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EDUCAGAO PARA A DEMOCRACIA* MARIA VICTORIA DE MESQUITA BENEVIDES No campo amplo e generoso da Sociologia da Educagao, a va- tiedade de interesses e interveng6es cresce paralela A velocidade e & com- plexidade das mudangas culturais - entendidas em todas as suas expressdes - nas sociedades contempordneas. Assim, escolhi, para esta exposigao, um tema que, a meu ver, melhor retine as reflexdes de uma socidloga no trato com a “coisa piblica”, com a politica e suas inarred4veis relagdes com a educaco e os sistemas de ensino: o tema da educagdo para a democracia. Em tese de livre docéncia, intitulada A Cidadania Ativa, bus- quei aprofundar a discussao sobre o significado de soberania popular ¢ examinei alguns dos mecanismos institucionais do que chamei de “demo- cracia semi-direta”, acolhidos na Constituicao brasileira de 1988, a luz da experiéncia internacional e das possibilidades de sua consolidacdo entre nés. Concluf pela indispensavel associagdo entre democracia participativa e educagdo politica do cidadao. A questo sobre em que consistiria, exata- mente, essa educagdo politica ficou posta. Trato, agora, de desenvolvé-la - entendendo-a, a partir de uma opgio teérica e prdtica, a ser discutida em pormenor — como educagdo para a democracia. Porque escolhi esse tema ? Por varios motivos, mas 0 deles diz respeito a i ileii incipal . Com 0 movimento de democratizagao do pais e com 0 reconhecimento universal de que ndo h4 desenvolvimento exclu- sivamente no campo econdmico, sem concomitante desenvolvimento so- cial e politico, a questo da educago politica se tornou de fundamental 224 LUA NOVA N*38 — 96 E sabido, também, que existe, no sistema de ensino brasileiro, um “espago ” para 1a maioria das vezes como mero ornamento ret6rico ou, i lém disso, a ay presente como objetivo precfpuo em todos os programas cretarias, independe do compromisso explicit dos diversos governantes com a pratica i i foam Aon 0 contr: tio, aqui eee persiste , como no al 0 criticado por Alain no sistema francés, “um ensino mondrquico, ou seja, aquele que tem por objetivo separar os que sero sdbios e governarao, daqueles que permanecerao ignorantes e obedeceriio” ((Alain, 1910, p. 75). Alids, Anisio Teixeira também deve ser evocado em sua critica a “escola paternalista, destinada a educar os governados, os que iriam obedecer e fazer, em opo- sigo aos que iriam mandar e pensar, falhando logo, deste modo, ao concei- to democratico que a deveria orientar, de escola de formagao do povo, isto &,do soberano, numa democracia” (Teixeira, 1936). Além do exemplo brasileiro, é crucial a adverténcia de Norberto Bobbio, para quem a apatia politica dos cidadios compromete o futuro da democracia, inclusive no chamado primeiro mundo, Dentre as “‘promessas nao cumpridas “ para a consolidagao do ideal democrético, aponta ele 0 re- lativo fracasso da educago para a cidadania entendida como transformagao do stidito em cidadao. Bobbio recorre, ainda, as teses de Stuart Mill para re- forgar a necessidade de uma educagio que forme cidadaos ativos, partici pantes, capazes de julgar e escolher - indispens4veis numa democracia, mas nao necessariamente desejados por aqueles governantes que preferem con- fiar na tranqiiilidade dos cidadaos passivos, sindnimo de siditos déceis ou indiferentes. (Bobbio, 1986, cap. 1). Como desenvolver 0 tema? Poderia fazé-lo de varias maneiras, Por exemplo, explorando formas hist6ricas de educagao politica ou apro- fundando o pensamento de um determinado autor ou vertente na Sociolo- gia e na Filosofia Politica. Preferi fixar-me na discuss&o do significado do tema - 0 que vem a ser educagdo para a democracia - e dos problemas daf decorrentes. Para tanto, valho-me de obras cldssicas e de autores contem- poraneos, tanto especificos da 4rea de educagao quanto das dreas afins. B evidente que estou ciente das limitagdes desta breve exposicao, para tema EDUCAGAO PARA A DEMOCRACIA 205 to ambicioso - mas mantenho o olhar indagativo, algumas vezes per- plexo, mas sempre apaixonado pela riqueza do tema, pelo menos to anti- go e fascinante quanto o préprio tema da democracia, quanto o proprio tema da educagio, desde o esplendor da polis grega. Os seguintes t6picos serdo abordados, com graus variados de in- feresse e de forma interdependente: * em que consiste a educagdo para a democracia e do que ela se dife- rencia; * a excepcional influéncia ( e atualidade) do pensamento classic na reflexdo sobre a educagao do cidadao; * as principais questées em torno dos valores republicanos e de- mocréticos; * onde deve ser desenvolvida a