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OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO: Nn Le on ag OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO .dos om pariicipar das Oficinas. A adesao ,em qualquer controle da escola, cuja ibalho. Os encontos foram realizados na ditetoria apoiava o nosso escola. e teve um funcionamento diferer to", também com o apoio da esc fa de questdes étnicas, com adolescentes ne- ‘mesma escola piiblica de Belo Horizonte, mas 0 Grupo que gras, foi realizado a 1do em um abrigo da pre- 0 Grupo de Alfabetizagao foi realizado em ; Tetra de Belo Hotz. como apo da eaupeteorzarosponsvel Embora om cada grupo possam ser observacis fodos os ee- mentos do processo grupal, optamos por enfatizar, om cada artigo, uma dimenséo desse process0 em articulagdo com anossa a m tedrica. Assim, nossa intengao ¢ apresentar os relatos de grupo = iculado com a nossa parte teérica. Como nosso glossario, em ordem alfabética, das técnicas utilzadas nas Oficinas, Ao final do livro, apresentamos as autores. Aprovelimos a ocasio para agradecer a todos qe colaboraram com o nosso trabalho: partipantes dos grupos, nsiuigdes que ns apoiaram, detores de escolas, téenioos de programas sociais, colegas, alunos de raduagdo © pés-araduacdo, secretaiase, tam bém, os nossos monitores voluntarios do LabGrupo, onde vermos os nossos estudos. Maria Licia M. Afonso ‘Outubro de 2008 OFICINA\ EM DINAMICA DE UM METODO DE INTERVENCAO P: Maria Lack O einas tom sido um termo aplicado as designando, geralmente, cada encontro| Nest 6 sugerido um uso mais de Lum trabalho estruturado com grupos, independentemente do 10 de encontros, sendo focalizado em tomo de uma questo cen ue 0 grupo se propée a elaborar, em um contexto social. A elaboras {940 que se busca na Oficina néo se restringe a uma retlexao rack nal mas envolve os sujeitos de maneira integral, formas de pens. sentir e agir. Como exemplos, podemos pensar em Oficinas com “pais de ado- lescentes com o objetivo de refletir sobre a sua experiéncia, valores @ Praticas envolvidos na pateragemimaternagem de seus filhos ado- lescentes"; tes com 0 objetivo de educagao sexual”, “mulheres com objetivo de elaboracdo de questées de saude ¢ Sexuialidade’; “portadores de deficiéncia, com o objetivo de elaborar GuesiGes relacionadas a estigmatizagaio social, & auto-imagem e “estudantes com o objetivo de desenvolvimento de icinas podem ser interessantes, por Centros de satide, associagées e entidades ina tera um planejamento basico, flexivel, e se desenvol- vera 20 longo de um ntimero combinado de encontros, como veremos, ‘A “Oficina” pode sor til nas éreas de satide, educagao ¢ agéos comunitérias. Ela usa informiagao e reflexao, mas se distingue de um Projeto apenas pedagdgico, porque trabalha também com os icados atetivos e as vivéncias relacionadas com o toma a sor ciscutido. E, embora deslanche um proceso de elaboraoao da expe- riéncia que envolve emogoes e revivéncias, a Oficina também se dife- renoia de um grupo de terapia, uma vez que se limita a um foco @ nao Pretende a andlise psiquica profunda de seus participantes, i OFECINAS EM DINAMICA DE GRUPO Ultlizando teorias e técnicas sobre grupo, a Oficina 6, aqui, ca- racterizada como uma pratica de intervengdo psicossodial, seja em xto pedagégico, clinico, comunitério ou de politica soci jens teéricas de uma forma de intervengao pesquisa-agao de Kurt Lewin. Longe de se opor a outras formas de balho com grupos, como o sociodrama, ¢ o grupo operativo, tem ima afinidade assumida e nao pretende superé-las nem . Tampouco 6 possivel abdicar de uma analise de con- icional quando se desenvolve uma Oficina dentro de icdo. Essas ressalvas 540 para mostrar que o profissio- nal que deseja desenvolver “Oficinas” nao pode prascindir de {ros estudos em teoria de grupo. Contudo, a aplicagao do de grupo a uma problematica ao mesmo tempo individual e soc! com um estilo de intervengao ativa caracterizam uma das interv {G6es possiveis, em psicologia social, e cabe ao profissional decidir quando e em que contexto utilizé-la, Para explicar a “Oficina”, comegaremos por rever alguns pontos basicos da teoria dos pequenos grupos. Sem a pretensao de apresentar um texto completo sobre a dinamica de grupo, pro- ‘euramos selecionar os pontos principais que fundamentam 0 balho. Nesse percurso, fazemos uma interrelacao entre as cont buigdes da teoria de campo de Lewin (1988); da teoria psicodinamica 4 grupo, como em Freud (1984), Bion (1978), Foulkes (1967) ¢ Pichon-Rivibre (1998); da pedagogia da autonomia de Freire 1980); e da andlise das instituigdes, como em Enrique: {907. Mais adiante, no texto, serao articuladas também as idéias de Braier (1986) © Winnicot (1975). Kurt Lewin e a Pesquisa-A¢ao com pequenos grupos Kurt Lewin 6 reconhecido como 0 fundador da teoria dos pequenos grupos e pesquisa-agao em psicologia social. Lewin nas- cou na Prussia em 1890. Judeu em uma Europa onde o anti- 10 Dynamics no Massachuset senvolvendo pesquisas sobre aspectos psi mudanga social, mudanga, nos pequenos grupos (Maihi Buscando entender como as formas de di preconceito se reproduziam na sociedade, Lewin ias sociais sempre dentro de um contexto pi Entendia que toda pesquisa em Psicologia Social referencia ao contexto ¢ ter uma abordagem interdiscipll realidade social ¢ multidimensional e, na mudanca social pesquisador deve partir da compreensao, consentimento ‘agdo dos grupos envolvidos. Dessa manelra, a mudangl social envolve um compromisso tanto desses grupos quanto do proprio pesquisador. Daf nasce 0 conceito de pesquisa-agao, oul base é 0 pequeno grupo (Lewin, 1988; Mailhiot, 1991 Lewin considerava o grupo como um campo de forgas, cuja dindrmica resulta da interagao dos componentes em um campo (ot ‘espago) psicossocial. O grupo nao é uma somat ortanto, nao 6 0 resultado apenas das psicologi um conjunto de relagdes, em constante moi maneira, o estudo dos pequenos grupos deve incti ‘questBes: (1) por que o grupo age da maneira como age? o (2) Por ‘que a aco do grupo é estruturada da maneira como é estruturada? (Lewin, 1988; Mailhiot, 199 corganizacio, a partir da identificagao de seus membres. A dindmi cca diz respeito as forgas de coesao e dispersao no grupo, ¢ qu fazem com que ele se transforme. A dinamica do grupo inclu assim, os processos de formagao de normas, comunicagao, ‘cooperagao e compet ago dos dentro da ica de seu campo si percepeao social que esses indi mesmo desse campo social. OFTCINAS EM DINAMICA DE GRUPO fos (Lewin, 1988; cultural provoca atitudes de confor- de uma estratégia de Isso exige mudar: (a) as ‘Além disso, a mude mismo ou de nao-conformismo € pr comunicagao © agao no cam os acontecimentos que surgem lavras, é necessario criar novas ago, da lideranga e do poder Ce nme coun conformismo social mas sim No de que, a0 se oS rs udangas sociais, os individuos deve i staan ance cia articulava a trés idéias essenc do individuo na descobs importéncia do ‘cepcao social e 0 proceso r ‘Assim, a aco humana n&o mero conglomerado de ,¢ 0 “grupo” lagbes". face, os sujeitos se apreendem mutua- do, envolvidos em um processo de CO- esquema de ago: histérico, 0 que implica que, em alguma contltos, partiinam de valores, linguagem ® participante do grupo é pensado desde sempre social emque formas de compreendero mundo e de no mundo so construidas em interagéo comuni (Lewin, 1988; Mailhiot, 1991). Como 0 grupo existe em um contexto soct deve contemplar sua dinamica extema ¢ interna, em inter-rel vamica extema do grupo 6 0 resultado (a) das forcas exte! istitucionais, econdmicas, etc) que sobre ele atuam e (b) da for ma como 0 grupo reage a tais forgas externas no sentido de receplividede, resisténcia ou passividade. A dinamica interna dos ‘grupos diz respeito & sua organizagao ~regras, papéis, ideranga 6 Ccomunicagao~bem como seu proceso de mudanga ¢ resisténoia, mudanga (Lewi 991). ‘Otrabaiho com pequenos grupos visa a pelo menos um dos partcipante na dinamica grupal (Lewin, 1988; M ‘Ao morrer, em 1947, Lewin no péde coneluir a experién- cia com grupos que havia iniciado no centro educacional do Bethel, © que envolv jonamento integrado de duas imens6es de um grupo de trabalho: a discusséo de seu Incionamento interno e o treinamento de suas habilidades. Seus seguidores, nos Estados Unidos, desmembraram essa abordagem, abandonaram o grupo de discussao e repensaram © de treinamento, dissociando a iniciacdo as técnicas de grupo da experiencia de sensibilizacao para relagdes no grupo. O grupo de treinamento se desmembrou em Grupo de Habi (aprender a técnica de condugao dos grupos) e T- ‘periéncia do grupo), que recebeu maior atengao como i mento de formagao de coordenadores. Mas o T-Grupc OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO A.contribuigao de Lewin e sua concepgao de integragao das dimensbes do grupo seriam retomadas em outros contextos, por ros autores, em especial por Foulkes (Foulkes, 1967) ¢ Pichon- ro (Pichon-Rivisre, 1998). Uma vez que se prop6e a interligar as dimensdes do grupo, nossa proposta de Oficina segue a pro- josta original da pesquisa-acao, na diregéo do grupo de trabalho {Bion, 1975) e do grupo operativo de Pichon-Rividre (1998), como veremosa seguir. ‘A abordagem psicodinamica do grupo e a Oficina Se otrabalho com as relagdes de lideranga e poder é impor- tante, também é importante perceber que, no grupo, essas relagdes estao vinculadas tanto a regras conscientemente estabelecidas quanto a motivagées inconscientes. O processo de reflexdo sera 0u nao expandido para um processo de elaboragéo, dependendo de: (a) da produgao pelo grupo de insights sobre a propria exporiéncia a partir de sua reflexao, e (b) da articulacao de sua reflexdo aos contlitos © realizagdes vividos na rede grupal. Dessa forma, a reflexao consciente, racional, desenvolvida no grupo, se articula com a emogao € os vinculos, com a experiéncia, e pode surtir efeitos de mudanga. Mas, para que esta elaboracao possa ocorrer precisa que o grupo seja constituide como uma rede de vinculos onde fendmenos de transferéncia psiquica tao presentes entre os membros, entre estes € a coordenacao, o grupo ea coordenagao. Para compreender a vida emocional e incon: vamos recorrer & teoria psicodinamica do grupo, por Freud (1984), Bion Foulkes (1967) e Pichon: re (1998). A identificagao e a lade do grupo O interesse de Freud polos fenémenos sociais pode ser cons- tatado nao apenas em varias de suas obras mas, principalmente, pela grande importancia que ele atribuiu ao “outro” na constituigao do psiquismo do sujeito. Dois de seus livros foram especialmente marcantes para