall; “Normally, the term ‘discourse’ is used as a linguistic concept. It simply means passages of connected writing and speech. Michel Foucault, however, gave it a different meaning. What interested him were the rules and practices that produced meaningful statements and regulated discourse in different historical periods. By ‘discourse’, Foucault meant ‘a group of statements which provide a language for talking about “a way of representing the knowledge about ~ 4 particular topic at a particular his- torical moment. [...] Discourse is about the production of knowledge through language’ (1997, p.44, grifo nosso)”. 65 Digitalizado com CamScanner Possenti (2009) problematiza o modo como foram amplia- das as acepgdes dos conceitos de saber e de verdade tomados da arqueologia de Foucault, Segundo esse autor, tais conceitog estao sendo aplicados a dominios nos quais Foucault original. mente nao os aplicou. A titulo de exemplo, segue a seguinte passagem de Possenti Tem sido cada vez mais comum considerar que qualquer enunciado que tenha como correlato algum tipo de pratica seja considerado uma forma de saber, com imediata remissao a Foucault. Os exemplos sao diversos, talvez muitos, e si0 tomados, em geral, de campos que poderiam ser chamados da cultura: cozinhar, contar historias, citar provérbios, dar noticias... Ora, mesmo que tais enunciados sejam cor- relatos de praticas, certamente Foucault nao os incluiria nos campos de saber. Foucault estipula que o saber é correlato de praticas, é ver- dade, mas isso nao basta. Para ele, é preciso que se trate de certas praticas, nao de quaisquer praticas (2009, p.170). Ao tratar de praticas, Possenti toma o cuidado de nao classi- fica-las como discursivas ou nao discursivas, ja que isso acarre- ta outro problema terminoldgico e metodoldgico, além desse relacionado aos conceitos de saber e verdade. Talvez pudésse- mos admitir que, ao tratar dos discursos da midia e da politica, nao estamos lidando tao especificamente com praticas discursi- vas, mas sim com praticas nao discursivas. Outra questao pro- blematica, além dessa, é que, do ponto de vista foucaultiano, na analise dos discursos da midia ou na andlise dos discursos poli- ticos, nao estariamos lidando, especificamente, com saberes € com discursos, ou seja, o conceito de formagao discursiva nao seria aplicdvel a esses dominios - s6 no caso em que os objeti- vos da pesquisa mostrassem a relagdo entre tais dominios e 0s campos dos saberes, Podemos Projetar, em forma de esbogo preliminar, duas al- ternativas Para esse problema de aplicagao do método arqueo- légico a dominios nao discursivos, A primeira delas é essa que 66 Digitalizado com CamScanner acabamos de apontar: ha a possibilidade de, na andlise dos dis- cursos da midia, da politica, da religiao, das artes etc., fazer aparecerem as relagGes entre esses dominios nao discursivos e os dominios dos saberes. Essa alternativa foi trabalhada recen- temente por Possenti* na ocasiao em que o autor mostrava jus- tamente que a tomada do conceito de verdade de Foucault para aanilise de textos midiaticos pressupde a deteccao das relacbes entre esses textos e os saberes A segunda alternativa seria a de realmente fazer aumentar 0 alcance dos conceitos de Foucault e tentar aplica-los a dominios diferentes daqueles com os quais 0 fildsofo trabalhou. A tenta- tiva seria a de fazer as quatro direcdes de andlise de uma FD e também suas subdivisdes funcionarem para a delimitacao e descrigao de dominios nao discursivos. No caso dos trabalhos em andlise de discurso que tem como objeto de interpretagao discursos politicos, da midia ou da literatura, por exemplo, en- tendemos que essa seja a melhor alternativa, mesmo que impli- que um trabalho mais arduo de