educagdo para a democracia; * o paradoxo da educago para a democracia. Alguns conceitos iniciais so premissas, no sentido de uma opeao teérica, a comegar por democracia, aqui entendida como o regime politico fundado na soberania popular e no respeito integral aos direitos humanos. Esta breve definiggo tem a vantagem de agregar democracia politica e democracia social, liberdade e justia. Em outros termos, retine os pilares da “democracia dos antigos” e da “democracia dos modernos”: a primeira, to bem explicitada por Benjamin Constant (1819) e Hannah Arendt (1965), como a liberdade para a participagdo na vida piiblica , e a segunda, associada ao ideal republicano e aos valores do liberalismo e da cidadania contempordnea, quais sejam, as liberdades civis, a igualdade e a solidariedade, a alternncia e a transparéncia no poder (nesse caso es- pectfico, contra os arcana imperi de que fala Bobbio), 0 respeito diver- sidade ¢ 0 valor da tolerancia. Educagao é aqui entendida, basicamente, como a formagéo do ser humano para desenvolver suas potencialidades de conhecimento, de julgamento e de escolha para viver conscientemente em sociedade, 0 que inclui também a nogfo de que o proceso educacio- nal, em si, contribui tanto para conservar quanto para mudar valores, mentalidades, costumes e praticas. Ao criticar a democracia exis- comego do século - “um rascunho do que poderia ser” Derevaleas ys m duvida, em edu- icano estava falando, se1 cago para a democracia. 226 LUA NOVA N°38— 96 Na seqiiéncia do prodigioso pensamento da antigilidade clssica, seguindo a orientagao aristotélica, cabe destacar a originalidade da tese de Montes- quieu, em sua obra maxima, quando se refere a0 que chama de “leis da educagio”, aquelas que recebemos em primeiro lugar e séio decisivas sob todos 0s aspectos. Montesquieu estabelece uma relagao indispensével en- tre o tipo de regime politico e o sistema educacional. No Brasil, com a nossa tradicional gal” e o “pafs real”, a aproximagao entre a realidade politica e o regime democrético consagrado na Constituigao vai depender, essencialmente, do esforgo educacional. Eo que significa, exatamente, educagdo para a democracia ? DUAS DIMENSOES A educagio para a democracia (EPD) compor i- mensée: . pois numa sociedade verdadeiramente democrética ninguém nasce governante ou governado, mas pode vir a ser, alternativamente -- e mais de uma vez no curso da vida ~ um ou outro. Tais di mente, des 1. a formagao intelectual e a informagéo -- da antigitidade classica aos nossos dias trata-se do desenvolvimento da ca- pacidade de conhecer para melhor escolher, para melhor julgar. Para formar o cidadao é preciso comegar por in- formé-lo e introduzi-lo as diferentes 4reas do conhecimen- to, inclusive através da literatura e das artes em geral. A falta, ou insuficiéncia de informagées reforga as desigual- dades, fomenta injustigas e pode levar a uma verdadeira se- ‘gregacdo. No Brasil, aqueles que nfio tém acesso ao ensino, a informagio e As diversas expresses da cultura lato sen- su, S40, justamente, os mais marginalizados , os que cha- mamos, hoje, de “exclufdos”. 2. a educag&o moral, vinculada a uma didatica dos valores EDUCAGAO PARA A DEMOCRACIA 21 republicanos e democréticos, que nao se aprendem intelec- tualmente apenas, mas sobretudo pela consciéncia ética, que é formada tanto de sentimentos quanto de razéo; em outras palavras, € a conquista de coragées e mentes . 3. a educagdo do comportamento, desde a escola priméria, no sentido de enraizar habitos de tolerdncia diante do dife- rente ou divergente, assim como 0 aprendizado da coope- ragGo ativa e da subordinagdo do interesse pessoal ou de grupo ao interesse geral, ao bem comum. Sem participaco dos interessados no estabelecimento de metas e em sua execugao, como jé afirmava Dewey, nao existe possi dade alguma de bem comum. E é preciso tempo, insistia, para sacudir a apatia e a inércia, para despertar o interesses positivo ¢ a energia ativa (Dewey,1932, cit. por Putnam). Ora, € evidente que essa é uma tarefa para a educagdo para ademocracia . A luz da interdependéncia desses trés elementos para a for- magio democritica, cabe assinalar, aqui, a grave caréncia que tem re- presentado, nos tiltimos tempos, o rebaixamento da educacio literdria comparativamente ao ensino das ciéncias exatas ou biolégicas. Antonio Candido salientou a esse respeito, com muita propriedade, o papel pe- dagégico da literatura no processo de humanizagéo, isto 6, 0 processo “que confirma no homem aqueles tragos que reputamos essenciais, como 0 exercicio da reflexdo, a aquisigio do saber, a boa disposicio para com o proximo, 0 