as bases de uma teoria do grupo: Psicologia das ‘massas e andiise do eu e Totem e tabu (Martins, 1986). Freud atribui o desenvolvimento de um sentimento de grupo as primeiras experiéncias em familia e sustenta que existem dois, Maria oie A. Sinse Og mecanismos psicolégicos basicos & uniao de Um) al 6 que permite que 08 membros do grupo passem a perceber ou adotar uma identidade si, uma identidade grupal. Assim, o amor de si encontra seus limites no amor do outro. O outro (lider, grupo, ideal) é tomado como um ideal ~ no lugar de ideal do eu ~e portanto existe ai um processo de sublimagao (Freud, 1984; Martins, 1986). Mas, sendo a identificagdo um processo ambivalente, 0 elo que une o grupo também carrega uma ambivaléncia. Deseja-se ao mesmo tempo estar com 0 outro e estar no lugar do outro, ser 0 outro. Essa ambivaléncia pode, entao, ser fonte de tensao e dis- perso no grupo, especialmente em situagdes onde a lideranga fica enfraquecida ou ausente (Freud, 1984; Martins, 1986). {As formulagées de Freud serdo retoriadas por Bion, Foulkes @ Pichon-Riviére, cada quel com sua contribuigéo, preservando a importancia dos conceitos de identificagao, sublimaca, ideal do eu, € da introjegao de normas e valores do grupo. Bion eas hipéteses de base nos grupos restritos ta inglés, Bion trabalhou com grupos Guerra Mundial, Sua teoria sobre grupo é desenvol- vida a partir das ideias de Freud, mas também reflete a infiuéncia de Melanie Klein (Silva, 1986; Roudinesco, 1998). Bion parte do prinafpio de que o homem 6 um sujeito social @ que a relacdo com 0 outro esta sempre presente, ainda que de forma imaginatia ou simbélica. O grupo funciona como uma unidade mesmo quando os seus membros ndio tém consciéncia disso. Em todo grupo existe uma “cultura grupar” que é o resultado da inter- relagao entre os desejos de cada participant @ os valores e normas do grupo —a mentaliiade grupal (Bion, 1976; Silva, 1986) Para Bion, todos os grupos funcionam em dois niveis: nivel da tarefa, que implica objetivos e regras conscienttes, nivel da valéncia, que compreende a esfera afetivae inconsciente do grupo. O nivel da tarefa é também designado como “grupo de ~ 16 OFECINAS EM DINAMICA DE GRUPO " € o nivel da valencia como “grupo de suposigao basica” poteses, basicas”. Essas suposigdes basicas sao estruturas espectficas de forma de funcionamento que o grupo adota para se defender de sua angustia e assim se preservar. Ou seja, sem elaborar a sua angtistia, o grupo tudo faz para se afastar de sua tarefa. Eis porque a analise deve desvendar a dinamica das suposigdes basicas no grupo (Bion, 1975; Silva, 1986) Assim, a esfera afetiva tanto pode bloquear quanto facilitar a realizagao da tarefa e se organiza em torno de tres “suposigdes bésicas": (1) dependéncia: quando o grupo busca protegao no lider, defesa contra sua prépria angustia através da atitude de dependéncia e alitude regressiva, (2) ataque fuga: quando o grupo alterna movimentos de fuga e agressao, ‘em relagao ao coordenador ou aos seus préprios problemas, @ (3) acasalamento (pairing): quando 0 grupo nao consegue realizar suas ages mas se sente culpado e, assim, posterga sua atividade através da esperanga em “algo” ou “alguém” que vird resolver a dificuldade do grupo. Nesse caso, o grupo nega 08 seus contlitos e dificuldades internas, racionalizando sobre eles (Bion, 1975; Silva, 1986). ‘A mudanga de uma suposigao basica para outra acontece de forma variada ao longo do processo do grupo. As suposi¢bes basicas so estados emocionais que evitam a frustracdo relacionada com o trabalho, sofrimento e contato com a realidade. Nenhum ‘grupo se apresenta, portanto, apenas como grupo de suposigéio basica ou como grupo de trabalho e todo grupo precisa constantemente estar envolvido em seus processos internos de claboracdo, negociagao e produtividade (Bion, 1975; Neri, 1999). E pormeio desse processo continuo que o grupo pode apre- sentar um “erescimento em 0”, isto é, a possibilidade de elaborar contlitos @ fantasias esta vinculada a realizagao do grupo como grupo de trabalho. Enquanto o grupo esta dominado por uma das suposigdes basicas, paralisado em sua angistia, também a sua possibilidade de percepeao e elaboracao fica comprometida, A llu- so de_coesio vem dar-lhe uma sensagao de protegéo contra a angistia. Mas tamibém promove a despersonalizagaio dos membros, atados que estdo.a uma estereotipia da regra do grupo, esterectipia que se manifesta também na fala do grupo (Neri, 1999). Na medida em que capaz de elaborar sua angustia e ca~ rminhar na realizagao de seus objetivos, 0 grupo pode incorporar Maria Livin M stfonse (Bog J essa experiéncia a compreensao que temde si 6 Nae comou gliporue dao vt res Hal MR sdes (suposigéio badsica e trabalho) o seu crescimente © Um crescimento que também envolve essas duas dimens6os 1975; Silva, 1986; Neri, 1999). Assim, Bion distingue entre a “transformacao em K" —0 K. vem da palavra inglasa knowledge que significa conhecimento—e a “evolugdo em O"~ a letra "O” vem de ought fo be, que indica tomar-se, Enquanto o conhacimento acrescenta algo a esfera do ensamento, o tomar-se diz de uma transformacao no modo de set. O conhecimento & necessério a reflexéio mas é a transforma- ‘go do modo de ser que opera um crescimento na vida do grupo (Neri, 1999). ‘A “evolugo em 0” exige, além do conhecimento (K), que o grupo trabathe suas suposieSes basicas, angiistas, fantasias © detesas, incorporando e atualizando o conhecimento em seu pro- cesso grupal, a fim de transformar-se de maneira profunda. E des- sa maneira que se toma possivel ao grupo “aprender com a experiéncia’. Ou seja, a aprendizagem nao é uma consequéncia imediata e direta da experiéncia e sim uma construgdo, a partirda elaboracio da experiéncia, tal como percebida no campo do grupo. ‘Nao € dificil enxergar, ai, a articulagdo necessédria como estudo da linguagem e da comunicagao no processo do grupo (Neri, 1989). Foulkes ¢ a matriz de comunicagao grupal Foulkes foi um psiquiatra e psicanalista alemao, radicado ha Inglaterra, onde desenvolveu trabalhos em “grupo anélise”. Pro- curou articular a teoria de campo, de Kurt Lewin, coma abordagem psicanalitica do grupo, especialmente o trabalho de Bion. Vemos, nossa argumentagao prossegue revelando a existéncia de uma linha de trabalho na articulagao da psicologia social e da Psicanalise (Ribeiro, 1995; Foulkes, 1967), Ele considerava que, no grupo, existia uma rede de elemen- tos transferenciais crigidos (1) de cada participante para o analis- ta, (2) de cada participante para o grupo, (3) de cada participante para cada participante e (4) do grupo como um todo para oanalista (Foulkes, 1967) processo grupal se dé no aqui e agora do grupo, entendendo-se com isso que tudo o que é trazido para o grupo, "7 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO sejam experiéncias passadas dos participantes ou fatos relacionados ao mundo exterior, ¢ apropriado de forma a se articular a0 proceso grupal e receber re-significagao. Assim, o tempo presente do grupo congrega tantos acontecimentos passados quanto projetos que, atualizados na situacao grupal, podem ser abjeto de elaboragao (Ribeiro, 1995; Foulkes, 1967) CO trabalho com o grupo visa tomar conscientes elementos que foram recalcados na rede e no processo grupal, Para t preciso a andlise das defesas inconscientes tanto do grupo quanto dos individuos no grupo. A “grupoandiise” de Foulkes centra-seno proceso grupal, nas interagdes e em cada individuo tomado néio de maneira isolada mas no contexto do grupo. Assim, a andlise da rede de transteréncias, tal como descrita acima, 6 fundamental (Ribeiro, 1995). No grupo, busca-se promover a interagéo, a comunicagao, a palavralivre, a elaboragao do sistema de valores, atitudes e relagdes que nele vigoram. O coordenador deve estar atento ao campo total a interagao, ou seja & matriz na qual as reagdes inconscientes se ‘operam e no apena: uals. So observacos ‘8 temas grupais, as formas de resistencia, de comunicagao, etc. ‘O grupo deve assumir responsabilidade pelo seu proceso (Ribeiro, 19985), yrocesso nao se da sem conflitos e angustias. No grupo, 0 cor jerente © pode ser entendido com base na tensdo entre o interesse de cada um & grupo também vive processos confltives em relag&o resolver seus problemas de tanto, contlitos de depen- siedade e medo diante de Para Foulkes (1967), existem 3 fases comuns a todos os grupos: 1, Fase de tomada de posigao e conscientizapao do seu proces- so: quando ha grande transferéncia para com a figura do terapeuta como o salvador do grupo e, em seguida, a decepeao nessa crenga. E a fase dos primeiros movimentos de identificagao e projego, na qual tende a predominar a ‘conversa sociver”, os Maria Divn M. Stpnio Oy fio, a conversa sobre vetenie lemediaria ou de integragao: malor caractorlanghe Uo ierprotagoies Mil= lade no grupo do sentimentos di e osiléncio. Fase ientos de confianga, maior ce que no terapeuta. Fase final ou do encontro com a realidade: fim do grupo‘ansiedade, sentimento de perdayluto ou sua elaboracéo. © grupo 6 dinamizado pelas fantasias individuais inconscientes e coletivas, as ansiedades e defesas, que estéo permanentemente presentes, modificando os propésitos logicos € Facionais da aprendizagem humana. Esses fendmenos surge, izam-se e funcionam mediante sucessivas identificacoes projetivas e introjetivas entre os participantes do grupo e psicoterapeuta, emanando da historia de cada um e entrelagando- Se No grupo (Ribeiro, 1995; Foulkes, 1967). (grupo é 0 contexto onde se pode reconstruir @ criar signifi. cadios bem como revivenciar situacdes e relagdes traumaticas sob a luz das relagdes grupais. No grupo, & possivel elaborar essas expe- a de informagoes, da producao de insi icagao, das reagdas em espelho e da rede trans Quando elas acontecem, as interpretagdes, réncia positiva ou de vivéncia gr istencias, projegdes e defesas mostrando sua agora do grupoe de seus particioantes (Ribeiro, Levando adianto as p Foulkes (1967; © grupo & uma mi jisas sobre a psicodinémica do pro- roduziu oconceito de Matriz Grupal bando consciente e inconsciente. E constantemente realimentada pela rede de comunicago no grupo. Os processos expressam os modos como os participantes percebem e tradu- zem a matriz grupal. E interessante essinalar que, apesar de expressar grande relagdo com o cor faz parte, a matriz do pequeno grupo busca ser dinérmica e aberta para incentivar processos de mudanga. 