adaptagao de alguns conceitos e de invalidacao de outros. Seria algo similar a uma operacionali- zacao do conceito de formagao discursiva para a analise de dis- cursos da midia. Andlises nessa diregao podem ser encontradas, por exemplo, em trabalhos de Gregolin (2001; 2003; 2004; 2006), de Sargentini (2004; 2006), de Fernandes (2006) e de Navarro (2006; 2008), isso sem mencionar um conjunto muito expressivo de pesquisas ja realizadas e em desenvolvimento por professo- res de varias instituigdes do Brasil que buscam subsidios teori- cos e metodolégicos em Michel Foucault. E nesse empreendimento que este texto se insere, com a proposta de analisar algo que temos chamado de objeto “res- a aa ear + Possenti ofereceu uma andlise sobre a relacso entre a midia.e os eaberes na Oficina “Foucault ea Verdade: urn exemplo”,realizada por conta das “Of ce de Andlice do Discurso: questées de teoria, método ¢ analise”, na Universidade Estadual de Maringd, em agosto de 2010. 67 Digitalizado com CamScanner artindo da coleta e andlise de algumas entais e campanhas publicitarias que essa brasileira entre 0S anos de 2003 ¢ r as diregdes de andlise de formagées lise de dominios nao ponsabilidade social”. P propagandas governam: circularam na midia impr 2006, procuramos articula discursivas definidas por Foucault a an discursivos — aqueles vinculados 4 midia e a politica. Na pr6- xima segao, damos algumas indicagdes sobre as articulagdes que fazemos entre 0 método arqueoldgico e a analise de domi- nios estritamente nao discursivo: O método arqueolégico e a analise de dominios nao discursivos Dois temas atravessam com insisténcia 0s trabalhos do Fou- cault arquedlogo: 0 da vontade de verdade e 0 da vontade de saber. Na conferéncia A Ordem do Discurso (FOUCAULT, 2008b), ao designar os trés sistemas de exclusao que atravessam © discurso, Foucault garante um lugar especial a vontade de verdade, relacionando-a com a manutencao dos. saberes na so- ciedade ocidental. O filésofo problematiza as relagdes entre a literatura e o verossimil, entre as praticas econémicas e a teoria das riquezas, entre o sistema penal e as teorias do direito, os saberes sociolégicos, psicolégicos, médicos e psiquiatricos. Apesar de o pesquisador ter como op¢ao esse caminho se- guido por Foucault, ha pesquisas sobre a midia que nao objeti- vam relacionar os textos midiaticos ou midiatizados a saberes ou a praticas discursivas. Por outro lado, devemos admitir que os discursos da midia sao movidos por vontade de verdade & dessa forma, mesmo nao trabalhando em torno de saberes, PO demos ter portas de entrada para a andlise de objetos midiati- zados quando os relacionamos com a verdade que os sustenta. O emprego do método arqueolégico para a analise de u™ objeto da midia prevé a descrigéo do enunciado, atentando-se a sua natureza semiolégica, assim como o fez Foucault. Contudo, 68 Digitalizado com CamScanner em se tratando de pesquisas com extensées menores que as do autor, talvez um pouco mais locais e com objetivos mais restri- tos, também ¢ requerida uma diminuigao nos alcances das rela- goes a serem analisadas i possivel refletir sobre a vontade de verdade que atravessa os textos da midia sem fazermos grandes descrigdes arqueoldgicas de saberes seculares. Logo, diante da- quilo que Foucault chama de arvore de derivagao enunciativa e ao qual ele associa 0 conceito de enunciado reitor, também so- mos instados a diminuir a abrangéncia inicial de tais conceitos e aplica-los a campos de relacdes menores. Para tal empreendimento, tomamos como enunciado reitor 0 slogan do Governo Federal, durante a gestao do Presidente Luis Inacio Lula da Silva, “Brasil, um pais de todos”. Nossa proposta é mostrar que, em se tratando de um enunciado reitor, o