afinamento das emogées, a capacidade de pene- trar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepgio da comple- xidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desen- volve em nés a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, a sociedade, o seme- esclarecer, nado obstante, que a educac&o para a demo- cracia nfo se confunde nem com democratizagao do ensino - que é, certa- mente, um pressuposto - nem com educa¢4o democratica. Esta wltima € um meio, necess4rio mas nao suficiente, para se obter aquela. A verdade € que, sem diivida, uma organizagdo democraticamente constitufda pode de- senvolver-se, no plano pedagégico, sem incluir a especffica educagao para a democracia. ‘A educagdo para a democracia difere, também, da simples ins- 228 LWA NOVA N°38 — 96 trugdo civica, que consiste, por exemplo, no ensino da organizagéo do Es- tado e dos deveres do cidadfo, bem como difere da formagio politica ge- ral, que visa a facilitar aos individuos a informagao politica, qualquer que seja o regime vigente. Em decorréncia, a EPD nunca se fara por impo- sigZo, como uma doutrina oficial, mas pela persuasdo, até mesmo porque um dos valores fundamentais da democracia é a liberdade individual, que nao pode ser sacrificada em nome de qualquer ideologia, mesmo que esta aparega sob os tons de uma ideologia redentora e nacional. Na década de 40 no Brasil -- e , de certa forma, seguindo a tese das "leis da educagao” de Montesquieu -- Fernando de Azevedo afirmava que uma educagdo de- mocratica nao poderia funcionar como um sistema de dominago de classe ou de partido no poder, como no caso dos regimes fascist comunista. ‘olto aquelas duas dimens6es reputadas essenciais. Em sua primeira dimenséo, a EPD consiste na formagdo do cidadio para viver os grandes valores republicanos e democraticos - de certo modo iden- tificados com a triade da Revolugdo Francesa e com as geragdes de di- reitos humanos ( do século 18 ao século 20), que englobam as liber- dades civis, os direitos sociais e os de solidariedade dita “planetaria”. ‘A educagio como formagio e consolidagao de tais valores torna o ser humano ao mesmo tempo mais consciente de sua dignidade e da de seus semelhantes -- 0 que garante o valor da solidariedade -- assim como mais a idad blica pode ser um processo iniciado Em sua segunda dimensao, a EPD consiste na cidadania ati- va, ou seja, a formagiio para a participagdo na vida publica. Isso sig- nifica participar como cidadio comum ou como governante. A edu- cago nfo consiste apenas no processo social que permite ao individuo - lembra recentemente Patrice Canivez -- enquanto governa- do, ter conhecimento de direitos e deveres e deles dar conta com escripulo ¢ inteligéncia - mas sim capacitar i governante em potencial eg Mu EDUCAGAO PARA A DEMOCRACIA 229 A CONCEPGAO CLASSICA ° , como € sabido, qualificava a gone um: isto €, como i A principal tarefa dos governantes --n era, justamente, propiciar a educagdo de cidadios ativos e participantes. Essa era considerada a principal virtude - a areté- de um regime politico. A formacio da sociedade pressupunha um povo adulto na politica, e néo tutelado ou meramente indiferente. Era este, certamente, 0 leitmotiv de Platéo, no didlogo com os sofistas e, certamente, o de Aristételes, em P elaboradas com a participagdo dos ci as a lei perderia sua funcdo pedagégica se nao se enraizasse na virtude e nos. costumes: “a lei torna-se simples convengdo, uma espécie de fianga, que garante as relagdes convencionais de justiga entre os homens, mas é impo- tente para tornar os cidadaos justos e bons”. Daf, a ligagdo estreita entre costumes democrdticos e regime democratico, assim como a importancia da educagao publica para a salvaguarda da ética e do respeito As insti- tuigdes (Politica, livro III; J. de Romilly, 1971). Bem mais tarde, vale lem- brar, a importéncia dos costumes, para compreenso da vida de um povo e de suas leis seria brilhantemente reforgada nas teses de Montesquieu e de Tocqueville. Para o primeiro, “os costumes de um povo escravo fazem parte de sua servidao, os de um povo livre fazem parte de sua liberdade”; para o segundo, “as leis sfio sempre inst4veis quando nao se apoiam nos costumes, que formam a nica puissance resistente e durével em um povo" “(Democracia na América, 1835). Voltando & Politica de Arist6teles, percebe-se como 0 autor admite, dentro da categoria dos ci- adios ativos, a possibilidade de 0 governado tornar-se governante, “pois ‘os mais nobres valores morais so os mesmos, para todos os individuos € para a coletividade. Cabe 4 Educagio inculcé-los" (livro VII). Ora, se isso 6 razodvel