19 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO No grupo, existe fendmenos de “condensagao”, através da emergencia sul profundo, provocado pela acu- ‘mulagao emocional de idéias associadas ao grupo © nem sempre ‘com raz6es conscientemente percebidas. E, lambém, fendmenos membros podem tanto te diante de uma mesma situagéo ou tema de conversa (Foulkes, 1967). Para Foulkes (1967), 0 grupo analttioo vive em triple nivel de comunicagao: consciente, onde hd conexao entre consciéncia e representagéo através da linguagem: pré- consciente, quando ha contetidos subentendidos mas que “algo” impede de atlorar a consciéncia; @ inconsciente, quando a comunicagao conduz o grupo mas atuando fora da representacao consciente. As dificuldades de comunicagélo no grupo podem rosultar das variagoes na matriz de comunicagao grupal ¢ das questées emocionais e inconscientes. Assim, as principals areas de interpretagao sao: os conteldos da comunicagao, © comportamento dos individuos e do grupo, as relages interpossoais, a rede de transferéncias (Ribeiro, 1985). Pichon-Riviére e 0 Grupo Operativo Peiquiatra e psicanalista argentino Pichon-Riviére, comerou aelaborar a teoria do “grupo operative’ na década de 1940, buscar icular as proposi¢ées teéricas da psicandlise freudiana e a ‘campo de Kurt Lewin. Sua compreenséo dos "medos icos” no grupo e da forma de aprendizagem grupal relacionada cia, em uma rede transterencial, 0 aprox- ma também de Bion. Pichon-Rividre (1998) define o grupo como um conjunto de pessoas, ligadas no tempo e no espago, articuladas por sua mitua Tepresentagao interna, que se propdem explicita ou implicitamente a uma tareta, interatuando para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vinculos entre si. Coerente com esta definicao, sua teoria sobre o grupo da grande importancia aos vinculos social ‘que so a base para os processos de comunicagao e aprenciza- gem, uma vez que 0 sujeito ~ como sujeito social - se constitui na Telagao com o outro. ec Marin Livia M. SMfanse © grupo se pe como uma rece de ) vinculos entre cada componente e o grupo jos interpessoais ent de uma “tarefa’ consciente mas também pi 10", Em todo grupo, existern dois niveis de Um 6 racional, logico e conectado com a tarefa @ OulIO @ Jntensamente carregado de emogao e conectado com a dinamica Dsiquica dos paricipantes — suas fantasias, medos e demandas (Pichon-Riviere, 1998; Berstein, 1986), ‘Assim, 0 grupo tem uma tarefa exiema, delimitada pelos objetivos conscientes que assumiu, € uma tarefa interna, que inconsciente, racional e emocional, para que consiga se manter como grupo de trabalho e venha a ‘altareta externa (Portarrieu, 1986; Berstein, 1986; Pichon- }998). Conforme nos explicam Portarrieu e Tubert-Oaklander (1986, {grupo operative constitui uma modalidade de processo ue, em principio, deve ser: dinamico— permitindo-se o fluir (a interagao e da comunicagao para fomentar 0 pensamento e a criatividade; reflexivo - uma parte da tarefa é a rellexo sobre o préprio processo grupal, particularmente quando se trata de ‘compreender os fatores que obstruem a tarefa; e democrditico {quanto &tarefa ~o grupo origina suas préprias ages @ pensamen- tos, em um principio de autonomia, ‘Todo grupo, ao formular os seus objetivos, se propée a uma mucanga ou realizagéo. Mas também apresenta um grau menor ou ‘maior de resisténcia a essa mudanga. Diante dela, evidencia os medos bésicos de perda e de ataque, isto é, de um lado, o medo de perder 0 que ja se tem inclusive a propria identidade — e que se relaciona a uma ansiedade depressiva e, de outro, o medo do des- conhecido, que se liga a uma ansieda Tal resisténcia & mudanga provoca er aprendizagem e comunicagao no grupo. Inspirado no fidsofo Gaston Bachelard, Pichon- Riviere dé a estes entraves o nome de “obstécu- los epistemoflicos” (Berstein, 1986; Pichon-Riviére, 1998). sagdo @ a sublimacéo so, também para Pichon- Riviére, processos bésioos do grupo, onde a identificagao se apre- “em rede’. Os processos vividos no grupo geram a OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO no campo grupal provocando identificagdes e reagdes em cadeia, conforme a distancia psiquica entre os membros. Assim um membro_ serve de suporte para processos psiquicos de outros membros do grupo (Berstein, 1986; Pichon-Riviere, 1998). }, 0 trabalho com o grupo visa a integracdo_ a verticalidade, que se refere a historia de cada participant, @ que 0 leva a uma reatualizacao emocional no a horizontalidade, que ‘se refere ao “campo grupal’, consciente e inconsciente, que vai sendo modifieado pela ago @ interagao dos membros (Pichon Riviere, 1998), © fortalecimento do Eu e uma adaptagao ativa a realidade. ‘construgao de um ECRO~ operativo — comum, condigao sua percepgao, in, 1986; Pichon- 1¢40, linguagem (Portarrieu, 1986; Ber 998). ‘Mas, se a realizacao da tarefa acrescenta experiéncia a0 ‘grupo, ela também o forga a rever os seus contfltos e formas de do, de forma que o processo grupal envolve uma constante luragao e reestruturagao desse campo e dos suieitosnele Pichon-Riviere, 1998). ‘© momento em que predominam ai idade de defesa dos sentimentos de culpa e ambivaléncia, da situagdo depressiva basi- a, dficuldades de tolerancia, trustragao e postergacao. A tarefa 6 0 momento em que se rompe a estereotipia e se elabora a pré- tarefa, avangando na elaboragao de seu cbjetivo. Nesse momento, sistematizar objetivos e realizar tarefas propostas e/ou novas. No momento do projeto, uma vez alcangado um nivel de operatividade, ‘© grupo pode se planejar (Portarrieu, 1886; Berstein, 1986; Pichon- 998). Em sau ‘projeto’,o grupo vai | quanto aos seus papé teredtipos e modificagao de se No campo grupal. Cada in lornando mais cons- irando-se no rompi- jos internos e exter- duo ao se expressaré Marin Gioia M Stfnse la-voz de uma dimenséo ou especili jayotto, 1998), Esses momentos do grupo néo seguem ‘oumulativa, Pelo contrario, todo grupo apresenta: {9ress&o, dispersao diante da constante demanda de proceso e reflatir sobre ele. Isso implica que tenha de huamente se reorganizando e se recriando. Ouseja, que ph revisdio ~ em um sentido imagindrio, & destruigao - de seus para que possa reconstrui-los dentro do contexto, procurando & realizagdo da tareta, Pichon Rividre aponta entao para uma “rectiagllo do objeto destruido”, isto 6, a recuperagao de uma imagem do grupo mas sempre de forma renovada (Berstein, 1926; . Riviere apresenta a concepgéo de uma espit sofa, dianto da situag ‘gerada e provoca uma ‘© grupo responde tentando se trans- seu processo, passando a uma gente”). Cada ciclo Gayotto, 1998; Pichon- mar para dar conta struturagao, em uma nova situagao ("et abrange e supera oanterior (Berstein, 19 ‘A“espiral clalética” abrange o todo do processo grupal, como um movimento constante entre processos internos ao grupo, quals \eaolpertenca, comunicac&o, cooperagao, tele, apren- dizagem e pertinencia, ‘A afiliagdo © portenca dizem respeito ao grau de identitica- ‘940 dos membros do grupo entre si e com a terefa. Enquanto a atliagao indica apenas a aquiescéncia em pertencer a0 grupo, & a identidade mas também contém a diferenciaco. A afllacao e pertenga sao basicos para o desenvol- vimento dos outros procassos no grupo. ‘A cooperaco pressupde ajuda mutua e se dé através do de que se discorda). Cooperagao € ‘comunicagao interligam-se e favorecem a aprendizagem. OFICINAS EM DINAMATCA DE GRUPO ‘A comunicagao ¢ um processo que leva em conta as redes de comunicagao no grupo, contendo possibilidades e entraves. En- volve também oconfito ¢ a necessidade de se trabalhar sobre ele. E preciso etaborar o que se chama de “mal associado a conflitos diversos, tanto aqueles ‘organizagaio do grupo quanto os concement ‘Aaprendizagem vai além da mera incorporagao de pressupbe o desenvolvimento da capacidade Contradig69s e mesmo integré-las. Com a atenuagée da an: basloa, © grupo pode operar melhor seus afetos e a tarefa. A aprendizagem esté interrelacionada & comunicagao © © grupo precisa compreender seus obstdculos @ comunicagao para ‘08 obstaculos a aprendizagem. Ao mesmo tempo, 6 ‘apenas na dimensdo da tele, que o grupo consegue deslanchar todos os seus outros processos. Atele caractetiza a disposicao positiva ou negativa dos mem- bros do grupo entre si, Refere-se as relagdes no grupo, tais como ‘sao percebidas e vividas. E uma disposigao para atuar em conjunto e, assim, pade ser positiva ou negativa. As percepgdes entre os ‘membros do grupo estao vinculadas aos processos transferenciais. ‘Assim, a tele nos eparece como uma rede de transteréncias. importante assinalar que, para Pichon-Rivibre (1998), ‘que se encontra no grupo nao é uma “neurose transferenci pria da situagéo aralltica individual) mas sim processos trans- ferenciais em uma rede de relagbes. A transferéncia é um proceso a forma de adaptagao passiva, onde o sujel 1s psiquicos no trabalhades. Essa reprodugao leger contra o medo da mudani éncia refere-se a produtividade do grupo, & sua ca~ pacidade de centrar-se em seus objetivos, de forma coerente com ‘seus outros processos. A realizagdo de objetivos dentro de um contexto requer uma pertinncia do agir que se afasta tanto do cconformismo quanto da ruptura total do contexto, Maria Livia Me Manta Esses process0s do grupo nao sto es. Hé um constante ir @ vir entre os mor tarefa exterma (Portarrieu e Tubert-Oakiander, 1986: 137). Paulo Freire e os Circulos de Cultura (© que um educador teria a actescentar a um processo de grupo? Uma concapeao de aprendizagem dinamicaem que @ motivac&o do educando e a relagdo da aprendizagem com a vida sejam fundamentais e em que essa dinamica seja empreendida pela ago de um sujeito social, na ja famosa citagao: “ninguém educa ninguém, as pessoas se educam umas as outras, mediatizadas pelo mundo,” Podemos entender, ainda, dentro da concepeao de Pichon-Riviére, acima exposta, a unidade entre 1950, no Brasil, Paulo Freire procurou formular um método de leitura, levasse nao apenas ao aprendizado de uma habilidade formal lura) mas a uma compreensio critica do sujeito sobre seu oon texto (Jetura do mundo) e de si proprio nesse contexto. Propés enlaio lum método dialdgico, baseado na Enguagemena cultura dos sujeitos que estavam aprendendo a lor ea escrever e que eram desde semy possuidores de um saber por serem sujeitos de umacultura. Assim, ‘aassimetria de poder no aprendizado seria questionada pelo fato de que 0 saber nao 6 algo quo alguém dé a alguém, mas ¢ produzido ‘em interagéio dentro de um contexto (Freire, 1976 e 1980). ‘O enfoque dialdgico e reflexivo sobre as condigbes de exis- tancia e a auto-organizacao do sujeito dentro dessas condigdes supée uma dialética da autonomia e heteronomia do sujeito no OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO contexto, Ouseja, aaprendizagem era uma realizacao de um sujeito da linguagem, em interagio social. Conforme escreveu Freie, ‘assim como néo é possivel linguagem sem pensamento e lingua _gem-pensamento sem 0 mundo a que se referem, a palavra humana 6 mais que um mero Vocdbulo ~ 6 palavragéo. Enquanto ato de conhecimento, a alfabelizapio que lava a sério 0 problema da ir ‘guagem dave ter como objeto também a ser desvelado as relagSes dos sores humanos com seu mundo (Freire, 1976. p. 49). Reunidos em grupo, no chamado “circulo de cul alfabetizandos empreendiam uma tarefa de se educarem. Paratal, precisavam vencer uma série de obstaculos nao apenas cognitivos mas tambémideolgicos, isto é, precisavam vencer a visaoingénua do sou estar no mundo, para problematizar esse mundo e poder expressa-lo em umanova jinguagem-compreensao (Freit ). (© trabalho de alfabetizagao se dava, ja em seu inicio, ccontextos. Era com base neste invent uma sequéncia de apresentagao da lingua e confeccionava 0 material didati " era também um éencontro de reflexéo sobre ternas vinoulados & vida dos educandos (Freire, 1980). 