desempenho das regras de formacao desse enunciado corro- bora com a organizacao de uma teia enunciativa que atravessa inumeros outros textos, desde propagandas governamentais até campanhas publicitarias. Foucault entende como enunciados reitores aqueles [..] que se referem a definigao das estruturas observaveis e do campo de objetos possiveis, que prescrevem as formas de descri- 40 e os cédigos perceptivos de que ele pode servir-se, os que fa- zem aparecerem as possibilidades mais gerais de caracterizagao e abrem, assim, todo um dominio de conceitos a ser construidos; enfim, os que, constituindo uma escolha estratégica, dao lugar ao maior numero de opcoes ulteriores (2008a, p.166) Possuindo certas peculiaridades por conta de sua condigao de acontecimento discursivo historicizado, o mote do Governo Federal produziu relagées bem especificas entre os enunciados € o referencial para “Brasil”, deu vez a existéncia de todo um dominio associado de novos enunciados e também organizou a produgao de determinados sujeitos para ocuparem suas posi- 69 Digitalizado com CamScanner “Brasil, um pais de todos” pode, assim, ter 0 s enunciados. : : it aa um enunciado reitor, ‘as associadas as de ; Contudo, precisamos aceitar que nao se irate evidentemen. te, de tomar esse conceito de enunciado ea do modo como Foucault primeiramente 0 concebeu e, até a ponto, aplicou O que esteve em jogo em nossa pesquisa foi ame tentativa de articular as diregdes de andlise de uma formagao discursiva eas propriedades de desempenho da funcao enunciativa a corpora menos extensos e a objetivos diversos dos de Foucault. Ao fa- larmos de arvore de derivagao enunciativa, por exemplo, é pre- ciso considerar e verificar a sua produtividade em um campo suas caracteristic menor de relacoes. Analisar 0 modo como 0 enunciado reitor “Brasil, um pais de todos” isola regras de formagao de enunciados nao seria, do ponto de vista da Andlise de Discurso, a indicagao de como esse enunciado esta na base da formagao de sistemas de pensamento e de modos proprios de se relacionar discurso e verdade no decorrer de séculos, garantindo a existéncia de objetos, modali- dades enunciativas, conceitos e estratégias. Haja vista a grande quantia de pesquisas nesse campo que se ocupam de periodos de curta e média duragao, cabe-nos, nesse caso, apenas uma tentativa de mostrar algo que estaria na superficie da arvore de derivacao enunciativa, mas que apresenta relagGes similares aquelas dos niveis mais profundos e basilares, vars et el psa ut ts campanha publicitaria de a RespAtinaagnee ne Puc . amada principal da publicida- ee ai rise a ae alimentos transgénicos traz, a frase “Mais satide para to- os", enquanto um slogan em letr, ; J@ pensou num mundo melhor, era er cite “Revista Veja. Ed.n’, 1834.24 der 2003. p.103, vocé ja pensou em transgéni- 70 Digitalizado com CamScanner cos”. Dificil nao relacionar a chamada dessa campanha da Mon santo ao mote do Governo Federal, “Brasil, um pais de todos” jaquea campanha oferece “saude para todos” ; nsanto (2003). Figura 01 - Campanha publicitaria da Mot ‘os como esses, que mostram relagoes bem Ora, diante de text que integram toda uma peculiares entre as palavras e as coisas, rede de enunciados e demarcam certas posicoes de sujeito, é possivel indicar regularidades de funcionamento dos enuncia- dos e o modo como eles inscrevem objetos do discurso, modali- dades enunciativas, conceitos e estratégias, mesmo nao nos de- tendo, precisamente, a saberes e a praticas discursivas. ae Digitalizado com CamScanner Campanhas publicitarias, como a do Magazine Luiza’, caracteriza a propria empresa como “uma empresa cidadg, ng respeita as pessoas, reconhece seus valores’, ou como g ity Fundagao Gerdau® trazendo como chamada “Pessoas; Nosso maior patriménio”, ou ainda como a da Gol’ anunciando que, com a Gol, “todo mundo pode voar”, pois “uma companhi, aérea nunca foi tao acessivel”, propdem mais que a venda de produtos. Elas deixam transparecer certa preocupagao das em. presas em parecerem responsdveis socialmente, assim como suge. re 0 enunciado reitor “Brasil, um pais de todos”. Dessa forma, ao lidarmos com os enunciados e as regras de formacao que estao na base da derivacao enunciativa, podemos Pressupor que todas essas materialidades, aqui restringidas a campanhas publicitarias e propagandas governamentais (mas que também poderiam ser programas de auditdrio, panfletos religiosos, pro- pagandas politicas, novelas televisionadas etc.), funcionam a partir de uma vontade de verdade e, por isso, delineiam, for- mam e transformam os objetos do discurso. Em nosso caso, i- maginamos estar tratando de um objeto que designamos respon- sabilidade social. As analises dessa série enunciativa dao visibilidade a uma regularidade funcionando entre algumas campanhas publicité- rias e propagandas governamentais que circularam a partir de 2003 — ano em que o Presidente Lula inicia seu primeiro manda- to. Diante disso e contrastando nossas dedugdes com o método arqueologico, inferimos que esses enunciados margeiam a exis- téncia de um objeto do discurso. Tomando como enunciado reitor o slogan do Governo Federal e admitindo, a partir dele, certa impregnacéo de uma verdade relacionada A partilha de ee la ene Revista Veja, Ed. n°, 1820. 17 set 2003, pp.04-05, "Revista Veja. Ed. n°. 1816, 20 ago 2003. pp.66-67. * Revista Veja. Ed. n°. 1858. 16 jun 2004. pp.06-07; e Ed. n°, 1859, 20 de jun de 2004. pp.80-81 72 Digitalizado com CamScanner um pais entre seus habitantes, parece claro que, se o Governo Federal inaugurava sua gestao com a proposta de trabalhar a favor da inclusao social, essas regras de formagao poderiam atravessar outros textos que nao somente aqueles ligados ao Governo e as suas propagandas governamentais Materialmente, esse fato é atestado por campanhas publici- tarias que recorrem ao enunciado reitor quando de sua escrita: como a campanha da Monsanto oferecendo “Satide para todos” (cf. nota de rodapé 06); a campanha da Gol, com o slogan “Gol. Aqui todo mundo pode voar” (cf. nota de rodapé 09), que nos garante uma pardfrase mal lapidada em “agora ha aviao para todos”; ou a campanha da Vale do Rio Doce, empenhada em proporcionar “desenvolvimento para o Para e muito orgulho para todos os Brasileiros”. O “pais de todos”, nas campanhas publicitarias, se transformou em satide, direito a andar de avi- ao, orgulho nacional e mesmo o bem-estar do pais, como no trocadilho que virou slogan do antiacido Sonrisal: “Sonrisal. O bem-estar do Brasil". Podemos afirmar, portanto, que ha uma arvore de deriva- cao enunciativa, no sentido de que todo um dominio associado de enunciados se formou a partir do enunciado reitor “Brasil, um pais de todos”. O enunciado reitor é esse marco dentre os mais diversos acontecimentos discursivos, é o enunciado que mais bem oferece as bases para 0 desempenho de outros enun- ciados e para a atuagao das regras de formagao. Enunciados como estes sao os que, em seu conjunto, formam, no Brasil, | desde 2003 até nossos dias, o objeto responsabilidade social. E possivel considerar que esse objeto pode ser relacionado a praticas discursivas, tais como aquelas encontradas em discus- s6es académicas das Ciéncias Humanas sobre a inclusao social, i ONE ers © Revista Veja. Ed. n®, 1861.07 jul de 2004. pp.30-31. 1 Revista Veja. Ed. n®, 1811. 16 jul 2003. pp.06-07. 