e desejavel, a educagdo para a democracia & necessdria também para formar governantes. Ainda lembrando a atualidade do pensamento classico, em De Republica, Cicero defende a educaco especffica para o governo, “para servir 0 Estado”. Considerava, por exemplo, muito estranho que os sdbios, leigos na arte da navegacdo, se declarassem aptos a comandar um navio em situagdo de turbuléncia, se assim fosse necessério, embora jamais 0 houvessem tentado em mares tranqiiilos. Justificavam 0 desprezo pelo es- tudo e 0 ensino das coisas do governo -- da res publica -- porque acredita- vam poder assumi-lo em caso de crise. Ora, argumenta 0 cénsul romano, a simples possibilidade da responsabilidade publica exige a aquisicfio “de 230 LUA NOVA N°38—96 todos os conhecimentos os quais ignoramos, se, algum dia, precisarmos deles nos valer” (livro I, p. 201). OS VALORES REPUBLICANOS AEPD na dimensdo de formagio de governantes significa, con- cretamente, a preparagdo para o julgamento politico necess4rio 4 tomada de decisGes. Trata-se de enfrentar problemas - dos mais variados tipos - e 0 critério para o julgamento sera sempre o da justiga - decorrente dos va- lores da liberdade, da igualdade e da solidariedade. Logo, a EPD é uma formagdo para a discussio, para a argumentacio, com o pressuposto do valor da tolerancia. Nesta ordem de consideragées, deve-se entender por valores re- publicanos , basicamente : a) (@ respeito as leis, acima da vontade dos homens, e enten- s como “educadoras”, no sentido jé visto na an- tigiidade cléssica. “Todo verdadeiro republican”, ensi- nava Rousseau, “bebia no Ieite de sua mae o amor da patria, isto 6, das leis e da liberdade” (1771). A teoria de- moerética de Bobbio apoia-se, justamente, no entendi- mento da transparéncia, da legalidade e da legitimidade dos “procedimentos”, das “regras do jogo” (1986) , entre as quais destacam-se as leis, a serem decididas em proces- sos regulares e amplamente participativos; ») aap ao bom cna nee pata patriarcal. O historiador Frei Vicente do Salvador j es- crevia em 1627: “nem um homem nesta terra é repuiblico, nem zela ou trata do bem comum, sendo cada um do bem particular”. Em nosso pais, portanto, trata-se de romper a tradigdo doméstica, tendente ao despotismo, que moldou nossos costumes ( vale a pena lembrar que despotes, em grego, € pai de familia, e que a famflia antiga, como bem observou Benjamim Constant, representava a negagdo de direitos e liberdades individuais). Toda essa questdo apa- rece com clareza em Ratzes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda; ©) geet pele clusive o poder implicito na ac! lucadores, sejam eles professores, orientadores ou demais profissionais do EDUCAGAO PARA A DEMOCRACIA 231 ensino. Em politica, 0 termo responsabilidade tem dois significados, melhor compreensiveis na lingua inglesa: accountabillity e responsibility. O primeiro termo signifi- ca 0 dever de prestar contas, englobando todos os man- datérios, isto 6, os que exercem o poder em nome de out- rem, do presidente da Republica ao funcionério mais simples, desde que no exerc{cio do mandato; 0 segundo temo significa a sujeigdo de todos, governantes ou gov- ernados, ao rigor das sangées legalmente previstas. Em ambos os casos, a responsabilidade € da esséncia do re- gime republicano . OS VALORES DEMOCRATICOS Por valores democraticos, estreitamente ligados aos republica- nos, e também interdependentes entre si, entendem-se o reconhecimento da igualdade, o respeito aos direitos humanos ¢ & vontade da maioria, legi- timamente formada. Em outras palavras, trata-se de: 3) a vinude do amor a igaldade, de que save Montes: quieu, considerando-a ao mesmo tempo “coisa simples ¢ b) ce) preciosissima”, como uma virtude eminentemente politica ~— nem referida as virtudes de cunho religioso, nem as da moral privada -- e que se manifesta no sentimento politico da igualdade de todos, com 0 conseqiiente reptidio a qual- quer forma de privilégio; , Cuja esséncia consiste na vocagao de todos -- independentemente de di- ferengas de raga, etnia, sexo, instrugdo, credo religioso, opeao politica ou posigao s6cio-econémica — a viver com dignidade, o que traz implicito o valor da solidariedade; supondo-se, mais uma vez, a aceitagiio da i € a prética da tolerancia. A énfase no valor da tolerancia e © respeito ao direito das minorias diferencia, com clareza, a educagao para a democracia de outros tipos de “educagao politica”. A virtude da tolerancia, aliada a arte da argumentagio, nao sig- nifica levar ao extremo o temor do etnocentrismo e bloquear todo julga-

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