7 Cada encontro era organizado sobre umtema ou uma “palavra geradora’, assim chamada porque codificava varios aspectos da cultura do educando, estimulandoa sualetura critica. A seqiéncia jecodificagaio tbalho com as ras.comouso ‘enquanto uma “ rida, um mundo se abria para a leltura, em um processo “ativo, dialogal, critico dor’. Simples no que dizia respeito aos recursos técnicos, refletir em tomo de situagdes existenciais do grupo: situagoes- realizava como proceso de problematizacao do mundo e, assim, Maria Livin Me tonto (Og a arte de associar idéias era tao importante quanto & “arte de dissociar idéias”, essencial para uma critica can bags. Dissociar e associar so processos importantes para a por6apQllo da légica do nosso pensamento, 0 para que possamos nos repens a partir dessa percepeao ativa e critica (Freire, 1976 e 1980), Existem, entre o grupo operativo de Pichon-Riviére e 0 clrou- lo de cultura de Paulo Freire, afinidades ligadas especialmente a. uma compreensao da aprendizagem como um processo dialégico, ‘onde os processos de comunicagao e seus entraves precisam ser objeto de anélise.No caso de Freire, esta anélise revela as concepgdes ideoldgicas que reproduzem o assujeltamento do edu- cando. No caso de Pichon-Riviére, a andlise inclui todos os ele- (os conscientes e inconscientes que perturba, no grupo, & -agdo de seu projeto. Para ambos, o coordenadornéo pode se colocar como o dete da verdade, mas sim como alguém que trabalha com o desejo do grupo e como: wves A aprendizagem ea elaboragao (Pichon-Riviére, 1998; Instituto Pichon-Riviére, 1991; Freire, 1976 e 1980), Grupo e Contexto: a Vertente Institucional ‘Trabalhando com pequenos grupos, em seu contexto sécio- institucional, é preciso ndo perder de vista o impacto que as presses © 0s atravessamentos institucionais trazem para a dinamica interna do grupo, Definindo a organizagaio como um sister imagindrio, Enriquez (1997) aponta sete ni lelelhada desses niveis, mas podemos apontaranecessidade neles expressa de uma andlise que atticule ivos bem como o simbolismo @ 0 ciso assumir tecortes no campo s oo08 e, com base neles, reconstit outras palavras, a | 0 pode, em um trabalho de analise, se constituir no foco onde as outras instancias se articulem, Nesse caso, as relagdes no grupo serdo mais detalna 27 ido 0 escopo da andlise, Em 28 ‘OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO das e aprofundadas e suas relagdes com as outras insténcias abordadas. Nessa perspectiva, conforme afirma Enriquez (1997), 0 pe- ‘queno grupo pode ser um lugar privlegiado para a compreensao de ‘fenémenos coletivos. Combinando relagdes de produgao e de afeto, ‘opequeno grupo olerece manifestagtes de organizagao, expressao, solidariedade, criatividade dos memiros que remetem tanto ao con- texto do grupo quanto ao contexto social, Para Enriquez (1997), na medida em que ¢ portador de um projeto, o pequeno grupo é ao mesmo tempo analista @ ator de sua ago e, portanto, da produgao de sua consciéncia no contexto de sua agéo. Entendemos que @ anélise do processo gru articular a dinamica das relagdes @ dos elementos sut contexto de onde emergem @ &s instituigSes que as cont para se organizarem de uma forma particular. As idéias que um _memibro tem sobre o projeto do grupo esto correla logias e discursos sociais e expressam os conflitos dessas ideologias e discur to quanto da subjetividade do membro ‘om questo. A este atravessamento das ideologias e pralticas sociais © nivel da ideologia e das 6 apenas um pressuposto {eérico geral que nao nos ajuda a definiro ambito das intervengdes particulares. Em que medida uma Oficina com hipertensos visando ‘sua melhoria dante de um quadro de saide deve estar respaldada ‘em uma critica ao sistema de satide? Ou as concep9des ideoldgi- cas sobre satide e doenca? Gertamente, esta medida nao pode ser dada de antemao pelo coordenador, pois 6 0 grupo que a pro- duz em seu processo. Mas, podemos dizer que diferentes focos, de intervengao podem levar a diferentes produgées, e isso 6 um produto do préprio grupo. ‘A rede de relagdes institucionais onde o grupo esta inserido les, faz presses, tenta negociar, nhecer, boicota ou apoia. A coordenagao do grupo deve estar atenta para esses movimentos. Mas, para 0 grupo, a critica a essas transversalidades deve ser possiblidade e néo obri- gacao. O carater obi de uma tarefa reflexiva assume um ontorno autoritatio, contrario ao objetivo de autonomia. Ou seja, 0 «grupo 6 quem escolhe a sua tarefa, produz 0 seu proceso e elabo- ra 0s seus confltos, produzindo também a sua consciéncia. Maria Lain Me ifase (rp Uma vez que se reconhece a interligagéo dow } ‘organizagao e instituigao, a produgao do grupo poderti tf ‘esses niveis, sem a obrigatoriedade de produzir uma critiem total = poderfamos insinuar - ou de chegar a uma verdad enta de toda e qualquer dimensao imagindria, elo contratio, a elaboraco do grupo pode aloancar o nivel da instituiggo e da sociedade, procedendo a uma critica ideoldg- ‘ca, mas sempre sustenta um ponto de vista particular e jamais deixa de reconhecer 0 seu carder local ¢ imaginario. Assim, o que © grupo produz néo é uma verdade absoluta mas uma forma de representar e recriar a sua identidade e suas relagdes com 0 seu contexto, E neste enfoque que trabalhamos com Oficinas. ‘Até aqui apresentamos uma sintese dos autores principals, cujas teorias nos serviram para a construgao da metodologia de Oficinas em dindmica de grupo. O Quadro 1 apresenta a relagao desses autores e suas principais contribuigdes. Nos capitulos seguintes, vamos abordaro planejamento e a coordenagao de Ofi- cinas, com a incorporagao de outras contribuigdes tedricas. De falo, aarticulagao teoria-pratica na construgdo e condugao da Of- cina é indispensvel para que esta no se Veja esvaziada de sentido, “J OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO QUADRO 1 - Referéncias tedricas da Oficina em Dinamica de Grupo ‘Autores basiecs pora a metodologia de Oicinas de Dinamica de Grupo @ suas piineipais contribuigdes Tew ‘A Pescuse-a¢do come fora de meadanga bagi, cooperagsa, penne ‘Apronctzagom ¢ Gecorveveneno.- aren ‘Gzogor deponde da aapoagao da anges finamizari. As 9 fous, madateadas pelo rnd. Cutras contbugdes para a const urso 'Gontaggo da Scns om Dinamioa Winnioot (ico mediagi systormundootuco ‘Soro ettura como Inguagor, era tiade pup. Maria Livia Me Stpnse A Oficina deve ser um trabalho aceito pelo grupo, imposto. Isto pode significar que o grupo, com um todo, encomende a interveneao ou que, diante da proposicao da Oficina por Um ‘que propée a la se apropriar. Muitos es de satide, educagao ou em 9. Nesse caso, a aceitacao e apro- a coordenagao da rabaihos realizados em tm esse cé pelo grupo é fundamental icina tem um papel importante, jé no primeiro contato com 0 ‘grupo, de escuta e adequagdic da proposta ao grupo. Podemos apontar 4 momentos de preparagao da Oficina: demanda, pré- andlise, foco e enquadre, ¢ planejamento flexivel. Demanda A analise da domanda 6 um ponto complexo na psicologia social pois é conhecido 0 processo pelo qual os grupos @ individuos fazern uma primeira “encomenda’ ao profissional para, em seguida, indo, com maior ou menor dificuldade, outras demandas, implicitas ou inconscientes (Enriquez, 1997). Ainda que a demanda do grupo se diferencie da proposta inicial, a0 longo do processo, ¢ preciso rever a sua vinculacao com a proposta original e tentar definit 0 que continu fando 0 trabalho. Isso significa que a Oficina vai se articular em toro de nda que este venha a ser reformulado. Esse que define um foco de trabalho, os grupos-clientes, entre outras coisas, servira de flo condutor para o proceso. Como instrumento de intervengao psicossocial, a Oficina pro- cisa estar ligada a uma demanda de um grupo. Todavia, néo se trata, aqui, da mesma concepeao encontrada na atividade clinica privada, onde o profissionel oterace um servigo e espera pela chegada dos clientes - embora ele também possa ser um caminho. Mas, falamos mais propriamente da existéncia de uma situagéo que envolve elementos sociais, culturais e subjetivos e que precisa ser trabalhada em um dado grupo social. Pensemos, por exemplo, nos servigos de satide — os grupos de pacientes com neoessidades a OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO especificas, como diabéticos, hipertensos e outros — ou nos servigos educacionais — 08 grupos de criatividade, de capacitagao para 0 mercado de trabalho, de educagao sexual, de orientagao profissional, entre outros. ra, a “demanda’ nem sempre aparece como um podido de realizagéio de um grupo, até porque nem sempre as lidades de trabalho sa conhecidas dos usuarios. Assim, 0 ional se vé diante de uma analise de “necessidades” (satido, ‘educagdo, ote) da populacdo, que, as vezes, Ihe dirige pedidos ‘vagos ou restritos dentro de uma organizagao social ja conhecida @ cristalizada — por exemplo, os pacientes podem pe is remédios, os pais de alunos pocem pedir mais medidas disciplina- Embora nem sempre se possa trabalhar com o ideal de uma demanda formulada pelo préprio grupo atendido, 6 preciso que necessidades tenham tido alguma forma de expressao e pos- sam ser traduzidas da forma préxima a realidade do grupo social ‘am questao. O protissional precisa ter, dessa “necessidade”, uma escula articulada ao contexto sociocultural, para poder nomed-la como “demanda’, @ partir de um didlogo com o grupo atendido, ‘na medida em que procura construir, com esse grupo, uma pro- posta da Oficina. ‘Como nas experiéncias relatadas neste livro, a Oficina pode ser proposta pelo profissional a partir de uma “escuta” © sprotagao da demanda do grupo social ~altabetizacéo, rellexao bre a paternidade/maternidade, lazer, eto. Aparticipacao volun ia © a expressao do desejo dos participantes deverao ser rospeltadas, para que o grupo venhaa trabalhar sua demanda e a se apropriar de seu trabalho, Pré-anélise ‘Aidentificagao de urna demanda esté associada a uma pré- anélise da questo a ser abordada. A pré-andlise inclui um levanta~ mento de dados e aspectos importantes dessa questdo, que pode~ ro ser relevantes para o trabalho na Oficina. Essa questéo tem uma existéncia psicossocial que ja oferece varios anguios e tépi- cos de abordagem. Além disso, é preciso saber se a instituigao ou comunidade aceitard a realizagao da Oficina € fazer os arranjos necessatios. Maria Livia M Sense [0p Na pré-andlise, 0 coordenador deve i tica a ser discutida, refleti, estudar, coletar importante ter uma analise psicosso enfocada, que oriente na escol sao. Quais s40 as principais, ‘Que aspectos emocionais € relacionais o tema parece | ‘Como tera sido a experiéncia dos participantes em relagao a @s8i questéo? Essa reflex it para o grupo e sim qual 1m 0 grupo e desenvolvimento do trabalho. A pré-analise possi .