73 Digitalizado com CamScanner em forgas econémicas que exigem a distribuigao de tenda a fim de garantir um maior poder de compra a0 POTEET Oy ou em constatagdes sobre o estado de nosso planeta que imbuem A responsabilidade social também 0 peso da responsabilidade ambiental, criando, inclusive, o termo “responsabilidade sécio. ambiental”. : Nesse sentido, querendo tomar a arqueologia do saber co. mo apoio tedrico e metodoldgico para 0 estudo das relagées entre os dominios nao discursivos que formam os objetos da midia (e nao os objetos das ciéncias), € compreensivel que pas- semos a utilizar a terminologia de Foucault para abordar rela- des enunciativas diferentes ao tratar das mais diversas materia- lidades linguisticas. O poder da politica e da midia na manu- tencao dos “discursos verdadeiros” que circulam pela nossa sociedade é tao grande a ponto de formar e transformar seus objetos, suas modalidades enunciativas, seus conceitos e suas estratégias. Os objetos do discurso, aqueles possiveis de serem defini- dos a partir das relagdes entre suas superficies de emergéncias, suas instancias de delimitacao e suas grades de especificagao, podem, entao, ser recortados como produtos da midia e anali- sados com base nas relagdes entre a midia e a vontade de ver- dade e de saber, sem que, com isso, necessariamente nos dete- nhamos no estatuto dos saberes na Pprodugao de verdades na midia. Passamos, assim, a descrever objetos que nao virdo, mais tarde, se tornar estritamente objetos dos saberes e das ciéncias, como no caso da responsabilidade social, que atravessa inime- Tas esferas e instituigdes da sociedade e é mantida pelo estatuto do discurso verdadeiro, mas que nao é eminentemente um sa- ber como aqueles descritos por Foucault (2007, 2008 e 2008d). Dentro da grade nox i cional de A Arqueologi i: ‘ gia do Saber, repre sentada esquematicamente no Quadro 01, situar a responsab: dade social na condicao de objeto do discurso implicaria reco- 74 Digitalizado com CamScanner nhecer e descrever, primeiramente, 0 funcionamento de suas superficies de emergéncia, ou seja, os lugares institucionais em que se da o aparecimento do objeto de discurso. Em se tratando da analise de um periodo de curta de duragao, o trabalho do analista pode se restringir 4 descrigdo de um grupo delimitado de superficies de aparecimento do objeto. Campanhas publici- tarias € propagandas governamentais podem ser tomadas a partir de sua inscri¢ao no interior de revistas de circulagao na- cional ou de outros suportes midiaticos. Nesse caso, 0 que entra em jogo sao as dimensoes do objeto em relagao a superficie em que ele emerge. Nao ha como deixar de notar, no que diz respeito ao objeto responsabilidade social, 0 efeito da relagao entre produto e venda da marca nos caracteres que definem 0 objeto do discur- so. E assim que a responsabilidade social é enunciada diferen- temente em varias campanhas publicitarias. Para a empresa aérea Gol, em “Gol. Aqui todo mundo pode voar” (cf. nota de rodapé 09), responsabilidade social equivale mais ou menos a oferecer seu produto a camadas sociais que antes dele nao des- frutavam. Além de garantir ao produto certo prestigio em uma escala de valoracao social, 0 que o faz ser ambicionado pelo consumidor ou mesmo que j4 deduz que o produto seja mesmo ambicionado, essa publicidade explora, como responsabilidade social, o simples fato de vender seu produto. E nesse sentido que a Gol traz chamadas como “Apesar de viver no alto, uma companhia aérea nunca foi tao acessivel” e “A Gol esta mos- trando um lado da aviacdo que muitos brasileiros nao conheciam: © lado de dentro” (cf. nota de rodapé 09). A responsabilidade social é dar acessibilidade aos consumidores. O interessante i que a acessibilidade equivale a compra do produto: poder comprar o produto é ter acesso a ele — um tipo diferente de in- clusao social. 