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aes con camscet O que é Cultura Popular 53 mente observavel junto as camadas populares era considerada, para usar aqui um conceito muito em voga naquela época, ‘‘alienada’’. Vejamos © que isto significava para aquele grupo. Afirma o ‘‘Anteprojeto do Manifesto do CPC”,* distinguindo, em uma primeira instancia, arte (cultura) “do povo’’, de arte (cultura) “‘popular’’: “OQ trago que melhor define (a arte do povo) é que, nela, o artista nao se distingue da massa consumidora. Artistas e publico vivem integrados no mesmo anonimato e o nivel de elaboracdo artistica 6 tao primdrio, que o ato de criar ndo vai além de um simples ordenar os dados mais patentes da consciéncia popular atrasada’. A assim chamada arte do povo é caracterizada sempre pela negativa, por algum tipo de falta: ela é vista como ‘“‘desprovida de qualidade artfstica’’, como “‘tentativa tosca e desajeitada de exprimir fatos triviais’’, 6 “‘ingénua’’, “retardatdria’”’, etc. A chamada ‘arte popular’’, produzida por um grupo profissional de especialistas (industria cul- tural), era vista, por outro lado, como “mais apurada e apresentando um grau de elaboracao técnica superior a primeira’. Nao obstante, seu “objetivo supremo consiste em distrair o especta- dor em vez de forméa-lo, entreté-lo e aturdi-lo, em vez de despertd-lo para a reflexdo e a cons- (24) Carlos Estevam Martins (1962), 1979, p. 72 ss. ciéncia de si mesmo. (58 orta para a salvacdo ao refugid e num eu alheio creto”. Assim, entéo, ambas possuem cé e obscurecedor da realidade, ““g povo apenas em suas manifesta e nao em sua esséncia”’. Os artistas e intelectuais do | para si outro caminho, o da “a lucionéria”. Nas palavras de Fe participante desse grupo: “Quando se fala em cultura po a necessidade de por a cultura a: isto 6, dos interesses efetivos entdo, de “agir sobre a culture rando transforma-la, estend que define a cultura popular de que a cultura tanto de conservacéo, como de “Para a jovem i continua ele, ‘’o ho mergulhado nos (...) assume ou que Ihe cabe. Ning que 6 Cultura Popular = Oo de agado sobre a realidade social”. Carlos Estevam Martins, primeiro presidente do CPC, define mais explicitamente o tipo de atuacdo pretendido pelo grupo. “O CPC tinha em vista dar uma contribuigéo para que o homem do povo pudesse superar (. . .) as enormes desvan- tagens que ele enfrenta para adquirir uma cons- ciéncia adequada de sua real situa¢éo no mundo em que vive e trabalha.”"° | Muito trabalho, e da maior seriedade, foi feito | com esta inspiragao, por artistas e intelectuais progressistas. Musica, cinema, literatura, artes plésticas, teatro e ensaios sobre questdes filosé- ficas, econdmicas, politicas, culturais, no dizer de Paulo Dantas “tudo dentro do mais sadio espirito nacional e popular”.?7 | Nos anos de fechamento politico subsequentes a 1964, esses trabalhos foram severamente repri- | midos e a questdo ficou latente por mais ou menos 10 anos, nos debates publicos. | A meu ver, em grande parte provocadas pela discusso proposta tanto pelo CPC quanto por | outros movimentos politicos que se formaram na conjuntura pré-64, realizaram-se nesse melo tempo indmeras pesquisas sociolégicas @ antro- polégicas a respeito de aspectos particulares (26) Carlos Estevam Martins, 1980, p. 82. (27) Paulo Dantas, apud M. Berlinck (s/d). Antonio Aug da “cultura popular” (religiosidade, arte, familiar, formas de sociabilidade, educagao, A. discussdo politica sobre esse tema re nos debates intelectuais e politicos a partir da da metade dos anos 70, com formulagées, i ou explicitamente, bastante criticas das concep: que serviram de base as concep¢des do CPC.7* Marilena Chaui, por exemplo, retoma fi mente essa questaéo em suas “Notas sobre cult popular” publicadas em Arte em Revista (n Por um lado, ela critica nesse trabalho 0 ritarismo vanguardista e iluminado” ide! do por ela na atuagao do CPC, 0 qual j a seu ver, ‘‘a suposi¢ao de que 0 ‘povo feno nado é capaz de, sozinho, seguir a linha ‘ precisando de um front cultural, const por aqueles que ‘optarem por ser povo’, s¢ mais povo do que 0 povo”’. Por outro lado, ¢ ta a postura intelectual correspon admite a inteligibilidade total de uma “de ponta a ponta’”’. “O mundo but! (28) E enorme a lista de resultados de P perfodo, comercialmente ou de cabe fazer, aqui, 0 seu balango. A trabalhos mencionados na bibliografia Queiroz (1979) e os artigos ap! t “A Dinamica Cultural na Sociedade em Ensaios de Opinido, n° 4 (197 (29) M. Chaui, 1980, b. io aes con camscet aes con camscet

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