@ partir do tema escolhido, o levantamento de ‘temas~ geradores’, que poderao ser abordados no grupo, sempre respeitando e consultando os participantes. Por exemplo, nos grupos de pais de adolescer ‘mos antecipar que os pais estariam interessados em di sexualidade, disciplina e abuso de drogas. Isso nao fo uma mera opiniao ou interesse proprio das coordenadoras e sim de um estudo sobre questées relativas a familia @ 4 relacdo pais ¢ filhos na atualidade. Por serem sujeitos psicossocials, os partci- pantes da Oficina estarao vinculados a esse contexto cotidiano. ‘Além disso, podem trazer temas que nao foram pansados na pré- no intenciona etiar um “programa” rigido Foco e Enquadre tema geral da Oficina é 0 ‘Yoco” em tomo do qual o Iho sera deslanchado (ver 1986). Em tomo desse “fo por exemplo, a relacao: andlise, temas-geradores” que aludardo a compor otra tema-gerador pode ser trabalhado em um encontro ou em varios ‘encontros, dependendo do niimero de encontros propostos © do interesse do grupo. E essencial quo os ternas-geradores tenham relagéo com o 10 do grupo e que nfo sejam apresentados de forma walizada, em uma linguagem estranha ao grupo. Por ‘desenvolvimento psicossexval na a cia” se propée “a sexualidade na adolescéncia”. Na medida em que 0 grupo ajuda a compor esses sub-temas essa designagao fica faciltada. Ey OFECINAS EM DINAMICA DE GRUPO 0 temas-geradores, a exemple das palavras-geradoras do am 0 gtupo porque se relacionam a sua © nas possibilidades, agugam o desejo de participagac Porém, como a Oficina é usualmente realizada dentro de © “enquadre” diz a0 numero e tipo de participantes, o contexto institucio recursos disponiveis, 0 ntimero preparar uma estrutura para 0 lucagéo sexual? Em ientagao vocacion idade? Serd desen- volvida em um centro ? Quais so as caracteristicas dos participantes em termos de idade, sexo, nivel de escolaridade, etc.? O enquadre deve ser pensado em termos de o live dos participantes, a roca de experiéncias, a relagao com o coordenador, a privacidade dos encontros @ 0 ‘espago e tempo para levar uma reflexdo sobre otema, bem como, 5 limites institucionais para a proposta de trabalho. Nesse caso, bom lembrar que o trabalho pode ser desenvolvido em médulos, fases, etc. (ver Braier, 1986). Para melhor compreender a possibilidade de se deslanchar um proceso de reflexao e elaboracéo em um grupo estrulurado, ‘com um enquadre dado, é importante introduzir uma reflexao sobre ‘anatureza da Oficina. ‘Como método de intervengao psicossocial, a Oficina busca suas bases na teoria dos grupos em um contexto sociocultural Ela ndo 6 um grupo de psicoterapia e nem um grupo de ensino. Na esteira do“ de re cultura e subjetividade. ‘Como intervengao psicossocial, a Oficina tem uma dimen- sociais. Também tem uma dimensao ou potencial ‘ca, na medida em que deslancha um processo de aprendizagem, Ao sobre a experiéncia. Possibilta uma elab :do do conhecimento desenvolvido sobre o mundo e do sujeito no mundo, portanto, sobre si mesmo. Situando essa afirmagao dentro de nossa fundamentacao tedrica, podemos esclarecer que o que chamames de elaboragao Maria Lacie Me SMfanse (Big 1a Oficina corresponde ao conceito de aprendi ontexto s6cio-institucional com enquadre d {to um prazo de realizagdo. Assim, nela, as dimensdes terapbulloa ‘wpedagégica estao re po da intervengao “Tomando a Oficina como um tipo de Grupo Operative, pode- mos compreender que nela havera uma tarefa externa e umatarefa interma. Na Oficina, a tarefa externa se constitul no foco, ou tema, quedefineo po permite e limita esse trabalho. E justamente essa dependéncia pragmética de um contexio e de um planejamento local que exige que o enquadre da Oficina seja substancialmente correlacionado aofoco de trabalho, O coordenacor eo grupo precisam estar sempre alentos a esse foco para trabalhar a relagao entre “tarefa interna’ e “tarefa externa’, nas possibilidades e limites do contexto (ver Pichon Rivire, 1998). ‘endo, propor a adpatagao de alguns principios € terapia breve para compreender e manejar os processos grupais na Oficina. Braier (1986) nos explica que a abor- dagem psicodinamica busca tornar consciente elementos tes, a reestruturagao da personalidade, a elaboracao io de que a temporalidade e o enquadre terapéutico sejam modificados, na psicoterapia breve, causa um ita do aparecimento de fantasias regressivas ¢ favo- Braier esteja se ref que o mesmo pod Assim, na Ot de foce evitam excessiva moblizagao. irmado para grupos. 1a, a circunscrigao de tempo e a definigao iva e fortalecema relagao investimentos afetivos associados a tematica. O coordenador deve ser sensivel a essa dinamica mas re OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO a interpretagao, para ndo levantar contltos de forma indiscriminada sua experiéncia, Sujelto social e sujeito psiquico sao vistos como dimensdes presentes no mesmo processo (ver Pichon-Riviére, 1998). © trabalho com um foco certamente encont angtstia e melhor insight sobre Pode acontecer a elaboragéo d trans’ compreenderas relagdes socials sio foco de transformacao. Para Braier (1986), na psicoterapia breve, estimula-se o insight circunscrito ao foco ara que se possam obter mudan- as dindmicas. Quanto ao seu tipo e profundidade, 0 insight esta is @ formas de lexéioe mesmo de cognitiva do que afet do que & revivescéi insightintelectual — que seria uma nova forma de resistencia ~ pois guarda uma relagao com os componentes afetivos (Braier De fato, ha o risco de se estimular condutas meramente adaptativas ou de gerar, em torno do foco de retlexo, mais uma pro- ducdo intelectualizada do que uma elaboragao (BI peito a0 processo grupal, o manejo da rede de transteréncia e afacil- tagao da comunicapao no grupo séo elementos que minimizam tais riscos. Nesse sentido, o coordenador deve sempre recusara post cde quem detom o saber, assumindo o lugar de dinamrizador efaciltador do processo grupal. Planejamento Flexivel Em um quarto momento, 0 coordenador se coloca a ques: 10 se e como deverd planejar cada encontro. Pode ser que ains- tituigao exija esse planejamento. Pode ser que néo. De qualquer 36 Maria Leis Me pase (Oy forma, as opgdes que se colocam sao: planojara todo, detalhando cada encontro previamente, OW fil asso, isto 6, a modida que os encontros forem acol ‘0 planejamento global nos dé a possibilidade do uma VINO: mais inteira do trabalho mas cartega maior risco de rigidez enquanito que © planejamento passo a passo pode ser mais flexivel mas ‘gerar uma viso fragmentada, Cada coordenador deve escolher junto 220 grupo ~ e no context institucional - que caminho tomar. O planejamento de cada encontro resulta do desdobramen- to do foco ou tema geral e esta relacionado & discusséo dos te- mas-geradores. Trata-se de um planejamento flex! 6.0 ‘como forma de se qui precisa estar ciente e preparado para acompanhar 0 grupo em seu proceso o que pode, @ provavelmente vai, signiicar mudangas no planejamento inicial. Por isso dizemos que é um planejamento De fato, desde o primeiro encontro com 0 grupo, 0 coorde- nador jé comega o trabalho de rever 0 seu planejamento, pela da suidadosa dos interesses do grupo que agora se faz um parceiro real. Dai comega o segundo passo, que é caracterizado pelo processo mesmo da Oficina. Nesse momento, é importante definir com 0 grupo 0 seu “contrato”, Porque resolveram partcipar? Quais séo as combinagbes necessétias para serem feitas quanto a horatio, local, ete.? E pre- ciso esclarecer a regra do sigllo (o que & falado no grupo nao pode ‘comentado fora do grupo sem a permissao deste), a da palavra dos podem se expressar), e outros aspectos que se sm como relevantes, ‘O ntimero e duragao de encontros dependera da proposta global. Porém, é interessante que cada encontro seja estruturado em pelo menos trés momentos basicos: a) ummomento inicial que prepara o grupo para o trabalho do dia, soja por meio de um “relaxamento” e/oude um “aquecimento”, feito através de atividades, brincadeiras, ou mesmo de uma conversa que alvalize, para 0 grupo, a propesta do dia Leva-se ‘em tomo de 10 minutos nesse momento. um momento iniermedidrio em que o grupo se envolve em atividades variadas que facilitem a sua reflexio e elaboragio ar ») a OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO lo em qua- © recurso a do tema trabathado. Este momento pode ser di tro momentos interligados de forma flexive sobre as situagdes experimentadas nesse dia, dessas situagdes para se pensar situagées similares cotidiano que tém relagao com o tema enfocado e (IV) ‘exposigao e analise de informagées sobre o tema, comparan- do-as com as experiéncias dos participantes, para muituo es- clarecimento, ©) um momento de sistematizagao @ avaliagao do trabalho do dia. Permite que o grupo visualize melhor a sua producao como “grupo de trabalho’, acompanhando o desenvolvimento de sua reflexo e o crescimento de seu processo, ao longo da Oficina © ajudando a tomar decisdes sobre os encontros seguintes, Esse planejamento 6 itil para 0 coordenador, desde que sea visto como referéncia e nao como obrigatoriedade. Seo coor- denador conhece o fio condutor da sesso e conta com algumas possibiidades de técnicas, pode adqu' ‘momento mesmo em que esta condu: Em nosso trabelho, as coordenadoras de grupo tinham li- bberdade para propor mudangas