75. Digitalizado com CamScanner aesse éo0 de uma publicidade de Segu. da e Previdéncia?. Com a chamada ‘a 6 um direito de todos”, a empresa dar acesso 4 compra do prody. to (com seguros de vida a partir de R$ es weclaeewm de demonstrar sua responsabilidade socia Ge ' “ os rasi- leiros, garantindo aquilo que seria “um direito cto = - Como vemos, casos como esses sinalizam que as super! i le emer. géncia dos objetos da midia imprimem a esses objetos caracte- tes especificos que estao alinhados as regras de formacao dos enunciados e, em uma primeira instancia, as designagées de um Um caso semelhante : ros de vida da Bradesco Vi principal “Proteger a famili também investe na ideia de que enunciado reitor. Tendo em vista que devemos analisar as relagGes entre o conjunto de elementos formadores dos objetos do discurso, nao podemos descartar a possibilidade de analisar as superficies de emergéncia ao lado das instancias de delimitacdo e das grades de especificacao. O lugar publicitdrio, nesse caso, ocupa a fun- gao de todos esses elementos formadores do objeto responsabi- lidade social. E a publicidade que, em grande parte, garante peculiaridades ao aparecimento do objeto, delimita-o eo especi- fica em seu aparecimento, Primeiramente, seriam as relacdes primeira de seu proprio surgi ” imento na: 7 so ge ; " 8 quele lugar enunciativo, pois, afinal, ha saberes de ordens di- /M®. 1839. 04 fey 2 004. pp.21. 7% P Digitalizado com CamScanner Como vimos no caso das publicidades da Gol e da Bradesco Vida e Previdéncia, a responsabilidade social é definida como a propria venda do produto. Jé outras campanhas publicitarias, como a da Coca-Cola e a da Fundagcao Bradesco, definem a res- ponsabilidade social como a criagao de programas e de projetos especificos para a incluso social, como o “Projeto Prato Popu- lar” da Coca-Cola® e 0 “Dia da Agao Voluntaria” da Fundagao Bradesco". Ao noticiar os resultados das agées sociais das em- presas, as campanhas publicitarias oferecem credibilidade tam- bém aos produtos vendidos por elas. Trata-se de uma estratégia diferente, que permite compreender que o proprio lugar publi- citario delimita e especifica 0 funcionamento do objeto do dis- curso no nivel enunciativo. Exemplos como aqueles em que a responsabilidade social € vinculada a venda do produto ou como esses em que é a a¢ao social da empresa que demarca sua responsabilidade social podem manifestar as definicgdes desse objeto do discurso se- gundo suas superficies de emergéncia, instancias de delimita~ cao e grades de especificagao. Nesse recorte, a publicidade é quem flagra a melhor sintese de um elemento formador do ob- jeto do discurso, mesmo sendo certo que, no caso das propa- gandas governamentais, a politica também afetaria as relagoes entre estes elementos. Enfatizamos, de qualquer forma, essa possibilidade de se empreender uma andlise dos textos da midia com uma utiliza- cao mais restrita e criteriosa das direcoes de analise que Fou- cault desenvolveu para a descricao das formagGes discursivas. Infelizmente, na estreiteza deste capitulo, pudemos ensaiar so- mente essa pequena andlise da formagao do objeto, este que designamos responsabilidade social. Contudo, se levado adian- ® Revista Veja. Ed. n*. 1846. 24 mar 2004. pp.43-44. ™ Revista Veja. Ed. n®. 1846. 24 mar 2004. pp.07-07. 