no planejamento, conforme perce- biam que elas seriam importantes para o grupo, tanto durante a sesso de superviso quanto durante os encontros. Respeitévamos ‘suas opinides e posigao como coordenadoras — isso ¢ importante nao apenas do ponto de vista pedagogico como também do ponto de vista de sua legitimidade diante dos grupos. Em cada encontro, é importante que 0 coordenador procure pensar sobre as dimensdes pedagdgicas e terapéuticas envolvidas, refita sobre as técnicas escolhidas, facilite @ a comunicagao entre os patticipantes. O caminho segue uma seqéncia que se inicia na sensi elaboragéo. Esses e outros aspectos serao discutidos no item de condugao do processo de Oficina, Mas, antes cle passat ao préximo item, tomemos como exemn- plo nosso trabalho com grupos de pais. O foco/tema era “a relagdo comos filhos adolescentes”, Existe ai uma infinidade de subtemas. Quais escolher e como aborda-los? Partindo de uma série de Aerie Lise Me nse (0 ea adolescéncia na soci t6picos que pudessem ser dal e autoridade, abuso de drogt outros, A partir de uma palestra durante a qual fic adesao foram distribuidas, foram formados os grupos. Planejamoe tum total de oito encontros, com dues horas cada, de periodicidade semanal, nos horatios escolhidos pelos pais. Resolvemos que o planejamento dos encontros seria feito junto com os pais. Cada dupla de estagidrias reuniu-se com seu {grupo e organizou um primeiro encontio no qual os temas de interesse foram levantados. E importante dizer que houve uma grande coincidéncia entre os temas propostos pelos pais e aqueles que jé haviamos pensado, 0 que indicava uma boa pré-andlise do tema, Em nossas reunies semanais de superviséo, iamos planejando as sessdes de cada grupo, sempre acompanhando 08 temas de interesse colocados no primeiro dia eas mudangas que iam acontecendo em cada grupo, mas também sempre respeitando a tematica central do trabalho, que funcionava como um fio condutor. Os quadtos 2, 3 mostram, respectivamente, 08 participantes de um dos grupos e a seqiiéncia de temas abordados. Os quadros 4 e 5 mostram a descticao do segundo encontro eo mesmo encontro em uma ficha de planejamento! realizagao. QUADRO 2-Dados sobre os participantes do grupo FARTOPATES insteugso Pris Teelae: = te rear i [de i — r ae ite ih tes Areas 7 a [sr 3 ae a +t 39 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO QUADRO 3 - Seqiiéncia dos encontros do grupo TEE FARTIGPANTES — | DURAGET Bp @ apremaTAgO Be 7 a icra si ro 8 Téenieas Te taeta0 bi Combinamos de trazer para 0 proximo encanto. Dados atuale aobro adolasconcla6 (© grupo avatiou bom o encontro, ‘experiencing @ informa QUADRO 5 - Relato de um encontro ‘SEGUNDO ENCONTRO~ MINHA HISTORIA O grupo se propésa uma nova apresentagao, devido a entrada aleangou seus objetivos: 'upo, provocando risos. Apés, usamos a técnica ‘Se eu fosse um livro” com a intengao Marin Divia M Sprnse 10 com eles. Chegaram aos dias atuais sssaltando a mudanga de lug @ agora sao pais. Disseram como 6 0 dia-dia, 108 € para lazer. 0 ‘Telégio do © grupo fizesse essa atividade em para o préximo encontro. poranea © a adolescéncia. Os participante ofereceram depoi- jontos @ observagSes, articulando as informagées com suas vidas. susséo com conceitos e dados de pesquisas ‘Ao contar suas histérias, as pessoas recordaram suas ex periéncias como adolescentes e refletiram sobre seu papel de pais fe maes, 0 que as aflige nessa mudanca de lugar, em uma época fom que a familia mudou tanto. Destacaram a diferenga de sua izacdo, “pols as coisas mudaram muito.” Justificaram as mudangas com os seguintes depoimentos: “hoje as mulheres tra- balham fora, vocé & que escolhe 0 marido, os filhos correm mais riscos nas ruas por causa da violéncia, recebem influéncias constantes daa televisdo @ dos colegas da escola, ¢ tudo isso traz inseguranga aos pais que no sabem se estao agindo corretamente @ se perguntam como educar @ colocar limites. (O grupo mostrou independéncia e produtividade na discussao do tema. Prestavam atongao uns aos outros e mostrarz de expressao. Alguns tentaram monopolizar a momento, a coordenagao_interviu, com perguntas ditigidas, bus- cando a participagao para todos. Conduzindo a Oficina Como foi discutido, a condugo da Oficina encontra referén- clas na teoria dos pequenos grupos. Nesse capitulo, a partir da consideragéio do enquadre da Oficina, vamos abordar, “ A 42 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO ‘especialmente, os itens (1) papel do coordenad 1805 © pro- po 0 (4) atéc- nica come linguagem. Aqui, outros autores, incorporamos nossas proprias produgées a partir das Oficinas realizadas em nossas posquisas. Coordenagaio da Oficina \Vimos que nas abordagens apresentadas — pesquisa-agao, grupo operative ¢ circulo de cultura ~ 0 coordenador nao pode ‘assumir o lugar de quem detém a verdade ou de quem decide pelo grupo. O coordenador busca, ao contra para ogrupoa realizagao de sua tarefa interna para que 0 grupo possa realizar os seus objetivos, tarefa externa. Para tal, precisa estar atento para as dimensGes consciente e inconsciente do grupo, procurando suas interrelagées (Lewin, 1 re, 1998; Freire, 1980). ‘O coordenador teré um papel ativo, mas nao intrusive. Pode propor, mas no impor, uma condugao. A regra da ateng&o flutuante 6essencial para 0 coordenador do grupo, ousela, ele deve manter- se atento aos diferentes niveis © processos do grupo, abrangendo © grupo como um todo, as relagées interpessoais e cada participante. ‘O coordlenador, nesse sentido, tem um papel importante de acolhimento e incentivo ao grupo para que se constitua como grupo, buscando a sua identidade. Em um primeiro momento, grupo pode necessitar defender o seu imaginario de coesdo € unio, € 0 coordenador, sem colaborar com essa fantasia, tampouso a afronta, dexando que o grupo se constitua como rede de relagdes onde indrio venha a ser trabalhado pelo proprio grupo (Ribeiro, glistia no grupo ~ a excessiva dispersao lideranga, a escolha de bodes-expi expresso e comunicagao, a “bagun compreensao de forma que 0 grupo sitva de continente para a angistia, possibilidade de controle e trabalho sobre ela (Ribeiro, 1995; Foulkes, 1967). ‘Assim, 0 coordenador atua como incentivador. Ajuda a sis- tematizar contetidos e processos emergentes para rel Co grupo. Sugere significados para ages @ interagdes, Pode fazer Maia Lira Me pense (0p) perguntas, usar a “devolucéo em espelho", sugerlt allvidades, {fazer interpretacdes, etc. Pode, inclusive, trazer material IMOHnAllV, feito com ante: rugdio com ‘80 fato de que o conhiecimento resultante € um ‘grupo (Ribeiro, 1995; Foulkes, 1967). Baseando-nos na concepeaio de aprendizagem e elabora- ¢40 do grupo operativo e nas concepgbes de desenvolvi Ke crescimento em O, de Bion, entendemos que a Oficina tem uma dimenséo ou potencialidade pedagégica e uma dimenséo ou péutca, O coordenador estara atento para ambas (Bion, 1975; Neri, 1999). Pedagégica ¢ a dimensdo que incentiva o processo de apren- dizagem do grupo, a partir de sua experiancia e de acordo coma sua demanda. Terapé proceso de elaboragio, apartir da andlise das relagoes no grupo, dos insights e reflexéo. Em relagdo a rede de transterénoias ~e, em especial, & sua relagéo com 0 grupo ~ 0 coordenador pode interpretar sempre pensando que a boa interpretagdo é aquela que pode ser “ouvida’ e entendida pelos participantes, Caso conttario, ela nao Ihes serve para nada. Além disso, em se tratando de grupos operativos Oficinas, a interpretagao deve sempre estar situada no ambito de- limitado pela tarefa interna e tarefa externa do grupo. Vielmo (1998) nos lembra que as manifestacées transferenciais/contratransferenciais acontecem em qualquer .G&0 quer seja interpessoal quer seja grupal, terapéutica ou néo. Entretanto, deve haver diferengas na forma como 0 coordenador ‘compreende e maneja as manitestagdes transterencials no campo terapéutico e ndo-terapéutico. Assim, enquanto no grupo terapéutico, 0 coordenador focalizaré as manifestagoes transferenciais como principal ponto de apoio, nos grupos operattivos ndo-terapéuticos, por exemplo, de ensino-aprendizagem, 0 coordenador do grupo somente as trabalhard se elas estiverem se indo em um entrave &tarefa grupal. Entretanto, as relagdes renciais precisam ser compreandidas, para que o coordenador facilite o processo grupal através de intervengdes adequadas. Referendando-se em Freud, Vielmo (1998) nos expla trans- feréncia como uma manifestagao freqiente e regular, que supoe comprometimento de dues instdncias temporais: passado e pre- sente. No passado, esta implicada a tejeigao de um desejo. No a3 Fases do Processo Grupal OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO presente ena relago co doo mesmo ateto que oF lerapeuta, no aqui-agora, é desperta- ia mente forgouo paciente a exilar 0 desejo. Esta emeryéncia determina o apelo a técnicas defensivas como podem ser a projegao, o controle onipotente, a negacao ete. No grupo, a rede de relagdes sustenta também fantasias inconscientes propiciando a formacao da rede de transferéncias, A contratransferéncia do coordenador do grupo também exisle e pode ser entendida como o sentimento do terapeuta a Partir das identificagdes projetivas que o cliente — bem como 0 grupo ~ nele deposita. Ou seja, aquilo que o terapeuta sente 6 0 {que o cliente faz sentir, porquanto sao sentimentos do mundo intemo. do cliente (Vielmo, 1998). Citando Zimerman, Vielmo (1998) nos lembra que, no campo grupal, "hd transferéncia em tudo, mas nem tudo é transferéncia a ser rabalhada’. Assim, 0 coordenador estd atento aos fenémenos transferenciais e contratransferenciais, mas trata deles apenas na relagalo com o foco ou tarefa do grupo, isto 6, aborda esses processos na interagao grupal levando em conta a relagao grupo-tarefa. Ocoordenador deve, ainda, estar atento as fases e proces- assumem especial scnicas de animacao ‘em contedida e forma ao ‘Tomando as fases do grupo como descritas por Foulkes (Ri- belo, 1985), pademos apontar que a Oficina segue trés momentos basicos: formagao de sentimento e identidade de grupo; surgimento de diferengas e construgao de condigbes de produtividade do grupo; @ fim de grupo. O coordenador precisa estar atento a esses ‘movimentos para caminhar com o grupo, acolhendo quando Necessdrio, mas também incentivando, mobilizando, refletindo @ interpretando. Entretanto, 6 preciso dizer que esses trés momentos nao seguem uma sequéncia rigida. Cada grupo passa por eles de maneira propria e, em um mesmo grupo, pode haver movimentos de avangos e regressio. Em vérios momentos, o grupo pode ter que voltar a elaborar