7 Digitalizado com CamScanner i. | te, o método ainda permite mostrar a formagao das Modalida. des enunciativas, dos conceitos e das estratégias, tornang, completa, na medida do possivel, a descrigao de uma formacs, discursiva. Consideragées finais Algumas reflexdes sobre 0 método arqueolégico de Miche} Foucault foram pretendidas por este texto. Elas dizem respeito, principalmente, a aplicagao desse método a dominios nao explo- rados por Foucault. Antes de colocar qualquer restricao ao uso do método para esses novos dominios, mesmo porque ja € gran- de o numero de historiadores e analistas do discurso que, dentro e fora do Brasil, tem provado que essa aplicacao € valida e neces- saria, nosso desejo foi o de mostrar 0 quao possivel é esse em- prego do método arqueolégico a andlise de discursos da midia. Nesse breve percurso realizado, enpenhamo-nos em tracar uma explanagao detalhada, mas nao profunda, do conceito de formagao discursiva do modo como é tratado por Foucault em A Arqueologia do Saber (2008b); na sequéncia, problematizamos 0 uso desse conceito para a andlise de textos da midia, ja que se trataria, em suma, de um dominio para 0 qual o método e 0 conceito nao foram elaborados. E nessa problematizacao que pudemos abordar algumas peculiaridades dos conceitos de discurso e pratica discursiva e também esbogar rapidamente uma disting4o entre praticas discursivas e praticas nao discursi- vas. Atentamos, ento, para o fato de que a analise de discursos da midia daria preferéncia a dominios nao discursivos e, por isso, haveria certa dificuldade na aplicacao do método, o que exigiria a abertura de algumas ressalvas e adaptagées em rela- §20 a0 seu emprego. Finalmente, ensejamos um sucinto exerci- cio de andlise que procurou demonstrar essa possibilidade de se Jangar um olhar arqueol6gico sobre textos publicitérios da mi- 78 Digitalizado com CamScanner dia impressa e, nesses textos, aplicar as categorias e direcdes de descricao das regras de formacao do modo como foram organi- zadas pot Foucault. Dada a curta dimensao de nosso texto, pu- demos apenas verificar a validade do conceito de enunciado reitor para a organizacao de corpora e o funcionamento dos ele- mentos formadores dos objetos do discurso. O que este capitulo procura deixar de tarefa para os analis- tas de discurso que se debrucam sobre a arqueologia de Michel Foucault é a tentativa de desmontar os conceitos arqueolégicos que, em seu conjunto, designam a montagem das formacoes discursivas e fazé-los trabalhar na descrigdo e na analise das tegras de formacao dos enunciados da midia. Descrever a for- magao dos objetos, das modalidades enunciativas, dos conceitos e das estratégias e tornar operantes, para a andlise de objetos midiatizados, todos os elementos formadores que Foucault propoe é uma empreitada que ainda exige muitas reflexGes em torno da obra desse filésofo. Foucault previu, durante toda A Arqueologia, a andlise de feixes de relacdes que certamente instariam 0 arquedlogo a do- minios nao discursivos. As diversas materialidades que interes- sem a Andlise de Discurso nao sao, portanto, tao divergentes daquelas as quais Foucault se deteve. Contudo, os objetivos daquele campo teérico diferem dos de Foucault, ja que as pes- quisas trabalham a partir de e a favor de uma teoria de interpre- tagao. Nesse sentido, nosso desafio é o de provar que mesmo as ramificagdes mais delicadas que constituem o método arqueo- logico podem ser aproveitadas pela Analise de Discurso, pois, Por mais diversas que sejam as materialidades analisadas, ha sempre uma diversidade de relacdes ainda maior que podera ser recortada como objeto pelo analista. 79 Digitalizado com CamScanner Referéneias BARONAS, R. L. (Org) Anillise do Dis da nogio-conceito de formagio dis 2007. 0: apontamentos para uma histéria a, Siio Carlos: Pedro & Joao Editores, COURTINE, J-}. Anilise do Discurso Politico: 0 discurso comunista enderegado 08 cristdos. Sio Carlos: EDUFSCar, 2009. COURTINE, J-J. Discurso, historia e arqueologia (Entrevista concedida a Cleudemar Alves Fernandes). In; MILANEZ, N.; GASPAR, N. R. A (Des)Ordem do Discurso. Sao Paulo; Contexto, 2010. pp.17-30. 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