seu sentimento de identidade e suas identiicagées, ou a lidar com suas diferencas, a elaborar seus Marin loin Me Sse 8. O coordenador Iulos, em ciclos prop Vossada pelas “fases do grupo’. Assim, a sequen Gomega dos mais “taceis” — ou seja, os que levantem menor resisténcia ~ esperando-se maior profundidade & medida em qui grupo desenvolve relagées de contianga, Na escolha de procedi- Mentos, podem-se pr i técnicas ldicas de entrosamento para entéo se comegarem a usar técnicas jlexivas, interativas Formagao de Ser Identidade de Grupo Esse momento esta relacionado aos processos de afiagdo © pertencimento, no grupo operative. O grupo deve aceitar 0 desatio de deixar de ser um “agrupamento” para construir a sua rede de 190es @ defini melhor seus objativos. HA uma forte tendéncia para desconhecer as di iment ferongas intemas quanto as externas —do grupo Outros grupos ~ séo mal suportadas e 0 grupo pode tentar excluir ou discriminar quem for diferente, criando muitas vezes 0 fenémeno do “bode expiatdrio" © coordenador busca acolhero grupo, faclitando id mesmo. Por outro lado, cuida que a palavra social circule por (0's membros, buscando resguardar o espago de participagao para todos e, ainda, se opondo com clareza, mas sem rango moral, 4s escolhas de bode-ex} Nessa fase, ha forte transferéncia para coma figura do coor- denador, do qual o grupo espera instrugdes. O coordenadoraceita seu lugar de coordenador mas nao de diretor,e volta parao grupo @ responsabilidade pelo seu processo, se colocando a disposicao para faciié-lo. Também, procura nao estimular a dependéncia do ‘gtupo, mas aponta para os lagos que vao se formando dentro do grupo (ver Ribeiro, 1995). De fato, nessa fase, lambém ocorrem movimentos de iden- tificagaio no Interior do grupo, com os membros procurando “pa- res", embora a conversa parega superiicial, pois os lagos de intimidade sao ainda precarios. O coordenador procura percobar OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO ‘o movimento do grupo através dessa pretensa “super Nesse sentido, busca fortalecer a rede de relagdes no grup iculagdo com a tarefa, isto é, a discussao do tema da técnicas que f comunicacéo entre os participar Vis&o idilica de que todos sao iguais @ unidos mas também sem espicacar o medo de desmembramento que, neste momento, pode levar 0 grupo a uma dispersto, pols sente a sua angdstia sem estar preparaco— polo estabelacimento de uma rede de transferén- clas — para lidar com el CO .coordenador indica ao grupo que é possivel construir lagos caminhar para um trabalho conjunto. Nesse sentido, estimula a troca de experiéncias e o trabalho com duplas, trios, retomando-o depois dentro do coletivo grupal, Assim, estimula as trocas intersubjetivas e o sentimento do grupo. Por outro lado, evita personalizar suas intervengées ou tor- nar-se o centro delas. Reenvia as quest6es do grupo para o grupo, pondo em causa a responsabilidade do grupo para consigo mesmo, mas de uma maneira paciente e constante. Para sair desse primeiro momento, e da idealizacdo de sua identidade, buscando realizar a sua tarefa (a discussao do tema ‘grupo precisa construir sua rede de identificagdes @ ‘os sous processos de cooperagao e comunicagao (ver 1998). denador deve estar atento para ajudar nessa judando o grupo a: pensar as suas regras e papéis, car experiéncias, buscar informagées. Comenta esclarece o valor, a direrao e intensidade dos vinculos. Nesse ritmo, as dlerengas comegardo a aparecer. lssoacon- tece porque cada membro traz a sua singularidade para 0 grupo: comega encampando 0 objetivo comum como uma forma de ser reconhecido pelo grupo © em seguida deseja que 0 grupo 0 reconhega em sua especificidade diante do objetivo comum (Enriquez, 1997). Uma cialetica constante que o coordenador deve ser sensivel para perceber e articular. Porisso mesmo, as diferen- gas podem ser tanto bem-vindas quanto ameagar 0 grupo, que se defende delas reanimando o ideal de uma coeséo absolut, Maria Leia Me trie Cp E importante notar que o proceso de Ofill primeira fase do grupo e pressioné-lo em di pelo fato de que (a) a Oficina tem um tempo dell a agir dentro de sua agol ‘de a coordenagao incentivar a interagalo nna diregao da produgao e, (c) 0 enquadre ativa do coordenador, sen 1no processo de descobrire lidar com suas diferencas. ‘O coordenador procura negocia esas instancias com o grupo, {acilitando a sua passagem para uma fase de produtividade, mediante trabalho com as angistias e ansiedades suscitadas. O grupo pre- cisa ser ajudado nesse momento que envolve o medo de mudanga. renvolvido na construgao de sua rede de relagdes que Ihe possibiltara a existéncia de uma disposig&ocomum enire os membros, ou seja, a “tele” do grupo operativo, Aparecimento de Diferencas e Construgao de Condicées de Produtividade do Grupo Em primeiro lugar, as diferengas aparecem porque o que leva cada um a querer pertencer ao grupo é ndo apenas 0 desejo de pertenca — pelo qual o patticipante pretende abrir mao de suas singularidades, no in fal mas também desejo de reconhecimento — pelo qual o participante desea que o grupo o reconhega em suasi 106, naquilo em que é diferente ‘ou Unio (Enriquez, Em segundo lugar, as diferen zagao da tarefa exige que os pai atividades © decis6es, evidenciando seus pontos de vi que a homogeneidade é totalitéria e imobilizante. O engajamento na tarefa provoca o aparecimento de diferengas. que podem ser ‘mais ou menos confitivas. Nesse momento, o coordenador comeca a sublinhar as di rengas, enfatizando 0 que trazem de produtivo para o grup experiéncias e reflexes de cada um server a experiencia e reflexdio dos outros, Os limites de cada um so ilustrativos @ mesmo constitutivos dos limites dos outros. A riqueza da interacho comet a emergi. 0 coordenador propée jogos ¢ técnicas que fa ‘comunicagao e a reflexéo em torno dos temas a serem trabalhia: dos e, daf, procura sistematizar as posigdes existent OPICINAS EM DINAMICA DE GRUPO mediarconfltos, levar 0 grupo @ reconhecer sua produtividade. Nesse sentido, estard procurando trabalhar a matriz de comunicagao dentro do proceso grupal. ‘Ao mesmo tempo, 0 aparecimento da diferenga também pro- a interpretagao 86 opera quando pode ser’ ‘O gruipo 6 incentivado a se tornar mais independer ordenagao, sendo que o8 membros podem atu “interpretadores” uns para 8 outros, forlalecendo a rede e incrementando o estabelecimento de transteréncias. Essa é a riqueza do grupo que 0 coordenador acompanha e faci coordenador escuta e aceita sugestdes de atividades e a «grupo na busca de sua autonomia, buscando analisar suas cificul- dades na direcao mesma dessa autonomia, Quando 0 grupo est entrentando 0 des: gas, também esta envolvido com o processo de formagao do seu esquema conceitual referencial operativo (ECRO) pois sera justamente este que podera regular as relagdes no grupo, a partir das diferencas, defendendo uma grupal, um consenso minimo em tomo da tarefa, De fato, a necessidade de produga mo da tarefa faz com que o grupo se envolva mais em process ja referidos como cooperagio © competi , comunicagéo, € aprendizagem (Pichon de suas diferen- Final de grupo: Elaboragao do Luto e Avaliagao do Proceso Grupal Como vimos, 0 enquadre da Oficina defi um numero de encontros e um cronograma. As: ide com esse cronograma e na produtividade da Oficina possa ser sentida como positiva pelo grupo ‘© como algo que os patticipantes podem levar para outras insténcias de seu cotidiano. de um grupo pode estar associado com sentimentos fa. Além disso, envolve: sentimentos de ansiedade e melancolia pertia das relagdes e dficuldades em perceber como a Oficina poderia ter desdobramentos no cotidiano (ver Ribeiro, 1995). Maria Lia Me. Sfaase (Opp E importante que 0 grupo saiba quantos perar ter e que seja lembracio com alguma ante rmagao do fim da Oficina, para que possa deixar allora @ sentimentos evocados. O coordenador da Oficina tratart ‘espaco para que grupo perceba a sua gama de sentimor ppossa elaborar seus ganhos e perdas, seu processo de crescimeniio, ‘que fol incorporado, o que sera transportado para outras vivencas € coniextos, refletindo sobre os horizontes abertos e avaliando 0 trabalho grupa O trabalho do grupo seré avaliado om relagao (a) ao pro- cesso grupal, isto &, a formagao de identidade, comunicagéo, cooperagao, aprendizagem e rede de vinculos, & forma do grupo lidar com suas liderangas sou funcionamento interno, (b) em relago & tarefa, sua realizagao no contexto, e (c) em relagao & ccontribuigéo do grupo para 0 seu contexto e, inversamente, a0 impacto do contexto sobre a produgao do grupo. Esses angulos de avaliagdo dependerdo também do grupo e serdo realizados dentro de sua perspectiva, com sua linguagem e da forma como achat mais adequada. Comunicacao e Processos Intersubjetivos na Oficina Na discusséio da 1a" vimos que o planejamento vel, por meio de varios encontros, visa a construir uma estrutura 8a viver um processo de elaboragao de suas ide elaboragio onde os raves da comunicagao, & envolvidos de maneira integral: sentir, pensar e agit ‘Aespecificidade da Oficina esta em que 0 processo de co- vinculado a realizagao da central escolhida pelo grupo. poem - em menor ou maior me representagdes o experiéncias. Assim, 0 processo do grupo 6 a0 mesmo tempo coletivo ¢ in (0 processo grupal serve de continente para um processo de des-construgao e do representagdes e relagdes (Foulkes, 1967; Pichon-Rivie Como veremos, esse processo ocorre porque existe uma relago entre campo grupal e social e porque, no processo de co- municagao do grupo, hé um constante trabalho que interralaciona 49 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO linguagem e identidade. A coordenagae do grupo mot e incentiva esse trabalho. ‘Campo Grupal e Campo Social os elementos que dificultam esas tro- is Como o8 fitros ideolégicos, os tabus e zonas de siléncio, uuldades de comunicacao ea ba sober com sentagdes o aos esteradtipos social teflexdo, como no caso de esteredtipos sobre grupos racial disténcia sociocultural entre os participantes, como no cé diferengas de visao de mundo ou de linguagem em diferentes Pertencimentos sociais, @ (d) podemos acrescentar que existe também uma censura que esta relacionada a inserco institucional «social do grupo, que leva ao raceio de tocar em determinados temas. grupo & contexto da intervengéio e matriz de comunica- 0. A intervengao trabalha as distorgoes de comunicagao, sem pretender, entretanto, que @ comunicacao sea totalmente livre, uma vez que a vida afetiva do grupo nao para nunca de se produzir e, assim, do interferir com 0 “nivel da tarefa’. O grupo oferece a possibilidade de sensibilizagao e revivéncia de situagdes e relagdes. ‘A vivéncia em comum provoca um jogo de identificacdes e transte- réncias que tem consequiéncia para o movimento de mudanga dos ‘oulkes, 1967; Ribeiro, 1995; Lewin, 1988; Pichon- 12”, buscamos trabalhar com as censuras psiquicas Mas sabemos que nao se pode definir um objetivo uma consciénoia perfelta e nem um id tal de comunicagao. Pelo contrario, hd um trabalho continuo em toro da produgao de uma visao do grupo, de uma identidade, de ‘consensos provisérios, etc. Baseamo-nos aqui em um paradoxo que envolve duas afirmagées igualmente validas. A primeira é ade que & impossivel néo se comunicar— 0 serhumano & sujetto da linguagem e da comunicacao @, todo o tempo, querendo ou no, Maria Lioia Me Sfante mite mensagons. A segunda é a de que a con Impossivel, uma vez que nossas mensagens 880 das da nossa intencionalidade e desejo, havendo falta ou um excesso na comunicagao. Esse paradoxo acompanha 0 proceso grupal. Mas de impedito, o impulsiona. ‘A comunicacéo $6 se realiza pela interacao, o que implica buscar determinagées de contexto, papéis e expectativas sobre as subjetividades dos participantes e sobre suas relagdes, para que possam refletir sobre as censuras impostas a sua comunicagao. Isto 6, considerar um processo de intervengao onde os sujeitos participam de sua prépria mudanga, na medida em que desenvolvern ‘a consciénoia sobre a produgao de sua consciéncia (ver Freire, 1980) animes do pressuposto de que a consciéncia, tanto em seus processos quanto em seus conteuidos, 6 co relagdo com as instituigSes sociais, espe pelos vinculos sociais e afetivos no c ‘Ainda que recusando a ilusdo de total autonomia da conscién- cia, ainda considerando que 0 sujeito é cindido pela id pelo inconsciente, argumentamos que, conhecendo as c de sua constituigao, e procurando atuar sobre elas, 0 sujelto participa de Esse 6 0 ponto de partida do trabalho com © feita pelos participantes faz parte pode ser incorporada como ito e objeto de seu capaz de se ver como objeto para si é que alguém pode dizer-se dotado de uma ia. Por sua vez, @ capacidade de se ver como objeto formagao da consciéncia, depende da capacidade de se em um proceso de comunicagao. A estrutura social 6 de que o nega mas a, interage, pressio- ima relagaio de alteridade jetanto, nossa consciéncia s6 alcanca parte da nossa na. Isto é assim porque: (1) oxiste a limitagio 8 52 OFECINAS EM DINAMICA DE GRUPO construido na interagao e portanto nao pertence aos individuos isolados e (3) 0s significados das agdes vaio além da compreensao pessoal na medica em que também possuem uma rica, que é sempre inacabada (Mead, 1993). © primeiro tipo de limitagao diz respeito as dificuldades do 190, Apenas em parte percebe Zagao dos cont interagao se mé “i “acontecimento” (Mead, 19: Dizer que 0 significado esta associado a lin: recanhocor © seu carer soci, Ou soe, om uma lerega0 Ge duas pessoas, o significado nao é dado nem pela subjetividade de tum nem pela subjetividade do outro, mas pelo acontecimento de seuencontro em um contexto. A intersubjetividade nao “pertence” @. ume nema outro, e néo pode ser captada apenas pela andlise de cada sujeito envolvido na telacao. Assim, no grupo, & import aaanalise de como as representacdes conscientes e inconsci dos participantes se articulam as representacOes sociais enraizadas, em seu contexto sociocultural. Dessa forma, procede-se a uma arliculagao entre campo grupal e campo social. 0 Trabalho no Grupo Interliga a Linguagem e a Identidade Nossas representagdes do mundo so con: respostas que procuramos para os problemas formulados tém sou fundamento, abertura ¢ limite na linguagem, na sociedade e na cultura. Em outras palavras, podemos dizer que o vinculo social é estruturante do nosso psiquismo e esta presente em suas realizagbes. No grupo, ha contlitos entre individuos mas também Marin Livia Me sipase (ig) " eooperagao, promovendo assim co-construgao di do mundo. A consciéncia é parte importante da rela\ fonstrugao do mundo, que estara implicada nas ages @ I jumanas (Berger e Luckmann, 1976). ‘Como vimos, no campo grupal, também se fazem pi 0s papéis sociais, as ideologias, as instituicbes |dentidade social do sujeito. Um pai que reflete sobre a sua f@xperiéncia de ser pai de um filho ai tempo refletindo sobre a relacéo p representagies de at Os papéis sociais po: radas & experiéncia do individuo: luo participa de um mundo so papéis, o mesmo mundo to ‘Assim, a subjetividade do (o desempenhar papéls |. Ao interiorizar esses: famente real para elo”. jeragao social ‘Ao mesmo tempo, na medida em que os individuos reproduzem © produzem os papsis sociais, faz em com que sejam marcados por sua subjetividade, isto 6, imprimem uma subjetividade & ordem ger e Luckmann, 1976, ver ainda Ci 988). varias esferas da vida social coloca, legragao de seus papéis, ne- des om um todo coerente. i uma representacao de si que Ihe parega coerente, isto é, idade. Através dessa identidade, busca reconhecer-se 0 mesmo ao longo do tempo (diacronia) @ nas diversas situacdes is em que esta inserido (sincronia). A identidade ¢ uma construgao. Como construgao ela se faz na linguagem. Ou seja, ‘aparece como uma narrativa que fazemos de nés, isto 6, uma forma de contar para nés mesmos e para os outros quem somos. Finalmente, como narrativa, podemos dizer que a identidade tem uma dimensée simbdlica e uma imaginéria; uma dimenso conscien- tee uma inconsciente (Ciampa, 1988; Ciampa; 1989; Afonso, 1997). Encontramos ai, em relacao dialética, um sujeito descentrado, composto de um sujeito da experiéncia, a partir das interag6es vividas, e um sujeito da comunicagéo, que recebe ificado a estas interagdes. Tal nogao de descentramento reitera que os idos em interagao, processada em niveis consciente e inconsciente, @ que os sentidos produzidos nao se restringem & subjetividade dos individuos mas ‘Seu desempenho para o individu, um problema 53 OFECINAS EM DINAMICA DE GRUPO. so recursivamente reenviados ao contexto social que os trans- cende. Na mairiz de comunicacao grupal, surgem diferentes ‘narrativas que se entrecruzam e se confrontam buscando construir ‘uma identidade grupal que tacilite as identiticagdes interpessoais. ‘A matriz de comunicagao contem as narrativas que cada um faz de suas interagdes no grupo, de sua relagao com ‘outros elementos fundamentais (Foulkes, 1967; lervengo no grupo esta les dimensdes. Essas das, desconstruidas e reconstruidas, ao longo do proceso de comunicacao e na rede de relagées grupais ‘Sugerimos que algumas das ‘linhas de desconstrugdo e re- construgao” que podem estar ativadas nesse processo sao: (a) a narrativa do sujelto quanto & congruéncia entre seu passado, presente e proj a problematizacao de situagdes atuals Vividas pelos participantes, com 0 conjunto de suas interagoes perspectivas de mudanga, (c) os processos de labor historia individual e histéria coletiva, a partir da ide relago no grupo. Por exemplo, em uma Oficina sobre a filhos adolescentes, os pais podem rel ‘como essa historia fithos, dentro de um co far que envolve as transformagoes da ia contemporainea. Ou seja, os valores que aprendeu, como a sua adolescéncia, como é hoje a adolescéncia d diliculdades de compreensao e aco, a relagao dess des como seu grupo de convivéncia, a midia @ a escola. Uma Progresso em Processo, a partir da Espiral Dialética do Grupo ( trabalho de intervengao na Oficina reconhece a relagdo essencial entre 0 vinculo afetivo e o vinoulo social — cada qual envolvendo os partcipantes com o grupo ¢ os patticipantes entre si — no processo de expresso, sistematizagtio, desconstrugao ir alguns focos da in ‘as potencialidades do ” 3) 4 yupo. Porém, néio se constituem em UM nde a importancia do coordenador. fexperiéncia. A experiéncia precisa ser compreent para ser objeto de reflexéo. Jazemos sobre uma narrativa @ ndo sobre a experiéncia ‘eua" (Bion, 1975; Neri, 1999). Além disso, contém certa progressiio ‘0m processo (a esse respeito, ver Bion, 1978 eau ter pat n do processo grupal, tal como se segue: Marin Livin M. Sarie De fato, nossa reflexao ndo emerge auto ‘Assim, quando elaboramos, nos © “nua 0 5 @ Neri, 1999), 0 que Je dizer que, para se chegar ao foco de elaboracao, € preciso ‘ssado, de maneira explicita ou implicita, pelos outros focos trabalho coma Oficina necessita da sensibiizagao dos par- ticipantes sobre sua experiéncia, em relagao ao tema traba- iinado, em seu contexto social. Envoive relagdes o sentimen- tos no aqui e agora do grupo, suas formas de pertencimento © identifcacao mas, também, a sensibilizagao diante de vivencias fora do grupo, @ de projetos que dizem respeito ao tema traba- ficinay; Ouabathe com ‘4 Oficina necesita de esclaracimento e siste- ‘matizago dos participantes, sobre suas experiéncias, isto é, laboracao, mas facilita de elaboragéio da experién- ‘a medida em que mot ivas que So siste- ‘demanda presente no grupo e em sua rede de transferéncias; © trabalho com a Oficina necesita de desconstrucao @ re- constnucdo de representacdes (crenas, esterectipes, precon- Ceitos, etc.) e identidades socials (percepgao de si nas rela- (Goes © papéis sociais). Iss0 implica a construgao de novos ‘hares © novas formas de escuta da realidade, no que diz as relacdes interpessoais e socials; =e ‘he caras Oficina pode envolverpracessos de decisao 20 as relagdes interpessoais e sociais. Isto implica na ago dos recursos do grupo e mediacao de confites. O 55 OFICINAS EM DINAMICA DE GRUPO consenso é sempre provisério, resultado de negociacaono con- texto. O consenso nao elimina a emergéncia de novos confltos ou a reemergéncia dos antigos. Emnossas pesquisas com Oficinas, pudemos constatar que a troca de experiéncias entre os participantes 6, no primeiro momento, baseada em uma rede de ident des. Enomomento fem que essa troca se contexlualiza e permite que as diferencas sejam ouvidas que ela favorece a olaboracdo, quebrando a repeticao @ 0 mero espelhamento. A coorcienacao tem o papel de apontar ‘grupo, incentivando a comunicagéo em uma rede idando para a circulagao da palavra. wlonada a um proceso dialégi mesma maneira que a elaboragao exige uma mudanga do sujeito , apart da rede de transferénclas no grupo, A ansiedade ;ncia & mudanga podem ser atenuadas com a negociagao jos e com a busca de recursos simbdlicos para que 0 grupo as elabore. Nesse sentido, a prépria escolha de temas-geradores pelo grupo favorece a elaboragao da sua experiéncia, especialmente quando se trabalha em uma gradacao, jé sugerida acima, de pro-

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